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Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 7 UNIDADE II – PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS 1 – PROBLEMAS DE ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA As necessidades humanas se multiplicam conforme o avanço da sociedade. A evolução da ciência determina padrões tecnológicos mais sofisticados, capazes de satisfazer com maior detalhe as necessidades humanas. Dada a escassez de recursos produtivos, as quantidades de bens e serviços a serem produzidas encontram limites físicos. Daí coloca-se o problema central da economia : (i) o quê produzir?; (ii) como produzir?; e (iii) para quem produzir? 1.1 – O quê produzir? O quê e quanto produzir é uma decisão tomada em nível econômico. Pressupõe atingir fronteiras de produção. A sociedade deve escolher que bens e serviços serão produzidos e em que quantidades, conforme as suas necessidades. Ilustremos com um caso bastante relacionado com a realidade brasileira. Devido às carências da nossa sociedade, seria de se esperar que os agentes econômicos nacionais se dedicassem mais na realização de investimentos que produzissem alimentos, do que à produção de foguetes e naves espaciais para a exploração do universo. Por outro lado, na sociedade americana, que experimenta um nível de desenvolvimento social e tecnológico muito mais elevado do que a brasileira, é de se esperar que os agentes econômicos daquele país invistam de forma diferente. A economia americana produz mais foguetes e naves espaciais do que a brasileira. De fato, a brasileira produz raríssimas unidades de foguetes, e nenhuma nave. E isto não somente devido ao maior avanço social da sociedade americana, mas também porque, dado o nível de desenvolvimento científico por eles alcançado, pesquisas espaciais passam a ser necessárias para a sociedade americana como um todo. Tornou-se necessário para os americanos, mesmo que seja por uma simples questão de geopolítica mundial, o domínio, mesmo que parcial, deste ramo do conhecimento. Esta última necessidade não é colocada para a sociedade brasileira. 1.2 – Como produzir? Como produzir é uma decisão tomada em nível tecnológico. Objetiva-se com isso a obtenção da eficiência produtiva. Uma sociedade somente produzirá de acordo com a tecnologia de que dispõe, e se esforçará para buscar tecnologias mais avançadas, pois desse modo, estará aumentando sua eficiência ou produtividade, uma vez que poderá produzir mais em menor tempo. No exemplo acima, além da produção de foguetes e naves espaciais não serem uma necessidade para a sociedade brasileira, a realidade é que não dispomos do domínio tecnológico exigido. É possível que chegue o dia em que o avanço das pesquisas nacionais nos possibilite o domínio da tecnologia espacial, e tal necessidade se faça sentir. 1.3 – Para quem produzir? Para quem produzir é uma decisão tomada em nível social. Busca-se a obtenção da eficiência distributiva. Quase nunca os bens e serviços produzidos satisfazem todas as necessidades da sociedade. Daí que a tomada desta decisão deve levar em consideração quais são as maiores necessidades e mais comuns a todos, o que, inegavelmente, é bastante difícil de se conseguir. Sempre haverá pessoas cujas necessidades, mesmo as mais prioritárias, estarão insatisfeitas. Por outro lado, quando se conseguir atender a todas as necessidades de todas as pessoas, então, ter-se-á alcançado a plena eficiência na distribuição da produção. Uma sociedade que se defronta com problemas de subnutrição, por exemplo, é de se esperar que os agentes econômicos produzam alimentos de alto valor nutricional e calórico, e de baixo custo. Estes bens seriam direcionados para as camadas da sociedade menos favorecidas. Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 8 2 – LEI DA ESCASSEZ ECONÔMICA Refere-se à realidade básica da vida de que existe apenas uma quantidade finita de recursos humanos e não-humanos que o melhor conhecimento técnico é capaz de usar na produção de apenas uma quantidade máxima e limitada de cada bem e serviço. 