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BREVE HISTÓRIA DO URBANISMO FERNANDO CHUECA GOITIA INTRODUÇÃO: TIPOS FUNDAMENTAIS DE CIDADE Fernando Chueca Goitia (1911 – 2004), arquiteto e ensaísta e historiador espanhol idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem “Edifica-se a casa para se estar nela; funda-se a cidade para se sair de casa e reunir-se com outros que também saíram de suas casas” Pode estudar-se uma cidade sob um número infinito de ângulos. Por exemplo, do ponto de vista da HISTÓRIA A cidade como um arquivo da história Do ponto de vista da GEOGRAFIA A natureza prepara o local e o homem organiza-o de maneira a satisfazer as suas necessidades e desejos Do ponto de vista da ECONOMIA A vida das cidades depende do desenvolvimento do comércio e da indústria Do ponto de vista da POLÍTICA A cidade é representada pelos seus habitantes politicamente organizados e representados: os cidadãos Do ponto de vista da ARTE e da ARQUITETURA A importância de uma cidade pode ser avaliada pela grandeza da sua arquitetura e pela solidez dos muros que a protegem. A cidade engloba tudo que se refere ao homem. Tudo que afeta o homem, afeta a cidade. A vida dos homens. A vida das cidades. A literatura, muitas vezes, é uma fonte privilegiada para o conhecimento profundo da alma das cidades. Para iniciar o estudo das cidades, comecemos por definir o que é uma cidade. Essas definições variaram, ao longo da história, em função do contexto em que se enquadra cada observador e comentarista. Do tipo de cidade que ele tem diante de si e do tipo de abordagem que ele privilegia. Alguns exemplos de tipos ou conceitos de cidades bem diferentes POLIS GREGA CIDADE MEDIEVAL VILA CRISTÃ MEDINA MUÇULMANA CIDADE TEMPLO ORIENTAL METRÓPOLE COMERCIAL MODERNA PÓLIS GREGA idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE MEDIEVAL, Beauvais, França idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE MEDIEVAL, Nuremberg, Alemanha idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE MEDIEVAL, Carcassone, França idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE MEDIEVAL, Rotemburg, Alemanha idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE RENASCENTISTA PLANEJADA, Palmanova, Itália idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem MEDINA MUÇULMANA, Gardhaia, Argelia idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE TEMPLO MESOPOTÂMICA, Suméria idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE TEMPLO ORIENTAL, Pequim, China idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem METRÓPOLE INDUSTRIAL MODERNA, Detroit, EUA, 1920 idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Para ARISTÓTELES (384 – 322 a. C.), filósofo grego, discípulo de Platão e professor de Alexandre O Grande idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Cidadão é o habitante de uma cidade que possui a faculdade de intervir nas funções deliberativas e judiciais da vida da mesma. Conceito POLÍTICO de cidade. As cidades-estado da antiga Grécia O Estado é a cidade, e a cidade é o Estado. O problema da cidade, é o problema do estatuto político dos seus habitantes, entre os quais, destacam-se os cidadãos. Para AFONSO O SÁBIO (1221-1284), rei de Castela e Leão, homem de cultura, legislador, historiador idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem A cidade é uma reunião de terras e edifícios cercados e protegidos por uma muralha. Para RICHARD CANTILLON (1680-1734), economista francês, considerado o pai da economia política idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem A CIDADE BARROCA do século XVIII nasce reunião em uma mesma vizinhança geográfica das residências senhoriais de príncipes e nobres desejando viver em agradável convivência. Residenzstadt, da ostentação, do consumo, da encenação do poder VERSALHES idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem PLANO DE VERSALHES idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Putbus, Alemanha, Residência do príncipe Wilhelm Malte I idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Munique, Ansicht der Residenzstadt München Michael Wening, nach 1700 idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Para ORTEGA E GASSET (1883-1955), filósofo, jornalista e ativista político idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem A cidade é o modo pelo qual o homem decide se confrontar à natureza, criando para si próprio, um habitat que se diferencia e opõe à natureza. A cena urbana é uma cena artificial, criação do homem, distinta da cena agrícola e pastoril. (OBS: como já se viu, nem todos os conceitos de