Buscar

mulher guerra fria

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

A MULHER , A HISTÓRIA , A GUERRA-FRIA E A RESERVA DE VAGAS 
 
 
 
 Noely Manfredini Almeida * 
 
Não é verdade que a mulher antigamente se equiparava ao burro de carga, muito ao 
contrário. Tanto que na antiga Ásia Menor, o homem adotava o sobrenome materno e as filhas 
é que herdavam os bens. Predominavam no mundo as divindades femininas : Diana ou 
Ártemis, por exemplo. Conta a lenda que esta filha de Júpiter, rainha dos bosques e deusa da 
caça, foi surpreendida no banho por Acteon. Não teve dúvida: transformou-o em veado e fez 
com que os cães o devorassem. 
 
Não sei onde começou a guerra-fria entre homens e mulheres, porém. 
 
É certo que na Índia, segundo as leis de Manú, a mulher era equiparada a uma 
escrava e o noivo entregava ao sogro 100 vacas como espécie de contrato nupcial. Em 
compensação a mãe da noiva logo deu um jeito nesse costume: passou a exigir o direito de 
escolher o futuro marido da filha. 
 
A egípcia podia ser repudiada pelo marido se este alcançasse altos cargos públicos, 
mas em compensação, se ele falecesse, tomava seu lugar na direção dos negócios, com 
todos os efeitos jurídicos decorrentes. A mulher da civilização mesopotâmica, porém, logo 
tratou de consertar o problema: se fosse repudiada, era facultado recorrer aos tribunais a fim 
de obter a reparação de danos. 
 
Entre os gregos, foi célebre o ódio de Eurípedes contra a mulher. Foi um dos três 
maiores poetas trágicos da antiga Grécia, é verdade, mas conta a História que ele acabou 
sendo devorado por cães, na Macedônia. Se alguma mulher deu o sinal de partida aos cães, 
ninguém falou disso, pelo menos não, abertamente... 
 
E que não se esqueça da herança dos hebreus, antes de Moisés, quando o poder 
dos pais era absoluto sobre os filhos. Mas o libertador de Israel não foi jogado nas águas do 
Nilo com todos os outros filhos varões? E quem o colocou numa cesta para que não morresse 
afogado? A mãe. E quem o recolheu também era mulher. Quanto à viúva hebraica que não 
tivesse procriado filhos, podia exigir, inclusive judicialmente, que um cunhado a desposasse... e 
isso , a meu ver, só podia ser vingança. 
 
Teodora, filha de prostituta, chegou a imperatriz do Império Romano no século VI e 
ali reinou por 22 anos. Dizem, dizem, não sei, que Justiniano, seu marido, procedeu à 
codificação das leis romanas debaixo de sua inspiração. É dela a frase : "a audácia é nossa 
única esperança." Em troca, é de Catão, o Velho, (escritor romano A.C.), a frase : " as nações 
em geral dominam suas mulheres, ao passo que os romanos são dominados pelas suas... "- 
ficando aí, visível, a sua queixa. 
 
O certo é que a emancipação feminina, com certeza, começou a firmar no Império 
Romano, cujo povo era essencialmente prático. A mulher tinha direito absoluto sobre os seus 
bens e ao marido cabia apenas a administração. Então começaram os divórcios, por não se 
conformar o marido com essa submissão e talvez ali tivesse começado o troca-troca de 
vinganças, pelo uso dos direitos com tanta liberdade , porque os homens instituíram, a seguir, 
leis contra as adúlteras; se condenada, cumpria à mulher devolver as chaves da casa. Pura 
guerra-fria, hão de concordar comigo,senhores. 
 
Que tal lembrar dos celtas, ( gauleses da região central da Europa) ? O divórcio era 
de uso corrente e qualquer das partes podia promovê-lo. A divorciada recebia de volta o dote 
nupcial e podia contrair novo casamento . Os homens então inventaram uma lei dizendo que 
seu primeiro esposo tinha o direito de retomá-la (à mulher e não ao dote) antes da consumação 
do segundo casamento. 
 
