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Os efeitos da mídia jornalística digital na construção da imagem do professor

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1. INTRODUÇÃO
A mídia, considerada um dos aparelhos ideológicos do Estado (ALTHUSSER, 1998), consiste num “conjunto de regras e técnicas de conveniência, as quais resultam na submissão a normas vigentes e na reprodução da submissão dos leitores à ideologia prevalente” (MATOS, 2005, p. 227).
Confere-se, ao discurso midiático, uma posição de autoridade. Desse modo, os leitores são interpelados pelo discurso com o pressuposto de verdade e, por conta disso, assumem a posição ideológica da mídia.
Atualmente, a mídia divide-se em impressa, eletrônica e digital. A mídia impressa é qualquer material impresso (em papel) que contenha informações lúdicas, técnicas ou científicas a respeito dos mais diversos assuntos. A mídia eletrônica refere-se ao conjunto de meios de comunicação que necessita de recursos eletrônicos ou eletromecânicos para que o usuário final tenha acesso aos conteúdos - de vídeo ou áudio, gravados ou transmitidos em tempo real, como a televisão, o rádio, o cinema, entre outros (CARVALHO, 2010).
Já a mídia virtual ou digital é aquela que utiliza como meio um computador ou equipamento digital para criar, explorar, finalizar ou dar continuidade a um projeto que tem como suporte a internet. Ela é capaz de aglomerar diversas informações em um único local, além de fornecer acesso dinâmico às informações de diferentes categorias (CARVALHO, 2010).
Dentro deste universo midiático, o foco desta pesquisa está no discurso jornalístico digital ou webjornalismo�. O discurso jornalístico, de um modo geral, pode ser conceituado como uma atividade específica que tem por objetivo transformar qualquer acontecimento em notícia (COSTA, 2008, p. 140).
O autor ainda explica que gênero notícia é “um relato ou narrativa de fatos, acontecimentos, informações, recentes ou atuais, do cotidiano, os quais têm grande importância para a comunidade e para o público leitor” (COSTA, 2008, p. 140-141).
As notícias refletem o discurso jornalístico, muitas vezes ideológico, que é mediado por uma empresa e por seus interesses e valores que, ao tomar a notícia e reorganizá-la, dá-lhe forma e voz. Nesse sentido, podemos dizer que as notícias são recortes da realidade, criados para determinar o viés sócio-político-institucional de uma empresa.
Contudo, é importante destacar que há diferenças entre a notícia e a webnotícia que é foco desta pesquisa. Segundo Costa (2008) no gênero notícia, o texto é linear e unitário. Já Salaverria (2005), explica que na webnotícia, o texto desenvolve-se numa sucessão arquitetônica de blocos de informação ligados através de links�.
É justamente em torno da mídia jornalística digital ou webjornalismo, que formulamos o Objeto de Investigação desse estudo: pesquisar os efeitos das webnotícias na construção da imagem do professor.
A Justificativa para este objeto de investigação se deve ao fato de que o professor é um profissional que teve sua função/missão ampliada para além da sala de aula. Por conta disso, além de ensinar, o professor passou também a participar da gestão e do planejamento escolar, o que significou uma dedicação mais ampla, a qual se estende às famílias e à comunidade.
Enquanto suas funções e responsabilidades foram aumentando gradativamente, a profissão de professor deixou de ser valorizada, tanto no aspecto financeiro como no social.
Esta sobrecarga e esta desvalorização levaram este profissional a enfrentar, cotidianamente, vários agentes estressores que acabaram por desestrutuar o seu estado mental/psicológico, levá-lo a desenvolver síndromes, a tornar-se inassíduo e, até mesmo, a afastar-se de suas funções.
O estado mental/psicológico dos professores vem sendo objeto de estudo de várias pesquisas contemporâneas e, além disso, tornou-se também tema de muitas webnotícias que são divulgadas na Internet.
Diante desse fato, organizamos a nossa Problematização no seguinte questionamento: A mídia jornalística digital, através das webnotícias, relaciona a competência do professor aos seus problemas de saúde mental/psicológica, buscando desenvolver uma imagem negativa deste profissional perante sociedade contemporânea?
Partindo do Pressuposto de que, de maneira geral, a mídia jornalística digital, através das webnotícias, relaciona sim a competência do professor aos seus problemas de saúde mental/psicológica e, desse modo, busca desenvolver uma imagem negativa deste profissional perante sociedade contemporânea, o Objetivo Geral desta pesquisa é verificar se esta hipótese se confirma ou não.
Para realizar o estudo proposto, adotamos como Metodologia de Pesquisa o Método Indutivo dentro de uma abordagem Qualitativa e, como Procedimentos Metodológicos, optamos pela pesquisa bibliográfica, pelo levantamento de webnotícias� sobre a saúde mental/psicológica dos professores durante o ano de 2010 publicadas pela revista Veja, pela Folha de São Paulo e pelo Estadão e pela análise e comparação do discurso veiculado nestes veículos midiáticos a respeito da saúde mental/psicológica do professor a partir dos estudos de Lang e Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008).
A Fundamentação Teórica selecionada para esta pesquisa possui como referencial a teoria da Agenda-Setting, o Movimento da Escola Nova, o Estresse e a Síndrome de Burnout em Professores e a Legislação e as Políticas Públicas voltadas para a saúde do professor. 
Vale destacar que este trabalho foi dividido em mais três capítulos, além desta introdução e das considerações finais. O primeiro capítulo é composto pela introdução. No segundo capítulo, apresentamos o quadro teórico, composto pelos seguintes temas: os efeitos cognitivos da mídia jornalística, a atuação do professor na contemporaneidade, a saúde mental e a síndrome de burnout em professores e legislação e políticas públicas voltadas para a saúde deste profissional do ensino.
No terceiro capítulo consta o detalhamento da metodologia de pesquisa e dos procedimentos metodológicos e, no quarto capítulo, concentra-se o cerne desta pesquisa. Nele apresentamos a análise dos dados coletados. 
Em seguida, no quinto capítulo, seguem as considerações finais deste trabalho seguidas, das referências da pesquisa realizada.
2. QUADRO TEÓRICO
2.1 A agenda-setting�
A Teoria do Agendamento ou agenda-setting theory, no original, em inglês, é uma teoria de Comunicação formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw na década de 1970. De acordo com este pensamento, a mídia determina a pauta (em inglês, agenda) para a opinião pública ao destacar determinados temas e preterir, ofuscar ou ignorar outros tantos.
As idéias básicas da Teoria do Agendamento podem ser atribuídas ao trabalho de Walter Lippmann, um proeminente jornalista estadunidense. Ainda em 1922, Lippmann propôs a tese de que as pessoas não respondiam diretamente aos fatos do mundo real, mas que viviam em um pseudo-ambiente composto pelas "imagens em nossas cabeças". A mídia teria, então, um papel importante no fornecimento e geração destas imagens e na configuração deste pseudo-ambiente.
2.2 Os efeitos dos discursos midiáticos: a agenda-setting
Os efeitos dos discursos midiáticos sobre os destinatários não são mais os mesmos. Eles não mais se relacionam com as atitudes, valores ou com o comportamento. A mídia contemporânea busca um efeito cognitivo sobre os sistemas de conhecimentos (WOLF, 2008).
Os indivíduos necessitam receber uma quantidade de informações para reconhecer o sistema social de que fazem parte e poder adaptar-se a ele. Para adaptar-se, precisam determinar as suas estratégias de decisão e, é neste aspecto, que a mídia age: distribuindo uma seleção de conhecimentos públicos que influenciam os conhecimentos individuais, transformando-se em opinião pública. São estes, os efeitos cognitivos da mídia sobre os sistemas de conhecimentos (SAPERAS, 1993).
Nessa perspectiva, Wolf (2008, p. 139) declara que é “o caráter processual da comunicação que deve ser analisado, tanto na sua dinâmica interna, quanto nas suas relações com outros processos
de comunicação, precedentes ou conteporêneos”. 
Assim, percebemos que, em relação à pesquisa voltada para a mídia, torna-se relevante a análise dos “efeitos cognitivos” sobre os sistemas de conhecimentos, pois a mídia contemporânea desempenha a função de construção da realidade social quando os efeitos nela implícitos refletem-se com grande intensidade no patrimônio cognitivo de seus destinatários (WOLF, 2008, p. 142).
Para construir esta realidade social, a mídia contemporânea tematiza as discussões, as reflexões, os pensamentos das pessoas a partir de uma seleção de informações, ou seja, a mídia apresenta ao público uma lista de fatos a respeito dos quais se pode ter uma opinião e discutir.
Shaw (1979) descreve bem esta questão:
Em consequência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público é ciente ou ignora, dá atenção ou descuida, enfatiza ou nigligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas tendem a incluir ou excluir dos próprios conhecimentos o que a mídia inclui ou exclui do próprio conteúdo. Além disso, o público tende a conferir ao que ele inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos meios de comunicação de massa aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas (SHAW, 1979, p. 96).
Desta forma, percebemos que além de tematizar as discussões e levar os destinatários a reflexão, a mídia induz o público a dar a mesma ênfase que dá aos temas que propõe. 
 Esta seleção de temas é chamada de agenda-setting que, segundo Wolf (2008, p. 144-146) é “um conjunto integrado de assuntos e estratégias que gera uma dependência cognitiva da mídia”.
A agenda-setting postula um impacto direto sobre os destinatários que é “a ordem do dia” dos temas, argumentos, problemas, presentes na agenda da mídia e hierarquizado por importância e prioridade (WOLF, 2008, p. 146).
Desse modo, podemos dizer que a agenda-setting proporciona a fragmentação do indivíduo contemporâneo, já que divulga em veículos midiáticos, fatias de realidade influenciadas pelo caráter imediato dos eventos e pelo sensacionalismo do espetáculo. Isso tudo acaba forjando a consciência dos destinatários.
De acordo com Harvey (2007, p. 49), na contemporaneidade, os indivíduos não são mais alienados e sim esquizofrênicos. Um indivíduo alienado, no sentido marxista, é aquele que possui um eu coerente e não fragmentado, do qual se alienar. Por outro lado, os indivíduos esquizofrênicos são aqueles que acreditam numa realidade forjada.
