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Intensivo LFG - Fernanda Marinela aula 3

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Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
EXTENSIVO SEMANAL TRABALHISTA 
Disciplina: Direito Administrativo 
Prof.: Fernanda Marinela 
Data: 08.03.2010 
Aula nº 03 
 
 
 
MATERIAL DE APOIO – MONITORIA 
 
 
Índice 
 
1. Artigos Correlatos 
1.1 Princípio da eficiência. Ainda a inspiração do gerente público? 
1.2 O princípio da isonomia e os privilégios processuais. 
1.3 Uma visão crítica do princípio da proporcionalidade. 
1.4 Comentário sobre a decisão proferida no julgamento da Argüição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental nº 45/DF. 
2. Assista!!! 
2.1 O que se entende por dimensão substancial do princípio do contraditório? 
3. Simulados 
 
 
1. ARTIGOS CORRELATOS 
 
1.1 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA. AINDA A INSPIRAÇÃO DO GERENTE PÚBLICO? 
 
Claudio Rozza 
Auditor Fiscal no Paraná 
Elaborado em 03.2009 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho objetiva rediscutir o princípio da eficiência ao lado dos demais princípios constitucionais (art. 
37, caput, da Constituição Federal/88) no gerenciamento da coisa pública, em meio a reflexos de crise 
financeira internacional, marolas e tsunâmis. 
 
Sem verticalização de aprofundamento teórico, e receando inevitáveis imprecisões ao tratar de temas tão 
fluidos, são reutilizados termos como Estado-rede, Estado enxuto, Agências Executivas, Agências 
Reguladoras, Organizações Sociais, Contratos de Gestão, Consórcios e Convênios. 
 
Como a inclusão do princípio da eficiência deve-se a poder constituinte derivado, também se debate sobre 
a coincidência com os demais princípios e com os objetivos perseguidos pelo ordenamento jurídico 
inaugurado pela Constituição de 1988. 
 
A inspiração neoliberal do princípio da eficiência, num mundo denominado globalizado, pode ter como raiz 
a antiga discussão sobre a predominância de um dos fatores de produção (capital) sobre o outro 
(trabalho). O rumo tomado pela legislação infraconstitucional decorrente da Emenda 19 parece ser no 
sentido de equilibrar as contas públicas, com provável aumento de desemprego, agora causado também 
por dispensas no setor público, mediante programas de desligamento voluntário e avaliação de 
desempenho. Por vezes, ars gratia artis, o controle pelo controle, legalista, formal, esquecido o seu 
caráter instrumental. Por vezes, denigre-se a imagem do serviço público, o olhar fixo na privatização de 
fatias importantes na área da saúde suplementar, aposentadoria suplementar, segurança particular, 
concessões, benesses, carências e juros subsidiados. Sem renovação dos quadros de servidores 
necessários à promoção de serviço público, sem qualificação dos existentes, obrigados a trabalhar pelas 
vagas não preenchidas, por parcos e congelados vencimentos, agravam-se as deficiências em 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
meio e com a desculpa da crise financeira mundial, da lei de responsabilidade fiscal, dos cortes 
orçamentários, necessários ao cumprimento do superávit primário, aumentando, círculo vicioso, a 
carência de médicos, professores, policiais... 
 
Que compatibilidade teria o princípio da eficiência em face dos objetivos destacados pela Constituição 
Federal (art. 3º, CF/88) se os efeitos decorrentes de sua aplicação gerassem equilíbrio nas contas 
públicas em detrimento do bem-estar social? Sua aplicação pela administração pública deve ser idêntica 
em países já estabilizados economicamente e em países "em desenvolvimento"? Em que sentido o 
princípio da eficiência será útil à nação ao se desdobrar em regramentos e orientar a Administração 
Pública? 
 
 
-------------------------------------------------------------------------------- 
2 PRINCÍPIO 
 
Sob inspiração neoliberal, a Emenda Constitucional 19 introduziu, entre os princípios regedores da 
Administração Pública, o da eficiência. 
 
Art. 37, caput: A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, 
do Distrito Federa e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência (...). 
 
O modelo de Estado voltado para as preocupações sociais assumiu tantas responsabilidades que, inchado 
em sua estrutura, não consegue nem recursos para continuar oferecendo os serviços públicos à 
comunidade, nem exercer o controle sobre o seu próprio organismo. 
 
Sem conseguir satisfazer plenamente a uma crescente exigência da sociedade, os governos vendem a 
imagem não do Estado do bem-estar social, que se não consegue manter, mas de um Estado enxuto. 
 
A visão é um tanto diferente da do Estado puramente liberal da era da industrialização. A orientação é 
para que se possibilite o atendimento ao cidadão usuário de serviço público. Nesta perspectiva, o Estado 
deixa de participar intensivamente da atividade econômica. 
 
Os interesses coletivos têm sua relevância alterada com o passar do tempo. O que constitui interesse 
público necessariamente será o reflexo do dinamismo expresso historicamente, fruto da cultura e da 
ideologia dominante. 
 
O Estado se relaciona ao mesmo tempo com vários níveis de vínculos, ora nacionais, com seus entes 
federados, ora com o concerto internacional de nações. 
 
O novo Estado, quase a abdicar de sua soberania, vincula-se a outras entidades políticas e todas elas são 
permeáveis ao intercâmbio econômico, cuja tendência maior é a ação livre de amarras legislativas. 
 
Na onda da globalização, na era da informática que revoluciona a comunicação, o exercício da cidadania, 
exige um Estado-rede capaz de autuar em conjunto com a sociedade e para isso observam-se princípios 
da subsidiariedade (o Estado substituído pela sociedade ou empresa em tudo o que não seja mais 
necessária a sua atuação), da flexibilidade na organização e atuação da administração, da coordenação, 
da participação cidadã, da transparência administrativa, da modernização tecnológica, entre outros [01]. 
 
No plano interno, o Estado brasileiro, até a década de 80, teve um participação cada vez maior na 
economia, quando a iniciativa privada, devido à maturação exigida pela implantação de alguns projetos, 
não dispunha de recursos ou por que a segurança nacional podia se ver ameaçada. 
 
Mas a década de 80 manifestou que o Estado não era mais capaz de arcar com a atividade pública 
empresarial assumida e, a partir de 1990, implantou-se uma política de privatização. 
 
Na perseguição do que se convencionou chamar de Administração Pública Gerencial, a 
implantação progressiva e crescente do processo de privatização inaugura um sistema peculiar 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
de fiscalização e controle estatal sobre a eficiência dos serviços privatizados e a eficiência do próprio 
serviço público. [02] 
 
A primeira fase de descentralização se deu através de criação de autarquias, empresas públicas, 
sociedade de economia mista. Numa segunda etapa ocorreu mais intensamente o enxugamento das 
atividades estatais, hoje arrefecida, tem termos. a visão privatizante. 
 
O papel do Estado com relação à atividade econômica tende a limitar-se à fiscalização, incentivo e 
planejamento, consoante o artigo 174-CF: Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o 
Estado tende a limitar-se à fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor 
público e indicativo para o setor privado. 
 
A diminuição do tamanho do Estado é devida a vários fatores, como: 
 
a)de ordem financeira, para diminuir os gastos públicos; 
 
b)de ordem jurídica, ao retornar ao particular a prestação do serviço público sem os controles que são 
exercidos sobre a Administração Pública; 
 
c)de ordem política, pela inspiração neoliberal. [03] 
 
Por meio das concessões, particulares prestam o serviçopúblico em seu próprio nome sob o controle da 
Administração Pública. 
 
O princípio da eficiência aponta para um novo modelo para a gerência da coisa pública mediante a 
utilização de conceitos trabalhados na administração da empresa privada. 
 
A eficiência diz respeito à produtividade, isto é, diz respeito a desempenho que se deve ter para atingir o 
resultado esperado. 
 
A ineficiência do atendimento às necessidades coletivas decorre de um Estado que cresceu muito e deixou 
de atender ao cidadão-usuário. 
 
Muitos se manifestaram entendendo, com relação ao princípio de eficiência que seu objetivo é claro: a 
obtenção de resultados positivos no exercício dos serviços públicos, satisfazendo as necessidades básicas 
dos administrados [04]. 
 
 
-------------------------------------------------------------------------------- 
3 AGÊNCIAS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS 
 
As entidades que anteriormente foram criadas como autarquias, empresas públicas, recebem agora a 
imposição do princípio da eficiência. Como a atividade é exercida ou pelo próprio Estado, ou pelo 
particular, ambas as atividades sofrem controle para auferir-lhes o desempenho. 
 
