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Haiti e Guiné Bissau

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE 
 
ISABELLA CAMPOS BRETZ CAVALCANTI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INTERVENÇÃO EM CONFLITOS INTERNOS EM ASPECTOS 
JURÍDICOS E POLÍTICOS: 
Haiti e Guiné-Bissau 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2010 
 
ISABELLA CAMPOS BRETZ CAVALCANTI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INTERVENÇÃO EM CONFLITOS INTERNOS EM ASPECTOS 
JURÍDICOS E POLÍTICOS: 
Haiti e Guiné-Bissau 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Centro Universitário de 
Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção 
do título de bacharel em Relações Internacionais. 
 
Orientadora: Professora Geraldine Marcelle 
Moreira Braga Rosas Duarte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2010 
 1 
A intervenção em conflitos internos em aspectos jurídicos e políticos: Haiti e 
Guiné-Bissau 
 
 
Isabella Campos Bretz Cavalcanti1 
Geraldine Marcelle Moreira Braga Rosas Duarte2 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Observa-se, principalmente no pós-Guerra Fria, a existência de intensos conflitos internos que 
demandam auxílio internacional. A ocorrência de intervenções humanitárias, missões de paz ou 
participações externas também é notada, mas os critérios para que aconteçam não são claros. 
Através de um estudo de caso comparando as situações no Haiti e em Guiné-Bissau, verifica-se a 
existência de similaridades, como ausência de instituições robustas, golpes de Estado e guerras-
civis. Buscou-se avaliar as respectivas respostas internacionais e verificar se há negligência 
internacional quanto a conflitos internos. Nota-se que não se atribui a mesma atenção a 
problemas similares, havendo uma seleção para agir. As decisões concernentes à intervenção, 
supostamente legais, baseadas no Direito Internacional, possuem muitas vezes fundamentos 
políticos. 
 
 
Palavras-chave: intervenção humanitária, Haiti, Guiné-Bissau, negligência. 
 
 
 
Considerações Iniciais 
 
 
O mundo - principalmente no período atual, em meio à tão citada globalização - se 
transforma a todo momento. Novos temas surgem e outros mudam de posição na hierarquia da 
agenda internacional de acordo com o contexto do momento e, em alguns casos, de acordo com a 
ideologia dominante no período. 
O discurso é uma ferramenta importante. É possível, através dele, introduzir um objeto, 
mostrar sua importância e convencer de que ele precisa ser tratado de forma diferente. Os Estados 
Unidos da América utilizaram, em 2003, de um conceito ainda frágil em meio às normas de 
 
1
 Aluna do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Belo Horizonte 
E-mail: bella_bretz@yahoo.com.br 
2
 Professora orientadora Mestre em Relações Internacionais pela PUC-Minas 
E-mail: geraldine_rosas@hotmail.com 
 2 
Direito Internacional para justificar sua invasão no Iraque: a legítima defesa preventiva 
(PINHEIRO, 2009). Através do discurso, o país lançou no cenário internacional um novo 
conceito e criou uma nova realidade no âmbito das intervenções, sendo agora “justificável” – 
para alguns, obviamente – uma guerra preventiva (sem a necessidade de que o ataque ocorra e 
desencadeie a legítima defesa de forma clássica). 
Observa-se na atualidade a existência de diversos conflitos pelo mundo, em diferentes 
proporções. “Explosões e morte de civis em Israel”, “Tropas americanas ainda estão no Iraque”. 
Manchetes como essas são constantemente noticiadas. Mas algo chama atenção: alguns conflitos 
em particular recebem grande foco da mídia, enquanto outros, da mesma forma intensos, são 
esquecidos. A invasão norte-americana no Iraque foi, sim, merecedora de atenção e preocupação. 
Mas enquanto bombas eram lançadas em Bagdá, também sofriam com a violência os habitantes 
de Serra Leoa, que há anos se encontram num contexto de tensão, sob o atrito entre a Frente 
Revolucionária Unida (FRU) e o governo. Da mesma forma, há potências que afirmam quererem 
difundir a democracia e promover a paz, citando países que se encontram em instabilidade 
política. Mas enquanto eleições no Afeganistão são acompanhadas sob um olhar crítico, em 
tempo real, por observadores internacionais, fraudes eleitorais e golpes de Estado, somados a 
ações de milícias e mortes intermináveis, ocorrem em outras dezenas de países. 
Destaca-se, nesse momento, a situação em Guiné-Bissau. A história política do país é 
marcada por golpes e confrontos entre facções rivais do Exército. Há também o fato de que atua 
como rota de tráfico de drogas da América Latina em direção à Europa. O assassinato do 
Presidente João Bernardo "Nino" Vieira, no início de 2009, pode ter gerado repercussão, mas em 
pouco tempo o Estado foi esquecido novamente. O antigo desacordo com o Senegal tem tomado 
proporções maiores. A tensão militar tem se estabelecido, visto que forças armadas dos dois 
países se encontram prontas para lutar, aguardando um estopim. Seriam as vidas dos guineenses 
menos valiosas que as dos palestinos ou haitianos? Seria o aparato político do país mais 
desenvolvido, de forma que seja auto-suficiente? A discrepância no sistema internacional 
concernente à forma de lidar com conflitos é massiva. 
A disciplina das Relações Internacionais surgiu com o objetivo de compreender o 
funcionamento do sistema internacional e o comportamento dos Estados, a fim de evitar novas 
guerras. Sendo assim, os conflitos são objeto de estudo crucial do campo. A interação entre os 
 3 
Estados, a política, a formação de uma agenda de discussão internacional e a realização de 
intervenções, por exemplo, estão atreladas à disciplina. 
Diante das idéias apresentadas, este artigo buscará compreender se há negligência em 
relação a conflitos internos, mesmo tendo estes características semelhantes às de outros que 
recebem foco da mídia e de atores importantes do sistema internacional, até que haja intervenção. 
Salienta-se que não será discutido o sucesso das intervenções; o objetivo é a atenção que esses 
países em conflito despertam. Assim, os caminhos serão traçados através de um estudo de caso 
sobre a situação no Haiti e em Guiné-Bissau, bem como suas respectivas repercussões no cenário 
internacional, principalmente na ONU. As informações são provenientes de uma pesquisa 
bibliográfica sobre os conflitos internos, os casos em específico, intervenção e tomada de 
decisão. 
O caso do Haiti foi escolhido por se tratar de um país com graves problemas internos que 
já recebeu diferentes intervenções, sendo a experiência haitiana grande fonte de informação. 
Guiné-Bissau é também relevante, visto que se constitui como um foco de tensão (como será 
evidenciado posteriormente) que aparentemente não recebe os holofotes, não sendo suas causas e 
complicações uma bandeira balançada pelos principais Estados e OI’s. Dessa forma, é possível 
comparar os dois casos e encontrar semelhanças e diferenças que comprovem e/ou expliquem 
essa situação. 
Primeiramente, discutir-se-á as características dos conflitos internos. Como há situações 
em que esses sofrem influência externa, cabe tratar sobre intervenções. Essas últimas usualmente 
geram grandes debates internacionalmente, seja por sua ocorrência ou não ocorrência. Por esse 
motivo, em seguida, uma questão importante tem lugar: a tomada de decisão concernente à 
intervenção. O próximo passo é um estudo sobre os casos selecionados. Por fim, uma análise que 
objetiva apontar a solução para a questão proposta. 
 
 
Conflitos internos e sua projeção internacional 
 
 
 
Pode-se dizer que no pós-Guerra Fria os conflitos internos passaram de um período em 
que eram exceção para outroem que constituem a regra (FILHO, 2004). A evolução do Direito 
 4 
Humanitário, principalmente através das Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais3, 
se deu em grande parte pelo aumento de conflitos internos. 
 O conceito de conflito interno é dado por Michael Brown como “disputas políticas de 
caráter violento – potencial ou efetivamente -, cujas origens podem ser traçadas a partir de fatores 
domésticos, ao invés de sistêmicos4, e no qual ocorre ou se ameaça o uso de violência armada 
dentro das fronteiras de um Estado” (pelo menos em um primeiro momento) (BROWN, 1996). 
 Ao contrário do que a maioria dos estudiosos afirma, grande parte dos conflitos internos 
eclode em decorrência das ações da elite, ou seja, de maus líderes. Além disso, muitos conflitos 
internos não são causados por agravantes étnicos, mas por questões de poder, de ideologia, 
política entre os grupos internos e a elite, fatores sociais e econômicos – como sistemas 
econômicos discriminatórios -, questões culturais e de percepção, como grupos historicamente 
problemáticos e discriminação (BROWN, 1996). 
 Assim como o papel das forças internas, o papel dos Estados vizinhos pode ser também 
muito relevante para a geração de um conflito aparentemente interno. Estados estão mais 
propícios à violência se suas estruturas estão em colapso devido ao desenvolvimento externo, 
problemas internos (como, por exemplo, líderes incompetentes ou corrupção), ou uma 
combinação de ambos. Mudanças demográficas, migração, urbanização e fluxos repentinos de 
refugiados podem agravar problemas étnicos e mudar a balança de poder interna. Transições 
políticas vindas de forma autoritária ou reformas políticas nos Estados, emergência de ideologias 
nacionais – como nacionalismo étnico ou fundamentalismo religioso; extremismo em geral – 
também podem trazer desestabilização. Disputas de poder entre as elites e a discriminação às 
minorias também entram na lista de causas. Pode-se relacionar a esse último caso as situações em 
que políticos culpam determinados grupos por problemas políticos, econômicos ou sociais que 
 
