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Teoria geral dos Recursos no Processo Penal

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Teoria Geral dos Recursos
Prof. Me. Moisés Matusiak
UNICRUZ
2017
Conceito
	“É o direito da parte, na relação processual, de se insurgir contra determinadas decisões judiciais, requerendo a sua revisão, total ou parcial, por órgão jurisdicional superior.” (NUCCI)
	“É o meio voluntário de impugnação das decisões judiciais, utilizado antes do trânsito em julgado e no próprio processo em que foi proferida a decisão, visando à reforma, invalidação, esclarecimento ou integração da decisão judicial.” (BADARÓ)
	“Um meio processual através do qual a parte que sofreu o gravame solicita a modificação, no todo ou em parte, ou a anulação de uma decisão judicial ainda não transitada em julgado, no mesmo processo em que ela foi proferida.” (AURY)
Natureza jurídica
	A natureza jurídica dos recursos é diferente da das ações autônomas de impugnação (revisão criminal, habeas corpus e mandado de segurança). Essas são “ações processuais penais”, pois instauram uma nova situação jurídica processual. Os recursos, por sua vez, são uma continuidade da pretensão acusatória ou da resistência defensiva, conforme a titularidade de quem o exerça.
O princípio do Duplo Grau de Jurisdição
	“O princípio do duplo grau de jurisdição traz, na sua essência, o direito fundamental de o prejudicado pela decisão submeter o caso penal a outro órgão jurisdicional, hierarquicamente superior na estrutura da administração da justiça.” (AURY)	
	O princípio do duplo grau de jurisdição não tem previsão direta na CF/88, mas sim na CADH, artigo 8.2, letra “h”. 
	É autoaplicável, pois integra o rol dos direitos fundamentais, art. 5º, § 1º, da CF/88.
	O STF entende, no entanto, que possui caráter “supralegal”, abaixo da Constituição.
Duplo Grau de Jurisdição e julgamento originário por Tribunais Superiores
	“Prevalece o entendimento de que a Constituição não consagra expressamente o duplo grau de jurisdição, mas sim os casos em que haverá julgamento originário pelos tribunais, podendo haver, portanto, uma restrição à garantia que decorre da CADH (cujo caráter “supralegal” a coloca abaixo da Constituição). Ademais, ainda que o duplo grau fosse consagrado no texto constitucional, poderia haver a supressão ou limitação pelo próprio sistema constitucional.” (AURY)
Classificação dos Recursos
	Recursos ordinários: são aqueles que têm por objeto provocar um novo exame (total ou parcial) do caso penal já decidido em primeira instância, por um órgão superior (ad quem), alcançando tanto as matérias de direito como também fáticas, com possibilidade de decisão sobre a determinação dos fatos, sua tipicidade, a prova, a dosimetria da pena etc. Exemplo é a apelação, art. 593 do CPP. (AURY)
	Recursos extraordinários: onde os tribunais superiores entram no exame, unicamente, da aplicação da norma jurídica efetuada pelo órgão inferior, sendo assim um juízo limitado ao aspecto jurídico da decisão impugnada. Em última análise, limitam a discussão a questões de direito, expressamente previstas em lei. São exemplos o recurso especial (CF, art. 105, III) e o recurso extraordinário (CF, art. 102, III). (AURY)
	Recursos totais: devolvem a totalidade da matéria impugnada para reexame pela instância superior. Exemplo é a apelação que discute a totalidade da sentença.
	Recursos parciais: devolvem parte da matéria para reexame pela instância superior. Exemplo é a apelação que discute apenas a dosimetria da pena, mas não a condenação.
	Recursos de fundamentação livre: não possuem restrição legal quanto à fundamentação a ser utilizada, podem atacar todas as questões de fato e de direito. Exemplo é a apelação.
	Recursos de fundamentação vinculada: possuem limitações legais quanto à fundamentação. Exemplos são o Resp, Rext, RSE, e embargos infringentes (nesse caso a limitação vem dada pela matéria do voto vencido).
	Recursos horizontais: são aqueles que se resolvem pelo mesmo órgão jurisdicional que proferiu a decisão recorrida. Exemplo são os embargos de declaração. Serve também como exemplo o RSE, que é misto (horizontal e vertical) diante da possibilidade do juízo de retratação.
	Recursos verticais: são aqueles que se resolvem pela instância superior ao órgão jurisdicional que proferiu a decisão. São exemplos a apelação, os embargos infringentes, o Rext e o Resp.
	Recursos voluntários: são todos os recursos que dependem de manifestação da parte interessada, que pode recorre ou não, no todo ou em parte, da decisão. Todos os recursos são obrigatórios, exceto os casos dos artigos 574 e 746 do CPP, os quais são chamados pelo código de “recursos obrigatórios”.
