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ELETRICIDADE II NOTAS DE AULA Prof. Antonio J. da S. Baptista -2012.1- 2 ÍNDICE 1- CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA 2- NOÇÕES DE PROJETO DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS 3- INSTALAÇÕES DE MOTORES 4- PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS 3 1- CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA 1.1-PRINCÍPIOS BÁSICOS O fator de potência (FP) de um sistema elétrico qualquer, que está operando em corrente alternada (CA), é definido pela razão da potência real ou potência ativa pela potência total ou potência aparente. Em circuitos de corrente alternada (CA) puramente resistivos, as ondas de tensão e de corrente estão em fase, ou seja, mudando a sua polaridade no mesmo instante em cada ciclo. Quando cargas reativas estão presentes, tais como capacitores e/ou indutores, o armazenamento de energia nessas cargas resulta em uma diferença de fase entre as ondas de tensão e corrente. Uma vez que essa energia armazenada retorna para a fonte e não produz trabalho útil, um circuito com baixo fator de potência terá correntes elétricas maiores para realizar o mesmo trabalho do que um circuito com alto fator de potência. O fluxo de potência em circuitos de corrente alternada tem três componentes: potência ativa (P), medida em watts (W); potência aparente (S), medida em volt-ampères (VA); e potência reativa (Q), medida em volt-ampère-reativo (VAR). A potência ativa está associada à produção de trabalho em um determinado período de tempo. Devido aos elementos reativos da carga, a potência aparente, que é o produto da tensão pela corrente do circuito, será igual ou maior do que a potência ativa. A potência reativa é a medida da energia armazenada que é devolvida para a fonte durante cada ciclo de corrente alternada. É a energia que é utilizada para produzir os campos elétrico e magnético necessários para o funcionamento de certos tipos de cargas como, por exemplo, retificadores industriais e motores elétricos. O fator de potência (fp) pode ser expresso como: fp = S P No caso de formas de onda perfeitamente senoidais, P, Q e S podem ser representados por vetores que formam um triângulo retângulo, também conhecido como triângulo de potências, sendo que: S2 = P2 + Q2 4 Se φ é o ângulo de fase entre as de ondas de corrente e tensão, então o fator de potência é igual a |cos (φ)| , e: P = S . cos (φ) Por definição, o fator de potência é um número adimensional entre 0 e 1. Quando o fator de potência é igual a zero (0), o fluxo de energia é inteiramente reativo, e a energia armazenada é devolvida totalmente à fonte em cada ciclo. Quando o fator de potência é 1, toda a energia fornecida pela fonte é consumida pela carga. Normalmente o fator de potência é assinalado como atrasado ou adiantado para identificar o sinal do ângulo de fase entre as ondas de corrente e tensão elétricas. Um alto fator de potência indica uma eficiência alta e inversamente, um fator de potência baixo indica baixa eficiência energética. O fator de potência é determinado pelo tipo de carga ligada ao sistema elétrico, que pode ser: =>Resistiva =>Indutiva =>Capacitiva Se uma carga puramente resistiva é conectada ao sistema, a corrente e a tensão mudarão de polaridade em fase, nesse caso o fator de potência será unitário (1), e a energia elétrica flui numa mesma direção através do sistema em cada ciclo. Onda de corrente (I) em fase com a onda de tensão (V). A carga possui característica resistiva. FP=1 Cargas indutivas tais como motores e transformadores (equipamentos com bobinas) produzem potência reativa com a onda de corrente atrasada em relação à tensão. 5 Onda de corrente (I) atrasada em relação à onda de tensão (V). A carga possui característica indutiva. FP<1 (atrasado) Cargas capacitivas tais como bancos de capacitores ou cabos elétricos enterrados produzem potência reativa com corrente adiantada em relação à tensão. Onda de corrente (I) adiantada em relação à onda de tensão (V). A carga possui característica capacitiva. FP<1 (adiantado) Ambos os tipos de carga absorverão energia durante parte do ciclo de corrente alternada, apenas para devolver essa energia novamente para a fonte durante o resto do ciclo. Por exemplo, para se obter 1 kW de potência ativa quando o fator de potência é unitário (igual a 1), 1 kVA de potência aparente será necessariamente transferida (1 kVA = 1 kW ÷ 1). Sob baixos valores de fator de potência, será necessária a transferência de uma maior quantidade de potência aparente para se obter a mesma potência ativa. Para se obter 1 kW de potência ativa com fator de potência 0,2 será necessário transferir 5 kVA de potência aparente (1 kW = 5 kVA × 0,2). É possível corrigir o fator de potência para um valor próximo ao unitário. Essa prática é conhecida como correção do fator de potência e é conseguida mediante o acoplamento de bancos de indutores ou capacitores, com uma potência reativa Q contrária à da carga, tentando ao 6 máximo anular essa componente. Por exemplo, o efeito indutivo de motores pode ser anulado com a conexão em paralelo de um capacitor (ou banco de capacitores) junto ao equipamento. As perdas de energia aumentam com o aumento da corrente elétrica transmitida. Quando a carga tem fator de potência menor do que 1, mais corrente é requerida para suprir a mesma quantidade de potência útil. As concessionárias de energia estabelecem que os consumidores, especialmente os que possuem cargas maiores, mantenham os fatores de potência de suas instalações elétricas acima de um limite mínimo, hoje 0,92. Estuda-se aumentar para 0,96. Engenheiros freqüentemente analisam o fator de potência de uma carga como um dos indicadores que afetam a eficiência da transmissão e geração de energia elétrica. No Brasil, a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL estabelece que o fator de potência nas unidades consumidoras deve ser superior a 0,92 capacitivo durante a madrugada (de 00:00h às 06:00h) e 0,92 indutivo durante as outras 18 horas do dia (de 06:00h às 24:00h). Esse limite é determinado pelo Artigo nº 64 da Resolução ANEEL nº 456 de 29 de novembro de 2000 e quem descumpre está sujeito a tarifa adicional que leva em conta o fator de potência medido e a energia consumida ao longo de um mês. A mesma resolução estabelece que a exigência de medição do fator de potência pelas concessionárias é obrigatória para unidades consumidoras de média tensão (supridas com mais de 2.300 V) e facultativa para unidades consumidoras de baixa tensão (abaixo de 2.300 V, como residências em geral). A cobrança em baixa tensão, na prática, raramente ocorre, pois o fator de potência deste tipo de unidade consumidora geralmente está acima de 0,92. Não compensa, pois, a instalação de medidores de energia reativa. 