A Administração Gerencial do Estado, cujo modelo foi introduzido pela Emenda Constitucional 19, passa 
pela utilização das Agências Executivas, Agências Reguladoras e das Organizações Sociais com controle 
exercido mediante cláusulas de Contrato de Gestão. 
 
Assim, são criadas para o desempenho da atividade controladora duas espécies de autarquias. 
 
As Agências Executivas para ação delimitada ao interior da própria administração da atividade pública, 
devendo obedecer a metas previamente estabelecidas. 
 
A Lei 9.649/98, de 27.5.98, ao dispor sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, 
tratou nos artigos 51 e 52 das Agências Executivas, (a Lei 9.648, alterando o artigo 24, da Lei 8.666/93, 
amplia o limite de isenção do dever de licitar para as Agências Executivas). 
 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
Exemplo: INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial. 
 
As Agências Reguladoras destinam-se ao controle das atividades exercidas pela iniciativa privada. 
 
Exemplos: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (Lei 9.427/96, de 26.12.96), ANATEL – Agência 
Nacional de Telecomunicações (Lei 9.472/97, de 16.7.97), ANP – Agência Nacional de Petróleo (Lei 
9.478/97, de 8.8.97). 
 
A Lei 9.637/98 apresenta algumas características que devem ter as Organizações Sociais: 
 
- pessoas jurídicas de direito privado; 
 
-sem fim lucrativo (associações, fundações); 
 
-atividade de ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, preservação do meio ambiente, 
cultura e saúde. 
 
Quando atuando em áreas próprias do setor público, cumpridos requisitos estabelecidos pela Lei 
9.790/99, podem receber do poder público a denominação de OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil 
de Interesse Público. 
 
Poderão ser beneficiadas com recursos públicos e também por empréstimo da força de trabalho de 
servidores públicos. 
 
O particular, mediante Contrato de Gestão, atuará em seu próprio nome, sob regime privado, mas com 
apoio estatal. 
 
Tem sido denominada a atividade exercida pelas Organizações Sociais como de terceiro setor, nem 
puramente público, nem exatamente particular. Para não confundir com o setor terciário da economia, o 
da prestação de serviços (ao lado do primário e do secundário), também é denominado de setor 
quaternário. 
 
Exemplo de Organização Social: Associação Educativa Roquette Pinto. 
 
 
-------------------------------------------------------------------------------- 
4 CONTRATO DE GESTÃO, CONVÊNIOS E CONSÓRCIOS 
 
As parcerias estabelecidas com Organizações Sociais para execução de atividades, que podem ser tanto 
públicas quanto privadas, como no caso de prestação de serviços na área de saúde ou da educação, 
usarão como instrumento de acordo os Contratos de Gestão, do qual também poderão se utilizar Agências 
Executivas e Reguladoras, conforme artigo 37, § 8º, da e se unirão num mesmo interesse público. 
 
A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da Administração direta e 
indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder 
público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei 
dispor sobre: 
 
I-o prazo de duração do contrato; 
 
II-os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidades dos 
dirigentes; 
 
III-a remuneração do pessoal. 
 
Na verdade, trata-se mais propriamente de um convênio, ou conjugação de esforços, e não de contrato. 
Contrato quer dizer acordo de vontades. Na Administração Pública direta, os entes que podem 
manifestar vontade são a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios. Na visão orgânica da 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
Administração, a entidade não pode contratar com o seu próprio órgão, porque o órgão não manifesta a 
vontade, o órgão pertence ao ente que manifesta a vontade. 
 
A denominação de contrato poderia caber quando referindo-se a acordo estabelecido com as Organizações 
Sociais, no entanto, o conceito se aproxima mais de um convênio pois não serão acordadas obrigações 
recíprocas. Tanto a Administração como as Organizações é que se unirão num mesmo interesse público. 
 
A modalidade do assim denominado "contrato de gestão" (ou como melhor expressão "acordo de 
programa") recebeu, com a Lei 9.637, de 13.3.98, que criou o Programa Nacional de Publicização, uma 
específica alternativa institucional padronizadora dos requisitos formais e materiais para a celebração e 
execução dos acordos a serem ajustados sob o regime público administrativo nela previsto, com vistas à 
publicização, por via de transferências administrativas, de atividades desenvolvidas por pessoas jurídicas 
de direito privado qualificadas como organizações sociais. [05] 
 
A nova ótica que se tenta imprimir à Administração Pública que sempre foi determinada por atos 
unilaterais ou de contratos administrativos caracterizados pelas cláusulas exorbitantes, admite agora 
maior flexibilidade na congregação de esforços entre particulares e governo para consecução de objetivos 
de interesse geral. 
 
Não são opostos, na verdade, os interesses públicos e os privados. O interesse privado está embutido no 
interesse público geral, do qual o particular participa. O indivíduo se congrega aos outros indivíduos, e, no 
Estado Democrático de Direito, comunga de interesses coletivos comuns. Daí que não é da Administração 
a preocupação na busca dos bens comuns. O interesse é de todos porque é de cada um que compõe este 
todo. Em conseqüência, a responsabilidade não é apenas do governo, a responsabilidade é de todos. 
 
Ao lado da ação estatal de visão hierarquizada, verticalizadora, de caráter subordinativo, pretende-se uma 
transição para uma visão cooperativista, horizontalizadora, de caráter coordenativo. 
 
Neste sentido, a nova redação do artigo 241, dada pela Emenda Constitucional 19: 
 
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios e os 
convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, 
bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade 
dos serviços transferidos. 
 
Pelo consórcio são estabelecidas metas comuns e cooperação no desempenho entre entidades públicas. 
 
Pelo convênio, as metas comuns e a cooperação de desempenho se estabelecem entre entidades quer 
sejam públicas ou privadas. 
 
O conjunto das disposições da Emenda Constitucional 19 traz parao governo a incumbência de agir de 
acordo com orientações administrativas praticadas pelos particulares ao gerir recursos com maior 
eficiência. Esta ideologia marcante em todos os quadrantes do mundo inspira mudanças legislativas em 
diversos países. 
 
 
-------------------------------------------------------------------------------- 
5 OBJETIVO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
 
Para onde as reformas constitucionais estão levando o país? 
 
Se o país é ineficiente e inchado em sua estrutura, será tentando diminuir-lhe a gordura que atenderá 
melhor à população carente de sua atenção? 
 
Quem atenderá à população não será, necessariamente, um profissional de carreira, servidor público. 
Necessariamente, não será um funcionário público, consciente de seu múnus, a prestar o melhor serviço 
possível, e aperfeiçoar-se neste mister. 
 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
O antigo servidor público é substituído por profissional ligado à área privada da economia. 
 
O interesse privado prevalece na atividade econômica (Art. 170-CF: A ordem econômica, fundada na 
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, 
conforme os ditames da justiça social...) pois a sua exploração pelo Estado se limita aos imperativos da 
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei, segundo reza o artigo 
173, da Constituição Federal. 
 
É do interesse privado a limitação do custo, do prejuízo, para obtenção de um lucro maior para o 
acionista. É nesta dimensão que se busca a satisfação do cliente. Cliente satisfeito é meio para obtenção 
do lucro. 
 
Sempre que se quer aumentar o lucro, diminui-se o custo. Não haverá motivo para atender alguém se 
este atendimento, esta prestação de serviço, não corresponder a ingresso de receita. 
 
Espera-se que a eficiência proporcione serviço público, atendimento a necessidades coletivas, atingindo o 
bem comum. 
 
O artigo 3º-CF manifesta a razão de ser do Estado brasileiro: 
 
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
 
I-construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
 
II-garantir o desenvolvimento nacional; 
 
III-erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
 
IV-promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras 
formas de discriminação. 
 
Este objetivo primeiro inspira toda a Constituição brasileira. É com esta perspectiva que a nação se 
organizou politicamente, e sob a inspiração desta Constituição se plasmou o ordenamento jurídico. 
 
Mas se não se coadunar com este interesse, o princípio da eficiência não estará condizente com o modelo 
de país que se quis traçar pela Constituição. 
 
A estes objetivos elencados no artigo 3º, da Constituição Federal, se vinculam os interesses públicos 
primários. 
 
Em busca dos interesses públicos secundários da Administração pretende-se alcançar, como qualquer 
outra entidade, uma melhor gerência de seus recursos, diminuindo seu custo com servidores, por 
exemplo. 
 
O princípio da eficiência, introduzido no conjunto de reformas administrativas pela Emenda Constitucional 
19, deverá se traduzir em efeitos positivos para o conjunto da população e não se reduzir a índices 
estatísticos de demonstração de produtividade, apenas minorando custos para obtenção de equilíbrio nas 
contas públicas. 
 