Como um esquizofrênico, o indivíduo utiliza-se de informações desconectadas, velozes e isoladas, e que não se articulam em seqüências coerentes. Assim, o sujeito contemporâneo passa a ser composto por uma colagem esquizofrênica de pequenos fragmentos que significa uma espécie de desmembramento da realidade única em infinitas realidades simultâneas (Harvey, 2007, p. 52).
Edgar Morin (1999, p. 17) comenta que a fragmentação do saber tem como conseqüência um vazio de subjetividade. Nesse sentido, o desaparecimento da subjetividade, responsável pela construção de nossa identidade, resulta em esquizofrenia, que seria a ausência de identidade. 
Esta esquizofrenia, num sentido não clínico, leva o sujeito contemporâneo, a substituir a sua subjetividade por presentes desconexos, ou seja, por uma cadeia de significantes sem significado (Harvey, 2007, p. 52). 
Desse modo, percebemos que o indivíduo contemporâneo é fragmentado, esquizofrênico, por não se conectar com o todo que compõe sua realidade e que a agenda-setting colabora para que o indivíduo se fragmente e se torne cada vez mais descentralizado; esquizofrênico já que não percebe a influência da mídia em sua vida.
2.2.1 O efeito cognitivo da agenda-setting na mídia jornalística
Harvey (2007, p. 120) enfatiza que “o mundo surge diante do esquizofrênico com uma intensidade aumentada, trazendo a carga misteriosa e opressiva do afeto, borbulhando de energia alucinatória”. Desse modo, podemos perceber que a mídia jornalística, seja ela impressa, eletrônica ou digital, além de possuir um viés ideológico, colabora para que o indivíduo contemporâneo se torne fragmentado, descentralizado e esquizofrênico, não no sentido clínico, mas no sentido de alucinar-se diante de uma realidade forjada. Esta realidade é forjada pela mídia jornalística através do agendamento de temas. 
Para Wolf, este processo de agendamento é muito eficaz na construção de uma imagem forjada da realidade:
Essa imagem – que é simplesmente uma metáfora representativa da totalidade de toda a informação sobre o mundo, que cada indivíduo tratou, organizou e acumulou – pode ser pensada como um padrão em relação ao qual a informação nova é confrontada para dar-lhe o seu significado. (WOLF, 2008, p.153)
Desta maneira, a mídia fornece aos seus receptores sistemas estruturados de conhecimento relativo aos temas, como as necessidades, valores e crenças. Esses sistemas estruturados são os mecanismos de interpretação, compreensão e de memorização de que ela se utiliza para causar efeito cognitivo.
O que é importante na agenda-setting é a tematização, pois “nem todo acontecimento ou problema é perceptível de tematização, apenas os que denotam alguma relevância político-social” (WOLF, 2008, p. 166). Neste aspecto, podemos destacar o viés ideológico da mídia que busca agendar notícias e/ou webnotícias que servem como meio para formar a opinião de cada indivíduo a respeito de algum tema de caráter político-social. 
Como já foi citado nesta pesquisa, a diferença entre a notícia e a webnotícia se deve ao fato de que a primeira se trata de um texto único e na segunda, além do noticiado, existem outras informações ligadas através de links. Desse modo, podemos perceber que a diferença entre elas está no formato e no meio em que são veiculadas, não no processo de agendamento.
A webnotícia proporciona ao leitor mais interatividade já que se trata de um hipertexto. A diferença central entre o hipertexto e o texto linear tal como se encontra nos jornais e nas revistas impressas, é a possibilidade de diferentes escolhas de leituras e interferências on line (MARCUSHI, 1999).
Na perspectiva dos estudos linguíticos, Marcushi (1999) define o hipertexto da seguinte maneira:
O hipertexto não é um gênero textual nem um simples suporte de gêneros diversos, mas sim, um tipo de escritura. É uma forma de organização cognitiva e referencial cujos princípios constituem um conjunto de possibilidades estruturas que caracterizam ações e decisões cognitivas baseadas em (séries de) referenciações não contínuas e não progressivas. Considerando que a linearidade linguística sempre constituiu um princípio básico da teorização (formal ou funcional) da língua, o hipertexto rompe esse padrão em alguns níveis. Nele, não se observa ua ordem de construção, mas possibilidades de construção textual plurilinearizadas (MARCUSCHI, 1999, p. 21).
Fabiana Komesu relacionou os principais traços do hipertexto. São eles: a intertextualidade, a não-linearidade, volatilidade, fragmentaridade, espacialidade topográfica e a multissemiose:
Intertextualidade: o hipertexto permite, mediante os links nele indexados, o acesso a inúmeros outros hipertextos que circulam pela rede;
Não-linearidade: é considerada como o traço principal do hipertexto.Trata-se, de uma flexibilidade desenvolvida na forma de ligações permitidas/sugeridas entre nós que constituem redes que possibilitam a elaboração de vias navegáveis;
Volatilidade: o hipertexto não tem a mesma estabilidade, por exemplo, dos textos impressos [...] as práticas do hipertexto têm caráter de volatilidade, de uma produção em tempo real que resulta na qualidade de tornar-se vapor, espalhar-se pelo ambiente, até o ponto de não ser mais reconhecido, ou se ser para sempre esquecido;
Fragmentaridade: a fragmentaridade no hipertexto é estendida à função autor, que é vista, neste paradigma, como incapaz de controlar o tópico ou o leitor. O leitor, por sua vez, é considerado um co-autor – outra
fragmentaridade – por “organizar” fragmentos textuais a que tem acesso;
Espacialidade topográfica: o hipertexto é um espaço “topográfico”, no qual a escrita eletrônica pode ser tanto uma representação verbal quanto visual, sem limites para seu desenvolvimento;
Multissemiose: possibilidade e estabelecer conexão simultânea entre a linguagem verbal e a não verbal (imagens, animações, som) de maneira interativa, graças ao recurso da hipermídia (KOMESU, 2005, p. 98-101).
O que é válido para esta pesquisa, é que, mesmo com caracterísitcas diferentes, a notícia impressa e a webnotícia são influenciadas pelo agendamento através da tematização de assuntos�.
2.3 A atuação do professor na contemporaneidade 
Durante muito tempo acreditou-se que o professor deveria ser o centro do processo de apreendizagem e o aluno, apenas um receptor que somente aprendia quando se sentia apto para repetir as lições que memorizava. 
Celso Antunes comenta esta concepção de ensino:
Nessa visão de ensino aplaudia-se o silêncio, e a imobilidade do aluno e a sapiência do mestre, além de se pensar o conhecimento como informações pré-organizadas e concluídas que se passavam de uma pessoa para outra, portanto, de fora para dentro, do mestre para o estudante. Ensinar significava difundir o conhecimento, impondo normas e convenções para que os alunos assimilassem. Estes levavam para a escola a boca – porque da mesma não podia se separar – mas toda a aprendizagem dependia do ouvido, reforçado pela mão na tarefa de copiar (ANTUNES, 2008, p. 17).
Podemos perceber que na escola tradicionalista, o aluno era visto como um depósito de informações e que não deveria questionar o que lhe era transmitido pelo professor, personagem principal do processo de ensino e de aprendizagem. 
A memória em curto prazo era a mais valorizada, já que o aluno apenas estudava (decorava) os conteúdos para ser avaliado pelo professor. Logo em seguida, tudo o que havia estudado, perdia-se. A aprendizagem era responsabilidade do aluno e se este não a conquistasse, era reprovado.
A avaliação era somativa e classificatória, os alunos não podiam interagir entre si, pois a disciplina era sinônimo de silêncio absoluto. Além de tudo isso, a reflexão, discussões, o contexto e os conhecimentos prévios dos alunos não er significativo para o processo de ensino e de aprendizagem.
Infelizmente, este tipo de escola sobreviveu até o final do século XX quando os movimentos da Escola Nova começou a se fortalecer a partir das pesquisas de Pestalozzi, John Dewey, Rudolf Steiner, Maria Montessori, Jean Piaget, Lev Vigotsky, Antón Semiónovich Makarenko, Ovide Decroli, Paulo Freire e outros. Os principais fundamentos desta Escola era:
A certeza da autonomia do educando e o aplauso a suas iniciativas pessoais como o eixo central da educação de qualidade;
A certeza de que a curiosidade natural do aluno constitui o foco de seu interesse em torno dos quais as situações de aprendizagem se definem;
O direito ao protagonismo do aluno que propõe sua participação ativa na gestão do processo de aprendizagem e cooperação;
A certeza de que a passividade do aluno se opõe à sua aprendizagem e, dessa forma, a valorização de métodos centralizados nos interesses e nas necessidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais dos alunos;
A valorização das atividades ao ar livre e a compreensão de que a aprendizagem de sala de aula se associa aos experimentos realizados em oficinas e laboratórios, ás aulas de campo e muitas outras atividades cotidianas no ambiente que as envolve;
A articulação entre a vida intelectual e o desenvolvimento de competências que não dispensam atividades materiais e sociais que valorizam a dignidade de toda forma de trabalho;
A certeza de que é a educação o meio essencial para capacitar as crianças a desenvolverem plenamente suas aptidões e competências pessoais;
A certeza de que o castigo e todo e qualquer ato que vise cercear a espontaneidade do aluno deve ser banido (ANTUNES, 2008, p. 20-21).
Graças ao movimento da Escola Nova, o ensino contemporâneo possui um caráter socializador, favorecendo o bem-estar e o desenvolvimento geral dos alunos em suas dimensões sociais, de equilíbrio pessoal e cognitivas. 
E hoje, para uma escola ter qualidade, não pode mais seguir os traços da escola tradicional. Isabel Solé e César Coll (1998) explicam bem as características de uma escola de qualidade:
É proporcionada uma atmosfera favorável para a aprendizagem, em que há um compromisso com normas e finalidades claras e compartilhadas;
Os professores trabalham em equipe, colaboram no planejamento, co-participam da tomada de decisões, estão comprometidos com a inovação e responsabilizam-se pela avaliação da própria prática. Isso só pode ser feito seriamente no contexto de um currículo flexível o bastante;
Há uma direção eficiente, assumida, que não se contrapõe às necessárias participação e colegialidade;
Há considerável estabilidade do corpo docente;
Há oportunidades de formação permanente relacionadas com as necessidades da escola;