7 1.2-FORMAS DA CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA Na decisão para escolha se o fator de potência de cargas individuais deva ser corrigido com capacitores fixos ou através de sistema de banco de capacitores centralizado, aspectos econômicos e técnicos devem ser levados em conta. Sistemas para compensação automática centralizada do fator de potência possuem um custo mais alto por carga instalada. Se for considerado, porém, que na maioria das plantas elétricas as cargas não estarão ligadas simultaneamente, um sistema de compensação automático centralizado terá um valor menor do que o necessário para compensar toda a potência instalada. 1.2.1-CORREÇÃO INDIVIDUAL Na correção individual os capacitores são conectados diretamente aos terminaisdas cargas individuais, sendo ligados simultaneamente (figura 1.2.1). Recomenda-se uma compensação individual para os casos onde haja grandes cargas de utilização constante e longos períodos de operação. Desta forma pode-se reduzir a bitola dos cabos de alimentação da carga. Os capacitores geralmente podem ser conectados diretamente aos terminais das cargas, sendo manobrados por meio de um único contator. Fig. 1.2.1 1.2.2-CORREÇÃO PARA GRUPO DE CARGAS Na compensação de um grupo de cargas, o sistema de compensação de reativos estará relacionado a um grupo de cargas, que poderá ser composto, por ex., de lâmpadas fluorescentes, que serão manobradas por meio de um contator ou de disjuntor (figura 1.2.2). Fig. 1.2.2 8 1.2.3-CORREÇÃO CENTRALIZADA DAS CARGAS Para a compensação centralizada são normalmente utilizados bancos de capacitores ligados diretamente a um alimentador principal (figura 1.2.3). Isto é particularmente vantajoso quando a planta elétrica for constituída de diversas cargas com diferentes potências e períodos de operação. Uma compensação centralizada possui ainda as seguintes vantagens: • os bancos de capacitores, por estarem centralizados, podem ser supervisionados mais facilmente. • ampliações futuras tornam-se mais simples. • a potência dos capacitores pode ser adaptada constantemente por aumento de potência da planta elétrica. • considerando-se o fator de simultaneidade, geralmente a potência reativa necessária é inferior à potência necessária para a compensação das cargas individualmente. Fig. 1.2.3 9 2-NOÇÕES DE PROJETO DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS 2.1-INTRODUÇÃO Projetar uma instalação elétrica de uma edificação predial ou industrial consiste em: · Quantificar e determinar os tipos e localizar os pontos de utilização de energia elétrica; · Dimensionar, definir o tipo e o caminhamento dos condutores e condutos; · Dimensionar, definir o tipo e a localização dos dispositivos de proteção, de comando, de medição de energia elétrica e demais acessórios. Partes componentes de um projeto de instalação elétrica: a)-Memorial Descritivo => descrição da instalação e dimensionamento de condutores, condutos e proteções. b)-Plantas, esquemas e detalhes necessários à execução do projeto; c)-Especificações dos materiais a serem utilizados e normas para sua aplicação. 2.2-SIMBOLOGIA Símbolos gráficos são utilizados para facilitar a execução do projeto e a identificação dos dispositivos utilizados. A norma NBR-5444 estabelece os símbolos gráficos referentes às instalações elétricas prediais. A tabela 2.2.1 mostra alguns símbolos previstos na norma. A planta de instalações deve ser executada sobre um desenho que deve conter os detalhes de arquitetura e estrutura para compatibilização com o projeto elétrico. A figura 2.2.1 apresenta um exemplo de planta de instalação predial. Figura 2.2.1 - Exemplo de planta de instalação predial 10 Tabela 2.2.1 – Exemplos de símbolos previstos na norma NBR-5444 11 2.3-CARGAS Carga => potência nominal do equipamento, informada pelo fabricante, ou calculada a partir da tensão e corrente nominais e pelo fator de potência. A tabela abaixo apresenta, a título de exemplo, as potências de alguns equipamentos. Os critérios estabelecidos a seguir se referem às instalações em cômodos de unidades residenciais e nas acomodações de hotéis, motéis e similares. 2.3.1-Cargas de Iluminação Em cômodos com área ≤ 6m2 => carga mínima de 100VA. Em cômodos com área > 6m2 => carga mínima de 100VA + 60 VA para cada 4m2 excedentes. 12 2.3.2-Pontos de Tomada de Uso Geral Tomadas de uso geral são aquelas onde são ligados aparelhos móveis ou portáteis como, por exemplo, enceradeira, aspirador de pó, aparelhos de som, liquidificador, etc. As instalações prediais devem observar os seguintes requisitos: a) em banheiros, deve ser previsto pelo menos um ponto de tomada, próximo ao lavatório; b) em cozinhas, copas, copas-cozinhas, áreas de serviço, cozinha-área de serviço, lavanderias e locais análogos, deve ser previsto no mínimo um ponto de tomada para cada 3,5 m, ou fração, de perímetro, sendo que acima da bancada da pia devem ser previstas no mínimo duas tomadas de corrente, no mesmo ponto ou em pontos distintos; c) em varandas, deve ser previsto pelo menos um ponto de tomada; d) em salas e dormitórios devem ser previstos pelo menos um ponto de tomada para cada 5 m, ou fração, de perímetro, devendo esses pontos ser espaçados tão uniformemente quanto possível; e) em cada um dos demais cômodos e dependências de habitação devem ser previstos pelo menos: i)-um ponto de tomada, se a área do cômodo ou dependência for igual ou inferior a 6 m2 ; ii)-um ponto de tomada para cada 5 m, ou fração, de perímetro, se a área do cômodo ou dependência for superior a 6 m2, devendo esses pontos ser espaçados tão uniformemente quanto possível. A potência a ser atribuída a cada ponto de tomada é função dos equipamentos que ele poderá vir a alimentar e não deve ser inferior aos seguintes valores mínimos: => em banheiros, cozinhas, copas, copas-cozinhas, áreas de serviço, lavanderias e locais análogos, no mínimo 600 VA por ponto de tomada, até três pontos, e 100 VA por ponto para os excedentes, considerando-se cada um desses ambientes separadamente. => nos demais cômodos ou dependências, no mínimo, 100 VA por ponto de tomada. 