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CARVALHO, MAGNONI & PASSOS (orgs) economia politica da comunicação digitalização e sociedade

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ECONOMIA POLÍTICA DA 
COMUNICAÇÃO:
DIGITALIZAÇÃO E SOCIEDADE
Juliano Maurício de Carvalho 
Antonio Francisco Magnoni 
Mateus Yuri Passos 
(organizadores) 
Economia política da comunicação: 
digitalização e sociedade
São Paulo, 2013 
Conselho editorial: 
 
Dasniel Oliveira Perez 
Universidad de La Habana, Cuba 
Francisco Sierra Caballero
Universidad de Sevilla, Espanha
Martín Alfredo Becerra
Universidad Nacional de Quilmes, Argentina
Economia política da comunicação : digitalização e 
sociedade [recurso eletrônico] / Juliano Maurício
de Carvalho, Antonio Francisco Magnoni e Mateus
Yuri Passos (organizadores). - São Paulo: 
Cultura Acadêmica, 2013
220 p. 
ISBN 9788579834653 
Inclui bibliografia
1. Comunicação. 2. Economia política. 3.
Digitalização dos meios. I. Carvalho, Juliano Maurício
de. II. Magnoni, Antonio Francisco. III. Passos, 
Mateus Yuri.
070.449
E22
Índice
Digitalização e Sociedade 
Antonio Francisco Magnoni 
Juliano Maurício de Carvalho 
Mateus Yuri Passos 
 7
Prefácio 
César Bolaño 
16
A integral digitalização das indústrias culturais: 
tensões e reestruturações em andamento
Luis A. Albornoz 
20
A convergência digital e os desatinos do 
sistema mundo capitalista
Ruy Sardinha Lopes 
42 
Indústria Cultural, Economia Política da 
Comunicação e Televisão Pública 
Vivianne Lindsay Cardoso 
Juliano Maurício de Carvalho 
51 
Possibilidades da interatividade da TV
digital no campo da educação 
Valério Cruz Brittos 
Nadia Helena Schneider 
78
A Economia Política do Coronelismo Eletrônico: 
categorização dos líderes políticos proprietários de 
radiodifusão em Minas Gerais 
Luiz Felipe Ferreira Stevanim
Suzy dos Santos
92
A reedição do difusionismo diante da brecha digital:
o desafio das regiões na sociedade da informação
Francisco Javier Moreno Gálvez 
110
O local é o diferencial
O papel do rádio na era da conexão planetária
Leandro Ramires Comassetto
138
A digitalização, a convergência
e as novas interfaces do Rádio
Antonio Francisco Magnoni
Juliana Gobbi Betti
153
Clivagem da democracia no plano
digital da esfera pública
Juliano Maurício de Carvalho
André Luís Lourenço
172
Sistema Público de Comunicação: 
por uma mídia de todos
Adilson Vaz Cabral Filho
192
Gestão Pública de Informação do Governo Federal
Angela Maria Grossi de Carvalho
205
Biografia dos autores
215
7
Apresentação: 
Digitalização e Sociedade
Não é possível pensar em características da espécie humana sem considerar a 
capacidade de produzir artifícios e artefatos, que ela desenvolveu durante seus 
vários trajetos evolutivos. A diferença mais visível em relação aos demais seres 
da Natureza é a capacidade inata que o Homem adquiriu, de pensar, de falar, 
de criar relações sociais perenes e, sobretudo, de criar artefatos e de produzir 
continuamente bens culturais, materiais e simbólicos. A atual espécie Homo 
sapiens sapiens foi sendo talhada em seu longo caminho pelo Homo loquens, o 
primeiro hominídeo falante, depois pelo Homo faber, um hominídeo habilidoso 
que aprendeu a usar as mãos para fazer objetos práticos e abstratos.
Ao conseguir desenvolver as primeiras ferramentas, os indivíduos humanos 
puderam multiplicar a força e a agilidade corporal e foram aprendendo a 
sistematizar as técnicas que lhes deram poder crescente sobre o mundo natural. 
Ao manejar o fogo, puderam resistir ao frio, iluminar a escuridão, cozer os alimentos 
e a argila e, mais tarde, forjar metais. Graças aos artefatos desenvolveram a 
agricultura, domesticaram animais e processaram recursos minerais e biológicos. 
Também puderam resguardar o futuro, com o domínio estratégico de sistemas 
de armazenagem e de processos de conservação de víveres. Com a produção e a 
conservação de excedentes começaram a realizar trocas, inventaram o comércio 
e também o dinheiro. 
A criação da escrita deu início ao ciclo de aperfeiçoamento de suportes para 
registro de informações, das tecnologias e sistemas de comunicação. O domínio da 
escrita inaugurou a comunicação não presencial e permitiu que os conhecimentos 
e culturas rompessem as barreiras da distância e do tempo. Com a escrita, o 
armazenamento e a circulação das informações tornaram-se independentes da 
memória, da presença e da existência dos indivíduos. 
O homem da era moderna conseguiu juntar a ciência e as técnicas amadurecidas 
desde o Renascimento europeu para produzir máquinas e motores mais poderosos 
do que qualquer ferramenta criada em eras anteriores, pelas diversas sociedades 
humanas estabelecidas ao redor do planeta. Desde as últimas décadas do século 
XVIII, período que Milton Santos denominou de “momento da criação do meio 
técnico, que substituiu o meio natural”, começaram a ser instaladas as primeiras 
indústrias modernas na Inglaterra. A industrialização acelerou a urbanização 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 8
populacional, as cidades industriais em pouco tempo foram transformadas em 
metrópoles caóticas. 
Dos teares aos primeiros motores a vapor, a indústria moderna iniciou o século 
XIX com a incorporação de maquinário e força motriz ao trabalho coletivo das 
fábricas, ação sistemática e evolutiva que revelaria, desde a segunda revolução 
industrial, a surpreendente capacidade técnica da burguesia para liderar a produção 
a uma diversidade inumerável de bens materiais e, mais tarde, simbólicos. A 
educação, a cultura e o entretenimento adquiriram crescente importância nas 
sociedades urbano-industriais e houve um rápido aumento do número de pessoas 
alfabetizadas e de trabalhadores assalariados, fatores que estimularam um maior 
consumo de mercadorias e de informações baratas e atualizadas sobre o cotidiano 
social. 
A imprensa e a publicidade viabilizaram a proliferação de uma nova e lucrativa 
atividade de produção e oferta de bens simbólicos para as diferentes camadas 
populacionais urbanas. A tecnologia de mecanização e motorização desenvolveu 
novas impressoras, que aposentaram a prensa tipográfica manual, utilizada 
desde Gutenberg. Também estimulou a organização empresarial de gráficas e 
de editores de jornais. 
A expansão do trabalho não material ocorreu em um tempo simultâneo ao 
desenvolvimento do trabalho industrial e de outras atividades urbanas. Serviu para 
atender aos contingentes modernos, cujas necessidades cotidianas já não podiam 
ser atendidas com casa, roupa, comida e reprodução. Os meios de comunicação 
de massa serviram como ferramentas modernas para a transformação do trabalho 
abstrato, literário, plástico, musical, educativo, publicitário, jornalístico etc., em 
produtos culturais, que alimentariam o extraordinário mercado simbólico, desde 
o cinema mudo até a internet. 
Na segunda metade do século XIX, as redes ferroviárias rasgaram os continentes 
seguindo todos os pontos cardeais. Antes das ferrovias, o telégrafo elétrico significou 
a primeira rede de comunicação por fios, que foi completada, a partir de 1880, 
pela rede telefônica e pela radiotelegrafia. Daquela época em diante, as redes 
elétricas passaram a recortar todas as paisagens das regiões mais desenvolvidas 
do planeta. Com a invenção do automóvel, as redes de transporte rodoviário 
retalharam em apenas algumas décadas a superfície inteira dos continentes: 
tornaram insignificante a façanha dos antigos romanos, que, durante vários 
séculos, abriram 80 mil km de precárias estradas. 
No entanto, a moderna epopeia da máquina-ferramenta fabril e as linhas de 
montagem das antigas indústrias analógicas já fazem parte do passado. Hoje, 
9
os insumos essenciais da autodenominada “nova ordem” ou da “nova economia” 
mundial são as tecnologias digitais. Digitalizar é a palavra de ordem da nova era pós-
moderna (??), que, mesmo fustigada por uma sucessão de crisesintercapitalistas, 
segue neste início de século de XXI, ampliando sua nova plataforma acumulativa 
em redes binárias. 
O atual movimento tecnológico e econômico manifestou-se gradativamente, 
desde a segunda metade do século passado, em duas vertentes distintas: a 
primeira, de abrangência mais privada, foi caracterizada principalmente pela 
extraordinária atualização tecnológica havida com a robotização da produção 
em grandes indústrias de bens materiais de consumo e em setores produtores de 
máquinas e insumos para todas as plataformas produtivas. A segunda despontou 
com o desenvolvimento e a propagação mundial de sucessivas gerações de 
hardwares e de programas para computadores pessoais concebidos para dinamizar 
o trabalho profissional nas atividades produtivas, comerciais, de entretenimento, 
de publicidade e também de pesquisa e de serviços. 
Os japoneses foram pioneiros na utilização do computador e do conceito de 
rede informacional com a intenção de superar a crise do modelo taylorista-fordista 
e aposentar a velha linha de montagem, que havia significado a transformação 
produtiva mais revolucionária, até os anos 1960 do século passado. A disseminação 
dos robôs acelerou a capacidade produtiva, reduziu custos, melhorou a qualidade 
da produção e avolumou imensamente o processo de automatização do trabalho 
produtivo manual e a destruição de postos de trabalho, um fenômeno que Marx 
apontou em meados do século XIX, como crescente ameaça para a classe operária. 
