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ESTUDO SOBRE O CONTROLE JURISDICIONAL DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS E ATOS NORMATIVOS NO DIREITO COMPARADO E NO BRASIL. Cintia Garabini Lages1

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ESTUDO SOBRE O CONTROLE JURISDICIONAL DE CONSTITUCIONALIDADE DAS 
LEIS E ATOS NORMATIVOS NO DIREITO COMPARADO E NO BRASIL. 
 
 
Cintia Garabini Lages1 
 
 
I - AS TRADIÇÕES NORTE-AMERICANA E AUSTRÍACA DO CONTROLE JUDICIAL 
DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
Não há como falar em controle judicial de constitucionalidade das leis e dos 
atos normativos no Direito Constitucional brasileiro sem que antes façamos uma incursão 
sobre esse tema no Direito Comparado, de forma a buscar a origem e as características 
de tal controle. Assim, neste capítulo procuraremos mostrar, em linhas gerais, como o 
controle judicial de constitucionalidade das leis e atos normativos foi criado nos Estados 
Unidos da América e na Áustria, e como tal criação influenciou ordenamentos jurídicos de 
vários países do mundo, tornando-se inclusive matéria obrigatória no estudo do Direito 
Constitucional. 
Analisaremos, portanto, o controle judicial de constitucionalidade difuso 
desenvolvido nos Estados Unidos, seu histórico, os precedentes que fixaram o seu 
conteúdo, extensão e procedimento, bem como a Constituição Austríaca de 1920 e o 
sistema de controle judicial concentrado de constitucionalidade por ela implantado, sob a 
inspiração de Hans Kelsen. 
 
1. O modelo americano de controle difuso de constitucionalidade das leis 
 
Considerada por James A. C. Grant,2 constitucionalista americano, como 
“uma contribuição das Américas para a Ciência Política”, o controle judicial de 
constitucionalidade das leis desenvolvido nos Estados Unidos da América é fruto de uma 
construção jurisprudencial minuciosa, através da qual se assegurou aos juízes a 
competência para decidir acerca da constitucionalidade das leis e proclamou-se a 
 
1
 Mestre em Direito Processual pela PUC Minas. Professora de Direito Constitucional da PUC MINAS e da 
Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna. Professora de Direito Constitucional e Processo 
Constitucional do UNIBH. 
2
 Apud: CAPPELLETTI, Mauro. O controle judicial de constitucionalidade das leis no Direito Comparado. 
Porto Alegre: Safe, 1992. p. 45-46. 
supremacia da Constituição em relação às leis ordinárias, passando essa a representar 
assim “o arquétipo das assim chamadas “Constituições rígidas” (...).”3 
A Constituição Federal Norte-Americana, promulgada em 1787, dispôs no seu 
art. VI, cláusula 2ª que: “this Constitution (...) shall be the supreme Law of the Land and 
the judges in every State shall be bound thereby (...)”4. Esse dispositivo foi o alicerce de 
toda a construção jurisprudencial acerca do controle judicial de constitucionalidade das 
leis nos EUA, tendo em vista que foi com base nesse artigo que o Chief Justice Marshall, 
ao decidir o caso Marbury vs. Madison, em 1803, fixou o entendimento da supremacia da 
Constituição em relação às leis ordinárias, ao mesmo tempo em que confiou ao Poder 
Judiciário tal controle, impondo aos juízes o poder e o dever de negar aplicação às leis 
contrárias à Constituição. 5 
De acordo com o controle de constitucionalidade adotado nos EUA, a 
apreciação da constitucionalidade realiza-se incidentalmente a um processo judicial 
concreto. “Nesse caso, o objeto da ação não é a constitucionalidade, senão uma relação 
jurídica que envolve a aplicação de uma lei cuja validade é contestada, em face da 
Constituição”6. 
 
1.1. O Caso Marbury v. Madison 
 
Pode-se dizer que foi com a decisão do caso Marbury v. Madison que se fixou 
o princípio da supremacia da Constituição nos Estados Unidos da América. Até então o 
papel do Poder Judiciário norte-americano limitava-se à decisão de casos concretos, não 
sendo facultado a esse Poder opinar a respeito de qualquer assunto que não tivesse sido 
submetido à sua apreciação, muito menos declarar a inconstitucionalidade de um ato do 
Congresso. O caso Marbury v. Madison foi o precedente da consolidação do referido 
princípio, tendo sido a sua decisão combatida tanto internamente no Poder Judiciário, 
quanto pelo Congresso e pelo Poder Executivo, abrindo espaço para calorosos debates. 
Resume-se o caso no seguinte fato: o Presidente Adams, já no final do seu 
mandato presidencial, nomeou para o cargo de Juiz de Paz, no Distrito de Columbia, o 
Sr. William Marbury, entre vários outros. A nomeação foi confirmada pelo Senado, e o ato 
foi formalmente firmado pelo Secretário de Estado, na época John Marshall, 
posteriormente nomeado Chief Justice da Suprema Corte. Entretanto, findo o mandato do 
 