2.3.3-Pontos de Tomada de Uso Específico Tomadas de uso específico são aquelas destinadas à ligação de equipamentos fixos e estacionários como, por exemplo, chuveiros, secadoras de roupa, máquina de lavar, torneira elétrica, etc. As instalações prediais devem observar os seguintes requisitos: a)-quando um ponto de tomada for previsto para uso específico, deve ser a ele atribuída uma potência igual à potência nominal do equipamento a ser alimentado ou à soma das potências nominais dos equipamentos a serem alimentados. Quando valores precisos não forem conhecidos, a potência atribuída ao ponto de tomada deve seguir um dos dois seguintes critérios: 13 i)-potência ou soma das potências dos equipamentos mais potentes que o ponto pode vir a alimentar, ou ii)-potência calculada com base na corrente de projeto e na tensão do circuito respectivo. b)-os pontos de tomada de uso específico devem ser localizados no máximo a 1,5 m do ponto previsto para a localização do equipamento a ser alimentado. 14 2.4-DIVISÃO DAS INSTALAÇÕES EM CIRCUITOS Circuito => é o conjunto de pontos de consumo, alimentados pelos mesmos condutores e ligados ao mesmo dispositivo de proteção (chave ou disjuntor). A divisão da instalação em circuitos deve ser de modo a atender, entre outras, às seguintes exigências: � segurança - por exemplo, evitando que a falha em um circuito prive de alimentação toda uma área; � conservação de energia - por exemplo, possibilitando que cargas de iluminação e/ou de climatização sejam acionadas na justa medida das necessidades; � funcionais - por exemplo, viabilizando a criação de diferentes ambientes, como os necessários em auditórios, salas de reuniões, espaços de demonstração, recintos de lazer, etc.; � de produção - por exemplo, minimizando as paralisações resultantes de uma falha; � de manutenção - por exemplo, facilitando ou possibilitando ações de inspeção e de reparo.Os seguintes critérios devem ser observados em unidades residenciais e nas acomodações de hotéis, motéis e similares: a)-circuitos independentes devem ser previstos para os aparelhos de potência igual ou superior a 1500 VA; b)-as proteções dos circuitos de aquecimento ou condicionamento de ar podem ser agrupadas no quadro de distribuição elétrica geral ou num quadro separado; c)-quando um mesmo alimentador abastece vários aparelhos individuais de ar condicionado, deve haver uma proteção para o alimentador geral e uma proteção junto a cada aparelho, caso este não possua proteção interna própria; d)-como regra geral, os circuitos de iluminação devem ser separados dos circuitos de tomadas. Permite-se, entretanto, pontos de iluminação e tomadas em um mesmo circuito, exceto nas cozinhas, copas e áreas de serviço. e)-cada circuito deverá ter seu próprio condutor neutro. Em lojas, residências e escritórios, os circuitos de distribuição devem atender aos seguintes requisitos mínimos: � residências: 1 circuito para cada 60 m2 ou fração; � lojas e escritórios: 1 circuito para cada 50 m2 ou fração. 15 2.5-DISPOSITIVOS DE COMANDO DOS CIRCUITOS a)-Interruptores b)-“Three Way” (paralelo) Esquema de instalação de um sistema “Three Way” para acionamento de uma lâmpada incandescente c)“Four Way” (intermediário) É usado quando se deseja atuar em uma lâmpada, ou conjunto de lâmpadas em mais de dois pontos. Funciona invertendo as ligações entre dois interruptores no sistema “Three Way” que ficam nas extremidades. d)-Minuteria e)-Contactores e Chaves Magnéticas f)-Controles com intertravamento g)-Controle da intensidade luminosa de lâmpadas 16 2.6-LINHAS ELÉTRICAS 2.6.1-TIPOS DE LINHAS ELÉTRICAS Os tipos de linhas elétricas, de acordo com a norma NBR-5410, são apresentados na tabela 2.6.1.1 abaixo: Tabela 2.6.1.1 – Tipos de Linhas Elétricas 17 18 19 20 21 Os métodos de referência são os métodos de instalação para os quais a capacidade de condução de corrente foi determinada por ensaio ou por cálculo. São eles: A1: condutores isolados em eletroduto de seção circular embutido em parede termicamente isolante; A2: cabo multipolar em eletroduto de seção circular embutido em parede termicamente isolante; B1: condutores isolados em eletroduto de seção circular sobre parede de madeira; B2: cabo multipolar em eletroduto de seção circular sobre parede de madeira; C: cabos unipolares ou cabo multipolar sobre parede de madeira; D: cabo multipolar em eletroduto enterrado no solo; E: cabo multipolar ao ar livre; 22 F: cabos unipolares justapostos (na horizontal, na vertical ou em trifólio) ao ar livre; G: cabos unipolares espaçados ao ar livre. 