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9. REFLEXÕES SOBRE AS PSICOLOGIAS FENOMENOLÓGICAS EXISTENCIAIS.pdf

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REFLEXÕES SOBRE AS PSICOLOGIAS FENOMENOLÓGICAS 
EXISTENCIAIS 
SUAS CONCEPÇÕES DE HOMEM, SEUS MODOS DE CONCEBER OS FENÔMENOS PS 
LISE MARY SOUZA SALGADO 
 
RESUMO 
 
O presente artigo visa efetuar algumas reflexões sobre o que se define de modo geral como 
Psicologias Fenomenológicas Existenciais, buscando fundamentá-las no solo filosófico que as 
origina. Tomar-se-á para organizar as reflexões, o pensamento de Brentano, Husserl, Merleau-Ponty 
e alguns pressupostos da filosofia existencialista. Pretende-se ainda, efetuar correlações entre as 
concepções de homem, o modo de conceber os fenômenos psicopatológicos, os métodos de 
intervenção e as características peculiares da relação terapeuta-cliente engendradas pelas 
psicologias fenomenológicas existenciais. As reflexões aqui contidas, buscam mostrar as 
descobertas que efetuamos ao nos debruçarmos sobre os estudos da psicopatologia 
fenomenológica. A visão fenomenológica provoca na psicologia a idéia do rompimento com as 
dualidades. Numa intervenção terapêutica, a análise dos fenômenos psicopatológicos utiliza-se da 
compreensão do sujeito na totalidade das vivências por ele construídas. A psicoterapia 
fenomenológica existencial repousa numa ação engajada com o paciente, no sentido de abrir certas 
formas de existir fechadas, repetitivas e que acarretam sofrimento e incapacidade de auto-
realização, para novas possibilidades estruturais de existência. Observamos que no cerne das 
psicologias fenomenológicas existenciais há um esforço ético, no sentido de buscar continuamente 
que a teorização do psicopatológico e a técnica da clínica não sufoquem a abertura da existência à 
transcendência. Para nós essa é a questão fundamental. 
 
 
Palavras-chave: PSICOLOGIAS FENOMENOLÓGICAS EXISTENCIAIS. CONCEPÇÕES DE 
HOMEM. FENÔMENOS PSICOPATOLÓGICOS. MÉTODOS DE INTERVENÇÃO. RELAÇÃO 
TERAPEUTA-CLIENTE. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A fenomenologia traz um novo modo de ver a psicologia. Desvinculando-a de aspectos meramente 
científicos - voltados para parâmetros que buscam enquadrar a experiência do humano em uma 
racionalidade específica – vem a fenomenologia contribuir com um novo olhar, que inclui todas as 
experiências humanas a partir de uma ideia de homem em relação. 
O presente artigo, busca efetuar reflexões sobre os aspectos gerais das psicologias 
fenomenológicas existenciais. 
 
Num primeiro tópico, o artigo pretende abordar aspectos referentes à fenomenologia e ao 
existencialismo, solo onde se constituíram e foram construídos os pressupostos das psicologias 
fenomenológicas existenciais. 
 
O segundo tópico, trata das características gerais das psicologias fenomenológicas existenciais, no 
que tange, às suas concepções de homem, a compreensão do fenômeno psicopatológico, o método 
interventivo e a relação terapeuta-cliente no processo psicoterapêutico. Ao final reiteramos os 
aspectos que consideramos mais relevantes para esse estudo. 
 
Pelo olhar fenomenológico o homem é um ser-no-mundo. Essa relação permite que o homem vá 
recriando esse mundo e sendo recriado por ele. Numa perspectiva fenomenológica, a psicologia 
veria o homem como um ser em permanente construção. Nessa ótica, não há lugar para 
classificações patológicas que aprisionam o homem em comportamentos e atitudes. O foco da 
intervenção se centra na visão do homem como um conjunto de possibilidades que ele próprio como 
sujeito vai atualizando no decorrer da sua existência e a partir da vivência intencional da consciência. 
Na perspectiva fenomenológica a psicologia veria o conhecimento como algo decorrente de uma 
vivência anterior. Nessa ótica as verdades não estariam dadas como prontas e acabadas e o 
enfoque se dá na descrição dos fenômenos tal como se apresentam à consciência do sujeito. 
O psicólogo nessa abordagem pode desenvolver o método fenomenológico como base de sua 
intervenção, suspendendo todos os fatos e explicações, captando a essência da experiência relatada 
por seu cliente. Na verdade, ele também encontra-se num tipo de relação terapêutica capaz de 
permitir uma correlação profunda terapeuta-cliente, onde reciprocamente ocorrem influências e 
expressões da alteridade de cada um. 
 