2.1 – Fatores que contribuem para a minimização da Escassez Econômica (i) divisão do trabalho ou organização econômica; (ii) pesquisas tecnológicas; (iii) aumento de produtividade; (iv) produção em escala; (v) racionalidade na utilização dos recursos produtivos; e (vi) combinação ótima dos recursos. 3 – BENS ECONÔMICOS E RIQUEZA Bens econômicos e riqueza são dois importantes conceitos largamente utilizados em economia, que apresentam as seguintes definições. 3.1 – Bens Econômicos: são coisas que satisfazem as necessidades humanas. Sua principal característica é ser consumível. Se um bem não for apropriado e se não se desgastar ao longo do tempo para satisfazer uma necessidade, então não é um bem econômico. 3.2 – Riqueza: é o conjunto de bens e serviços de consumo. A idéia moderna de riqueza introduziu a variável consumo, porque a palavra riqueza deixou de ser abstrata e estática no sentido de somente acumular coisas de valor, e adquiriu maior dinâmica com a idéia de que a riqueza é tudo aquilo que permite à pessoa consumir mais bens com aquilo que já acumulou. 4 – FATORES DE PRODUÇÃO Para que as necessidades humanas sejam satisfeitas, e para que o problema central da economia possa ser devidamente equacionado é necessário contar com o concurso dos instrumentos de produção, ou seja, aquilo com que se produz, assim como, com os objetos da produção, isto é, aquilo que transformado resultará em algo capaz de satisfazer as necessidades do homem. Em economia, tais elementos são conhecidos como fatores de produção. 4.1 – Classificação Clássica Os fatores de produção podem ser definidos como o conjunto de todos os recursos que se pode usar na produção. Daí a pergunta: que recursos são esses? Um simples raciocínio nos faz deduzir que para se produzir um bem é preciso um material qualquer que, trabalhado por alguém com alguma ferramenta, resultará nesse bem. Aí estão colocados então os três fatores de produção, a saber: (i) terra (recursos naturais que fornecem a matéria -prima); (ii) capital (recursos financeiros, máquinas equipamentos); e (iii) trabalho (mão-de-obra). 4.1.1 – Terra: a terra é a origem das matérias-primas, sendo que no caso dos bens agrícolas é a própria matéria -prima. 4.1.2 – Trabalho: o trabalho é a própria força de trabalho, ou capacidade de trabalho do homem, sem a qual nenhum bem seria produzido. Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 9 4.1.3 – Capital: o capital inclui todos os equipamentos utilizados de forma a auxiliar o homem na produção, contemplando também, a capacidade gerencial que o homem tem de melhor alocar os recursos (terra, capital e mão de obra) de forma que, com o auxílio da tecnologia, possa produzir com eficiência. 4.2 – Classificação Moderna Modernamente, a literatura econômica apresenta duas diferentes correntes quanto à cla ssificação dos fatores de produção. São elas: (i) a primeira, considera apenas o trabalho e o capital como fatores de produção. O capital, entendido como patrimônio, incluiria também a terra (matéria -prima) e a tecnologia; e (ii) a segunda, considera que tanto a capacidade gerencial do homem como a tecnologia, por apresentarem contribuições significativas ao processo produtivo, em termos de produtividade, devem ser tratados à parte. Assim, modernamente os fatores de produção classificam-se em: 4.2.1 – Capital: capital é o conjunto (estoque) de bens econômicos heterogêneos, tais como máquinas, ferramentas,equipamentos, fábricas, terras, matérias-primas, etc., capaz de produzir bens e serviços. 4.2.2 – Recursos Naturais: recursos naturais são constituídos pelas riquezas naturais do mundo animal e vegetal (recursos renováveis), pelos recursos minerais e pelo solo (recursos não renováveis). 4.2.3 – Força de Trabalho: força de trabalho (mão-de-obra) é o fator que mobiliza os recursos naturais e o capital. 4.2.4 – Tecnologia: tecnologia é definida como o estudo das técnicas (know how) dividida em tecnologia de produto (inovação que leva à obtenção de um novo produto), e tecnologia de processo (inovação do processo produtivo que racionaliza o uso de matérias-primas). 