O currículo é cuidadosamente planejado e inclui tanto as matérias que permitam que os alunos adquiram os conhecimentos e habilidades básicas quanto as indicações para uma avaliação contínua e, ao mesmo tempo, refletindo os valores adotados pela escola;
Os pais apoiam a tarefa educacional da escola, e esta se encontra aberta a eles;
Há certos valores próprios da escola, reflexo de sua identidade e propósitos, que são compartilhados por seus componentes;
Racionaliza-se o emprego do tempo de aprendizagem, articulando as matérias e as sequências didáticas de modo a evitar duplicidades desnecessárias;
Existe o apoio ativo das autoridades educativas responsáveis, cuja missão é facilitar as mudanças necessárias na direção das características assinaladas (SOLÉ, COLL, 1998, p. 15-16).
Vale destacar também que, por causa dos movimentos da Escola Nova, Políticas Públicas e Leis foram criadas visando o sucesso do aluno, a aprendizagem significativa e um ensino de qualidade. Dentre as inúmeras Políticas Públicas e Leis, merecem destaque: A Constituição Federal de 1988, a Lei 9394/96 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e a Lei 8069/90 que dispõe sobre o Estatuto da criança e do adolescente.
Tanto na Constituição Federal de 1988, como nas Leis 9394/96 e 8069/90, a educação é vista como direito de todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
A educação básica é tida nestas Leis como obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade e assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.
Ambas as Leis destacam a progressiva universalização do ensino médio gratuito e o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.
Outro ponto importante que unem todas estas Leis é que o Ensino é visto como um direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. 
Porém, é no artigo 13º da Lei 9394/96 que se especifica as incumbências dos professores:
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
VI - colaborar com as atividades de articulação
da escola com as famílias e a comunidade (LEI 9394/96).
São louvávies todas as modificações que ocorreram na escola e no ensino, nestas últimas décadas, porém, como já apontamos nesta pesquisa, o professor teve sua função/missão ampliada para além da sala de aula. E, como não bastasse, recebeu um grande aumento de responsabilidades, as cobranças sobre suas competências, cresceram e a sua profissão deixou de ser valorizada pela sociedade.
Celso Antunes (2009), tomando como referência as obras de Perrenoud, adaptando-as ao cotidiano das escolas e reformatando suas propostas, apresenta oito competências que se espera do professor contemporâneo:
Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
Administrar a progressão das aprendizagens;
Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
Envolver os alunos na aprendizagem e, portanto, na sua reestruturação de compreensão de mundo;
Aprender a ensinar e trabalhar juntos e a se trabalhar em equipes;
Dominar e fazer uso de novas tecnologias;
Vivenciar e superar conflitos éticos da profissão e administrar sua formação contínua e permanente;
Administrar sua própria formação e enriquecimento contínuo (ANTUNES, 2009, p. 37-81).
Já Paulo Freire (1996) aponta que para o ensino contemporâneo, não há docência sem discência, ou seja, ensinar exige rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética e ética, corporeificação das palavras pelo exemplo, risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, reflexão crítica sobre a prática e o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.
Além disso, o teórico ainda cita como exigências a consciência do inacabamento, o respeito à autonomia do ser do educando, bom senso, humildade, alegria e esperança, apreensão da realidade, curiosidade, segurança, competência profissional, generosidade, comprometimento, autoridade, tomada consciente de decisões, escutar, reconhecer que a educação é ideológica, disponibilidade para o diálogo o querer bem aos estudantes (FREIRE, 1996).
Araújo (2010) ainda completa que os professores têm a função de construir valores e desenvolver um ensino que seja moldado nos princípios da transversalidade, interdisciplinaridade e na estratégia de projeto, além, de destacar que a construção de relações éticas e democráticas devem ocorrer a partir de assembléias escolares.
Diante deste quadro de tantas obrigações e competências a serem desenvolvidas pelos professores, Tania Zaguri (2006) se questiona: 
Como transformar tantas teorias em “fazer pedagógico”? Como atuar para ser um professor moderno, não tradicional, não ultrapassado? Como cumprir o programa que continuam a lhe cobrar, e, ao mesmo tempo, atender ao que o aluno gosta e quer fazer, que pode não ter nenhuma relação com o que a sociedade exige? Como conciliar tantas mudanças e desafios novos, se as dificuldades mais simples não são sanadas, como turmas grandes e com poucas horas de aula, por exemplo? Como esclarecer suas próprias dívidas, sem parecer um profissional incompetente? E, como atender às complexas tarefas do currículo que, em cada ano, é acrescido de novos desafios, se a realidade brasileira mostra que parte dos professores nem escreve corretamente? (ZAGURI, 2006, p. 42-43).
Podemos perceber, nos questionamentos de Zaguri, toda a angústia por que passam os professores que se vêem em meio a tantas responsabilidades; a tantas cobranças, perdidos no excesso de funções e de obrigações. 
Luiza Cortesão (2002) ainda classifica os professores em dois modelos: o “monocultural”, aquele que é bem formado, seguro, claro, trabalhador, distribuidor de saberes, eficiente, exigente, centralizado nos conteúdos curriculares e o professor “intermulticultural”, que sabe da importância da heterogeneidade, que investiga, é flexível, capaz de criar e recriar conteúdos e métodos, identifica e analisa problemas de aprendizagem e elabora respostas às diferentes situações de aprendizagem. Enquanto um cumpre ordens, currículos e programas, o outro se questiona sobre o seu papel.
Tantas cobranças, sobrecarga de funções e a crescente desvalorização do magistério, financeira e socialmente, levaram este profissional a enfrentar vários agentes estressores que acabaram por desestrutuar o seu estado mental/psicológico, levá-lo a desenvolver síndromes, a tornar-se inassíduo e, até mesmo, a afastar-se de suas funções.
2.4 A saúde do professor
	As rápidas mudanças por que passa a sociedade têm criado novos desafios para o magistério. Os profissionais da educação, em particular os professores, têm sofrido tanto uma exigência de posturas requeridas pela sociedade, como problemas relativos aos recursos materiais e humanos (ESTEVES, 1999).
	Gomes (2002) nos mostra que as transformações apontadas supõem um profundo e exigente desafio pessoal para os professores que se propõem a responder às novas expectativas projetadas sobre eles: 
É exigido destes profissionais que ofereçam qualidade de ensino, dentro de um sistema de massa, ainda baseado na competitividade, entretanto os recursos materiais e humanos são cada vez mais precarizados, tem baixos salários, há um aumento das funções das/os professoras/es contribuindo para um esgotamento e uma contradição quanto a formação que é oferecida. Diante do quadro mundial em que a escolaridade já não representa mais uma garantia de emprego, surgem dúvidas a cerca da formação, a sociedade e as/os professoras/es precisam redefinir que tipo de homem quer formar (GOMES, 2002)
	Como já citado neste trabalho, além das funções habituais que são prescritas aos professores, outras funções passaram a ser incorporadas, contribuindo para um excesso das funções fixadas, o que gerou problemas relacionados a fala e uma sintomatologia de ansiedade, depressão, apatia e estresse:
O trabalho docente cada vez mais mergulhado em burocracias, técnicas desassociadas do seu contexto sócio-político, exigências de titulação academicista que não interrogam os processos de formação engendrados, acabam por dificultar a análise dos processos que são atualizados no cotidiano escolar (ESTEVES, 1999, p. 126).
Como aponta Esteves (1999), frente a esta realidade os professores se vêem pedidos, como um ator de teatro que enquanto está representando é trocado o cenário e ele não sabe como fazer para desempenhar, com excelência, o seu papel e conquistar a atenção e o respeito do público. 
O estado em que se encontra o trabalho na escola e em particular, o trabalho dos professores, tem chamado a atenção devido ao aumento de adoecimento e afastamento desses profissionais. Contudo, isto não é uma peculiaridade do sistema educacional brasileiro, trata-se de um fenômeno internacional que alcança o conjunto de países de nosso contexto cultural. Segundo ele, os primeiros indicadores desse mal-estar começaram a se tornar evidentes no início da década de 80 nos países mais desenvolvidos (ESTEVES, 1999).
Pelas razões expostas, podemos notar que a inibição e o absentismo aparecem como a reação mais freqüente para acabar com a tensão derivada do exercício docente. Logo, os professores sofrem as conseqüências de estarem expostos a um aumento da tensão no exercício do seu trabalho, cuja dificuldade aumentou, fundamentalmente, pela fragmentação da atividade do professor e o aumento de responsabilidades que lhes são exigidas, sem que lhes tenha dotado dos meios e condições necessários para responder adequadamente (LIPP, 2006).
É importante destacarmos que as repercussões psicológicas da tensão a que estão submetidos os professores são qualitativamente variáveis e operam de forma distinta conforme diversos fatores, entre os quais a experiência do professor, seu status socioeconômico, seu sexo e o tipo de instituição em que ele ensina (ESTEVES, 1999). 
Portanto, é preciso rejeitar as abordagens muito genéricas que estabelecem uma relação linear e simplista entre esse complexo fenômeno sociológico que Esteves (1999), descreveu
como mal-estar docente e a saúde mental do professor. 
Em ordem crescente do ponto de vista qualitativo, mas decrescente com respeito ao número de professores afetados, as principais conseqüências do mal-estar docente poderiam ser graduadas assim:
Tabela 1 – Consequências do mal-estar docente
	1
	Sentimentos de desconcerto e insatisfação ante os problemas reais da prática do magistério, em franca contradição com a imagem ideal do mesmo que os professores gostariam de realizar.
	2
	Desenvolvimento de esquemas de inibição, como forma de cortar a implicação pessoal no trabalho realizado. 
	3
	Pedidos de transferência como forma de fugir de situações conflitivas.
	4
	Desejo manifesto de abandonar a docência (realizado ou não).
	5
	Absentismo trabalhista como mecanismo para cortar a tensão acumulada.
