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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 1 MEC – SETEC SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL IFPA – CAMPUS BELÉM CURSO DE ENGENHARIA DOS MATERIAIS HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Belém – Pará 2014 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 2 SUMÁRIO UNIDADE I: INTRODUÇÃO 1.1 - Apresentação 1.2 - Considerações Gerais 1.3 - Dados Históricos 1.4 - Conceitos Básicos 1.5 - Exercícios Propostos UNIDADE II: ACIDENTES DO TRABALHO E DOENÇAS PROFISSIONAIS 2.1 - Conceito Legal e Conceito Prevencionista 2.2 - Causas 2.3 - Conseqüências 2.4 - Analises e Legislação 2.5 - Exercícios Propostos UNIDADE III: EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA 3.1 - Equipamentos de Proteção Individual (EPI) 3.2 - Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) 3.3 - Exercícios Propostos UNIDADE IV: RISCOS AMBIENTAIS 4.1 - Riscos Físicos 4.2 - Riscos Químicos 4.3 - Riscos Biológicos 4.4 - Riscos Ergonômicos 4.5 - Riscos de Acidentes 4.6 - Mapa de Riscos 4.7 - Elaboração de artigo UNIDADE V: NORMAS REGULAMENTADORAS 5.1 - NR 5: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA 5.2 - NR 18: Condições e meio ambiente de trabalho na industria da construção 5.3 - NR 23: Proteção contra incêndios 5.4 - NR 25: Resíduos Industriais 5.5 - NR 26: Sinalização de segurança 5.6 - Elaboração de artigo BIBLIOGRAFIA BÁSICA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 14280. Cadastro de Acidente do Trabalho. . Rio de Janeiro:ABNT, 2001. ATLAS. Segurança e Medicina do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2006 COUTO, Hudson A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho. Belo Horizonte: Ergo Editora, 1995. FUNDACENTRO. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho. São Paulo, 1981. MORAES, G. A. Legislação de Segurança e Saúde Ocupacional. Rio de Janeiro: Gerenciamento Verde Editora e Livraria Virtual, 2007. SALIBA, Tuffi. Curso Básico de Segurança e Higiene Ocupacional. São Paulo: LTR, 2004. 464pg. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 3 UNIDADE I – INTRODUÇÃO 1.1 - APRESENTAÇÃO Os ambientes de trabalho das engenharias de requer conhecimentos de higiene e segurança no trabalho. Para tanto, esta disciplina tem como objetivo a formação inicial dos materiais trabalhados e desenvolvidos para o curso de engenharia de materiais do Instituto Federal do Pará na preparação da disciplina higiene e segurança no trabalho. Sendo os discentes os primeiros destinatários, a temática abordada e a forma integrada como é apresentada (bibliografia, legislação, entre outras informações), podem também constituir um instrumento de trabalho relevante quer para aquisição de conhecimentos, quer para a publicação de artigos científicos nesta área do conhecimento. O Instituto Federal do Pará passa, assim, a disponibilizar estas anotações, os quais serão periodicamente atualizados de forma a manter e reforçar o interesse da sua publicação. 1.2 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS A segurança e a saúde do trabalhador deverá encarada como qualidade de vida, onde verifica-se que o direito de viver e trabalhar em um ambiente sadio deve ser considerado um dos direitos fundamentais do homem. Num mundo onde se busca a qualidade de produto e qualidade humana, nada mais certa do que falar em qualidade de vida do trabalhador, associando-a aos fatores de saúde e da preservação da integridade física no ambiente de trabalho. Não se sabe ao certo quando o homem começou a se preocupar com acidentes e doenças relacionadas com o trabalho. Já no século IV a C., eram feitas referências à existência de moléstias entre mineiros e metalúrgicos. Mas foi com a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, no final do séc. XVIII e com o aparecimento das máquinas de tecelagem, movido a vapor, que a ocorrência de acidentes aumentaram. A produção, que antes era artesanal e doméstica, passa a ser realizadas em fábricas mal ventiladas, com ruídos altíssimos e em máquinas sem proteção. Mulheres, homens e principalmente crianças foram as grandes vítimas. A primeira legislação no campo de proteção ao trabalhador, a “Lei das Fábricas”, surgiu na Inglaterra em 1833, determinando limites de idade mínima e jornada de trabalho (por jornada de trabalho entende-se o tempo que o funcionário, por determinações das convenções coletivas e por Lei, ou ainda pelo próprio contrato de trabalho, deve permanecer à disposição da empresa para realizar a tarefa determinada). No Brasil a industrialização tomou impulso a partir da 2° Guerra Mundial, a situação dos trabalhadores não foi diferente: nossas condições de trabalho mataram e mutilaram mais pessoas que a maioria dos países industrializados do mundo. Com o objetivo de melhorar as condições de saúde e trabalho no Brasil, a partir da década de 30, várias leis sociais foram criadas; dentre elas, ressalta-se a obrigatoriedade da formação da CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que se tornou eletiva em 1944. A partir desta data, a CIPA sofreu várias regulamentações, mas a preocupação com a Segurança e Saúde do trabalhador ainda é pequena. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 4 Na divulgação das primeiras estatísticas de Acidentes do Trabalho pelo então instituto de Previdência Social tomou-se conhecimento da gravidade da situação da Segurança do Trabalho no Brasil – 16,75% de trabalhadores acidentados no ano de 1970. Diante desses dados, umas séries de medidas foram tomadas para tentar reverter à situação. Dentre elas, ressaltamos: 1 – Obrigatoriedade da existência de Serviços de Medicina do Trabalho e Engenharia de Segurança nas Empresas. (1972). 2 – Alterações no capítulo V da CLT modificando a Legislação Prevencionista (1977) e Regulamentação das 28 normas de Segurança e Medicina do Trabalho, favorecendo uma atuação mais efetiva da CIPA nas Empresas. 3 – Amplo programa de formação de profissionais nas áreas de Segurança e Medicina do Trabalho. 4 – Desenvolvimento de programa de orientação à prevenção de acidentes e de formação de CIPEIROS (obrigatório a partir de 1978). E, mais recentemente, o aparecimento de um empresariado progressista, com uma visão Prevencionista que associa a qualidade de produtos e serviços à qualidade de vida do trabalhador. Estas medidas têm colaborado para a redução do número de acidentes e doenças do trabalho oficialmente divulgado. Porém, a complexidade das questões, relativas ao registro de acidentes e doenças profissionais, torna difícil precisar o índice dessa redução, pois uma quantidade muito grande de trabalhadores não é registrada e, portanto, seus acidentes e doenças não são comunicados ao INSS e à unidade descentralizada do Ministério do Trabalho e Emprego. Diante da persistência de elevados índices de acidentes do trabalho, com grandes perdas humanas e econômicas, é que surge o Mapa de Riscos Ambientais, o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e o PCMSO (Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional). Estes instrumentos representam uma tentativa inédita no Brasil, de comprometer e envolver os trabalhadores e também os empresários, na solução de um problema que interessa a todos superar. 1.3 - DADOS HISTÓRICOS O marco inicialda moderna industrialização teve origem com o aparecimento da 1° máquina de fiar na Inglaterra, na época da Revolução Industrial (1760/1830). A mão-de-obra era constituída por homens, mulheres e crianças sem quaisquer restrições quanto à saúde e a segurança do trabalhador. Outro aspecto importante era o excesso de mão-de-obra desqualificada, gerando a improvisação na indústria, e conseqüentes riscos. Nessa época os trabalhadores tiveram que suportar sem nenhum amparo as conseqüências dos acidentes e das doenças ocupacionais. Os primeiros problemas ocupacionais eram: Máquinas sem proteção; Ambientes sem ventilação; Ruído; Trabalhos sem limites de horas. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 5 A primeira preocupação com Segurança deu-se quando o Parlamento Britânico aprovou a 1° Lei de Proteção aos Trabalhadores, que estabeleceu, entre outras coisas, a “Lei de Saúde Moral dos Aprendizes”, que alterava sobre: O limite de 12 horas de trabalho por dia; Proibição de trabalho noturno; A obrigação dos patrões de lavar as paredes das fábricas duas vezes ao ano; A obrigatoriedade da ventilação. Em 21 de junho de 1958, na 42° Conferência Internacional do Trabalho em Genebra foi estabelecido o Serviço de Saúde Ocupacional. Extra – oficialmente, o Brasil mantinha, na década de 40, instituída por decreto, a CIPA, hoje regulamentada pela Lei n° 3.214, de 08/06/1978, do Ministério do Trabalho. 1.4 - CONCEITOS BÁSICOS: ACIDENTE DE TRABALHO - CONCEITO LEGAL (LEI Nº6367/76 e Nº 8.213/91) Art. 19 -“Acidente do trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que causa a morte ou perda, ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. Art. 20 - Equiparam-se ao acidente do trabalho, para os fins desta lei: A doença profissional ou do trabalho, assim entendida a inerente ou peculiar a determinado ramo de atividade e constante da relação organizada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social. Art. 21 - O acidente, que ligado ao trabalho, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte, ou perda, ou redução da capacidade para o trabalho; O acidente sofrido pelo funcionário no local e no horário de trabalho em conseqüência de: a) ato de sabotagem ou de terrorismo praticado por terceiro, inclusive colega de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada com o trabalho; c) ato de imprudência, negligência ou de imperícia de terceiro, inclusive colega de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação ou incêndio; f) outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior. A doença proveniente da contaminação acidental de pessoa da área médica, no exercício de sua atividade; O acidente sofrido pelo empregado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) Na execução de ordem ou realização de serviço sob autoridade da empresa; b) Na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcional proveito; c) Em viagem a serviço da empresa, seja qual for o meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do empregado; d) No percurso da residência para o trabalho ou deste para aquela; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 6 Parágrafo 1º- Nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante este, o empregado será considerado a serviço da empresa; ACIDENTE NO EXERCÍCIO DO TRABALHO À SERVIÇO DA EMPRESA Para que uma lesão ou moléstia seja considerada acidente do trabalho é necessário que haja entre o resultado e o trabalho uma ligação, ou seja, que o resultado danoso tenha origem no trabalho desempenhado e em função de serviço. Assim por exemplo, se um empregado for assistir a um jogo de futebol e cair da arquibancada onde sentou não se tratará de acidente do trabalho. Todavia, se com ele cai o empregado do clube que estava a efetuar a limpeza da arquibancada, a legislação referida protegerá o funcionário do clube. São dois elementos que caracterizam o acidente: a Lesão Corporal e a Perturbação Funcional. Lesão Corporal: Por Lesão Corporal deve ser entendido qualquer dano anatômico, por exemplo, uma fratura, um machucado e até mesmo a perda de um membro. Perturbação Funcional: Por Perturbação Funcional deve ser entendido o prejuízo como uma perturbação mental devida a alguém ficar atrapalhando tanto verbal, visual e físico. 1.5 - Exercícios Proposto 1. A Revolução industrial começou em que século? (a) Século XVIII (b) Século XVII (c) Século XXI 2. Em que ano se tornou obrigatoriedade da existência de Serviços de Medicina do Trabalho e Engenharia de Segurança nas Empresas? (a) Em 1972 (b) Em 1982 (c) Em 1962 3. De o significado das siglas PPRA e PCMSO. PPRA: PCMSO: 4. Coloque Verdadeiro (V) ou Falso (F). a. ( ) Acidente do trabalho é todo aquele que ocorre pelo exercício do trabalho realizado em casa nos finais de semana. b. ( ) Para ser considerado acidente do trabalho é necessário que haja entre o resultado e o trabalho uma ligação, ou seja, que o resultado danoso tenha origem no trabalho desempenhado e em função do serviço. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 7 c. ( ) Se um empregado for assistir à um jogo de futebol e cair da arquibancada onde se sentou, não se trata de um acidente do trabalho, mas do mesmo modo se cair junto com ele o empregado do clube que estava efetuando a limpeza da arquibancada na hora do jogo se trata. d. ( ) Entende-se por lesão corporal qualquer dano anatômico. e. ( ) Entende-se por perturbação funcional o prejuízo do funcionamento de qualquer órgão ou sentido. 5. Faça um breve comentário (redação de no mínimo 5 linhas) sobre a Unidade I: Introdução sobre Higiene e Segurança no Trabalho. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 8 UNIDADE II: ACIDENTES DO TRABALHO E DOENÇAS PROFISSIONAIS O que é acidente? Se procurarmos a resposta em um dicionário, encontraremos: acontecimento imprevisto, casual ou não; ou então: acontecimento infeliz que resulta em ferimento, dano, estrago, prejuízo, avaria, ruína, etc. Nesse sentido, é muito importante observar que um acidente não é simples obra do acaso e pode trazer consequências indesejáveis. Em outras palavras: acidentes podem ser previstos. E, se podem ser previstos, podem ser evitados. Quem se dedica à prevenção sabe que nada acontece por acaso no universo, muito menos o que costumamos chamar de acidente. Todo acidente tem uma causa definida, por mais imprevisível que pareça ser. Os acidentes, em geral, são o resultado de uma combinação de fatores, entre eles, falhas humanas e falhas materiais. Vale lembrar que os acidentes não escolhem hora nem lugar. Podem acontecer em casa, no lazer, no ambiente de trabalho e nas inúmeras deslocações que fazemos de um lado para o outro, para cumprir nossas obrigações diárias. Quanto aos acidentes no local de trabalho, o que se pode dizer é que grande parte deles ocorre porque os trabalhadoresencontram-se despreparados para enfrentar certos riscos. A finalidade deste capítulo é levar-te a refletir sobre as consequências do acidente do trabalho para a vítima, para a família, para a empresa e para a sociedade. Ao terminar o estudo dos assuntos aqui tratados, ficarás sabendo o que a legislação entende por acidente do trabalho (conceito legal) e o que se considera acidente do trabalho numa lógica de prevenção. 2.1 - Conceito Legal e Conceito Prevencionista CONCEITO LEGAL Numa sociedade democrática, as leis existem para delimitar os direitos e os deveres dos cidadãos. Qualquer pessoa que sentir que seus direitos foram desrespeitados pode recorrer à Justiça para tentar obter reparação, por perdas e danos sofridos em consequência de atos ou omissões de terceiros. As decisões da Justiça são tomadas com base nas leis em vigor. É bom que o trabalhador também tenha algum conhecimento sobre as leis que foram elaboradas para proteger seus direitos. Por isso, é importante saber o que a legislação entende por acidente de trabalho. Segundo a definição dada pelo Decreto Lei nº 2127 de Março de 1965, acidente de trabalho é todo o que ocorre no tempo e no local de trabalho e que produza, direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte morte ou redução na capacidade de ganho do trabalhador. Ou seja, qualquer acidente que ocorrer com um trabalhador, estando ele a serviço de uma empresa, é considerado acidente do trabalho. Para entender melhor a definição anterior, é necessário saber também que: Lesão corporal é qualquer dano produzido no corpo humano, seja ele leve, como, por exemplo, um corte no dedo, ou grave, como a perda de um membro. Perturbação funcional é o prejuízo do funcionamento de qualquer órgão ou sentido. Por exemplo, a perda da visão, provocada por uma pancada na cabeça, caracteriza uma perturbação funcional. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 9 O acidente típico de trabalho ocorre no local e durante o horário de serviço. É considerado como um acontecimento súbito, violento e ocasional. Mesmo não sendo a única causa, provoca, no trabalhador, uma incapacidade para a prestação de serviço e, em casos extremos, a morte. Pode ser consequência de um ato de agressão, de um ato de imprudência ou imperícia, de uma ofensa física intencional, ou de causas fortuitas como, por exemplo, incêndio, desabamento ou inundação. Mas a legislação também enquadra como acidente de trabalho os que ocorrem nas situações apresentadas a seguir: Acidente de trajeto (ou percurso) - Considera-se acidente de trajeto o que ocorre no percurso da residência para o trabalho ou do trabalho para a residência. Nesses casos, o trabalhador está protegido pela legislação que dispõe sobre acidentes do trabalho. Também é considerada como acidente do trabalho, qualquer ocorrência que envolva o trabalhador no trajeto para casa, ou na volta para o trabalho, no horário do almoço. Entretanto, se, por interesse próprio, o trabalhador alterar ou interromper seu percurso normal, uma ocorrência, nessas condições, deixa de caracterizar-se como acidente de trabalho. Percurso normal é o caminho habitualmente seguido pelo trabalhador, locomovendo-se a pé ou usando meio de transporte fornecido pela empresa, condução própria ou transporte coletivo urbano. Acidente fora do local e horário de trabalho – Considera-se, também, um acidente de trabalho, quando o trabalhador sofre algum acidente fora do local e horário de trabalho, no cumprimento de ordens ou na realização de serviço da empresa. Se o trabalhador sofrer qualquer acidente, estando em viagem a serviço da empresa, não importa o meio de condução utilizado, ainda que seja de propriedade particular, estará amparado pela legislação que trata de acidentes do trabalho. Existem também as doenças adquiridas em decorrência do exercício do trabalho em si ou das condições especiais em que o trabalho é realizado. Ambos os casos são consideradas como acidentes de trabalho, quando deles decorrer a incapacidade para o trabalho. Tu já deves ter passado pela experiência de pegar uma forte gripe, de colegas de trabalho, por contágio. Essa doença, embora possa ter sido adquirida no ambiente de trabalho, não é considerada acidente de trabalho, porque não é ocasionada pelos meios de produção. Mas se um trabalhador perder a audição por ficar longo tempo sem proteção auditiva adequada, submetido ao excesso de ruído, gerado pelo trabalho executado junto a uma grande prensa, isso caracteriza acidente de trabalho. Ou ainda, se um trabalhador sofrer de inflamação dos tendões ou das articulações por exercer atividades repetitivas, que solicitam sempre o mesmo grupo de músculos. A lista das doenças profissionais é bastante extensa e pode sofrer novas inclusões ou exclusões, à medida que forem mudando as relações entre o homem e o trabalho. São os seguintes os principais diplomas legais na área da segurança no local de trabalho: Decreto-Lei nº 441/91 Decreto-Lei nº 72/92 e Decreto Regulamentar nº 9/92 Decreto-Lei nº 128/93 e nº 348/93 e Portaria nº 988/93 Decreto-Lei nº 349/93 e Portaria nº 989/93 Decreto-Lei nº 379/93 Decreto-Lei nº 26/94 e Lei nº 7/95 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 10 Decreto-Lei nº 155/95 e Portaria nº 101/96 IMPORTANTE: Todo acidente do trabalho, por mais leve que seja, deve ser comunicado à empresa. Caso contrário, o trabalhador perderá seus direitos e a empresa deverá pagar multa. Acidente Típico do Trabalho: Ocorre no local e durante o horário do trabalho, considerado como um acontecimento súbito, violento e ocasional, que provoca no trabalhador incapacidade para a prestação do serviço. Acidente de Trajeto: Ocorre na ida ou na volta do trabalho, ou ocorrido no mesmo trajeto quando o trabalhador efetua suas refeições em casa. Deixa de ser caracterizado o acidente quando o empregado tenha, por interesse próprio, interrompido ou alterado o percurso normal. Ato de Terceiro: Esse ato de terceiro pode se culposo ou doloso. Será considerado culposo quando a pessoa que deu ensejo ao mesmo não tinha intenção de que o fato acontecesse. Foi um ato de imprudência, negligência, imperícia que resultou num dano de outrem. Já o ato doloso é consciente, e a pessoa que o pratica age de má fé com vontade dirigida para a obtenção de um resultado criminoso. Assim, o legislador (pessoa que elabora as leis) estendeu o conceito de acidente aos atos dolosos que atingem o trabalhador proveniente da relação de emprego, tal como os casos de sabotagem, ofensa física levada a cabo por companheiro de serviço ou terceiro, resultante de disputa originada na prestação de serviço. Como vemos a exclusão que se manifesta é a referente a ato doloso contra empregado, oriundo de terceiros ou de companheiro de serviço, não originado de disputa relativa ao trabalho. Assim, o ferimento sofrido por um empregado no local e horário de trabalho, por parte de outro colega de serviço, com origem em questão de ciúme ou mesmo de discussão sobre futebol, não se caracteriza como acidente do trabalho. Acidente de Força Maior: Ocorre caso o funcionário se acidente por causa de inundação, incêndio e fatores que não podem ser previsíveis. (dentro do horário de trabalho). Acidente fora do loca de horário de trabalho: Ocorre fora do local e horário de trabalho, quando no cumprimento de ordem ou na realização de serviços sob a autorização da empresa. Ex: Quando o empregado se acidenta realizando uma viagema serviço da empresa. CONCEITO PREVENCIONISTA O acidente do trabalho no conceito legal só é caracterizado quando dele decorre uma lesão física, perturbação funcional ou doença, levando à morte, perda total ou parcial, permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Os prevencionistas, em especial os membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, não devem se ater somente ao conceito legal, mas procurar conhecer o acidente do trabalho em toda a sua extensão e principalmente em suas possibilidades de prevenção. Os acidentes que não causem ferimentos pessoais devem ser considerados acidente do trabalho do ponto de vista técnico – prevencionista, visando evitar os danos físicos que possam por eles ser provocados. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 11 Assim, o conceito prevencionista caracteriza o acidente de trabalho como “toda ocorrência não programada, estranha ao andamento normal do trabalho, da qual possa resultar dano físico e/ou funcionais, morte do trabalhador e/ou danos materiais e econômicos à empresa”. Partindo dessa definição, o prevencionista se propõe a estudar os acidentes do trabalho sob dois aspectos: Acidente-meio: é aquele que não precisa haver ferimento a alguém para se caracterizar, bastando somente a ocorrência de prejuízos sem mesmo envolver o elemento humano. Exemplo: uma pilha de sacos que desmorona sem atingir pessoas. Acidente tipo: é aquele que só existe quando fere alguém. Exemplo: a mesma pilha de sacos que ao desmoronar provoca ferimento em alguém. “TODO ACIDENTE DEVE SER CONSIDERADO IMPORTANTE, POIS NÃO É POSSÍVEL PREVER SE ELE PROVOCARÁ OU NÃO LESÕES NO TRABALHADOR”. Esta conceituação ampla leva ao registro de todos os acidentes do trabalho ocorridos, permitindo a exploração de suas causas e conseqüente prevenção, que caracterize a verdadeira atuação da CIPA. Um exemplo seria o caso de uma ferramenta que cai do alto de um andaime. Fica caracterizado sob o enfoque prevencionista, mesmo que este não atinja ninguém. DOENÇAS PROFISSIONAIS E DO TRABALHO Doença Profissional: É entendida como produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar de determinada atividade. Assim o saturnismo (intoxicação provocada em quem trabalha com chumbo) é uma doença tipicamente profissional. Doença do Trabalho: É entendida como adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente. Assim, por exemplo, podemos citar a surdez como doença do trabalho, tendo em conta o serviço executado em local extremamente ruidoso. 2.2 - Causas As causas de incapacidade “associadas” ao acidente do trabalho pode acontecer que o empregado já tivesse condições que facilitassem o acontecimento ou resultado. Se um indivíduo tem certa fraqueza óssea e sofre uma pancada que para outro traria como conseqüência apenas uma zona dolorida, mas para ele resulta em fratura, suas condições pessoais não afastam a aplicação da legislação acidentária pela totalidade do acontecimento. Se uma lesão como ferimento atinge um diabético, que em face de suas condições de saúde vem a sofrer amputação de uma perna ou braço, a legislação acidentária cobre a conseqüência total. 