As muçulmanas, antigamente, não eram impedidas de visitar seus homens, de andar 
em longas distâncias pelas ruas ou orar nas mesquitas. Mais tarde é que os maridos decidiram 
estabelecer o véu e confiná-las em haréns - diga-se em favor deles que consideravam estes 
haréns equivalentes a santuários. A mulher, por sua vez, sabiamente não reclamava desse 
costume, porque entendia ser, a segregação, sinal de deferência à sua pessoa. 
 
Em tempos mais recentes, o que dizer da Estátua da Liberdade, inaugurada em 
1886, na baía de Nova York, orgulho de milhões de americanos? Não passa da representação 
de 95 metros e 5 toneladas de uma mulher. Aliás, também cantada em versos pelo Padre 
Antonio, o Príncipe dos Poetas Cearenses, em 1863, que prodigalizava a beleza das formas 
femininas. Costume que perdura, é verdade. Apesar de, lá, na Idade Média, Crisóstomo ter dito 
que a mulher era "um mal necessário, uma calamidade desejável e o próprio mal que se 
mostra sob disfarce..." e apesar de, a tradução do nome Crisóstomo significar "aquele que tem 
boca dourada "... ;e, apesar de se saber que, concordando com ele, Tomás de Aquino tenha, 
depois, escrito, que a sujeição da mulher estava de acordo com a lei da natureza e, assim, 
haja recomendado aos filhos, em geral, que amassem mais aos pais que às mães. Pura 
deslealdade, hão de convir, senhores. 
 
No século XIII a mulher ocupava posição claramente inferior ao homem; sua palavra 
não era aceita nos tribunais; era-lhe vedado exercer a medicina; trabalhando nas fábricas, 
recebia menor salário, pelo mesmo serviço executado pelo homem; se insultada por um 
ofensor, a multa era de, apenas, a metade do que seria pago a um homem ofendido. Mesmo 
assim, a mulher medieval era inspiradora de artistas, príncipes, poetas e heróis outros. Brilhou 
nas letras e encantava reuniões sociais, ao lado do marido, geralmente um analfabeto (diz a 
História, não eu) . 
 
Como deixar de lembrar nomes famosos pela energia ou habilidade com que 
regeram seus domínios : Branca, viúva de Luís VII, que desfez mil conchavos em oposição à 
Coroa; Ana D'Áustria, mulher regente durante a menoridade de seu filho Luís XIV; Madame Du 
Barry e Madame Pompadour, que dizem, dizem, reinaram no lugar do rei Luís XV ? E Maria 
Antonieta, guilhotinada sem provas concretas, como se fosse a culpada de todos os males da 
Revolução Francesa? 
 
Frtjof Capra, em seu livro "O ponto de Mutação", explica que, a evolução de uma 
sociedade está intimamente ligada a mudanças no sistema de valores que serve de base a 
todas as suas manifestações e que os valores inspiradores da vida de uma sociedade 
determinarão sua visão do mundo. Uma vez expresso e codificado o conjunto de valores e 
metas, ele constituirá a estrutura das percepções, intuições e opções da sociedade, para que 
haja inovação e adaptação social. 
 
À medida que um sistema de valores culturais muda, surgem, de fato, novos padrões 
de evolução cultural. Desculpem-me, porém, os senhores homens: quando a ciência 
econômica passou a figurar como disciplina separada da filosofia e da política e se 
consubstanciou no enfoque básico da necessidade da riqueza material, os valores masculinos 
e de orientação yang deram ênfase à aquisição de bens materiais, à obsessão pela 
competição, o desenfreado amor pela tecnologia. Ao lado disto e ao atribuir excessiva ênfase a 
tais valores, a sociedade encorajou a busca de metas não-éticas e à prática do orgulho, 
egoísmo, ganância. O comércio, por exemplo, tinha, antigamente, escassa motivação 
econômica de lucro e compensações individuais, embora houvesse, claro e sempre haverá, 
pessoas de ambos os lados agindo motivadas pela necessidade de poder e dominação. Havia, 
também, e ainda há, uma vaga idéia baseada na ética do trabalho protestante, onde o trabalho 
árduo, diligente e abnegado dos homens são equiparados e qualificados como virtude. A 
ascensão do capitalismo, por volta do final da Idade Média, conduziu, é fato, à mudança de 
valores, entendendo-se que, os valores e atividades de orientação yang, de comportamento 
agressivo, competitivo, a acumulação de reservas de ouro e prata, maquinários e peões, eram 
melhores que a orientação yin, de valorese atividades integrativas, de contato calorosamente 
humano, de apaziguamento de conflitos. Entendo que por esta época, o mundo ficou, 
senhores, vazio. Estéril. Sem lastro. Propício a ações individualistas, jamais pela comunidade. 
Uma nova invertida vem ocorrendo, agora, ao final do século XX. Porque são 
necessárias respostas para os grandes desafios de salvar a Humanidade do caos - e elas não 
estão vindo dos homens. 
 