3
 CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit. p. 47. 
4
 Esta Constituição é a Lei suprema do Estado e os juízes em todos os Estados devem se orientar por ela. 
5
 CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit. p. 47. 
6
 CAVALCANTE, Themístocles Brandão Cavalcante. Do controle de constitucionalidade das leis. Rio: 
Forense, 1966, p. 65. 
Presidente Adams, Marbury não havia tomado posse no cargo para o qual havia sido 
nomeado. Com a mudança de governo, a posse de Marbury foi denegada por ordem do 
então Secretário de Estado, Madison, razão pela qual Marbury e mais outros três 
cidadãos na mesma situação impetraram um mandamus perante a Suprema Corte, com 
a finalidade de obter uma ordem para que Madison efetivasse as investiduras. Madison 
não chegou nem mesmo a comparecer perante a Suprema Corte, uma vez que não lhe 
parecia possível que o Poder Judiciário pudesse dar ordens ao Poder Executivo, tendo 
em vista a igualdade que paira sobre os Poderes formadores do Estado, aplicação aqui 
do princípio da separação de poderes. 
Coube, assim, ao Chief Justice Marshall a defesa da tese da supremacia da 
Constituição e da fixação da competência do Poder Judiciário na realização do controle 
de constitucionalidade, construindo a doutrina que vigora até hoje em quase todo o 
mundo ocidental. Segundo Marshall: 
Si, pois, os tribunaes não devem perder de vista a 
Constituição, e se a Constituição é superior a qualquer acto ordinário do 
poder legislativo, a Constituição, e não a lei ordinaria, há de reger o 
caso, a que ambas dizem respeito. Dest’arte, os que impugnam o 
principio de que a Constituição se deve observar, em juízo, como lei 
predominante, hão de ser reduzidos á necessidade de sustentar que os 
tribunaes devem cerrar olhos à Constituição, e enxergar a lei só. 
Tal doutrina alluiria os fundamentos de todas as 
Constituições escriptas. E equivaleria a estabelecer que um acto, de 
todo em todo invalido segundo os principios e a theoria do nosso 
governo, é, comtudo, inteiramente obrigatório na realidade. Eqüivaleria 
a estabelecer que, si a legislatura praticar o ato que lhe está 
explicitamente vedado, o acto, não obstante a prohibição expressa, será 
praticamente efficaz”.7 
 
Inobstante a exposição elaborada por Marshall, por mais de uma vez a 
doutrina da Supremacia da Constituição foi contestada.8 Entretanto, 
Lançada essa doutrina, cuja lógica os juristas americanos, 
em sua maioria, consideraram inatingida pela crítica, as circunstâncias 
especiais do caso levaram o Poder Executivo a acatar o julgamento, 
ficando, por isso mesmo, definitivamente firmada a orientação.”9 
 
 
7
 BARBOSA, Ruy. A Constituição e os actos inconstitucionaes do Congresso e do Executivo ante a Justiça 
Federal. Rio de Janeiro: Atlantida Editora, sem data, p. 55. 
8
 Ex.: Dred Scott Case (1857). 
9
 BITTENCOURT, Lúcio. O controle jurisdicional da constitucionalidade das leis. Brasília: Ministério da 
Justiça, 1997, p. 14 
1.2. O aspecto modal de argüição de constitucionalidade e os efeitos da declaração 
de inconstitucionalidade no controle difuso de constitucionalidade no sistema 
norte-americano
Não obstante o controle judicial de constitucionalidade das leis ter sido 
atribuído ao Poder Judiciário, este não o pode exercer de forma indiscriminada. 
Estabeleceu-se, então, que somente no curso de um caso concreto esse controle poderia 
ser realizado, não podendo o Poder Judiciário atuar a não ser quando provocado. 
Nesses casos, a lei declarada inconstitucional deixa de ser aplicada somente 
ao caso sub judice. Assim, os efeitos derivados da sentença que declara a 
inconstitucionalidade de determinada lei atingem apenas as partes na demanda (efeito 
“inter partes”) retroagindo para atingir o caso concreto (ex tunc). A sentença que declara 
a inconstitucionalidade tem, portanto, efeitos restritos ao caso no qual foi decidida a 
questão. 
 
1.2.1 O princípio do stare decisis 
 
O princípio do stare decisis aparece como instituto típico dos países que 
adotaram o common law e consiste na vinculação das decisões dos juízes às decisões 
das cortes superiores, atuando de forma a assegurar a observância do precedente. 
Assim, uma decisão da Suprema Corte passa a ser, a partir do momento em que é 
proferida, vinculatória em relação a todos os demais órgãos do Poder Judiciário. 
O princípio do stare decisis atua como agente catalisador responsável pela 
uniformização da jurisprudência nos países de common law, uma vez que os efeitos inter 
partes e ex tunc poderiam, não fosse a sua adoção, dar origem a uma situação de 
incerteza do direito e ausência de segurança jurídica em função da enorme quantidade 
de decisões contraditórias, considerando-se que “uma mesma lei ou disposição de lei 
poderia não ser aplicada, porque julgada inconstitucional por alguns juízes, enquanto 
poderia, ao invés, ser aplicada, porque não julgada em contraste com a Constituição, por 
outros”10. 
Desta forma, o princípio do stare decisis acaba por gerar, de acordo com 
Mauro Cappelletti, uma verdadeira eficácia erga omnes, evitando dessa forma a situação 
de conflito entre os tribunais e assegurando a certeza do direito. 
 