2.3 - Conseqüências Muitas vezes, pior que o acidente em si, são as suas consequências. Todos sofrem: A vítima, que fica incapacitada de forma total ou parcial, temporária ou permanente para o trabalho; A família, que tem seu padrão de vida afetado pela falta dos ganhos normais; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 12 As empresas, com a perda de mão-de-obra, de material, de equipamentos, tempo, etc., e, consequentemente, elevação dos custos operacionais; A sociedade, com o número crescente de inválidos e dependentes da Segurança Social; O país, com todo o conjunto de efeitos negativos dos acidentes de trabalho. Um acidente de trabalho pode levar o trabalhador a se ausentar da empresa apenas por algumas horas, o que é chamado de acidente sem afastamento. É o que ocorre, por exemplo, quando o acidente resulta num pequeno corte e o trabalhador retorna ao trabalho em seguida. Outras vezes, um acidente pode deixar o trabalhador impedido de realizar suas atividades por dias seguidos, ou meses, ou de forma definitiva. Se o trabalhador acidentado não retornar ao trabalho imediatamente ou até a jornada seguinte, temos o chamado acidente com afastamento, que pode resultar na incapacidade temporária, ou na incapacidade parcial e permanente, ou, ainda, na incapacidade total e permanente para o trabalho. A incapacidade temporária é a perda da capacidade para o trabalho por um período limitado de tempo, após o qual o trabalhador retorna às suas atividades normais. A incapacidade parcial e permanente é a diminuição, por toda vida, da capacidade física total para o trabalho. É o que acontece, por exemplo, quando ocorre a perda de um dedo ou de uma vista. A incapacidade total e permanente é a invalidez incurável para o trabalho. Nesse caso, o trabalhador não tem mais condições para trabalhar. É o que acontece, por exemplo, se um trabalhador perde as duas vistas em um acidente do trabalho. Nos casos extremos, o acidente resulta na morte do trabalhador. Os danos causados pelos acidentes são sempre bem maiores do que se imagina à primeira vista. Analisa, por exemplo, a seguinte situação: Um trabalhador desvia sua atenção do trabalho por uma fração de segundo, ocasionando um acidente sério. Além do próprio trabalhador são atingidos mais dois colegas que trabalham ao seu lado. O trabalhador tem de ser removido urgentemente para o hospital e os dois outros trabalhadores envolvidos são atendidos na enfermaria da empresa. Um equipamento de fundamental importância é paralisado em consequência de quebra de algumas peças. Resultados imediatos: três trabalhadores afastados, paralisação temporária das atividades da secção, equipamento danificado, tensão no ambiente de trabalho. A análise das consequências do acidente poderia parar por aí. Mas, em casos como esse, é conveniente pensar também na potencialidade de danos e riscos que se originaram do acidente. O equipamento parado é uma guilhotina que corta a matéria-prima para vários setores de produção. Deve, portanto, ser reparada com toda urgência possível. Nesse caso, o sector de manutenção precisa entrar em ação rapidamente e, justamente por isso, apresenta a tendência de passar por cima de muitos princípios de segurança, devido à pressa em consertar a máquina. Além disso, na remoção do acidentado para o hospital, novos riscos poderão ser criados. A pressa do motorista da ambulância, para chegar o mais rápido possível ao hospital, poderá criar condições desfavoráveis à sua segurança e à dos demais ocupantes do veículo e de outros veículos na rua. Percebes agora como um acidente de trabalho tem, muitas vezes, uma força ainda maior do que simplesmente causar os danos que se observam na ocorrência do acidente em si? Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 13 Esse é mais um fator que pesa, favoravelmente, na justificativa de uma atitude prevencionista. Não é melhor prevenir o acidente do que enfrentar as consequências? A prevenção de acidentes é uma atividade perfeitamente ao alcance do trabalhador, visto que uma das mais evidentes características de superioridade do ser humano sobre os demaisseres vivos é a sua capacidade de raciocínio e a previsão dos fatos e ocorrências que afetam o seu meio ambiente. Esses aspectos, voltados para os riscos ambientais e para a prevenção de acidentes do trabalho, serão objeto de estudo e destaque nas próximas unidades. 2.4 - Analises e Legislação 2.4.1 - Razões para se analisar eventos adversos Identificar o que está errado e adotar medidas de controle. Nos locais de trabalho existem riscos e medidas de controle que devem ser adotadas para eliminá-los ou reduzi-los a fim de prevenir acidentes e doenças. A ocorrência de um evento adverso indica que as medidas de controle de risco eram inadequadas ou insuficientes. 2.4.2 - Porque analisar eventos adversos relacionados com o trabalho? Acidentes e doenças relacionados ao trabalho causam sofrimento e problemas para os trabalhadores, suas famílias, outras pessoas e as empresas. Acidentes e doenças relacionados ao trabalho geram custo elevado para as empresas e para a sociedade. Análises de eventos adversos constituem importante ferramenta para o desenvolvimento e refinamento do sistema de gerenciamento de riscos. Adequada avaliação das condições de segurança e saúde proporciona conhecimento dos riscos associados com as atividades laborais, contribuindo para a transformação das condições de trabalho. Medidas de controle de risco bem planejadas, associadas com supervisão adequada, monitoramento e gestão efetiva de SST, podem garantir que as atividades no trabalho sejam seguras. Além dos motivos acima relacionados, diversas RAZÕES LEGAIS justificam a realização das análises: As Normas Regulamentadoras (NR) do MTE determinam que as empresas analisem e capacitem os trabalhadores para realizar análises de acidentes de trabalho; As Normas Regulamentadoras exigem ainda que os empregadores planejem, controlem e monitorem as condições de SST, inclusive fornecendo aos trabalhadores informações sobre riscos e medidas de controle; A Previdência Social, por meio de ações regressivas, pode pleitear o ressarcimento dos benefícios decorrentes de acidentes e doenças do trabalho cujos fatores relacionados incluam a não observação das normas de segurança e saúde no trabalho; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 14 A legislação previdenciária prevê a majoração das alíquotas do Seguro de Acidente do Trabalho - SAT em função da incidência de acidentes e doenças relacionados ao trabalho na empresa; A Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso XXVIII, estabelece indenização por danos decorrentes do trabalho; O Código Civil prevê indenizações em certas circunstâncias, independentemente de dolo ou culpa por parte das empresas. 