A informatização da sociedade retoma, de acordo com a nova racionalização 
capitalista, o espaço doméstico e os espaços vivenciais da educação, da cultura, 
do entretenimento e da comunicação interpessoal. O teletrabalho reocupa 
estes espaços, que se tornaram domínio privativo dos trabalhadores e de suas 
famílias, desde que a classe trabalhadora conquistou limites de jornadas e direitos 
trabalhistas. O capital se reapropria com nova aparência, forma e ferramentas, 
do espaço doméstico e do tempo livre dos trabalhadores, mas com o mesmo 
objetivo acumulativo que fazia no início da revolução industrial. Assim, preserva 
sua capacidade de manter globalmente a hegemonia do antigo liberalismo, 
mesmo que se utilize de postulados pós-modernos. 
Para os incluídos, as relações se reorganizam com a possibilidade de se 
desempenhar um papel mais ativo e menos assimétrico em relação à informação do 
que o que vinha ocorrendo nos últimos séculos. Teorias como a do agendamento e 
a da tomada da função de esfera pública de debates pelos meios de comunicação 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 10
de massa, novos definidores da representação da realidade e da intermediação 
dos diversos segmentos da sociedade, de modo a favorecer interesses burgueses, 
devem ser revistas com o surgimento de redes sociais em que, cada vez mais, o 
discurso autorizado passa a ser questionado e o cidadão não certificado tem direito 
à voz, com novas negociações em torno da credibilidade de fala e a fragmentação 
de espaços de discussão de acordo com os campos de interesse. 
O sistema digital, não mais linear, mas em rede, torna-se mais complexo, com 
maior dificuldade no controle da circulação de informação sem que se firam 
princípios liberais ainda caros à sociedade burguesa – constituindo-se, portanto, 
um fértil meio de cultura para que vicejem e se propaguem opiniões contra-
hegemônicas. Independentemente dos embates conceituais que o atual contexto 
suscite, parece-nos que a percepção coletiva já se convenceu de que o novo modo 
de convívio e de trabalho dependerá, sempre mais, de ferramentas e informações 
digitais. No entanto, sem medidas abrangentes de inclusão social e cultural, uma 
eventual “sociedade da informação” poderá será mais assimétrica que a atual e 
apartará os indivíduos despreparados para operar os novos sistemas informáticos 
de produção e de interação interpessoal. 
A exclusão digital aprofundará a lógica vigente de apartação cultural e 
material. Ao difundir suas ferramentas computacionais por todos os espaços 
vivenciais e produtivos, a ordem informacional requer para o desempenho do 
trabalho intelectual ou material, conhecimentos e habilidades técnico-científicas 
advindos de uma sólida e contemporânea formação educacional. Nesse aspecto, 
as tecnologias digitais tornam-se novos elementos extremamente importantes 
para todos os modos de produção atuais, mas elas servem muito mais, para a 
constituição de opinião pública em tempos de predomínio da informação em 
todos os níveis de relações sociais. 
O barateamento dos aparatos e o desenvolvimento de interfaces comunicativas 
inteligíveis aos leigos trouxeram em um curto período de tempo os computadores 
para o espaço doméstico e daí eles se espalharam por todas as atividades humanas. 
O principal atrativo do computador foi a profusão incessante de novos programas, 
linguagens e possibilidades de trabalho, apresentados em suportes gráficos e 
audiovisuais, capazes de mimetizar as interfaces comunicativas dos conhecidos 
veículos de imprensa e de radiodifusão. 
Com o desenvolvimento da internet, o computador rompeu seu vínculo remoto 
com a máquina-ferramenta. Deixou de ser um processador estanque de dados, mera 
extensão mecânica do corpo e do trabalho orgânico do homem, para se tornar de 
fato uma máquina “inteligente”, uma extensão da memória humana. Negroponte 
11
observava em 1995 que as pessoas tinham em casa vários eletrodomésticos 
com microprocessadores, mas que não estavam unificados. Por isto não era 
possível a comunicação eletrônica entre eles, ou mesmo quando era possível 
haver interconexão entre diferentes equipamentos, a interface estabelecida era 
bastante primitiva e peculiar em cada um deles. Ele advertia que só haveria uma 
tecnologia de fato inteligente e convergente quando todos os equipamentos 
presentes em nosso cotidiano pudessem compartilhar dos recursos disponíveis 
para comunicar entre si e com o usuário. 
O que mudou de lá para cá foi a imensa progressão do ciberespaço, que vem 
agindo como o agente catalisador que motiva a convergência tecnológica e a 
digitalização (por razões comerciais), entre todas as tecnologias eletroeletrônicas 
existentes. A disseminação da internet sem fio, “portátil”, liberta da dependência 
do computador, deverá multiplicar universalmente o número de usuários. 
Os computadores on-line tornaram-se, ao mesmo tempo, terminais de geração, 
abastecimento e acesso à imponderável memória virtual pública, com capacidade 
inesgotável de armazenar, selecionar e transmitir informações sobre qualquer área 
de atividade e de interesse humano, tanto de aspecto individual quanto coletivo. 
O ciberespaço torna-se mais e mais uma hiperinteligência artificial, um imenso 
arquivo de memória e de conhecimentos alojados fora do cérebro humano. Ele 
serve para ampliar de modo inorgânico a capacidade humana de reter e de trocar 
informações. Ao mesmo tempo, pode ordenar e classificar o fluxo imensurável 
de dados para os sistemas de processamento e armazenamento e evitar que os 
indivíduos entrem em colapso mental em decorrência do excesso de informações 
presentes no cotidiano do homem. 
Pierre Lévy sustenta a tese de que a “emergência do ciberespaço é fruto de um 
verdadeiro movimento social” que possui segmentos líderes, programa de ação 
e palavras de ordem. Para o autor, o crescimento do ciberespaço corresponde ao 
desejo de comunicação recíproca e de inteligência coletiva, porque visa a “um tipo 
particular de relação entre pessoas”. Ele toma como exemplo a evolução social do 
correio, comparada à motivação coletiva que sustenta a ascensão do ciberespaço. 
No ambiente informatizado e interligado, tempo e espaço perdem o significado 
físico e cultural que havia sido instituído desde a Modernidade. O espaço virtual 
da internet utiliza um tempo global determinado pela velocidadedos fluxos 
de informação. Conforme aumenta a capacidade de transporte de dados e a 
velocidade de tráfego da rede, a relação espaço-tempo vai encurtando no “território” 
virtual. Os povos que não dominarem os novos conhecimentos e o meio técnico-
científico-informacional estarão condenados “ao tempo lento dos pobres”, como 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 12
dizia Milton Santos. 
De acordo com a economia clássica, os novos instrumentos também constituem 
bens de capital, insumos indispensáveis para que haja alimentação do ciclo 
produção-oferta-consumo-acumulação. A fonte principal de prosperidade da “livre 
iniciativa” continua sendo a extração de mais-valia do antigo trabalho manual ou 
das atuais formas de trabalho automático, seja material de produção material ou 
simbólica, acrescida da especulação financeira em tempo real e alcance mundial. 
Certamente, o capitalismo tradicional ou digital não sobreviveria sem a manutenção 
desses processos assimétricos de produção e acumulação. 
Enquanto os Estados, organizações oficiais e não governamentais discutem 
a melhor forma de gestão política, administrativa e econômica da internet, os 
registros, os fluxos de bens e riquezas e o próprio dinheiro perdem a materialidade 
de celulose e assumem o formato de arquivos e pacotes binários, que transitam 
mundialmente ao ritmo atômico da digitação em um teclado. A transição ocorre 
em sintonia com os interesses imediatos de um mercado global articulado por 
um pequeno grupo de nações hegemônicas. 
No entanto, a internet não é um refúgio idílico, isento da sedução do capital, 
nem é totalmente imune ao autoritarismo político, religioso, militar e policial. A 
rede pode absorver as contradições que os indivíduos, as culturas e sociedades, 
os sistemas políticos e econômicos trazem em seu interior. É por tais razões que 
a gestão e o uso público da internet mobilizam em muitos países as organizações 
e interesses sociais, governamentais e privados. 
A gestão do ciberespaço deverá alimentar um debate demorado para estabelecer 
uma legislação internacional que assegure o desenvolvimento, a manutenção e o 
uso coletivo das tecnologias e meios de informação mundiais. É preciso garantir 
a participação simétrica dos países na web, de acordo com suas necessidades in 
ternas. O grande desafio é promover a inclusão de todas as camadas sociais nas 
“facilidades” do ciberespaço. 
Este volume apresenta onze artigos originados nas exposições e debates gesta 
dos nos painéis do segundo encontro da seção brasileira da União Latina de 
Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC-Brasil), 
realizado em Bauru (SP) pelo Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia 
e Educação Cidadã (LECOTEC) de 13 a 15 de agosto de 2008 na Faculdade de 
Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP). 
O percurso traçado pelos capítulos delineia o panorama das discussões acerca 
do tema-chave do evento, “Digitalização e sociedade”. No primeiro, Luiz Alfonso 
Albornoz, presidente da Ulepicc-Federação na gestão 2007-2011, aborda o impacto 
13
da digitalização sobre as indústrias culturais, especialmente no setor musical. Os 
diversos elos da cadeia de distribuição de conteúdos passam por momentos de 
resistência e adaptação a transformações que parecem irreversíveis, nas quais os 
papéis e funções são revistos e novos modelos de negócio propostos. 
A reestruturação do capitalismo tomou a informação e tecnologias vinculadas 
a sua produção, organização e disseminação como um dos territórios privilégios 
para sua expansão. Em “A convergência digital e os desatinos do sistema mundo 
capitalista”, Ruy Sardinha Lopes estabelece relações entre a convergência midiática 
e os modos de regulação contemporâneos do sistema capitalista, discutindo até 
que ponto as novas tendências de regulação infraestruturais das Tecnologias 
de Comunicação e Informação (TIC) constituem privilegiados de expansão da 
acumulação capitalista, como a lógica rentista influi em sua gestão e a Economia 
Política pode contribuir para analisar o processo. 