Pelo princípio da moralidade, o agir deve ser em busca do bem, além da legalidade (compreende a 
lealdade e a boa-fé). Malversando recursos, pelo princípio da indisponibilidade dos bens públicos, não se 
buscaria a finalidade intrínseca do bem agir, buscando o objetivo maior do interesse público. 
 
Ora, projetos de normatização infraconstitucional têm o sentido de que seja atingido o equilíbrio na 
situação das contas do país. 
 
Quando se alcançar o equilíbrio, atingir-se-á a eficiência pelo gerenciamento adequado dos 
recursos disponíveis. 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
 
A legislação complementar decorrente da Emenda Constitucional 19 visa a atingir o bem da população em 
geral, que amarga miséria e desemprego crescente, para minorar a sua situação, inclusive com 
saneamento básico, atendimento à saúde, educação? Ou apenas o saneamento das contas públicas? A 
responsabilidade fiscal é serviente da responsabilidade social. 
 
Um país com contas públicas acertadas é mais confiável para o capital estrangeiro que aqui poderá fazer a 
sua aplicação financeira na certeza de que o capital será corretamente amortizado e engordado de juros. 
 
O projeto de Lei Complementar 248 (disciplina a perda de cargo público por insuficiência de desempenho 
do servidor público estável), após votada na Câmara, recebeu emendas no Senado, retornou à Câmara, e 
tem sido retirada de pauta a sua discussão, passada a efervescência dos primeiros momentos da, em 
certo ponto, exagerada preponderância dos conceitos de gerência e de enxugamento da máquina pública. 
 
Discute-se a razoabilidade destas iniciativas nas circunstâncias conjunturais do país em que os índices de 
desemprego sempre se mantêm elevados. Tendências neoliberais visualizam a Administração Pública com 
maior produtividade num Estado "enxuto", e, para isto, preparam o arcabouço jurídico infraconstitucional. 
 
No mesmo sentido de tornar enxuto o Estado, a avalanche de discussões sobre o papel do Judiciário, seu 
controle externo e, por vezes, o preconizado fim da justiça especial do trabalho. 
 
Tornaram-se comuns expressões como flexibilização no sentido de adaptação de normas jurídicas diante 
do dinamismo das alterações provocadas pelo novo contexto econômico inspirado pela globalização, em 
meio a uma sempiterna crise financeira, em movimentos de sístole e diástole, marolas e tsunâmis. 
 
No Direito do Trabalho, por exemplo, tratam-se de temas como duração da jornada do trabalho, 
contratação, salários, visando a diminuir os encargos sociais, até em detrimento de direitos arduamente 
conquistados pelos trabalhadores. 
 
O termo "desregulamentação" tem sido utilizado tendo em vista uma redução de normas ditadas pelo 
Estado, deixando um maior espaço para a iniciativa privada [06]. 
 
Tudo parece ser em favor do fator de produção "capital" em detrimento do fator de produção "trabalho", 
numa tensão que se estende ao longo da História. 
 
Já houve época em que acordos entre a Administração Pública e os empresários permitiu que uma cesta 
básica sofresse pouca pressão inflacionária para possibilitar aos assalariados de menor renda melhor 
acesso ao alimento. No entanto, também grassa ou desgraça o desemprego. 
 
 
-------------------------------------------------------------------------------- 
6 EFICIÊNCIA, PRODUTIVIDADE E EFICÁCIA 
 
A eficiência é avaliada comparando-se os resultados alcançados com os recursos utilizados. 
 
A produtividade é uma relação entre os recursos empregados e resultados obtidos: é medida contando-se 
quantas unidades de produção ou serviços são realizadas por uma unidade de recurso numa unidade de 
tempo. Um sistema eficiente é o que utiliza racionalmente seus recursos. 
 
Isto significa que, quanto maior a qualidade e a quantidade de recursos obtidos com o emprego dos 
recursos disponíveis, mais produtiva ou eficiente será a organização. [07] 
 
 
-------------------------------------------------------------------------------- 
7 UTILIDADE DA EFICIÊNCIA 
 
De conformidade com a atualização realizada na obra de Hely Lopes Meirelles, por Eurico de 
Andrade Azevedo, Délcio Balestero Aleixo e José Emmanuel Burle Filho, na edição de 1999, em 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
função da EmendaConstitucional 19, destacou-se que o princípio da eficiência exige que a atividade 
administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio 
da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo 
resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e 
de seus membros [08]. 
 
Há que se ver os aspectos positivos da utilização de técnicas administrativas gerenciais. No entanto, 
quando se visa mais ao resultado do que o meio, o receio é que os fins venham a justificar os meios. 
Assim, o princípio da moralidade deve sempre estar presente, para que não haja desvirtuamento do 
espírito geral e fundamental da Constituição de 1988, diante da Emenda 19, emanada por um poder 
constituinte derivado. 
 
No fundo, contudo, o agente ou sujeito da reforma é o poder constituinte originário, que, por esse 
método, atua em segundo grau, de modo indireto, pela outorga de competência a um órgão constituído 
para, em seu lugar, proceder às modificações que a realidade exige. [09] 
 
Por isso é importante salientar, e observar a tendência, as intenções, as entrelinhas, para que se preserve 
e se concretize a Constituição. 
 
Vale dizer que a eficiência é princípio que se soma aos demais princípios impostos à Administração, não 
podendo sobrepor-se a nenhum deles, especialmente ao da legalidade, sob pena de sérios riscos à 
segurança jurídica e ao próprio Estado de Direito. [10] 
 
 
O princípio da eficiência está já incluso no princípio da legalidade cujo desvirtuamento traduzirá pelo 
servidor público abuso de poder, ou desvio de finalidade, que será sempre voltada para o interesse 
público, e serve de moldura inclusive para atos denominados discricionários da Administração Pública. 
 
Os conflitos entre legalidade e eficiência terão no campo da temática espaço cativo e deverão ser 
enfrentados sem desprezo ao direito e à prevalência do verdadeiro interesse público. [11] 
 
O princípio da eficiência deve ser analisado na dependência do conjunto dos princípios que regem a 
administração pública. 
 
Quanto ao princípio da eficiência, não há nada a dizer sobre ele. Trata-se evidentemente, de algo mais do 
que desejável. Contudo, é juridicamente tão fluido e de tão difícil controle ao lume do Direito, que mais 
parece um simples adorno agregado ao art. 37 ou o extravasamento de uma aspiração dos que buliram 
no texto. [12] 
 
 
-------------------------------------------------------------------------------- 
8 EXCESSO x RAZOABILIDADE 
 
Não é possível utilizar o mesmo princípio e com a mesma finalidade em países já resolvidos socialmente, 
já estruturados politicamente, como na economia estabilizada européia e em países da América Latina ou 
África que abrigam largo contingente de miseráveis. 
 
Uma vez reconhecido que nos Estados apenas formalmente democráticos o jogo espontâneo das forças 
sociais e econômicas não produziu, nem produz por si mesmo – ou ao menos não o faz em prazo 
aceitável – as transformações indispensáveis a uma real vivência democrática, resulta claro que, para 
eles, os ventos neoliberais, soprados de países cujos estádios de desenvolvimento são muito superiores, 
não oferecem as soluções acaso prestantes nestes últimos. Valem, certamente, como advertência contra 
excessos de intervencionismo estatal ou contra a tentativa infrutífera de fazer do Estado um eficiente 
protagonista estelar do universo econômico. Sem embargo, nos países que ainda não alcançaram o 
estágio político cultural requerido para uma prática real da democracia, o Estado tem de ser muito mais 
que um árbitro de conflitos de interesses individuais. [13] 
 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
Há uma tendência hoje ao "darwinismo social". Só os fortes, os melhores, os eficientes da espécie 
sobrevivem. Os ineptos à concorrência, considerados indivíduos inferiores. O princípio da eficiência não 
deve submeter o fator de produção "trabalho" ao "capital". O fantasma do desemprego torna insegura a 
sociedade. As ameaças de exoneração de servidores, dispensa de empregados, PDVs (Planos de Demissão 
Voluntária) vêm como corolário do equilíbrio fiscal e das metas traçadas junto ao FMI (Fundo Monetário 
Internacional) e demais organismos financeiros internacionais. [14] 
 
Paulo Bonavides afirma que sua tese concluída no ano de 1958 permanece tema de igual importância na 
reflexão sobre a atualidade tendo em vista o ataque da ideologia neoliberal que o consagrado autor 
considera um verdadeiro retrocesso diante da evolução do direito. 
 
