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6a. aula

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Universidade Salgado de Oliveira – Universo
Profª. Renata Dias/ Direito Civil II
 6ª Aula - 05/03/09 
1 - Princípios gerais aplicáveis às regras da teoria geral das obrigações:
	A noção de princípios não nos é estranha, pois estes foram estudados enquanto normas constantes em nosso Ordenamento Jurídico. É que se aplica a qualquer circunstäncia
Tais normas se caracterizam por sua generalidade e ampla aplicação, o que as diferem das regras que são mais específicas e de aplicação mais restrita.
	Também conhecidos como princípios informadores têm o condão de fornecer (informar) os pilares/ fundamentos básicos dos quais devemos partir para resolvermos e interpretarmos determinadas situações no contexto jurídico.
	São características dos princípios:
Generalidade: os princípios se aplicam a variadas hipóteses;
Fundamentação: a lógica extraída dos princípios serve de fundamento.
Obs: Vale ressaltar que tais princípios são aplicáveis às obrigações decorrentes da manifestação de vontade (fonte: ato lícito) cuja materialização pode se verificar, principalmente nos contratos.
2 – Perspectiva clássica das obrigações decorrentes dos contratos:
	Vários são os princípios aplicáveis na seara das obrigações. Alguns são considerados clássicos, outros criados posteriormente, principalmente, para atender as novas demandas e as mudanças culturais do nosso contexto social e, conseqüentemente, obrigacional.
	Para entendermos a evolução principiológica acima citada devemos buscar breves considerações acerca dos considerados princípios clássicos, para adentrarmos a análise da nova tendência principiológica.
	São princípios clássicos:
Autonomia da vontade: (Principio ) 
Principio segundo a qual as partes a total liberdade para contratar, de modo que, o contrato é baseado tão somente na vontade dos contratantes não se limitando pelo interesse social, mas tão somente pela letra da lei.
Obs: O liberalismo marcou o âmbito político, econômico, jurídico e até religioso de uma época (fim do séc. XIX e início do séc. XX). Dentre seus fundamentos estava a autonomia da vontade do indivíduo e sua oposição contra o Estado, considerado um mal necessário.
Obrigatoriedade contratual:
	A partir da manifestação livre das vontades o contrato não poderá ser modificado unilateralmente (princípio da intangibilidade do contrato), salvo por mútuo acordo. Este princípio dá aos contratos força de lei e é conhecido como “pacta sunt servanda”.
Consensualismo: 
	A obrigatoriedade do contrato se materializa a partir do consenso entre as partes independente de qualquer formalidade, salvo quando a lei exigir. Se não ha concenso não tem com se discutir o contrato. 
Conclusão:
Patrionalista
Formalista
Positivista
Obs: A referida obrigatoriedade se funda atualmente na “Teoria Preceptiva”, segundo a qual os contratos são obrigatórios não somente porque as partes assumiram compromissos, mas também porque interessa à sociedade a proteção da situação contratual por gerar conseqüências sociais.
Obs: O patrimonialismo, formalismo e o positivismo marcam o estudo das obrigações no CC/16. Sob a sua vigência, resguardavam-se, essencialmente, os interesses patrimoniais.
3 – Perspectiva atual das obrigações decorrentes dos contratos:
	Não podemos negar que os chamados princípios atuais dos contratos, não passam, em sua maioria, de adaptações dos princípios clássicos diante das novas necessidades contratuais. Poucos foram os efetivamente criados.
	Superado o “Estado Liberal” comentado acima, nasce o “Estado Social” devido ao abandono progressivo dos ideais liberalistas por políticos, economistas e com maior dificuldade pelos juristas, que por muito tempo se mantiveram abraçados a idéia da autonomia da vontade. Com muito esforço iniciaram a revisão de seus conceitos�. A partir de então os contratos não poderiam mais ter como centro gravitacional, apenas a vontade dos contratantes. Finalmente se estabelece o “Estado Democrático de Direito”, donde os interesses particulares devem se harmonizar aos sociais.