No Paraná, a cada 7 minutos pratica-se um delito e a cada 36 ocorre um crime 
violento. Em 1995, as estatísticas policiais apontaram 2.226 crimes contra os costumes, sendo 
148 por estupro, 95 por atentado ao pudor, 63 casos de sedução. O resto ficou por contra dos 
crimes contra a administração pública, a fé pública e a paz pública, nenhum destes encaixando 
a mulher como protagonista e ré. 
 
Em Minas, os crimes contra a mulher somaram, de 1995 ao primeiro semestre de 
1996, cerca de 17.625 casos, representando 15% dos 115 mil processos criminais em 
andamento no Estado. Em S.Paulo 90% dos estupradores são pais, amigos, vizinhos, parentes 
ou namorados das mulheres, ou seja, são pessoas conhecidas das vítimas, estas, entre 8-20 
anos. 
No Brasil o eleitorado feminino somava, em 1995, cerca de 52% e a frase mais 
ouvida em Brasília, dizem, dizem, era de que, 46% do eleitorado é incompetente - mas, 
certamente não se estava falando das mulheres, em si, embora, digam por lá, se dá graças aos 
céus por ser de, apenas, 6% o percentual de mulheres que ocupam cargos parlamentares, 
entre os 513 deputados e 81 senadores eleitos e 27 suplentes que assumiram a vaga de 
titulares, no início do período legislativo. 
 
No cômputo geral, convenham comigo, senhores: a taxa de avaliação de 
desempenho dos congressistas, desde a posse em janeiro até o natal/95, caiu, de 34% para 
19%. Sem contar os processos criminais contra ex-prefeitos, gerando a restrição da habilitação 
para futuros cargos públicos, por bom período. Sem contar, também, a queda estarrecedora de 
comportamentos éticos na vida pública, a que temos assistido, por todo esse Brasil imenso. A 
classe política tem dado motivos sobejos para que se lhe irroguem falta de solidez ética e de 
escrúpulos, esquecendo-se que os eleitores, sobretudo os jovens, precisam de bons 
paradigmas que os orientem. 
 