10
CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit, p. 77. 
É importante ressaltar que, através desse princípio, a norma legal ou ato 
normativo eivado de inconstitucionalidade deixa de ser aplicada, tornando-se, assim, uma 
lei morta, ainda que vigente, e não invalidada ou revogada. 
 
2. O critério austríaco de controle de constitucionalidade das leis 
 
A Constituição Austríaca de 1920 previa o controle de constitucionalidade não 
só das leis mas também dos regulamentos. Estes se diferenciam em regulamentos 
editados pelo Poder Legislativo, como atos normativos que viabilizam a aplicação de 
outra lei, e os regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas como normas 
gerais, cujo status era o mesmo atribuído às leis. Ambas as categorias normativas são 
objeto de controle de constitucionalidade e, portanto, a elas se aplica o presente estudo. 
 
2.1 O controle de constitucionalidade austríaco anterior à Constituição de 1920 - 
breve histórico 
 
Antes da entrada em vigor da Constituição Austríaca de 1920, o controle de 
constitucionalidade das leis cingia-se ao aspecto formal de sua publicação, consistindo 
num controle muito restrito. Em relação aos regulamentos, estes também eram objeto de 
controle concentrado de constitucionalidade. 
O procedimento do controle, anterior à Constituição de 1920, era realizado 
por via incidental, na apreciação de um caso concreto. Não existia, porém, um instituto de 
unificação das decisões em questões constitucionais, como o stare decisis no controle 
judicial de constitucionalidade norte-americano. A situação era ainda mais grave, tendo 
em vista que os órgãos da Administração não possuíam a faculdade de analisar a 
constitucionalidade das leis que aplicavam, razão pela qual não lhes restava alternativa 
senão a aplicação da lei e, conseqüentemente, o descumprimento da Constituição. 
Assim, a possibilidade de desobediência à Constituição e da multiplicidade de 
decisões desencontradas consistiram em fortes motivos para buscar novas alternativas 
para o controle de constitucionalidade, de forma a assegurar a supremacia da 
Constituição em todos os casos submetidos ao Poder Judiciário. Tal necessidade teve 
fim com a promulgação da Constituição de 1920. 
 
2.2 A Constituição Austríaca de 1920 
 
A Constituição Austríaca de 1920 deu origem ao controle judicial concentrado 
de constitucionalidade das leis. Segundo a nova Constituição, o controle de 
constitucionalidade era reservado a uma corte especial, o Tribunal de Garantias 
Constitucionais. Esse podia anular leis contrárias à Constituição através de um 
procedimento especial, cujos legitimados eram apenas determinados órgãos políticos 
previstos pela Constituição. 
Assim, o controle judicial de constitucionalidade era totalmente desvinculado 
do caso concreto, sendo exercido, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, por 
via de ação, mediante uma ação especial através de um processo próprio perante a 
Corte Constitucional. 
Conforme expõe Cappelletti: 
 
No originário sistema austríaco, portanto, não só os juízes - 
exceção feita exclusivamente para o Verfassungsgerichtshof, quer dizer, 
exclusivamente para a Corte Constitucional - não tinham qualquer poder 
de controlar a constitucionalidade das leis, como também não tinham o 
poder de não aplicar as leis que reputassem inconstitucionais (...), mas 
os juízes austríacos, além disso, tampouco tinham o poder de pedir à 
Corte Constitucional que fizesse ela o controle que lhes era vedado. 
Com efeito, a questão da constitucionalidade das leis podia ser argüida 
perante a Corte Constitucional somente por aqueles órgãos, não 
judiciários, mas políticos, que estavam indicados na Constituição, isto é, 
pelo Governo Federal (Bundesregierung) tratando-se de pedir o controle 
da legitimidade constitucional das leis dos Länder (Landesgesetze), 
pelos Governos do Länder (Landesregierungen) tratando-se de controle 
de leis federais. Nenhum limite de tempo era fixado para o exercício, por 
parte destes órgãos políticos, do direito de ação, para o qual eles eram 
únicos legitimados.11 
 