	6
	Esgotamento. Cansaço físico permanente.
	7
	Ansiedade como traço ou ansiedade de expectativa.
	8
	Estresse 
	9
	Depreciação do ego. Autoculpabilização ante a incapacidade para melhorar o ensino.
	10
	Ansiedade como estado permanente, associada como causa-efeito a diversos diagnósticos de doença mental.
	11
	Neuroses reativas.
	12
	Depressões
Fonte: Tabela elaborada a partir das ideias de Esteves (1999)
Podemos perceber, na tabela acima, que a principal conseqüência do mal-estar docente é a insatisfação profissional e que, ao agravar-se, o professor pode desenvolver sintomas de estresse, ansiedade, neuroses e até depressão. Esta insatisfação pessoal é ocasionada, como já apontado, por excesso de responsabilidades e de cobranças, além da sobrecarga de funções. 
2.4.1 O estresse e a síndrome de Burnout em professores
	Não há como negar que o estresse é um problema dos tempos modernos. Vivemos constantemente no corre-corre, nossos horários são desrespeitados, perdemos horas de sono, alimentamo-nos mal e não reservamos tempo para o lazer. O resultado não pode ser outro: fadiga crônica ou o tão popularizado estresse (Meleiro, 2002).
A palavra estresse vem do inglês stress. Este termo foi usado inicialmente na física para traduzir o grau de deformidade sofrido por um material quando submetido a um esforço ou tensão. Hans Selye, médico endocrinologista, em 1936, transpôs este termo para a medicina e biologia, significando esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações que considere ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio interno (MACANHÃO et al, 2003) .
Estresse, em princípio, não é uma doença. É apenas a preparação do organismo para lidar com as situações que se apresentam, sendo então uma resposta do mesmo a um determinado estímulo, a qual varia de pessoa para pessoa.
	É uma reação perfeitamente normal do organismo e indispensável para a sobrevivência humana. Sem ele não há preparo para enfrentar situações de grande perigo ou uma emoção muito forte. 
Em 1914, Cannon constatou que a finalidade da reação de emergência era mobilizar energia para restaurar a homeostase, isto é, o equilíbrio biológico. Ele salientou a inespecificidade da reação de emergência, tanto para estímulos internos como externos, mas observou a influência das características pessoais como idade, condição física e a susceptibilidade individual nas perturbações da homeostase (MELEIRO, 2002).
	Entretanto, na sociedade contemporânea, o trabalho ocupa a maior parte do tempo das pessoas. Os professores, por exemplo, possuem jornadas de trabalhos longas, iniciando-se muito cedo e podendo estender até a noite. Há raras pausas de descanso e/ou refeições breves e em lugares desconfortáveis. Assim, o ritmo de trabalho costuma ser intenso ao passo que são exigidos altos níveis de atenção e concentração para a realização das tarefas docentes.
	Observamos também que, há uma pressão exercida pelas novas tecnologias, necessitando uma adaptação sem um preparo prévio. Isso favorece a tensão, a insatisfação e a ansiedade, o que esgota o professor e que causa estresse. 
Para Lipp (2006), o estresse é um processo que ocorre em quatro fases: a primeira é a fase de Alerta, onde acontece o confronto com o agente estressor, ocasionando a quebra da homeostase, é considerada a fase positiva do estresse. A segunda fase é a Resistência, nesse período o organismo procura se adaptar para restabelecer a homeostase, com a ação prolongada do estressor. A Terceira fase é chamada de Quase exaustão, é o início do processo de adoecimento nos órgãos mais vulneráveis a cada pessoa, se não ocorrer o “alívio”, o estresse atinge sua fase final, que é chamada de Exaustão, onde o organismo é atingido no plano biológico, físico ou psicológico (Lipp, 2006, p. 23).
Para Lipp (2006), o trabalho realizado dentro das salas de aula e nos intervalos sobrecarrega os professores, sendo que a raiva e a frustração são sentimentos que interferem desfavoravelmente na saúde física e mental dos mesmos. Outros fatores estressantes nas escolas são: violência e drogadição, ocasionando a sensação de ameaça e perda de controle por parte dos professores, funcionando como agente estressor.
Dessa forma, a insatisfação e a falta de perspectiva de crescimento desestimulam os professores, que passam a ver a escola e suas atividades como um fardo pesado sem gratificações pessoais, ocasionando queda de desempenho, frustração, alteração de humor e outras conseqüências físicas e mentais (Lipp, 2006, p. 31).
A consequência mental/psicológica mais grave no que se refere ao estresse em professores é a Síndrome de Burnout, considerada por Carlotto e Palazzo (2006) como um tipo de estresse de caráter persistente vinculado a situações de trabalho, resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada com intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo. 
Carlotto e Palazzo (2006) fundamentam-se na perspectiva social-psicológica proposta por Maslach & Jackson para esclarecerem as características desta síndrome:
Essa considera burnout como uma reação à tensão emocional crônica por lidar excessivamente com pessoas. É um construto formado por três dimensões relacionadas, mas independentes: (a) exaustão emocional: caracterizada por falta de energia e entusiasmo, por sensação de esgotamento de recursos ao qual pode somar-se o sentimento de frustração e tensão nos trabalhadores, por perceberem que já não têm condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas, como faziam antes; (b) despersonalização: caracterizada pelo desenvolvimento de uma insensibilidade emocional, que faz com que o profissional trate os clientes, colegas e a organização de maneira desumanizada; (c) diminuição da realização pessoal no trabalho: caracterizada por uma tendência do trabalhador a auto-avaliar-se de forma negativa, tornando-se infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional, com conseqüente declínio no seu sentimento de competência e êxito, bem como de sua capacidade de interagir com os demais (CARLOTTO; PALAZZO, 2006, p. 02).
A síndrome de Burnout em professores afeta o ambiente educacional e interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando esses profissionais a um processo de alienação, desumanização e apatia, ocasionando problemas de saúde, absenteísmo e intenção de abandonar a profissão (CARLOZZO; PALAZZO; 2006).
Considerando as demandas e pressões do meio, é necessário trabalhar a prevenção adequando a realidade dos professores, visando à melhoria das relações pessoais e profissionais.
2.5 Legislação e políticas públicas voltadas para a saúde do professor
O ato de educar as populações tem relevância inquestionável em nossa sociedade, sobretudo se analisarmos os atuais entendimentos sobre o papel da educação os quais convergem para a ideia de universalização e formação para a cidadania, princípios democráticos, republicanos e de respeito aos direitos humanos.
Nesse contexto, a figura do educador emerge como a de um articulador que irá empreender, de acordo com inúmeras estratégias, preceitos pedagógicos e legislativos,
a hercúlea tarefa de intrincar os nós do conhecimento formando a rede por meio da qual cada ser atingirá o máximo de suas potencialidades humanas e intelectuais. 
Entretanto, não obstante à importância de seu papel na sociedade, o professor encontra-se abandonado à própria sorte em meio aos meandros da burocracia estatal da qual, inclusive, é parte integrante.
Os casos de violência, as péssimas condições de trabalho, a sobrecarga, a desvalorização social e financeira de seu fazer, o sentimento de impotência, e tantos outros fatores pertinentes a difícil tarefa de educar, têm condicionado levas e levas de professores a uma profunda deterioração de sua saúde física e psicológica, conforme se demonstra a partir das reflexões tecidas anteriormente nesta pesquisa.
Diante dessa exposição, coloca-se o seguinte questionamento: Se os professores são tão essenciais ao sucesso do modelo de educação defendido pelo estado e aceita pela sociedade e se é fato que esse profissional está absolutamente exaurido de suas forças físicas e psicológicas, por que não existem políticas públicas voltadas à preservação da saúde mental/psicológica desse profissional?
Certamente não é pelo desconhecimento do problema. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) classificou a profissão docente como de alto risco, e a considera como a segunda categoria profissional, em nível mundial, a portar doenças de caráter ocupacional (BATISTA et al, 2010).
Segundo dados levantados pelo estudo realizado por Jaqueline Brito Vidal Batista et al, a legislação brasileira apresentou uma nova lista� de Doenças Profissionais e Relacionadas ao Trabalho, a qual contém um conjunto de doze categorias diagnósticas de transtornos mentais.
Essas categorias se incluem no que foi chamado de Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao Trabalho. A Síndrome de Esgotamento Profissional – Burnout – é a décima segunda categoria contemplada. Nesse mesmo estudo identificou-se que 8,3% dos profissionais pesquisados apresentavam alto nível de despersonalização, 33,6% alto nível de exaustão emocional e 56,6% alto nível de baixa realização profissional no trabalho, todos esses dados são dimensões do Burnout (BATISTA et al, 2010)
O decreto Nº. 6.042 publicado no Diário Oficial da União de 12 de fevereiro de 2007 estabelece que o professor que tiver como diagnóstico a síndrome de Burnout terá direito ao afastamento médico, se procurar o posto da previdência social. 
Considerando as características da Síndrome, já mencionadas nesse trabalho, e considerando a grande prevalência desse distúrbio entre os profissionais da educação, fica fácil perceber que o decreto supramencionado terá baixíssima efetividade se sua aplicação não estiver incluída em uma política pública que se estruture com o objetivo de prevenir as causas do Burnout, de identificar precocemente os casos e dar um encaminhamento de qualidade ao profissional que necessitar. 
Aparentemente, apesar da existência do decreto, os educadores continuam sofrendo silenciosamente, muitos por não terem a consciência de que são vítimas da síndrome. Enquanto isso, eles permanecem realizando suas funções precariamente, muitas vezes com um alto grau de absenteísmo o que poderá – e na maioria das vezes será – entendido pelos gestores e pela comunidade como falta de comprometimento com a educação. 