 
 
 
 
1. A FENOMENOLOGIA E O EXISTENCIALISMO – BASE DAS PSICOLOGIAS 
[B1] Comentário: Escolhi um texto 
numa linguagem simples e básica para 
iniciar uma compreensão sobre a aplicação 
da fenomenologia na psicologia e o 
existencialismo. Caso tenham alguma 
dúvida, me procurem ou mandem um e-
mail: bruna.pancardes@foa.org.br 
[B2] Comentário: Ideia de que o home 
se constitui nas relações sociais e com o 
mundo, sem, no entanto, ser 
DETERMINADO por ele. 
FENOMENOLÓGICAS EXISTENCIAIS 
 
As psicologias fenomenológicas existenciais fazem parte da chamada psicologia humanista, que 
nasce em oposição à orientação mecanicista e reducionista da psicologia tradicional, tendo sido 
denominada de “terceira força” em psicologia. 
 
Se contrapondo à concepção positivista de mundo, e àquelas que acreditam num determinismo 
psíquico, vem as psicologias fenomenológicas existenciais perguntar-se pelo sujeito na possibilidade 
do vir-a-ser. Seus fundamentos filosóficos estão calcados na fenomenologia husserliana e no 
existencialismo. 
 
Pode-se afirmar que o filósofo Franz Brentano, precursor de Husserl percebeu que havia fenômenos 
ou processos mentais que não eram dados à observação. Para ele, a consciência não era uma 
substância e o que existe é o verbo pensar. Partia então do pressuposto que a consciência é sempre 
intencional. A consciência é sempre referente a algo. Ela é descritiva por característica, pois tudo o 
que não é observável é apenas descrito. Considera que a psicologia deveria estudar os atos ou 
processos mentais e não os conteúdos. Brentano dá ênfase á intencionalidade dos fenômenos 
psíquicos e, por conseguinte acredita que o ponto de partida do conhecimento é a intencionalidade 
da consciência. 
 
Husserl foi o criador do método fenomenológico, inspirado nas distinções entre fenômenos físicos e 
psíquicos de Franz Brentano. Vai propor, portanto, um método de conhecimento do psiquismo 
através da busca da essência dos modos do conhecimento. Pode-se afirmar que a fenomenologia 
surgiu num processo de revisão das verdades tidas como cientificamente inquestionáveis, no 
momento em que as ciências, ao nível da investigação, assumem um significado mais humano. 
 
Seu postulado básico é a intencionalidade, característica fundamental da consciência, pois é através 
dela que aquilo que um objeto é, se constitui espontaneamente na consciência. Vai estabelecer uma 
nova relação entre sujeito e objeto – que se refere ao homem e seu mundo, onde o pensamento e o 
ser estão interligados. Husserl parte do pressuposto de que as ideias só existem porque são ideias 
sobre as coisas, ambas constituem um mesmo fenômeno e estão indissoluvelmente ligadas. 
 
A fenomenologia busca captar a essência mesma das coisas, descrevendo a experiência tal como 
se processa de modo a que se atinja a realidade tal como ela é. Para tanto, Husserl propõem que o 
indivíduo suspenda todo o juízo sobre os objetos que o cercam. Nada afirme nem negue sobre as 
coisas, adotando uma espécie de abandono do mundo e recolhimento dentro de si mesmo. O mundo 
é então colocado entre parênteses, permanecendo na consciência apenas aquilo que, por sua 
evidência, é impossível de ser negado. 
 
