Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Salgado de Oliveira – Universo Profª. Renata Dias/ Direito Civil II 17ª Aula 1 – Cláusula Penal (arts. 408 a 416 CC/02): Apesar de o legislador não ter se ocupado com a definição do instituto, a cláusula penal (também chamada multa convencional) se refere a uma convenção, pela qual as partes na relação obrigacional se comprometem a pagar uma multa pelo não cumprimento ou cumprimento indevido da obrigação, daí seu caráter acessório. Assim, se presta a garantir a indenização pelo inadimplemento absoluto e pelo inadimplemento relativo. É um substitutivo da indenização por perdas e danos, entretanto, independente da comprovação de prejuízo, ou seja, se estabelece de “pleno direito” (art. 408). 2 – Funções da cláusula penal: A cláusula Penal é percebida com uma pluralidade funcional. São funções da cláusula penal: Reforço do vinculo obrigacional: diminuem as chances de descumprimento quando o devedor que está ciente da previsão da multa. Segundo alguns, essa função seria secundária. Indenização pré-estipulada: A previsão da cláusula penal dispensa a comprovação dos prejuízos para efeito de indenização (é uma prévia estimação do prejuízo causado pelo descumprimento). 3 – Espécies de cláusula penal: 3.1 - Compensatória: Refere-se à multa pelo descumprimento definitivo da obrigação, que configure o inadimplemento absoluto nas seguintes hipóteses: a) descumprimento total: toda a obrigação Sendo compensatória, a cláusula penal assume o caráter alternativo, pois, pode o credor optar pelo cumprimento da obrigação, quando restaria caracterizado o inadimplemento relativo do devedor ou, não sendo mais útil ao credor (inadimplemento absoluto – art. 395, par. único) optar pelo valor da multa estipulada. Ressalta-se, ainda, que a escolha é irretratável (art. 410). Ex: Devedor de prestação de serviços musicais não comparece no dia do evento. Em regra a alternativa acima referida é benéfica ao credor, mas a multa pode se estabelecer em favor do devedor quando se convenciona a sua prerrogativa de escolher entre o cumprimento da obrigação ou o pagamento da multa, entretanto, não se confunde tal dispositivo com a obrigação alternativa, pois o montante da multa não se refere a uma prestação autônoma. Tal possibilidade não está prevista na lei e, por esse motivo Silvio Rodrigues (2002, p. 268) afirma não ser possível tal estipulação por contrariar o art. 410 do CC/02. Quando o credor opta pela cláusula penal, esta passa a ter caráter substitutivo, vez que, compensa o credor pela prestação não cumprida e que não mais será, devido a sua inutilidade para o mesmo. Obs: Nos termos do art. 410 a cláusula penal compensatória não pode ser cumulada com a prestação principal. Finalmente, vale ressaltar a possibilidade de a cláusula penal se reverter em favor de terceiro que terá legitimidade para efetivar a cobrança. Ex: Destinar o valor da multa a uma instituição filantrópica. b) descumprimento parcial: de uma ou mais cláusulas contratuais Nesta hipótese fora prevista a imposição de multa para o caso de descumprimento de parte da obrigação, portanto, o credor cobraria a cláusula penal juntamente com a execução das outras previsões contratuais. Ex: Devedor de prestação de serviços de reforma não utiliza a tinta com a qualidade que fora estabelecida no contrato. 3.2 - Moratória: Refere-se à multa pelo retardamento no cumprimento da obrigação, tendo em vista a inobservância do local, forma ou tempo configurando o inadimplemento relativo. Percebam que, neste caso, o credor não substituirá a prestação não cumprida pela multa, pois ainda tem interesse no cumprimento da mesma. Não obstante seja cumprida posteriormente a obrigação, fará jus à multa pelo cumprimento indevido. Obs: a cobrança da cláusula penal moratória será cumulativa à cobrança da obrigação principal, pois esta ainda é de interesse do credor. Nesse sentido, se assemelha a cláusula penal pelo descumprimento parcial. Ex: Devedor não paga o valor da prestação na data do vencimento. Deverá pagá-la posteriormente, assim como a cláusula penal. 4 - Considerações importantes: - Seja qual for a modalidade da cláusula penal poderá ser estipulada quando da constituição da obrigação ou em ato posterior (a qualquer tempo desde que antes do cumprimento da obrigação) (art. 409). - Se não restar clara a intenção dos sujeitos da relação obrigacional deve-se observar o valor convencionado na multa, pois se elevado corresponderá, por questões lógicas, a multa compensatória e se o valor for inferior ao da prestação, à multa moratória. - Outras responsabilidades como juros e despesas processuais não se confundem com a multa (cláusula penal) e podem ser cobrados cumulativamente. - Apesar de não repetida a regra do art. 923 do CC/16, fica deduzido o entendimento de que “resolvida a obrigação, não tendo culpa o devedor, resolve-se a cláusula penal”. - A eficácia da cláusula penal está condicionada ao descumprimento culposo (absoluto ou relativo) da obrigação. - Podemos considerar a cláusula penal como conseqüência convencional do inadimplemento da obrigação ao passo que a indenização por perdas e danos é uma conseqüência judicial. - Em regra se o credor optar pela cobrança da multa (cláusula penal) não poderá cobrar em separado as perdas e danos. Assim, se verificar que o seu prejuízo fora maior que o valor previsto na cláusula penal, pode abrir mão da mesma e partir para a comprovação das perdas e danos. - Se houver estipulação em contrato, há possibilidade de cumulação dos institutos (perdas e danos e multa) (art. 416), o que caracteriza a indenização suplementar (a cláusula penal será configurada como mínimo indenizatório e os prejuízos excedentes deverão ser comprovados). 