A seguir, Vivianne Lindsay Cardoso e Juliano Maurício de Carvalho propõem 
uma reflexão sobre a valorização da televisão pública e a ampliação de suas 
potencialidades com a utilização da multiprogramação, de modo a fazer 
contraponto ao modelo de negócio arraigado e hegemônico das televisões 
comerciais brasileiras. Os autores defendem que a televisão pública pode se tornar 
um importante instrumento para a democratização e o despertar da consciência 
crítica, autônoma e individualizada do espectador, viabilizando sua participação 
direta no processo de comunicação midiática. 
O quarto capítulo, de Valério Brittos e Nádia Helena Schneider, discute a 
tensão televisão-educação e políticas públicas a ela relacionadas, apontando 
possibilidades, na televisão digital interativa, para sua contribuição no processo 
ensino-aprendizagem e construção de novos conhecimentos; apontam, no 
momento presente de revoluções tecnológicas, a intersecção entre instituição 
escolar e meios de comunicação de massa como espaço estratégico de ação e 
reflexão, com papel primordial no desenvolvimento e legitimação de valores e a 
formação de cidadãos conscientes. 
“A Economia Política do Coronelismo Eletrônico: categorização dos líderes 
políticos proprietários de radiodifusão em Minas Gerais”, de Luiz Felipe Ferreira 
Stevanim e Suzy dos Santos, parte de uma genealogia dos atores políticos ligados ao 
setor comunicacional no Brasil traçada com base nos deputados federais mineiros 
detentores de outorgas de radiodifusão para demonstrar uma continuidade e 
novas significações do coronelismo eletrônico, observando um controle dos 
veículos fundamentado no poder político, com o enfraquecimento da distinção 
entre interesses público e privado. 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 14
Na sequência, “A reedição do difusionismo diante da brecha digital: o desafio 
das regiões na sociedade da informação”, de Francisco Javier Moreno Gálvez, 
resgata a historicidade das rupturas e continuidades ideológicas ocultas por trás do 
modelo denominado “sociedade da informação”, surgido como resposta à crise do 
capitalismo na década de 1970, e ao processo atual em que uma descentralização 
aparente convive com uma efetiva recentralização, apontando reflexões sobre 
o possível desenvolvimento das regiões periféricas nesse cenário, em especial 
aquelas que ocupam lugar subalterno na divisão internacional do trabalho. 
No sétimo capítulo, Leando Ramires Comassetto, ao considerar a aptidão histórica 
do rádio para trabalhar questões de proximidade, estabelecendo empatia entre 
emissora e audiência, promovendo valores e discutindo problemas da localidade 
em que atua, traça considerações sobre a importância do suporte frente ao 
curso globalizador, descrevendo um modelo de programação mais adequado 
às emissoras que pretendam sobreviver e manter relevante sua atuação local, 
chamando atenção para a necessidade de renovação da linguagem tendo em 
vista recursos proporcionados pelas TIC. 
O rádio brasileiro chega aos 90 anos em meio a um cenário de profundas 
transformações dos meios de comunicação de massa. Com essa questão em 
mente, Antonio Francisco Magnoni e Juliana Gobbi Betti refletem sobre a 
vagarosa e indefinida digitalização do suporte radiofônico, oriunda em parte 
de uma concepção ultrapassada, de caráter ainda getulista, sobre o modelo 
nacional de radiodifusão e, a partir dos conflitos entre rádio, TICs e a rede mundial 
de computadores, apontam possibilidades para sua efetiva modernização e 
incorporação na convergência de plataformas, assim como assimilação dos novos 
recursos na radiodifusão. 
A seguir, André Luís Lourenço e Juliano Maurício de Carvalho, em “Clivagem 
da democracia no planodigital da esfera pública”, propõem uma sistematização 
do conceito de arena ou microesfera pública, na qual se imbricam as noções 
de democracia e deliberação, para pensar contribuições, assim como limites, 
ofertados pelas TICs para estender, em caráter incremental, a participação política da 
população para o meio digital, notoriamente a internet, considerando a experiência 
do website Observatório de Botucatu, focado na discussão de questões políticas 
de ordem municipal. 
Em “Sistema Público de Comunicação: por uma mídia de todos”, Adilson Vaz 
Cabral Filho discute a implantação de um sistema de comunicação brasileiro que 
adotasse efetivamente o modelo público, o qual se entende como plural, polifônico, 
a partir do que se discute sobre o tópico na academia e organizações sociais, 
15
apresentando a forma como o conceito é compreendido em ambos os meios e 
recapitulando os principais marcos regulatórios do setor da comunicação social. 
Finalmente, “Gestão Pública de Informação do Governo Federal”, de Angela Maria 
Grossi de Carvalho, traça considerações sobre a gestão da informação por parte do 
aparelho estatal, tendo em vista as ações públicas de transparência informacional 
e políticas de inclusão digital do governo federal, discutindo tanto o provimento 
de acesso quanto de serviços e efetivo conteúdo, a partir da noção de direito e 
da verificação de efetivas necessidades de informação da população brasileira. 
Boa leitura!
Antonio Francisco Magnoni
Juliano Maurício de Carvalho
Mateus Yuri Passos
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 16
Prefácio
A publicação deste volume representa uma vitória importante da Economia 
Política da Comunicação brasileira. A União Latina de Economia Política da 
Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC) nasceu com o século XXI, 
por obra de um pequeno grupo de pesquisadores, organizados em torno da rede 
de Economia Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação (EPTIC) e 
da revista Eptic On Line, frutos do ativismo político-epistemológico dos grupos 
de Economia Política da Comunicação (EPC) da Associação Latino-americana de 
Investigadores da Comunicação (ALAIC) e da Sociedade Brasileira de Estudos 
Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM), ambos coincidentemente sob 
minha coordenação em 1999. 
A luta epistemológica no campo da Comunicação no Brasil impingira ao 
coletivo uma derrota inesperada com o fechamento, por decisão unilateral da 
diretoria da INTERCOM, do núcleo original de organização da EPC brasileira, 
que se reuniu pela última vez no ano 2000, em Manaus. Questionada no interior 
do campo da Comunicação em nível nacional, a legitimidade da EPC brasileira 
ficaria demonstrada ao longo dos anos 2000, culminando com o retorno do GT 
da INTERCOM, dez anos após o fechamento. Entre 2001 e 2002, três encontros, 
em Buenos Aires, Brasília e Sevilha, terminaram com a constituição da ULEPICC. 
Dois movimentos importantes seriam então realizados. Um de continuidade da 
realização dos encontros internacionais, cuja periodicidade passaria a ser bianual a 
partir de 2003. Aos três primeiros, seguiram-se Caracas, Salvador, México e Madrid. 
O segundo movimento foi o de constituição de alguns capítulos nacionais, 
tendo em vista a necessidade de organização legal da entidade como federação 
internacional. A ULEPICC-Brasil nasce desse propósito e, a partir de então, passaria a 
tomar uma série de iniciativas que a transformariam numa referência incontornável 
do pensamento crítico no campo da Comunicação no Brasil. A mesma legitimidade 
foi conquistada pela ULEPICC-Espanha, que desempenhou, aliás, um papel de 
primeiro plano na própria criação da Associação Espanhola de Investigadores 
da Comunicação (AE-IC). Nos dois casos, optou-se pela realização de encontros 
nacionais bianuais, nos anos pares, para não coincidir com os encontros da 
federação. 
Sob a presidência de Valério Brittos, dois eventos nacionais desse tipo foram 
realizados, um em Niterói, coordenado por Adilson Cabral, outro em Bauru, 
organizado por Juliano Mauricio de Carvalho e o grupo de pesquisadores do 
LECOTEC - Bauru. Depois viria o encontro de Aracaju, sob a presidência de Anita 
Simis e coordenado por Verlane Aragão Santos, e o do Rio de Janeiro, sob a 
presidência de Ruy Sardinha Lopes e coordenação de Marcelo Kirchinevsky, 
marcado para outubro de 2012. 
Este é o segundo livro publicado como decorrência desses eventos nacionais. 
O primeiro, fruto do encontro de Niterói, este do de Bauru. Estão de parabéns 
17
os organizadores. Trata-se da nossa memória coletiva. Quem observar apenas o 
sumário desta obra notará claramente duas coisas importantes. Em primeiro lugar, 
constata-se que a EPC brasileira soube definir-se de forma aberta, procurando 
organizar um conjunto amplo de pesquisadores ligados ao pensamento crítico e de 
esquerda no campo da Comunicação, entre os quais se incluem muitos vinculados 
aos antigos grupos de EPC e de Políticas de Comunicação (que também havia 
sofrido solução de continuidade em 2000), mas também de outras comunidades, 
como a dos estudos de rádio, ou de comunicação popular e alternativa. 
Em segundo lugar, nota-se a preocupação em incidir no debate nacional sobre 
uma questão tão importante como é a da digitalização. É claro que outros eventos 
tratarão prioritariamente de outros temas, mas o fundamental é que, em cada 
um deles, esse grupo heterogêneo de pesquisadores, mas todos interessados em 
fazer avançar o pensamento crítico em Comunicação, se organiza para pensar os 
grandes temas do campo, numa perspectiva realista e socialmente engajada. A 
unidade do campo que se vai construindo é, portanto, política no sentido de que 
epistemologia é política, conforme a enfática definição de Carlos Pérez Soto, mas 
também no sentido de que o pesquisador, como trabalhador intelectual que é, 
tem uma responsabilidade política a cumprir, neste caso, com a democratização 
da comunicação. 