3
 As Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais são a essência do Direito Internacional Humanitário, o 
conjunto de leis que rege a conduta dos conflitos armados e busca limitar seus efeitos. Eles protegem 
especificamente as pessoas que não participam dos conflitos (civis, profissionais de saúde e de socorro) e os que não 
mais participam das hostilidades (soldados feridos, doentes, náufragos e prisioneiros de guerra). As Convenções e 
seus Protocolos apelam para que sejam tomadas medidas para evitar ou para acabar com todas as violações. Eles 
contêm regras rigorosas para lidar com as chamadas "violações graves". Os responsáveis pelas violações graves 
devem ser buscados, julgados ou extraditados, independente de suas nacionalidades. O Protocolo II Adicional às 
Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949, relativo à Proteção das Vítimas dos Conflitos Armados Não 
Internacionais é fundamental para o tratamento dessas questões. Ele pode ser encontrado em 
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dih-prot-II-conv-genebra-12-08-
1949.html. Disponível em http://www.icrc.org/web/por/sitepor0.nsf/html/genevaconventions, acessado em 12 de 
abril de 2010, às 14:25h. 
4
 Entretanto, Brown explica como fatores externos, principalmente regionais, podem afetar a ocorrência de conflitos 
internos. 
 5 
seus países venham a ter (BROWN, 1996). Conflitos internos podem, dessa forma, serem 
causados por grupos que desejam alterar as condições internas de seus países5. 
Pode-se dividir as causas dos conflitos internos em dois grandes grupos: causas internas e 
externas. As causas internas se dividem, por sua vez, com relação à participação da elite (maus 
líderes6) e às questões mais gerais, da massa (problemas domésticos). As externas também se 
dividem com relação à participação da elite (maus vizinhos) e às questões da massa (má 
vizinhança). Apesar de fatores do nível da massa serem claramente importantes para identificar 
lugares em que há maior predisposição à violência - e embora países vizinhos normalmente 
dizem respeito às relações exteriores uns dos outros - as decisões e ações da elite doméstica 
sempre determinam se as disputas políticas vão caminhar para a guerra ou para a paz7 (BROWN, 
1996). 
Ao comparar conflitos internacionais e internos, Lake (2003) afirma que é importante 
reconhecer as diferenças entre eles, mas que não devemos presumir que tais diferenças são 
grandes ou profundas, ou que uma forma de violência é totalmente distinta da outra. A grande 
maioria dos conflitos internos tem implicações fundamentais para a estabilidade regional. Os 
efeitos desses conflitos nos Estados vizinhos podem ser identificados em: problemas de 
refugiados, econômicos, militares, instabilidade e guerra (BROWN, 1996). 
 Refugiados podem causar um fardo econômico nos países receptores, além de gerar 
problemas de segurança. Os perseguidores frequentemente se misturam aos refugiados e usam os 
campos como postos de descanso, recuperação e reorganização. Comércio, transporte, 
comunicação, manufaturas, finanças e acesso a materiais podem ser prejudicados por hostilidades 
armadas. Os territórios de países vizinhos podem ser usados para entregar provisões a grupos 
rebeldes. Pode ser usado também como base de operações desses grupos. Acontece também de 
grupos atacarem regiões vizinhas para chamar atenção regional e internacional para a sua causa. 
 
5
 When groups choose to take up arms and challenge the status quo through violence, they are opting to act outside 
the constitutional rules of politics and rejecting the current hierarchy within their states. (…)Groups can seek to 
destroy hierarchy by challenging it, just as the anticipation of its destruction can cause groups to turn to self-defense 
to protect themselves. Lurking underneath every hierarchical facade is the potential for internal conflict (LAKE, 
2003, p.85). 
6
 A esse respeito, David Lake (2003, p.86) cita Stoessinger: Insights from the Interstices’: “Indeed, Stoessinger 
(2001) labels Slobodan Milosevic of Serbia a ‘‘war lover’’ as well, arguing that the same desires that drove Adolf 
Hitler and Saddam Hussein to attack their neighbors led Milosevic to seek Serbian supremacy through violence 
against other groups within the former Yugoslavia. Although war lovers and extremists are no doubt important, they 
do not themselves bring nations to war”. 
7
 Para melhor explicação ver The international dimensions of internal conflicts (BROWN, 1996). 
 6 
Se o território do vizinho for usado para entrega de armas ou bases militares, operações de busca 
e campanhas de interdição seguem a mesma direção. A instabilidade pode ser criada de diversas 
formas, como, por exemplo, a radicalização de refugiados com relação a populações étnicas, 
causando alvoroço. Choques militares podem ser causados em países vizinhos, gerando o 
transbordamento do conflito. O Estado hospedeiro tentará se defender dos problemas trazidos 
pelo Estado em tensão, buscando a manutenção de sua soberania (BROWN, 1996). 
 Os conflitos internos frequentemente geram impacto internacional. Entretanto, pode-se 
observar o caminho inverso através de ações internacionais naquele país. Torna-se então 
necessário abordar as intervenções humanitárias, por serem as mais comuns nesse tipo de 
situação. Salienta-se, entretanto, que esse não é o único tipo de intervenção ou atuação externa 
que será utilizado no decorrer da discussão. 
 
 
A participação externa 
 
 
A intervenção humanitária é definida, segundo J.L. Holzgrefe (2003, p.18) como: 
 
(...)a ameaça ou uso da força para além das fronteiras do Estado porum Estado (ou 
grupo de Estados), que visa prevenir ou acabar com as violações generalizadas e graves 
dos direitos humanos fundamentais dos indivíduos que não sejam os seus próprios 
cidadãos, sem a permissão do Estado em cujo território a força é aplicada8. 
 
Assim como muitos conceitos, o de intervenção não é unânime. Entretanto, pode-se dizer 
que (...) em grande parte da literatura recente de Relações Internacionais e do Direito, 
 
a expressão intervenção humanitária diz respeito às ações coletivas que visam proteger 
os cidadãos do Estado-alvo, enquanto que as ações que têm por finalidade salvar os 
nacionais do Estado que está realizando a intervenção será classificada como legítima 
defesa (SPIELER, 2007, p. 163). 
 
A Carta das Nações Unidas dispõe, no Art. 2° §7: 
 
Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervir em 
assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado, ou 
obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente 
 
8
 Tradução livre do inglês. 
 7 
Carta9; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas 
constantes do capítulo VII10. 
 
 
O capítulo VII, intitulado “Ação em caso de ameaça à paz, ruptura da paz e ato de 
agressão”, através do art. 39 esclarece que: 
 
O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura 
da paz ou ato de agressão e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser 
tomadas de acordo com os Artº.s 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a 
segurança internacionais11. 
 
A Carta da ONU explicita, dessa forma, que a responsabilidade por questões de 
intervenção é do Conselho de Segurança da ONU12. Há, entretanto, algumas divergências quanto 
à existência de outro órgão ou ente legítimo para tal13. Além da questão sobre o agente legitimado 
 
9
 Theo Farrell afirma que o conceito de soberania, codificado na Carta da ONU, possui como objetivo prevenir 
intervenções nos assuntos internos dos Estados. Contudo, o conceito vem se transformando por conta das 
intervenções humanitárias ao longo do tempo. Farrell conclui que a soberania não mais poderá servir de desculpa 
nem de licença para que os Estados massacrem suas populações. Logo, a soberania passa ser um conceito que não 
mais será respeitado pela comunidade internacional em caso de brutalidades promovidas contra a população, não 
mais será uma brecha no direito humanitário internacional, ou ao menos assim deveria ser (FARRELL apud 
MATOS, s/d). Já de acordo com Maryann K. Cusimano, a revolução na informação, aparentemente, fez com que o 
alcance do princípio da soberania passasse a sofrer limitações causadas por graves crises de natureza humanitária. 
Estabeleceu-se a idéia de que, quando em situações de crises extremas, a Comunidade Internacional adquire o direito 
de intervir, para ajudar populações desprotegidas pelos Estados. Foram esses os argumentos que justificaram as 
Intervenções Humanitárias na Somália e na Bósnia, por exemplo. Nesses casos, ocorreram intervenções, nos 
assuntos internos desses Estados, para promover ajudas humanitárias diretamente às populações necessitadas. Essas 
intervenções abriram precedentes para tornar, ainda mais, relativo o exercício da prerrogativa estatal de soberania, 
em questões humanitárias. No passado, dentro das fronteiras internas de cada Estado, somente ele tinha o direito de 
impor a ordem, mesmo em situações de violações de Direitos Humanos, ou da falta do atendimento de necessidades 
humanas básicas, como, por exemplo, fome ocasionada por guerra ou por desastres naturais. (CUSIMANO apud 
REGIS, 2006). 
10
 Disponível em http://www.fd.uc.pt/hrc/enciclopedia/onu/textos_onu/cnu.pdf, acessado em 12 de abril de 2010, às 
16:10h. 
11
 Disponível em http://www.fd.uc.pt/hrc/enciclopedia/onu/textos_onu/cnu.pdf, acessado em 12 de abril de 2010, às 
18:00h. 
12
 Na medida em que as operações de manutenção da paz não se enquadram estritamente no capítulo VI (medidas 
que implicam consentimento) e tampouco no capítulo VII (medidas mandatórias) da Carta, chegou-se a aventar a 
introdução na Carta de um novo capítulo intermediário – ou ao menos um novo artigo – que pudesse regulamentar 
sua existência. O Brasil propôs, por exemplo, na XIX Assembléia Geral a inclusão de um novo capítulo da Carta, nos 
seguintes termos: “... mediante a inclusão de um novo capítulo, que se chamaria ‘Operações de Manutenção da Paz’ 
e ‘Ação Relativa a Ameaças à Paz, Ruptura da Paz e Atos de Agressão’” (FONTOURA apud PESTANA, 2004). 
Dag Hammarskjöld, quando Secretário-Geral da ONU, preferiu situá-las em um imaginário “capítulo VI e meio”, 
uma ponte entre a adoção de medidas voltadas para a solução pacífica de controvérsias e a aplicação de medidas 
coercitivas (PESTANA, 2004). 
13
 Em relação ao caso Kosovo, é oportuno ressaltar que o Conselho de Segurança, em votação de 26 de maio de 
1999, de nenhuma forma aceitou a legitimidade das intervenções, que não foram autorizadas por ele. Ao invés, a 
maioria dos membros não permanentes invocou o fundamento moral para eximir a OTAN - responsável pela 
 8 
a autorizar a intervenção humanitária, discute-se também sobre o agente que pode conduzi-la. Na 
realidade, muitos concordam que tanto a ONU quanto um Estado, uma coalizão de Estados ou 
uma organização regional podem, desde que tal poder tenha sido delegado pela ONU, conduzir 
uma operação militar14 (SPIELER, 2007). 
Em seu estudo sobre a projeção internacional de conflitos internos, Michael Brown faz 
uma série de análises relativas a conflitos de todo o globo. Trata-se da atuação de Organizações 
Internacionais em conflitos internos, bem como as possibilidades de intervenção e dificuldades 
encontradas. Essas organizações possuem algumas vantagens. São amplas, possuem membros 
não exclusivos, tendem a ter maior imparcialidade, legitimidade e autoridade moral do que 
Estados individualmente, coligações e/ou alianças. O poder inerente das organizações é muito 
pequeno, e é impossível isolá-las da influência de seus membros mais poderosos (BROWN, 
1996). Esse fator deve ser considerado no que diz respeito à atenção (ou falta dela) que atribuem 
aos conflitos, visto que infelizmente não são completamente autônomas e dependem, em alguma 
medida, dos interesses de Estados fortes. 
Ainda no âmbito da intervenção, (...) a comunidade internacional assumiria 
 