O mesmo descaso se verifica em relação ao alto número de professores que sofrem com distúrbios associados à voz. De acordo com estudo de Léslie Piccolotto Ferreira et al (2009), o adoecimento vocal do professor é fruto de interferência de dois gêneros de fatores: os ambientais como o ruído, a poeira, a fumaça e os organizacionais evidenciados no excesso de trabalho, cobrança excessiva e falta de material, entre outros. Ambos se associam ao despreparo vocal desse profissional, que se vê imerso em contexto desfavorável, sem ter conhecimento de como reverter a situação (FERREIRA et al, 2009).
Em estudo realizado pelo CEPES – APEOESP (Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais e Sindicais) em parceria com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), os problemas com a voz foram mencionados como causa de sofrimento por 57,1% dos professores entrevistados. O incômodo causado por problemas no trato vocal foi superado somente pelas queixas de cansaço (79,7%) e nervosismo (61,1%) (APEOESP/DIEESE, 2007).
Apesar da relevância desses problemas há poucas proposições em relação a isso na Assembléia Legislativa de São Paulo. De acordo com o levantamento de FERREIRA (2009), em São Paulo houve apenas uma proposição de lei a esse respeito no período compreendido entre 1998 a 2006: a Lei 10893/01, a qual dispõe sobre a criação do Programa Estadual de Saúde Vocal do Professor da Rede Estadual de Ensino. 
Artigo 2º - O Programa Estadual de Saúde Vocal deverá abranger assistência preventiva, através de convênio entre a Secretaria da Educação e a Secretaria da Saúde, com a realização de, no mínimo, um curso teórico anual, objetivando orientar os profissionais sobre o uso adequado da voz profissionalmente.”
Artigo 4º - O Programa Estadual de Saúde Vocal terá caráter fundamentalmente preventivo, mas, uma vez detectada alguma disfonia, será garantido ao professor o pleno acesso ao tratamento fonoaudiológico e médico. 
Artigo 5º - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta de dotações orçamentárias consignadas no item seguridade social (LEI 10893/01).
Podemos notar que o texto da Lei não prevê a criação de uma política pública especial, apenas chama a atenção para a necessidade de destinação de uma parte dos recursos da seguridade social para a atenção aos problemas da voz do professor. 
Far-se-á necessário acompanhar cada elaboração orçamentária para disputar um quinhão do orçamento a esse programa. Será que há, efetivamente, forças políticas engajadas que dêem conta disso? No geral, os recursos financeiros necessários à implementação desses projetos não são garantidos o que inviabiliza a sua aplicação. 
Um outro aspecto de grande importância, porém pouco observado no âmbito das legislações e políticas públicas que visam à salubridade do trabalho docente, se refere ao nível de ruído no ambiente escolar. 
A pesquisa de Aline Libardi et al (2006), revela que o máximo aceitável de ruído em uma sala de aula seria de setenta decibéis, acima disso, há o risco eminente de estresse, perdas auditivas, infarto e disfonias (LIBARDI et al, 2006).
Nesse mesmo estudo, os autores demonstraram que em uma escola situada em local com pouca ou nenhuma interferência de ruídos externos, tais como movimentação de automóveis, aviões ou intensa movimentação de pedestres, os níveis de ruído do interior das salas de aula alcançaram valores 90 decibéis. Na quadra e no pátio, os valores superaram os 100 decibéis (LIBARDI et al, 2006)
De acordo com a Norma Reguladora 15 (NR15, 2010) da legislação trabalhista, considera-se insalubre o trabalho no qual o trabalhador fique exposto a um nível de ruído superior a 85 decibéis durante mais de oito horas. O nível de ruído superior a 100 decibéis somente poderá ser suportado pelo trabalhador durante uma hora. Em todos os casos, a caracterização de insalubridade implica em uma bonificação em dinheiro que será acrescentada ao salário do trabalhador. Entretanto, para que se aplique essa norma é necessário que se comprove a insalubridade por meio de laudos técnicos. Quem os promoverá?
Os estudos que apontam os problemas de saúde dos professores são vastos, entretanto, apesar da vastidão das provas científicas de que os professores estejam doentes e exaustos, não há políticas públicas efetivamente destinadas à mitigação desses problemas.
Dois fatores poderiam ser aventados para explicar esse fato: a falta de engajamento docente devido à diversificação e fragmentação da categoria, e ao fato de os governos estarem orientando suas ações políticas sob a égide da doutrina nomeada de novo gerencialismo público. 
Segundo
Celina Souza (2006):
As últimas décadas registraram o ressurgimento da importância do campo de conhecimento denominado políticas públicas, assim como das instituições, regras e modelos que regem sua decisão, elaboração, implementação e avaliação. Vários fatores contribuíram para a maior visibilidade desta área. O primeiro foi a adoção de políticas restritivas de gasto, que passaram a dominar a agenda da maioria dos países, em especial os em desenvolvimento. A partir dessas políticas, o desenho e a execução de políticas públicas, tanto as econômicas como as sociais, ganharam maior visibilidade. O segundo fator é que novas visões sobre o papel dos governos substituíram as políticas keynesianas do pós-guerra por políticas restritivas de gasto. Assim, do ponto de vista da política pública, o ajuste fiscal implicou a adoção de orçamentos equilibrados entre receita e despesa e restrições à intervenção do Estado na economia e nas políticas sociais (SOUZA, 2006, grifo nosso).
Credita-se ao período de Governo de Fernando Henrique Cardoso, o qual coincide com o Governo Mário Covas no estado de São Paulo, a maior implementação desse modelo de gerenciamento de políticas públicas, muito embora ele tenha sido introduzido no Brasil logo após a redemocratização e esteja em curso até os dias atuais em todas as esferas de governo. 
O novo gerencialismo se baseia na eficiência, aliada ao fator de credibilidade dos gestores dessas políticas. A eficiência poderá ou não estar vinculada a políticas que visam distribuir ou redistribuir renda, ela é fruto de uma análise racional – científica – e tem um forte compromisso com a saúde fiscal do estado.
No Brasil, essa lógica de administração pública foi divulgada e defendida com base na ideia de que o Estado é um mau gestor e de que a fórmula da eficiência está na contenção de gastos públicos e privatizações.
Embora não seja possível provar a correlação, podemos tirar o indicativo de que essa forma de pensar as políticas públicas e gerir o Estado tem influenciado a promoção de políticas de cunho social, entre elas, a de promoção da saúde do professor.
Ora, analisando quantitativamente, é possível encontrar um saldo positivo na atual situação do professorado: os índices que avaliam a educação têm melhorado e os professores doentes geram menos custos trabalhando precariamente do que se estivessem inseridos em uma política mais abrangente de melhoria de suas condições de trabalho. No novo gerencialismo isso significa eficiência, contenção de gastos e alcance de metas.
Pouco eficiente seria aumentar os custos com programas de proteção da saúde do professor, melhorar os ambientes em que trabalham, aumentar os salários e criar políticas decentes de qualificação profissional. Os custos aumentariam demasiadamente, a qualidade da educação certamente teria um grande salto qualitativo, mas e a tal eficiência? E o ajuste fiscal nas contas do governo? 
Sobre os impactos dessa visão de gerenciamento estatal, TOZONI-REIS (2010) assim se pronunciou:
É visível o progressivo "desinvestimento" na Educação, nem tanto diretamente pela aplicação de percentuais orçamentários obrigatórios, mas por uma série de outros mecanismos que Romanelli (2009) chamou de "mecanismos internos de controle". O processo de privatização do ensino, que afirma a sua dualidade, é tão sutil quanto eficiente e se expressa pelos mais diferentes indicadores: baixa qualidade; baixa valorização social da escola; baixos salários dos professores; políticas ineficientes de formação inicial e permanente dos professores; burocratização do processo de planejamento pedagógico com tendências a transformar os professores em meros reprodutores de conteúdos estabelecidos pelos técnicos burocratas do ensino etc (TOZONI-REIS, 2010). 
Para que esse texto não seja acusado de estar impregnado de ‘ideologismos’, segue um pequeno exemplo, como o da Lei Complementar 1041/2008 dispõe sobre o vencimento, a remuneração ou o salário do servidor que deixar de comparecer ao expediente em virtude de consulta ou sessão de tratamento de saúde e dá providências correlatas. 
Ela define um limite de seis ausências anuais por motivo de saúde e um teto de três horas para que se ausente para consultas médicas. Devendo comprovar, em todos os casos, a visita ao médico por meio de comprovantes. Se o servidor público exceder esse limite haverá prejuízo em seu plano de carreira, aposentadoria e bônus por desempenho. 
Essa Lei, proposta em caráter de urgência pelo Governador em exercício na época, José Serra, foi incluída na pauta em 18/12/2007 e em 14/04/08 ela já estava aprovada e promulgada. Ou seja, o processo todo levou quatro meses, contando que nesse período houve recesso de fim de ano, carnaval e etc.
O Projeto de Lei 828, proposto em 21 de novembro de 2005 pelo então deputado Valdomiro Lopes (PSB), cria o programa de acompanhamento da saúde do professor e fixa outras providências. No corpo do PL o autor propõe: 
Artigo 1º- Fica criado o Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor, a ser aplicado, anualmente, à todos os professores da rede pública de ensino.
Artigo 2º- O Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor disponibilizará consultas e exames médicos para todos os professores da rede pública de ensino, a serem realizados em horários previamente agendados dentro das disponibilidades dos docentes.
Artigo 3º- O Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor oferecerá também acompanhamento psicológico para os docentes, com consultas em horários previamente agendados dentro das disponibilidades dos docentes.
Artigo 4º- Observando a necessidade de afastamento das suas atividades docentes, os médicos e/ou psicólogos do Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor encaminharão, de ofício, a solicitação para os órgãos competentes.
Artigo 5º- Durante a licença para tratamento de saúde, os professores da rede pública de ensino, com contratos de trabalho de quaisquer natureza, não sofrerão nenhuma redução em seus vencimentos e benefícios.
Artigo 6º- Ao retornarem de suas atividades, os docentes terão garantidas as mesmas condições de trabalho durante todo o restante do ano letivo, ou, caso o retorno ocorra no período de férias ou recesso escolar de final e início de ano, durante todo o ano letivo seguinte.
