Buscar

Psicologia Junguiana (Tópicos em Processos Clínicos I) - Fichamento do livro: sobre sentimentos e a sombra.

Prévia do material em texto

Wanderson Ricardo Nepomuceno
Fichamento do livro: Sobre sentimentos e sombra: sobre perguntas em Zurique.
Apresentado à disciplina Tópicos I, do curso de Psicologia/ 8° Período, da Universidade Estácio de Sá, a ser entregue ao Prof.ª Maria Cristina Urrutigaray.
Nova Iguaçu
Abril de 2017
Fichamento do livro: Sobre sentimentos e sombra: sobre perguntas em Zurique.
Introdução:
Esta obra é resultado da transcrição de duas sessões de perguntas realizadas a C. J. Jung nos anos de 1957 e 1959 em ocasião em que visitou amigos em Zurique, Suíça. Em ambas as ocasiões, os presentes realizaram perguntas a Jung e este respondia-as aludindo a conceitos de sua teoria analítica. 
A livro está dividido em duas partes, respectivamente: 1ª: sessão de perguntas de 27 de junho de 1959 e 2ª Sessão de perguntas de 27 de junho de 1959. Cada uma das partes dividida em tópicos relacionados às perguntas feitas a Jung.
Obs.: Este fichamento foi realizado baseado na leitura desta obra através de um leitor digital chamado Kindle. Este aparelho não marca as páginas, mas posições do texto. Então as referências seguirão a lógica de posições.
1ª Parte: 1ª: sessão de perguntas de 27 de junho de 1959
Sobre sentimentos:
Jung afirma com pesar que as pessoas são estranhamente incapazes de perceber os próprios sentimentos. Tem vivências e experiências sem se dar conta das relações que estas possuem com seus próprios sentimentos. De acordo com ele, o que sentem são geralmente apenas os afetos, já que estes produzem reações fisiológicas, sendo mais fáceis de se perceber. (Posição 58).
Destaca que a não-tomada de consciência sobre os sentimentos faz com que as pessoas não sejam capazes de avaliar o quanto determinados assuntos/ experiências representam para elas e por consequência, dão demasiada importância a assuntos irrelevantes e a desconsideram o que realmente importa, o que é por si (mas não somente por si só), nocivo. E itera além disso que:
 “ [...] quando esses sentimentos não se tornam conscientes, coisas em nós estagnam podendo desdobrar-se a partir dos mais estranhos efeitos totalmente incompreensíveis para nós. ” (Posição 117).
Falar com outras pessoas sobre as experiências é vital para o processo de tomada de consciência dos sentimentos, pois é na reação do outro perante as experiências/ vivências contadas é que os sentimentos envolvidos podem ser percebidos pelo sujeito que conta sobre si e as coisas. 
Ainda sobre os sentimentos, Jung afirma que ao tomar consciência de si, os seres humanos singram para o mundo consciência e os valores de sentimento originais são perdidos. Deste modo, estes sentimentos primordiais ficam submersos, o que leva as pessoas a uma separação de um mundo repleto de sentidos e sentimentos em prol de um desenvolvimento que é intermediado pela cultura. 
Embora subjacentes, estes sentimentos, são parte da personalidade, e a busca por torna-los conscientes é resgatar parte da humanidade – de si mesmo, e progredir na vida, invés de apenas ‘passar’ pelas coisas, o que facilitar abre caminho para que sejam mais sugestionáveis, e propensas a palavras de ordem, e a não refletir sobre o curso de suas ações, emoções e sentimentos.
 Sobre a redenção: 
Jung faz uso da bíblia cristã para ilustrar o conceito de sombra. De acordo com ele, seja no momento da criação em que Javé – o Deus cristão, separa Luz das trevas, mas não diz que essas trevas são boas, igual as demais coisas que criou. 
Javé é uma divindade ambivalente, ora é bom ao demonstrar piedade da humanidade ao poupá-la de uma nova destruição como a do dilúvio, e ora mal ao e permitir que seu próprio filho sofra até a morte para que seu sangue lave os pecados da humanidade, quando em sua onipotência fazer isto sem que precisasse do sacrifício brutal de seu próprio filho para livrar-se de um aborrecimento. Sendo feitos a imagem e semelhança de deus, os seres humanos também assim, o são - ambivalentes e complementares, luz e sombra. (Posição 256).