Vereadores em pé de guerra, denunciando corrupções de prefeitos, como 
recentemente em Guaratuba, balneário do Paraná. Vereador condenado a 3 anos de reclusão 
em S.Jerônimo da Serra-PR, por ter causado, a murros, deformidade permanente no nariz de 
um colega, em 1995, além de outro, condenado por estelionato no mesmo ano. A participação 
de ex-vereador em roubo de sacas de café, em Diamante do Norte-PR, em 1995 ou de ex-
vereador, preso por promover quebra-quebra nas dependências da Cohab, em Curitiba, 
dez/95. Fraudação de votos e boletins de urnas no Rio, nas eleições de 94, envolvendo 100 
nomes masculinos com aquela grega, a Maria Stavrinou. Vestígios de cocaína nas vísceras do 
prefeito, recentemente falecido, de Casa Branca, município de S.Paulo. Prefeito de Jardim 
Olinda-PR, respondendo a 4 inquéritos por crimes de corrupção, estelionato, suborno e 
apropriação indébita, em dez/95. Procurador de Justiça denunciando ex-prefeito de Pato 
Branco-PR, pela prática de 3 infrações penais relacionadas a processos de licitações 
irregulares. Subtenente da PM da Paraíba, denunciando, como mandante de um assassinato 
com 30 tiros de metralhadora, um deputado federal e ex-governador daquele Estado, em 
janeiro de 96. Agressões entre senadores, como a troca de socos em plenário, envolvendo 
personalidade eleita pelo PFL e outra, pelo PMDB. Ou, ainda, a ameaça de bate-bocas, entre 
um ex-governador paranaense e atual senador pelo PMDB e outro, senador pelo PTB. 
Representação de senadores do Acre contra o atual governador, pedindo investigações sobre 
o envolvimento dele com empresa colombiana, para exploração, dita irregular, de 1/3 das 
florestas acreanas e não só isto, mas outros 17 casos em investigação na Procuradoria Geral 
da República. O grande número de processos contra políticos gaúchos, cerca de 250 e que 
vão desde crimes contra a administração pública até a casos de homicídios, inclusive, levando 
o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a criar uma câmara criminal somente para analisá-
los. A violência nas campanhas eleitorais de 1992, onde, em comícios, facadas e tiros mataram 
cabos eleitorais e eleitores, na Bahia. O tráfico de influências e a ajuda de amigos com dinheiro 
do Tesouro Nacional, no caso PC Farias-Collor, em 1992. O assassinato do senador Olavo 
Pires, candidato a governador por Rondônia, em 1990. Ou o caso do ex-deputado estadual e 
ex- prefeito ,Tomazelli, pai do atual prefeito e morto com 4 tiros, em Campo Grande-MS, em 
fevereiro deste ano. 
Sem contar os socos e chutes entre o Vice-Presidente e o Presidente de Gana .Os 
presidentes americanos mulherengos. Presidentes envolvidos em operação de fundos ilegais, 
como o da Coréia do Sul. Processos e ordem de prisão contra o Vice, do Equador, por 
enriquecimento ilegal. Sem falar de um passado torturante de assassinatos políticos, como a 
chacina da família imperial russa; a morte do arquiduque da Áustria que detonaria a I Guerra 
Mundial; Abraham Lincoln; dois Kennedys; Martir Luther King; Mahtma Gandhi. E bem 
recentemente, as mortes violentas de Anuar Sadat e Yitzhak Rabin. Ou das 15 pessoas 
degoladas, enquanto dormiam em uma cidade a 150 kms. de Argel, assassinadas por 
extremistas muçulmanos. Ou a morte com 3 tiros do candidato Benhadid, ao anunciar que 
disputaria as eleições presidenciais na Argélia. Ou o caso dos deputados de Taiwan, Formosa, 
trocando socos e bofetões em volta da Mesa da presidência do Parlamento. 
 
É difícil, ouvir falar em moral e ética masculinas, sem reprimir uma espécie de 
sorrisinho de mofa. 
 
Quero falar, pois, das 100 mulheres que fizeram o mundo avançar, neste século. 
Que lutam contra a exploração sexual de crianças na Ásia ou denunciam a loucura assassina 
em Ruanda; que chegaram ao Everest, como Junko Tabei, organizadora de "lixeiros" pelas 
montanhas do mundo. Das que reclamam contra a poluição e atividades nucleares. Daquelas 
que gritam sobre a russificação da Sibéria, contra a cultura e o meio ambiente em que vivem, 
como Galina Yegorova ou que rechaçam, com veemência, contra guerras e a entrada de 
crianças no front, como Graça Machel, de Moçambique.. 
 
 Mulheres contra esquadrões da morte e outras violências, como Marilene de Souza, 
no Rio, ou Anna Syomina, que envia pequenos ucranianos órfãos para férias em regiões 
saudáveis . Mulheres a favor das focas, do uso de preservativos, do habitat dos esquimós, dos 
filhos de domésticas haitinianas, do reconforto das crianças de rua - brasileiras ou vietnamitas. 
 
Que salvam a Terra, como terra em si, a exemplo, Wangari Maathai que mobilizou 
outras tantas a plantarem 10 milhões de árvores no Quênia. Que lutam pela igualdade, como 
Marinella, advogada que batalha para abrandar as condições severíssimas de detenção, nas 
quais se encontram as prisioneiras venezuelanas. Ou criadoras de serviços de atendimento a 
soropositivos, como a médica marroquina Hakima. Ou a psiquiatra suíça Annie, que atende 
especificamente a mães toxicômanas. 
 
