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Bem de familia -Pablo STOLZE

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Bem de Família – Pablo Stolze
Bem de família é todo imóvel urbano ou rural que serve de proteção à morada da família. A criação desse instituto decorre da proteção que o Estado dá à entidade familiar. Não faz sentido dar proteção para como essa família surge, ou como se dará as relações, se também não conferir uma proteção ao lugar onde o núcleo familiar vai habitar.
Um bem de família não pode ser executado por dívidas IMPENHORABILIDADE (Regra!)
Decorre da impossibilidade de executar o bem imóvel. Se não pode expropriar, logicamente não pode penhorar! (Penhora precede a expropriação do bem em vista à satisfação do credor).
Pode abranger as coisas principais e acessórias do bem (Regra!)
O bem de família não pode exceder a 1/3 do valor liquido do patrimônio. Limite para poder exercer a proteção.
Histórico
O direito norte americano traduz o referencial histórico mais importante do nosso bem de família. Entre 1837 e 1839 os EUA passaram por uma grande crise, deixando a economia em péssimo estado. Texas (Estado mais afastado, sofreu com colonização) aprovou uma lei que tornou impenhorável a pequena propriedade, assim o produtor rural ou urbano se sentiria mais seguro para contrair empréstimos (visou o enriquecimento da economia). Foi daí que surgiu o Direito de Família. Claro que no Brasil as características são diferentes.
O CC/16 consagraria o nosso bem de família em seu art. 70, hoje revogado pelos arts. 1711 e seguintes do CC/02. 
Espécies de bem de família
VOLUNTÁRIO (convencional) --> Disciplinado no art. 1711 e seguintes do CC/02.
É instituído por ato de vontade do casal, da entidade família ou de um terceiro, mediante registro no cartório de imóveis (art. 167, I, 1 da LRP). Nasce da autonomia privada, não derivando diretamente da lei. Para instituir um bem de família voluntário precisa somente ir ao cartório, lavrar uma escritura pública e registrá-lo no cartório de imóveis. 
OBS: Logicamente, o instituidor desse bem deve ser pessoa solvente, para se evitar o cometimento de fraude. Por quê? Se for uma pessoa insolvente (devedora) e quiser tornar seu imóvel impenhorável (blindar) acaba impedindo as execuções futuras, não significa que esta pessoa está desprotegida, ela só não pode instituir bem de família VOLUNTARIAMENTE. 
A instituição do bem de família voluntário acarreta dois efeitos jurídicos fundamentais, ainda que com caráter RELATIVO:
IMPENHORABILIDADE
No momento da instituição de torna impenhorável por DÍVIDAS FUTURAS. Não é absoluta! Nos termos do art. 1715, constata-se que a impenhorabilidade é relativa, na medida em que tributos relativos ao imóvel (ex: IPTU) e despesas condominiais podem levar à sua execução. 
INALIENABILIDADE
À luz do art. 1717, a inalienabilidade também é relativa, pois com o consentimento dos interessados e ouvido o Ministério Público, a alienação pode acontecer. Não pode mais vender livremente o bem de família voluntário, estando com gravame no cartório. Para vender tem que ingressar com um procedimento e ouvir o MP, como se tivesse que cancelar o gravame.
Na prática o bem de família voluntário é muito difícil de ser encontrado, devido a pouca aplicabilidade. 
Dois aspectos fundamentais foram consagrados no novo CC para o bem de família voluntário: 
1 – O seu valor não pode ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido dos seus instituidores (art. 1711)
É o teto estabelecido pelo legislador. Então se o imóvel constituir metade do patrimônio líquido, não poderá ser instituído como bem de família voluntário.
Por quê? Evita-se que o cidadão blinde todo ou grande parte do seu patrimônio. Evitam-se fraudes.
2 – Ao instituir o bem de família voluntario, é possível afetar valores mobiliários (art. 1712)
Esse artigo permite que valores mobiliários, ou seja, rendas possam ser instituídas, juntamente com o imóvel, como bem de família voluntário.
Esses valores não podem ultrapassar, por óbvio, o teto de 1/3. Permite-se algo que não havia no sistema. Quando for instituir o bem de família, pode-se vincular a ele uma renda usada para manutenção, que se tornará impenhorável. 
Só basta provar que o rendimento é usado para conservação do imóvel e/ou sustento da família.