2.4.3 - O que se ganha com uma boa análise? A identificação das maneiras pelas quais as pessoas estão expostas a riscos que podem afetar sua segurança e saúde. A compreensão do quê ocorreu, de como o trabalho foi realmente executado e de como e por que as coisas deram errado. O reconhecimento de deficiências no controle de riscos no trabalho de forma a possibilitar alterações e melhorias da gestão de SST. A possibilidade de troca de informações sobre os riscos entre empresas, fabricantes e fornecedores. SISTEMA DE ANÁLISE DE EVENTOS ADVERSOS A necessidade da análise de um evento adverso específico já foi definida neste Guia. Entretanto, é importante que se organize um sistema de análise de eventos adversos no qual seja valorizado o conhecimento dos fatores relacionados a vários acidentes, incidentes e circunstâncias indesejadas ocorridos numa empresa, setor econômico, região geográfica, etc. As informações decorrentes das análises de vários eventos adversos potencializam a capacidade de solução de problemas e ampliam a qualidade da gestão de SST. 2.4.4 - Benefícios resultantes de um sistema de análise de eventos adversos Prevenção de outros eventos adversos, similares ou não, que possam ter os mesmos fatores geradores. Prevenção de danos ambientais e de impactos negativos na imagem da empresa. Evitar perdas econômicas geradas pela redução da capacidade produtiva decorrentes de eventos adversos repetidos e por indenizações. Ampliação das habilidades de solução de problemas. FATORES OU CONDIÇÕES RELACIONADOS COM A OCORRÊNCIA DE EVENTOS ADVERSOS Os fatores relacionados com a ocorrência de eventos adversos são de natureza variada e podem interagir entre si. O que geralmente é atribuído ao acaso ou azar (“estar no lugar errado na hora errada”) pode, durante a análise, ser evidenciado como resultado de uma rede de fatores em interação. Os fatores relacionados com a ocorrência de eventos adversos podem ser: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 15 IMEDIATOS: razões mais óbvias da ocorrência de um evento adverso, evidenciadas na proximidade das conseqüências. Podem ser identificados diversos fatores imediatos para um evento adverso. SUBJACENTES: razões sistêmicas ou organizacionais menos evidentes, porém necessárias para que ocorra um evento adverso. LATENTES: condições iniciadoras que possibilitam o surgimento de todos os outros fatores relacionados ao evento adverso. Frequentemente são remotas no tempo e no que se refere à hierarquia dos envolvidos, quando consideradas em relação ao evento. Geralmente envolvem concepção, gestão, planejamento ou organização. Exemplo: trabalhador sofre amputação traumática da mão direita em prensa hidráulica. Fatores imediatos: possibilidade de ingresso dos segmentos corporais na área de risco; inexistência de cortina de luz e comando bi-manual na prensa hidráulica; dispositivo de acionamento instalado em local que permite o acionamento involuntário da máquina; inexistência de dispositivo de parada de emergência. Fatores subjacentes: gestão de SST não evidencia risco elevado na operação da prensa; exigência de produção elevada; excesso de jornada; trabalhador com pouca experiência na função e sem capacitação. Fatores latentes: empresa define a aquisição de prensa hidráulica sem adequados sistemas de proteção; gerenciamento da produção inadequado nos períodos de elevada demanda; gestão de recursos humanos acarreta excesso de jornada e elevada rotatividade de empregados; inexistência de programa de capacitação continuada. 2.4.5 - Quais eventos adversos devem ser analisados? Tão logo se tome conhecimento da ocorrência de um evento adverso, deve ser decidido o que analisar e em qual nível. O nível de detalhamento da análise deve ser definido levando-se em consideração, além dos prejuízos ou lesões ocorridos, as consequências potenciais e a probabilidade de um novo evento ocorrer. As perguntas que devem ser feitas são: É possível que o dano gerado fosse mais sério? É provável que ocorra frequentemente ou novamente? A obrigatoriedade da análise dos acidentes de trabalho (com danos pessoais) está consignada na legislação. A decisão de analisar incidentes ou circunstâncias indesejadas deve considerar a oportunidade de aprendizado e o potencial de ocorrência de eventos similares com lesões graves. Além disso, investigar eventos sem danos pessoais é mais simples do que analisar acidentes. Não há necessidade de se lidar com pessoas lesionadas e suas famílias, com trabalhadores preocupados e temerosos e não há o risco de ações judiciais civis ou criminais. As pessoas estarão mais propícias a colaborar e relatar todos os aspectos relacionados ao evento. Tomemos como exemplo as afirmações decorrentes deeventos adversos: 1) “Uma vez que todas as válvulas pareciam iguais, por engano abri a válvula errada que lançou água fervendo no chão”. 2) “Eu não sei como a água fervendo atingiu o João”. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 16 Qual delas é a resposta provável de um incidente e qual é a de um acidente? E qual evidencia melhor o problema a ser resolvido? 2.4.6 - Quem deve participar da análise dos eventos adversos? É essencial que haja o envolvimento dos vários níveis hierárquicos da empresa e que seja valorizada a participação dos trabalhadores da base do sistema produtivo, que detêm saberes fundamentais para a gestão de SST. Em função do porte da empresa e da natureza do evento, pode ser necessária a participação de diretores, gerentes, supervisores, profissionais de segurança e saúde, dos trabalhadores e de seus representantes. O Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho - SESMT e a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, quando houver, sempre devem participar, em virtude de seu conhecimento técnico e de suas atribuições legais. O trabalho em equipe, envolvendo vários níveis hierárquicos, assegura que os conhecimentos práticos e gerenciais sejam amplos e que a capacidade de solução dos problemas seja elevada, reforçando a idéia de que a investigação é benéfica para todos. Os membros da equipe devem estar familiarizados com boas práticas de SST e com as normas e exigências legais. A equipe deve incluir pessoas que tenham habilidades para o processo de análise, que devem ser capacitadas para coletar informações, realizar entrevistas, avaliar situações de risco e propor medidas de controle. É importante que a equipe tenha tempo e recursos suficientes para executar uma análise adequada. É preciso, ainda, que a equipe tenha a participação de pessoas que detenham poder de decisão para a solução dos problemas verificados. 2.4.7 - Quando a análise de eventos adversos deve começar? A urgência de uma análise vai depender da magnitude dos riscos envolvidos. Um acidente sempre deve ser investigado prontamente, por envolver danos pessoais. Outros eventos adversos devem ser analisados o mais breve possível, pois a motivação e a memória de fatos recentes são fatores que ajudam no desenvolvimento da análise. 2.4.8 - O que a análise de eventos adversos deve abranger? A análise deve abranger todos os dados disponíveis na cena do evento, os relatos das vítimas e de seus companheiros de trabalho, além de informações documentais, tais como avaliações de risco, procedimentos e instruções de trabalho. Deve ainda examinar o histórico de eventos adversos no sistema de análise e também, sempre que possível, informações sobre outros eventos ocorridos com os mesmos equipamentos, máquinas, processos, etc., mesmo que em outras empresas. 2.4.9 O QUE FAZ UMA ANÁLISE SER ADEQUADA? “Para se livrar das ervas daninhas, você deve cavar até a raiz. Se você cortar apenas a folhagem a planta se manterá viva e sempre poderá crescer novamente.” Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 17 Uma análise adequada revela a rede de fatores em interação e evidencia os fatores subjacentes e latentes. Análises que se encerram nos fatores imediatos identificados na proximidade da ocorrência do evento não contribuem para evitar que outros acidentes ou incidentes ocorram. Somente com a identificação dos fatores subjacentes e latentes, que propiciam a existência dos fatores imediatos, será possível adquirir conhecimento capaz de eliminar ou controlar o risco de ocorrência de outros eventos adversos. Lidar apenas com fatores imediatos resulta no máximo em mudanças superficiais, mas, com o tempo, os fatores subjacentes e latentes que não foram abordados podem gerar condições para que outros eventos adversos ocorram, possivelmente com consequências mais sérias. É essencial, portanto, que os fatores imediatos, subjacentes e latentes sejam identificados e resolvidos. Os fatores latentes geradores de eventos adversos são quase invariavelmente falhas de gestão, organizacionais ou de planejamento. Análises devem ser conduzidas para a prevenção de acidentes e não para procurar culpados. As pessoas se tornam defensivas e não cooperativas quando se busca, ainda que indiretamente, atribuir culpa. Estudos demonstram que as pessoas não são livres para escolher suas ações dentro de um processo de trabalho, pois essas ações são influenciadas por questões gerenciais e administrativas, além de cognitivas e psicológicas. O importante não é identificar os erros do trabalhador, mas conhecer as razões que tornaram os erros possíveis. Investigações que concluem que “falhas humanas” causaram eventos adversos, além de óbvias, são frágeis tecnicamente, inadequadas e superficiais. Paralelamente à falha humana, há fatores subjacentes e latentes que criam um ambiente no qual “erros humanos” são inevitáveis. O objetivo é estabelecer não apenas como os eventos adversos ocorrem, mas entender os fatores que possibilitaram a ocorrência. Um defeito na concepção de uma máquina, por exemplo, vai se perpetuar como fator gerador de eventos adversos independentemente da instalação, operação e manutenção da máquina serem adequadas. Devem ser evitadas análises parciais e conclusões apressadas. Supor saber as respostas e explicações para o evento antes de completar a análise compromete o resultado. Uma análise adequada verificará toda a gestão de SST da empresa. Por ora, procura aplicar o que aprendeu nesta unidade, resolvendo os exercícios a seguir. 