a responsabilidade de proteger15 somente naqueles casos em que os Estados violam 
deliberadamente esses direitos ou são incapazes de protegê-los [...]. O recurso militar 
poderia ser empregado quando atendesse a seis critérios: causa justa, intenção correta, 
último recurso, meios proporcionais, chance razoável de êxito e autoridade adequada 
(ALMINO, 2002, p.76). 
 
Essa é uma das posições a esse respeito, mas salienta-se que a intervenção é uma medida 
polêmica e depende de diferentes fatores, como, por exemplo, o já citado acima: os interesses das 
potências. Sob essa lente, pode-se dizer que grande parte das intervenções tem sido seletiva, pois 
a comunidade internacional age de modo pendular, ambivalente, oscilando entre a proteção dos 
 
intervenção - de ter violado dispositivo da Carta das Nações Unidas sobre o uso da força (WHEELER, 2006, p. 49 
apud SPIELER, 2007). 
14Mohammed Ayoob sugere a criação de um Conselho Humanitário para trabalhar somente com as questões de 
intervenções humanitárias caso não haja vontade política para que as propostas anteriores sejam tomadas. Tal 
conselho deveria ser igualmente representado por todas as regiõese deveria ser de caráter rotativo, ter cerca de 50 
membros, como o Conselho Econômico Social. O Secretário Geral teria a mesma função que possui no CSNU, não 
haveria o poder de veto, e por fim as decisões teriam que ser aprovadas por 2/3 da maioria dos membros (AYOOB 
apud MATOS: s/d). 
15
 A responsabilidade de proteger é uma doutrina que atribui aos Estados a responsabilidade de protegerem as suas 
populações contra o genocídio e outros abusos graves dos direitos humanos e que determina que a comunidade 
internacional deve intervir, caso aquela obrigação não seja respeitada. Disponível em 
<http://aptonu.motime.com/post/739507/ban-ki-moon-prop%25C3%25B5e-estrat%25C3%25A9gia-tripartida-para-
aplicar-princ%25C3%25ADpio-da-responsabilidade-de-proteger>, acessado em 4 de junho de 2010, às 15:30h. 
 9 
direitos humanos e a satisfação dos interesses nacionais, particularmente das grandes potências 
– o que, não necessariamente, são opções excludentes (VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008). 
 Dessa forma, a questão relativa às situações nas quais realizar intervenção é bastante 
controversa no campo. O ex-Secretário-Geral da ONU, Javier Pérez16, ressaltou em seu último 
relatório anual de 1991 que o princípio da não-intervenção não pode ser uma barreira protetora 
atrás da qual os direitos humanos possam ser maciça ou sistematicamente violados com 
impunidade (Doc. ONU A/46/1, 1991. apud SPIELER, 2007, p.163). 
Segundo Himes, uma intervenção humanitária é justificada quando o comportamento de 
um Estado resulta em graves ameaças à paz e à segurança internacionais de outros Estados e 
populações, assim como quando violações graves dos direitos humanos chegam a configurar 
genocídio, mesmo que seja dentro das fronteiras nacionais (HIMES apud MATOS, s/d). 
De forma mais geral, José Joaquim Gomes Canotilho diz que a intervenção só se justifica 
quando se estiver em presença de “situações existenciais coletivas onde não seja possível manter 
o standard mínimo humanitário” (GOMES CANOTILHO apud SPIELER, 2007). No caso de 
intervenções sem consentimento, essas ocorrem (...)na presença de três pré-requisitos: 
 
1) perpetração de crimes contra a humanidade; 2) ocorrência desses crimes em Estado 
falido17, e 3) existência do interesse de agir pela Comunidade Internacional. Intervenção 
humanitária em Estados dotados de governo com autoridade e controle é bastante 
improvável. Mesmo na evidência da prática de crimes contra a humanidade. 
Certamente, isto explica as razões da não intervenção na Rússia, na Indonésia, em Israel 
ou na China. Todos Estados bem estruturados. Nesses Estados, as violações de Direitos 
 
16
 O quinto secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuellar, ficou no cargo de 1982 a 1987. Nascido em Lima 
(Peru), em 19 de janeiro de 1920, é advogado e diplomata de carreira, atualmente aposentado. Atuou em diferentes 
lugares como diplomata, também como representante nas Nações Unidas, inclusive no Conselho de Segurança. A 
partir de abril de 1981, atuou como representante pessoal do secretário-geral para o Afeganistão, dando continuidade 
às negociações iniciadas meses antes, pelo então secretário-geral, entre o país e o Paquistão. Em maio de 1981, 
voltou a trabalhar no Ministério de Relações Exteriores do Peru, mas continuou a representar o secretário-geral em 
questões relacionadas ao Afeganistão. No mesmo ano, foi nomeado secretário-geral da ONU. Pérez de Cuellar foi 
professor de direito internacional na Academia Diplomática do Peru e de Relações Internacionais na Academia de 
Guerra Aérea do Peru. Disponível em <http://www.onu-brasil.org.br/conheca_secret.php#link3>, acessado em 8 de 
junho de 2010, às 16:00h. 
17
 Cita-se Krasner a respeito dos Estados Falidos: “Os indivíduos vivem num ambiente que, se não é exatamente um 
Estado de natureza hobbesiano, é algo próximo a uma operação de extorsão na qual aqueles que detém cargos 
formais de Estado, ou ao menos aqueles com armas, criam inseguranças e incertezas que os permitem recolher o 
sangue e os tesouros de seu próprio povo. Em alguns países, as estruturas de autoridade entraram totalmente em 
colapso, ou, se elas existem formalmente, são conchas ocas. Os serviços, como de saúde e educação, são 
dolorosamente inadequados. Os direitos humanos são ignorados. A infra-estrutura se deteriorou. A corrupção é 
desenfreada. As fronteiras são desreguladas. A moeda nacional foi substituída por dólares ou outro meio de troca 
internacionalmente reconhecido. O PIB decai. A expectativa de vida diminui. Direitos humanos básicos são 
pisoteados. O crime se alastra. Grupos armados operam dentro das fronteiras do Estado, mas fora do controle do 
governo. A pobreza é endêmica” (KRASNER apud MONTEIRO, 2006). 
 10 
Humanos, cometidas contra vítimas inocentes, justificariam intervir. Soberania versus 
Responsabilidade de Proteger é uma falsa dicotomia (REGIS, 2006). 
 
 Quem participa, então, de operações de paz? Os principais atores são os Estados e as 
Organizações Internacionais, tendo como auxiliares muitas vezes Organizações Não-
Governamentais. Embora os militares constituam a espinha dorsal da maioria das operações de 
manutenção da paz, as muitas faces de paz agora incluem administradores e economistas, 
policiais e peritos legais, de-miners18 e observadores eleitorais, monitores de direitos humanos e 
especialistas em assuntos civis e de governo, trabalhadores humanitários e especialistas nas 
comunicações e informação pública19. 
As Organizações Internacionais são sujeitos do Direito Internacional, ou seja, gozam de 
personalidade jurídica plena, embora derivada dos Estados. Isso quer dizer que podem apresentar 
reclamações perante tribunais internacionais, possuem capacidade de celebrar tratados e acordos 
válidos no sistema internacional e gozam de privilégios e imunidades concedidos por jurisdições 
nacionais (NGUYEN QUOC; DAILLIER; PELLET, 2003). Assim, OI’s têm certa autonomia 
para agir no sistema internacional, sendo que a atuação em conflitos, incluindo possibilidades de 
intervenção, estão sob esse escopo20. 
 Em seu estudo sobe conflitos internos, Michael Brown afirma que essas organizações 
possuem algumas vantagens nesse âmbito, como explicitado anteriormente. Em teoria, se uma 
guerra ocorre, uma organização de segurança coletiva deveria identificar o agressor, ou 
agressores, e posteriormente reunir seus membros para combater a agressão. Entretanto, na 
prática, agem de forma mais simples. Atuam como fórum de discussões, sendo corpo para a 
criação de tratados e observância do direito internacional e uso de mecanismos para peacekeeping 
e mediação. Todavia, dependem militar e economicamente dos seus Estados membros 
(BROWN,1996). 
A mobilização de respostas internacionais é mais difícil se as fronteiras não foram 
violadas, além de ser também difícil manter a paz em fronteiras não muito claras. Além disso, 
receber consentimento para atuação humanitária, peacekeeping ou outras operações de paz não é 
tão fácil. Em conflitos interestatais, atravessar a fronteira é um simples e claro sinal. Ele define 
que houve violação e acelera respostas internacionais. O mesmo não ocorre em conflitos internos, 
 