Sobre novos Símbolos:
Assim como o cristianismo um dia foi apenas um anúncio realizado por Paulo as comunidades judaicas, Jung menciona que certos símbolos presentes naquele período, como os discos voadores poderiam significar novos símbolos para a humanidade futuramente. Afirma que em diversas culturas e religiões a ideia de seres que vem de fora e incorporam na humanidade com intuito de ajudar ou instrui-la é muito presente, todavia, assim como outrora o foi com o cristianismo e no budismo, por exemplo, tais anúncios, não foram/ são imediatamente tomados como importantes preditores de novo (s) símbolos. (Posição 359 / 438).
Sobre as projeções:
De acordo com Jung, a projeção significa projetar características em alguém ou ‘perceber’ características neste alguém que não estão presentes nele, mas advém de outro lugar – que pode ser inclusive de quem projeta.
Esta projeção é fruto de algo que não está ocorrendo adequadamente com a pessoa que projeta. (Posição 462).
Neste tópico, Jung afirma que diante de desordem psíquicas, as pessoas tendem a se tornar mais atentas a si mesmas: 
“E, quando entramos numa desordem psíquica, recompomo-nos igualmente em termos psíquicos à medida que damos atenção a nós mesmos, refletimos sobre questões, nos confrontamos com elas, tomamos consciência delas, isto é, tudo aquilo que se refere a nós. Toda pessoa que sofre torna-se autorreferente, egocêntrica. Isso é absolutamente necessário para que possa se recompor novamente. ” (Posição 452).
Este movimento de atenção a si próprio é necessário para reconhecer as projeções e eliminar determinadas projeções:
“Agora vamos abrir todas as gavetas e ver qual a minha real situação”. E vejam, descobrimos toda espécie de coisas e percebemos que essas projeções já não são mais necessárias, que não necessitamos projetar tais coisas nos outros. Dessa forma naturalmente nos livramos das projeções. Mas nem sempre é um procedimento agradável, sofremos diversos danos. Vemos que não somos aquele cara cem por cento bacana. (Posição 493-496). 
De acordo com Jung, o desenvolvimento depende de assumir-se, e muitas vezes as projeções cerceiam-no: 
“Passamos por uma renovação pessoal somente quando nos assumimos. Entretanto, pessoas que têm como hábito projetar desejam sempre responsabilizar as outras pessoas, como se os outros fossem responsáveis pelas asneiras que cometemos”. (Posição 497-499).
É interessante perceber que as projeções não afetam apenas aquele que projeta, impedindo seu desenvolvimento através da tomada de responsabilidade, mas também podem causar danos àquele a quem a projeção é endereçada. Outro ponto é que as projeções podem advir de arquétipos – padrões de comportamento a priori:
Isso de fato gera um efeito. Isso o modifica. Por isso há muitos homens – com as suas respectivas esposas – que através do casamento tornam-se alvos de uma modificação psíquica, em função desses arquétipos que a esposa traz consigo. Et vice versa! [e vice-versa]. (Posição 541-542). 
Sobre o conceito de Sombra:
Jung define sombra como:
“[...] lado menos perfeito, menos luminoso, que sendo assim não compreende as ideias da perfeição". (Posição 677).
Jung faz um apanhado da figura de Cristo na bíblia e sobre a cristologia para discorrer sobre a ideia do conceito de sombra:
Cristo na teoria liberal é apresentado como humano, logo tem sombra. Diferentemente da ideia ortodoxa que evita essa ideia, que o vê como livre da mácula do pecado, sendo assim, não é humano, logo, não tem sombra. Irineu de Lyon do Início do século III diz que cristo nasceu com uma sombra, mas destacou-se dela e vivem sem a mesma. (Posição 679).
O diabo seria então, resultante desse destacamento que conscientemente, Cristo fez do lado sombrio, desde então, ele – Cristo passou a ser puramente luz e o diabo, puramente sombra. Javé seria a unidade, luz e sombra, enquanto o diabo o lado sombrio de Cristo, por isso uma série de símbolos incomum entre Cristo e o diabo - estrela da manhã por exemplo. (Posição730).