2.5 - Exercícios Propostos I - Assinale a alternativa correta 1. O acidente de trajeto ocorre: (a) Quando o empregado se acidenta fazendo o seu percurso normal de ida e volta do trabalho. (b) Somente quando o empregado precisa usar o transporte coletivo urbano. (c) Quando o trajeto se dá em condições de risco. 2. Considera-se acidente do trabalho: (a) Aquele que ocorre em qualquer circunstância. (b) Somente quando ocorre morte. (c) Aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa. 3. Acidente de Força Maior. (a) Ocorre caso o funcionário se acidente por causa de inundação, incêndio e fatores que não podem ser previsíveis. (dentro do horário de trabalho). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 18 (b) Ocorre fora do local e horário de trabalho, quando no cumprimento de ordem ou na realização de serviços sob a autorização da empresa. (c) É aquele que não precisa haver ferimento a alguém para se caracterizar, bastando somente a ocorrência de prejuízos sem mesmo envolver o elemento humano. 4. As causa de incapacidade associada ao acidente do trabalho é? (a) Pode acontecer que o empregado já tivesse condições que facilitassem o acontecimento ou resultado; (b) É entendida como produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar de determinada atividade. (c) É entendida como adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente. 5. O conceito prevencionista é? (a) Procurar conhecer o acidente do trabalho em toda a sua extensão e principalmente em suas possibilidades de prevenção. (b) É aquele que não precisa haver prevenção e nem estudar suas causas. (c) O conceito prevencionista só se preocupa em prevenção depois que ocorre os acidentes II - Responder:António é técnico em eletrotécnica e trabalha em manutenção de equipamentos eletrônicos em uma empresa com sede em Ponta de Pedras. O chefe do António passou-lhe uma ordem de serviço de manutenção, a ser realizado na máquina de um cliente, em outro conselho. Quando António se encontrava executando o trabalho, houve um pequeno incêndio. Na confusão que se seguiu, António foi ferido numa perna. Levado ao hospital, foi dispensado com a recomendação médica de manter-se afastado do serviço por 15 dias. No seu entender: 6. O que ocorreu com o António encaixa-se na definição legal de acidente de trabalho? Porquê? 7. António sofreu lesão corporal ou perturbação funcional em decorrência do acidente? Porquê? 8. João, ao sair do trabalho, de volta para casa, resolveu passar no supermercado para comprar um refrigerante que estava em oferta. Na saída do supermercado foi atropelado por um carro. Consideras o que aconteceu com o João um caso de acidente de trajeto, que pode ser equiparado a um acidente do trabalho? Justifica a tua resposta. 9. Teresa era secretária de uma empresa. Certo dia, sentiu-se mal e foi encaminhada ao hospital. O médico solicitou alguns exames e os resultados indicaram que Teresa havia contraído hepatite. O médico concluiu que o contágio se deu pelo uso do sanitário da empresa (já havia registo de dois casos anteriores). Teresa foi afastada do trabalho por um período de 2 meses. O que ocorreu com a Teresa foi um acidente de trabalho? Justifica a tua resposta. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 19 10. Maria trabalhava numa oficina de costura, como cortadora de moldes. Certo dia, muito preocupada com os problemas domésticos, distraiu-se e fez um corte profundo no dedo com a tesoura. Depois de medicada na enfermaria da empresa, Maria foi mandada para casa com um atestado médico dispensando-a do trabalho naquele dia. Assinala o tipo de acidente que ocorreu com a Maria: ( ) acidente sem afastamento; ( ) acidente com afastamento e incapacidade temporária; ( ) acidente com afastamento e incapacidade parcial e permanente; ( ) acidente com afastamento e incapacidade total e permanente. 11. Porquê é melhor prevenir acidentes do que remediar suas consequências? Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 20 UNIDADE III: EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA Proteção Individual X Proteção Coletiva As medidas de proteção coletiva, isto é, que beneficiam a todos os trabalhadores, indistintamente, devem ter prioridade. Os equipamentos de proteção coletiva devem ser mantidos nas condições que os especialistas em segurança estabelecerem, devendo ser reparados sempre que apresentarem qualquer deficiência. Veja alguns exemplos de aplicação de equipamentos de proteção coletiva: sistema de exaustão que elimina gases, vapores ou poeiras contaminantes do local de trabalho; enclausuramento, isto é, isolamento de máquina barulhenta para livrar o ambiente do ruído excessivo; comando bi-manual, que mantém as mãos ocupadas, fora da zona de perigo, durante o ciclo de uma máquina; cabo de segurança para conter equipamentos suspensos sujeitos a esforços, caso venham a se desprender. Quando não for possível adaptar medidas de segurança de ordem geral, para garantir a proteção contra os riscos de acidentes e doenças profissionais, deve-se utilizar os equipamentos de proteção individual. São considerados equipamentos de proteção individual todos os dispositivos de uso pessoal destinados a proteger a integridade física e a saúde do trabalhador. Os equipamentos de proteção individual não evitam os acidentes, como acontece de forma eficaz com a proteção coletiva. Apenas diminuem ou evitam lesões que podem decorrer de acidentes. Veja um exemplo: Luís ia derramar metal fundido dentro de um molde, com uma concha. Ele não percebeu que havia um pouco de água no fundo do molde. Ao derramar o metal, este reagiu com a água, causando uma explosão que atingiu o rosto de Luís. Felizmente Luís estava usando um protetor facial. Isso impediu que seu rosto e seus olhos fossem atingidos. Graças ao uso correto do equipamento de proteção individual, Luís escapou sem qualquer lesão. 3.1 - Equipamentos de Proteção Individual (EPI) Existem equipamentos de proteção individual para proteção de praticamente todas as partes do corpo. Veja alguns exemplos: Cabeça e crânio: capacete de segurança contra impactos, perfurações, ação dos agentes meteorológicos etc. Olhos: óculos contra impactos, que evita a cegueira total ou parcial e a conjuntivite. É utilizado em trabalhos onde existe o risco de impacto de estilhaços. Vias respiratórias: protetor respiratório, que previne problemas pulmonares e das vias respiratórias, e deve ser utilizado em ambientes com poeiras, gases, vapores ou fumos nocivos. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 21 Face: máscara de solda, que protege contra impactos de partículas, respingos de produtos químicos, radiação (infravermelha e ultravioleta) e ofuscamento. Deve ser utilizada nas operações de solda. Ouvidos: concha, que previne contra a surdez, o cansaço, a irritação e outros problemas psicológicos. Deve ser usada sempre que o ambiente apresentar níveis de ruído superiores aos aceitáveis, de acordo com a norma regulamentadora. Mãos e braços: luvas, que evitam problemas de pele, choque elétrico, queimaduras, cortes e raspões e devem ser usadas em trabalhos com solda elétrica, produtos químicos, materiais cortantes, ásperos, pesados e quentes. Pernas e pés: botas de borracha, que proporcionam isolamento contra eletricidade e umidade. Devem ser utilizadas em ambientes úmidos e em trabalhos que exigem contacto com produtos químicos. Tronco: aventais de couro, que protegem de impactos, respingos de produtos químicos, choque elétrico, queimaduras e cortes. Devem ser usados em trabalhos de soldagem elétrica, oxiacetilênica, corte a quente etc. As empresas devem fornecer os equipamentos de proteção individual gratuitamente aos trabalhadores que deles necessitarem. A lei estabelece também que é obrigação dos empregados usar os equipamentos de proteção individual onde houver risco, assim como os demais meios destinados a sua segurança. O treino é uma fase importante no processo de utilização dos equipamentos de proteção individual. Quando o trabalhador recebe instruções sobre a maneira correta de usar o equipamento de proteção individual, aceita-o melhor. Sendo assim, quando tiveres dúvidas sobre a utilização de um equipamento de proteção individual, solicita esclarecimentos ao sector de segurança da tua empresa. CONSERVAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTECÇÃO A conservação dos equipamentos é outro fator que contribui para a segurança do trabalhador. Portanto, cada profissional deve ter os seus próprios equipamentos e deve ser responsável pela sua conservação. 3.2 - Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) São todos dispositivos de uso coletivo, destinados a proteger as integridades física dos colaboradores. Deve-se: Usá-los apenas para a finalidade que se destina. Responsabiliza-se por sua guarda e conservação. Comunicar qualquer alteração que o torne impróprio para o uso. Adquirir o tipo adequado a atividade do empregado. Treinar o trabalhador sobre seu uso adequado. InstitutoFederal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 22 Tornar obrigatório seu uso. Substituí-lo quando danificado ou extraviado. Exemplos de Equipamentos de Proteção Coletiva- EPC's: Extintores de incêndio; Lava-olhos; Capelas; Enclausuramento acústico de fontes de ruído; Exaustores para gases, névoas e vapores contaminantes; Ventilação dos locais de trabalho; Proteção de partes móveis de máquinas; Sensores em máquinas; Barreiras de proteção em máquinas e em situações de risco; Corrimão e guarda- corpos; Fitas sinalizadoras e antiderrapantes em degraus de escada; Piso Anti-derrapante; Barreiras de proteção contra luminosidade e Radiação (Solda); Cabines para pintura; Redes de Proteção (nylon); Isolamento de áreas de risco; Sinalizadores de segurança (como placas e cartazes de advertência, ou fitas zebradas); Detectores de Tensão; Chuveiros de segurança; Primeiros socorros Kit de primeiros socorros, entre outros. IMPORTANTE: Se cada um de nós pensar e atuar com segurança, os acidentes praticamente poderão ser eliminados. 3.3 - Exercícios Propostos 1 - O teu trabalho requer o uso de equipamentos de proteção coletiva ou equipamentos de proteção individual? Como os utiliza? Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 23 UNIDADE IV: RISCOS AMBIENTAIS São os agentes que, dentro de certas condições, irão causar danos à saúde do trabalhador (Conforme NR 09). Compreendem os seguintes agentes: Agentes químicos Agentes físicos Agentes biológicos Agentes ergonômicos Riscos de acidentes decorrentes do ambiente de trabalho São capazes de causar danos à saúde e à integridade física do trabalhador em função de sua natureza, intensidade, suscetibilidade e tempo de exposição. Sabendo de tudo que aconteceu com João e seus colegas de trabalho na oficina, nesta unidade, você vai precisar identificar que tipo de riscos ele correu ao circular pelo local sem atender às medidas de segurança e o que ele precisaria fazer para evitar os acidentes. Para isso, é necessário que você aprenda a identificar os riscos de uma tarefa; perceba a possibilidade de existência desses riscos; quantifique-os e, por fim, aprenda como minimizá-los e eliminá-los do local. Mas o que são riscos? Que tipo de coisas podem causar acidentes como o sofrido por João e os colegas de trabalho na oficina? Figura: Tipos de riscos ambientais. De acordo com o minidicionário Houaiss, o termo risco significa probabilidade de perigo ou probabilidade de insucesso. Aqui, você vai aprender um pouco mais sobre os riscos ambientais existentes nos locais de trabalho. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 24 Os riscos ambientais são aqueles causados por agentes físicos, químicos ou biológicos que, a depender de sua natureza, concentração, intensidade ou tempo de exposição, podem comprometer a segurança e a saúde dos funcionários, bem como a produtividade da empresa. Quando não são controlados ou previamente avaliados, os riscos ambientais afetam o trabalhador a curto, médio e longo prazo, podendo provocar acidentes com lesões imediatas e/ou doenças chamadas profissionais ou do trabalho, que se podem ser comparadas aos acidentes do trabalho. Os riscos ambientais são classificados segundo a sua natureza e forma com que atuam no organismo humano. Dessa forma, podem ser físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. 4.1 - Riscos Físicos São aqueles gerados por máquinas e condições físicas características do local de trabalho, que podem causar danos à saúde do trabalhador. Todos nós, ao desenvolvermos nossos trabalhos, gastamos uma certa quantidade de energia para produzir um determinado resultado. Quando as condições físicas do ambiente, como, por exemplo, o nível de ruído e a temperatura, são agradáveis, produzimos mais com menor esforço. Mas, quando essas condições fogem muito dos limites de tolerância, vem o cansaço, a queda de produção, a falta de motivação para o trabalho, as doenças profissionais e os acidentes do trabalho. Exemplo de riscos físicos: ruídos (máquinas, explosões), vibrações (britadeiras), radiações ionizantes (raio x) e não ionizantes, temperatura (fornos, ar livre, motores), pressão (mergulho, câmeras hiperbáricas); RISCOS FÍSICOS CONSEQUENCIAS Ruído – As máquinas e equipamentos utilizados nas empresas produzem ruídos que podem atingir níveis excessivos, podendo a curto, médio e longo prazos provocarem sérios prejuízos à saúde. Dependendo do tempo de exposição, do nível sonoro e da sensibilidade individual, as alterações danosas poderão manifestar-se imediatamente ou gradualmente. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 25 Quanto maior o nível do ruído, menor deverá ser o tempo de exposição ocupacional. Efeitos à Saúde – Modificações das ondas eletroencefalográficas, fadiga nervosa, alterações mentais como perda de memória, irritabilidade, dificuldade em coordenar idéias, hipertensão, modificação do ritmo cardíaco, modificação do ritmo respiratório, perturbações gastrointestinais, diminuição da visão noturna, dificuldade na percepção de cores, perda temporária e definitiva da audição, atrasos na menstruação e impotência sexual. 