Com efeito, o Estado social contemporâneo compreende direito da primeira, da segunda, da terceira e da 
quarta gerações numa linha ascendente de desdobramento conjugado e contínuo, que principia com os 
direitos individuais, chega aos direitos sociais, prossegue com os direitos da fraternidade e alcança, 
finalmente, o último direito da condição política do homem: o direito à democracia. [15] 
 
Comenta, ainda, que escorado na globalidade, ele (referindo-se ao neo-liberalismo) é também o mesmo 
liberalismo de outrora, em cujo ventre o gênero humano viu gerar-se o desemprego, a fome, a penúria, a 
miséria, a enfermidade, o analfabetismo; flagelos de aguda intensidade neste fim de século, fazendo o 
mundo contemporâneo mais injusto e violento que o universo social da Revolução Industrial dos séculos 
XVIII e XIX [16]. 
 
 
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9 CONCLUSÃO 
 
A eficiência atingiu o status de princípio constitucional por força de emenda, ou seja, por poder 
constituinte derivado. Precipuamente, será instrumento de utilidade para atingir o interesse público 
secundário, como decorre dos projetos de legislação infraconstitucional que inspirou. Todavia, o objetivo 
maior da nação brasileira expressa-se no artigo 3º da Constituição Federal e, nesta dimensão, deve ser 
analisada a eficiência. 
 
Quando e na medida em que o instrumental técnico da ciência da administração for colocado a serviço do 
interesse público primário e, somente neste diapasão, o novo princípio não estará afetando o espírito 
constitucional originário. 
 
Os demais princípios insculpidos na Constituição Federal, explícita ou implicitamente, inspiram a 
Administração Pública e o princípio da eficiência se condiciona a eles. 
 
A Administração Pública, antes que superávit, equilíbrio financeiro, mede sua eficiência na medida em que 
cumpre o desiderato como serviente prol da dignidade da pessoa. 
 
Dados os princípios primeiros que regem a Administração Pública, como serviente à supremacia do 
interesse público sobre o particular e a indisponibilidade do interesse público, o princípio da eficiência, na 
verdade, queda diante deles como uma variável dependente. 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
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TÁCITO, Caio. Transformações de direito administrativo. Boletim de direito administrativo. n. 2. São 
Paulo: NDJ, fev. 1999. 
 
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Notas 
 
1.CASTELLS, Manuel. O Estado-rede e a reforma na Administração Pública. Revista Gerencial. M.A.R.E., 
jul 1988, p. 27. 
1.TÁCITO, Caio. Transformações de Direito Administrativo. Boletim de direito administrativo. N.2. São 
Paulo: NDJ, fev 1999, p. 85. 
1.PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Parcerias na administração pública – concessão, permissão, franquia, 
terceirização e outras formas. São Paulo: Atlas, 1996, p. 21. 
1.BULOS, Uadi Lammêgo. Reforma administrativa (primeiras impressões). Revista de direito 
administrativo. N. 214. Rio de Janeiro: Renovar, out./dez. 1998, p. 77. 
1.MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Coordenação gerencial na administração pública. Revista do 
direito administrativo. N. 214. Rio de Janeiro: Renovar, out./dez. 1998, p. 49. 
1.CATHARINO, José Martins. Neoliberalismo e sequela. São Paulo: Ltr, 1997, p. 43. 
1.MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Introdução à administração. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1995, 52. 
1.MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 89. 
1.SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 13 ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 
67. 
1.PIETRO, Maria Sylvia Zanela Di. Direito administrativo. 10 ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 74. 
1.PIRES, Maria Coeli Simões. Terceiro setor e as organizações sociais. Boletim de direito administrativo. n. 
4. São Paulo: NDJ, abr. 1999, p. 254. 
1.MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 11 ed. São Paulo: Malheiros, 1999, 
p. 75. 
1.MELLO, Celso Antônio Bandeira de. A democracia e suas dificuldades contemporâneas. Revista de direito 
administrativo. n. 212. Rio de Janeiro: Renovar, abr./jun. 1998, p. 61. 
 
 
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1.OLIVA, Antônio Lucena de. Ética, utopia e globalização. LEOPOLDIANVM – Revista de Estudo e 
Comunicações. Vol. XXII, 62. Santos: UNISANTOS/Loyola, 1996, p. 61. 
1.BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 16. 
1.BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao. .., p. 20. 
 
Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12638 
 
 
1.2 O PRINCÍPIO DA ISONOMIA E OS PRIVILÉGIOS PROCESSUAIS 
 
Agapito Machado 
Juiz federal no Ceará, professor de Direito na Universidade de Fortaleza (Unifor) 
 
01. Para discorrer sobre o princípio da isonomia e os privilégios processuais é indispensável façamos, 
inicialmente, a distinção da Fazenda Pública agindo no interesse público/coletivo, vale dizer, no seu jus 
imperii e na posição de parte em uma relação processual. 
 
02.Não é novidade dizer que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, caput, determinou que todos 
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. 
 
03.Como quem estaria desconfiando de que os conservadores não a aceitariam, o Constituinte só no art. 
5º, caput e inciso I, menciona, por duas (2) vezes a palavra iguais e uma (1) vez, a palavra igualdade. 
 
04.A igualdade constitucional/processual não deve ser interpretada de modo a sempre nivelar o particular 
ao Poder Público, já que este age em nome de uma coletividade na qual se insere o próprio particular. 
Assim, um particular jamais poderá exercer o chamado poder de polícia, criar um tributo, decretar uma 
desapropriação, um estado de sítio etc., próprios do Poder Público. 
 
05.Portanto, no campo desse interesse público/coletivo, é necessário não se igualar o Poder Público ao 
particular, sob pena mesmo de se tornar inútil todo o ramo do Direito Administrativo construído que foi ao 
longo de décadas. 
 
06.Abstraída, destarte, a atuação do Poder Público no seu jus imperii, bem diferente é a sua posição como 
parte dentro de um devido processo legal. 
 
07.Como parte, seja no pólo ativo ou passivo, no devido processo legal, não vemos como se possa, diante 
do caput do art. 5º da CF/88, continuar admitindo a desigualdade em benefício de uma pessoa jurídica de 
direito público, tais como: contra ela não ocorrerem os efeitos da revelia, ter direito ao prazo em 
quádruplo para contestar e em dobro para recorrer, duplo grau, entre tantos outros privilégios. 
 
08.Não é possível se interpretar uma lei ordinária senão a partir da Constituição vigente (fenômeno da 
recepção). Envergonha-nos possa um magistrado se insurgir contra a Constituição de seu País e julgar 
para agradar a opinião pública ou a quem quer que seja, trazendo, assim, uma enorme insegurança aos 
jurisdicionados. É muito fácil fazer média com a opinião pública ficando no campo da retórica. 
 
09.É incrível como possa alguém permanecer fiel às interpretações banidas por uma nova Constituição, se 
esta, todos sabem, rompe com o ordenamento jurídico anterior. Como foi difícil entenderem alguns 
Tribunais que os procedimentos imorais de ascensão e progressão funcionais agrediam à Constituição de 
1988. Foi preciso esperar quase quatro (4) anos para que o STF, em sua atividade judicial, liquidasse o 
assunto, atestando a inconstitucionalidade de tais provimentos. 
 
10.Temos entendido, e não encontramos razões para mudar que, em face do caput do art. 5º da CF/88, 
foram eliminados todos os privilégios processuais da Fazenda Pública. Todavia, dado ao aspecto 
conservador dos Tribunais, esses pontos de vista não têm sido aceitos em grau de recurso. Compete ao 
juiz de 1º grau, estudioso, dedicado e sem preocupações outras senão julgar com igualdade e cumprindo 
a Constituição, trazer interpretações compatíveis com a nova Constituição e, portanto, entendimentos 
novos ao seu Tribunal. Quem sabe não ocorra o exemplo citado por ELIEZER ROSA in A Voz da 
Toga, "E aqui um conselho da experiência: não tenha o juiz a lei de cor.Se à força de manejar 
 
 
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seu código chegar a decorar seus textos, busque esquecer. Sempre que tiver de aplicar uma lei, abra o 
código e leia o texto que entende aplicável. Leia-o em momentos diversos, em horas diferentes. Dessa 
leitura pode surgir inesperadamente uma nova interpretação benéfica. Durante mais de meio século, os 
tribunais franceses leram o art. 1.382 do Código de Napoleão e o aplicavam tal como lhes soava sua letra. 
Um grave acidente que vitimou um grande número de operários que ficaram ao desamparo de uma 
necessária indenização, segundo a doutrina tirada do dito texto, levou um juiz estudioso a uma leitura do 
revelho artigo. E sem mudar uma só palavra no anoso texto, levou ao seu tribunal uma leitura nova, uma 
inteligência nova daquele versículo legal. Nesse dia, nasceu para o mundo ocidental a teoria da 
responsabilidade sem culpa". 
 