Artigo 7º- As eventuais despesas decorrentes da aplicação desta lei correrão a conta de dotações orçamentárias próprias, consignadas no orçamento vigente, e suplementadas se necessário (LEI 828/05).
Este projeto aguarda sua inclusão na pauta do dia da câmara desde 2007. Ou seja, se passaram cinco anos desde a sua proposição e não houve interesse na votação dessa matéria. Certamente, uma questão eleger prioridades, saúde do professor ou punições e contenções de gastos. A resposta é evidente e não carece maior explicitação. 
3. METODOLOGIA
3.1. Métodos
Para realizar o estudo proposto, adotamos como Metodologia de Pesquisa o Método Indutivo dentro de uma abordagem Qualitativa. O método indutivo baseia-se na crença de que é possível confirmar um enunciado (lei) através de um certo número de observações singulares (CHALMERS, 1993, p. 28). 
O ponto de partida para a indução não são os princípios, como na dedução, mas a observação dos fatos e dos fenômenos, da realidade objetiva. Seu ponto de chegada é o estabelecimento de leis ou regularidades que regem os fatos ou fenômenos (OLIVEIRA, 2002).
Oliveira (2002, p. 61) ainda completa, dizendo que “na realidade, a indução não é um raciocínio único: ela compreende um conjunto de procedimentos empíricos, outros lógicos e outros intuitivos”. 
A indução ou raciocínio indutivo é, portanto, uma forma de raciocínio em que o antecedente são dados e fatos particulares e o antecedente, é uma afirmação universal (SEVERINO, 2002).
Como os objetivos específicos desta pesquisa são levantar as notícias/webnotícias relacionadas à saúde mental/psicológica dos professores publicadas na
revista Veja, na Folha de São Paulo e no Estadão no ano de 2010 e analisar e comparar o discurso veiculado na revista Veja, na Folha de São Paulo e no Estadão a respeito da saúde mental do professor, o método de pesquisa adotado é o indutivo, já que partimos do particular para o geral, ou seja, da observação do micro (Veja, Estadão e Folha) para verificar se a mídia jornalística relaciona a competência do professor aos seus problemas de saúde mental/psicológico e, desse modo, acaba construindo uma imagem negativa deste profissional perante a sociedade contemporânea.
Já a abordagem qualitativa dada nesta pesquisa, justifica-se porque ela tem se afirmado como um método promissor em relação à investigação em pesquisas realizadas na área da educação. Uma pesquisa com essa abordagem caracteriza-se pelo enfoque interpretativo (ERICKSON, 1989).
Seguindo o método de pesquisa indutiva sob uma abordagem qualitativa, é necessário que façamos uma pesquisa bibliográfica sobre os temas abordados neste trabalho, pois, este tipo de pesquisa é importante para reunir, revisar e comparar informações e conhecimentos produzidos em períodos e locais próximos e/ou distantes.
Além disso, a pesquisa bibliográfica possibilita o desenvolvimento de estudos qualitativos nas áreas de pesquisas das Ciências Humanas, devido ao fato de permitirem a análise de contextos históricos e socioculturais, proporcionando a compreensão de valores morais e éticos, que orientam os comportamentos sociais durante o exercício da cidadania (Goldenberg, 1997).
Os objetivos da pesquisa bibliográfica é descrever, explicar e prever a frequência de ocorrência de um problema a partir de referências teóricas registradas e publicadas em documentos teóricos (Cervo; Bervian, 2003). Como descreveremos e verificaremos a freqüência de ocorrência do agendamento do tema “saúde mental/psicológica do professor” na mídia digital, através de webnotícias, a revisão bibliográfica torna-se de suma importância para que esta pesquisa se concretize.
3.2. Procedimentos metodológicos
Com o intuito de avaliar a hipótese sobre a relação entre a competência e os problemas de saúde mental/psicológico do professor, veiculada pelo webjornalismo, foi realizado um levantamento de webnotícias na revista Veja e nos jornais Folha de São Paulo e Estadão, durante o ano de 2010.
 Os critérios considerados para a escolha destes veículos midiáticos foram: divulgação, acessibilidade, circulação, consumo cultural e comercial. Já, os critérios para seleção prévia das webnotícias baseou-se nas seguintes palavras-chave: professor; licença médica ou afastamento; estresse (stress); faltas ou ausências e transtorno mental.
Depois de realizada a seleção das webnotícias, elas passaram a constituir-se o corpus de análise desta pesquisa. Foram encontradas 10 webnotícias que abordavam a relação entre a saúde mental/psicológica do professor e sua competência profissional, durante o ano de 2010. Dessas 10 webnotícias, 07 delas foram veiculadas no jornal Folha de São Paulo, 01 na revista Veja e 02 no jornal Estadão.
As 10 webnotícias que passaram a constituir o nosso corpus de análise foram organizadas em tabelas, analisadas e confrontadas de acordo com as opiniões e posição ideológica de cada veículo midiático.
As análises foram realizadas mediante o estudo de Lang e Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008) sobre as técnicas utilizadas pela mídia no processo de agendamento de temas e na construção de efeitos cognitivos nos destinatários. Além disso, foram utilizadas também nas análises, conceitos e informações colhidas a partir da pesquisa bibliográfica realizada sobre Agenda-Setting, sobre a atuação do professor na contemporaneidade, sobre a saúde mental do professor e sobre a legislação e as políticas públicas voltadas para a saúde mental/psicológica deste profissional.
3.3 Metodologia de análise do corpus
A mídia fornece aos seus receptores uma relação de sistemas estruturados de conhecimento relativo aos temas que agenda. Esses sistemas estruturados são os mecanismos de interpretação, compreensão e de memorização de que ela se utiliza para causar efeito cognitivo.
Valendo-se de várias hipóteses, Lang e Lang (1981, p. 465) constata que a mídia segue algumas técnicas para construir efeitos cognitivos nos destinatários através do processo de agendamento:
A mídia enfatiza um acontecimento, uma ação, um grupo, uma personalidade etc., de modo que passa para primeiro plano. Tipos diversos de temas requerem quantidade, qualidade diferentes de cobertura para atrair a atenção. Essa é a fase da focalização, mas é apenas a primeira, necessária, porém, insuficiente para determinar a influência cognitiva por si mesma;
O objeto focalizado pela atenção da mídia deve ser enquadrado e interpretado à luz de algum tipo de problema que ele representa: é a fase do framing, ou seja, do “delineamento” de um quadro interpretativo para o que foi coberto intensivamente;
Na terceira fase, cria-se um vínculo entre o objeto ou o evento e um sistema simbólico, de modo que o objeto torna-se parte de um panorama social e político reconhecido; é a fase em que os meios de comunicação de massa são decisivos na ligação de acontecimentos discretos, descontínuos em relação a um fato constante, que se desenvolve sem solução de continuidade;
Por fim, o tema ganha peso se puder personificar-se em indivíduos que se tornem seus “porta-vozes”. A possibilidade de dar forma à agenda está, em grande parte, na sua habilidade de dirigir a atenção da mídia num processo de ênfase que se propõe todo o ciclo de fases.
Já, os estudos de Patrizia Violi (1982) acrescentam às técnicas descritas por Lang e Lang, outras técnicas de construção de efeitos cognitivos: os elementos linguisticos e os extralinguísticos. 
As idéias de Violi promulgam que, para que se chegue a esses efeitos, não basta olhar apenas para os elementos estruturais internos (elementos lingüísticos) ao texto, deve-se, antes, observar a sua funcionalidade como um todo:
[...] a primeira parte de um texto ativa uma cena esquemática, em que muitos elementos ainda são deixados, por assim dizer; em branco; as partes seguintes do texto passam a preencher esses espaços brancos (ou pelo menos, alguns deles), introduzindo novas cenas, mudando e sobrepondo outros de modo variado, conforme vínculos causais, temporais, etc [...] Um texto coerente é um texto em que as várias partes contribuem para a criação de uma única cena, em geral muito complexa. É importante salientar que a natureza final desse “mundo textual” muitas vezes depende de aspectos de cenas que nunca são explicitamente mencionados no texto. Isso nos reduz à função e à importância desempenhadas pelos conhecimentos extralinguísticos na interpretação textual (VIOLI, 1982, p. 93).
Wolf (2008), por outro lado, enfatiza que a seleção de eventos a serem transformados em notícias é determinada por valores que seguem alguns critérios, como por exemplo:
Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável: quanto mais o acontecimento interessar a elite, maior será sua probabilidade de se tornar notícia e deve referir-se a algo que o público deve conhecer;
Impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional: para isso, o acontecimento deve ser interpretável dentro de um contexto cultural do ouvinte ou do leitor e se referir a valores ideológicos�; 
Quantidade de pessoas que o acontecimento envolve: quanto mais elevado for o número de pessoas envolvidas, mais importante é a notícia;
Relevância e significatividade do acontecimento em relação aos desenvolvimentos futuros de uma determinada situação: interessantes são as notícias que buscam dar ao evento uma interpretação baseada no lado do interesse humano, como histórias de pessoas comuns que passam a agir em situações insólitas, histórias de homens públicos observados em sua vida cotidiana, história em que há uma inversão de papéis, histórias de interesse humano ou histórias de feitos excepcionais
e heróicos (WOLF, 2008, p. 208-214).
Com base nos estudos destes três pesquisadores – Lang e Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008) – formulamos a metodologia de análise das webnotícias. Esta metodologia de análise tem como objetivo verificar as técnicas utilizadas pelos veículos midiáticos – Folha de São Paulo, Estadão e revista Veja – para agendar o tema “a relação entre a competência e os problemas de saúde mental/psicológico do professor” e construir um efeito cognitivo nos destinatários. A estrutura selecionada para a análise metodológica das webnotícias está esclarecida na tabela abaixo:
Tabela 2 – Metodologia de análise das webnotícias
	Veículo Midiático
	Apontar se a webnotícia foi veiculada pelo Estadão, pela Revista Veja ou se pela Folha de São Paulo.
	Manchete
	Título da webnotícia. 
	Data
	Dia, mês e ano em que a webnotícia foi veiculada.
	