18
 Desativadores de minas terrestres. 
19
 Disponível em <http://www.un.org/en/peacekeeping/>, acessado em 8 de junho de 2010, às 18:45h. 
20
 Como é o caso das Nações Unidas. 
 11 
que acontecem dentro dos Estados e nos quais os grupos hostis se misturam. Além disso, esses 
conflitos normalmente envolvem forças militares não-regulares, o que pode trazer problemas 
políticos. São difíceis de se distinguir da população civil, se movem rapidamente e permeiam até 
mesmo limites bem definidos. Mediações e peacekeeping tendem a ser mais fáceis se os grupos 
forem menos intercaladose se tiverem estruturas governamentais e economia independentes 
(BROWN, 1996). 
As Organizações devem atuar de acordo com sua força, quando o partidos dão 
consentimento e agindo com imparcialidade. Devem também evitar operações que exijam mais 
do que o uso mínimo da força. Toda operação de paz corre o risco de falhar. Missões coercitivas 
normalmente aumentam esses riscos. Segundo o autor, essas últimas deveriam ser evitadas em 
áreas de interesses periféricos, a menos que as necessidades humanitárias sejam fortes o 
suficiente para criar uma estrutura política forte para sustentar a operação. Em áreas de conflitos 
etno-nacionalistas, em que o ódio é disseminado, as organizações devem lançar campanhas 
informativas para promover os direitos humanos e os direitos das minorias, refutando 
reclamações incorretas ou seletivas e introduzindo perspectivas mais amplas e calmas para o 
debate político. Essas campanhas são legais, baratas, fáceis de implementar e eficazes. Elas 
deveriam ter um papel mais importante na prevenção, gerência e resolução de conflitos (Idem). 
Brown mostra o que entende sobre a ação de organizações em conflitos internos bem 
como as dificuldades encontradas, entretanto não deixa muito claro o critério para a intervenção 
(ou não) das mesmas nesses conflitos. Cita o consentimento como fundamental para a ação e 
mostra que os grupos hostis, a dificuldade de lidar com as forças irregulares e as questões de 
fronteira, por exemplo, são barreiras para a atuação. Entretanto, não se aprofunda em outras 
razões que sejam empecilho para a intervenção das organizações, bem como fatores que a 
motivam. Assim, as Organizações Internacionais tem grande influência para determinar a agenda 
internacional no que diz respeito a conflitos e intervenções, mas possuem suas próprias regras 
para isso. Deve-se compreender, então, que há diferentes possibilidades para a tomada de decisão 
nesse âmbito. 
 
 
 
 
 12 
A tomada de decisão 
 
Como a agenda internacional é construída? Por que se discute o que se discute? Essas são 
questões comumente debatidas nas Relações Internacionais. Correntes e teóricos do campo já 
manifestaram suas opiniões, atribuindo a esse processo diferentes fatores como protagonistas. 
Argumentos mais realistas focam-se nos interesses de Estados (principalmente potências) e nas 
questões de poder e segurança, colocando-as como “hight politics”. Explicações neoliberais se 
apóiam na idéia de que, no contexto de mundo interdependente atual, a agenda não é hierárquica 
com predominância da segurança (SARFATI, 2005). Grupos de interesse internos são capazes de 
elevar uma temática à discussão internacional e dar-lhe foco. Neste final de século21, 
 
a agenda internacional se apresenta muito diferente. A separação entre high politics e 
low politics deixou de existir e novos itens passaram a ocupar lugar de destaque: meio 
ambiente, narcotráfico, as novas bases da competitividade internacional, direitos 
humanos, conflitos étnico-religiosos, entre outros. Na verdade, as questões relativas à 
segurança estratégica não deixaram de ocupar posição de destaque, mas passaram a ser 
vistas de modo cada vez mais integrado a esses novos temas da agenda internacional 
(SATO, 2000, p.139). 
 
 Adota-se o fim da Guerra Fria como marco visto que este fato se deu como divisor de 
águas na forma de se observar e realizar política internacionalmente. A corrida armamentista e 
sensação de insegurança que os dois blocos viessem a ter fizeram com que o tema da segurança 
fosse isoladamente e incontestavelmente colocado no topo de prioridades. Além disso, a questão 
ideológica é fundamental na percepção da realidade e na orientação das ações e tomada de 
decisão, tendo essa variante, inerente ao período, colaboração total à formação da agenda. O fim 
 
da Guerra Fria teve um papel importante na mudança da agenda internacional. A 
mudança não apareceu de modo tão evidente na composição dessa agenda, mas sim no 
grau de importância atribuída às diversas questões. Isto é, a maioria das questões 
integrantes dessa agenda já existia, no entanto, a maneira pela qual essas questões 
passaram a ser percebidas é que sofreu transformações significativas com o fim da 
Guerra Fria (SATO, 2000, p. 142). 
 
Os Estados ainda são os principais atores, aqueles que possuem personalidade jurídica no 
Direito Internacional e que formam soberanamente as Organizações Internacionais. A 
 
21
 Referente ao século XX (citação do ano 2000). 
 13 
sobrevivência, ou seja, a segurança, ainda é sua preocupação essencial. Entretanto a distância que 
a separa dos outros temas diminuiu22. 
Mesmo dentro de uma área, de uma temática, há hierarquia de assuntos. Assim, o foco 
dado a determinados conflitos em detrimento de outros é também uma questão de agenda 
internacional. Há casos em que o Estado em conflito, mesmo necessitando de ajuda humanitária e 
auxílio político, não recebe intervenção, enquanto outros recebem. Para Kofi Annan23, a era da 
 
globalização trouxe novos desafios para as Nações Unidas, entre eles, o de responder 
satisfatoriamente às crises de natureza humanitária que afetam muitas partes do globo. 
Os meios usados pela Comunidade Internacional em situações de crise humanitária têm 
variado significativamente, e dessa forma, variam também as justificativas para as 
intervenções ou para as omissões. Em alguns casos houve vontade de agir, enquanto 
noutros, não houve (ANNAN apud REGIS, 2006). 
 
Freqüentemente essa certa autonomia das OI’s é questionada e essas são acusadas de 
servirem aos interesses dos mais fortes. A invasão do Iraque por parte dos Estados Unidos, em 
2002, sem a devida autorização da ONU, pode ser dada como um exemplo bastante ilustrativo da 
fragilidade dessas Organizações. Embora a ONU não tenha servido diretamente a esse interesse 
americano, não pôde fazer nada para impedir. 
O processo de tomada de decisão em Organizações pode se dar de formas diferentes. A 
negociação intergovernamental é uma delas. Decisões dentro de organizações são geralmente 
alcançadas através de negociações entre os atores mais poderosos, representando interesses 
divergentes (WILSON; DIIULIO apud RITTBERGER; ZANGL, s/d). São os Estados, 
especialmente os poderosos e seus representantes, que controlam a tomada de decisão24. 
 
22
 Para uma visão mais completa sobre a agenda internacional no pós Guerra Fria, ler ‘A agenda internacional depois 
da Guerra Fria: novos temas e novas percepções’, disponível em 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292000000100007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt, 
acessado em 31 de março de 2010, às 13:00h. 
23
 Kofi Annan, sétimo secretário-geral das Nações Unidas, foi eleito para o mandato 1997-2001 e reeleito para 2002-
2006. Nascido em Gana (África), em 1938, casado e pai de três filhos, Annan serviu à ONU por mais de 30 anos. 
Trabalhou em diversos postos-chave e países. Em dezembro de 2001, Kofi Annan e as Nações Unidas receberam o 
Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para construir um mundo mais pacífico e mais bem organizado. Em 
dezembro de 2006, após dez anos de mandato, Kofi Annan deixou o cargo de secretário-geral das Nações Unidas. 
Assumiu seu posto o sul-coreano Ban Ki-moon. Disponível em < http://www.onu-brasil.org.br/conheca_secret.php>, 
acessado em 9 de junho de 2010, às 20:44h. 
24
 Ao pensar sob essa ótica, pode-se dizer que numa ordem anárquico-realista, os Estados mais fortes buscam poder, 
enquanto os mais fracos procuram se defender contra potenciais ameaças dos mais fortes. Deste modo, por razões 
evidentes, as Intervenções Humanitárias podem ser vistas, pelos mais fracos, como ameaça a sua segurança no 
sistema. Não podemos esperar Intervenções Humanitáriasdos países mais fracos nos mais fortes, elas, se ocorrerem, 
serão sempre dos mais fortes, ou autorizadas por estes (quando feitas por organizações internacionais), nos mais 
fracos. Em outros termos, intervir é mostrar força, é exercer poder (REGIS, 2006). 
 14 
A votação por maioria, um outro modelo de tomada de decisão, é caracterizada pelas 
tentativas de formação de coalizões entre os atores mais relevantes. Já no modelo da escolha 
racional, as organizações políticas calculam à luz de seus interesses os custos e benefícios de 
todas as possíveis opções, antes de escolher a que melhor se aplica a tais interesses. 
Constantemente esses interesses são autônomos com relação aos Estados parte, mesmo aqueles 
mais fortes. Segundo o modelo de procedimentos operacionais padrão, as decisões não são 
resultado de um cálculo custo-benefício de atores racionais, mas o produto de uma rotina de 
procedimentos que é colocada de forma uniforme e recorrente em torno de situações de tomada 
de decisão (ALLISON; ZELIKOW apud RITTBERGER; ZANGL, s/d). De acordo com o 
modelo de políticas burocráticas, a existência de diferentes ramos dentro da administração de 
organizações políticas pode proporcionar diferentes decisões. A decisão se dá pela negociação e 
barganha entre diferentes ramos dentro do aparato burocrático da organização (RITTBERGER; 
ZANGL, s/d). 
 Observa-se que se pode analisar a tomada de decisão através de diferentes lentes, podendo 
essa ter origens diversas25. Assim também se dá no âmbito das intervenções. Os motivos para se 
intervir em algum lugar ou para se negligenciar um conflito em que caiba intervenção podem ter 
diferentes raízes. As intervenções humanitárias, ou melhor, a sua execução, segundo Farrell, é 
definida por aspectos políticos determinados domesticamente e dentro do Conselho de 
Segurança. O autor também afirma que os Estados nos quais se realizariam intervenções 
humanitárias deveriam ser aqueles que promovem matanças e genocídios, e/ou Estado Falidos 
(FARREL apud MATOS, s/d). Martha Finnemore, por sua vez, afirma que o interesse de 
promover uma intervenção humanitária passa pelo contexto internacional que influencia o 
interesse de um Estado em promovê-la (FINNEMORE apud MATOS, s/d). Ayoob entende que 
as decisões referentes às intervenções humanitárias não podem ser objeto da realpolitik. Elas 
configuram, sim, um desejo universal imperativo e não podem ser objeto de escolhas seletivas de 
Estados (AYOOB apud MATOS, s/d, p.8). 
 