Essa atitude traria segundo Husserl, uma verdadeira conversão. Permitiria colocar todas as verdades 
em cheque, uma vez que elas não poderiam ser consideradas prontas e acabadas. Husserl nos fala 
ainda que quando se consegue fazer essa suspensão é possível chegar não só a essência do 
fenômeno como também se presentifica imediatamente a essência do indivíduo que faz esse mesmo 
exercício. Suspendendo a sua crença na realidade do mundo exterior, se explicita a consciência 
transcendental, que tem fococentrado na essência geral do eu. Esse eu, Husserl chama de Sujeito 
ou eu transcendental, essência do eu concreto. No final de sua obra, Husserl admite que a redução 
fenomenológica não mais se objetiva no sujeito transcendental. Ele compreende que voltar à 
essência dos fenômenos é voltar a esse mundo antes do conhecimento, a partir das experiências de 
um sujeito concreto e real. 
 
Portanto, a tarefa efetiva da fenomenologia está em analisar as vivências intencionais da consciência 
para perceber como aí se produz o sentido dos fenômenos, o sentido desse fenômeno global que se 
chama mundo. Ela busca ultrapassar as experiências reais, atendo-se aos elementos ideais, 
considerados como a essência da experiência. 
O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty foi influenciado pelo Existencialismo e pelas 
fenomenologias de Husserl e Heidegger. Faz uma crítica à redução fenomenológica preconizada por 
Husserl e diz que o afastamento do mundo não é possível. Para ele a fenomenologia deve ser da 
existência e não um fenômeno da consciência. 
 
Faz críticas ao papel constituinte da consciência e ao humanismo, do ponto de vista da dicotomia 
sujeito-objeto e subjetivismo/objetivismo. Para Merleau-Ponty o mundo não é para uma consciência. 
Vai propor uma fenomenologia da gênese, que se interessa em conhecer a origem dos sentidos. 
Acredita que estamos condenados ao sentido. Agimos no mundo por conta de um sentido. Retornar 
as coisas mesmas, nesse caso, é atingir um tal momento em que o homem possa redimensionar o 
seu sentido. É ainda, retornar á experiência do mundo. Considera que mundo e percepção não estão 
separados. Na psicoterapia é como se acompanhássemos o cliente na sua história face ao sentido, 
incluindo experiências paradoxais, pois os sentidos são produzidos a partir dos paradoxos. 
 
Já o existencialismo, outra matriz das Psicologias fenomenológicas existenciais, vai tratar da 
existência humana, refletindo sobre ela e considerando-a em seu aspecto particular, individual e 
concreto. Essa individualidade é uma proposta do homem assumir-se totalmente, ou seja, tornar-se 
[B3] Comentário: Contrapondo-se, 
também, ao determinismo ambiental do 
behaviorismo. 
[B4] Comentário: Como discutido em 
sala, a busca do sentido da vida. 
senhor das suas atitudes, da sua maneira de ser, do conhecer-se profundamente. E isso nada mais 
é do que um conhecer-se na relação com o mundo e consigo próprio, de modo que possa dar 
respostas diferenciadas entre suas necessidades e as exigências que vêm de fora. Para o 
existencialismo primeiro existimos e depois definimos nossa essência. Definimos nossa essência a 
partir de nossos atos. Atos são para os existencialistas, escolhas. Todo ato/escolha é no sentido de 
confirmar ou não a condição pré-existencial que determinou a sua inserção no mundo. Cada ato se 
confirma nas escolhas efetuadas. Cada escolha implica em “nadificar” outras possibilidades. 
 
Em face dessas considerações sobre o solo em que se gestam as Psicologias fenomenológicas 
existenciais, compreendemos que dois princípios básicos a fundamentam: consciência é sempre 
consciência de algo e existência precede a essência. 
 
Influenciada por essas duas correntes filosóficas, foram as psicologias fenomenológicas existenciais 
criando suas concepções de homem, seus modos de conceber os fenômenos psicopatológicos, seus 
métodos de intervenção, tecendo características peculiares da relação terapeuta-cliente e do 
processo psicoterápico. 
 
2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS PSICOLOGIAS FENOMENOLÓGICAS EXISTENCIAIS: 
 
2.1. O HOMEM PARA AS PSICOLOGIAS FENOMENOLÓGICAS EXISTENCIAIS 
 
A concepção de homem traz a idéia de um ser humano como sujeito e não objeto da intervenção 
terapêutica. Moreira (1994) fala de um sujeito mundano, autônomo e responsável. Mundano pois 
compreende, tomando por base Merleau-Ponty, que o homem se faz na relação que estabelece com 
o mundo e com os outros homens, resgatando a sua historicidade. Autônomo, pois o considera como 
arquiteto de sua própria existência, capaz de exercer em plenitude suas potencialidades. 
Responsável, uma vez que o homem é aquilo que faz e encontra-se de certa forma contingenciado 
por sua situação existencial. 
 