	Recursos obrigatórios: são também chamados de reexame necessário, ou recursos de ofício, e estão previstos nos artigos 574 e 746 do CPP. Nessas hipóteses, o trânsito em julgado depende do reexame, sendo, portanto, uma condição de eficácia da sentença. Ver súmula 423 do STF.
Crítica aos recursos de ofício
	Os chamados recursos obrigatórios, ou de ofício, sofrem críticas da doutrina, por algumas razões, dentre elas, a de ferir a voluntariedade recursal, elemento essencial dos recursos.
	Aury Lopes Júnior divide sua crítica em genérica e específica.
	Crítica genérica: falta legitimidade e interesse ao juiz. Ademais, viola o sistema acusatório, pois é ativismo judicial contra o réu (já que é recurso obrigatório de decisões que o beneficiam, ou seja, é um controle em relação a tudo que pode beneficiar o réu). Ademais, o art. 129, I, da Constituição atribui ao Ministério Público a titularidade exclusiva da ação penal pública, de modo que tal recurso depende de iniciativa do MP. (AURY)
	Crítica específica ao art. 574, II: houve revogação tácita pois:
	a. O art. 411 não trata mais da absolvição sumária.
	b. Os casos de absolvição sumária foram ampliados, haveria reexame necessário só nesses dois casos? Nos demais casos de absolvição sumária não? Não faz sentido.
	c. A reforma de 2008 mudou o art. 411 para 415 e já estabeleceu, expressamente, no art. 416 que o recurso cabível é apelação. Logo, em 2008 muda e já estabelece que expressamente que é apelação. Se o legislador quisesse manter o recurso de ofício, teria contemplado expressamente no art. 416 e modificado o art. 574, II. (AURY)
	Gustavo Badaró também critica:
	“Além da questão da ausência de voluntariedade, há outras características dos recursos que fazem com que seja difícil considerar o chamado recurso ex officio um verdadeiro recurso. Tais situações não pressupõem sucumbência ou interesse em decisão melhor. Ao contrário, pensando no juiz, que submete sua decisão, ope legis, ao tribunal, seguramente não deseja que seu ato seja reformado. O recurso tem prazo de interposição, não sendo possível admiti-lo ad aeternum. O recurso de ofício não tem prazo de interposição.” (BADARÓ)
Princípios
	 Voluntariedade: Art. 574, CPP. Decorre da vontade da parte que quer ver reformada ou anulada a decisão proferida.
	Taxatividade: Chamamos de recursos apenas aqueles expressamente previstos em lei federal. No PP, não se admite recurso inominado!
	Unirrecorribilidade ou “singularidade recursal”: Nos aponta que para cada decisão cabe somente um tipo de recurso.
	Recurso Especial e Recurso Extraordinário – exceção?
	Fungibilidade – Art. 579 CPP: Nos casos em que não houver má fé, e atendido o limite temporal.
	(interposição dentro do prazo), um recurso poderá ser admitido por outro. Neste caso, será processado em conformidade com o rito do recurso cabível.
	Vedação da “reformatio in pejus”: A parte não poderá ser prejudicada pelo seu recurso. Em recurso exclusivo da defesa não pode haver aumento de pena ou modificação do regime para pior.
	Direta: Na relação recursal a situação do réu não será piorada em caso de recurso exclusivo da defesa.
	Indireta: Em decisão anulada pelo tribunal, no caso de recurso promovido exclusivamente pela defesa, o juízo ‘a quo’ ao receber os autos para proferir nova decisão, também não poderá piorar a situação do demandado.
	“Reformatio in mellius” Em caso de recurso exclusivo da acusação a situação do réu
poderá ser melhorada.
Impedimentos
	Desistência: Acusado regularmente representado manifesta o desejo de não persistir com o inconformismo quanto a decisão proferida e consequentemente requer a interrupção da tramitação do recurso.
	Exceção: MP – art. 576, CPP.
	Renúncia: Antes da interposição da impugnação, manifesta-se no sentido de que não deseja recorrer. Também não é possível ao MP, que, no entanto, pode deixar passar o prazo para interposição do recurso.
Efeitos
	a) Efeito devolutivo: Tem o condão de devolver para o Tribunal a matéria alegada no recurso. 
	b) Efeito suspensivo: Paralisa a eficácia da decisão recorrida, que não produz efeito enquanto não for julgado o recurso. 
	Não há que se falar em suspensão da tramitação do processo, o que ocorre é a suspensão da produção dos efeitos da decisão.
	c) Efeito regressivo/ Iterativo / Diferido
	Se aplica em casos específicos – RESE, Carta Testemunhável e Agravo em Execução, o mesmo órgão que proferiu a decisão pode exercer o juízo de retratação.
	d) Efeito extensivo: art. 580 CPP: Se dá sempre que em situação de concurso de agentes, quando a decisão de recurso interposta por um único agente, se aproveita aos demais. Ocorre sempre que os motivos não sejam de caráter exclusivamente pessoal.