 
25
 Mearsheimer e Walt (2003), ao analisar a proximidade entre EUA e Israel, e o interesse do primeiro no segundo, 
afirmam que este não ocorre devido a questões estratégicas ou morais. Os autores argumentam, através de diversos 
exemplos, que há um grupo pró Israel interno, suficientemente forte, que consegue levar seus interesses até o Estado 
em si. Apesar de não ser intervenção humanitária, evidencia-se que a atenção voltada para um outro Estado pode 
surgir de demandas internas. 
 
 15 
Um Estado em apuros na América Central 
 
 
Os olhos foram voltados para o Haiti após o terremoto que afligiu o país em janeiro de 
2010. Governos, OI’s, ONG’s, empresas, artistas, famílias; o mundo se mobilizou para ajudar o 
Estado, então devastado. Mas essa não foi a primeira catástrofe que ali teve lugar, nem a primeira 
intervenção externa. O país coleciona em sua história desastres naturais, pobreza, discórdia racial, 
tiranias, repressão e grande instabilidade política; fatores esses que favorecem a ocorrência de 
episódios violentos. 
Independente em 1804, o Haiti se constituiu como uma exceção no mundo, visto que foi o 
único cujo processo de independência foi conduzido pelos escravos e não pela elite. A fim de se 
livrar do bloqueio comercial a ele realizado – como um tipo de punição por parte de EUA e 
Europa -, que perdurou por 60 anos, o país concordou em pagar à França 150 milhões de francos 
como indenização. A dívida foi posteriormente reduzida para 90 milhões, mas ainda assim foi 
suficiente para desnutrir a economia local e tornar o Haiti o país mais pobre da América Latina. 
Observa-se, portanto, que o início da dívida externa haitiana remonta aos tempos da 
independência26. 
O sistema escravista havia demonstrado a eficácia da violência e da coerção em controlar 
os outros; o preconceito racial inerente ao sistema colonial sobreviveu sob a república negra. A 
elite branca assumiu desproporcionalmente parte do controle político e econômico. 
Historicamente faltaram instituições bem desenvolvidas, burocracias elaboradas, além da 
capacidade de fazer mais do que manter o poder e extrair a riqueza de uma grande base 
camponesa27. A combinação da natureza caótica e personalista da cultura política haitiana com o 
subdesenvolvimento crônico ali existente foi crucial para o surgimento de um terreno fértil para a 
sucessão de déspotas e ditadores28. Exemplos como Dumarsais Estimé (1946-1950) e François 
Duvalier (1957-1971), que poderiam ser considerados como aqueles cuja eleição aparentemente 
refletiu o desejo popular, foram na verdade desprovidos de procedimentos constitucionais. A 
revolta popular que depôs o presidente Jean-Claude Duvalier (1971-1986) demonstrou a rejeição 
do povo haitiano ao parasitário despotismo. Entretanto, a revolta trouxe outra lição importante e 
 
26
 De acordo com Federal Research Division, disponível em <http://lcweb2.loc.gov/frd/cs/> acessado em 30 de maio 
de 2010, às 23:00h. 
27
 Idem. 
28De acordo com Federal Research Division, disponível em <http://lcweb2.loc.gov/cgi-
bin/query/r?frd/cstdy:@field%28DOCID+ht0012%29>, acessado em 10 de junho de 2010, às 11:15h 
 16 
evidenciada em toda a história do Haiti, que é o fato de a violência ser muitas vezes a via 
encontrada para a mudança29. 
Após a queda de Jean-Claude Duvalier – tendo entrado no poder com mandato vitalício - 
nos anos 80, houve uma série de curtos governos: entre fevereiro de 1986 e setembro de 1988, 
foram cinco. Mesmo as forças armadas do Haiti, a instituição mais poderosa do país, sofriam de 
facciosismo, corrupção e um colapso geral da cadeia de comando. Uma nova Constituição foi 
feita em 1987, e em 1990 foi eleito Jean-Bertrand Aristide, com 67% dos votos. Foi retirado do 
poder pouco tempo depois por um golpe militar liderado pelo General Raul Cedras e uma nova 
ditadura dominava o lugar. Com o auxílio dos EUA, voltou ao poder em 1994, mas a onda de 
violência e miséria não teve fim. Aristide prometeu eleições livres dentro de seis meses em 2003, 
mas a intensidade dos violentos protestos da população fez com que o presidente saísse do 
poder30. Em 29 de fevereiro de 2004, o presidente Jean-Bertrand Aristide, 52, foi expulso 
 
do Haiti por tropas franco-estadunidenses. A intervenção foi repudiada pela associação 
dos países do Caribe [CARICOM] que desconheceu os governos títeres impostos. A 
seguir, para legalizar e socializar os custos da ocupação, ela foi entregue à força 
expedicionária da ONU, o que feria sua carta, já que organizada contra a vontade do 
governo haitiano. George Bush propôs e Lula da Silva aceitou incontinente que o Brasil 
comandasse as forças da ONU e enviasse 1.400 soldados ao Haiti. A substituição das 
tropas estadunidenses era urgente devido à resistência à ocupação no Iraque e 
Afeganistão (MAESTRI, 2006, p.5). 
 
 
 Proibiu-se o retorno de Aristide e seus seguidores foram reprimidos. A mobilização contra 
a fraude nas eleições de 2006 fez com que o governo do Brasil, então líder da MINUSTAH31, 
propusesse o reconhecimento imediato da vitória de René Préval32, diante do perigo de 
insurreição popular. Posteriormente, em 7 de maio, Préval tomou posse. O novo presidente do 
Haiti pediu que as tropas de ocupação permanecessem no país enquanto nãose organizasse 
polícia não corrupta. Em face da situação do país, pode-se dizer, portanto, que por prazo 
indeterminado. A declaração registra o medo, por um lado, de golpismo de inspiração 
 
29Idem. 
30Ibidem. 
31
 Página 19 deste trabalho. 
32O favoritismo de René Préval, antigo militante, que concorreu pela independente Plataforma Esperança, registrou o 
amplo rechaço à ocupação, pondo fim às veleidades eleitorais republicanas. Para garantir uma frente anti-Préval, em 
um segundo turno, ou, ao menos, enfraquecer sua vitória, o Conselho Eleitoral Provisório da ONU, sob ordens dos 
estadunidenses, empreendeu sucessivas postergações do pleito e, finalmente, a fraude generalizada, quando da 
votação, em 7 de fevereiro de 2006. De acordo com o Global Security, disponível em 
<http://www.globalsecurity.org/military/ops/victor_squared.htm>, acessado em 10 de junho de 2010, às 15:30h 
 17 
republicana, caso o poder civil se confronte, sem anteparo, com as forças policial-militares, e 
por outro, o temor da agitação que ganhará o país quando a população sentir-se, outra vez, 
traída nas suas expectativas (Idem). 
 No decorrer da história haitiana, ocorreram algumas intervenções. Em 1915 os EUA 
realizaram uma intervenção a fim de restabelecer a democracia. As tropas americanas ocuparam 
o país por dezenove anos, e essa ocupação pouco colaborou para o desenvolvimento local 
(CORRÊA, s/d). 
 Depois do golpe militar que tirou Aristide do poder meses após tomar posse, em 1990, a 
Operação Victor Squared (setembro de 1991) envolveu a evacuação de cidadãos americanos do 
Haiti. Estima-se que entre 300 e 500 haitianos foram mortos nos dias seguintes ao golpe de 
setembro, e 3000 nos três anos seguintes. O golpe criou um grande êxodo de haitianos, e a 
Guarda Costeira americana resgatou um total de 41.342 haitianos entre 1991 e 1992, mais do que 
o número de refugiados resgatados nos 10 anos anteriores. A operações Safe Harbor e Able 
Manner ocorreram nessa ocasião. Em 1993 também foram realizadas operações em águas que se 
localizam entre Haiti e Cuba, na passagem de Barlavento, para interditar imigrantes haitianos33. 
Essa operação prosseguiu até 1994. 
Em 1994, como supracitado, os EUA novamente participaram. Apesar de a intervenção 
ter trazido de volta Aristide ao poder, não foi suficiente para criar uma estrutura governamental 
competente. Algumas pessoas envolvidas com Aristide, e o próprio Aristide, afirmaram que o que 
se passava naquele momento no Haiti era um golpe contra o Estado haitiano, legitimado pelas 
forças internacionais (CORRÊA, s/d). A chamada Operation Uphold Democracy aconteceu. Na 
realidade os EUA começaram a planejar a Operation Uphold Democracy em agosto de 1994. O 
grupo teve que fazer dois planos diferentes: a entrada permissiva no Haiti (Operation Uphold 
Democracy), ou uma entrada forçada (Operation Restore Democracy). Os planos para a 
Operação Restauração da Democracia pararam quando as negociações do ex-presidente Jimmy 
Carter com o general Raul Cedras tiveram sucesso. A operação desenvolveu atividades políticas, 
militares, diplomáticas e humanitárias. Em 31 de março de 1995, os Estados Unidos transferiram 
a responsabilidade para funções de manutenção da paz das Nações Unidas34. 
 