Compartilha-se nas Psicologias Fenomenológicas Existenciais de uma visão do homem não como 
um ser (aquilo que se manifesta em todos os entes – que é tudo que povoa o mundo) universal, 
indistinto, mas como um Ser particular, concreto, com vontade e liberdade pessoais, consciente e 
responsável. Assim, o homem é o único ser que pode interrogar-se acerca de si mesmo, sair de si 
para projetar a si mesmo. Pode, ele, fazer um projeto de si próprio, realizando-se. Ele não é, mas 
está sendo na relação com o Outro, amando-se, antes de qualquer outro, o homem aprende que seu 
amor por si mesmo se transforma na sua própria medida de amar os outros. 
 
Para que ele possa chegar à autêntica consciência de si, o Outro se torna o mediador indispensável. 
Assim sendo, a existência é a própria passagem da possibilidade à realidade. E nesse caminho da 
procura de sua autenticidade, o homem depara-se com a questão da essência que por sua vez se 
caracteriza como a natureza de um Ser. É o fato de poder fazer opções que constitui a essência do 
homem e lhe permite criar seus próprios valores. Ele é um Ser diante da escolha. Não há como não 
escolher. Assim, se ele é totalmente livre para escolher, é também responsável por tudo que faz 
tendo, portanto, um compromisso com a realidade. 
 
Para que possa ocorrer esta aptidão do homem, é imprescindível a necessidade de sua liberdade 
que significa a capacidade de decisão sobre sua própria vida. E tem de ser uma decisão, como já foi 
dito, responsável, pois o homem vive num mundo concreto, que antecede a ele e que possui suas 
normas. 
 
Entretanto, para criar seu próprio mundo, realizando suas próprias potencialidades, não deixa de ser 
para o homem uma fonte de angústia, pois ele escolhe sem experiências prévias, estando sujeito, 
portanto, a erros. Esta condição propicia o desespero no homem, visto que esta responsabilidade 
que lhe é inerente o obriga a agir encarando a verdade diretamente, ainda que isso seja difícil pelo 
fato de ninguém poder realizar por ele seu projeto. Projeto este que deve ser entendido como a 
procura de atualização da própria essência, do completar-se. 
 
2.2. O FENÔMENO PSICOPATOLÓGICO 
 
Os fenômenos psicopatológicos, na abordagem fenomenológica existencial, são construções que o 
sujeito vai elaborando de acordo com o modo como ele experiência o mundo. É pré-reflexivo, 
singular e diz respeito ao mundo, ao vivido. Algo que afeta sobremodo o sujeito. 
 
A partir dessas construções efetivadas por ele, a psicopatologia fenomenológica vai tentar 
compreender a natureza dos fenômenos vividos, o modo do sujeito estar no mundo. Esses 
fenômenos podem ter aí uma característica de adoecimento. Escolhas foram realizadas e um modo 
debilitado e limitado de estar no mundo pode ter sido engendrado. As patologias são, portanto, 
diferentes formas de estar no mundo. 
 
Muitas vezes, o sujeito escolhe uma saída de adoecimento para preservar-se de si mesmo, de algo 
ou de uma situação. Isso ocorre quando os mecanismos de defesa reduzem as suas possibilidades 
[B5] Comentário: Na medida em que 
fazemos escolhas, deixamos de lado 
diversas possibilidades e, com isso, nos 
constituímos a cada escolha feita, pois 
tornamo-nos algo e deixamos de ser uma 
série e outras coisas. 
[B6] Comentário: Não ver como 
paciente ou cliente, e sim como homem, 
na sua totalidade. 
[B7] Comentário: Compreender a 
individualidade dos seres, cada um como 
único. 
[B8] Comentário: Liberdade é uma 
condição e, com isso, o homem é fadado a 
fazer escolhas e responsabilizar-se por elas. 
[B9] Comentário: A decisão 
responsável é consciente, tanto das suas 
influências, como das suas consequências.[B10] Comentário: A condição de 
liberdade e de inospitabilidade do mundo 
não é “confortável”. O sentimento de 
angústia é aquele que nos conscientiza 
desse estado e pode propiciar uma vida 
mais autêntica. 
e a sua liberdade, fazendo-o defender-se de algo e retornando sempre a ele sem possibilidades de 
ampliação. Forma-se então o círculo da repetição. O sujeito muitas vezes escolhe saídas que o 
possibilitem preservá-lo, mesmo que dentro de padrões e critérios rígidos, que ao final contribuem 
para tornar a sua existência limitada. 
 