4.2.5 – Capacidade Empresarial: capacidade empresarial é definida como a aglutinação dos demais fatores (terra, capital, trabalho e tecnologia) que irá possibilitar o suprimento de bens e serviços. 4.3 – Remuneração dos Fatores de Produção Cada fator de produção, como contrapartida à sua contribuição ao processo produtivo, percebe uma remuneração ou pagamento. Assim, temos: 4.3.1 – Salário: corresponde a remuneração dos serviços do fator trabalho. 4.3.2 – Aluguel: é a remuneração dos serviços do fator terra ou recursos naturais. 4.3.3 – Lucro: é a remuneração dos serviços do capital. Capital aqui é entendido como o capital físico, isto é, prédios, instalações, equipamentos e maquinário, tal como definido anteriormente. Em outras palavras, é a expressão física do capital monetário que é investido em ativos imobilizados. 4.3.4 – Juros: correspondem à remuneração de serviços do fator capital monetário (dinheiro). 4.3.5 – Dividendos: correspondem à remuneração de aplicadores em ações das empresas. Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 10 4.3.6 – Royalties: correspondem à remuneração pela utilização dos serviços de tecnologia. É o pagamento que se faz pela utilização dos direitos de propriedade de uma patente. A utilização ou reprodução de um bem ou serviço para fins produtivos somente poderá ser feita com o pagamento dos royalties. 5 – CLASSIFICAÇÃO DOS BENS E SERVIÇOS Uma vez que o objetivo do processo de produção é produzir bens e serviços com o fim de satisfazer as necessidades da sociedade, é preciso entender com que finalidade ele será utilizado. Trata-se, portanto, de distinguir a origem, a natureza e o destino desses bens. Assim, os bens e serviços apresentam a seguinte classificação. 5.1 – Quanto à Raridade Por raridade entende-se o quão escasso é o bem. Existem dois tipos de bens quanto à raridade. 5.1.1 – Bens Livres: (ou abundantes), também denominados de não econômicos, pois não têm valor e nem preço. Estão à disposição na natureza. O único bem verdadeiramente livre é o ar, pois até hoje ninguém o produziu ou então, o comercializou. Há outros bens, entretanto, que dependendo das circunstâncias em que são obtidos, podem ser considerados livres ou não. A areia do deserto, por exemplo, é um bem livre. Entretanto, se for explorada comercialmente (para construções, por exemplo), então deixará de ser um bem livre, pois será submetida a um processo produtivo (extração, refinamento, transporte, etc). 5.1.2 – Bens Produzidos: (relativamente raros), também denominados de econômicos e que têm como principais características: (i) existirem em quantidades limitadas; e (ii) serem comercializados, haja vista que possuem valor e preço. Qualquer bem que seja obtido através do processo produtivo é considerado um bem econômico. Exemplos: refrigerantes, automóveis, televisores, tecidos, gasolina, etc. 5.2 – Quanto à Natureza Por natureza entende-se a natureza física do bem, e são assim classificados: 5.2.1 – Bens Materiais: correspondem às mercadorias, cuja característica principal é terem uma forma física e serem palpáveis e tocáveis. Exemplos: roupas, alimentos, etc. 5.2.2 – Bens Imateriais: correspondem aos serviços, que não têm uma forma física e material, mas que satisfazem as necessidades humanas. Exemplos: serviços médicos, serviços de educação, etc. 5.3 – Quanto ao Destino Por destino entende-se o uso que se faz do bem. São assim classificados. 5.3.1 – Bens de Consumo: são aqueles que se destinam atender diretamente as necessidades humanas, ou seja, têm um fim em si mesmos. Em outras palavras, os bens de consumo são aqueles que são produzidos para consumo final, isto é, que não produzem e nem entram na produção de outro bem. De acordo com a sua durabilidade classificam-se em: 5.3.1.1 – Duráveis: são aqueles que não se extinguem no ato do consumo, processo este que ocorre num período de tempo mais longo. Exemplos: automóveis, eletrodomésticos, etc. 5.3.1.2 – Semiduráveis: são aqueles que têm uma vida útil não muito longa. Exemplos: sapatos, roupas, etc. Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 11 5.3.1.3 – Não-duráveis: também denominados de consumo imediato, são aqueles bens que se extinguem no ato do consumo. Exemplos: remédios, alimentos, etc. 5.3.2 – Bens de Capital: são os bens utilizados na produção de outros bens, mas que não se desgastam totalmente neste processo de produção. Como exemplos temos as máquinas, equipamentos, ferramentas, instalações, etc. Sua principal característica é elevar a produtividade da mão-de-obra, e são classificados contabilmente no ativo fixo das empresas. 5.3.3 – Bens Intermediários: são aqueles que são transformados ou agregados totalmente no processo de produção. Transferem-se, por assim dizer, para os bens que produzem. Classificam-se em: 5.3.3.1 – Bens Intermediários Propriamente Ditos: são aqueles que entram na composição de outros bens sem perder as suas características iniciais. Exemplos: prego, parafuso, fio, etc. 5.3.3.2 – Insumos (matérias -primas): são aqueles bens que são utilizados imediatamente, incorporando-se aos bens que se produzem, desaparecendo na produção perdendo desta forma suas características iniciais. Exemplos: minério de ferro, produtos químicos, farinha de trigo, etc. 6 – NECESSIDADES ILIMITADAS As necessidades são ilimitadas porque são inerentes à própria capacidade de renovação e criação de novos desejos de consumo por parte da sociedade. O nível de satisfação da sociedade difere com o seu próprio estágio de desenvolvimento. As necessidades são classificadas em: 6.1 – Necessidades Primárias : são aquelas essenciais para a sobrevivência humana. Exemplos: alimentação, vestuário, habitação, transporte, etc. 6.2 – Necessidades Secundárias (ou acidentais): são decorrentes do convívio social. Não se instalam de repente, mas aos pouco vão se tornando um hábito, precisando ser satisfeitas. Exemplos: fumar, lazer, etc. 6.3 – Necessidades Coletivas (ou sociais): são aquelas que para serem satisfeitas exigem um esforço coletivo, satisfazendo exigências coletivas ou sociais. Exemplos: segurança pública, educação, etc. De forma geral, o governo está encarregado de sua satisfação através dos serviços públicos. Por outro lado, existem alguns fatores que contribuem para aumentar o nível das necessidades ilimitadas da sociedade, dentre eles destacam-se: (i) efeito demonstração – típico de países subdesenvolvidos – que significa adquirir hábitos de consumo de sociedades desenvolvidas; (ii) propagandas e publicidades; (iii) desenvolvimento tecnológico; e (iv) nível cultural, significando aqui os costumes, hábitos, valores e a forma de organização da sociedade. 7 – ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO E A CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO Todo sistema econômico tem uma capacidade máxima de produzir bens e serviços. Conforme discutido anteriormente, um dos principais problemas comque se defrontam as economias é definir quanto será produzido de cada bem e serviço, de modo atender às necessidades da sociedade. Em outras palavras, as economias devem definir quais são as combinações das diversas quantidades de bens e serviços que serão produzidos. Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 12 Nesse sentido, para que se possa maximizar a produção de bens e serviços, os sistemas econômicos devem buscar: (i) decisão do que produzir; (ii) escolha das alternativas de produção para a canalização dos recursos, que dependem das opções sociais ou políticas estabelecidas pela sociedade; e (iii) eficiência máxima e o pleno emprego dos recursos de produção. Desse modo, para simplicidade de raciocínio, suponhamos, hipoteticamente, uma economia que produza apenas dois bens A e B, nas seguintes quantidades, conforme quadro abaixo: Alternativas Bem A (quantidade) Bem B (quantidade) A 250 0 B 200 250 C 150 450 D 100 600 E 50 700 F 0 750 Colocando-se estas quantidades, que formam pares ordenados de pontos dados pelas diversas alternativas de produção em um gráfico cartesiano, onde as quantidades do bem A são lançadas no eixo das abscissas (eixo X) e as quantidades do bem B são lançadas no eixo das ordenadas (eixo Y), temos a seguinte representação gráfica: Bem B F 750 700 E 600 D