Texto na Íntegra
	Visa garantir a possibilidade de verificação das impressões registradas na análise, todas as matérias que subsidiaram a pesquisa encontram-se na íntegra no corpo da análise.
	Técnica Linguística
	Analisar as estratégias lingüísticas utilizadas na manchete. 
	Técnica Extralinguística
	Verificar o contexto, ou seja, o panorama social e político reconhecido nas webnotícias.
	
Focalização
	Verificar qual é o quadro interpretativo, ou seja, qual é o objeto focalizado e qual é o enquadramento que lhe é dado (interpretação do objeto a luz de algum tipo de problema).
	
Delineamento
	Verificar qual é o vínculo entre o objeto focalizado e seu quadro interpretativo e o panorama social e político.
	Comentário
	Representa a análise da notícia com base nos pressupostos teóricos aqui apresentados.
	
Personificação
	Verificar quem é o porta-voz da webnotícia a fim de verificar a ideologia, o público-alvo, os valores, crenças e necessidades expressas na webnotícia.
	Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos
	Verificar se a webnotícia se diz respeito às instituições governamentais ou a outros organismos e hierarquia sociais.
	
Quantidade de pessoas que o acontecimento envolve
	Perceber se a webnotícia diz respeito a muitas pessoas ou não, e se o tema abordado desperta o interesse da elite, pois a notícia tem valor se diz respeito a muitas pessoas ou se o acontecimento interessar a elite.
	
Humanização�
	Verificar se há na webnotícia a história de pessoas comuns, ou de homens públicos em vida cotidiana, ou ainda inversão de papéis, pois esta técnica busca dar ao evento noticiado uma interpretação baseada no lado do interesse humano. O texto jornalístico utiliza as falas dos envolvidos, exemplos de casos reais e depoimentos como forma de aproximação entre fato e leitor. Apontamos o aparecimento ou não desse elemento em todas as notícias analisadas. 
Fonte: A tabela foi organizada a partir das pesquisas de Lang e Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008) sobre a teoria do agendamento. 
Vale destacar que, no presente trabalho de pesquisa, as técnicas “extralingüística”, “personificação”, “grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos” e “quantidade de pessoas que o acontecimento envolve” foram aplicadas na análise geral de todas as webnotícias, pelo fato de que há semelhanças entre elas. As demais técnicas foram utilizadas nas análises específicas. 
Outro fator importante nesta metodologia de análise é que as técnicas de “focalização” e de “delineamento” foram unificadas em virtude da proximidade de seus objetivos.
4. apresentação e discussão dos resultados
Cabe a Cora Coralina, contista e poetiza brasileira, um dos versos mais utilizados por aqueles que desejam fazer positiva referência ao trabalho do professor: “Feliz aquele que transmite o que sabe, e aprende o que ensina”.
Décadas antes de Cora Coralina descobrir seu talento literário, Albert Camus, o filósofo do absurdo, fez uma interessante e sombria analogia a respeito do trabalho na modernidade na obra intitulada “Mito de Sísifo”�. Nela, o autor analisa o sentido da vida (ou a falta dele), para tanto, retoma a mitologia grega e assim se expressa: 
Os deuses tinham condenado Sísifo a rolar um rochedo incessantemente até o cimo de uma montanha, de onde a pedra caía de novo por seu próprio peso. Eles tinham pensado, com as suas razões, que não existe punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança (CAMUS, 1989) �.
É certo que a tarefa de educar não é inútil e, diz a sabedoria popular, a esperança é a última a sucumbir, todavia, os professores estão doentes, estressados, esgotados e deprimidos. Em que momento a felicidade de transmitir o que sabe se torna o inútil ato de administrar um fazer esvaziado de sentido tal qual fazer subir a pedra no morro de cujo cume ela despencará infinitamente?
Em nossa conturbada sociedade, a educação se tornou verdadeira panacéia social. Em certos momentos incorporam-se a ela os etéreos ares do milagre de banimento de todas as distorções, entretanto, à frente da missão, encontra-se o professor, sozinho, empunhando o frágil giz frente a tão grandes e variados desafios. 
Diante disso, não causa surpresa o fato de que o mestre se frustre e se entristeça diante da colossal pressão de sua missão e de ter consigo tão poucos meios e apoios. A opressão lhe conduz ao papel de Sísifo.
De que forma a sociedade se volta a esses mestres combalidos pela violência nas escolas, pela desvalorização social e financeira de seu trabalho, pela sobrecarga, pelas sucessivas mudanças de cenários? Como a sociedade os acolhe? E mais, como a portadora das opiniões públicas, a grande imprensa, a ele se refere?
Iniciamos essa pesquisa com a hipótese de que, de maneira geral, a mídia jornalística relaciona a competência do professor aos seus problemas de saúde mental e, desse modo, acaba construindo uma imagem negativa deste profissional perante a sociedade contemporânea.
Para verificarmos a validade desse enunciado, recorremos à pesquisa de webnotícias publicadas nos sites da Revista Veja, do Estadão e da Folha de São Paulo. A escolha da revista Veja e dos jornais Folha e Estado se justifica pelo fato de serem meios de grande circulação e influência na formação da opinião geral. Embora não sejam lidos por todas as camadas da população, os temas por eles levantados atingem indiretamente os não-leitores por meio dos “formadores de opinião”. 
A análise das dez webnotícias que fazem parte do corpus deste trabalho será organizada da seguinte maneira: análise geral e análise específica. Na análise geral, será dado enfoque a técnica extralingüística, a personificação, ao grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos e a quantidade de pessoas que o acontecimento envolve, visto que, todas as webnotícias analisadas são semelhantes nestes aspectos.
Quanto à análise específica, destacaremos o veículo midiático, a manchete, a data da veiculação da webnotícia, as técnicas lingüísticas empregadas, o texto na íntegra, a focalização/delineamento, a humanização e os comentários finais sobre cada uma delas. 
4.1 Análise Geral
De acordo a teoria do agendamento, a mídia determina a pauta para a opinião pública ao destacar determinados temas e preterir, ofuscar ou ignorar, outros tantos. Verificamos que o tema “Estresse, Doenças Mentais e Afastamento/Ausências de Professores” foram notícias de março a outubro deste ano. 
Para visualizar com mais objetividade este agendamento, organizamos os dados que colhemos na tabela abaixo:
Tabela 3: Noticialidade do tema “Estresse, Doenças Mentais e Afastamento/Ausências de Professores”
	Mês
	Quantidade de Notícias
	Estadão
	Folha
	Veja
	março
	02
	