4.2 - Riscos Químicos Certas substâncias químicas, utilizadas nos processos de produção industrial, são lançadas no ambiente de trabalho, intencional ou acidentalmente. Essas substâncias podem apresentar-se nos estados sólido, líquido e gasoso. No estado sólido, temos poeiras de origem animal, mineral e vegetal, como a poeira mineral de sílica encontrada nas areias para moldes de fundição. No estado gasoso, como exemplo, temos o GLP (gás liquefeito de petróleo), usado como combustível nos fogões residenciais. No estado líquido, temos os ácidos, os solventes, as tintas e os inseticidas domésticos. Esses agentes químicos ficam em suspensão no ar e podem penetrar no organismo do trabalhador por: Via respiratória – essa é a principal porta de entrada dos agentes químicos, porque respiramos continuamente, e tudo o que está no ar vai direto aos nossos pulmões. Se o produto químico estiver sob forma sólida ou líquida, normalmente fica retido nos pulmões e provoca, a curto ou longo prazo, sérias doenças chamadas pneumoconioses, como o edema pulmonar e o cancro dos pulmões. Se estiver no ar sob forma gasosa, causa maiores problemas de saúde, pois a substância atravessa os pulmões, entra na corrente sanguínea e vai alojar-se em diferentes partes do corpo humano, como no sangue, fígado, rins, medula óssea, cérebro etc., causando anemias, leucemia, alergias, irritação das vias respiratórias, asfixia, anestesia, convulsões, paralisias, dores de cabeça, dores abdominais e sonolência. Via digestiva – se o trabalhador comer ou beber algo com as mãos sujas, ou que ficaram muito tempo expostas a produtos químicos, parte das substâncias químicas será ingerida junto com o alimento, atingindo o estômago e provocando sérios riscos à saúde. Epiderme – essa via de penetração é a mais difícil, mas se o trabalhador estiver desprotegido e tiver contacto com substâncias químicas, havendo deposição no corpo, serão absorvidas pela pele. A maneira mais comum da penetração pela pele é o manuseio e o contacto direto com os produtos perigosos,como arsênico, álcool, cimento, derivados de petróleo etc., que causam cancro e doenças de pele conhecidas como dermatoses. Via ocular – alguns produtos químicos que permanecem no ar causam irritação nos olhos e conjuntivite, o que mostra que a penetração dos agentes químicos pode se dar também pela vista. É importante tomar cuidado com os diferentes produtos químicos empregados nas indústrias e até em casa. Faz um levantamento dos produtos químicos que utilizas, lê os rótulos das embalagens e informa-te sobre os efeitos que podem provocar no organismo humano. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 26 Leite – um falso remédio Quando respiras um ar cheio de produtos químicos, ele vai para os pulmões. Quando bebes um copo de leite, ele vai para o estômago. Daí a pergunta: o que o leite tem a ver como desintoxicante pulmonar por substâncias nocivas? Resposta: Nada! O leite pode ser considerado alimento, nunca um preventivo de intoxicação. Sua utilização é até prejudicial, uma vez que, acreditando no seu valor, as medidas de higiene industrial e os cuidados higiênicos ficam em segundo plano. Exemplos de riscos químicos: metais pesados, agrotóxicos (resíduos de embalagens), gases tóxicos (lixo, chaminés); 4.3 - Riscos Biológicos São microrganismos, ou seja, reduzidíssimos seres vivos não vistos a olho nu, presentes em alguns ambientes de trabalho, como hospitais, laboratórios de análises clínicas, coleta de lixo, indústria do couro, fossas, etc. Nessa categoria incluem-se os vírus, as bactérias, os protozoários, os fungos, os parasitas e os bacilos. Penetrando no organismo do homem por via digestiva, respiratória, olhos e pele, são responsáveis por algumas doenças profissionais. Como esses microrganismos se adaptam melhor e se reproduzem mais em ambientes sujos, as medidas preventivas a tomar são: rigorosa higiene dos locais de trabalho, do corpo e das roupas; destruição, por processos de elevação da temperatura (esterilização) ou uso de cloro; uso de equipamentos individuais para evitar contacto direto com os microrganismos; ventilação permanente e adequada; controlo médico constante, e vacinação, sempre que possível. A verificação da presença de agentes biológicos em ambientes de trabalho é feita por meio de retirada de amostras de ar e de água, que serão analisadas em laboratórios especializados. Exemplos de riscos biológicos: animais peçonhentos, água contaminada (germes patogênicos), material hospitalar (sangue, urina, fezes), vetores de doenças (moscas, ratos, baratas); 4.4 - Riscos Ergonômicos Ergonomia é a ciência que busca alcançar o ajustamento mútuo ideal entre o homem e o seu ambiente de trabalho. Entretanto, se não existir esse ajuste, teremos a presença de agentes ergonômicos que causam doenças e lesões no trabalhador. Você já notou como funciona uma guilhotina manual que serve para cortar chapas de aço? A haste de movimentação da guilhotina, que tem contacto com as mãos do trabalhador, deve ter uma forma adequada, de modo a permitir que todos os dedos nela se apóiem, conforme mostra a ilustração abaixo. Figura: guilhotina manual. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 27 Essa forma respeita a anatomia das mãos, proporcionando conforto ao trabalhador. Os agentes ergonômicos presentes nos ambientes de trabalho estão relacionados com os seguintes fatores: exigência de esforço físico intenso levantamento e transporte manual de peso postura inadequada no exercício das atividades exigências rigorosas de produtividade jornadas de trabalho prolongadas ou em turnos atividades monótonas ou repetitivas Movimentos repetitivos dos dedos, das mãos, dos pés, da cabeça e do tronco produzem monotonia muscular e levam ao desenvolvimento de doenças inflamatórias, curáveis em estágios iniciais, mas complicadas quando não tratadas a tempo, chamadas genericamente de lesões por esforços repetitivos. As doenças que se enquadram nesse grupo caracterizam-se por causar fadiga muscular, que gera fortes dores e dificuldade de movimentar os músculos atingidos. São exemplos de inflamações causadas por esforços repetitivos: inflamação da bursa, que é uma cápsula contendo líquido lubrificante em seu interior, que reveste algumas articulações; inflamação de músculo; inflamação dos tendões, que são fibras que unem os músculos; inflamação dos tendões e das articulações. Essas doenças afetam diversas categorias de profissionais: bancários, metalúrgicos, costureiros, pianistas, telefonistas, digitadores, empacotadores, enfim, todos os profissionais que realizam movimentos automáticos e repetitivos. Contra os males provocados pelos agentes ergonômicos, a melhor arma, como sempre, é a prevenção: rodízios e descansos constantes; exercícios compensatórios frequentes para trabalhos repetitivos; exames médicos periódicos; evitar esforços superiores a 25 kg para homens e 12 kg para mulheres; postura correta sentado, em pé, ou carregando e levantando peso, como mostra a ilustração a seguir. Figura: Procedimentos ergométricos adequados. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Curso de Engenharia dos Materiais EMDP-13: Higiene e Segurança no Trabalho Prof. Dr. Laércio Gouvêa Gomes Página 28 Exemplos de riscos ergonômicos (estrutura músculo-esquelética e psicológica): lesões por esforços repetitivos (ler), doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (dort), peso e postura incompatíveis com biótipo e tarefa, jornada (duração, ritmo, turno, controle), mobiliário incompatível, estresse por causas mediatas ou distantes. 4.5 - Riscos de Acidentes Outros fatores de risco que podem ser encontrados e devem ser eliminados dos ambientes de trabalho são decorrentes de: falhas de projeto de máquinas, equipamentos, ferramentas, veículos e prédios; deficiente sinalização; iluminação excessiva ou deficiente; uso inadequado de cores; probabilidade de incêndio ou explosão; armazenamento inadequado de produtos, presença de animais peçonhentos; etc. Você acabou de ter uma visão geral dos principais fatores de risco encontrados nos ambientes de trabalho. Agora é importante aplicares o que aprendeu, começando por analisar o teu próprio ambiente de trabalho. Resolver os exercícios do item 4.8 vai ajudar nessa tarefa. 4.6 - Mapa de Riscos Material didático anexo - PUC Minas 4.7 - Elaboração de artigo Atividade avaliativa: Elaborar um mapa de riscos dos ambientes determinados em sala de aula. 4.8 - Exercícios Propostos 1 - As estatísticas mostram que a maior parte dos acidentes ocorre por falhas humanas. Por que, então, segundo Heinrich, removendo-se a causa mecânica elimina-se a causa principal dos acidentes? 2 - Pesquisa, no teu ambiente de trabalho, se já houve afastamento de algum funcionário decorrente de doença profissional ou lesão causada por risco ambiental. 3 - Analisa o teu ambiente de trabalho e faz uma lista dos fatores de risco existentes. Depois, classifica-os de acordo com o quadro abaixo. RISCOS FÍSICOS RISCOS QUIMÍCOS RISCOS BIOLÓGICOS RISCOS ERGONÔMICOS RISCOS DE ACIDENTES 4 - Faz uma lista das consequências associadas aos riscos que identificaste na questão anterior. 5 - Pesquisa quais as medidas preventivas aplicáveis a cada um dos fatores de risco que identificaste.
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