Como não falar de Monique Daviaud, de 72 anos, denunciadora das condições 
indignas das prisões francesas? Ou da cingalesa Manorani , líder de um movimento de mães 
de 25 mil desaparecidos de Sri Lanka? Ou da deputada Leyla Zana, condenada à prisão por 15 
anos ao ter denunciado os crimes do Estado turco contra a minoria curda? Ou de Rosa, a líder 
das Mães de Mayo argentina ? Ou Denise Frossard, a juíza carioca que ousou atacar, 
enquanto viva, a máfia de bicheiros ? 
 
Relembrar a deputada Marta Suplicy afirmando que a mulher tem direito ao prazer e 
que, além disso, precisa participar mais intensamente da política como parlamentar. Dá para 
esquecer a deputada colombiana Eulalia Gonzales, que milita pela preservação da cultura do 
seu povo, os índios embera? Ou das minhas 25 mães de presos paranaenses aidéticos, que 
publicaram, até, um livreto de receitas com remédios caseiros, ainda hoje impedido de entrar, 
abertamente, nos presídios? Ou das mães da Cinelândia, no Rio, em busca dos filhos 
desaparecidos? 
 
Vou continuar falando de mulheres nota 1.000 porque, como deixar de citar nomes 
das que, pouco a pouco, fizeram o mundo avançar, celebradas na Quarta Conferência Mundial 
em Pequim? A isto me propus, ao relembrar o declínio dos parlamentos ( já desenhado desde 
1970 por pesquisadores outros) e porque levo em conta a comprovação de que mulher 
continua discriminando mulher, nas eleições, em absurda desmemória cultural . 
 
Como esquecer de Domenica, ex-prostituta alemã que, aos 48 anos, resolveu 
dedicar-se aos filhos de prostitutas de Hamburgo e às mulheres sem moradias fixas? Da 
socióloga americana Kathy Barry, criadora da coalizão contra o tráfico de mulheres e o abuso 
sexual contra as asiáticas? 
 
A Irmã Sarah, egípcia que ajuda 40 mil pobres do Cairo ou Mère Sofia, da Suíça, 
uma freira sem direito a usar o hábito e que percorre Lausanne, atrás de sem-tetos e viciados. 
Não lembrar de Osmarina Silva, senadora do Acre e batalhadora do desenvolvimento da 
Amazônia? Ou não citar Marjan Sax, criadora do "Mama Cash", associação holandesa que 
empresta dinheiro para mulheres realizarem seus projetos? E simplesmente é impossível 
esquecer Radhika, denunciando à ONU as 100 milhões de mulheres anualmente mutiladas, 
sexualmente, na África. Mas lembro agora, de outra, a primeira mulher eleita na América do 
Sul, ALZIRA SORIANO; prefeita de Lajes, em 1929, município do Rio Grade do Norte e quando 
ainda nem estava nacionalmente instituído o voto feminino, implantado só em 1932. 
 
Com idades que vão entre 17 e 83 anos, elas são juízas, médicas, políticas, 
estudantes, mães de família, militantes e líderes em defesa dos direitos humanos e do planeta. 
São mil, dez mil ou mais, nos cinco continentes e não param de crescer, por dentro e por fora. 
Não se preocupam, é verdade, com a reserva de vagas a candidaturas. Porque a verdade é 
que não param de crescer ética e espiritualmente, em ritmo vertiginoso - desde os tempos em 
que se dizia ser a mulher equiparada a um burro de carga, ou, quando podia ser vendida ao 
noivo pelo valor de 100 vacas, como na Índia antiga. 
 
Os senhores homens me desculpem, porém, 8 de março foi consagrado como Dia 
Internacional da Mulher- não pelos seus belos olhos, mas, porque outras 129, desconhecidas 
operárias a exigir melhores condições de trabalho, em 1857, foram trancadas e queimadas 
vivas, em uma fábrica de Nova York . 
 