cidade, constituem um desejo de se opor ou diferenciar com relação à natureza: cidades jardim, Broad Acre City, etc...) idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Para Ortega Y Gasset, a cidade por excelência é a clássica e mediterrânea onde o elemento simbólico e funcional fundamental é a PRAÇA, lugar do encontro, da conversa, da discussão, da política. URBE, conceito de CIDADE POLÍTICA também idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem As cidades clássicas onde os contatos primários predominam sobre os contatos secundários. A ágora, a praça, a sala de reunião e sede do diálogo A cidade conversadora As cidades anglo-saxônica são cidades mais caladas e reservadas. O primado da vida doméstica sobre a vida civil idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE DOMÉSTICA X CIDADE PÚBLICA Cidade doméstica = cidade dentro de portas, + intimista Cidade pública = cidade fora de portas, + extrovertida, a importância do espaço público A cidade pública, exteriorizada, está muito mais em oposição à natureza do que a cidade interiorizada idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem CIDADE DOMÉSTICA As cidades jardim Cidades dormitório A intimidade CIDADE DOMÉSTICA PLANEJADA, subúrbios verdes de Copenhagen CIDADE DOMÉSTICA, subúrbios norte americanos CIDADE DOMÉSTICA, subúrbios norte americanos: moradia + deslocamento em automóvel CIDADE DOMÉSTICA, subúrbios de Londres. Tipologias de casas geminadas CIDADE DOMÉSTICA, subúrbios ingleses. Conciliação entre área verde e manutenção da rua CIDADE DOMÉSTICA, subúrbios ingleses. Espaços verdes comuns (squares) CIDADE DOMÉSTICA, subúrbios ingleses. Meio rural / meio urbano idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem A CIDADE PÚBLICA Clássica, cívica, “conversadora” Civilidade e extroversão CIDADE PÚBLICA. Rennes, França CIDADE PÚBLICA. Praças de Veneza e Bologna, Itália CIDADE PÚBLICA. Largo Camões, Lisboa VISTA AÉREA DE SIENA, Itália, destaque para Piazza Del Campo e Catedral CIDADEPÚBLICA. Siena, Itália. Piazza del Campo idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Na cidade pública, o mais importante é o cenário urbano. O ambiente urbano. As fachadas, os espaços públicos. Na cidade doméstica, os muros e teto da casa já constituem uma modo suficientemente forte e marcante de segregação em relação ao campo, à natureza. Não precisa por isso, criar ambientes artificiais para sublinhar essa separação. As cidades públicas, das fachadas, das praças e espaços públicos, são muito mais urbanas no sentido clássico da ideia. idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Quando o autor conheceu os Estados Unidos (interior) chegou a refletir se estaria diante de uma civilização sem cidades. Depois concluiu que não é sempre que identificaremos o conceito de cidade como o de uma vida exteriorizada e civil, tal como encontramos nas cidades europeias de origem clássica. Palavras que designam cidade idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Palavras que designam cidade ou entidades afins: Cidade do latim civitas (ciudad, cité, citá, urbo) Vila, do latim vicus (vilarejo, village, villaggio, Pueblo, urbeto) Aldeia, do árabe ad-dayha Town, do antigo inglês tun (tunaz ou túnoz) Stadt, que significa estado, unidade política autônoma idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem As cidades da Nova Inglaterra (domésticas e recatadas) Aglomerados de casas, em meio rural, não demasiado denso, as casas nunca se tocam, preservando sua autonomia. No centro há um common, uma espécie de jardim coletivo. Mas o common não é uma praça, uma ágora, um fórum. É como uma evocação controlada da natureza. Uma valorização da paisagem rural. Mas não é um pedaço decampo dentro do aglomerado. É uma realização de natureza urbana, mas de tipo diferente da cidade clássica. Um típico common, Edimburgo, Escócia idade é o conjunto dos seus cidadãos. Par A CIDADE ÁRABE A medina (cidade construída segundo as leis islâmicas) O segredo doméstico A religião comanda a vida cotidiana idade é o conjunto dos seus cidadãos. Par Entre os extremos da cidade civil (clássica) e da cidade doméstica (anglo-saxônica) podemos situar a cidade de tipo árabe, a chamada medina. Defesa intransigente da intimidade doméstica. O harém, organizado em torno do pátio íntimo (espaço da individualidade) Em lugar da praça (política), o pátio da mesquita (sentido religioso da vida coletiva) A vida se desenvolve entre o segredo doméstico e a ritualidade religiosa. MEDINA, Arábia Saudita Vista atual da mesquita de Al-Masjid al-Nabawi RABAT, Marrocos, Casbah das Udaias