C 450 250 B A 0 50 100 150 200 250 Bem A Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 13 Esta curva é denominada de Curva de Possibilidades de Produção – CPP (ou fronteira de produção ou curva de transformação), que indica as infinitas combinações possíveis de produção dos bens A e B. Em qualquer ponto desta curva uma quantidade produzida de A, corresponde a uma quantidade produzida de B. A Curva de Possibilidades de Produção estabelece os níveis máximos de produção desses dois bens. Para que uma economia possa operar em qualquer ponto sobre a Curva de Possibilidades de Produção é necessário que: (i) exista pleno emprego de todos os fatores de produção disponíveis. Isto significa dizer que não há nenhum fator de produção ocioso, como também não é possível agregar mais fatores; (ii) não sejam introduzidas inovações tecnológicas. Ou seja, a economia opera com os padrões tecnológicos existentes; e (iii) exista eficiência e eficácia no uso dos fatores de produção. Desse modo, uma economia que se encontre operando sobre a Curva de Possibilidades de Produção, ao se deslocar do ponto A para o ponto B, ou do ponto B para o ponto C, e assim sucessivamente até o ponto F, estará deixando de produzir algumas unidades do bem A para produzir mais quantidades do bem B. Em outras palavras, estará transformando o bem A em B. Por esta razão, esta curva é também conhecida como Curva de Transformação. Cabe ressaltar que, esta transformação não é física, significa apenas que se está transferindo recursos ou fatores de produção de um processo produtivo para outro, no caso da produção do bem A para o bem B. Outro importante ponto a ser destacado, é que associada a esta escolha sobre quanto e quais bens produzir, há uma questão mais ampla de eficiência alocativa. Ou seja, uma vez definidas as quantidades e a qualidade dos fatores de produção, é preciso alocá-los, isto é, distribuí-los entre os setores produtivos de forma a obter a máxima eficiência na quantidade e qualidade dos bens produzidos. 7.1 – Análise da Curva de Possibilidades de Produção – CPP A Curva de Possibilidades de Produção pode ser analisada sob quatro diferentes aspectos: (i) quanto aos pontos localizados na curva; (ii) quanto aos deslocamentos da curva; (iii) quanto aos deslocamentos diferenciados da curva; e (iv) quanto aos deslocamentos parciais da curva. 7.1.1 – Quanto aos pontos na CPP Suponhamos a Curva de Possibilidades de Produção abaixo, com os seguintes pontos: Bem B • C YB • B YA • A • Bem A 0 XA XB Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 14 Análise dos pontos: (i) o ponto B representa a produção máxima dos bens A e B. Neste ponto ou em qualquer outro ponto situado sobre a Curva de Possibilidades de Produção, significa que a economia está funcionando com capacidade máxima de produção, sendo que todos os fatores de produção estão plenamente ocupados. A rigor, os fatores de produção nunca estão 100% plenamente ocupados. Em geral, os economistas consideram que uma taxa de ocupação acima de 92% a 93% caracteriza a situação de pleno emprego. O pleno emprego é definido por uma situação em que os recursos disponíveis estão sendo plenamente utilizados na produção de bens e serviços, garantindo desta forma o equilíbrio econômico das atividades produtivas. (ii) o ponto A representa uma situação de recessão ou de capacidade ociosa. Nem todos os fatores de produção estão plenamente ocupados, ou seja, existe uma ociosidade parcial dos fatores. Em outras palavras, existe um desemprego de fatores, como por exemplo, trabalhadores desempregados, máquinas paradas e terras não utilizadas. É importante ressaltar que, estando a economia em recessão, é possível aumentar a produção tanto do bem A quanto do bem B, utilizando os fatores de produção que estão ociosos. Se isto ocorrer, então o ponto A, onde há ociosidade de fatores, se desloca em direção à curva, onde todos os fatores estarão plenamente ocupados. (iii) o ponto O representa uma situação de pleno desemprego de fatores. É um estado de limite crítico para a economia, pois nele nada se produz, não existindo nenhuma