	Este efeito se aplica também às ações autônomas de impugnação.
	
Efeito suspensivo e art. 283 do CPP
	Polêmica decisão do STF, em fevereiro de 2016, sobre a possibilidade do recolhimento à prisão, antes do trânsito em julgado da decisão condenatória, sem a declaração de inconstitucionalidade do art. 283 do CPP.
	Análise do Habeas Corpus (HC) 126292.
Pressupostos recursais
	
	Um recurso somente pode ser admitido quando presentes todos os seus pressupostos, que são classificados em pressupostos objetivos e subjetivos.
	Pressupostos objetivos:
	a) previsão legal (ou cabimento);
	b) observância das formalidades legais;
	c) tempestividade.
	Previsão legal: “A interposição de recurso só é possível quando existe dispositivo legal prevendo seu cabimento. Ex.: da decisão que rejeita a denúncia ou queixa cabe recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, I, do Código de Processo Penal. Ao contrário, da decisão que as recebe não cabe qualquer recurso por ausência de previsão legal.” (Cebrian e Gonçalves, 2016).
	Ver os princípios da taxatividade, unirrecorribilidade e da fungibilidade recursal.
	Observância das formalidade legais: Para a interposição do recurso, é necessária a observância das respectivas formalidade legais. Por exemplo, a apelação e o recurso em sentido estrito devem ser interpostos por petição ou por termo, já o recurso extraordinário, o recurso especial, os embargos infringentes, os embargos de declaração, a carta testemunhável e a correição parcial só podem ser interpostos por petição.
	Tempestividade: A interposição do recurso fora do prazo previsto em lei implica o não recebimento da impugnação. De acordo com o art. 218, § 4º, do NCPC, recurso interposto antes do início da contagem do prazo é considerado tempestivo. Conforme o art. 798, § 1º, do CPP, não se computa no prazo o dia da intimação, incluindo-se, no entanto, a data do vencimento. Assim, se a intimação da sentença se dá no dia 7, o prazo para apelação começará a contar no dia 8 e se encerrará no dia 12.
	Cebrian e Gonçalves (2016) fazem as seguintes observações:
	1) Se a intimação for feita em uma sexta-feira ou véspera de feriado, o dia inicial da contagem será o primeiro dia útil subsequente.
	2) Se o último dia do prazo cair em fim de semana ou feriado, ficará automaticamente prorrogado até o primeiro dia útil seguinte (art. 798, § 3º).
	3) Os prazos consideram-se suspensos em caso de recessos forenses, conforme prevê o art. 2º da Resolução 8/2003 do Conselho Nacional de Justiça. Em geral esses recessos são decretados no período de 20 de dezembro a 6 de janeiro, período em que os prazos se suspendem. Do mesmo modo, em caso de greve dos funcionários do Poder Judiciário ou de qualquer outra razão excepcional de paralisação das atividades, os prazos também se consideram suspensos.
	4) O prazo para o Ministério Público recorrer se inicia da data em que os autos ingressam na secretaria da Instituição e não a partir da aposição do ciente pelo representante ministerial. É o que decidiu o Supremo Tribunal Federal, por seu Plenário, no julgamento do HC 83.255-5, em 5 de novembro de 2003.
	5) Considerando que o defensor e o réu devem ser intimados da sentença, o prazo começa a correr a partir da última intimação e, caso tenha sido determinada a intimação do acusado por edital, correrá também a partir do que ocorrer por último: intimação do defensor ou último dia do edital.
	Se a sentença for proferida em audiência, com réu presente, o prazo iniciará concomitantemente para ambos (acusado e seu defensor).
	No caso de recurso por fax (Lei 9800/99), os originais deverão ser entregues em até 5 dias após o término do prazo (arts. 1º e 2º).
	Pressupostos subjetivos:
	a) legitimidade;
	b) interesse.
	Legitimidade: Artigo 577 do Código de Processo Penal.
	Ver a Súmula 705 do STF.
	Ver artigo 598 do Código de Processo Penal.
	Interesse: Somente poderá recorrer aquele que tenha algum interesse na reforma ou modificação da decisão. O interesse está ligado à ideia de sucumbência e prejuízo. Ver artigo 577, parágrafo único, do Código de Processo Penal.
Bibliografia
	BADARÓ, Gustavo Henrique. Manual dos Recursos Penais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
	LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
	NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 13ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
	REIS, Alexandre Cebrian Araújo; GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Direito Processual Penal Esquematizado. Coordenador Pedro Lenza. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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