11.Tão logo promulgada a CF/88, já entendíamos que os privilégios processuais (não confundir com jus 
imperii) da Fazenda Pública haviam desaparecido, especialmente agora com o advento da Lei 
Complementar, bipartindo o Ministério Público com a Advocacia Geral da União (CF/88, art. 131 e 
parágrafo único) e em breve o surgimento também da Lei Complementar (art. 134 da Cf/88) da 
Defensoria Pública. Assim também entenderam Rogério Lauria Tucci e José Rogério Cruz e Tucci in 
"Constituição de 1988 e Processo", Saraiva, pág. 41, e o Juiz José Augusto Delgado, agindo na qualidade 
de jurista, para quem "não há mais lugar para a existência de privilégios e proibições processuais. 
Desapareceram todos: prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer; o privilégio disposto 
no art. 20, § do CPC; não há mais obrigação de se sujeitar ao duplo grau decisões judiciais contra a 
Fazenda Pública; tratamento diferenciado ao Ministério Público, quando ele age como parte; é descabida a 
exigência de pessoas privadas de cauções processuais do tipo previsto no art. 835 do CPC; não se pode 
mais exigir o depósito para a ação rescisória dos particulares; inexistem, no processo de execução, os 
dispositivos que desigualam as partes, a exemplificar os artigos 599, 600 e 601 do CPC; a mulher casada 
pode apresentar queixa-crime sem o consentimento do marido, estando revogado o art. 35 do CPP" (in A 
SUPREMACIA DOS PRINCÍPIOS NAS GARANTIAS PROCESSUAIS DO CIDADÃO). 
 
12.O que é necessário ser entendido, de uma vez por todas, é o fato de que o jurisdicionado particular 
não tem culpa alguma de somente mais de 4 (quatro) anos após promulgada a CF/88, venha a ser 
editada Lei Complementar bipartindo o Ministério Público e a Advocacia Geral da República e assim 
eliminando a complexidade e a concentração dos serviços antes apenas nas mãos de um órgão. Que se 
criem cargos para atender ao acúmulo de serviços na área da Justiça, da Fazenda Pública, do Ministério 
Público e Defensoria Pública. O Constituinte deu essa solução, mas o legislador ordinário permaneceu 
inerte por mais de quatro (4) anos, aspecto este meramente extra-jurídico. Assim, com a devida vênia, 
não temos a felicidade de concordar com o ilustre jurista Nelson Nery Júnior (in Princípios do Processo 
Civil na Constituição Federal, RT, 1992, págs. 42/43), eis que anterior à CF/88, de que "a concessão de 
benefício de prazo no processo à Fazenda Pública e ao Ministério Público é da tradição do direito brasileiro, 
sendo medida de eqüidade, dada a imensa carga de serviços desses órgãos", até porque o Ministério 
Público se caracteriza pela unidade e indivisibilidade (CF/88, art. 127), mormente em matéria de direito 
que se repete na Justiça, sendo objeto de contestações padronizadas via computador, isso sem se cogitar 
da utilização da ação cível pública que substitui milhares de processos individuais e facilita sobremaneira a 
missão do Ministério Público. Assim, não vemos como se continuar invocando "tradição de nosso direito à 
concessão de tais privilégios processuais", até porque é essa malsinada "tradição" que não tem permitido 
os Tribunais evoluírem, curvando-se ao conservadorismo em prejuízo do jurisdicionado. 
 
13.Demais disso, se os Procuradores das pessoas jurídicas de direito público, mesmo diante da bipartição 
das funções do Ministério Público e Advocacia Geral da União e em breve da Defensoria Pública, bem 
como da utilização da ação cível pública, ainda tiverem dificuldades em obter os elementos para defesa 
em Juízo, por parte de seus órgãos, que então responsabilizem os responsáveis por tais órgãos. O que 
não se justifica é transferir uma culpa da administração ao jurisdicionado já tão penalizado por ela. Temos 
dito, ainda, que o Judiciário está assoberbado de processos porque o Poder Público não cumpre bem sua 
função e em casos considerados simples fica preferindo ser acionado e onerando o próprio povo com a 
sucumbência a ser paga, o que é um absurdo. A prova disso está em que o Governo, recentemente, 
preferiu contratar diretamente profissionais da área jurídica para fazerem sua defesa em juízo, sem se 
sujeitar à licitação, já que esta, ao contrário, estava selecionando profissionais incompetentes que 
somente lhe deram maior prejuízo. 
 
14.Mas não é só. O que se dizer, por exemplo, de um Procurador de uma pessoa jurídica de 
direito público precisar de sessenta (60) dias para contestar uma ação que envolve matéria 
 
 
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unicamente de direito, se sequer necessitará de pedir aos órgãos a ele subordinados qualquer dado 
fático? E, após proferida a decisão, necessitar de 30 (trinta) dias para recorrer? 
 
15.O princípio da isonomia necessita ser efetivado para não ficar no mero campo da retórica. A propósito 
da importância desse princípio, trazemos à baila o entendimento do mestre em Direito Tributário José 
Souto Maior Borges, "verbis": 
 
"1.1 O princípio da isonomia não corresponde a uma norma igual em eminência a outra qualquer, ou 
mesmo aos outros princípios, no contexto constitucional. A análise do seu conteúdo revelará a sua insigne 
posição, que lhe realça decisivamente o significado normativo, em comparação com os outros princípios e 
normas constitucionais. Com surpreendente perspicácia, Francisco Campos já advertira o intérprete e 
aplicador da Constituição para a eminência da isonomia no confronto até mesmo com os outros princípios 
constitucionais: ''A cláusula relativa à igualdade diante da lei vem em primeiro lugar na lista dos direitos e 
garantias que a Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no país. Não foi por acaso 
ou arbitrariamente que o legislador constituinte iniciou com o direito à igualdade a enumeração dos 
direitos individuais. Dando-lhe o primeiro lugar na enumeração, quis significar expressamente, embora de 
maneira tácita, que o princípio da igualdade rege todos os direitos em seguida a ele enumerados'' (Direito 
Constitucional, vol. 2º, Rio, Livraria Freitas Bastos, 1956, p. 12). 
 
1.2 Essa transcrição, de magistério ainda hoje atualíssimo, fornece a pedra de toque para a exegese do 
texto concernente aos direitos e garantias fundamentais discriminados na Constituição Federal de 1988. 
Deveras: na ordem de sua hierarquia substancial, isto é, de importância da matéria constitucionalmente 
regulada (e que nada tem a ver com a hierarquia formal, sintática, entre normas supra e infraordenadas), 
os princípios constitucionais, tais como a federação, a república (art. 1º caput) e a tripartição do poder 
(art. 2º), acentuam a sua proeminência no contraste com as restantes normas, p. ex., o art. 87, 
parágrafo único, III, que dá ao Ministro de Estado competência para elaborar relatório anual da gestão de 
seu ministério. Esse privilegiamento constitucional é acentuado pela própria insuscetibilidade à reformade 
alguns desses princípios, sobretudo a forma federativa de Estado, a separação de poderes e os direitos e 
garantias individuais (art. 60, § 4º). 
 
1.3 Pois bem: na região dos princípios constitucionais observa-se essa hierarquia de importância mesmo 
entre essas normas-princípio. Porque não é aleatoriamente que o art. 5º, caput, da CF de 1988 enuncia a 
isonomia antes mesmo e à frente da discriminação dos direitos e garantias fundamentais que institui. 
Dessa posição ''topograficamente'' eminente da isonomia resulta uma proeminência substancial desse 
princípio: ele penetra, como uma linfa, os demais direitos e garantias constitucionais, perpassando-lhes o 
conteúdo normativo: ''rege todos os direitos em seguida a ele enunciados'', na lição de Francisco 
Campos". 
 
"1.6 Igualdade diante da lei não é expressão equivalente a igualdade em direitos e obrigações, porque a 
igualdade diante da lei poderia ser ardilosamente entendida como uma igualdade apenas formal. No 
sentido de que nada adiantaria quanto ao conteúdo da lei. Não a igualdade substancial. Pois é para 
espancar esses ardis hermenêuticos que a Constituição Federal, em mera aparência de redundância, 
enuncia, já no item I do art. 5º, a igualdade de homens e mulheres em direitos e obrigações. 
 
Já aí se manifesta o caráter substancial desse direito. Não se trata de mera igualdade formal diante da lei, 
mas de igualdade substancial no interior da própria legalidade. Esta é a morada da isonomia. Incumbe-lhe 
a custódia do princípio-dos-princípios constitucionais, a isonomia". 
 