atividade econômica. Teoricamente, este ponto é possível de ser atingido, mas na prática, uma situação dessa é mais fácil de ocorrer em situações de guerra (toda economia fica paralisada em função das atividades beligerantes), e em função de catástrofes naturais (inundação, terremoto, vulcões, etc., que destroem completamente o sistema econômico). (iv) o ponto C não existe para essa Curva de Possibilidades de Produção, pois não pode ser atingido com o volume de fatores existentes. Para que este ponto possa ser atingido, é preciso acrescentar alguma quantidade de pelo menos um dos fatores de produção. Assim, a produção poderá se expandir, possibilitando o deslocamento da Curva de Possibilidades de Produção para níveis mais elevados. 7.1.2 – Quanto aos deslocamentos da CPP A Curva de Possibilidades de Produção pode-se deslocar tanto positivamente quanto negativamente. Assim temos: 7.1.2.1 – Deslocamento Positivo: ocorre quando a Curva de Possibilidades deProdução se afasta da origem, significando aumento da capacidade de produção do sistema econômico. Os fatores que contribuem para o deslocamento positivo são: (i) crescimento da população qualificada (mão-de-obra); (ii) acumulação de bens de capital (edifícios, máquinas, equipamentos, etc.); (iii) inovação e/ou melhoria tecnológica; e (iv) investimentos na infra-estrutura de base do país (estradas, portos, aeroportos, telecomunicações, usinas hidroelétricas, etc.). Em termos de representação gráfica, temos: Onde P3 > P2 > P1 Bem B Bem A 0 P1 P2 P3 Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 15 7.1.2.2 – Deslocamento Negativo: ocorre quando a Curva de Possibilidades de Produção se dirige em relação à origem, significando diminuição da capacidade de produção do sistema econômico. Os fatores que contribuem para o deslocamento negativo são: (i) guerras entre os países; (ii) sucateamento do parque industrial; (iii) situações climáticas desfavoráveis; e (iv) pestes e epidemias. Em termos de representação gráfica, temos: Onde P3 < P2 < P1 7.1.3 – Quanto aos deslocamentos diferenciados da CPP Suponhamos, hipoteticamente, que os países Alfa e Beta, possuem a mesma capacidade de produção, num ponto específico do tempo. Suponhamos ainda, que estes dois países adotem diferentes políticas quanto à alocação dos fatores de produção para produzirem bens de consumo e bens de capital, conforme demonstrado no gráfico abaixo. Análise dos deslocamentos: (i) Bens de Consumo: o país Alfa aloca de seus fatores de produção para produzir bens de consumo o segmento 0Ac, enquanto o país Beta aloca 0Bc. Como o segmento 0Ac é maior do que o segmento 0Bc, isto significa que o país Alfa destina mais recursos para produzir bens de consumo do que o país Beta. (ii) Bens de Capital: o país Beta aloca de seus fatores de produção para produzir bens de capital o segmento 0Bk, enquanto o país Alfa aloca 0Ak. Como o segmento 0Bk é maior do que o segmento 0Ak, isto significa que o país Beta destina mais recursos para produzir bens de capital do que o país Alfa. Bem B 0 P3 P2 P1 Bem A Bens de Capital Nova curva do país Beta. Beta BK Nova curva do país Alfa AK Alfa Bens de 0 BC AC Consumo Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 16 (iii) Conclusão: como estes dois países estão destinando fatores de produção para produzir bens de capital, então, no futuro suas economias terão uma capacidade produtiva maior. A questão é saber qual dos dois países terá maior expansão na sua capacidade de produção, o país Alfa ou o país Beta. Analisando o gráfico, observa-se que o país Beta alocou proporcionalmente mais de seus fatores de produção para produzir bens de capital do que o país Alfa. Esta decisão fará com que no futuro, a economia do país Beta tenha uma capacidade de produção maior do que a do país Alfa, que alocou menos de seus fatores para produzir bens de capital. 