Essa ambivalência de Deus luz e sombra se apresenta na figura que deve ser amada e que deve ser temida. 
Jung aponta que vivemos sob a influência do deus sem sombra, e que o mal seria ausência do bem - ausência de deus. Todavia, tanto o bem como o mal, a luz e a sombra, o preto e o branco só fazem sentido se sua contraparte existir - é sua referência.
"[...] assim que começamos a refletir um pouco, fazemos as mais incríveis descobertas." (Posição 771-776).
Deus, segundo Jung é um valor atrelado a representação de cada um:
“Deus é a minha representação”, então isso não significa que Deus não existe! No lugar disso apenas digo: Aquilo que posso compreender é a minha representação. É algo que sei a seu respeito. Além disso nada sei! Sei apenas que esta é a minha representação". (Posição 788-790).
Jung afirma novamente essa ambivalência de Javé quando menciona uma parte da oração do pai nosso: "Não nos conduzi a tentação", ou seja, ele nos expõe a tentação, mas nos exige retidão. E exemplifica com a analogia da palavra “De-pressão” - pressão para baixo. A vida de homens considerados santos. Estes antes, precisaram ir a baixo, foram eles grandes pecadores e só depois redimidos e exaltados. 
Sobre conhecimentos Psicológicos:
Jung inicia afirmando que todo conhecimento para ser inteligível passa por nossas representações:
"Os senhores podem ver isso, por exemplo, através de nossos sonhos. Nem é certo que estes são da forma como os recordamos, provavelmente são bastante diferentes, porém incognoscíveis. Somente quando despertamos cobrimo-los com representações".
(Posição 989-990). 
E sobre a Psicologia o mesmo pode ser dito: 
"Então a nossa representação da psicologia é aquilo que sabemos a respeito desses processos internos. Isso é psicologia" (Posição 993-994). 
Jung afirma que a Psique é o que não sabemos, já que o que sabemos é a consciência, todavia esta, é segundo ele, perturbada por fatores inconscientes, logo, desconhecidos, então, percebemos desses processos apenas os efeitos que produzem na consciência. (Posição 998-1002).
Jung estabelece aqui uma relação entre inconsciente e arquétipo: 
"São processos relacionados aos instintos, que apresentam formas instintivas designadas de arquétipos". (Posição 1006-1007). 
Sobre o inconsciente coletivo, Jung afirma que não há mérito em lhe termos, ele é algo que está além de nossas vivências e está presente em outros seres humanos de lugares e vivências distintas: 
" [...] está presente antes de sabermos a seu respeito, faz parte do ser vivo". (Posição 1033-1034)
Para elucidar a questão da Psique objetiva – o inconsciente coletivo, Jung afirma que os sonhos são manifestações desse inconsciente coletivo, e como outrora afirmou - já há nos seres humanos uma estrutura axial, que será preenchida em torno desta, pelas vivências e pelo inconsciente individual – psique subjetiva. E os sonhos seriam maneiras de apontar para esta estrutura já existente, afinal, os sonhos de uma criança podem remeter: 
 "[...] existem sonhos de crianças que são sonhados num momento onde ainda não há uma consciência contínua.... Em um plano básico desse tipo, num sonho assim, pode aparecer, por exemplo, uma psicose e mais tarde a criança desenvolve uma esquizofrenia”. (Posição 1033-1034 /1037-1038). 
"A psique não é uma arbitrariedade nem uma coincidência, e sim, uma disposição bem determinada e funcional que a grosso modo é idêntica em todos os lugares e em todas as pessoas, assim como as disposições fisiológicas e anatômicas" (Posição 1081).
"[...] a psique também consiste em diversos arquétipos, em formas inatas. ” (Posição 1083 - 1084).
Referências:
FERREIRA, Cristiane. Entenda como funciona a contagem de páginas nos ebooks. Disponível em: http://www.vidasempapel.com.br/paginas-nos-ebooks/ Acesso em: 24 de Abril de 2017
JUNG, C. G. Sobre sentimentos e a sombra: Sessões de perguntas em Zurique. Editora Vozes. Edição do Kindle.

Outros materiais