Que me desculpem, os senhores, se não acredito mais nas espertezas politiqueiras, 
símbolos, pecados e pecadilhos. Na dança de partidos em busca de mais poder nas 
Comissões ou corredores de Brasília. Nas legendas de pasquim ou nos currículos portentosos 
dos cibercandidatos da Internet, que se aproveitam de uma brecha na legislação. Na 
divulgação, meio que cheia de orgulho, das famosas depressões do Collor , do coração bêbado 
do Ieltsin ou da história do Tampax do príncipe Charles. Sou mais Teodora, a imperatriz 
romana, que ousou dizer, durante seus 22 anos de reinado: "a audácia é nossa única 
esperança...". 
 
Há 22 milhões de anos surgiu o homem na face da terra, mas, de ambos os lados, o 
preconceito continua a ter mais raízes que os princípios, como disse, um dia, Maquiavel. 
 
As mulheres, é preciso concordar com as que lutam pela reserva de vagas, têm tido 
pouco espaço nos partidos políticos que justamente se dizem adeptos da igualdade de direitos 
e oportunidades. Guerra-fria das mais inconvenientes, penso eu: afinal, podemos estar a 
elogiar mulheres esquecendo-nos das sangüinárias, muito conhecidas ao longo dos tempos. 
Nem todas estamos libertas dos males antigos, é verdade. Nem todas estamos aptas ou 
desejosas de corresponder ao sistema de cotas garantido pelo Presidente da República, 
recentemente. Porque, no fundo, estamos é buscando, com urgência, resgatar a reflexão 
sobre os valores e atividades sob a orientação yin. Temos tanto, a aprender... 
 
Concordo com a participação do Fundo das Nações Unidas, que pretende patrocinar 
cursos de capacitação para mulheres candidatas, de qualquer Partido. Não concordo é com a 
reserva de vagas. Entendo que a preferência dos eleitores é que deverá estabelecer o melhor 
percentual para prefeitas e vereadoras a serem eleitas, sem uso de nenhum argumento 
adicional. Nos países escandinavos a cota chega a 40%, mas, como em outros 15 países, o 
sistema é o de Listas Fechadas de Candidatos e então, sim, cada Partido pode garantir a 
proporcionalidade classifi-classificatória, para candidatos dos dois sexos. Não é este o sistema 
brasileiro. 
 
O que deve ser levado em conta é a disputa leal entre candidatos, durante as 
convenções; buscar aqueles de maior tirocínio, larga experiência, lastro distrital ou até 
nacional, segundo as áreas de influência efetivas. Candidatos vinculados à bandeira do seu 
partido. Deve-se coibir, isto sim e dentro dos Diretórios, posições individualistas e o impacto do 
poder econômico. A distorção, posterior, da disputa desleal e desigual, economicamente, por 
votos, entre candidatos de um mesmo partido - porque, isto sim, diminui a consistência 
ideológica das agremiações políticas e afasta, da reta, futuros líderes. 
 
Há, de fato, entre as mulheres, uma resistência para o ingresso na política, até por 
outro motivo: não há nada de novo, a fazer, por ali, neste momento. E a busca de novos 
talentos não pode passar pela reserva de vagas, com a desculpa de que se está ignorando a 
voz da minoria. Até nem somos mais minoria, segundo o IBGE e porque existem outras, como 
a dos gays, deficientes físicos ou negros. Haverá, para eles, também, um futuro sistema de 
cotas? 
 
Mais importante que uma cota específica, precisamos é ter consciência política e 
opinar, publicamente, sobre questões nacionais e da nossa comunidade. Para influir na tomada 
de decisões, independente de cargos eletivos. Esquecer a barreira da timidez, como fizeram as 
100 homenageadas na Conferência de Pequim. Esquecer a presença maciça masculina nas 
Vereanças, Assembléias, Governos e Senados. Balela, essa história de que homem sozinho 
não vai a lugar nenhum. 
 
Desculpem-me as senhoras mulheres: fazer, agir, trabalhar, unir, crescer por dentro 
e por fora - devem ser as metas. O resto é conseqüência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
* Coordenadora de Comunicações do TRE/PR e autora dos livros “Jurisprudência Eleitoral: 1985 – 1990 e 
“Crimes Eleitorais e Outras Infringências”, em co-autores.

Outros materiais