	São princípios atuais:
Dignidade humana:
	Consagrado no art.1º da CR/88, o princípio da dignidade da pessoa humana, no que tange ao âmbito dos contratos, faz com que os mesmos existam e se desenvolvam para a promoção do ser humano e de sua dignidade, não bastando sua função de propiciar o enriquecimento das partes.
	Ademais, antes mesmo de serem credor e devedor são titulares de direitos fundamentais, que devem ser respeitados, para consecução da democracia. As partes em uma relação obrigacional devem imprimir o respeito mútuo, se enxergando como sujeitos de direitos que merecem proteção, cooperação, informação...
	A violação da dignidade da pessoa humana justificada pela preservação contratual, ou seja, por interesses de caráter meramente patrimonial seria um retrocesso e representaria a desestruturação de nosso Estado Democrático de Direito.
Função social�:
	Dissemos acima que 	a riqueza produzida pelos contratos e sua circulação devem servir para promoção do ser humano (atinente da dignidade da pessoa humana), mas não basta a promoção individual, sendo necessária também a promoção social.
	Segundo Venosa (p. 406), “... o contrato não mais é visto pelo prisma individualista de utilidade para os contratantes, mas no sentido social de utilidade para a comunidade”.
	O próprio art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil prevê que: “a lei atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum”.
	O princípio da solidariedade trazido por nossa CR/88 bem explica essa idéia. Não pode, entretanto ser entendido como a predominância do social sobre o individual, mas sim uma conjugação entre eles�, de modo que o interesse individual deva ser respeitado desde que não viole um interesse social. 
	Dessa maneira o exercício respeitoso dos direitos individuais representaria ato solidário e correspondente aos anseios sociais, ao bem comum, a paz social. Trata-se de uma complementação de interesses, pois o indivíduo contribui para a sociedade e esta colabora na promoção do indivíduo. Entretanto, esta complementação deve sempre se pautar na razoabilidade e na proporcionalidade para que não ocorram injustiças.
	As obrigações criadas no contrato para atender o interesse das partes não poderão atender o interesse social.
Autonomia privada:
	Caracterizado pela liberdade que as partes têm de regularem suas disposições contratuais respeitando os limites legais. Não se confunde com a autonomia da vontade, pois não se trata de um elemento estritamente volitivo entre os contratantes�, de modo que a contratação não se perfaz unicamente pelo desejo das partes, mas também por elementos externos. 
	Da exteriorização dessa vontade decorre a “auto-responsabilidade”, pelo que a declaração livre da vontade do indivíduo cria para ele uma responsabilidade, tutelada pela lei.
Teoria preceptiva seria aquela que atribui a obrigatoriedade dos contratos desde que observados os principios.
Boa-fé: v1
Se refere as necessidades que as partes do contrato tem de serem corretos e leais.
	Diz respeito a boa-fé objetiva que consiste na correção e lealdade da conduta das partes no contrato (vide arts.113, 187 e 421 do CC/02). O referido princípio assume duas funções, quais sejam:
 - Interpretar qual a intenção das partes no contrato. Se a intenção das partes for suscetível de dúvidas, não coincidindo com a “intenção aparente” o contrato deve ser interpretado da forma mais razoável;
 - Limitar / controlar as condutas dos sujeitos na relação obrigacional, que não podem exceder os limites da boa-fé.
	Decorrem desse princípio a necessidade de “transparência” (prestar informações necessárias para a boa execução do contrato) e de “confiança” (a atuação de uma parte deve corresponder às expectativas da outra).
Obs: Não se confunde com a boa-fé subjetiva que diz respeito às crenças e convicções internas que levam o indivíduo ao conhecimento ou desconhecimento de determinada circunstância.
Ex: Comprar algode alguém que não é o dono sem saber caracteriza a boa-fé subjetiva.
Obs: Na análise do princípio da boa fé dos contratantes devem ser analisadas as condições em que o contrato foi firmado, o nível sócio cultural dos contratantes, o momento histórico e econômico. É o ponto de interpretação da vontade contratual.