Exemplo: Saí da casa própria para alugá-la (última opção) e viver da renda da locação. Tem a proteção do bem de família???
Obs: Situação diversa e peculiar, aplicável inclusive ao bem de família legal, é aquela em que o imóvel residencial próprio é alugado para que a família sobreviva da respectiva renda. Em tal situação, já assentou o STJ ser impenhorável a renda proveniente do imóvel locado (resp. 439920 de SP, agrg no resp 975858 de SP)
A renda que o imóvel produz e da qual a família sobrevive está protegida!
Ver o art. 1720 (sobre a administração do bem de família voluntário) e os arts 1721 e 1722 (sobre a extinção do bem de família voluntário).
LEGAL Disciplinado pela L. 8009/90.
Ao lado do bem de família voluntário, o bem de família legal, instituído pela lei de muito maior aplicabilidade prática e social, consagra uma impenhorabilidade protetiva do imóvel residencial, independentemente de valor, instituição voluntária e registro cartorário. 
Automaticamente estão protegidos legalmente, basta que o imóvel sirva de residência da família. (É a regra!)
E as possibilidades de fraude? Há exceções na norma.
Não há inalienabilidade! Só há impenhorabilidade por força de lei!
Não há interesse quase nenhum em se instituir um burocrático bem de família voluntário, diante da ampla proteção do bem de família legal. Todavia, situação pode surgir recomendando a instituição voluntária do bem de família, a exemplo daquela prevista no parágrafo único do art. 5º da lei 8009/90.
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade (legal) recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado (como bem de família voluntário – respeitando o limite de 1/3), para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil. (art. 1711, NCC)
Obs: O STJ, por meio da súmula 205, firmou entendimento no sentido de que a lei 8009/90 poderia ser aplicada inclusive a penhoras anteriores à sua vigência. 
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.
Obs: A despeito da dicção do parágrafo único do art. 1º, em situações justificadas, o STJ tem admitido o desmembramento do imóvel para efeito de penhora. 
Exceções à impenhorabilidade
Lei 8009/90. Art. 3º
I – em casos que envolvem trabalhadores domésticos da residência e das respectivas contribuições previdenciárias.
Ex: deixou de pagar empregado doméstico, este entra com ação trabalhista, pode penhorar a casa do empregador; 
Obs: O STF, julgando o Resp. 644733 SC interpretou restritivamente a exceção constante no inciso I para excluir créditos de TRABALHADORES EVENTUAIS como pedreiro, eletricista, pintor ou diarista.
II – não há proteção se o processo foi movido pelo titular do crédito decorrente de FINANCIAMENTO destinado à construção ou aquisição da casa própria. Ex: Se não pagar a CEF que financiou, pode penhorar a casa.
Obs: a titulo de curiosidade, o que são “juros no pé”? 
O STJ, julgando o Resp. 670117 PB assentou a ilegalidade da cobrança antecipada de juros compensatórios antes do financiamento e da respectiva entrega das chaves do imóvel.
III – se o processo foi movido pelo credor da PENSÃO ALIMENTÍCIA.
IV – para cobranças de impostos predial ou
territorial, taxas e contribuições devidos EM FUNÇÃO DO IMÓVEL.
Ex: IPTU, TR.
Obs: O próprio STF interpretando o inciso IV (Re 439003) assentou entendimento no sentido de que a cobrança de taxa condominial também resulta na penhora do bem de família legal.
V – se o processo foi movido para a execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou entidade familiar.
Ex: faço empréstimo no banco dando como garantia meu imóvel.
O STJ, em mais de um julgado, tem entendido que não poderá invocar-se a proteção do bem de família se for constituída hipoteca sobre o imóvel; mas, tendo havido mera indicação à penhora, é possível voltar atrás, invocando-se a proteção (Resp 875687 RS)
VI – se o bem foi adquirido com produto de crime (ex. venda de drogas); se foi condenado a indenizar uma vitima de um crime que cometeu.
VII – obrigação decorrente de fiança locativa
O STF já pacificou, inclusive reconhecendo repercussão geral (Re 612360) a constitucionalidade da penhora do imóvel do fiador na locação. 
Tambem está pacificado no STJ que a proteção do bem de família ampara inclusive pessoas que vivam só (Sumula 364, Resp 450989 RJ) A proteção d lei não e propriamente a família. A família é indiretamente protegida, a proteção é o patrimônio mínimo, é o direito constitucional MORADIA.

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