"2.1 Há duas formas distintas - nitidamente distintas, posto em geral inapercebidas - de positivação de 
igualdade jurídica. A primeira delas é a igualdade diante da lei. Esta pode existir até mesmo quando a 
igualdade não corresponda ao conteúdo da lei. A igualdade perante a lei nada mais significa senão a 
simples conformidade, em todas as situações que lhe forem subsumidas, da conduta humana à norma de 
conduta: ''Com efeito, a chamada ''igualdade'' perante a lei não significa qualquer outra coisa que não 
seja a aplicação legal, isto é, correta, da lei, qualquer que seja o conteúdo que esta lei possa ter, mesmo 
que ela não prescreva um tratamento igualitário, mas um tratamento desigual'' (Kelsen, A Justiça e o 
Direito Natural, Coimbra, Arménio Amado, 1963, p. 79). 
 
 
 
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A rigor, a igualdade diante da lei somente postula que a aplicação da lei corresponda sempre à sua 
incidência. Daí o seu caráter formal: nada prescreve sobre a igualdade como o conteúdo da própria lei 
aplicada. A tônica é aí na inexceptualidade da aplicação concreta da norma, sempre que ocorrentes os 
seus pressupostos fáticos. 
 
2.2 Não é essa contudo a única igualdade a que se refere o art. 5º da Constituição Federal. Porque esse 
dispositivo trata da igualdade não só ante a lei, mas também como um conteúdo da legislação que lhe é 
integrativa. Vincula-a, numa relação sintática de supra e subordinação, no tocante à predeterminação do 
seu conteúdo, isto é, o próprio âmbito material de validade da norma (igualdade na lei, igualdade 
contenutística - diria, Pontes de Miranda). De tal sorte que, se desconsiderado o preceito constitucional, o 
ato legislativo ou administrativo de sua aplicação incorrerá em inconstitucionalidade. A igualdade na lei é 
igualdade material; somente existe quando a lei prescreve, ela própria, um tratamento igualitário. Será a 
igualdade, em tais condições, ''matéria'' do ato legislativo. 
 
A Constituição Federal, em seu art. 5º, não enuncia apenas e igualdade formal de todos diante da 
aplicação da lei. Não se circunscreve a anunciar o direito à reta aplicação da lei tributária, entendida essa 
retitude como a adequação entre norma de conduta e conduta normada; adequação a ser procedida no 
ato-de-aplicação pelos juízes e tribunais. Tal limitação, um amesquinhamento do princípio, somente 
poderia prevalecer se o art. 5º estancasse a formulação do direito à isonomia na parte inicial do 
enunciado: ''Todos são iguais perante a lei'' (e não na lei). 
 
2.3 Um dos mais delicados se não o mais delicado problema da exegese da isonomia consiste na 
prefixação dos seus limites, isto é, a caracterização das discriminações que são constitucionalmente 
toleradas e as que não o são. Sejam quais forem esses limites (que aqui não cabe determinar) pode-se 
concluir pela extrema amplitude do significado normativo do direito à isonomia como conteúdo da lei 
porque o próprio art. 5º é logo a seguir expresso: a igualdade não é só diante da lei. Ela se completa pela 
expressa interdição constitucional: ''Sem distinção de qualquer natureza''. Já aí a Constituição Federal 
vincula o conteúdo da legislação integrativa, esclarecendo em que consiste o igual tratamento. Trata-se 
da consistência material da própria igualdade. Quando se considere que a igualdade é princípio dirigido 
primariamente à legislação integrativa da Constituição Federal, há de concluir-se que a lei deve incluir a 
igualdade, a indistinção ''de qualquer natureza'' como um conteúdo seu, um componente material e 
pessoal do seu âmbito de validade normativa" (in PRINCÍPIO DA ISONOMIA E SUA SIGNIFICAÇÃO NA 
CONSTITUIÇÃO DE 1988, RDP-93, págs. 35/37). 
 
16.A interpretação da legislação ordinária há de ser feita, sempre, em face da Constituição e a Brasileira, 
promulgada em 1988, ao dispor no art. 5º, caput e inciso I que "todos são iguais perante a lei sem 
distinção de qualquer natureza, eliminou todos os privilégios processuais das pessoas jurídicas de direito 
público, sobejando apenas a posição de superioridade do Poder Público quando este agir no chamado jus 
imperii. O magistrado não tem outra alternativa senão cumprir a Constituição. É seu dever. E mais: não 
deve julgar fazendo média ou apenas para agradar e se notabilizar como "bonzinho". 
 
17."Na verdade, embora com atividades restritas, os juízes possuem opiniões pessoais sobre assuntos 
políticos. O bom julgador, no entanto, é aquele que consegue deixar sua formação política em segundo 
plano, no momento do julgamento e colocar acima dela a preservação da ordem jurídica" (SANCHES, 
Sidney, Ministro-Presidente do STF, in O Judiciário deve cumprir e fazer cumprir a Constituição SM 
25/6/92). 
 
18.O Juiz não julga a lei; julga com a lei; aplica-a, se ela não é inconstitucional, mesmo discordando de 
sua possível injustiça. Salvo em mandado de injunção, o juiz brasileiro só tem função legislativa negativa 
(STF - Rp. 1451-7-DF, DJU 24.6.88, pág. 16113). Somente se repelida, estreme de dúvida, a presunção 
juris tantum de constitucionalidade da lei, é que o juiz afasta a sua incidência mantendo a Constituição. 
Todavia, se a Constituição é iníqua, injusta e anacrônica, aqueles que a elaboraram/promulgaram 
(Deputados e Senadores) que a revoguem. Mas ninguém tenha a ousadia de pedir ao juiz que descumpra 
a Constituição de seu País". 
 
Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6242 
 
 
 
 
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1.3 O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E O DIREITO 
 
José Carlos de Oliveira Robaldo 
Procurador de Justiça aposentado. Professor Universitário. Mestre em Direito Penal pela Universidade 
Estadual Paulista - UNESP. Pós-graduando (especialização) em Direito Constitucional na 
Unisul/Idp/Lfg/Esud-MS. Diretor da ESUD-MS. 
 
Há determinadas terminologias que exigem certos conhecimentos específicos para sua identificação; 
outras, ao contrário, são identificadas com facilidade pela grande maioria de pessoas. O próprio nome 
induz à sua compreensão. 
 
A palavra proporcionalidade, por exemplo, é um desses termos que, na maioria das vezes, por intuição, 
se identifica seu significado, ainda que em termos genéricos. Acessível, portanto, aohomem comum. É 
possível que a pessoa não saiba conceituá-la tecnicamente, isso não significa, contudo, que a mesma não 
tenha noção sobre seu sentido. Proporcionalidade e Justiça são termos muito próximos e que todos, no 
fundo, têm uma noção do que significam. 
 
A frase "dai a cada um o que é seu" já contém um sentido não só de proporcionalidade, como também de 
Justiça. 
 
No Direito, sobretudo no Direito brasileiro, o ponto de partida para a compreensão do significado do 
princípio de proporcionalidade é a Constituição de 1988, mais especificamente a partir de um dos seus 
fundamentos, que é o princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
O princípio da dignidade humana, para melhor compreensão, significa, em um linguajar comum, o 
"guarda chuva" que ampara ou fundamenta os demais princípios subjacentes, dentre eles o da 
proporcionalidade. 
 
No Estado de Direito Democrático, o ponto de partida para a compreensão do princípio da dignidade 
humana, proporcionalidade etc, é o homem. O homem como centro do universo. 
 
A partir da perspectiva da concepção iluminista, o homem deixa de ser encarado como meio para galgar a 
condição de fim. O Estado perde a sua condição de fim e passa a ser encarado como meio propulsor para 
que o homem, como ser humano, tanto no enfoque individual, como coletivo, desenvolva suas 
potencialidades, seu bem estar com dignidade etc. 
 
Isso já nos conduz à idéia de que o Estado, mesmo quando lança mão da norma como forma de proteger 
determinados valores, deve utilizar o caminho menos gravoso para atingir o fim desejado. A preocupação 
deve estar voltada para que o direito ou interesse que se pretende proteger seja de conteúdo valorativo 
superior ao restringido. Daí compreender-se porque se admite a prisão do autor de um homicídio, por 
exemplo, posto que o direito à vida é superior ao direito à liberdade; porque que o sistema jurídico-penal 
brasileiro, a exemplo de outros países, optou pela pena ou medida alternativa em relação às infrações 
penais de médio e pequeno potencial ofensivo, ao invés da pena de prisão. 
 