2.6.2-NÚMERO DE CONDUTORES CARREGADOS O número de condutores carregados a ser considerado num circuito é o dos condutores efetivamente percorridos por corrente. Assim, temos: a)-circuitos de corrente alternada: Monofásico a dois condutores => 2 condutores carregados; Monofásico a três condutores => 2 condutores carregados; Duas fases sem neutro => 2 condutores carregados; Duas fases com neutro => 3 condutores carregados; Trifásico sem neutro => 3 condutores carregados; Trifásico com neutro => 3 ou 4 condutores carregados, considerando que: i)-Quando num circuito trifásico com neutro as correntes são consideradas equilibradas, o condutor neutro não deve ser considerado. ii)-Quando for prevista a circulação de corrente harmônica no condutor neutro de um circuito trifásico, este condutor será sempre computado, tendo-se portanto 4 condutores carregados. b)-circuitos de corrente contínua: 2 ou 3 condutores 23 2.7-DIMENSIONAMENTO DE CONDUTORES Uma vez escolhida a maneira de instalar os cabos elétricos e conhecida a potência dos pontos de utilização, devemos dimensionar os condutores que alimentarão as cargas, ou seja, devemos calcular a seção reta adequada dos condutores de energia elétrica de cada circuito. Para dimensionar os condutores, dois critérios precisam ser examinados: a)-capacidade de corrente; e b)-queda de tensão admissível. Deve-se ainda observar que a norma NBR 5410 prevê a seção mínima dos condutores conforme o tipo de instalação (ver tabela 2.7.1), a seção do condutor neutro (ver tabela 2.7.2) e a seção mínima do condutor de proteção (ver tabela 2.7.3). Após verificados os critérios acima, o condutor a ser escolhido é o de maior seção reta. Tabela 2.7.1 – Seção mínima dos condutores 24 Tabela 2.7.2 – Seção do Condutor Neutro Tabela 2.7.3 – Seção Mínima do Condutor de Proteção 25 2.7.1-CRITÉRIO DA CAPACIDADE DE CORRENTE A capacidade de condução de corrente é um critério importantíssimo, pois considera os efeitos térmicos provocados nos componentes do circuito pela passagem da corrente elétrica em condições normais (corrente de projeto). A tabela 2.7.1.1 apresenta as capacidades de condução de corrente para diversas seções retas de condutores, para os métodos de instalação A1, A2, B1, B2, C e D A corrente de projeto deverá ser calculada em função da tensão, potência e fator de potência, da seguinte forma: I = fpVK P .. Onde: I => corrente em ampéres na linha. P => potência em watts. V => tensão em volts entre fase e neutro ou, se não há neutro, entre fases. fp => fator de potência Valores de K: K = 1 , para circuitos de corrente contínua ou monofásicos a 2 fios. K = 1,73 , para circuitos trifásicos a 3 fios. K = 2 , para 2 fases + neutro de um circuito trifásico. K = 4 , para circuitos trifásicos a 4 fios. Calculada a corrente de projeto verifica-se na tabela de capacidades de condução de corrente a seção reta apropriada para os condutores do circuito em análise. 26 Tabela 2.7.1.1 - Capacidades de condução de corrente, em ampéres, para os métodos de referência A1, A2, B1, B2, C e D 27 2.7.2-CRITÉRIO DAS QUEDAS DE TENSÃO ADMISSÍVEIS Numa instalação elétrica, a tensão aplicada aos terminais das cargas, isto é, dos equipamentos de utilização, deve manter-se dentro de determinados limites. Cada equipamento, como sabemos, possui uma tensão nominal (Vn), sendo sempre fixada, seja pela norma respectiva, seja pelo fabricante, uma pequena variação admitida (∆ Vn). Tensões abaixo do limite, ou seja, inferiores a Vn – ∆ Vn , prejudicam o desempenho do equipamento de utilização, podendo reduzir sua vida útil ou mesmo impedir seu funcionamento. A queda de tensão deve ser calculada durante o projeto, sendo o dimensionamento dos circuitos feito de modo a mantê-la dentro dos valores máximos fixados pela NBR 5410 As quedas de tensão que ocorrem nos circuitos são função: a)- da distância entre a carga e o medidor; e b)- da potência da carga As quedas de tensão admissíveis são expressas em percentagem em relação à tensão de entrada. A norma NBR-5410 admite as seguintes quedas de tensão: a)-5% no caso de instalações alimentadas diretamente por um ramal de baixa tensão, a partir da rede de distribuição pública de baixa tensão; b)-7% no caso de instalações alimentadas diretamente por uma subestação de transformação,a partir de uma instalação de alta tensão ou que possuam fonte própria. Obs: A queda de tensão nos circuitos terminais deve ser igual ou inferior a 2% As tabelas 2.7.2.1 e 2.7.2.2 apresentam as quedas de tensão percentuais para os alimentadores e ramais em função das distâncias e potências utilizadas, para circuitos monofásicos e bifásicos com fator de potência unitário. a)-Rede de Baixa Tensão -Concessionária- b)- Subestação ou Geração Própria QM (a) QGD (b) QF QL Circuitos de Distribuição Circuitos Terminais 5% (a) ou 7% (b) 5% (a) ou 7% (b) QM – Quadro de Medição QGD – Quadro Geral de Distribuição QL – Quadro de Luz QF – Quadro de Força 2% 28 Tabela 2.7.2.1 - Potência x Distância (W.m) para V = 127 volts 29 Tabela 2.7.2.2 - Potência x Distância (W.m) para V = 220volts 30 EXERCÍCIO Dimensionar o cabo alimentador e os circuitos terminais de um apartamento, de acordo com o esquema abaixo. A tensão de alimentação é 127V, monofásica a 2 fios. 1)-Dimensionamento dos condutores pela capacidade de corrente. 2)-Dimensionamento dos condutores pela queda de tensão admissível. 5 m 6 m 10 m 4 m 5 m 8 m 2 m Medidor no PC Quadro de Distribuição 60 W 600 W 100 W 180 W 600 W 40 W 100 W Circuito 1 Circuito 2 27 m 31 3- INSTALAÇÕES DE MOTORES 3.1-INTRODUÇÃO O motor elétrico é uma máquina que converte energia elétrica em energia mecânica. Segue o princípio do campo magnético variável produzir força sobre um condutor com corrente. Num motor podemos distinguir duas partes principais: o estator (parte fixa) e o rotor (a parte girante). Os motores podem ser classificados em dois tipos: a)-Motores de Corrente Contínua => usados quando se necessita de um controle preciso de velocidade, sendo subdivididos em: -Motor série: as bobinas de campo ficam em série com o enrolamento da armadura. -Motor Shunt: as bobinas de campo ficam em paralelo com o enrolamento da armadura. -Motor Compound: é uma composição do motor série com o motor shunt. A aplicação mais conhecida dos motores de corrente contínua é na tração elétrica (bondes, trem, ônibus, etc.). b)-Motores de Corrente Alternada => são os mais utilizados na indústria e, de acordo com a rotação, podem ser: -Síncronos: aqueles que acompanham a velocidade ou freqüência. -Assíncronos (de indução): não acompanham nenhuma freqüência e operam por indução. Dentre os motores de corrente alternada, o motor assíncrono (de indução) é o mais empregado por ser mais robusto, de fácil fabricação e menor custo. A construção típica de um motor de indução é do tipo “gaiola de esquilo”, no qual os condutores do rotor assemelham-se a uma gaiola. Este tipo de motor é utilizado em ventiladores, compressores, elevadores, etc. Figura 