Pouca dúvida haverá de que a EPC brasileira, e o capítulo brasileiro da ULEPICC 
em particular, conquistou o seu espaço e a legitimidade que lhe fora questionada 
em passado não tão distante. Veja-se a sua participação crucial na construção da 
SOCICOM, em nível nacional, e da CONFIBERCOM, em nível internacional. Veja-se 
a importância que acabaram por adquirir no campo, vários dos seus fundadores, 
nacional e internacionalmente. Mas como tudo que é sólido se desmancha no 
ar, como a luta epistemológica não deixa de pertencer à luta de classes, não se 
pode descuidar do caráter duplamente político da nossa atividade acadêmica. 
De um lado, nossa responsabilidade histórica nos exige posicionamento claro 
e justo em relação aos grandes temas da agenda democrática que envolve a 
comunicação, em especial aqueles relacionados à construção de uma sociedade 
mais justa e igualitária. De outro, a posição que acabamos por conquistar no 
campo acadêmico exige um cuidado muito especial com a construção coletiva 
da unidade do paradigma da EPC, entendido, por certo, no sentido mais amplo e 
inclusivo acima referido, e de forma, portanto, flexível e interdisciplinar, mas com 
a devida vigilância epistemológica que nos afaste da vala comum do ecletismo 
pós-modernista. 
Nesse sentido, defenderei com todas as forças a necessidade incontornável de 
aprofundar o estudo da fonte geral, evidentemente, da crítica da economia política, 
americano. É preciso ter clareza inclusive, nessa perspectiva, das especificidades 
da EPC brasileira, em relação às visões europeias ou norte-americanas e isso só 
se consegue retomando o debate em torno da nossa própria formação. 
Se ao funcionalismo, que está na origem da chamada Ciência da Comunicação, 
cedo se contraporia a perspectiva crítica da Escola de Frankfurt, que influenciaria, 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE18
ao lado do estruturalismo althusseriano e das chamadas teorias da dependência, 
as primeiras contribuições latino-americanas ao campo, inadaptadas, pela própria 
especificidade do subcontinente, ao modelo originário da sociologia americana, 
é nossa obrigação lembrar que o pensamento marxista, desde o início, esteve 
presente no debate. Assim, à contribuição fundadora de Baran e Sweezy, seguir-
se-ão, ainda na América do Norte, as análises de Dallas Smythe, de um lado, 
e de Herbert Schiller, de outro, que formarão, ao lado de colegas europeus, 
como Kaarle Nordenstreng e Tapio Varis, autores da antológica pesquisa sobre 
os fluxos internacionais de informação, o núcleo da tradição principal da EPC de 
língua inglesa, organizada no interior da International Association for Media and 
Communication Research (IAMCR). 
Em diálogo com a tradição frankfurtiana, aparecerão também, no rastro dos 
trabalhos de Enzensberger e de Raymond Williams, as atuais escolas inglesa e 
francesa, de grande impacto no campo internacional, surgidas ambas ao final 
dos anos 1970 e início dos 1980, ao mesmo tempo em que várias contribuições 
isoladas apareciam também na América Latina, em diálogo, estas, com as teorias 
da dependência cultural, que tanta importância tiveram no diálogo global dos 
anos 1960 e 1970, em favor de uma Nova Ordem Internacional da Informação 
e da Comunicação (NOMIC) e na Comissão Mac Bride, da UNESCO, aliados na 
linha de frente com os intelectuais do grupo da IAMCR citados, através inclusive 
da Asociación Latino Americana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), 
que hoje tenho a honra de presidir. 
A EPC se apresenta, em todos os três casos citados (Inglaterra, França e América 
Latina), como uma espécie de “recuo crítico” em relação às respectivas tradições 
de esquerda, propondo entender a Comunicação a partir de uma leitura mais 
detida da obra de Marx. No caso latino-americano, tratava-se essencialmente de 
uma crítica às limitações das teorias da dependência e do imperialismo cultural, 
em parte coincidente com as críticas de autores do campo dos Estudos Culturais. 
Neste último caso, entretanto, embora, especialmente no início, a perspectiva 
marxista estivesse presente, predominará um enfoque basicamente sociológico 
e especialmente antropológico, que frequentemente renegará a EPC, acabando 
por adotar uma ideologia pós-modernista incompatível com o pensamento crítico. 
Os primeiros trabalhos que se poderia classificar de EPC, nesse sentido de recuo 
crítico, serão os de Hector Schmucler, parceiro de Armand Mattelart, Eriberto 
Muraro, Diego Portales, Patricia Arriaga, Javier Esteinou Madrid e o meu próprio, 
que datam todos do final dos anos 1970 e início dos 1980. Os primeiros intentos 
efetivos de organização desse grupo se darão bem mais tarde, e já em diálogo 
com o resto da EPC e do pensamento crítico comunicacional, com a criação dos 
referidos GT de Economia Política da ALAIC e da INTERCOM, da rede EPTIC e da 
revista Eptic On Line. 
Não tenho por que renegar o orgulho que tenho de haver convocado, mas 
não posso deixar de citar uns poucos entre inúmeros nomes que se envolveram 
nessa construção nos anos 1990: Guillermo Mastrini, Francisco Sierra Caballero, 
19
Délia Crovi, Luis Albornoz, Valério Brittos, Alain Herscovici, Ancizar Narvaez, 
Daniel Hernandez, Murilo Ramos, Othon Jambeiro. E ainda deveria falar de 
Pasquali, Faraone, Marques de Melo, representantes da geração anterior que nos 
apoiaram sempre que convocados. Também fora da América Latina encontramos 
importantes apoios: os Mattelart, Janet Wasko, Gaetan Tremblay. Não é possível 
citar todos. 
A ULEPICC é fruto desse esforço organizativo para o qual vêm contribuindo 
outros inúmeros jovens e novos pesquisadores em diferentes países, entre os quais 
os autores e organizadores deste belo livro, a quem agradeço a oportunidade de 
registrar esta mensagem num espaço tão nobre, mais uma peça a ser preservada 
para a história da organização do campo crítico da Comunicação no Brasil. 
César Bolaño, junho de 2012.
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 20
A integral digitalização das indústrias culturais: 
tensões e reestruturações em andamento1 
LUIS A. ALBORNOZ
Minha intenção, nas próximas páginas, é abordar as relações entre os suportes e 
redes digitais e as indústrias culturais, por entender que a integral digitalização é 
um dos principais vetores de transformação das indústrias culturais. Concretamente, 
vou iniciar por uma tentativa de descrever as mudanças que atravessam o setor 
da distribuição, comparando aquela feita tradicionalmente com produtos físicos 
com a realizada por meio das redes digitais. Posteriormente, vou centrar minha 
atenção na indústria musical para comentar algumas tensões e reestruturações 
que estão se dando neste setor, um dos mais convulsionados pela inovação 
tecnológica. Antes de tudo, advirto, devemos ser precavidos, pois estamos diante 
de um cenário em construção, tanto em nível tecnológico, como, sobretudo, em 
nível econômico e social. Consequentemente, qualquer conclusão a que possamos 
chegar deve ser matizada. 
Uma pesquisa coletiva desenvolvida na Espanha durante o período 2000-2002 
sobre a convergência entre as indústrias culturais e redes digitais deu lugar à 
publicação do livro Hacia un nuevo sistema mundial de la comunicación. Las 
industrias culturales en la era digital (Bustamante, 2003). Naquela oportunidade, 
analisamos desde setores tradicionais como o da imprensa diária ou o televisivo, até 
um novo setor como o dos videogames, porta de entrada dos conteúdos simbólicos 
digitais das novas gerações. Nos propusemos então a identificar as transformações 
fundamentais em curso; descobrir quais eram as problemáticas transversais 
crescentes e os desafios essenciais levantados; e, finalmente, caracterizar o 
papel dos diferentes agentes, tanto públicos como privados. Constatamos e 
argumentamos naquele trabalho, que “as mudanças digitais não supõem uma 
revolução, uma ruptura com a história anterior, mas uma linha de continuidade 
necessariamente contextualizada e determinada pelas grandes transformações 
experimentadas pela cultura industrializada, especialmente nos anos 1980 e 90” 
(Bustamante, 2003: 333). A pesquisa chegou à conclusão de que “o estudo dos 
diferentes produtos e serviços culturais e comunicativos não avaliza em nenhum 
1 Texto baseado na conferência inaugural do II Congresso da União Latina de Economia 
Política da Informação, da Comunicação e da Cultura do capitulo Brasil (ULEPICC-Brasil), 13 de agosto 
de 2008, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP, Bauru, São Paulo.
2121 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
caso uma visão substitutiva dos antigos suportes e redes pelos novos até onde o 
horizonte experimental possa indicar, mas uma passagem de longa coexistência, 
com amplos reajustes que mal acaba de começar” (Bustamante, 2003: 334). 
Apesar de essas conclusões renegarem o uso da palavra “revolução” para definir 
a atual etapa das indústrias culturais, atestamos, sim, importantes mudanças, 
em diferentes níveis, que estão transformando a paisagem na qual estas se 
desenvolvem. 
