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Experimento : Reação de Cannizzaro 1. Histórico Stanislao Cannizzaro, nascido em Palermo (Itália) no ano de 1826 e falecido em Roma em 1910, foi professor de Física e Química em Alessandria (1851), e mais tarde professor de Química em Gênova (1855), Palermo (1861) e Roma (1871). Seu trabalho de pesquisa envolveu produtos naturais, como a descoberta da santonina, a síntese de cianamidas e a desprotonação de aldeídos (Reação de Cannizzaro, 1853). Quando lecionava na Universidade de Gênova, onde não possuia laboratórios, ele organizou um curso de química teórica empregando a hipótese de Avogadro como uma solução para a confusão existente entre os químicos com relação aos pesos atômicos e a estrutura fundamental dos compostos químicos. Cannizzaro apresentou sua leitura da hipótese de Avogadro em um congresso Internacional em Karlsruhe (1860) de como determinar os pesos atômicos. Após muita discussão, os participantes concordaram em reavaliar os tópicos e decidir sobre seu emprego. A maioria dos participantes levou uma versão impressa de sua palestra, a qual parecia muito convincente quando lida mais atentamente, aa qual serviu de base para o mauscrito de Lothar e Meyer onde suas idéias foram finalmente aceitas.1 2. A Reação de Cannizzaro Aldeídos aromáticos e aldeídos alifáticos, que não possuam um hidrogênio na posição à carbonila, sofrem uma reação de desprotonação quando tratados com uma base forte (geralmente hidróxido de sódio ou potássio concentrado) produzindo uma mistura equimolar do álcool primário e do sal do ácido carboxílico correspondentes (Eq. 1) 2 RCHO RCH2OH + RCOONa NaOH (Eq. 1) Esta reação foi publicada inicialmente por Wohler e Liebig em 18322 e alguns anos mais tarde Cannizzaro a estudou com detalhes3, adquirindo então seu nome. Durante muito tempo, esta foi uma das melhores maneiras de reduzir um aldeído aromático em álcool. Sendo a limitação desta reação o requerimento da ausência de um átomo de hidrogênio na posição , pois com a presença ocorreriam as reações do tipo aldol, faz com que essa seja virtualmente inútil como um método geral para aldeídos alifáticos, podendo ser utilizada somente em casos especiais. A reação simples de Cannizzaro fornece um máximo de 50% de rendimento do álcool a partir do aldeído. Mas, com uma valiosa modificação, a reação cruzada de Cannizzaro, uma mistura de formaçdeído e um aldeído aromático fornece alto rendimento do álcool benzílico, com o formaldeído sendo oxidado em formiato (Eq. 2). A reação cruzada foi revisada por Geissman4. O formaldeído em água encontra-se hidratado quase que completamente, existindo na forma de metanodiol e, também, com quantidades variadas de hemiacetais (por exemplo, éter di-hidróximetilico). Este fato ajuda a explicar porque o uso da reação cruzada de Cannizzaro é tão eficiente na redução de outro aldeído. A maioria dos outros aldeídos apresenta uma menor hidratação estando, portanto, prontos para funcionarem como aceptores de hidreto. O ânion metanodiol é um excelente doador de hidreto, o formaldeído seria um bom aceptor mas em solução ele praticamente inexiste. A reação de Cannizzaro possui poucas aplicações práticas, contudo, devido a seu interessante mecanismo, ela serve como um modelo simples para uma rota biológica de reduções nos organismos vivos, envolvendo uma molécula complexa denominada nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzida (NADH). O NADH funciona como um doador de hidreto da mesma maneira que o intermediário tetraédrico na reação de Cannizzaro. O par de elétrons desemparelhado no átomo de nitrogênio expele um íon hidreto, o qual é adicionado a um grupamento carbonílico em outra molécula para efetuar a redução (Figura 1)5. RCHO + H2CO (XS) RCH2OH + HCOONa ( + CH3OH ) NaOH (Eq. 2) Figura 1- Mecanismo de redução biológica empregando o NADH como agente redutor, através do modelo da reação de Cannizzaro 3. Preparação do Álcool Benzílico e do Ácido Benzóico6 Dissolva 27 g de hidróxido de potássio em 25 ml de água, contida num bequer ou erlenmeyer, e esfrie a solução, até cerca de 20oC, em água gelada. Derrame a solução num balão de fundo redondo (250 ml) e adicione 30 g (29 ml) de benzaldeído puro; arrolhe bem o frasco e agite vigorosamente a mistura, até que se converta numa emulsão espessa. Monte um sistema de refluxo, e deixe refluxar por 2 horas em banho de água. Após resfriar a temperatura ambiente, adicione água em quantidade suficiente apenas (cerca de 105 ml) para dissolver o benzoato de potássio. Passe o líquido para um funil de separação, lave o frasco com cerca de 30 ml de éter e adicione este a solução no funil. Agite a solução para extrair totalmente o álcool benzílico com o éter, separe a camada inferior da solução aquosa e efetue mas duas extrações, cada uma com 25 ml de éter, Guarde a solução aquosa. Junte os extratos de éter e destile o éter em banho- maria, até que o volume seja de cerca de 25 ml. Deixe esfriar e agite a solução de éter duas vezes, com porções de 5 ml de solução saturada de bissulfito de sódio a fim de remover qualquer benzaldeído que, porventura, ainda possa estar N OH OH O O P O O O P O O O N OH OH O H H O NH2 N N N NH2 Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo reduzida N H H O H2N + R C R´ O R`` N O H2N R`` + R C R´ OH H NAD+ ÁlcoolNADH Cetona presente. Separe a solução etérea, lave-a com 10 ml de solução de carbonato de sódio a 10% (para assegurar completa remoção do bissulfito) então com 10 ml de água e seque com sulfato de magnésio ou carbonato de potássio anidros. Remova o éter em banho-maria e destile o líquido residual sobre uma tela de arame, ou ainda, melhor, com um banho de ar (Fig. II, 5,3); substitua o condensador de ar ou, então retire toda a água da camisa do condensador. Colete o álcool benzílico a 204-207oC ( o composto puro ferve a 205,5oC). O rendimento é de 13 g. Derrame, com agitação, a solução aquosa que restou da extração com éter numa mistura de 80 ml de ácido clorídrico concentrado, 80 ml de água e cerca de 100 g de gelo pilado. Filtre a vácuo o ácido benzóico precipitado, lave-o com um pouco de água fria, seque e recristalize com água em ebulição. O rendimento do ácido benzóico (cristais incolores), p.f. 121oC, é o de 18g. Observação: O benzaldeído deve estar livre de ácido benzóico; pode ser purificado por destilação. 4. Referências 1) http://www.chemsoc.org/networks/enc/fecs/Cannizzaro.htm 2) F. Wohler and J. Liebig, Liebigs Ann. Chem., 3, 252 (1832). 3) S. Cannizzaro, Liebigs Ann. Chem., 88, 129 (1853). 4) T. A. Geissman, Org. Reactions, 2, 94 (1944). 5) J. McMurry, Organic Chemistry, 4ª ed., Brooks/Cole Publishing Company, Pacific Grove, 747-48 (1995). 6) A.I. Vogel (1989) Vogel’s Textbook of Practical Organic Chemistry. (Furniss, B.S., Hannaford, A.J., Smith, P.W.G., Tatchel, A.R. revisors), 5ª ed. Longan Group, Harlow, England.
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