Segundo Tenório (2003) a psicopatologia se manifesta através de vivências de sofrimento , onde a 
pessoa vê paralisada a sua existência e experimenta a sensação de perceber a sua vida destituída 
de realizações e possibilidades. Nesse processo de sofrimento, a pessoa perde o contato com as 
possibilidades existentes no campo organismo/meio, percebendo a si mesma e ao outro de forma 
distorcida. Um outro aspecto de manifestação das psicopatologias diz respeito à desorganização da 
cronologia existencial. 
 
Por isso autores como Augras (1986), acreditam que é necessário efetuar uma reconstituição das 
psicopatologias, a partir do estudo sobre a maneira como o indivíduo se situa em relação à vivencia 
do tempo e do espaço, uma vez que eles se afirmam como dimensões significativas do ser. 
 
A psicopatologia fenomenológica existencial, vai tratar da relação saúde e patologia. Ela 
compreende que a existência do sujeito é saúde e patologia, ao mesmo tempo. Normalidade e saúde 
não são aspectos dicotômicos do ser. Tanto um como outro compõe o sujeito, são co-existentes e 
olhar um é olhar o outro, na mesma medida. Portanto, é necessário perguntar-se como o sujeito 
construiu a própria existência e a sua relação com o mundo. A questão é compreender como existe 
esse sujeito, ou ainda, como, por exemplo, esquizofrenicamente existe esse sujeito. 
 
A pergunta vai, portanto se localizar na existência do sujeito. É importante saber como ele existe, a 
partir do que existe. Discutir a relação saúde-patologia é refletir sobre a existência do sujeito. Não há 
aqui a idéia de centra-se na doença, como se ela desse conta de explicar todas as construções do 
sujeito. Para a psicopatologia fenomenológica, o sintoma não dá condições de compreender o 
fenômeno psicopatológico. Trata-se, no entanto, de compreender a existência do sujeito na sua 
complexidade. Diz respeito à sua corporeidade, seu projeto de vida, seu modo de estar no mundo, 
dentre outras coisas. 
 
A forma como se estrutura a existência do sujeito vai definir experiências advindas de fenômenos 
psicopatológicos. Os fenômenos psicopatológicos são privações, faltas, limitações da saúde. Não se 
trata da ausência dela. Saúde é a abertura de existir. Privação é limitação ou redução da liberdade 
de existir. A patologia é exatamente reter a possibilidade de saúde, utilizando mecanismos de 
defesa, caracterizados por fenômenos psicopatológicos, buscando preservar o si mesmo do sujeito. 
 
Portanto, buscando compreender o fenômeno psicopatológico, o centro da reflexão vai buscar 
discutir as questões ontológicas do ser. Como se estrutura o sujeito? Como ele existe? 
 
Considerando que a existência é pura possibilidade de ser, e depende de cada sujeito, não há cura, 
mas um processo de restauração, a partir do seu livre arbítrio. 
 
A psicopatologia fenomenológica vai propor uma psicopatologia humana e antropológica. 
 
 
2.3. O MÉTODO INTERVENTIVO 
 
O método interventivo da descrição é utilizado na clínica fenomenológica existencial. Acredita-se que 
através dele é possível encontrar o sentido das coisas. Exige uma presentificação, que significa 
trazer para o processo terapêutico a experiência tal como ela foi vivida, para que a ela possa ser 
dado um novo significado. A pergunta do COMO presentifica o vivido, traz presente os afetos dessa 
vivência e colabora para redimensionar o sentido da existência. Trabalha-se com os conteúdos 
manifestados pelo cliente. 
 