DISTRIBUIÇÃO: UM CENÁRIO COMPLEXO 
Uma das transformações fundamentais se dá na fase de distribuição de bens e 
serviços produzidos pelo conjunto das indústrias culturais. Análises provenientes 
tanto do setor acadêmico como profissional sobre o modo de funcionamento 
das indústrias culturais ressaltam o papel desempenhado nessa fase. Geralmente 
concentrada em poucos agentes, a distribuição vem ganhando protagonismo, 
ao ponto de ser considerada o “gargalo” das indústrias culturais. Esta metáfora 
alude ao fato de que são criados e produzidos mais conteúdos do que aqueles 
que efetivamente chegam a ser distribuídos. Alémdisso, o poder do distribuidor 
é determinante para as condições de promoção e emissão/exibição de um 
determinado produto. Para os criadores de produtos culturais, o fato de dar à luz 
às suas criações não é suficiente. Eles precisam contar com canais de distribuição/
exibição adequados para que suas obras possam ser conhecidas e, potencialmente, 
consumidas. Portanto, a distribuição se converteu, ao longo do século passado, 
em uma fase estratégica para que as obras simbólicas possam chegar ao encontro 
de seus públicos. Neste sentido, a análise dos monopólios/oligopólios e dos 
processos de concentração que se situam no nível de distribuição tem sido uma 
das tradicionais preocupações da economia política da comunicação. 
Se observarmos a paisagem cultural e comunicativa atual, veremos que nos 
encontramos frente a um cenário complexo no qual coexistem as clássicas redes 
de distribuição física junto às novas redes de distribuição digitais (me refiro à 
internet, evidentemente, mas também às redes digitais de rádio e televisão e de 
telecomunicações de celulares, complementadas por uma série de dispositivos de 
armazenamento, produção e reprodução de conteúdos como telefones celulares, 
agendas eletrônicas pessoais, iPod, pen-drives, mp3 e mp4, etc.).
É verdade que atualmente a maioria dos conteúdos é distribuída por meios 
físicos, mas temos que admitir que a distribuição e a oferta de serviços por meio das 
novas redes digitais estão em permanente crescimento. Elas oferecem conteúdos 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 22
digitais de diferentes tipos (filmes, séries de televisão, livros, músicas, fotografias, 
jornais, etc.) e oferecem a possibilidade de potencializar a oferta das produções 
existentes que se encontram plasmadas em suportes físicos. Essa disponibilização 
heterogênea está sujeita a diversas condições de acesso: desde a gratuidade até 
distintas modalidades de pagamento. 
No entanto, alguns estudos realizados em países como a Espanha estão 
sinalizando a fragilidade da internet como um canal comercial para as vendas 
online, tanto de conteúdos digitais como de conteúdos em suportes físicos. Esta 
fragilidade deve ser estudada com certo cuidado, pois são numerosas as variáveis 
que entram em jogo. À desconfiança que os métodos de pagamento via internet 
despertam em muitos consumidores, se somam, por exemplo, a existência de uma 
grande diversidade de sites que oferecem conteúdos livremente ou o estendido 
emprego de redes p2p (peer-to-peer) que permitem descargas gratuitas de todo 
tipo de conteúdos. 
DISTRIBUIÇÃO FÍSICA VS. DISTRIBUIÇÃO DIGITAL 
A seguir, apresentarei uma série de variáveis a considerar que podem nos 
ajudar a encontrar semelhanças e diferenças entre a distribuição física e a digital 
da produção cultural e informativa. 
CUSTOS IMPLICADOS 
Ao computar os custos relacionados com a distribuição tradicional, observamos 
que, em primeiro plano, existem altos custos na fase de produção derivados da 
inscrição das distintas criações nos próprios suportes materiais, e de seu posterior 
armazenamento. Num segundo plano, encontram-se os custos relacionados com 
a fase de distribuição desses produtos físicos – por meio do transporte rodoviário, 
por barco e/ou avião – até os diferentes pontos de acesso público (redes de 
venda, aluguel e empréstimo). Em último lugar, há os custos relacionados com o 
armazenamento nos diferentes pontos de acesso ao público. 
O fato de os produtos inseridos em um suporte físico ocuparem espaço e terem 
um peso específico fez com que os principais agentes das indústrias culturais 
passassem a desenvolver poderosos aparatos logísticos de grande alcance e 
rápida operacionalidade. Pensemos, por exemplo, no caso da editora de um jornal 
que a cada dia deve movimentar grandes volumes de papel por meio de um 
determinado espaço geográfico, ou na estreia cinematográfica de um blockbuster 
2323 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
hollywoodiano com cópias distribuídas simultaneamente em nível internacional. 
Evidentemente, frente a este sistema de distribuição que apresenta custos que 
poderíamos qualificar como “altos”, a distribuição por meio de redes digitais, ao 
prescindir de suportes físicos, oferecem custos extremadamente baixos. 
Nesse sentido, “uma consequência teórica do fenômeno da distribuição online é 
a assimilação do conjunto das indústrias culturais à natureza econômica assinalada 
já há alguns anos na cultura do fluxo rádio-televisivo: custos fixos elevados, 
mas os custos por consumidor são marginais ou nulos (desviando os custos da 
rede)” (Bustamante, 2003: 336). Assim, partindo do ponto do ponto de vista dos 
custos envolvidos em um e outro sistema de distribuição, torna-se evidente uma 
vantagem significativa a favor da distribuição digital.
CARACTERÍSTICAS DO SUPORTE 
No mundo da distribuição física os conteúdos se encontram materializados 
em um suporte físico determinado: papel, filme de 35 milímetros, VHS, DVD, etc. 
Estes suportes são afetados em diferentes graus pela própria passagem do tempo, 
pelas condições de armazenamento às quais estão submetidos e pelo tipo de uso 
e cuidados que se lhes dá. Neste caso, a possibilidade de usufruto de um mesmo 
conteúdo por parte do consumidor está ligada à “durabilidade” ou à vida útil do 
respectivo suporte físico. Assim, é possível distinguir entre aqueles suportes “mais 
nobres”, ou seja, que oferecem uma menor alteração com o passar do tempo e seu 
consumo (pensemos, por exemplo, nos papiros egípcios com mais de 4.000 anos), 
e aqueles suportes “menos nobres”, cujo uso intensivo pode chegar à sua própria 
destruição, impossibilitando, consequentemente, o consumo de conteúdos a ele 
ligados (pensemos, por exemplo, nas quase extintas fitas cassete). No caso da 
distribuição online, os conteúdos informativos e culturais prescindem de suportes 
físicos. Alojada em dispositivos e redes digitais, a produção desmaterializada 
(arquivos cujo peso se mede em bits, acrônimo plural das palavras inglesas binary 
digit) apresenta uma vida útil que tende ao infinito e que não se altera a partir de 
uma reprodução e consumo intensivos. 
No entanto, encontramos vozes de alguns criadores – como a do fotógrafo 
húngaro Balazs Gardi, ganhador da edição 2008 do prêmio do World Press Photo 
(Perea, 11 jul. 2008), na categoria notícias – que alertam sobre a fragilidade do 
armazenamento de conteúdos em discos rígidos, pendrives ou cartões de memória, 
e assinalam as possibilidades de perda de conteúdos devido a falhas técnicas. 
As novas possibilidades tecnológicas estão propiciando a digitalização de acervos 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 24
históricos que se encontram em diversos suportes físicos (livros, jornais, filmes, 
gravações sonoras, etc.). Dessa forma, os distintos agentes implicados perseguem 
a preservação e difusão do patrimônio informativo e cultural. Enquanto alguns 
destes estão interessados em salvaguardar o acervo das diversas expressões 
culturais para as próximas gerações, outros veem nas redes e suportes digitais 
um canal para a renovada exploração comercial de conteúdos. 
Neste aspecto se destaca o trabalho da UNESCO por meio de seu “Programa 
memória do mundo” que inclui, entre outros recursos, a digitalização das gravações 
originais de Carlos Gardel (1913-1935); a “Coleção Teresa Maria Cristina”, de 
fotografias do século XIX pertencentes ao imperador Dom Pedro II (doadas à 
Biblioteca Nacional do Brasil); ou o “Arquivo do fonograma de Berlim”, composto 
por documentos sonoros (em cilindros de Edison) de música tradicional do mundo 
de 1893 a 1952. No caso das empresas comerciais, podemos citar o polêmico 
projeto da companhia Google Inc. que, em dezembro de 2004, anunciou um 
acordo com cinco grandes bibliotecasanglo-saxãs (Harvard, Stanford, Michigan, 
Oxford e New York Public Library) para digitalizar a parte mais valiosa de seus 
respectivos acervos. 
AMPLITUDE DO MERCADO 
No caso da distribuição física, esta se encontra limitada a uma região geográfica 
determinada, fato que se relaciona diretamente com a particular economia das 
indústrias culturais. A relação custo-benefício faz com que a distribuição física 
de conteúdos e a implantação de uma rede de pontos de acesso público sejam 
economicamente inconvenientes para além de uma determinada área geográfica. 
Este fato deu lugar a uma particular geografia cultural-informativa: por um lado, 
grandes centros urbanos que aglutinam milhões de potenciais consumidores em 
reduzidas áreas geográficas e que concentram uma rica oferta de bens e serviços 
informativos e culturais, logo, com um maior grau de diversidade de expressões; 
por outro, localidades de tamanho médio e pequeno e zonas rurais que têm, em 
diferentes medidas, acesso a uma oferta mais restrita. Em decorrência dessa patente 
assimetria, verificada em diferentes países e em diferentes períodos históricos, 
as administrações públicas passaram a fazer intervenções com a finalidade de 
reduzir a brecha existente entre as distintas áreas. 
Tendo em vista este panorama, as redes digitais, em geral, e a internet, em 
particular, amplificam a oferta de conteúdos a uma escala internacional. Dessa 
forma, é possível ler as notícias da Folha de São Paulo ou escutar as músicas da 
2525 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
Rádio UOL de qualquer lugar do planeta onde exista conexão à internet. No 
entanto, devemos ser cautelosos. Potencialmente em condições de viabilizar 
uma oferta de conteúdos para todos, para além do lugar geográfico onde uma 
pessoa se encontre, as atuais condições e dados relativos à expansão da internet 
demonstram um reforço da desigual situação analógica, tanto ao nível das regiões 
e países, como ao das grandes metrópoles e demais localidades. 