A decisão proferida pelo Tribunal de Garantias Constitucionais poderia anular 
total ou parcialmente uma lei, neste caso, somente a disposição legal inconstitucional era 
suprimida do ordenamento jurídico. 
No entanto, tal controle mostrou-se insuficiente, uma vez que estava atrelado 
aos interesses dos “Länder” em argüir a inconstitucionalidade de atos normativos do 
Governo Central e este ao daqueles, de forma a manter um respeito mútuo às 
competências constitucionais de cada membro do Estado Austríaco. Era, na expressão 
de Cappelletti, uma garantia “do respeito recíproco de sua repartição constitucional de 
competências”, além do que o controle era uma faculdade a ser exercida pelos 
 
11
 CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit. p. 105. 
legitimados. Assim, vários dispositivos inconstitucionais fugiam ao controle de 
constitucionalidade tal como formulado.12 
 
2.3 A Reforma Constitucional de 1929 
 
A Reforma Constitucional de 1929 trouxe alterações importantes no que diz 
respeito ao controle de constitucionalidade delineado pela Constituição de 1920. A 
competência para a instauração do controle de constitucionalidade passou a abranger 
dois órgãos do Poder Judiciário, além dos órgãos políticos já mencionados: Oberster 
Gerichtshof, a Corte Suprema e Verwaltungsgerichtshof, a Corte Administrativa. Tais 
órgãos passaram a ter legitimidade para argüir perante o Tribunal Constitucional a 
inconstitucionalidade de leis aplicáveis a casos concretos submetidos a seu julgamento.
É importante ressaltar que, conforme afirma Cappelletti, tanto a Corte 
Suprema quanto a Corte Administrativa tem o dever, e não apenas a faculdade, de não 
aplicar ao caso concreto leis sobre cuja constitucionalidade houvesse dúvida.13 
O controle de constitucionalidade manteve-se, portanto, concentrado no 
mesmo órgão, o Tribunal Constitucional, limitando-se a Reforma de 1929 a alterar o 
aspecto “modal” do controle de constitucionalidade: manteve o controle por via de ação, 
conforme estabelecido na Constituição de 1920 e acrescentou o controle por via 
incidental, cuja instauração foi deferida a dois órgão do Poder Judiciário, que, não 
obstante continuavam proibidos de exercer eles mesmos o controle de 
constitucionalidade, submetendo a questão constitucional à Corte Constitucional. 
 
Desta maneira, a reforma de 1929, atenuou, notavelmente, 
o grave defeito, antes realçado, do originário sistema austríaco de 
controle das leis: isto é, sua verdadeiramente excessiva limitação sob o 
aspecto “modal”, em suma, sob o aspecto dos sujeitos a que pertence a 
legitimação para instaurar o processo de controle perante a Corte 
Constitucional, em que o poder de controle se concentra.14 
 
No que diz respeito aos demais órgãos do Poder Judiciário, esses 
continuaram sem legitimidade para argüir a inconstitucionalidade de leis aplicáveis aos 
casos a eles submetidos. Na ausência de manifestação do Tribunal Constitucional, a lei, 
ainda que inconstitucional, deveria ser aplicada ao caso concreto, constituindo uma falha 
 
12
 CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit. p. 107. 
13
 CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit. p. 107. 
14
CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit. p. 108. 
do controle de constitucionalidade austríaco no que diz respeito à guarda da supremacia 
da Constituição, de acordo com o entendimento de Cappelletti. 
 
2.4 Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade no controle judicial de 
constitucionalidade concentrado austríaco 
 
Assim que entrava em vigor a decisão judicial do Tribunal Constitucional, a lei 
anulada por inconstitucionalidade deixava de existir. “O Tribunal Constitucional não 
declara uma nulidade, mas anula, cassa uma lei que, até o momento em que o 
pronunciamento da Corte não seja publicado, é válido e eficaz, posto que 
inconstitucional”.15 Tal decisão tem, portanto, caráter constitutivo, razão pela qual seus 
efeitos operam tão-somente “pro futuro”, não retroagindo. 
Há uma exceção no que diz respeito ao efeito “ex nunc” da decisão do 
Tribunal Constitucional. Ocorrerá a retroatividade da decisão do Tribunal Constitucional 
quando a questão acerca da inconstitucionalidade for argüida por via incidental, no curso 
de um caso concreto, retroagindo seus efeitos apenas em relação ao caso concreto que 
originou a declaração de inconstitucionalidade. Tal exceção somente opera se a decisão 
que declarar a inconstitucionalidade da lei entrar em vigência por ocasião de sua 
publicação, caso contrário, se, por exemplo, a decisão que anula determinada lei entrar 
em vigência em data posterior à sua publicação, prazo esse que não pode ultrapassar o 
período de um ano, os efeitos da decisão operam “pro futuro”, não retroagindo. É neste 
sentido o entendimento de Hans Kelsen, vejamos: 
 