	X
	
	maio
	02
	
	X
	
	julho
	03
	X
	
	X
	setembro
	01
	
	X
	
	outubro
	02
	
	X
	
Fonte: webnotícas que fazem parte do corpus desta pesquisa.
Ao observarmos a tabela, podemos notar que o tema foi agendado duas vezes em março – mês de início da greve dos professores no Estado de São Paulo� e que
o mesmo ocorreu no mês de maio – finalização da greve e início da reposição de aulas�.
Percebemos também que o agendamento ocorreu com mais frequencia no segundo semestre de 2010 e que o pico da tematização foi no mês de julho – mês de recesso escolar.
 Em relação ao segundo semestre, notamos um maior agendamento no mês de outubro (mês em que se comemora o dia dos professores). Além disso, verificamos que a Folha de São Paulo foi a que mais agendou este tema, seguido pelo Estadão e pela Revista Veja. 
4.1.1 Personificação
Vale destacarmos que, cada uma das webnotícias analisadas tem história e direcionamentos políticos próprios os quais compõem sua linha editorial. De alguma maneira, o respeito a essa linha editorial cria um posicionamento padrão, uma vereda interpretativa dos fatos que se constitui como uma verdadeira visão de mundo. 
Esta, muitas vezes, se relaciona de forma simbiôntica à visão de mundo dos leitores habituais. Isto quer dizer que elas se retroalimentam: a visão de mundo dos leitores cativos influencia variações da linha editorial ao mesmo tempo em que os recortes da realidade produzidos pelo meio de comunicação induzem o leitor a formatar sua visão de mundo.
Sendo assim, para discutirmos de forma qualificada o posicionamento desses três meios de comunicação frente ao adoecimento dos professores, faz-se necessária uma pequena apresentação dos porta-vozes das webnotícias que fazem parte do nosso corpus de análise: Folha de São Paulo, Estadão e revista Veja.
De acordo com informação obtida no sítio do jornal Folha de São Paulo, o periódico é o jornal mais vendido no Brasil com uma circulação média diária de mais de trezentos mil exemplares. Foi fundado em 1921 e defende o pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência como pilares de sua linha editorial�. 
O Jornal Estado de São Paulo é o mais antigo jornal da cidade de São Paulo ainda em circulação. Sua primeira edição foi publicada em 1875 sob o nome de Jornal da Província de São Paulo. Este importante meio de comunicação está em posse da família Mesquita desde 1902, quando Júlio Mesquita, assumiu o controle total do jornal que desde o início demonstrou ter engajamento político. 
De acordo com informações do Portal Estadão:
A modernização do jornal acompanhava o espantoso crescimento da cidade que havia decuplicado sua população nos 35 anos posteriores à chegada da ferrovia]. Neste mesmo ano [1901] Júlio Mesquita e Cerqueira César lideram a 1ª dissidência republicana, iniciando a partir de então uma linha de oposição sistemática aos governos estadual e federal.
Durante todo o transcorrer posterior da chamada República Velha (até 1930) o jornal se colocou ao lado dos contestadores do viciado sistema eleitoral conhecido pejorativamente como “bico-de-pena”, caracterizado pelo voto em aberto e manipulação fraudulenta. Em 1909 apoia a candidatura de Ruy Barbosa à presidência da República, a chamada “Campanha Civilista”, em oposição�.
O portal Estadão� aponta várias outras menções aos posicionamentos políticos assumidos pelo jornal ao longo de sua história. De acordo com o Grupo Estado, essa postura concedeu ao periódico grande aceitação social, sendo apontado como o jornal de maior credibilidade entre todas as empresas jornalísticas brasileiras.
A revista Veja circula desde 1968 e foi fundada por Victor Civita e Mino Carta. A revista se inspirou no formato da americana Times e lançou no Brasil o sistema de entrega a domicílio (assinatura). De acordo com informação obtida em “Veja.com” a editora conta com um milhão de assinantes atualmente. 
Sobre sua linha editorial, o portal da revista traz a seguinte análise:
Conteúdo de Veja, que registra os principais acontecimentos do Brasil e do mundo, acompanha as oscilações do interesse do leitor. O debate ideológico e a luta pela democracia deram lugar, nos últimos anos, a assuntos ligados a comportamento e qualidade de vida. Seus leitores, 80% das classes A e B, têm um nível alto de educação e de consumo. Querem opinar e ser ouvidos�.
De acordo com o artigo de Washington Araújo (2010), a linha editorial de Veja:
[...] é de matriz conservadora, defende vigorosamente o neoliberalismo, a livre iniciativa de mercado, a defesa do mais amplo direito à propriedade e tudo aquilo que possa ser abarcado pelo conceito do que se convencionou chamar de estado mínimo�.
Araújo (2010) também caracteriza a revista como um meio de comunicação que raramente deixa de assumir posição frente às questões postas sobre todo e qualquer assunto que esteja em voga no Brasil.
É relevante destacar a diferença de posicionamento entre Veja e Estado que definem e divulgam suas posições políticas e a postura da Folha que não as emite em nome de uma suposta neutralidade. 
Em relação aos jornais Folha e Estado, o estudo de Vivian Maciel Vico (2003) traz a seguinte constatação:
[A] Folha primava pela totalidade das notícias, empenhando-se em ouvir todos os envolvidos na questão, a fim de permitir que o leitor pudesse acompanhar o debate e posicionar-se perante ele. Apesar disto, tinha a clareza da impossibilidade de se alcançar uma verdade plena, quer por interesse em ocultar algum fato, falha humana, impossibilidades físicas ou, até mesmo, preconceito. [...] No caso do jornal O Estado de S. Paulo, algo que diferencia sua cobertura é a valorização da ideologia liberal. Tal conceito, mais que orientá-lo, era o principal parâmetro para analisar o contexto da abertura política. Mesmo consciente das mudanças sócio-econômicas advindas desde o século XIX, o jornal considerava válidos princípios como a participação individual, que abrangeria desde o campo tecnológico até as lutas por direitos sociais, cabendo ao Estado oferecer leis que garantissem tais conquistas, com ênfase no direito à liberdade e à propriedade�.
Evidencie-se que esses três importantes meios de comunicação, que praticamente monopolizam o mercado jornalístico em nosso país, pertencem a três famílias tradicionais: os Mesquita, no caso do Jornal O Estado de São Paulo, os Civita com a Veja e a família Frias que controla a Folha de São Paulo desde 1962. 
Essas famílias e as empresas por elas capitaneadas têm seus interesses e posições políticas, as quais, comprovadamente, influenciam a linha editorial desses veículos e, por conseqüência, a opinião de seus milhões de leitores. 
Sendo assim, se resgatarmos a discussão sobre os efeitos cognitivos da mídia sobre a formação da opinião entre os cidadãos e a relacionarmos à ideia de agenda-setting, veremos que a forma como esses meios de comunicação irão se referir aos problemas de saúde dos professores farão imensa diferença na imagem que a sociedade irá construir desse profissional, e até mesmo na construção da auto-imagem docente. 
4.1.2 Técnica Extralinguística
Para compreendermos, ainda mais, os efeitos cognitivos construídos pelos veículos midiáticos aqui representados pela revista Veja e pelos jornais Estadão e Folha de São Paulo, torna-se importante apresentarmos o contexto social e político que caracterizam as webnotícias analisadas nesta pesquisa.
Percebemos, portanto, nas webnotícias analisadas, que todas elas estavam relacionadas ao seguinte contexto social e político: a lógica do novo gerencialismo público.
De acordo com Souza (2006), no novo gerencialismo público, a eficiência passou a ser vista como o principal objetivo de qualquer política pública, aliada à importância do fator credibilidade e à delegação das políticas públicas para instituições com "independência" política. 
 Considerando que as políticas públicas voltadas ao cuidado com a saúde do professor, conforme demonstrado anteriormente, têm se pautado pela lógica do novo gerencialismo público, os três meios de comunicação analisados nesta pesquisa apresentaram tais tendências políticas.
Isso pode ser observado no fato de que todas as webnotícias tenderam para uma provável diminuição do prestígio dos profissionais da educação

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