O emprego desse método, visa não apenas descrever as vivências mórbidas do sujeito e os 
encadeamentos psíquicos ou naturais que levaram a seu surgimento, mas antes, de apreender as 
condições particulares da existência de um indivíduo singular. Muito mais que a descrição de 
sintomas, buscar-se-á o fundo mental de onde provém e que determina o seu significado. 
 
O terapeuta vai assim, a partir do projeto do cliente, de sua escolha de como agir e de sua liberdade, 
contribuindo para levar ou a tomar consciência do seu projeto, da forma que ele vem se realizando e 
de como levá-lo adiante, sempre se baseando na sua própria realidade e na sua relação com o 
mundo. 
 
Buscará explorar a histórica de vida do paciente, visando compreendê-la, não por meio de categorias 
teóricas abstratas, mas como flexões da estrutura total do ser-no-mundo. O processo terapêutico 
buscará não apenas o insight, mas sobretudo provocar uma reviravolta existencial através de um 
aprendizado pela experiência na situação terapêutica. 
 
 
[B11] Comentário: Tal discussão será 
proposta em módulos posteriores. 
 
 
2.4. A RELAÇÃO TERAPEUTA-CLIENTE 
 
A relação terapeuta-cliente dentro dessa abordagem se dá pelo entrelaçamento do mundo 
fenomenológico do cliente e do terapeuta. Portanto, é necessário que o terapeuta exercite uma dupla 
escuta, que envolve escutar o cliente e a si mesmo. É uma relação caracterizada por se fazer 
presença, por estar com o outro, que envolve uma atitude de reciprocidade e disponibilidade. Trata-
se de disponibilizar-se para que o outro se faça presente na sua expressão mais radical de 
alteridade. Essa relação é caracterizada por um envolvimento como uma confluência. São duas 
alteridades em relação mútua. Não há, portanto uma neutralidade e objetividade. 
 
A situação terapêutica deve constituir-se num encontro. Busca-se um “ser com”, o que constitui a 
estrutura do “ser junto” em uma temporalidade de um presente intrínseco, legitimadora da 
autenticidade do encontro, absolutamente original, fora das repetições do passado e aberta às 
possibilidades do futuro. 
 
No processo terapêutico, as psicologias fenomenológicas existenciais utilizam-se da redução 
fenomenológica como estratégia para estar na relação com o cliente. Suspende-se conceitos, 
valores, teorias buscando compreender o cliente em sua alteridade. Isso envolve uma atitude 
terapêutica de olhar e ouvir plenamente, que potencializa a compreensão do inaudível e do olhar 
para além daquilo que está posto. É ouvir a fala do outro em toda a sua dimensão. 
 
Essa atitude pressupõe por parte do terapeuta um processo de auto-escuta permanente, buscando 
compreender-se a si próprio no processo. Envolve ainda uma forma de comunicar-se que deve 
expressar o que o terapeuta percebe como essencial na fala do cliente e que o toca enquanto 
pessoa (fala autêntica) e as falas mantenedoras de um nível bom de contato. 
 
A psicoterapia na abordagem fenomenológica existencial é um encontro que tem por finalidade 
ajudar o cliente a se desdobrar, pedaço por pedaço, até que ele “veja” sua essência consumada; até 
que ele possa identificar e experienciar o conceito de si próprio, seus desejos etc., confrontando-os 
com sua própria realidade. 
 
Uma das funções da psicoterapia é fazer com que o cliente se interprete, encontre seu próprio lugar 
no mundo. O processo psicoterápico ao desenvolver-se começa a dar respostas à perguntas no 
momento em que o projeto existencial se torna mais compreensível, ou seja, a partir do instante em 
que as figuras vão se configurando e ocorre a resolução de situações até então inacabadas. 
 
Pode-se afirmar ainda que o trabalho da clínica é facilitar no sentido de que o sujeito perceba outras 
formas de existir no mundo. Está-se trabalhando com um sujeito que é, em suma, pura possibilidade. 
A intervenção terapêutica vai buscar ajudar, no sentido deque o paciente possa aprender por si 
mesmo sobre suas escolhas e o modo de experiencia-las. 
 
Trabalha-se com o sujeito no mundo, contextualizado e que tem a sua história de vida, seu cotidiano 
e seu passado, que lhe pertencem e que o ajudaram a torná-lo quem ele é. 
 