A regra pela qual a decisão do Tribunal Constitucional que 
anula uma lei não tem força retroativa, tem, sem embargo, uma 
exceção. A lei anulada pelo Tribunal já não deve aplicar-se àquele que 
motivou o controle constitucional e a subseqüente anulação da lei. 
Como este caso ocorreu antes da anulação, esta teria, com respeito a 
este caso, um efeito retroativo. 
A sentença de anulação se torna efetiva no dia de sua 
publicação, a menos que o Tribunal preveja uma prorrogação, esta 
prorrogação não pode exceder de um ano (art. 140, § 3º) e permite ao 
Parlamento reimplantar a lei questionada por uma nova e constitucional, 
antes que a anulação seja efetivada. Se o caso que dera ocasião ao 
controle constitucional da lei foi decidido antes que a anulação entrasse 
em vigência, a lei anulada teria que ser aplicada a este caso. Então, a 
anulação não teria efeito retroativo com respeito a este caso.16 
 
15
 CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit. p 116. 
16
 “La regla por la cual la decisión del Tribunal Constitucional que anula una ley no tiene fuerza retroactiva, 
tiene sin embargo, una excepción. La ley anulada por el Tribunal ya no debe aplicarse a aquello que motivó 
el control constitucional y la subsiguiente anulación de la ley. Como este caso ocurrió antes de la anulación, 
ésta tenía con respecto a este caso, un efecto retroactivo. 
 
Outro efeito do pronunciamento judicial do controle concentrado de 
constitucionalidade austríaco diz respeito às pessoas afetadas pela decisão. Assim, além 
do caráter constitutivo, não retroativo da decisão proferida em sede de controle de 
constitucionalidade austríaco, ele também tem efeitos erga omnes. Torna-se, portanto, 
ineficaz para todos. “A decisão do Tribunal Constitucional pela qual uma lei é anulada, 
tem o mesmo caráter de uma lei que ab-roga outra lei. É um ato de legislação negativa.”17 
 
La sentencia de anulación se torna efectiva el día de su publicación, a menos que el Tribunal prevea una 
prórroga. Esta prórroga no podrá exceder de un año. (art. 140, pár. 3) y le permite al Parlamento reemplazar 
la ley cuestionada por una nueva y constitucional, antes que la anulación sea efectiva. Sindicatos el caso que 
diera ocasión al control constitucional de la ley fuera decidido antes que la anulación entrara en vigencia, la 
ley anulada tendría que ser aplicada a este caso. Entonces, la anulación no tendría efecto retroactivo con 
respecto a este caso tampoco.” KELSEN, Hans. El control de la constitucionalidad de las leyes. Em : Ius et 
Veritas - Revista editada por estudiantes da la Facultad de Derecho de la Pontificia Universidade Catolica 
del Peru. Año IV, n.º 6, página 84. 
17
 “La decisión del Tribunal Constitucional por la cual una ley es anulada, tiene el mismo carácter que una 
ley que abroga outra ley. Es un acto de legislación negativa.” KELSEN, Hans. Op. cit. p. 84. 
II - O CONTROLE JUDICIAL DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS NO BRASIL - 
QUADRO HISTÓRICO-COMPARATIVO 
 
1. A Constituição Federal de 1824 
 
O controle de constitucionalidade das leis e atos normativos nem sempre foi 
de competência do Poder Judiciário. Através de um processo muito menos desgastante e 
combatido do que o ocorrido nos EUA, o controle de constitucionalidade das leis passou, 
a partir da Constituição Federal de 1891, a ser de competência exclusiva do Poder 
Judiciário. 
Antes, porém, a Constituição de 1824, no seu art. 15, incisos 8º e 9º, atribuía 
ao Poder Legislativo competência para “velar na guarda da Constituição”, “fazer leis, 
interpretá-las, suspendê-las e revogá-las”, ao mesmo tempo em que atribuía ao Poder 
Moderador a condição de “chave de toda a organização Política” do Império. 
O Poder Moderador, de acordo com a sistemática da Constituição de 1.824, 
consistia num autêntico poder controlador dos demais poderes, responsável “sobre a 
manutenção da Independência, equilíbrio e harmonia dos demais Poderes Políticos” (art. 
98), razão pela qual o papel do Poder Judiciário resumiu-se na aplicação da lei aos casos 
concretos a ele submetidos, sem que para tanto a constitucionalidade de tais leis e 
demais atos normativos pudesse ser discutida jurisdicionalmente. 
Nesse contexto, onde os papéis de guardião da Constituição e de poder 
controlador dos demais
poderes estavam tão bem definidos como de competência dos 
Poderes Legislativo e Moderador, não restava ao Poder Judiciário nenhuma prerrogativa 
no sentido de exercer um controle jurisdicional de constitucionalidade de leis e atos 
normativos, conforme esclarece Bittencourt: 
 
o Estatuto de 1824 não dava qualquer margem a tentativas 
de expansionismo. Em primeiro lugar, a defesa dos princípios 
constitucionais não fôra confiada ao Poder Judicial, mas, precisamente, 
ao Poder Legislativo, ao qual incumbia não só “interpretar” as leis que 
elaborasse - fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las” (art. 
15, n.º 8º), - mas, ainda, “velar na guarda da Constituição”(art. 15, n.º 
9º). 
 