Isso tudo é uma questão de "custo-benefício". Não se discute que o Estado, em função da defesa do 
interesse público e até mesmo do particular, está autorizado a restringir direitos individuais, porém, na 
medida da necessidade e da adequação dos meios utilizados. O que não se admite é o excesso, o arbítrio. 
Proporcionalmente tudo é correto, desde que realizado dentro das "regras do jogo". O Estado é que, por 
meio do seu ordenamento jurídico constitucional e infraconstitucional, estabelece os parâmetros, as 
"regras do jogo". 
 
A norma, sobretudo a constitucional, explícita ou implicitamente, estabelece os valores merecedores de 
proteção e os meios para a sua realização. Cabe ao legislador inicialmente e posteriormente ao aplicador 
e executor do direito manter o equilíbrio entre o custo-benefício. 
 
Proporcionalidade significa, em síntese, o uso do "remédio" adequado para combater a "enfermidade" 
identificada e a dosagem condizente com a necessidade. 
 
 
 
Extensivo Semanal Trabalhista – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – 08.03.2010 – Aula n. 03 
Não exagerar nas comemorações natalinas e de passagem do ano é também uma questão de 
proporcionalidade. Cuidado com o excesso! 
 
Fonte: 
http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/3645/O_PRINCIPIO_DA_PROPORCIONALIDADE_E_O_DIREIT
O 
 
 
1.4 COMENTÁRIO SOBRE A DECISÃO PROFERIDA NO JULGAMENTO DA ARGÜIÇÃO DE 
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL Nº 45/DF 
 
Fabiano Holz Beserra 
Procurador Federal; Mestrando em Direito – PUCRS 
 
1) Íntegra da decisão 
 
ADPF – Políticas Públicas – Intervenção Judicial – “Reserva do Possível” (Transcrições) 
 
ADPF 45 MC/DF* 
 
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO 
 
EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE 
CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE 
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPÓTESE DE ABUSIVIDADE 
GOVERNAMENTAL. DIMENSÃO POLÍTICA DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA AO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBÍTRIO ESTATAL À EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS, 
ECONÔMICOS E CULTURAIS. CARÁTER RELATIVO DA LIBERDADE DE CONFORMAÇÃO DO LEGISLADOR. 
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA CLÁUSULA DA “RESERVA DO POSSÍVEL”. NECESSIDADE DE 
PRESERVAÇÃO, EM FAVOR DOS INDIVÍDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NÚCLEO 
CONSUBSTANCIADOR DO “MÍNIMO EXISTENCIAL”. VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGÜIÇÃO DE 
DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAÇÃO DAS LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS 
CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAÇÃO). 
 
DECISÃO: Trata-se de argüição de descumprimento de preceito fundamental promovida contra veto, que, 
emanado do Senhor Presidente da República, incidiu sobre o § 2º do art. 55 (posteriormente renumerado 
para art. 59), de proposição legislativa que se converteu na Lei nº 10.707/2003 (LDO), destinada a fixar 
as diretrizes pertinentes à elaboração da lei orçamentária anual de 2004. 
 
O dispositivo vetado possui o seguinte conteúdo material: 
 
“§ 2º Para efeito do inciso II do caput deste artigo, consideram-se ações e serviços públicos de saúde a 
totalidade das dotações do Ministério da Saúde, deduzidos os encargos previdenciários da União, os 
serviços da dívida e a parcela das despesas do Ministério financiada com recursos do Fundo de Combate à 
Erradicação da Pobreza.” 
 
O autor da presente ação constitucional sustenta que o veto presidencial importou em desrespeito a 
preceito fundamental decorrente da EC 29/2000, que foi promulgada para garantir recursos financeiros 
mínimos a serem aplicados nas ações e serviços públicos de saúde. 
 
Requisitei, ao Senhor Presidente da República, informações que por ele foram prestadas a fls. 93/144. 
 
Vale referir que o Senhor Presidente da República, logo após o veto parcial ora questionado nesta sede 
processual, veio a remeter, ao Congresso Nacional, projeto de lei, que, transformado na Lei nº 
10.777/2003, restaurou, em sua integralidade, o § 2º do art. 59 da Lei nº 10.707/2003 (LDO), dele 
fazendo constar a mesma norma sobre a qual incidira o veto executivo. 
 
 
 
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Em virtude da mencionada iniciativa presidencial, que deu causa à instauração do concernente processo 
legislativo, sobreveio a edição da já referida Lei nº 10.777, de 24/11/2003, cujo art. 1º - modificando a 
própria Lei de Diretrizes Orçamentárias (Lei nº 10.707/2003) – supriu a omissão motivadora do 
ajuizamento da presente ação constitucional. 
 
Com o advento da mencionada Lei nº 10.777/2003, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, editada para reger 
a elaboração da lei orçamentária de 2004, passou a ter, no ponto concernente à questionada omissão 
normativa, o seguinte conteúdo material: 
 
“Art. 1º O art. 59 da lei nº 10.707, de 30 de julho de 2003, passa a vigorar acrescido dos seguintes 
parágrafos: 
 
‘Art.59............................................ 
 
§ 3º Para os efeitos do inciso II do caput deste artigo, consideram-se ações e serviços públicos de saúde a 
totalidade das dotações do Ministério da Saúde, deduzidos os encargos previdenciários da União, os 
serviços da dívida e a parcela das despesas do Ministério financiada com recursos do Fundo de Combate à 
Erradicação da Pobreza. 
 
§ 4º A demonstração da observância do limite mínimo previsto no § 3º deste artigo dar-se-á no 
encerramento do exercício financeiro de 2004.’ (NR).” (grifei) 
 
Cabe registrar, por necessário, que a regra legal resultante da edição da Lei nº 10.777/2003, ora em 
pleno vigor, reproduz, essencialmente, em seu conteúdo, o preceito, que, constante do § 2º do art. 59 da 
Lei nº 10.707/2003 (LDO), veio a ser vetado pelo Senhor Presidente da República (fls. 23v.). 
 
Impende assinalar quea regra legal em questão – que culminou por colmatar a própria omissão 
normativa alegadamente descumpridora de preceito fundamental – entrou em vigor em 2003, para 
orientar, ainda em tempo oportuno, a elaboração da lei orçamentária anual pertinente ao exercício 
financeiro de 2004. 
 
Conclui-se, desse modo, que o objetivo perseguido na presente sede processual foi inteiramente 
alcançado com a edição da Lei nº 10.777, de 24/11/2003, promulgada com a finalidade específica de 
conferir efetividade à EC 29/2000, concebida para garantir, em bases adequadas – e sempre em benefício 
da população deste País – recursos financeiros mínimos a serem necessariamente aplicados nas ações e 
serviços públicos de saúde. 
 
Não obstante a superveniência desse fato juridicamente relevante, capaz de fazer instaurar situação de 
prejudicialidade da presente argüição de descumprimento de preceito fundamental, não posso deixar de 
reconhecer que a ação constitucional em referência, considerado o contexto em exame, qualifica-se como 
instrumento idôneo e apto a viabilizar a concretização de políticas públicas, quando, previstas no texto da 
Carta Política, tal como sucede no caso (EC 29/2000), venham a ser descumpridas, total ou parcialmente, 
pelas instâncias governamentais destinatárias do comando inscrito na própria Constituição da República. 
 
Essa eminente atribuição conferida ao Supremo Tribunal Federal põe em evidência, de modo 
particularmente expressivo, a dimensão política da jurisdição constitucional conferida a esta Corte, que 
não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tornar efetivos os direitos econômicos, sociais e culturais – 
que se identificam, enquanto direitos de segunda geração, com as liberdades positivas, reais ou concretas 
(RTJ 164/158-161, Rel. Min. CELSO DE MELLO) -, sob pena de o Poder Público, por violação positiva ou 
negativa da Constituição, comprometer, de modo inaceitável, a integridade da própria ordem 
constitucional: 
 
DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO - MODALIDADES DE COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO 
PODER PÚBLICO. 
 
- O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia 
governamental. A situação de inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo 
do Poder Público, que age ou edita normas em desacordo com o que dispõe a Constituição, 
 
 
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ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princípios que nela se acham consignados. Essa conduta estatal, 
que importa em um facere (atuação positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. 
 
- Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da 
Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e exeqüíveis, abstendo-se, em conseqüência, de 
cumprir o dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto 
constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultará a inconstitucionalidade por omissão, que 
pode ser total, quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida 
efetivada pelo Poder Público. 
 
- A omissão do Estado - que deixa de cumprir, em maior ou em menor extensão, a imposição ditada pelo 
texto constitucional - qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis 
que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição, também ofende direitos que 
nela se fundam e também impede, por ausência de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos 
postulados e princípios da Lei Fundamental.” 
 