33
 De acordo com o Global Security, disponível em 
<http://www.globalsecurity.org/military/ops/victor_squared.htm>, acessado em 18 de junho de 2010, às 19:30h. 
34
 De acordo com o Global Security, disponível em 
<http://www.globalsecurity.org/military/ops/victor_squared.htm>, acessado em 10 de junho de 2010, às 15:30h. 
 18 
A United Nations Mission in Haiti (UNMIH) foi originalmente criada pela 
 
Resolução do Conselho de Segurança 867 (1993), de 23 de Setembro de 1993, para 
ajudar a implementar certas disposições do Acordo de Governos Island, assinado pelas 
partes do Haiti, em 3 de Julho de 1993. Seu mandato foi para ajudar na modernização 
das forças armadas do Haiti e que institui uma nova força policial. No entanto, devido à 
não colaboração das autoridades militares haitianas o UNMIH não pôde ser totalmente 
implantado naquele tempo e realizar o seu mandato35. 
 
 
Em 31 de março de 1995, então, assumiu a UNMIH, com 1° de março de 1996 como 
prazo para a conclusão, depois que um novo presidente tomasse posse36. Após a saída de 
Aristide, instaurou-se uma operação multifuncional no Haiti. Posteriormente, de acordo com a 
Resolução 1063 (1996) do Conselho de Segurança37, foi criada a UNSMIH (United Nations 
Support Mission in Haiti). Seus objetivos eram: ajudar o Governo na profissionalização da 
polícia; na manutenção de um ambiente seguro, propício estável para o sucesso dos esforços para 
estabelecer e formar uma força policial nacional eficaz e, para coordenar as atividades do sistema 
das Nações Unidas na promoção do desenvolvimento institucional; e a reconciliação nacional e 
reabilitação econômica. Seu mandato expirou em julho de 199738. 
A próxima intervenção no país foi a UNTMIH (United Nations Transition Mission in 
Haiti). Sua duração foi de agosto a novembro de 1997. Foi estabelecida com base num relatório 
de julho de 1997 pelo Secretário-Geral ao Conselho de Segurança (S/1997/564). No relatório, o 
Secretário-Geral afirmou que o Haiti tinha tomado passos significativos para frente. No entanto, o 
país continuou com assustadores desafios políticos e econômicos. Os trabalhos buscavam 
reformas necessárias para fortalecer as instituições democráticas, gerar crescimento econômico e 
criar empregos. Avançou-se também em relação à formação da nova força policial. No entanto, o 
progresso foi lento e o Secretário-Geral compartilhou com a opinião de líderes políticos do Haiti 
 
35
 Disponível em <http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/past/unmihmandate.html>, acessado em 10 de junho 
de 2010, às 15:20h. 
36
 As eleições presidenciais foram realizadas com sucesso em 17 de dezembro de 1995 e a transferência de poder 
para o novo presidente teve lugar no dia 07 de fevereiro de 1996. Após a recepção do pedido do presidente do Haiti, 
o mandato da UNMIH foi prorrogado por resolução do Conselho de Segurança 1048 (1996) para o período final, até 
30 de junho de 1996. Disponível em <http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/past/unmihmandate.html>, 
acessado em 10 de junho de 2010, às 16:00h. 
37
 A Resolução encontra-se em <http://daccess-dds-
ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N96/162/13/PDF/N9616213.pdf?OpenElement>, acessado em 10 de junho de 2010, às 
15:30h. 
38
 Disponível em < http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/past/unsmih.htm>, acessado em 10 de junho de 
2010, às 16:00h. 
 19 
que, sem constante apoio da comunidade internacional, não seria possível lidar com incidentes 
graves, com risco de deterioração da situação de segurança39. 
 Após a UNTMIH, a MIPONUH (United Nations Civilian Police Mission in Haiti) foi a 
responsável pelo Haiti. Em oposição às missões de paz anteriores, esta não possuía componente 
militar. Sua missão era continuar o trabalho das Nações Unidas para apoiar a polícia nacional 
haitiana e contribuir para sua profissionalização. Seu mandato foi de dezembro de 1997 a março 
de 200040. 
Em 22 de março de 2004 ela foi nomeada Operation Secure Tomorrow. Essa força 
interina multinacional, realizada de acordo com a Resolução 1529 do Conselho de Segurança, 
então liderada pelos EUA, contava com 3.300 pessoas dos EUA, Chile, França e Canadá. 
A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH41) foi 
estabelecida em 1° de junho de 2004, através de uma resolução do Conselho de Segurança42, e 
sucedeu a operação anterior, com liderança americana. Tendo determinado que a situação no 
 
Haiti continua a constituir uma ameaçapara a paz internacional e a segurança na região 
e agindo sob o capítulo VII da Carta das Nações Unidas, o Conselho de Segurança, 
através da sua resolução 1542 de 30 de abril de 2004, decidiu estabelecer a Missão de 
Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH) e solicitou que a autoridade 
fosse transferida da Força Multinacional Provisória (MIF), autorizado pelo Conselho de 
Segurança em Fevereiro de 2004, para a MINUSTAH, em 1 de Junho de 200443. 
 
O Brasil é o país que chefia essa missão, que até os dias de hoje permanece no Haiti. Ela 
foi fundamental no auxílio pós-terremoto de janeiro de 2010. O mandato original da MINUSTAH 
foi estabelecido para a criação de um ambiente seguro e estável, de forma a promover o processo 
político, fortalecer as instituições do governo do Haiti, assim como promover e proteger os 
direitos humanos44. 
 
 
 
39
 Disponível em <http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/past/untmih.htm>, acessado em 10 de junho de 
2010, às 15:25h. 
40
 Disponível em <http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/past/miponuh.htm>, acessado em 10 de junho de 
2010, às 15:45h. 
41
 Do francês “Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti”. 
42
 A resolução pode ser lida em <http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/1542%282004%29>, 
acessado em 5 de junho de 2010, às 20:00h. 
43
 Disponível em <http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/minustah/mandate.shtml>, acessado em 10 de junho 
de 2010, às 16:15h. 
44
 Mais informações em <http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/minustah/mandate.shtml>, acessado em 19 
de junho de 2010, às 23:15h. 
 20 
Os caminhos da ex-colônia portuguesa 
 
 Portugal estabeleceu a “Guiné Portuguesa” em 1446, mas apenas algumas relações foram 
constituídas antes de 1600. Em 1630 formou-se uma capitania geral, que deu início à 
intensificação da exploração. Guineenses eram levados ao ocidente – Europa e posteriormente 
Américas - para realizar trabalho escravo, atividade que predominou até o século XIX. 
Posteriormente caracterizou-se como um centro comercial. Disputas com outros países como 
França e Grã-Bretanha fizeram com que Portugal perdesse parte do território originalmente 
ocupado45. O interesse britânico na região em muito enfraqueceu após o fim do seu comércio 
escravo, em 1807. Como os franceses estabeleceram a Guiné Francesa, complicações 
concernentes às fronteiras eram comuns. Duas séries de negociações (em 1886 e 1902-5) 
puseram fim a essas questões, definindo em um acordo os limites fronteiriços46. 
 Movimentos nacionalistas surgiram por toda a África na década de 1950, e não foi 
diferente em Guiné-Bissau. Em 1956, Amílcar Cabral e Raphael Barbosa fundaram o PAIGC - 
Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde. Após tentativas mais pacíficas, uma 
rebelião armada foi efetivamente estabelecida contra o domínio português em 196347. Com o 
apoio da URSS, China e Cuba, o PAIGG conseguiu quebrar a resistência portuguesa - após o 
assassinato de Amílcar, que ocorrera no mesmo ano – e declarar unilateralmente a independência 
em 24 de setembro de 1973. O novo país foi admitido pela ONU no mesmo ano, mas Portugal 
reconheceu a independência somente em 10 de setembro de 1974 após a queda da ditadura 
(Revolução dos cravos). Luís de Almeida Cabral (o irmão de Amílcar Cabral) tornou-se o 
 
primeiro presidente da Guiné-Bissau, admitida nesse mesmo ano nas Nações Unidas. 
Embora Portugal tivesse recusado dar ao mesmo tempo a independência às ilhas do 
Cabo Verde e a Guiné-Bissau (a independência do Cabo Verde teve lugar apenas em 
1975), os dois países mantiveram o PAIGC como partido político comum durante cinco 
anos. Vindo Cabo a transformar o PAIGC em PAICV, após o golpe de estado de 14 de 
Novembro de 1980 na Guiné-Bissau, na sequência da qual caiu por terra o projecto e a 
política de unidade dos dois países e povos. Aquando da independência os indicadores 
socioeconómicos eram catastróficos: apenas 5% da população podia ler, a esperança de 
vida era de 35 anos, 45% das crianças morriam antes da idade de 5 anos. Na sequência 
da guerra, a produção de arroz tinha caído de 70% e teve de ser importado pela primeira 
 
45
 Disponível em < http://www.state.gov/r/pa/ei/bgn/5454.htm> , acessado em 16 de setembro de 2010, às 22:40h. 
46
 Disponível em < http://www.historyworld.net/wrldhis/PlainTextHistories.asp?historyid=ad46>, acessado em 16 de 
setembro de 2010, às 23:00h. 
47
 Disponível em < http://www.anpguinebissau.org/historia/historia-guine-bissau/historia-da-guine-bissau>, acessado 
em 16 de setembro de 2010, às 23:25h. 
 21 
vez no partido de Estado com uma linha de condução socialista. Tomou o controlo da 
economia e eliminou sistematicamente os seus48. 
 