Em relação ao Poder Moderador: 
 
Num sistema em que existia sôbre os três poderes normais 
tal “suprema inspeção”, é evidente que não seria possível delegar ao 
Judiciário o controle dos atos do Congresso. Esse controle só poderia 
caber - se se pudesse atribuir a outro departamento do governo - ao 
Poder Moderador”.18 
 
Com o advento da primeira Constituição Republicana em 1891 e, 
conseqüentemente, com a extinção do Poder Moderador, incorporou-se ao nosso 
ordenamento jurídico o controle jurisdicional difuso de constitucionalidade das leis e 
demais atos normativos, adaptando-se a doutrina norte-americana ao ordenamento 
brasileiro com algumas particularidades. 
 
2. A Constituição Federal de 1891 
 
A Constituição Federal de 1891 marca o início do controle de 
constitucionalidade de competência do Poder Judiciário, adotando o critério difuso de 
controle, nos moldes idealizados pela doutrina americana, tendo a Constituição Federal 
atribuído aos juízes e tribunais federais a competência para julgar as causas em que 
alguma das partes fundasse a ação, ou a defesa, em disposição da Constituição Federal 
(art. 60, “a”). 
Ao Supremo Tribunal Federal atribuiu-se a análise da constitucionalidade das 
decisões proferidas pelas justiças dos Estados, quando, através de recurso, fosse 
questionada a validade ou a aplicação de tratados e leis federais e a decisão fosse 
contrária a tais disposições, bem como quando se contestava a validade de leis ou de 
atos dos governos dos Estados em face da Constituição, ou das leis federais, e a decisão 
do Tribunal do Estado considerasse válidos esses atos ou essas leis impugnadas (art. 59 
§ 1º). Dispunha a Constituição Federal: 
 
Das sentenças das justiças dos Estados em ultima instancia 
haverá recurso para o Supremo Tribunal Federal, quando se questionar 
sobre a validade de tractados e leis federaes, e a decisão do tribunal do 
estado fôr contra ella.(art. 59, § 1º). 
 
E ainda, 
 
Compete aos juízes ou tribunaes federaes processar e julgar 
as causas, em que alguma das partes fundar a acção, ou a defesa, em 
disposição da Constituição Federa (art. 60, a). 
 
 
18
 BITTENCOURT, Carlos Alberto Lúcio. O controle jurisdicional da constitucionalidade das leis.. Série 
Arquivos do Ministério da Justiça:1997, p. 28 e ss. 
Assim sendo, a Constituição Federal de 1891 não deixou dúvidas no que diz 
respeito à competência do Poder Judiciário para exercer o controle judicial de 
constitucionalidade. Conforme Ruy Barbosa: 
 
A redacção é clarissima. Nella se reconhece, não só a 
competência das justiças da União, como a das justiças dos Estados 
para conhecer da legitimidade das leis perante a Constituição. Sómente 
se estabelece, a favor das leis federaes, a garantia de que, sendo 
contraria á subsistencia dellas a decisão do tribunal do Estado, o feito 
pode passar, por via de recurso, para o Supremo Tribunal Federal. Este 
ou revogará a sentença, por não procederem as razões de nullidade, ou 
a confirmará pelo motivo opposto. Mas, numa ou noutra hypothese, o 
principio fundamental é a auctoridade, reconhecida expressamente no 
texto constitucional, a todos os tribuanes, federaes ou locaes, de 
discutir a constitucionalidade das leis da União, e applical-as, ou 
desapplical-as, segundo esse criterio.19 
 
Com o advento da Lei n.º 221, de 20 de novembro de 1894, aperfeiçoou-se o 
sistema de controle de constitucionalidade por via de exceção, ao dispor no seu art. 13, § 
10º que “os juízes e tribunais apreciarão a validade das leis e regulamentos e deixarão de 
aplicar aos casos ocorrentes as leis manifestamente inconstitucionais e os regulamentos 
manifestamente incompatíveis com as leis ou com a Constituição”. 
Com a reforma constitucional de 1926, o controle difuso de 
constitucionalidade foi mantido, consolidando de forma definitiva o controle difuso de 
constitucionalidade das leis adotado desde então. 
 
3. A Constituição Federal de 1934 
 
A Constituição Federal de 1934 conservou o controle difuso de 
constitucionalidade das leis e atos normativos, bem como o recurso extraordinário criado 
pela Constituição de 1891, nos termos da reforma de 1926. Entretanto, três importantes 
alterações foram introduzidas pela nova Constituição. 
Uma das alterações diz respeito à declaração de inconstitucionalidade por 
parte dos tribunais inferiores, que somente por maioria absoluta dos votos dos seus 
membros poderiam declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público (art. 
179 da CF/1934). 
 