3.1 - Esquema de um motor assíncrono com rotor em forma de gaiola de esquilo 32 3.2-CARACTERÍSTICAS DE UM MOTOR Os motores elétricos possuem uma placa que serve para identificar o motor e dar suas características principais, tais como: a) Potência Nominal: é a potência que o motor pode fornecer dentro de suas características nominais (Watts , CV ou HP); b) Tensão nominal: é a tensão da rede para o qual o motor foi projetado; c) Freqüência nominal: é a freqüência do sistema elétrico para o qual o motor foi projetado; d) Corrente nominal: é a corrente absorvida quando o motor funciona em potência nominal (em A); e) Fator de Serviço: é o fator aplicado à potência nominal que indica a máxima sobrecarga permissível continuamente. É comum um fator de serviço de 1,25 – isto é – admite uma sobrecarga de 25% acima da potência nominal (em motores pequenos); f) Grau de Proteção: indica o grau de proteção que esse motor tem contra poeira, água, limalha de ferro, gases, com ventilação prejudicada e outros resíduos industriais; g) Letra-Código; h) Velocidade nominal: indica a velocidade em rpm em condições nominais; i) Identificação do fabricante: nome, marca e endereço do fabricante; j) Formas de ligação: indica por meio de esquemas e números a forma de se ligar o motor. Figura 3.2 – Placa de Identificação de um Motor 33 3.3-CÁLCULO DA CORRENTE DE UM MOTOR A potência mecânica no eixo de um motor é expressa em HP (HorsePower) ou cv (cavalo- vapor). A potência elétrica de entrada em watts (P) é dada por: P = η HP x 746 ou P = η cv x 736 , onde η = rendimento do motor A corrente nominal ( I ), em ampères, é então obtida: I = ϕcos.V P , onde V = tensão entre fases e cosφ = fator de potência Ou ainda: I = ηϕ.cos.V HP x 746 ou I = ηϕ.cos.V cv x 736 Se o motor for trifásico, teremos: I = ηϕ.cos..3 V HP x 746 ou I = ηϕ.cos..3 V cv x 736 34 3.4-ESQUEMAS TÍPICOS PARA INSTALAÇÃO DE MOTORES 3.4.1- Alimentação Linear Fig. 3.4.1 - Diagrama Trifilar QDF PA M M PR S PM CM CS RP PR S PM CM CS RP Alimentador Ramais QDF – Quadro de Distribuição de Força PA – Proteção do Alimentador PR – Proteção do Ramal S – Seccionadora PM – Proteção do Motor CM – Controle do Motor M – Motor CS – Controle do Secundário RP – Reostato de Partida 35 3.4.2- Alimentação Radial Este esquema é utilizado quando as posições dos motores na área de instalação estão muito afastadas ou quando as potências são muito diferentes. Fig. 3.4.2 - Diagrama Trifilar 36 3.4.3- Alimentação Linear com Ramais Curtos Este esquema é usado quando os ramais são curtos (menores que 8 metros). Neste caso, sob certas condições, pode-se suprimir a proteção do ramal (PR). Fig. 3.4.3 - Diagrama Trifilar 37 3.4.4- Alimentação Linear sem Ramal de Motor Esta configuração é usada quando os motores ficam junto ao alimentador. Neste caso, não há necessidade de proteção do ramal (PR). Fig. 3.4.4 - Diagrama Trifilar 38 3.4.5- Alimentação de Pequenos Motores nos Circuitos de Luz Esta configuração é típica de instalações residenciais. 39 3.5-DIMENSIONAMENTO DE CIRCUITOS DE FORÇA Para dimensionar os condutores de um circuito de força, dois critérios precisam ser examinados: a)-capacidade de corrente; e b)-queda de tensão admissível. 3.5.1- Dimensionamento dos circuitos alimentadores a)Dimensionamento pela capacidade de corrente Os condutores de circuito terminal que alimentam um ou mais motores devem possuir uma capacidade de condução de corrente igual ou maior que a soma das correntes nominais de cada motor, multiplicadas pelos respectivos fatores de serviço (fs). Ialimentador ≥ ∑ = n i ifs 1 x I i Procura-se, então, na tabela de capacidade decorrente dos condutores, a seção reta do condutor que melhor atenda à condição acima. b) Dimensionamento pela queda de tensão Conforme verificado anteriormente, a queda de tensão admissível pela norma NBR-5410, para circuitos de força, é de 5%. Dessa forma, pode-se atribuir, p. ex., uma queda de tensão de 3% nos alimentadores e de 2% nos ramais. Calcula-se, então, a seção reta do condutor a partir de uma das seguintes equações: i)-Para circuitos monofásicos, bifásicos ou para corrente contínua: S = v LIfs ∆ Σ ....2 ρ ii)-Para circuitos trifásicos: S = v LIfs ∆ Σ ....3 ρ Onde: S = seção reta do condutor em mm2. ρ = resistividade (cobre = 56 1 m mmohm 2. ou alumínio = 32 1 m mmohm 2. ) fs = fator de serviço I = corrente nominal do motor L = distância em metros v∆ = queda de tensão admissível Σ = somatório 40 3.5.2- Dimensionamento dos circuitos dos ramais a)Dimensionamento pela capacidade de corrente Para cada ramal, o condutor destinado ao motor elétrico deverá possuir uma capacidade de condução de corrente igual ou maior que a corrente nominal do motor, multiplicada pelo respectivo fator de serviço (fs). Iramal ≥ fs x Imotor b) Dimensionamento pela queda de tensão Utiliza-se a mesma equação estabelecida para os circuitos alimentadores, atribuindo-se, por exemplo, uma queda de tensão de 2%. 41 EXERCÍCIO Um circuito alimentador fornecerá energia para os seguintes motores: MOTOR Potência Fator de Serviço Distância ao QGD -Elevador social 10 cv 1,25 30 m -Elevador de serviço 7,5 cv 1 30 m -Bomba d´água 5 cv 1 10 m -Bomba de recalque de esgotos 1 cv 1 5 m -Exaustor 1 cv 1 5 m Considere que todos os motores são trifásicos, com tensão de alimentação 220V/60Hz, fator de potência 0,9 e rendimento 0,8. Dimensionar o condutor deste circuito alimentador. 