 
 Um golpe trouxe ao poder João Bernardo Vieira. Primeiramente atuou através de um 
conselho revolucionário e, em seguida, a partir de 1984, através de um Conselho de Estado 
apoiado por uma assembléia de 150 membros nomeados. Em 1991, um sistema multipartidário 
foi introduzido em uma nova Constituição. Dez partidos de oposição foram registrados antes das 
eleições, essas realizadas em 1994. O PAIGC vence 64 dos 100 assentos na nova Assembléia, 
mas na corrida para a presidência Vieira derrota, por pouco, Kumba Ialá, líder do Partido da 
Renovação Social49. 
 Em 1998 um clima de grande tensão foi estabelecido, após o Presidente Nino Vieira (João 
Bernardo) ter demitido seu comandante de exército Ansumane Mane. Começou a luta entre os 
partidários do general e forças leais ao governo. O Senegal mandou tropas em apoio a Vieira e 
centenas de pessoas morreram. A violenta guerra civil deslocou milhares de pessoas de suas casas 
e devastou a já frágil economia do país, baseada em agricultura de subsistência, pesca e 
exportações de castanha de caju50. Em agosto de 1998, um cessar o fogo foi declarado, mas em 
outubro de 1998 os combates retomavam. Em maio de 1999, a Junta Militar venceu o conflito. 
Após ter exilado Nino Vieira em Portugal, Malam Bacai Sanha – antes Presidente da Assembléia 
- se estabeleceu como Presidente temporário51. Esse conflito foi responsável pela presença do 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha no país, que lá se encontra desde 1998. Nessa época, a 
organização se concentrava em responder às necessidades das vítimas da guerra civil 
que acontecia no país, em particular ajudando a população civil, com as visitas às 
pessoas privadas de liberdade e o restabelecimento de contato entre familiares 
separados pelo conflito. Atualmente, o CICV continua realizando atividades em favor 
das pessoas detidas e promovendo o direito internacional humanitário entre as 
autoridades políticas e as forças armadas de Guiné-Bissau. No norte do país, o CICV 
presta assistência às populações residentes e aos refugiados procedentes de Casamance, 
região do Senegal afetada pela violência armada. Com essa assistência, o CICV facilita 
o acesso a água potável e sistemas de saneamento adequados e apóia a retomada de 
certas atividades econômicas locais (CICV, 2010). 
 
 
48
 Idem. 
49Disponível em < http://www.historyworld.net/wrldhis/PlainTextHistories.asp?historyid=ad46>, acessado em 17 de 
setembro de 2010, às 1:15h. 
50
 Disponível em < http://www.globalsecurity.org/military/library/news/2003/08/mil-030825-irin09.htm>, acessado 
em 20 de setembro de 2010, às 20:45h. 
51
 Disponível em <http://www.anpguinebissau.org/historia/historia-guine-bissau/historia-da-guine-bissau>, acessado 
em 20 de setembro de 2010, às 23:00h. 
 22 
 Como evidenciado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, um movimento 
separatista senegalês tem muito afetado o país. O Movimento das Forças Democráticas daCasamança (MFDC) busca a independência da região desde 1982, e tem usado o território 
vizinho do sul, Guiné-Bissau, como suporte. Além disso, o presidente João Bernardo Vieira foi 
acusado de apoiar uma das facções rivais52. A constante invasão do território guineense, trazendo 
banditismo e violência fez com que as fronteiras fossem fechadas em 2000. Um grande número 
de refugiados se direcionou à Guiné-Bissau53. 
 Em substituição à presidência temporária, Koumba Yala foi eleito presidente em fevereiro 
de 2000, conquistando 72% dos votos em uma votação que, de forma geral, foi considerada como 
livre e justa. Entretanto, as tensões não cessaram e, em novembro de 2000, Ansumane Mane foi 
assassinado por tropas em uma tentativa de golpe54. Na sequência da dissolução da Assembléia 
Nacional Popular, em novembro de 2002 pelo Presidente, este último nomeou um 
governo de iniciativa presidencial, responsável pela gestão dos negócios correntes e a 
preparação de eleições. A vida política, então, era marcada por uma contestação 
permanente da oposição e uma situação conflituosa no plano jurídico – institucional 
onde surgiam acusações ligadas ao controlo dos meios de comunicação, as intimidações 
de oponentes, a não promulgação da nova Constituição, aprovada pela Assembléia 
Nacional Popular, e a nomeação pelo Presidente da República do presidente do 
Supremo Tribunal de Justiça55. 
 Um subseqüente golpe afastou Yala do poder em 2003. A Carta de Transição Política foi 
adotada e, assim, eleições foram realizadas de acordo com a data prevista e foram ganhas pelo 
PAIGC. As eleições presidenciais, que tiveram lugar com os escrutínios de 19 de Junho (1ª volta) 
e 24 de Julho (2ª volta) de 2005, proporcionaram a eleição de Nino Vieira ao cargo de 
Presidente da República56. 
 No dia 2 de março de 2009, o Presidente Nino Vieira foi assassinado aos 70 anos de idade 
em sua residência, um dia depois da morte do general Na Waié, que faleceu num atentado à 
 
52
 As causas do conflito e sua perpetuação são complexas. Questões citadas como contribuintes incluem fatores 
históricos, econômicos negligência, falta de oportunidades de emprego para a juventude, as questões de direitos a 
terra, e desrespeito às normas culturais indígenas. O conflito teve efeitos negativos em praticamente todos os 
aspectos da vida em Casamança: o meio ambiente tem degradado devido à exploração descontrolada ou negligência, 
a vida normal da aldeia e sistemas de apoio social têm sido interrompidos, a pobreza aumentou, as cidades estão 
superlotadas, escolas e postos de saúde foram fechados ou deslocados e os investimentos e o turismo diminuíram. 
Tradução livre do inglês. Disponível em http://www.globalsecurity.org/military/world/para/mfdc.htm, acessado em 
25 de setembro de 2010, às 18:45h. 
53
 Um censo do ACNUR em 2002 contabilizou cerca de 7.000 senegaleses vivendo no norte de Guiné-Bissau. Idem. 
54
 Disponível em <http://www.guine-bissau.net/ue/pt/historia.htm>, acessado em 21 de setembro de 2010, às 00:20h. 
55
 Idem. 
56
 Disponível em <http://www.guine-bissau.net/ue/pt/historia.htm>, acessado em 22 de setembro de 2010, às 21:00h. 
 23 
bomba no Quartel- General das Forças Armadas57. Eleições foram realizadas em dois turnos nos 
meses de junho e julho de 2009. Malam Bacai Sanha derrotou Kumba Yala e assumiu então a 
Presidência58, acompanhada dos desafios que o país carrega. 
 Não foi realizada no país nenhuma operação de peacekeeping da ONU, em nenhum 
período. Uma pequena intervenção norte-americana, mesmo que não diretamente no país, foi 
feita. Em 10 de junho de 1998, o Comando Europeu dos Estados Unidos enviou forças para 
Dakar, no Senegal, em resposta às complicações na situação em Guiné-Bissau. A Joint Task 
Force Pastor Venture foi formada, com o objetivo de “melhorar a capacidade dos militares de 
garantir a segurança dos cidadãos dos EUA na região”. A força total foi de cerca de 130 
funcionários. O Comando ordenou que as forças voltassem às suas bases em 15 de junho e a 
operação terminou em 7 de junho de 199859. 
 Uma Comissão de peacebuilding60 foi estabelecida no país em 2007, a United Nations 
Peace-Building Support Office in Guinea-Bissau (UNOGBIS)61. Em carta endereçada a Ban Ki-
Moon62, em julho de 2007, o Primeiro Ministro Martinho Dafa Cabi chamou atenção para as 
necessidades do país, caracterizado por ele como “um frágil Estado no qual a estabilidade está 
comprometida pela inabilidade do Estado de prover os serviços sociais mínimos e atender 
 
57
 Disponível em < http://www.africanidade.com/articles/2238/1/Morte-de-Nino-Vieira-um-golpe-de-Estado-
quotnAo-assumidoquot-diz-oposiAAo/Paacutegina1.html>, acessado em 22 de setembro de 2010, às 22:00h. 
58Disponível em <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1246816-5602,00-
CANDIDATO+DO+GOVERNO+VENCE+ELEICOES+PRESIDENCIAIS+EM+GUINEBISSAU.html>, acessado 
em 22 de setembro de 2010, às 22:15h. 
59
 Disponível em <http://www.globalsecurity.org/military/ops/shepherd_venture.htm>, acessado em 05 de outubro de 
2010, às 20:15h. 
60
 A Comissão de Peacebuilding desempenha um papel único em que (1) reúne todos os atores relevantes, incluindo 
os doadores internacionais, as instituições financeiras internacionais, governos nacionais, os países contribuintes de 
tropas, (2) recursos de triagem e (3) aconselha e propõe estratégias integradas para a construção da paz pós-conflito e 
recuperação e, eventualmente, destacando as lacunas que ameaçam minar a paz. Tradução livre do inglês. Disponível 
em <http://www.un.org/peace/peacebuilding/> , acessado em 01 de outubro de 2010, às 19:45h. 
61
 Uma resolução do Conselho de Segurança de 1999 (S/1999/232) já falava sobre a necessidade do escritório para 
harmonizar o ambiente pós-conflito, convocando inclusive as instituições de Bretton Woods para auxiliar o 
UNOGBIS. Entretanto, o primeiro mandato tem data de 2006. O agora chamado UNIOGBIS (United Nations 
Integrated Peace-Building Office in Guinea-Bissau) substituiu o escritório anterior de acordo com a demanda da 
Resolução 1876 (2009). Disponível em <http://unogbis.unmissions.org/>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 
20:00h. 
62
 Ban Ki-moon, oitavo secretário-geral da ONU, foi eleito para o mandato 2007-2011. Nascido na Coréia do Sul em 
1944, o atual secretário-geral é casado e pai de três filhos. O atual secretário-geral das Nações Unidas recebeu 
inúmeros prêmios nacionais e internacionais. Em 1975, 1986 e novamente em 2006, Ban Ki-moon recebeu a Ordem 
do Mérito, máxima distinção da República da Coréia, pelos serviços prestados ao seu país. Disponível em < 
http://www.onu-brasil.org.br/conheca_secret.php>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 19:55h. 
 24 
despesas essenciais” 63. O Primeiro Ministro queixou-se das condicionalidades do FMI e da 
dificuldade em conseguir orçamento para a reconstrução do país. 
 Em suas palavras: 
 
“Se a comunidade internacional falhar em prover a assistência requerida, Guiné-Bissau 
corre o risco de continuar em espiral decadente, com todas as conseqüências sociais e 
políticas relativas que alguém possa imaginar em termos de ameaça à segurança 
humana e paz, assim como em toda a sub-região”64. 
 