Segundo Romero (1997), a observação e a escuta do paciente devem ser realizadas com base em 
oito dimensões existenciais fundamentais: as dimensões ontológica do homem como ser no mundo, 
social e interpessoal, da práxis, corporal, motivacional, afetiva, espaço-temporal e axiológica, que diz 
respeito aos valores inerentes à existência social e individual. 
 
 
 
 
 
3. CONCLUSÕES 
 
Consideramos que a abordagem fenomenológica existencial em psicologia é extremamente rica e 
envolve trabalho árduo. Não prevendo um distanciamento entre terapeuta e cliente, mas distinguindo 
bem os papéis de cada um, traz essa perspectiva, um grande desafio para quem dela faça a sua 
opção. 
 
Envolve um processo de auto-análise, auto-escuta e auto-conhecimento permanentes por parte do 
terapeuta. Nessa abordagem o terapeuta está seguramente também sendo trabalhado. 
 
Essa abordagem envolve ainda a compreensão de que os processos não são lineares e que o 
terapeuta não tem o controle de tudo. O poder que detém enquanto saber elaborado é colocado 
efetivamente a serviço do cliente numa relação de mão dupla. Percebemos que essa abordagem 
visa construir junto com o cliente o seu processo de emancipação humana. 
 
Consideramos que em face das características apresentadas por essa abordagem, torna-se 
[B12] Comentário: Pode ser 
relacionado com a relação médico-
paciente. 
necessário que o terapeuta esteja sempre refletindo sobre suas experiências, no sentido de que ele 
também vá se depurando e crescendo com o processo, tendo o cuidado para saber diferenciar bem 
os papéis e identificar seus próprios conteúdos existenciais. 
 
Concluindo, pode-se dizer que a psicoterapia, vista como uma proposta fenomenológica existencial, 
tem como princípio a crença no homem-em-relação, na sua forma de estar no mundo, na sua forma 
radical de escolher sua existência no tempo, sem escamotear a dor, o conflito, a contradição, o 
impasse. Assim, esse homem encara o vazio, a culpa, a angústia, a morte, sempre buscando achar-
se e transcender-se. 
 
BIBLIOGRAFIA 
AUGRAS, M. O SER DA COMPREENSÃO: FENOMENOLOGIA DA SITUAÇÃO DE 
PSICODIAGNOSTICO. Petrópolis: VOZES, 1986. 
BORIS, Georges D.J. – NOÇÕES BÁSICAS DE FENOMENOLOGIA – Texto xerocado. 
DARTIGUES, André – O QUE É A FENOMENOLOGIA? SÃO PAULO, Sp – Ed,. Moraes, 1992. 
FIGUEIREDO, Luís Cláudio Mendonça. MATRIZES DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO. Petrópolis, 
RJ: Vozes, 1991. 
 
FORGHIERI,Yolanda Cintrão. PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA: FUNDAMENTOS, MÉTODOS E 
PESQUISA. São Paulo: Pioneira, 1993. 
 
JAPIASSÚ,Hilton e MARCONDES, Danilo. DICIONÁRIO BÁSICO DE FILOSOFIA, 3ª Edição, Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1996. 
 
MERLEAU-PONTY, MAURICE. TEXTOS ESCOLHIDOS (OS PENSADORES), São Paulo, Abril 
Cultural, 1980. 
 
MOREIRA, Virgínia. PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL: ASPECTOS TEÓRICOS 
DA PRÁTICA CLÍNICA COM FOCO NAS COMPETÊNCIAS. Trabalho apresentado durante o VII 
Encontro Latino Americano da A.C.P., Maragogi, AL., Brasil, 1994. 
 
ROMERO, E. O INQUILINO DO IMAGINÁRIO: FROAMS DE ALIENAÇÃO E PSICOPATOLOGIA. 
SÀO Paulo: Lemos Editorial, 1997. 
 
TENÓRIO, Carlene Maria Dias – A PSICOPATOLOGIA E O DIAGNÓSTICO NUMA ABORDAGEM 
FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL in Revista da Faculdade de Ciências da Saúde do Centro 
Universitário de Brasília. Brasília, UNICEUB, 2003. 
 
 
Retirado do site do Instituto de Psicodrama e Máscaras: 
http://www.institutodepsicodrama.com.br/?page=artigos&id=9

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