(RTJ 185/794-796, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) 
 
É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário - e nas 
desta Suprema Corte, em especial - a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ 
CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, “Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976”, p. 207, 
item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos 
Poderes Legislativo e Executivo. 
 
Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e 
quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre 
eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos 
individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas 
revestidas de conteúdo programático. 
 
Cabe assinalar, presente esse contexto – consoante já proclamou esta Suprema Corte – que o caráter 
programático das regras inscritas no texto da Carta Política “não pode converter-se em promessa 
constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele 
depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável 
dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei 
Fundamental do Estado” (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO). 
 
Não deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema pertinente à 
“reserva do possível” (STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, “The Cost of Rights”, 1999, Norton, New 
York), notadamente em sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos de segunda 
geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujo adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, 
deste, prestações estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas. 
 
É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de caracterizar-se pela gradualidade 
de seu processo de concretização – depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro 
subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a 
incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, 
considerada a limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta 
Política. 
 
Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese – mediante indevida manipulação de 
sua atividade financeira e/ou político-administrativa – criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, 
arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a 
preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência. 
 
Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da “reserva do possível” – ressalvada a ocorrência de justo 
motivo objetivamente aferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de 
exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa 
 
 
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conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos 
constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. 
 
Daí a correta ponderação de ANA PAULA DE BARCELLOS (“A Eficácia Jurídica dos Princípios 
Constitucionais”, p. 245-246, 2002, Renovar): 
 
“Em resumo: a limitação de recursos existe e é uma contingência que não se pode ignorar. O intérprete 
deverá levá-la em conta ao afirmar que algum bem pode ser exigido judicialmente, assim como o 
magistrado, ao determinar seu fornecimento pelo Estado. Por outro lado, não se pode esquecer que a 
finalidade do Estado ao obter recursos, para, em seguida, gastá-los sob a forma de obras, prestação de 
serviços, ou qualquer outra política pública, é exatamente realizar os objetivos fundamentais da 
Constituição. 
 
A meta central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular, pode ser resumida,como 
já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo ponto de partida está em assegurar as condições 
de sua própria dignidade, que inclui, além da proteção dos direitos individuais, condições materiais 
mínimas de existência. Ao apurar os elementos fundamentais dessa dignidade (o mínimo existencial), 
estar-se-ão estabelecendo exatamente os alvos prioritários dos gastos públicos. Apenas depois de atingi-
los é que se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em que outros projetos se 
deverá investir. O mínimo existencial, como se vê, associado ao estabelecimento de prioridades 
orçamentárias, é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível.” (grifei) 
 
Vê-se, pois, que os condicionamentos impostos, pela cláusula da “reserva do possível”, ao processo de 
concretização dos direitos de segunda geração - de implantação sempre onerosa -, traduzem-se em um 
binômio que compreende, de um lado, (1) a razoabilidade da pretensão individual/social deduzida em face 
do Poder Público e, de outro, (2) a existência de disponibilidade financeira do Estado para tornar efetivas 
as prestações positivas dele reclamadas. 
 
Desnecessário acentuar-se, considerado o encargo governamental de tornar efetiva a aplicação dos 
direitos econômicos, sociais e culturais, que os elementos componentes do mencionado binômio 
(razoabilidade da pretensão + disponibilidade financeira do Estado) devem configurar-se de modo 
afirmativo e em situação de cumulativa ocorrência, pois, ausente qualquer desses elementos, 
descaracterizar-se-á a possibilidade estatal de realização prática de tais direitos. 
 
Não obstante a formulação e a execução de políticas públicas dependam de opções políticas a cargo 
daqueles que, por delegação popular, receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que 
não se revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do legislador, nem a de atuação do 
Poder Executivo. 
 
É que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazoável ou procederem com a clara intenção de 
neutralizar, comprometendo-a, a eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando, como 
decorrência causal de uma injustificável inércia estatal ou de um abusivo comportamento governamental, 
aquele núcleo intangível consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas necessárias a 
uma existência digna e essenciais à própria sobrevivência do indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como 
precedentemente já enfatizado - e até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico -, a 
possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a todos, o acesso aos bens cuja 
fruição lhes haja sido injustamente recusada pelo Estado. 
 
Extremamente pertinentes, a tal propósito, as observações de ANDREAS JOACHIM KRELL (“Direitos 
Sociais e Controle Judicial no Brasil e na Alemanha”, p. 22-23, 2002, Fabris): 
 
“A constituição confere ao legislador uma margem substancial de autonomia na definição da forma e 
medida em que o direito social deve ser assegurado, o chamado ‘livre espaço de conformação’ (...). Num 
sistema político pluralista, as normas constitucionais sobre direitos sociais devem ser abertas para receber 
diversas concretizações consoante as alternativas periodicamente escolhidas pelo eleitorado. A apreciação 
dos fatores econômicos para uma tomada de decisão quanto às possibilidades e aos meios de efetivação 
desses direitos cabe, principalmente, aos governos e parlamentos. 
 
 
 
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Em princípio, o Poder Judiciário não deve intervir em esfera reservada a outro Poder para substituí-lo em 
juízos de conveniência e oportunidade, querendo controlar as opções legislativas de organização e 
prestação, a não ser, excepcionalmente, quando haja uma violação evidente e arbitrária, pelo legislador, 
da incumbência constitucional. 
 
No entanto, parece-nos cada vez mais necessária a revisão do vetusto dogma da Separação dos Poderes 
em relação ao controle dos gastos públicos e da prestação dos serviços básicos no Estado Social, visto 
que os Poderes Legislativo e Executivo no Brasil se mostraram incapazes de garantir um cumprimento 
racional dos respectivos preceitos constitucionais. 
 
A eficácia dos Direitos Fundamentais Sociais a prestações materiais depende, naturalmente, dos recursos 
públicos disponíveis; normalmente, há uma delegação constitucional para o legislador concretizar o 
conteúdo desses direitos. Muitos autores entendem que seria ilegítima a conformação desse conteúdo 
pelo Poder Judiciário, por atentar contra o princípio da Separação dos Poderes (...). 
 
Muitos autores e juízes não aceitam, até hoje, uma obrigação do Estado de prover diretamente uma 
prestação a cada pessoa necessitada de alguma atividade de atendimento médico, ensino, de moradia ou 
alimentação. Nem a doutrina nem a jurisprudência têm percebido o alcance das normas constitucionais 
programáticas sobre direitos sociais, nem lhes dado aplicação adequada como princípios-condição da 
justiça social. 
 
A negação de qualquer tipo de obrigação a ser cumprida na base dos Direitos Fundamentais Sociais tem 
como conseqüência a renúncia de reconhecê-los como verdadeiros direitos. (...) Em geral, está crescendo 
o grupo daqueles que consideram os princípios constitucionais e as normas sobre direitos sociais como 
fonte de direitos e obrigações e admitem a intervenção do Judiciário em caso de omissões 
inconstitucionais.” (grifei) 
 
Todas as considerações que venho de fazer justificam-se, plenamente, quanto à sua pertinência, em face 
da própria natureza constitucional da controvérsia jurídica ora suscitada nesta sede processual, 
consistente na impugnação a ato emanado do Senhor Presidente da República, de que poderia resultar 
grave comprometimento, na área da saúde pública, da execução de política governamental decorrente de 
decisão vinculante do Congresso Nacional, consubstanciada na Emenda Constitucional nº 29/2000. 
 
Ocorre, no entanto, como precedentemente já enfatizado no início desta decisão, que se registrou, na 
espécie, situação configuradora de prejudicialidade da presente argüição de descumprimento de preceito 
fundamental. 
 
A inviabilidade da presente argüição de descumprimento, em decorrência da razão ora mencionada, 
impõe uma observação final: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste, ao Ministro-
Relator, competência plena para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos 
dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em conseqüência, os atos decisórios que, nessa 
condição, venha a praticar. 
 
Cumpre acentuar, por oportuno, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade 
constitucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência para negar 
trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando incabíveis, estranhos à 
competência desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a 
jurisprudência predominante do Tribunal (RTJ 139/53 - RTJ 168/174-175). 
 
Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o 
postulado em questão sempre restará preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular 
ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal Federal, consoante esta Corte 
tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - AI 159.892-AgR/SP, 
Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). 
 
Cabe enfatizar, por necessário, que esse entendimento jurisprudencial é também aplicável aos processos 
de controle normativo abstrato de constitucionalidade, qualquer que seja a sua modalidade 
(ADI 563/DF, Rel. Min. PAULO BROSSARD – ADI 593/GO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - ADI

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