19
 BARBOSA, Ruy. A Constituição e os actos inconstitucionaes do Congresso e do Executivo. Rio de 
Janeiro: Atlantida, 1893. p 60. 
A segunda inovação atribuiu ao Senado Federal a competência para 
suspender a execução, no todo ou em parte, de lei do ato declarado inconstitucional em 
decisão definitiva. 
A última inovação da Constituição Federal de 1934 diz respeito à introdução 
da representação interventiva, instrumento de provocação direta do Supremo Tribunal 
Federal por meio de representação do Procurador-Geral da República, a fim de se obter 
uma declaração acerca da constitucionalidade de lei autorizativa de intervenção federal. 
A representação interventiva fundava-se na inobservância dos princípios constitucionais 
insculpidos no art. 12, incisos I a VII da Constituição Federal, os chamados princípios 
sensíveis. 
A lei que autorizava a intervenção federal era de competência exclusiva do 
Senado Federal (art. 41 § 3º)20. 
De acordo com Cavalcante: 
 
A Constituição Federal de 1934, depois de enumerar esses 
princípios (art. 7º) atribuía ao Congresso competência para decretar a 
intervenção quando verificasse sua violação pelos Estados. Dava ao 
Procurador-Geral da República, porém, competência para submeter à 
apreciação do Supremo Tribunal Federal não o ato estadual, mas a lei 
federal de intervenção, cuja constitucionalidade deveria ser examinada 
pelo Supremo Tribunal Federal21 (grifos nossos). 
 
Tal ação, inobstante ser confundida por grande parte da doutrina como um 
instrumento de controle de constitucionalidade das leis, tem seu papel restrito à solução 
de conflitos federativos, não havendo apreciação acerca da constitucionalidade de lei ou 
ato normativo, uma vez que a apreciação judicial atribuída ao Supremo Tribunal Federal 
restringia-se, conforme citado acima, a uma análise formal da lei que decreta a 
intervenção, não discutindo o seu aspecto constitucional. Trata-se, in casu, de apreciação 
de conflito federativo apenas. A evolução deste dispositivo consiste no fato de que até 
então a intervenção federal não era passível de qualquer controle jurisdicional, nem 
mesmo um controle formal. 
Assim, as alterações advindas com a Constituição Federal de 1934 não 
alteraram a essência do controle judicial de constitucionalidade desenvolvido até então, o 
qual se cingia ao controle difuso de constitucionalidade por excelência.
4. A Constituição Federal de 1937 
 
20
 Dispõe o § 3º do art. 41: “Compete exclusivamente ao Senado Federal a iniciativa das leis sobre a 
intervenção federal, e, em geral das que interessem determinadamente a um ou mais Estados.” 
21
 CAVALCANTE, Themístocles Brandão. Op. cit. p. 102. 
 
A Constituição Federal de 1937, promulgada sob a égide da ditadura 
inaugurada com o “Estado Novo”, manteve as disposições da Carta Constitucional 
anterior, como a exigência da maioria absoluta dos membros do Tribunal quando se tratar 
de inconstitucionalidade de lei e ato do Presidente da República (art. 96) e manteve o 
recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, nos casos de decisões que 
afrontassem o texto constitucional. Manteve, dessa forma, o controle difuso de 
constitucionalidade das leis. Entretanto, retrocedeu ao dispor que 
 
No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo 
do Presidente da República, seja necessária ao bem estar do povo, à 
promoção ou defesa do interesse nacional de alta monta, poderá o 
Presidente da República submetê-la novamente ao exame do 
Parlamento; se esta a confirma por dois terços de votos em cada uma 
das Câmara, ficará sem efeito a decisão do Tribunal. 
 
Tal dispositivo, que representou um retrocesso no sistema de controle difuso 
de constitucionalidade das leis adotado em 1891, foi posteriormente revogado pela Lei 
Constitucional n.º 18, de 11 de dezembro de 1945. 
 
5. A Constituição Federal de 1946 
 
Com o fim do Estado Novo e a restauração do regime democrático,22 
resgatou-se o modelo de controle de constitucionalidade adotado pela Constituição 
Federal de 1891 com as alterações introduzidas pela Constituição Federal de 1934, 
inclusive com a previsão da representação interventiva, cujo objeto não mais consistia na 
análise formal da lei federal ensejadora da intervenção, mas na análise do ato argüido de 
inconstitucionalidade. De acordo com Clève: 
 
Já na de 1946, o procedimento era diferente. O Procurador-
Geral da República submeteria ao exame do Supremo Tribunal Federal 
o ato argüido de inconstitucional, em virtude de petição de terceiro, com 
o seu pronunciamento, pró ou contra; e se aquele órgão judicante 
declarasse a inconstitucionalidade do ato impugnado, o Congresso 
Nacional decretaria a intervenção federal. (Grifos nossos). 23 
 