DISPONIBILIDADE DE CONTEÚDOS 
A forma tradicional de distribuição física tem se concentrado em tornar disponíveis 
aqueles produtos que têm um maior consumo efetivo e potencial (hits, best-sellers, 
blockbusters, etc.), relegando a espaços marginais os que não apresentam um 
consumo massivo por considerá-los abaixo do mínimo economicamente viável. 
Por sua vez, a concentração em vendas em escala massiva que apontam para 
um fluxo de consumo rápido e contínuo, somada aos custos de armazenamento 
nos pontos de venda ao público, dá lugar a uma alta rotatividade de conteúdos. 
A distribuição e os pontos de acesso público são, em geral, segmentados, 
apresentam uma quantidade determinada de títulos, pois não existe possibilidade 
financeira nem física de oferecer todas as criações que são produzidas 
periodicamente. Por exemplo, no setor editorial “em espanhol são produzidos 
anualmente cem mil títulos (…) nenhuma livraria pode acumular essa quantidade 
de textos” (Palapa Quijas, 30 jan. 2006). Já no caso da distribuição online, os baixos 
custos de empacotamento favorecem uma maior disponibilidade de conteúdos 
e com larga duração. 
Ainda assim, esta disponibilidade de conteúdos reforça o processo de 
fragmentação do consumo informativo e cultural: trata-se de múltiplos mercados 
minoritários ou de nichos em escala internacional. No entanto, não podemos 
esquecer a existência de fatores linguísticos e culturais que podem limitar o 
consumo efetivo. 
Nos últimos anos o setor empresarial e os meios de comunicação popularizaram 
a expressão the long tail - a cauda longa, em português - (Anderson, 2006) para 
referir-se à demanda de produtos culturais nas redes digitais. Esta expressão, 
criada por Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired, é uma referência à forma 
gráfica da curva de distribuição da demanda de conteúdos culturais no contexto 
digital, tendo em consideração duas variáveis: consumo e conteúdo. O resultado 
gráfico é uma prolongação inferior e muito longa em relação à cabeça: the long 
tail. Nesse sentido, o setor empresarial captou a mensagem de que a soma do 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 26
conjunto de produtos minoritários pode formar um mercado significativo e, por 
conseguinte, comercialmente atrativo. 
Assim, as redes digitais estão, ao mesmo tempo e por meio de distintas formas, 
disponibilizando o acesso tanto aos conteúdos de consumo massivo como aos de 
conteúdo de nicho. Isto se traduz em agentes que apresentam catálogos online, 
associados a potentes motores de busca, formados por milhares de referências. 
Por sua vez, conteúdos e redes digitais também abrem as portas ao consumo 
sob encomenda (on demand), uma possibilidade até o momento pouco explorada. 
Assim, por exemplo, “uma vantagem óbvia é a de recuperar livros esgotados e 
fora de catálogo, que não voltarão a ser publicados. A Amazon adquiriu há algum 
tempo uma empresa gráfica, com a escala ajustada para publicar cópias únicas, 
sob pedido, de livros que, de outra forma, estariam condenados” (Bullón, 2007).
PONTOS DE ACESSO PÚBLICO
No caso da distribuição física, a oferta de conteúdos informativos e culturais 
está disseminada em diferentes pontos de acesso público: grandes superfícies, 
pequenas lojas generalistas e especializadas, quiosques, bibliotecas, midiatecas, 
locadoras de filmes, etc. 
É nesses espaços onde se estabelecem relações de contato direto, cara a cara, 
entre quem oferta produtos e entre os potenciais consumidores. É nessa relação 
onde a assessoria que o consumidor recebe pode chegar a ser chave para aplacar 
a incerteza que existe na escolha de qualquer produto cultural. No caso dos locais 
de venda de produtos, esse encontro é um dos pontos mais sensíveis e chave para 
orientar a compra. O estudo do espaço e das relações aí incide na elaboração e 
planejamento de estratégias empresariais. As companhias mais importantes do 
setor distribuição-venda investem na formação e treinamento de seus trabalhadores 
(força de vendas), e impulsionam o desenvolvimento do marketing no ponto de 
venda (merchandising), com a gestão da variedade de produtos. 
A distribuidora multinacional francesa FNAC2 (que em 1999 abriu em São Paulo 
sua primeira megastore fora da Europa) é um bom exemplo do que dissemos 
acima: oferece treinamento aos seus vendedores (que não recebem comissão 
2 O grupo FNAC (Fédération Nationale d’Achat des Cadres), criado em 1954, faz parte do 
Grupo PPR (Pinault-Printemps-Redoute), também formado pelas multinacionais Conforama, Redcats, 
CFAO e pelo Grupo Gucci. Atualmente é o maior distribuidor europeu de produtos técnicos e culturais 
com mais de uma centena de lojas em todo o mundo. Presente em oito países europeus, e ainda no 
Brasil e em Taiwan. Em 2005, a FNAC faturou 4.400 milhões de euros.
2727 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
pela venda), serviço pós-venda para produtos eletrônicos e cartões de fidelidade 
que permitem financiar compras e obter descontos, convites para shows e pré-
estreias de cinema e de teatro; e também fazer reservas de entradas por telefone. 
No caso dos pontos de acesso virtuais, existe uma grande variedade de websites, 
comerciais e não comerciais, e programas que oferecem conteúdos de todo tipo. 
Desde portais agregadores de conteúdos (cujos direitos de exploração comercial 
estão em mãos de outros agentes) até sites alimentados de forma colaborativa por 
usuários. Nesse sentido, a relação com o consumidor à margem das tradicionais 
distribuidoras permite, ao menos potencialmente, “um renascer do papel de 
novos agentes e de pequenos e médios atores econômicos, criadores incluídos” 
(Bustamante, 2003: 337). 
De todas as formas, na paisagem digital o contato está mediado pela tecnologia. 
Nessesentido, são dois os problemas principais que qualquer agente enfrenta 
na internet. Em primeiro lugar, devem atrair e facilitar o contato de potenciais 
consumidores com diferentes conhecimentos de informática. Em segundo, devem 
apresentar de forma atrativa um catálogo amplo de produtos sem saturar seus 
visitantes e potenciais consumidores. 
Nos níveis internacional (iTunes, de Apple; o Amazon) e também nacional, é 
possível identificar uns poucos operadores consolidados que abarcam a maior 
quantidade de consultas e vendas na internet. Produtores e empacotadores de 
conteúdos são protagonistas de uma intensa concorrência, tanto no terreno 
analógico, como no digital. Conseguir entrar no círculo virtuoso do esquema 
notoriedade-prestígio-confiança-vendas é o objetivo de todos eles.
PAPEL DO CONSUMIDOR 
Do ponto de vista do consumidor de produtos informativos e/ou culturais, no 
terreno analógico é preciso investir/gastar uma determinada quantidade de tempo 
e energia vital, até que ele adquira o produto de seu interesse. Tempo e energia 
que podem ser medidos no deslocamento físico aos pontos de acesso público ou 
no tempo empregado na escolha e busca de um determinado conteúdo. 
Uma prática dos consumidores habituais é o desenvolvimento de rotinas de 
busca. Frequentar lugares como livrarias, bancas ou lojas de discos, somado à 
consulta de determinadas publicações, permite aos consumidores estar a par 
das novidades. 
Do contrário, a oferta e distribuição de conteúdos por meio das redes digitais 
implicam para os consumidores uma economia de tempo e energia vitais. No 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 28
entanto, uma oferta ampla “a um clique de distância” – como costumamos escutar 
– estimula comportamentos extremamente voláteis, que constitui um problema 
para as empresas interessadas. 
Em contraposição, devemos assinalar a desvantagem para amplos setores 
populacionais que carecem de falta de manejo das ferramentas de gestão 
adequadas. A busca na internet ou os downloads de programas informáticos 
que permitem ler, escutar ou ver os conteúdos, são tarefas que não estão ao 
alcance de amplos setores da população. Nesse sentido, o setor informático – 
com uma lógica de inclusão comercial – trabalha na elaboração de programas 
com interfaces amigáveis que, pela sua simplicidade tornam-se de fácil uso. Por 
sua vez, o setor público – às vezes de maneira aleatória – programa planos de 
alfabetização digital destinados aos diferentes coletivos sociais.
FORMAS DE CONSUMO
Por fim, cabe destacar que as indústrias culturais trabalham desde sempre na 
estandardização de formatos da produção simbólica com a finalidade de facilitar 
sua comercialização massiva. De forma tal que, tradicionalmente, o consumo de 
conteúdos se dá por pacotes: um filme, uma série de televisão dividida em capítulos 
sequenciais, um jornal com suas editorias fixas, uma gravação fonográfica com 
determinadas músicas, etc. 
Por sua vez, o consumo por meio das redes digitais apresenta uma flexibilidade 
muito maior. Assim, o consumidor pode optar por um consumo enquadrado nos 
cânones tradicionais ou optar pelo consumo de formatos variáveis (uma cena, 
a aparição de um ator em diferentes filmes, uma música, etc.). Ainda assim, o 
alto grau de maleabilidade dos conteúdos digitais possibilita sua modificação, 
mescla e cópia. 
Por outra parte, a compressão digital, unida às redes e suportes digitais, aumenta 
consideravelmente a portabilidade e ubiquidade de conteúdos. Todo esse conjunto 
de mudanças está na base da ameaça que sofrem os tradicionais distribuidores 
que operam no marco analógico. 
O SETOR MUSICAL: LABORATÓRIO DE DEBATES
Depois de arrolar as principais semelhanças e diferenças existentes em nível 
teórico entre a distribuição física de produtos culturais e informativos e a digital, 
2929 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
gostaria de me referir às mudanças que atingem o setor musical. 