 É um claro, direto e intenso pedido de socorro de um líder político que vê seu Estado à 
beira da falência. Ban Ki-Moon encaminhou o pedido de Cabi ao Presidente do Conselho de 
Segurança em novembro do mesmo ano65. Guiné-Bissau foi colocado na agenda em 19 de 
dezembro de 200766. 
Faz-se necessário realizar uma busca entre os documentos oficiais das Nações Unidas, a 
fim de constatar a discussão da situação em Guiné-Bissau na Organização em face da aparente 
negligência. Encontram-se 38 reports do Secretário-Geral (de 1999 à 2010) e 5 resoluções do 
Conselho de Segurança:Resolução 1216 (1998), Resolução 1233 (1999), Resolução 1325 (2000) 
e Resolução 1580 (2004)67 e Resolução 1876 (2009). Encontram-se também 15 resoluções da 
Assembléia Geral referentes a Guiné-Bissau68. Nota-se que essas são encontradas com mais 
frequência em datas próximas a independência. A Assembléia manifesta seu apoio à 
independência e demonstra preocupação com o desenvolvimento do país, bem como com 
situações que poderiam desestabilizar a paz (a exemplo, uma ocupação portuguesa em Guiné-
Bissau em 197369). As resoluções do Conselho demandam esforço para resolver as questões do 
 
63
 A carta em que o Primeiro Ministro de Guiné-Bissau faz requisição para que o país seja incluído na agenda da 
Comissão pode ser lida em <http://www.un.org/peace/peacebuilding/Country-Specific%20Configurations/Guinea-
Bissau/country%20request%20GB.pdf>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 20:00h. 
64
 Tradução livre do inglês. Disponível em <http://www.un.org/peace/peacebuilding/Country-
Specific%20Configurations/Guinea-Bissau/country%20request%20GB.pdf>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 
20:00h. 
65
 O documento feito por Ban Ki-Moon, endereçado ao Presidente do Conselho de Segurança, pode ser lido em 
<http://www.un.org/peace/peacebuilding/Country-Specific%20Configurations/Guinea-
Bissau/GB%20letter%20of%20referral.pdf>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 20:30h. 
66
 Disponível em <http://www.un.org/peace/peacebuilding/guinea-bissau.shtml>, acessado em 01 de outubro de 
2010, às 20:35h. 
67
 Disponível em < http://www.unogbis.org/docs/arquivos-en.html>, acessado em 1 de outubro de 2010, às 20:45h. 
68
 As resoluções da Assembléia Geral podem ser encontradas em <http://www.un.org/documents/resga.htm> , 
acessado em 1 de outubro de 2010, às 20:50h. 
69
 Resolução XXVIII da Assembléia Geral, de 2 de novembro de 1973. Disponível em 
<http://www.un.org/Depts/dhl/resguide/r28.htm>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 20:45h. 
 25 
país e encarregam o Representante do Secretário-Geral de mandar relatórios e acompanhar as 
ações da missão. 
Em abril de 2010, o atual Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior e outro membro do 
governo ficaram um período de tempo detidos pelas forças armadas. O episódio e outras 
complicações no país fizeram com que Guiné-Bissau reclamasse atenção e ajuda internacional 
em reunião da Assembléia Geral70. O Conselho de Segurança, em julho de 2010, chamou o país a 
realizar uma reforma na segurança71. O UNIOGBIS mantém suas atividades no país72. 
 
Uma visão crítica dos fatos 
 
 
Após levantamento histórico das situações em Guiné-Bissau e no Haiti, é proveitoso 
realizar uma comparação entre os dois casos, evidenciando similaridades e diferenças. 
No percurso dos dois Estados observa-se falta de representatividade política, causadora de 
inúmeras crises, momentos de tensão e ocorrência de governos curtos. A democracia não é 
exemplar; eleições foram fraudadas, realizadas sem o padrão procedimental necessário, e a 
população ficou diversas vezes submetida a líderes que não escolheu. Ressalta-se a importância 
dada por Brown (1996) à existência de maus líderes e de transições políticas vindas de forma 
autoritária para a ocorrência de conflitos internos. Falta de instituições robustas e estruturas mais 
complexas em muito contribuíram para o impedimento de um bom funcionamento das relações 
políticas e sociais - relação de causalidade também identificada em Brown (1996) ao abordar as 
causas desse tipo de conflito. 
Outro fator importantíssimo, provocador de crises, é o faccionismo, corrupção e divisão 
dentro do exército. A coesão dessa instituição tem grande participação na coesão do país. Por 
esse motivo, esses dois Estados sofreram com golpes militares, oriundos de insatisfações nas 
forças armadas. Os fatores socioeconômicos em muito se assemelham nos dois casos. Ambos 
carregam em sua história escravidão e exploração por parte dos colonizadores, Portugal em 
Guiné-Bissau e França no Haiti. Não se desenvolveram economicamente e, em conseqüência, não 
 
70Disponível em <http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=36189&Cr=West+Africa&Cr1=&Kw1=guinea-
bissau&Kw2=&Kw3=>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 20:40h. 
71
 Disponível em <http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=35397&Cr=bissau&Cr1=&Kw1=guinea-
bissau&Kw2=&Kw3=> acessado em 01 de outubro de 2010, às 20:45h. 
72
 Disponível em < http://unogbis.unmissions.org/Default.aspx?tabid=440>, acessado em 01 de outubro de 2010, às 
20:45h. 
 26 
conseguiram construir para sua população uma estrutura suficiente para prover o bem comum. 
Educação e saúde, por exemplo, possuem baixos índices, e o narcotráfico é intenso. Ocorrência 
de guerra civil é também comum nos dois países. Assim, como de costume em conflitos armados, 
foi deixado aos guineenses e haitianos um legado de destruição física e institucional e muito 
trabalho a ser feito. 
Ao observar os mandatos das intervenções de peacekeeping realizadas no Haiti, percebe-
se que abarcavam diferentes focos, dentre eles: restabelecimento da democracia, modernização 
das forças armadas e instituição de força policial efetiva, desenvolvimento institucional 
(principalmente fortalecendo a democracia), reconciliação nacional, reabilitação econômica, 
geração de empregos, observação de eleições e proteção dos direitos humanos. Os problemas que 
essas missões e intervenções buscavam resolver indubitavelmente podem ser identificados 
também na história guineense. Nota-se que, mesmo em face dos pontos comuns, não é possível 
dizer que ações mais complexas como as feitas no Haiti foram igualmente feitas em Guiné-
Bissau, que os dois países receberam a mesma resposta internacional. 
 As resoluções da Assembléia Geral e do Conselho de Segurança mostram que não houve 
total negligência quanto à Guiné-Bissau, que o tema foi discutido. Entretanto, observa-se que o 
país teve que chamar a atenção da ONU para receber auxílio mais efetivo. A missão foi 
estabelecida após o período de maior crise, em caráter reconstrutivo. As resoluções da 
Assembléia Geral remontam ao período da independência e década seguinte, desaparecendo a 
partir da década de 90. Compara-se a quantidade de reports do Secretário Geral (38), com a 
quantidade de resoluções do Conselho (5), ou seja, os documentos relevantes, realmente 
vinculativos do organismo. Parece pouco o número de resoluções, para o caso de um país que 
enfrenta sérias dificuldades desde sua independência. Lembra-se que a existência de diferentes 
ramos dentro da administração de organizações políticas - de acordo com o modelo de políticas 
burocráticas - pode proporcionar diferentes decisões (RITTBERGER; ZANGL, s/d). Os 
Secretários-Gerais da ONU, desde a independência de Guiné-Bissau, demonstraram grande 
preocupação com o caso. Partiram de homens nesse cargo iniciativas importantes, como a 
formação do UNOGBIS. Entretanto suas competências são diferentes e muitas vezes dependem 
do Conselho de Segurança para medidas mais concretas. 
Como exposto na segunda seção deste artigo, questões relativas a operações de paz e 
intervenções são complicadas por lidarem com a soberania nacional e o consentimento. Além 
 27 
disso, lembrando Brown (1996) ao discorrer sobre os impactos internacionais de conflitos 
internos, quando claramente há agressão, como em violações fronteiriças interestatais, as 
respostas internacionais costumam ser mais rápidas. Em conflitos internos os atores 
internacionais são mais cautelosos, embora os critérios não sejam muito objetivos. A exemplo, 
retoma-se a posição de José Joaquim Gomes Canotilho, segundo a qual a intervenção só se 
justifica quando se estiver em presença de situações existenciais coletivas onde não seja possível 
manter

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