5 – Vantagens da cláusula penal: 5.1 - Compensatória: - sendo a prefixação de uma indenização (como um cálculo pré-determinado das perdas e danos) a cláusula penal compensatória garante ao credor o recebimento da mesma, independente de se comprovar, efetivamente, as perdas e danos (o que perdeu e o que deixou de lucrar), devendo comprovar, tão somente, o inadimplemento do devedor. Caso não tenha sido pré-estabelecida o credor deverá comprovar o que perdeu e o que deixou de lucrar com o inadimplemento para então se auferir e cobrar as perdas e danos (art. 416). - o valor estipulado na cláusula penal pode, em alguns casos, exceder o valor real das perdas e danos. - serve como reforço da obrigação, criando elemento compulsório. - a desnecessidade da comprovação de prejuízos representa a redução do desgaste do credor. 5.2 - Moratória: - no que tange a cláusula penal moratória sua prefixação serve como um fator de intimidação para que o devedor não retarde o cumprimento da obrigação (não deixe de observar o local, forma ou tempo). - outra vantagem seria vislumbrada na medida em que, o credor, nesse caso, pode exigir o cumprimento da obrigação cumulado com a multa (art. 411). Obs: A mesma conseqüência pode ser verificada pelo descumprimento parcial, ou seja, pela inobservância de uma ou mais cláusulas contratuais. Enfim, em quaisquer das modalidades de cláusula penal (compensatória ou moratória), o credor se mune de garantias maiores e amplia as possibilidades de cumprimento da obrigação. 6 – Limitação da cláusula penal: Segundo o art. 412 “O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal”, dispositivo, que por si só limita o valor da multa. Assevera Gustavo Tepedino (2004, p. 747) que a cláusula penal é um instituto de garantia e ressarcimento e não meio de enriquecimento. Por isso, há possibilidade de, por decisão judicial, se estabelecer a diminuição da penalidade em caso de a obrigação ter sido cumprida parcialmente. Tal situação enseja a análise do caso concreto (equidade) que demonstre a injustiça e o excesso da cobrança integral da cláusula penal (art. 413). Tal possibilidade atende ao princípio da boa-fée o da justiça contratual. Ex: Interessante exemplo é trazido por Venosa (2005, p. 376): Contrato de locação com vigência de 1 ano e o locatário necessita sair decorridos 6 meses. Nesse caso, jurisprudência firmou-se pela redução proporcional da multa erigida para todo o contrato, ficando o inquilino responsável por metade da multa contratual. A multa também será reduzida se o montante da penalidade for excessivo, tendo em vista a natureza e a finalidade do negócio (art. 413). Tal redução não será devida caso o cumprimento parcial da obrigação não represente nenhum tipo de benefício para o credor. Ex: Costureira entrega vestido de noiva inacabado (cumprimento parcial) a multa deve ser paga na sua integralidade, pois de nada serve um vestido inacabado. Obs: Discute-se se a norma do art. 413 teria natureza dispositiva ou cogente, ou seja, se as partes poderiam convencionar o afastamento de tal regra em contrato ou não. A maioria dos doutrinadores entende ser norma de caráter cogente, não podendo, portanto, ser afastada e, ainda, por ser dever e não faculdade do juiz. As questões abaixo dizem respeito ao conteúdo estudado na presente aula 1 – Qual a finalidade da cláusula penal e em quais circunstâncias pode ser cobrada? 2 – A cláusula penal somente poderá ser cobrada em caso de descumprimento total da obrigação? Por quê? 3 – A cláusula penal será devida caso a obrigação seja descumprida sem culpa do devedor? Qual o fundamento legal? 4 – O valor da multa na cláusula penal pode ser considerado imutável? Por quê? 5 – O que justifica a proibição da cumulação da cobrança da multa compensatória com a cobrança do cumprimento da obrigação? Qual o fundamento legal? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: - DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Teoria geral das obrigações. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. v.2. - FIUZA, César. Direito Civil: curso completo. 8. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. - LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. v.2. - RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: parte geral das obrigações. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v.2. - ROSA, Pedro Henrique de Miranda. Direito Civil: parte geral e teoria geral das obrigações. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. - TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena, MORAES, Maria Celina Bodin de. Código Civil interpretado segundo a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. v. 1. - VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2005. v. 2. O presente material foi elaborado para fins didáticos, entretanto, não substitui a bibliografia adotada pela instituição para efeito de avaliação. Sua função é, tão somente, orientar o aluno com os principais tópicos a serem tratados em sala de aula. As obras utilizadas para suas elaboração devem ser consultadas pelos alunos para aprofundamento do conteúdo. A alteração ou indevida utilização do conteúdo aqui exposto ensejará as penalidades cabíveis �PAGE � �PAGE �1�
Compartilhar