42 4-PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS 43 4.1-DEFINIÇÕES Descarga Atmosférica é uma descarga elétrica de origem atmosférica entre uma nuvem e a terra ou entre nuvens, consistindo em um ou mais impulsos de vários quiloampères. Raio é um dos impulsos elétricos de uma descarga atmosférica para a terra. Relâmpago - luz gerada pelo arco elétrico do raio. Trovão - ruído produzido pelo deslocamento do ar devido ao súbito aquecimento causado pela descarga do raio. 4.2-FORMAÇÃO DE NUVENS CARREGADAS E RAIOS Benjamin Franklin foi o primeiro a projetar um experimento para tentar provar a natureza elétrica do relâmpago. Em julho de 1750, Franklin propôs que a eletricidade poderia ser drenada de uma nuvem por um mastro metálico. Se o mastro fosse isolado do solo, e um observador aproximasse do mesmo um fio aterrado, uma faísca saltaria do mastro para o fio quando uma nuvem eletrificada estivesse perto. Se isto ocorresse, estaria provado que as nuvens são eletricamente carregadas e, conseqüentemente, que os relâmpagos também são um fenômeno elétrico. Em maio de 1752, Thomas-François D’Alibard demonstrou que a sugestão de Franklin estava certa e que os relâmpagos, portanto, eram um fenômeno elétrico. Em junho de 1752, Franklin realizou outro experimento com o mesmo propósito, seu famoso experimento com uma pipa. Ao invés de utilizar um mastro metálico, ele usou uma pipa, pois ela poderia alcançar maiores altitudes e poderia ser usada em qualquer lugar. Novamente, faíscas saltaram de uma chave colocada na extremidade do fio preso à pipa em direção à sua mão. A estrutura básica de uma nuvem de tempestade, entretanto, só foi proposta no começo do século 20. Ela pode ser descrita como um dipolo elétrico positivo (vide Fig. 4.2.1), composto por uma região carregada positivamente acima de uma região carregada negativamente. Figura 4.2.1 – Estrutura elétrica de uma nuvem de tempestade A nuvem carregada, induz no solo cargas positivas, que ocupam uma área correspondente ao tamanho da nuvem. A Fig. 4.2.2 ilustra este efeito. Como a nuvem é arrastada pelo vento, a região de cargas positivas no solo acompanha o deslocamento dela, formando uma forma de sombra de cargas positivas que seguem a nuvem. 44 Figura 4.2.2 – Formação de cargas positivas no solo Tempestades são caracterizadas por relâmpagos e trovões. Elas são produzidas por uma ou mais nuvens cumulonimbus (Cb), também conhecidas como nuvens de tempestade. Uma típica nuvem de tempestade tem um diâmetro de 10-20 km, alcança altitudes de 10-20 km, dura em média 30- 90 minutos e move-se com uma velocidade de 40-50 km/h. Existem três tipos de raios classificados pela sua origem: Da nuvem para o solo. Do solo para a nuvem. Entre nuvens. Os raios descendentes (da nuvem para o solo) de polaridade negativa são os mais freqüentes. Nas descargas negativas nuvem/terra, o raio é precedido por um canal ionizado descendente (líder), que se desloca no espaço em saltos sucessivos de algumas dezenas de metros. À medida que avança, o líder induz na superfície da terra uma carga elétrica crescente de sinal contrário. Com a aproximação do líder, o campo elétrico na terra torna-se suficientemente intenso para dar origem a um líder ascendente, que parte em direção ao primeiro. O encontro de ambos estabelece o caminho da corrente do raio (corrente de retorno), que então se descarrega através do canal ionizado. A Fig. 4.2.3 ilustra o proceso de formação do raio. A quebra de rigidez do ar é causada por um intenso campo elétrico de cerca de 100-400 kV/m. Os elétrons na região de cargas negativas são tão fortemente atraídos pelas cargas positivas que começam a se mover através do ar rumo a estas cargas criando um canal condutor. O processo de quebra de rigidez tem uma duração média de 100 milissegundos e é, normalmente, localizado perto da região de cargas negativas da nuvem. Este processo estabelece as condições para que as cargas negativas sejam levadas rumo ao solo. 45 Figura 4.2.3 – Formação do raio A figura 4.2.4 a forma de onda típica de um raio. Figura 4.2.4 – Forma de onda típica de um raio Durante as últimas décadas, relâmpagos nuvem-solo têm sido detectados e mapeados em tempo real em diversas regiões por vários sistemas de detecção de relâmpagos. Alguns países, como os Estados Unidos, o Japão e o Canadá, estão inteiramente cobertos por tais sistemas. Sobre os Estados Unidos, uma média de 20-30 milhões de relâmpagos nuvem-solo tem sido detectados todo ano, desde 1989, ano em que tais sistemas começaram a cobrir integralmente todo o país. Outros países como o Brasil, estão parcialmente cobertos. Estimativas aproximadas indicam que cerca de 100 milhões de relâmpagos nuvem-solo ocorrem no Brasil todo ano. O índice mais tradicional para a identificação dos níveis de incidência de raios em determinado local é o índice ceráunico, que indica o número de dias do ano em que foi ouvida uma trovoada. A figura 4.2.5 apresenta o mapa das curvas isoceráunicas do Brasil, que identificam as regiões com o mesmo índice ceráunico. A figura 4.2.6 mostra o mapa das curvas isoceráunicas da região sudeste. 46 Figura 4.2.5 – Curvas isoceráunicas-Brasil É possível estabelecer um índice mais preciso – a densidade de descargas atmosféricas (Ng) – que caracteriza o número de descargas anual para o solo em uma determinada região (em raios/km2/ano). A probabilidade de uma estrutura ser atingida por um raio em um ano é dada pelo produto da densidade de descargas atmosféricas para a terra pela área de exposição equivalente da estrutura. No caso do Brasil, o índice ceráunico (Td) está correlacionado com a densidade de descargas (Ng) por meio da seguintefórmula empírica: Ng = 0,04 Td1,25 [por km2/ano] 47 Figura 4.2.6 – Curvas isoceráunicas-Região Sudeste 48 4.3-SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS A ABNT, através da norma NBR 5419 – Proteção de Estruturas contra Descargas Atmosféricas – fixa as condições exigíveis ao projeto, instalação e manutenção de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) de estruturas, bem como de pessoas e instalações. Nem sempre é necessária a instalação de um SPDA e a norma apresenta um método para determinar se um SPDA é, ou não, exigido, e qual o nível de proteção aplicável. Deve-se ter em mente que um SPDA não impede a ocorrência das descargas atmosféricas. Entretanto, um SPDA projetado e instalado conforme a NBR 5419 reduz de forma significativa os riscos de danos causados por descargas atmosféricas. Um Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas é constituído pelos seguintes subsistemas: a)-Subsistema de captores => parte destinada a interceptar as descargas atmosféricas. Em geral são hastes condutoras rígidas, montadas nos pontos mais altos da estrutura, em uma base com o objetivo de capturar o raio. b)-Subsistema de condutores de descida => parte destinada a conduzir a corrente de descarga atmosférica desde o subsistema captor até o subsistema de aterramento. c)-Subsistema de aterramento => parte destinada a conduzir e a dispersar a corrente de descarga atmosférica na terra. 