 
22
 Diz o preâmbulo da Constituição Federal de 1946: Nós, os representantes do povo brasileiro, reunidos, sob 
a proteção de Deus, em Assembléia Constituinte para organizar um regime democrático, decretamos e 
promulgamos a seguinte CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. 
23
 CLÈVE, Clèmerson Merlin. A fiscalização abstrata de constitucionalidade no Direito brasileiro. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995. p.70. 
Ainda nesse caso, a representação interventiva não consiste num instrumento 
de controle de constitucionalidade, tal qual a ação direta de inconstitucionalidade, 
restringindo-se à apreciação de conflitos federativos, conforme já afirmamos. 
Com o advento da Emenda Constitucional n.º16, de 26 de novembro de 1965, 
foi introduzida a ação direta de inconstitucionalidade, segundo a qual competia ao 
Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente a representação de 
inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa, federal ou estadual, 
encaminhada pelo Procurador-Geral da República. A legitimação conferida ao 
Procurador-Geral da República era exclusiva, razão pela qual passou o mesmo a ser 
considerado como advogado da Constituição.24 
Também dispôs a referida Emenda que a lei poderia estabelecer processo de 
competência originária dos Tribunais de Justiça dos Estados, para declaração de 
inconstitucionalidade de lei ou ato municipal contrários à Constituição dos Estados. 
Criou-se, dessa forma, com o advento da Emenda 16/65, o controle abstrato 
de constitucionalidade de normas federais e estaduais como forma de controle especial 
ao lado do controle de constitucionalidade por via de exceção. A nova ação de controle 
abstrato de constitucionalidade diferenciava-se da então já existente no ordenamento 
jurídico pátrio, a representação interventiva, tendo em vista que esta, como afirma 
Mendes25, pressupunha uma alegação de ofensa (efetiva ou aparente) a um princípio 
sensível, e ação direta de inconstitucionalidade destinava-se, bem como destina-se, à 
defesa geral da Constituição contra as leis inconstitucionais. 
 
6. A Constituição Federal de 1967 
 
Com o advento da Carta Constitucional de 1967, manteve-se o controle difuso 
de constitucionalidade das leis, bem como o controle de constitucionalidade concentrado, 
com a manutenção da ação direta de inconstitucionalidade (art. 114, inciso I, “l”). A ação 
direta interventiva também foi prevista no novo texto constitucional, com algumas 
modificações em relação ao texto anterior. Assim, intervenção a depender do provimento 
do Supremo Tribunal Federal e também no caso de intervenção com a finalidade de 
“prover à execução de lei federal, ordem ou decisão judiciária”, art. 11 § 1º, “c”. Tal 
requisito já era previsto em relação aos demais casos na Constituição Federal de 1946. 
Inobstante a evolução em relação à ação direta interventiva, o processo de 
competência originária dos Tribunais de Justiça dos Estados, para declaração de 
 
24
 MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 65. 
25
 MENDES, Gilmar Ferreira. Op. cit. Loc.cit. 
inconstitucionalidade de lei ou ato municipal contrários à Constituição dos Estados, não 
foi acolhido pela nova ordem constitucional. 
 
7. As Emendas à Constituição Federal de 1967. 
 
A modificação trazida pela Emenda Constitucional n.º 1, de 1969, diz respeito 
sobretudo à intervenção dos Estados nos Municípios para a defesa de princípios da 
Constituição Estadual (§ 3º do art. 15: “A intervenção nos municípios será regulada na 
Constituição do Estado...”). Também dispôs a referida Emenda acerca competência do 
Tribunal de Justiça do Estado para dar provimento a representação formulada pelo 
Ministério Público, nos casos de intervenção no Município. 
A Emenda Constitucional 7/77 alterou a competência do Supremo Tribunal 
Federal no que diz respeito ao controle de constitucionalidade, estabelecendo a 
competência do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar a “representação do 
Procurador-Geral da República por inconstitucionalidade ou para interpretação de lei ou 
do ato normativo federal ou estadual”, bem como o pedido de medida cautelar nas 
representações oferecidas pelo Procurador-Geral da República;” (art. 119. I, “l” e “p”)26. 
De acordo com Clève, a representação para fins de interpretação foi abolida 
pela Constituição Federal de 1.988.
 27 
 
8. Dos aspectos gerais do controle de constitucionalidade das leis e atos 
normativos no Direito Constitucional brasileiro 
 
Como procuramos demonstrar, a tradição do Direito Constitucional brasileiro 
consolidou o controle difuso de constitucionalidade das leis como forma genérica de 
controle. O controle de constitucionalidade concentrado aparece como forma especial de 
controle, cuja finalidade consiste na unificação do entendimento jurisprudencial acerca da 
constitucionalidade das normas objeto de tal controle. 
 
 
26
 Art. 119 Compete ao Supremo Tribunal Federal: 
I - processar e julgar originariamente: 
l) a representação do Procurador-Geral da República, por inconstitucionalidade ou para interpretação de lei 
ou ato normativo
federal ou estadual; 
p) o pedido de medida cautelar nas representações oferecidas pelo Procurador-Geral da República; 
27
 Clève, Clèmerson Merlin. ,1995. p. 71 et seq.

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