No interior dos diferentes efeitos das redes digitais, segundo os diversos setores 
culturais ou comunicativos, a indústria fonográfica revela um “caráter pioneiro nas 
batalhas entre agentes culturais e de outros setores (informática, telecomunicações) 
e paralelamente de novos modelos de negócio”. Ainda assim, “o duplo problema 
dos direitos autorais e os hábitos dos usuários se evidenciam aí de forma crua, 
adiantando a pugna geral futura de interesses particulares e interesses públicos” 
(Bustamante, 2003: 14). 
Chegado a este ponto, devemos fazer uma ressalva importante. As apreciações 
gerais que apresentarei a seguir versarão sobre o setor musical denominado 
“música popular” que concentra a maior parte dos recursos, é a mais consumida 
e está sendo afetada com mais força pelos suportes e redes digitais. Para dar dois 
exemplos, distinta é a situação de nichos de mercados muito definidos como 
podem ser os da “música erudita”, pouco marcada pelas mudanças atuais, ou a 
“música eletrônica”, cuja história, sim, está intimamente ligada às novas tecnologias3. 
O tradicional mercado musical se assenta sobre a base de dois pilares que geram 
os mais destacados ingressos econômicos desta indústria: a comercialização 
massiva de obras gravadas em diferentes suportes físicos (discos, cassetes, CD), 
reproduzíveis em distintos equipamentos, e os direitos econômicos que incidem 
sobre o uso público dos fonogramas. 
O mercado de obras gravadas em suporte físico é um oligopólio no qual a 
distribuição é controlada por grandes conglomerados multinacionais: Universal 
Music Group, Sony / BMG Entertainment, EMI Group e Warner Music Group. 
Estes quatro grupos fonográficos controlam mais de 70 por cento do mercado 
de suportes físicos da música e possuem catálogos formados por centos de selos 
próprios e associados. 
Por sua vez, os direitos econômicos que incidem sobre o uso público dos 
fonogramas estão em mãos de sociedades privadas de âmbito nacional. Trata-se, 
geralmente, de organizações sem fins lucrativos que gerenciam o pagamento e 
a distribuição dos direitos autorais de compositores e intérpretes, e que também 
3 Estas diferenças também se verificam em outras indústrias culturais; por exemplo, no interior 
do setor editorial, até o momento, o impacto causado pela internet no subsetor das publicações 
científicas não tem sido o mesmo que no das novelas. Enquanto as publicações acadêmicas têm 
encontrado na internet novas dinâmicas de trabalho e uma oportunidade de maior impacto na 
comunidade científica internacional, em que muitos editores até cogitam a conveniência de abandonar 
a edição em suporte papel e investir esses recursos em outros aspectos; os cimentos da distribuição 
tradicional e as estratégias mais correntes (campanhas promocionais de best sellers, listas de mais 
vendidos ou prêmios literários) ligados aos romances, não se vêm alterados.
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 30
cuidam dos interesses dos editores musicais. 
No entanto, o modelo comercial e jurídico de propriedade intelectual, forjado 
durante o século passado está sendo atualmente alterado principalmente por três 
fatores: 1) o aumento da distribuição online por meio de redes (telecomunicações, 
internet) e programas informáticos (p2p) que se servem destas; 2) as mudanças 
nas tecnologias, entre as quais cabe assinalar as redes digitais com uma maior 
banda larga e; 3) a melhora dos dispositivos terminais móveis: telefones celulares 
e dispositivos portáteis digitais vários (mp3, mp4, iPod, etc.). 
RESISTÊNCIA ÀS MUDANÇAS
 Diante das mudanças pelas quais o setor atravessa, as grandes companhias 
fonográficas e as sociedades gestoras de direitos autorais se apresentam como os 
principais agentes conservadores, que se colocam contra algumas das mudanças 
em curso. Estes atorespretendem uma translação automática das relações e das 
condições que sustentaram ao longo do século XX o desenvolvimento em escala 
massiva da indústria fonográfica.
A prova mais palpável destas mudanças é o fato de que “a música está em todos 
os lados” enquanto as vendas de fonogramas gravados em suportes materiais caem. 
Na Europa ocidental, caiu de 14,03 bilhões de dólares de ingressos em 2001, para 
11,53 bilhões em 2005, uma queda de mais de 2,5 bilhões de dólares. As causas 
desta queda são atribuídas tanto às vendas de cópias digitais de música fora do 
mercado legal como aos intercâmbios e downloads gratuitos de fonogramas. 
Portanto, o combate contra a compra-venda de cópias “piratas” e os downloads 
gratuitos por meio da Internet se apresenta como uma prioridade para aqueles 
agentes com uma posição dominante no mercado fonográfico. 
A postura sustentada pelo setor coorporativo e por governos é que “a 
generalização da gratuidade ilegal tem um custo coletivo para as indústrias 
culturais, para os criadores e para a nação” (Oliviennes, 2008: 24). Em consequência, 
os principais atores da indústria musical vêm investindo valiosos recursos materiais 
e humanos, e articulando esforços em escala internacional (por exemplo, temos a 
celebração do Fórum Ibero-americano da Propriedade Intelectual, FIPI, auspiciados 
pela Secretaria Geral Ibero-americana, SEGIB, no qual participam jornalistas, 
juristas, legisladores e acadêmicos experts em propriedade intelectual de países 
ibero-americanos) na luta contra a “pirataria”. 
São quatro as frentes de ação identificáveis onde se desenvolvem as estratégias 
de luta contra a denominada “pirataria”: a) a educativa, b) a legislativa, c) a judicial 
3131 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
e policial, e d) a tecnológica. No plano educativo pretende-se fomentar entre os 
usuários o “uso responsável da Internet” e conseguir a “colaboração” dos provedores 
de serviços digitais. Nessa direção foram criadas campanhas de sensibilização social 
sobre os efeitos perniciosos da “pirataria digital”, campanhas que utilizam múltiplos 
suportes publicitários (televisão, imprensa diária e publicações especializadas, 
vídeo, cinema, rádio, outdoor, cartazes, etc.). Muitas destas campanhas criminalizam 
a estendidos usos sociais, como o download de fonogramas ou de outros conteúdos 
por meio da internet. Atualmente, com os dados do crescimento dos downloads 
gratuitos, algumas vozes interessadas nessa questão se perguntam se este tipo 
de campanha agressiva não teve o efeito contrário ao desejado. 
Na ordem legislativa, o objetivo das grandes companhias fonográficas e das 
sociedades gerenciadoras de direitos é o de exercer influência na promulgação de 
leis “adaptadas às novas tecnologias”. Isto se traduz, por exemplo, na tributação dos 
suportes e dispositivos, mais conhecido como “cânon digital”. A carga impositiva 
foi-se estendendo dos CDs virgens aos reprodutores mp3 e aos pen drives, entre 
outros dispositivos. Os beneficiários deste imposto são os autores e as sociedades de 
gestão de direitos, enquanto um amplo conjunto de fabricantes de equipamentos 
e de usuários de equipamentos de informática se manifesta contra. No entanto, 
a imposição de um “cânon digital”, uma tributação que é motivo de controvérsia, 
já que não existe em todos os países nas regiões que desejam ajustar as suas 
legislações nacionais. É o caso da União Europeia, onde não existe uma política 
comum a respeito. 
No nível judicial-policial, busca-se um maior protagonismo do aparato repressivo 
do Estado, tanto por meio de uma maior rapidez nas ações judiciais como de um 
aumento do corpo policial envolvido na luta contra a “pirataria”. As demonstrações 
públicas de destruição de cópias não autorizadas de CDs e DVDs se converteram 
em cartões postais do início deste século. A estes singulares encontros organizados 
pelos corpos policiais, não faltam jornalistas de distintos meios e membros das 
diretorias de sociedades gestoras de direitos autorais e industriais.
Finalmente, no plano tecnológico se defende a necessidade de empregar as 
tecnologias vigentes com o fim de estabelecer um “mercado limpo e livre de 
concorrência”. Isto se traduz no desenvolvimento, por parte de provedores de 
conteúdos offline e online de dispositivos tecnológicos, conhecidos como sistemas 
de gestão de direitos digitais ou DRM (siglas de Digital Right Managment) cuja 
finalidade é impedir a cópia de conteúdos musicais e/ou a utilização de um mesmo 
conteúdo em diversos dispositivos. No entanto, na prática, os sistemas de DRM 
foram derrotados quando utilizados por muitos consumidores. 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 32
Como é possível perceber, as ações que se desdobram nesses quatro diferentes 
planos inter-relacionados não diferenciam aquelas práticas com fins lucrativos e 
aquelas que não perseguem benefícios econômicos. Portanto, se criminalizam 
práticas sociais de distribuição e consumo musical que se expandem em escala 
internacional, à medida que a internet aumenta seu grau de penetração. Refiro-
me, por exemplo, ao intercâmbio de conteúdos por meio das redes p2p. Para 
termos uma ideia da magnitude das referidas práticas, no setor musical só cinco 
por cento dos 20 mil milhões de arquivos musicais que circulam anualmente são 
vendidos (Attali, Oliviennes, 2008: 4). 
ADAPTAÇÃO AOS CÂMBIOS 
É perceptível que a redução do mercado tradicional vem acompanhada de uma 
forte ascensão da importância das novas tecnologias. Na renovada paisagem 
tecno-cultural encontramos novos agentes e práticas sociais que se beneficiam 
das mudanças em marcha. 