Devesres anexos V1
Informação: Informações sobre o que esta sendo acordado para que não acha má-fé.
Cooperação: significa atender sempre que possivel as expectativas das partes contratantes, mesmo que não esteja no contrato.
Proteção: É aquele em que as partes tem o dever de ser proteger nos contratos.
Justiça contratual:
	Refere-se a relação de paridade e equilíbrio que deve se estabelecer entres as partes no contrato. Tal princípio se funda na equidade, o que permite que a justiça e o equilíbrio esperados sejam encontrados no caso concreto.
	A partir da análise desse princípio podemos entender o “princípio de proteção do hipossuficiente”, que visa defender a parte mais fraca no contrato almejando um determinado equilíbrio. 
CONCLUSÃO: A atual legislação constitui um sistema aberto, o que enseja o exame do caso concreto na seara obrigacional, de modo que a aplicação dos referidos princípios depende, também, da interpretação feita pelo juiz diante da situação concreta�. A jurisprudência vem sedimentando a aplicação de tais princípios nas mais variadas situações.
		Essa tendência revela o princípio da ETICIDADE vislumbrado pelo CC/02, que busca a justiça para além da letra fria da lei e permite o acompanhamento da evolução social. Caracteriza, ainda, o princípio da OPERABILIDADE, justiça no caso concreto, permite ir além da letra fria da le,i que busca solucionar as pretensões, para que os direitos não restem esquecidos nos Códigos e possam ser exercitados. 
	As questões abaixo dizem respeito ao conteúdo estudado na presente aula
1 – O que são os princípios e o que os diferem das regras?
2 – Qual o limite da autonomia da vontade?
3 – Ao que se refere o “pacta sunt servanda”?
4 – Explique a teoria preceptiva.
5 – Segundo o princípio do consensualismo a compra e venda de um automóvel dependeria de sua formalização escrita?
6 – O que difere a autonomia da vontade da autonomia privada?
7 – O que difere a boa-fé subjetiva da objetiva? Qual delas deve reger o contrato?
8 – Qual a vantagem de um sistema jurídico aberto?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Teoria geral das obrigações. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. v.2.
- FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006.
- FIUZA, César. Direito Civil: curso completo. 8. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
- LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. v.2.
- RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: parte geral das obrigações. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v.2.
- ROSA, Pedro Henrique de Miranda. Direito Civil: parte geral e teoria geral das obrigações. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
- VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2005. v. 2. 
O presente material foi elaborado para fins didáticos, entretanto, não substitui a bibliografia adotada pela instituição para efeito de avaliação. Sua função é, tão somente, orientar o aluno com os principais tópicos a serem tratados em sala de aula. As obras utilizadas para suas elaboração devem ser consultadas pelos alunos para aprofundamento do conteúdo. A alteração ou indevida utilização do conteúdo aqui exposto ensejará as penalidades cabíveis
� O liberalismo marcado pelo individualismo foi conseqüência do capitalismo mercantilista, pois a Revolução Industrial provoca grandes mudanças na sociedade. Ocorre a massificação dos contratos devido às produções em série, aumento das relações de trabalho e consumo, dentre outros. Daí surgem os contratos de adesão, os contratos com cláusulas gerais, que tomam o lugar dos contratos tradicionais.
� Deste princípio decorre a ”conservação ou preservação dos contratos”, de modo que, na medida do possível, os contratos sempre deverão ser mantidos.
� Não podemos abandonar o modelo individualista e partirmos para um modelo coletivista exacerbado. A idéia não é aniquilar o individual e sim adequá-lo ao social.
� A autonomia da vontade não mais se harmoniza com o novo contexto obrigacional, pois o individualismo da época tornaria a sociedade inviável, uma vez, que a tendência pós-liberalismo se pauta nos contratos de massa que exigem maior padronização e impessoalidade.
� O juízo de valor que o magistrado deve imprimir em sua decisão não se refere a uma tomada de decisão conforme sentimentos internos, emocionais ou um mero sentir irracional.
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