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Advogado Procurador do Município de Bandeirantes Especialista em Direito e Processo do Trabalho Graduado em Gestão Pública Graduado em Direito vinicius.scherch@gmail.com • Conceito de Fazenda Pública • Remessa necessária e trânsito em Julgado • Fase de execução • Dos embargos à execução • Da matéria discutível na impugnação • Execução provisória • Precatório e Requisição de Pequeno Valor FAZENDA PÚBLICA é a pessoa jurídica de direito público interno em sua atuação processual, pode ser dita como sinônimo das expressões Poder Público em juízo, Estado em juízo, Ente público em juízo. É a personificação do Estado. Portanto, a União, os Estados, os Municípios e suas autarquias e fundações, bem como as agências reguladoras “autarquias especiais” são FAZENDA PÚBLICA. Outros nomes: reexame necessário, remessa obrigatória ou duplo grau de jurisdição obrigatório Origem: remonta à Roma antiga, ocasião em que as funções jurisdicionais eram divididas entre o povo e o poder, desenvolvendo-se durante a época de cristianização do direito pagão, com a preocupação de evitar possíveis erros ou injustiças. Aperfeiçoou-se com o advento da Revolução Francesa, vindo a ser considerado fundamental para o exercício da democracia. (CAIS, Cleide Previtalli. O processo tributário. 2. ed. São Paulo: RT, 1996. p. 71). Previsão legal: art. 496 do CPC Natureza Jurídica: Recurso? Condição de eficácia da Sentença? Condição para a formação de coisa julgada? NATUREZA JURÍDICA DE RECURSO: 1 – Processamento igual ao da Apelação; 2 – Efeito devolutivo – toda a condenação é devolvida ao tribunal para apreciação, independente de Apelação; 3 – Efeito translativo – o tribunal pode analisar questões de ordem pública, ainda que não arguidas pelas partes ou pelo juiz; 4 – Efeito suspensivo – enquanto não houver a decisão do tribunal, fica obstada a execução; 5 – Efeito substitutivo – o acórdão substitui a decisão do juízo a quo, ainda que a confirme; NATUREZA JURÍDICA DE CONDIÇÃO DE EFICÁCIA DA DECISÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA 1 – Não há voluntariedade – é “necessária” 2 – Não há tipicidade – de forma topográfica, insere- se na legislação relacionando-se à coisa julgada e não está prevista como recurso; 3 – Não há interesse recursal – se a Fazenda Pública não recorrer, o processo ainda assim é submetido ao crivo do tribunal; 4 – Ausência de dialeticidade – o juiz a quo não encaminha razões, simplesmente faz a “remessa” ex lege; NATUREZA JURÍDICA DE CONDIÇÃO DE EFICÁCIA DA DECISÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA 5 – Ausência de Legitimidade – o juiz a quo não é terceiro interessado e nem parte litigante do processo, porquanto, não tem interesse em recorrer de sua própria decisão; 6 – Ausência de tempestividade – pode ocorrer a qualquer tempo, e se não se operar, não transita em julgado; 7 – Não há contraditório – a remessa, por ser necessária, não franqueia às partes a oportunidade de contrarrazões, geralmente constando do processo tão somente que ele subiu ao tribunal para o reexame; NATUREZA JURÍDICA DE CONDIÇÃO DE EFICÁCIA DA DECISÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA “não se trata, aqui, de recurso, mas de condição de eficácia da sentença e para que se opere o trânsito em julgado.” (WAMBIER, 2015, p. 808). Súmula nº 423 do STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege.” Súmula 45 do STJ: "No reexame necessário, é defeso, ao tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública.” “Merece ser enquadrad[a] entre os instrumentos de revisão das decisões judiciais.” (WAMBIER; TALAMINI, 2015, p. 886) “esse instituto tem a natureza jurídica de condição de eficácia da sentença.” (NERY JR, 2014, p. 93) “Dizer que a remessa necessária é condição de eficácia da sentença contém o equívoco de definir algo pelos seus efeitos, e não pelo que é.” (CUNHA, 2016, p. 183) A natureza jurídica da remessa necessária pode ser considerada como a de um instrumento de defesa do interesse e dos bens públicos, que só se opera no plano prático quando há risco de lesão ou prejuízo à Fazenda Pública, em decorrência de uma decisão judicial. Cabimento: art. 496 do CPC Sentenças de mérito contra a União, os Estados, os Municípios e suas autarquias e fundações. Agências Reguladoras são “autarquias especiais” , são aqui abrangidas. Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista prescindem de reexame necessário, porque não são Fazenda Pública. (art. 496, I do CPC) Com valor excedente a (i) mil salários-mínimos para a União, (ii) quinhentos salários-mínimos para os Estados e (iii) cem salários-mínimos para os Municípios. (art. 496, I c/c §3º do CPC) Sentenças procedentes em embargos a Execução Fiscal, observado o limite econômico (art. 496, II c/c §3º do CPC) Sentenças que concedem a segurança nos mandados de segurança (art. 14, 1º da Lei nº 12.016/2009) Ver também STJ, 2a Turma, REsp 1.274.066/PR, ReI. Min. Mauro CampbellMarques,j.1 °.12.2011, DJe 09.12.2011; 5TJ. 2" Turma, AgRg no REsp 1.373.90S/RJ, ReI. Min. Herman Benjamin, j. 06.06.2013, DJe 12.06.2013. Princípio da normatividade. Sentenças de improcedência em ação popular. (art. 19 da Lei nº 4.717/1965) Sentenças de improcedência em ação civil pública, pela aplicação analógica do art. 19 da LOP. (STJ, 2ª Turma, REsp 1.108.542/SC, ReI. Min. Castro Meira, j. 19.05.2009, DJe 29.05.2009. STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 1.219.033/RJ. ReI. Min. Herman Benjamin, j. 17.03.2011, DJe 25.04.2011.) Assim, a Remessa Necessária tem cabimento em sentenças de mérito contra a Fazenda Pública e procedentes de Embargos a Execução Fiscal, cujo valor exceda aos limites impostos pelo §3º do art. 496 do CPC, concessivas de segurança e de improcedência na ação popular e na ação civil pública. Não cabimento: 1 –Causas com valor inferior ao art. 496, §3º do CPC; 2 – Sentenças fundadas em Súmulas dos tribunais superiores; 3 – Sentenças fundadas em acórdãos do STF e do STJ em julgamento de recursos repetitivos; 4 - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; 5 - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa. 6 – Sentenças que denegam a segurança e as de procedência em ação popular e ação civil pública (a depender do proveito econômico) Expirado o prazo recursal da sentença ou do acórdão de reexame necessário, opera-se o trânsito em julgado e fazendo a coisa julgada. Transitada em julgado, as partes são intimadas, para iniciar-se a fase de cumprimento de sentença quando o título for judicial (arts. 534 e 535 do CPC). A execução se dá no interesse do exequente. (art. 797) NÃO EXISTE MAIS processo autônomo de execução, salvo quando se tratar de título executivo extrajudicial (art. 910 CPC) O Embargos à Execução, portanto só encontram lugar na execução de título extrajudicial. O processo é sincrético, ou seja, se processa nos mesmos autos e, cabe ao autor, agora exequente (art. 534 do CPC): 1 – Apresentar o demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo: o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente; o índice de correção monetária adotado; os juros aplicados e as respectivas taxas; o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados; a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; a especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados. Prazo: 30 dias Efeito: Suspensivo Matéria que pode seralegada: 1 - falta ou nulidade da citação; 2 - ilegitimidade de parte; 3 - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; 4 - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; 5- incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; 6 - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da sentença. 7 - impedimento ou suspeição ; Considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. Nos termos do art. 535, § 3º do CPC, a partir da apresentação demonstrativo do crédito, apresentada ou não a impugnação, o juiz expedirá o precatório ou ordenará o pagamento via Obrigação de Pequeno Valor. Mas, o mesmo artigo fala em rejeição da impugnação. Haverá ou não outra sentença? É necessária sentença que defina o valor exato devido. “O trânsito em julgado a que se referem os § 3º e 5º do art. 100 da Constituição Federal é o da sentença que julgar a impugnação ao cumprimento da sentença ou os embargos à execução fundada em título extrajudicial. E isso porque o valor a ser incluído no orçamento deve ser definitivo, não pendendo qualquer discussão a seu respeito.” (CUNHA, 2016, 337) Decididos os aspectos da impugnação e apurado o valor do crédito do exequente, poderão ser indicados os bens e direitos públicos à penhora. Bens e direitos públicos são impenhoráveis e inalienáveis, em regra. Assim, passa ao precatório judicial ou a obrigação de pequeno valor, conforme o art. 100 da CF. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PRINCÍPIO DA INDISPONIBLIDADE E SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDA PRINCÍPIO DA ISONOMIA A obrigação de pequeno valor OPV ou requisição de pequeno valor RPV é expedida de acordo com o art. 535, §3º, II do CPC c/c art. 100, §3º da CF. A OPV é definida em lei e tem como limite material as disposições do §4º do art. 100 da CF. Ou seja, não pode ser inferior ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. Não havendo lei própria, aplica-se o art. 97 do ADCT. OPV da União = 60 salários mínimos (art. 17, § 3º da Lei nº 10.529/2001) OPV do Estado do Paraná = R$ 15.000,00 anualmente atualizáveis pelo IPCA-E (Lei nº 18.664/2015) OPV do Município de Bandeirantes = R$ 5.189,82 (Lei Municipal nº 3.052/2010) O precatório traduz-se, basicamente numa ordem expedida pelo presidente do tribunal, para que a Fazenda Pública faça constar em sua proposta orçamentária o crédito que é devido. Assim, o juiz encaminha ao tribunal todas as informações necessárias para a formação do precatório. Quando o ofício do juiz chega ao tribunal, acompanhado das peças que instruirão o precatório, essas informações passam por setores especializados para verificar se há duplicidade na cobrança ou eventual excesso na execução. Após, mediante um ofício requisitório do presidente do tribunal, encaminhado à Fazenda Pública, é determinada a sua inclusão no próximo orçamento. Os ofícios do tribunal recebidos até 1º de julho são convertidas em precatórios incluídos na proposta orçamentária do ano seguinte. Os recebidos após 1º de julho passam para a proposta orçamentária do ano subsequente. Quando a proposta é convertida em lei, o pagamento dos valores inscritos deve ocorrer no mesmo exercício. O Ente devedor deve efetuar o depósito em uma conta do tribunal no exercício em que se deu a inclusão do precatório. O tribunal mantém uma ordem cronológica de credores e nessa ordem são liberados os valores. Assim, “com a finalidade de assegurar a isonomia entre credores, impedindo dessa forma, em consonância com o princípio da impessoalidade, consagrado, no art. 37 do Texto Magno, qualquer espécie de favorecimento, seja por razões políticas, seja por razões pessoais” (MORAES, 2006, p.538), os depósitos são realizados em uma conta do tribunal, para a liberação conforme a lista por ele ordenada. Não é o Ente devedor que determina a ordem de pagamento, muito menos é este o responsável pela liberação do valor, sua obrigação é efetuar o depósito e, na medida do possível, cumprir a previsão do orçamento. Não sendo realizado o pagamento no exercício de sua inclusão, incidirá sobre o valor do crédito a atualização e juros de mora. (art. 100, § 12 da CF) Havendo divergência no valor, será discutida perante o juiz da execução. É vedado o fracionamento do precatório, bem como sua complementação. (art. 100, § 8º da CF) Precatórios de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos. (art. 100, §1º da CF) Com prioridade sobre os precatórios de natureza alimentar, tramitam os débitos de ordem alimentar cujo titular tenha mais de sessenta anos na data de expedição ou seja portador de doença grave. O valor liberado para esses credores limita-se ao triplo daquele definido como de pequeno valor pela Fazenda Pública condenada. (art. 100, §2º da CF) As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o pagamento integral. (art. 100, 6º da CF) Cabe ao presidente autorizar, a requerimento do credor e exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o sequestro da quantia respectiva. (art. 100, §6º da CF) A intervenção pelo não pagamento da dívida fundada (arts. 34, V, ‘a’ e 35, I da CF) somente é possível se caracterizado um descumprimento voluntário e intencional, sendo que a insuficiência de recursos não autoriza a retirada temporária da autonomia do devedor, conforme as decidido no IF 1.917-AgR, rel. min. Maurício Corrêa, julgamento em 17-3-2004, Plenário, DJ de 3- 8-2007 A intervenção se dá pela União nos Estados e pelos Estados nos Municípios. Já o sequestro pode se dar a requerimento do credor que não teve seu crédito satisfeito, pela falta injustificada de alocação orçamentária. No caso de preterição “o sequestro deve ser dirigido contra o credor beneficiado e não contra a Fazenda”. (GRECO FILHO, 2003, p. 96) Prazo de pagamento: 02 meses contados da entrega. Forma de pagamento: depósito na agência de banco mais próxima da residência do exequente. Não havendo o pagamento voluntário, pode o juiz determinar o sequestro em conta bancária da Fazenda Pública, do numerário suficiente à satisfação do crédito. Processa-se nos termos do art. 910 do CPC, onde o exequente ajuíza a ação de execução e a Fazenda Pública é citada para opor Embargos a Execução. É recomendável ao exequente se valer dos termos do art. 534 do CPC na formulação da inicial. A matéria dos embargos é toda aquela lícita de se deduzir no processo de conhecimento. Os embargos são distribuídos por dependência aos autos de execução extrajudicial. Não opostos embargos ou julgados improcedentes, após o transito em julgado será adotado o trâmite do precatório ou da OPV/RPV. A sentença que rejeita ou julga improcedenteos embargos não se sujeita a remessa necessária. Cabe apelação. Se a Fazenda Pública perder o prazo de embargos, poderá usar a Exceção de Pré- executividade. Ultrapassadas todas as garantias constitucionais de ampla defesa e contraditório, cabe a decisão final que embasará o precatório ou a OPV/RPV.
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