7.1.4 – Quanto aos deslocamentos parciais da CPP Suponhamos que ocorra uma inovação tecnológica na produção do bem A. Nesse sentido, a capacidade de produção do bem A aumenta, provocando um deslocamento da Curva de Possibilidades de Produção apenas no ramo que representa o referido bem, conforme demonstrado no gráfico abaixo. Cabe ressaltar que, se a inovação tecnológica ocorrer em relação ao bem B, o mesmo deslocamento da Curva de Possibilidades de Produção acontecerá, só que neste caso específico, será no ramo que representa este bem. 8 – LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES A Lei dos Rendimentos Decrescentes refere-se à quantidade decrescente de produção adicional que se obtém, quando são acrescentadas, sucessivamente, unidades extras e iguais de um fator de produção variável a uma quantidade fixa de um outro fator de produção. Cabe salientar que, este fenômeno somente ocorre sobre a Curva de Possibilidades de Produção, quando todos os fatores de produção estão plenamente empregados. Quando a economia está operando com capacidade ociosa é sempre possível alocar e incorporar fatores que operem com igual ou maior grau de eficiência. Como existe ociosidade, estes fatores de produção estariam apenas esperando por uma oportunidade de emprego. Com certa freqüência vemos nos noticiários da imprensa que em momentos de recuperação econômica, quando se está contratando funcionários, muitas empresas dão preferência à ex- funcionários que tenham sido demitidos em momentos de crise ou desaquecimento da economia. Isso acontece porque esses ex-trabalhadores além de terem a necessária eficiência, evitam uma queda no ritmo de produção das empresas. Bem B A 0 A A1 Bem A Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 17 A título de exemplo, suponhamos as seguintes informações: Período Fator Fixo (terra) Fator Variável (mão-de-obra) Produção do Bem X Produção do Bem Y Produção Marginal de X (DX) Produção Marginal de Y (DY) T0 150 ha 10 200 500 – – T1 150 ha 12 250 600 50 100 T2 150 ha 14 290 680 40 80 T3 150 ha 16 320 740 30 60 T4 150 ha 18 340 780 20 40 T5 150 ha 20 350 800 10 20 T6 150 ha 22 350 800 0 0 Como se pode observar, ao longo dos sete períodos de produção, o fator de produção terra ficou constante em 150 ha, variando apenas o fator mão-de-obra. À medida que a mão-de-obra foi experimentando período após período, sucessivos aumentos de duas unidades adicionais, tanto a produção do bem X quanto à do bem Y foram aumentando, só que a taxas decrescentes. Ou seja, os incrementos verificados na produção dos bens X e Y, foram cada vez menores, que é dado pela produção marginal de cada um deles. Este fenômeno é explicado pela existência no processo produtivo dos bens X e Y, de um fator de produção que ao longo de todo o período ficou constante, no caso específico, o fator terra. Assim, à medida que o fator mão-de-obra experimentava aumentos iguais, o fator de produção terra ia perdendo produtividade, ou seja, a sua capacidade de absorver a mão-de-obra tornava-se cada vez menor. 9 – LEI DOS CUSTOS SOCIAIS CRESCENTES A Lei dos Custos Sociais (ou relativos) Crescentes entra em vigor quando para se obter uma quantidade adicional de um bem qualquer, a sociedade tem que sacrificar quantidades produzidas de outro bem, permanecendo inalterada a capacidade tecnológica e de produção, ou seja, a economia está operando de pleno emprego.A idéia por trás desta lei, é que haverá um custo cada vez maior para se produzir uma quantidade a mais de um determinado bem. Em outras palavras, se a sociedade decidir pela obtenção de uma quantidade maior de um determinado bem, ela terá que abrir mão de quantidades proporcionais ou cada vez maiores de outros bens. O custo social é a maior ineficiência produtiva. A título de exemplo, suponhamos a seguinte tabela: Alternativas Produção de A Produção de B Decréscimos de A (constante) Acréscimos de B Razão de B/A A 250 0 – – – B 200 250 50 250 5/1 C 150 450 50 200 4/1 D 100 600 50 150 3/1 E 50 700 50 100 2/1 F 0 750 50 50 1/1 Estando a economia funcionando de pleno emprego, aumentar, por exemplo, a produção do bem B, implica necessariamente reduzir a produção do bem A. Isto ocorre, porque serão transferidos recursos produtivos antes utilizados na produção do bem A, para então aumentar a produção do bem B, haja vista que o sistema econômico está operando de pleno emprego. Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 18 Assim, pelos dados da tabela acima, podemos observar que os decréscimos da produção do bem A, constantes em 50 unidades de uma alternativa para outra, permitiram acréscimos na produção do bem B, só que cada vez menores. Este fenômeno ocorre toda vez que se transferem recursos ou fatores de produção, eficientemente alocados numa atividade para outra, onde encontrarão uma dificuldade inicial maior para se adaptarem. O resultado desta alocação ineficiente de fatores é uma produção menor. O reflexo sobre a Curva de Possibilidades de Produção é que ela se apresenta de forma decrescente. O seu formato indica que ela decresce a taxas crescentes, significando que a substituição de quantidades entre dois bens, torna-se cada vez mais difícil. Na prática isto significa, por exemplo, que a mão-de-obra já adaptada aos processos de produção do bem A, ao ser transferida para a produção do bem B, terá que aprender, não só diferentes como também outros processos de produção. Neste processo de aprendizagem, há uma queda de rendimento que resultará em queda da produção. Isto é o que se denomina economia de rendimentos decrescentes. 10 – CUSTO DE OPORTUNIDADE Como foi discutido anteriormente, ao se deslocar fatores de produção de uma alternativa de produção para outra, as quantidades adicionais produzidas de um bem serão menores, em detrimento de reduções iguais ou cada vez maiores na produção de outro bem. Esta situação permite inferir que, existe um custo cada vez maior medido em unidade do bem que se deixa de produzir, para se obter quantidades adicionais, cada vez menores, do bem que se deseja produzir mais. Este custo é também conhecido como Custo de Oportunidade. No exemplo da produção dos bens A e B, citado anteriormente, significa que existe um sacrifício de unidades de produção do bem A, a cada expansão da produção do bem B. Em outras palavras, o custo de oportunidade significa a renúncia de determinados ganhos. Em nosso cotidiano, nos deparamos com muitas situações práticas e não econômicas de custos de oportunidade. Seja o seguinte exemplo. Um indivíduo decide praticar esportes para melhorar seu condicionamento físico. Alguns de seus hábitos ou comportamentos ele terá que sacrificar, eliminando-os ou reduzindo-os, significando assim como seu custo de oportunidade, como por exemplo: (i) o lazer (assistir televisão ou bater papo com os amigos no barzinho, etc.); (ii) convívio familiar (esposa, filhos etc.); (iii) atividades culturais (leitura, cinema, teatro, etc.) (iv) horário de almoço, caso decida praticar esportes entre às 12 e 14h; (v) a novela das 8h, se tiver este hábito, e se decidir pela prática de esportes à noite. A tabela abaixo mostra o custo de oportunidade associado a cada uma das alternativas de produção dos bens Z e W Alternativas Produção de Z Produção de W Acréscimo na produção de W Custo de Oportunidade para produzir W (em termos de quantidade de Z) A 12 0 – - B 11 20 20 1 (12 - 11) C 8 37 17 3 (11 - 8) D 4 48 11 4 (8 – 4) E 0 50 2 4 (4 - 0) Introdução à Economia – Curso de Direito_________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ 19 O custo de oportunidade é calculado em termos da quantidade do bem Z, que se deixa de produzir para se obter um acréscimo da produção do bem W. Neste exemplo, observa-se que para se produzir as primeiras 20 unidades de W é preciso sacrificar uma unidade do bem Z (custo de oportunidade igual a 1); em seguida, para se produzir mais 17 unidades do bem W, três unidades do bem Z deixam de ser produzidas (custo de oportunidade igual a 3), e assim, sucessivamente. Os acréscimos na produção de W serão sempre decrescentes. Assim, nessas circunstâncias os custos sociais, medidos pelo custo de oportunidade, serão crescentes. Cabe ressaltar que, se utilizássemos o exemplo da produção dos bens A e B, o custo de oportunidade seria constante, haja vista que os decréscimos na produção do bem A, para aumentar a produção do bem B, foram sempre iguais a 50 unidades.
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