49 4.3.1-NÍVEIS DE PROTEÇÃO Um Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas não oferece garantia de 100% contra danos causados pelas descargas. Uma vez definida a necessidade de instalação de um SPDA, a NBR 5419 estabelece 4 níveis de proteção que poderão ser adotados conforme a eficiência global desejada. São eles: Este termo expressa a probabilidade de um SPDA proteger um volume contra os efeitos das descargas atmosféricas. O nível de proteção do SPDA deve ser determinado conforme a tabela 4.3.1 abaixo. 50 Tabela 4.3.1 – Classificação de Estruturas e Níveis de Proteção 51 4.3.2-SUBSISTEMA DE CAPTORES Existem vários métodos para se captar as descargas atmosféricas. No Brasil, os métodos admitidos pela ABNT na norma NBR 5419 são os seguintes: ● Método de Franklin; ● Método de Faraday; ● Método Eletrogeométrico. 4.3.2.1-MÉTODO DE FRANKLIN Este método considera a zona de proteção representada por um cone ao redor do terminal aéreo tendo um raio no solo função do ângulo de proteção (α). Este ângulo depende do nível de proteção desejado e da altura da estrutura, conforme pode ser observado na tabela 4.3.2 a seguir: Tabela 4.3.2 – Ângulos de Proteção no Método Franklin 52 Estruturas cujo nível de proteção desejado e a correspondente altura, estejam assinalados por um asterisco (*), não devem ser protegidas pelo método de Franklin. Isto se deve ao fato de que muitas estruturas altas, protegidas por este método, recebiam descargas laterais. Os ângulos de proteção e as correspondentes alturas máximas, para o nível de proteção IV, são mostrados, de forma esquemática, na figura 4.3.1 a seguir: Figura 4.3.1 – Ângulos de Proteção para o Nível de Proteção IV – Método Franklin No Método de Franklin podem ser usados, como captores, hastes metálicas de diversas alturas ou cabos estendidos horizontalmente. Quando se utiliza hastes, estas normalmente apresentam uma terminação vulgarmente denominada de pára-raios Franklin (Fig. 4.3.2). Recomenda-se que locais de antenas de TV, de rádio, antenas parabólicas, ou letreiros luminosos, sejam protegidos pelo método de Franklin. 53 Figura 4.3.2 – Pára-raios Franklin 54 4.3.2.2-MÉTODO DE FARADAY Este método tem como princípio básico a utilização de condutores horizontais em forma de grade metálica para realizar a captura dos raios. Estes condutores formam uma malha ou gaiola, daí o nome Gaiola de Faraday. O princípio básico é que a “gaiola” é formada por várias quadrículas de condutores que evitarão a penetração do raio no interior da estrutura. Faraday demonstrou que quando as correntes uniformemente distribuídas passam pela “gaiola”, o campo magnético no interior da mesma é nulo. Quando as correntes não são uniformes o campo no seu interior não é nulo, mas muito pequeno. O raio ao cair na estrutura, não produz uma dissipação uniforme. Por este motivo ocorrem induções internas devido à variação do campo magnético existente no interior da gaiola. A proteção devida à Gaiola de Faraday se dá porque as correntes induzidas nas quadrículas criam campos magnéticos de oposição, levando o raio para as bordas da malha, obrigando-o a fluir para o cabo de descida. Quanto mais malhada for a “gaiola”, melhor a blindagem e portanto, melhor a proteção. Figura 4.3.3 – Método de Faraday As dimensões das quadrículas da Gaiola de Faraday foram determinadas empiricamente, e são função do nível de proteção desejado. 55 Apresenta-se a seguir, um exemplo de estrutura protegida com este método. Figura 4.3.4 – Exemplo de proteção de estrutura com 20m de altura e nível de proteção III 56 4.3.2.3-MÉTODO ELETROGEOMÉTRICO O modelo eletrogeométrico, também designado método da esfera rolante ou fictícia, serve para delimitar o volume de proteção dos captores de um SPDA, sejam eles constituídos de hastes, cabos, ou de uma combinação de ambos. É um critério especialmente útil para estruturas de grande altura ou de formas arquitetônicas complexas, baseado no mecanismo de formação das descargas atmosféricas. O raio atinge o solo ou uma estrutura no local de onde partiu o líder ascendente e, como este se origina no ponto onde o campo elétrico é mais intenso, o trajeto do raio não é necessariamente vertical. Isto fica evidente quando estruturas altas são atingidas lateralmente pelos raios, não obstante estarem protegidas por captores no topo. Os pontos de maior intensidade de campo elétrico no solo e nas estruturas são geralmente aqueles mais próximos da extremidade do líder descendente. Portanto, a superfície de uma esfera com centro na extremidade do líder e raio igual ao comprimento dos “saltos” antes do seu último salto é o lugar geométrico dos pontos a serem atingidos pela descarga. Estes pontos podem então ser simulados por uma esfera fictícia, cujo raio seja igual ao comprimento do último trecho a ser vencido pelo líder descendente (comprimento R). Figura 4.3.5 – Conceito da distância R A distância R entre o ponto de partida do líder ascendente e a extremidade do líder descendente é o parâmetro utilizado para posicionar os captores segundo o modelo eletrogeométrico. Esta distância, que define o raio da esfera rolante, depende da corrente do raio, sendo dada por: R = 10 x I 65,0 , onde R = raio da esfera rolante e I = corrente de crista do raio 57 Figura 4.3.6 – Método da Esfera Rolante Os locais onde a esfera tocar a edificação são os locais mais expostos a descargas. Resumindo, podemos dizer que os locais onde a esfera toca, o raio também pode tocar, devendo estes ser protegidos. Esta esfera terá um raio definido em função do Nível de Proteção. O cone de proteção é uma aproximação do volume protegido definido pelas esferas eletrogeométricas. Para estruturas muito pequenas o volume protegido pelo pára-raios é aproximadamente um cone. A zona de proteção calculada pelo método eletrogeométrico é em geral menor que aquela