Entre os defensores do novo cenário da música digital encontramos tanto agentes 
tradicionalmente alheios ao setor (como empacotadores de conteúdos ou empresas 
de telecomunicações) como criadores e intérpretes não inseridos no mercado. Por 
sua vez, são também defensores das transformações que está sofrendo o mercado 
musical amplos setores dos públicos que experimentam a “sensação” de ter ao 
seu alcance uma oferta de conteúdos ampla, diversa e gratuita (ou a um preço 
baixo). Nesse caso, sublinho a palavra “sensação”, pois não podemos esquecer 
que parte substancial dos custos associados ao funcionamento das redes e outros 
dispositivos digitais recai sobre os usuários: custos de conexão, equipamento de 
informática, software adequado e atualização do mesmo, proteção antivírus, etc. 
No caso dos criadores ou intérpretes musicais fora do mercado tradicional, ou 
seja, que não passaram pelas mãos de uma discográfica nem tenham pisado um 
estúdio de gravação “profissional”, a difusão de suas obras se encontra vinculada 
a websites como MySpace ou YouTube, para citar dois dos mais conhecidos e 
utilizados. Em consequência, a difusão dessas criações não se vê limitada pelas 
restrições e custos próprios da distribuição física de suportes e tem um alcance 
internacional. Se no modelo tradicional era necessário primeiro ser um “campeão 
nacional” para depois tentar ultrapassar as fronteiras, na era das redes digitais, as 
coisas não funcionam assim. 
Na Europa ocorre um fenômeno particular: a internet e as companhias aéreas 
de baixo custo (conhecidas como companhias low cost) se unem para influir na 
3333 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
cena musical ao vivo em várias cidades. Artistas que colocam suas criações na 
rede sem nunca ter editado um álbum, são contatados e contratados diretamente 
por produtores de espetáculos musicais para realizar suas performances. Estas, 
por sua vez, são divulgadas normalmente por meio de mensagens via e-mail e 
redes sociais que incluem links para músicas e vídeos que o artista em questão 
possui na internet. Dessa forma, os conteúdos alocados na redeservem para ativar 
um duplo mecanismo de promoção: em função de gestores e programadores de 
espaços culturais, e em função de públicos consumidores. 
Por sua vez, as companhias de telecomunicações são um bom exemplo de 
novos agentes beneficiados pelo novo cenário digital da música. A banda larga 
de celular está contribuindo para a consolidação de um novo canal alternativo: 
a distribuição wireless. 
O informe On Media. Recorded Music – Who benefits from digital (George; Bell, 
2008) da consultora PricewaterhouseCoopers (PwC), que foi dado a conhecer em 
abril de 2008, revela que os downloads de música por meio de telefones celulares se 
converteram na principal fonte de ingressos para a indústria discográfica europeia. 
No novo cenário, o telefone celular abriu as portas do mercado da música às 
empresas de telecomunicações ou companhias criadas recentemente, dedicadas 
aos conteúdos para telefones celulares. A passagem do download de ringtones 
a canções standard parece ser o prelúdio de novos tipos de conteúdos, como a 
retransmissão de atuações musicais ao vivo em alta definição. 
Enquanto em alguns países a provisão de serviços audiovisuais por parte de 
empresas de telecomunicações continua proibida – não sem polêmica –, em 
outros contextos nacionais (como o espanhol), a concorrência entre operadoras de 
televisão hertziana, por satélite ou por cabo com as empresas telefônicas é moeda 
corrente. A retransmissão ao vivo a cargo de uma operadora de telecomunicações 
(como Orange) de um concerto musical se realiza simultaneamente para os 
clientes de sua rede de telefonia móvel, de seu pacote de sinais de televisão e 
de seu website. 
A MÚSICA AO VIVO: MERCADO EM ALTA
Frente à queda das cifras de venda de fonogramas em suporte físico, os “mercados 
derivados” vêm ganhando força. É o caso da música ao vivo. As turnês continentais 
de músicos e a celebração de festivais multinacionais se multiplicaram, enquanto 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 34
os preços das entradas sofreram um aumento significativo4. 
No funcionamento tradicional da indústria fonográfica, a maior parte dos 
benefícios obtidos por atuações ao vivo iam parar nas mãos dos artistas, enquanto 
as gravadoras alimentavam suas vendas de gravações em suportes físicos. Esta 
clássica divisão também está se desfazendo: os termos estipulados entre as 
empresas e os músicos estão sendo redefinidos. 
Tendo em vista a crise do suporte físico de gravação, as companhias denominadas 
“fonográficas” ou “gravadoras” (ambos os termos são hoje questionados) estão 
desenvolvendo áreas de negócios ou empresas “irmãs” a cargo da gestão de carreiras 
artísticas. Isto inclui tanto a promoção de artistas e intérpretes em diferentes níveis 
(inserção de publicidade, contato com os tradicionais meios de comunicação, 
presenças na internet, meios especializados, etc.) como o planejamento de suas 
agendas (atuações ao vivo, solo e em festivais) e a estrutura técnica dos shows. 
Ainda assim, hoje as gravadoras estão incluindo cláusulas nos contratos segundo 
os quais os artistas têm que ceder às companhias um percentual do lucro de seus 
shows. Assim as companhias se transformaram em gestoras dos artistas, cuidando 
de tudo aquilo que gera lucro: merchandising, direitos de imagem, CDs, DVDs e, 
principalmente, shows. 
As discográficas tradicionais e novas não são as únicas que estão tomando conta 
do novo filão das atuações ao vivo. Entidades financeiras e fundações de grandes 
empresas vêm ganhando espaços no terreno do marketing cultural e entrado 
com força no mundo das atuações ao vivo. Para alguns destes novos agentes, as 
esferas da informação e da cultura são meros “mercados” onde aplicar “estratégias 
de êxito” com a finalidade de obter benefícios simbólicos. 
Alguns festivais se transformaram em marcas e deram início à sua peculiar 
transnacionalização. Rock in Rio é um bom exemplo. Em julho de 2008 ocorreu em 
Arganda del Rey, cidade de 50.000 habitantes situada a 30 quilômetros de Madrid, 
o maior festival de música jamais celebrado na Espanha. Com um orçamento de 
30 milhões de euros, o Rock in Rio foi qualificado pelo diário espanhol de maior 
circulação, El País, como “o grande negócio da música”. Nesta “outra Disneylândia”, 
quem pagou a entrada de 65 euros por dia (algo em torno de 160 reais) teve à sua 
disposição “um amplo leque de atividades: gravar um disco financiado por uma 
marca de rum, ver desfilar Martina Klein ou Verónica Blume, comprar roupa nos 
dois centros comerciais (existentes na cidade do rock), comer um creme de ervilhas 
4 Durante o período compreendido entre os meses de janeiro e junho de 2008, as turnês 
musicais nos Estados Unidos, principalmente as de pop e rock, tiveram uma renda bruta de 1,05 
bilhões de dólares.
3535 A integrAl digitAlizAção dAs indústriAs culturAis: tensões e reestruturAções em AndAmento
com lâminas de parmesão no restaurante VIP, ou casar-se ‘ao estilo Las Vegas’ em 
uma igreja patrocinada por uma marca de preservativos” (Portela, 27 jun. 2008). 
Mediante às críticas que advertiam que as empresas comerciais e suas marcas 
primavam sobre a música – o mercado sobre a cultura –, o criador e diretor do 
festival, Roberto Medina (organizador da apresentação de Frank Sinatra no Brasil, 
em 1980, para 144 mil pessoas) explicava: “A marca Rock in Rio é um evento entre 
o marketing e a música. Sempre foi assim. Desde o princípio. Eu não sou um 
promotor de concertos nem um roqueiro”. Complementarmente, as autoridades 
locais festejavam: “Será uma ocasião perfeita de promoção, mas também de 
impulso econômico da cidade”. 
Do ponto de vista do consumidor, a presença em atuações de artistas ao vivo 
está ligada à produção de vivências e de experiências únicas. Como assinala 
Herschmann (2007: 16):
(…) a música ao vivo vem crescendo em importância dentro da indústria da 
música e isso está relacionado ao valor que esta ‘experiência’ tem no mercado, 
isto é, à sua capacidade de mobilizar e seduzir os consumidores e aficionados: 
a) a despeito do preço a se pagar (muitas vezes bastante alto) para assistir 
ao vivo às performances; b) e da alta competitividade que envolve as várias 
formas de lazer e entretenimento na disputa de um lugar junto ao público 
hoje no cotidiano).
Por outra parte, associados às atuações ao vivo temos as gravações e posterior 
comercialização material e imaterial, como a retransmissão ao vivo por meio de 
múltiplos suportes. Um exemplo: em 2007, o site Medici.tv (filial da sociedade 
estadunidense Medici Arts, proprietária de um catálogo importante de DVD, 
com 1.500 horas de vídeo, e de fundos de arquivos musicais) retransmitiu ao 
vivo o Festival de Verbier, anualmente realizado na Suíça. Este ano se repetiu a 
experiência empregando câmeras automatizadas e de alta definição. A qualidade 
das retransmissões torna possível que se possa conectar a equipamentos de som 
ou televisores para desfrutar completamente dos conteúdos.
DOS TRADICIONAIS “GUIAS” DE CONSUMO ÀS “COMUNIDADES VIBRANTES”
Tradicionalmente a rádio, as publicações periódicas e a televisão (ainda antes da 
chegada da MTV) eram os canais mais habituais para promover carreiras artísticas 
Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE 36
e publicitar obras musicais. Hoje, a irrupção dos dispositivos e as redes digitais 
estão pondo em dúvida a relação habitual entre artistas e audiências, minando 
o poder de prescrição dos tradicionais meios de comunicação; ou seja, limitando 
a incidência destes no consumo de criações musicais. Além disso, o contato 
entre artistas e públicos, ao menos potencialmente, é simplificado e a criação de 
comunidades interpretativas, sem a participação dos meios tradicionais, é cada 
vez mais comum (Gallego, 2008). 
Frente aos meios de informação usuais têm surgido espaços na internet

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