obtida pela "teoria do cone de proteção" (Método de Franklin).Figura 4.3.7 – Método Franklin x Método Eletrogeométrico 58 4.3.2.4-POSICIONAMENTO DOS CAPTORES SEGUNDO A NORMA ABNT 5419/2005 Para o correto posicionamento dos captores, devem ser observados os requisitos da tabela e da figura abaixo. Tabela 4.3.3 – Posicionamento de captores conforme o nível de proteção Figura 4.3.8 – Parâmetros e volumes de proteção do SPDA 59 4.3.3-SUBSISTEMA DE CONDUTORES DE DESCIDA Os condutores de descida recebem as correntes distribuídas pela captação encaminhando-as o mais rapidamente para o solo. Para edificações com altura superior a 20 metros têm também a função de receber descargas laterais, assumindo neste caso também a função de captação devendo os condutores ser corretamente dimensionados para tal. A condução das correntes até o solo deverá ser realizada de modo a não causar danos na estrutura protegida, manter os potenciais em um nível baixo e não produzir faiscamentos laterais com as estruturas metálicas próximas. O cabo de descida deve ser preferencialmente contínuo. Caso isto não seja possível, devem ser utilizadas soldas exotérmicas para realizar as conexões. Como o raio produz aquecimento nos cabos de descida, os limites térmicos do cabo devem ser garantidos pelo dimensionamento adequado da sua bitola. A NBR 5419 prescreve o seguinte dimensionamento para estes cabos, em função do material utilizado: Material DESCIDAS (para estruturas de altura até 20 m) (mm²) DESCIDAS (para estruturas de altura superior a 20 m) (mm²) Cobre 16 35 Alumínio 25 70 Aço galvanizado 50 50 60 4.3.4-SUBSISTEMA DE ATERRAMENTO Do ponto de vista da proteção contra descargas atmosféricas, um sistema de aterramento único e integrado à estrutura constitui a melhor solução e assegura uma proteção completa (isto é, proteção contra descargas atmosféricas, proteção das instalações elétricas de baixa tensão, dos sistemas eletrônicos e de telecomunicação). Para assegurar a dispersão da corrente de descarga atmosférica na terra sem causar sobretensões perigosas, o arranjo e as dimensões do subsistema de aterramento são mais importantes que o próprio valor da resistência de aterramento. Entretanto, recomenda-se, para o caso de eletrodos não naturais, uma resistência de aproximadamente 10 Ω, como forma de reduzir os gradientes de potencial no solo e a probabilidade de centelhamento perigoso. Os seguintes tipos de eletrodo de aterramento podem ser utilizados: a) aterramento natural pelas fundações, em geral as armaduras de aço das fundações; b) condutores em anel; c) hastes verticais ou inclinadas; d) condutores horizontais radiais; As figuras a seguir apresentam exemplos de eletrodos Eletrodo Natural Eletrodo Embutido em Concreto Haste Vertical 61 O comprimento total dos eletrodos de aterramento, conforme o nível de proteção e para diferentes resistividades do solo, é dado na figura abaixo Figura 4.3.9 – Comprimento mínimo de eletrodos de aterramento 4.3.4.1-Arranjos de Eletrodos A norma NBR 5419 estabelece dois possíveis arranjos de eletrodos de aterramento: a)-Arranjo “A” É indicado para solos de baixa resistividade (até de 100 Ω.m) e para pequenas estruturas (com perímetro até 25 m) Este arranjo é composto de eletrodos radiais (verticais, horizontais ou inclinados). Cada condutor de descida deve ser conectado, no mínimo, a um eletrodo distinto. Devem ser instalados, no mínimo, dois eletrodos que não devem ter comprimento inferior ao estabelecido na figura 4.3.9 acima, assim determinado: a) l - para eletrodos horizontais radiais; b) 0,5 l - para eletrodos verticais (ou inclinados) b)-Arranjo “B” Este arranjo é composto de eletrodos em anel ou embutidos nas fundações da estrutura e é obrigatório nas estruturas de perímetro superior a 25 m. 62 4.3.4.2-Instalação de eletrodos de aterramento não naturais a)-Com exceção dos eletrodos de aterramento naturais prescritos anteriormente, os eletrodos de aterramento preferencialmente devem ser instalados externos ao volume a proteger, a uma distância da ordem de 1 m das fundações da estrutura. b)-Eletrodos de aterramento formados de condutores em anel, ou condutores horizontais radiais, devem ser instalados a uma profundidade mínima de 0,5 m. Nos eletrodos radiais, o ângulo entre dois condutores adjacentes não deve ser inferior a 60°. c)-Hastes de aterramento verticais (ou inclinadas), instaladas em paralelo, devem ser, quando possível uniformemente, distribuídas no perímetro da estrutura, espaçadas entre si por uma distância não inferior ao seu comprimento. d)A profundidade e o tipo dos eletrodos de aterramento devem ser escolhidos de forma a minimizar os efeitos da corrosão e do ressecamento do solo, e assim estabilizar a resistência de aterramento. Em solos de rocha viva, aplica-se o arranjo de aterramento “B” se não for possível fazer aterramento pelas fundações; os condutores devem ser cobertos por uma camada de concreto para proteção mecânica. 4.3.4.3-Método preferencial de aterramento das instalações Apesar da popularidade dos eletrodos, é importante destacar que a norma NBR 5410 declara como eletrodo de aterramento preferencial das instalações aquele que utiliza a ferragem da fundação do concreto armado. Essa solução resulta em uma baixíssima resistência de aterramento (geralmente menor que 1 ohm) e, principalmente proporciona uma equalização completa dos potenciais das diversas massas e da estrutura da edificação, graças à interligação com a ferragem das lajes. Nesse sistema de eletrodo, recomenda-se que seja executado um anel envolvendo as fundações da periferia da edificação conforme figura 4.3.10. Esse anel pode ser realizado com a própria ferragem envolvida em concreto ou, o que é mais prático, com a utilização de um cabo de cobre nu, de seção mínima 25 mm2, enterrado e interligado por conector apropriado ou solda exotérmica à ferragem da fundação. Em um ponto desse cabo de cobre, deriva-se outro cabo que será ligado ao Terminal de Aterramento Principal (TAP) da instalação. 63 Figura 4.3.10 – Aterramento preferencial de um SPDA
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