Patrimônio Cultural da Humanidade, UNESCO TRÍPOLI, Líbia. Vista aérea do tecido urbano, com os pátios internos das casas. SANA’A, Yemen, habitada continuamente há mais de 2.500 anos. Centro histórico e mesquita Al Khbir A Casbah de Argel, como é hoje, englobada no sistema viário da cidade francesa. Argel hoje em dia Contraste entre a arquitetura popular espontânea e a arquitetura da colonização francesa. ARGEL nos dias de hoje A sua Casbah ou centro histórico Ghardaia, Argélia, 1035 Argélia TESSELATION, Marrocos. Tecido urbani, vielas e pequenos pátios internos. idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem O tecido urbano da cidade árabe é um emaranhado de ruelas que terminam frequentemente em impasse. A organização segue unidades de vizinhança por parentesco Não há fachadas diferenciadas por nível de riqueza Nada é revelado da intimidade doméstica Não existe a rua como a entendemos, cuja essência está ligada à exposição das fachadas (função simbólica) As cidades domésticas e as cidades muçulmanas não dão importância à rua, mas de formas distintas. O mercado árabe (bazar, soco ou souk) obedece apenas a uma necessidade funcional e não simbólica Soco, suque, souk, souq, zoco (mercado árabe) Soco, suque, souk, souq, zoco (mercado árabe) Soco, suque, souk, souq, zoco (mercado árabe) Judiaria de Lisboa e Cordoba califal, Espanha. Plano irregular e os “becos sem saída” idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Segundo Ernest Egli (Climate and Two Districts) a ideia fundamental de uma cidade se revela na ideia da casa individual dessa cidade. Isso não significa que um aglomerado de casas defina uma cidade. Uma cidade supõe uma organização funcional que cristaliza estruturas materiais. idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem Na cidade árabe a organização (formal, espacial) se dá de dentro para fora; da casa para a rua e desta para a cidade. Uma forma mais biológica Na cidade clássica é um pouco o contrário. O traçado prévio das ruas e avenidas, conforma o desenho (a tipologia) das casas. Uma forma mais racional idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem A casa representa a necessidade individual A rua representa a ordem ou a lei geral que submete a vontade individual em nome do interesse público Na cidade islâmica o individuo não tem deveres para com a sociedade. Apenas para com a religião. A sociedade e a política são asfixiadas pela religião. idade é o conjunto dos seus cidadãos. Para entendê-la, devemos entender quem A CIDADE ESPANHOLA reúne características dos dois modelos, clássico e árabe: intimidade doméstica – as mulheres escondidas espreitando através de gelosias ou muxarabis – e a função primordial da PLAZA A rua representa a ordem ou a lei geral que submete a vontade individual em nome do interesse público Na cidade islâmica o individuo não tem deveres para com a sociedade. Apenas para com a religião. A sociedade e a política são asfixiadas pela religião. Pátios de casas sevilhanas, influência árabe Gelosias escondem o universo doméstico / feminino PLAZA DEL AYUNTAMIENTO, Toledo Para Oswald Sprengler (1880 – 1936), filósofo e historiador alemão O que distingue a cidade da aldeia, não é a extensão, nem o tamanho mas a presença da alma da cidade. Para a filosofia germânica a ideia de alma ou espírito da coisa (geist) é preponderante sobre a lógica da mesma (logos) O espírito, segundo essa visão, engloba a lógica, a racionalidade, e vai além. Há aglomerações muito consideráveis que não constituem uma cidade. Para ele, isso pode ocorrer tanto em contextos mais primitivos, rurais, como industriais, contemporâneos. Tais aglomerados não seriam cidades, mas redes de edificações, infra estruturas, mercados. É fundamental a consciência (do habitante) de pertencer a uma entidade, com essência/alma/espírito próprio que se opõe ao campo ou ao simples mercado Essa consciência do habitante, define a condição urbana O estado de espírito do citadino é distinto do camponês ou aldeão Para Lewis Munford (1895 – 1990), historiador norte americano, autor de “A cidade através da história” A CIDADE PALEOTÉCNICA A forma contemporânea desse aglomerado de grande porte, espécie de rede ou mercado, sem alma, portanto não cidade é a CIDADE PALEOTÉCNICA Reunião de fábricas + slums (conjuntos habitacionais situados nas proximidades das fábricas) CIDADE INDUSTRIALSÉCULO XIX, Manchester, 1840 CIDADE PALEOTÉCNICA, Chicago, século XIX CIDADE PALEOTÉCNICA, Strattforshire, Inglaterra, século XIX CIDADE INDUSTRIAL SÉCULO XIX, Sgierz, Polônia CIDADE INDUSTRIAL SÉCULO XX, Mooca, São Paulo CIDADE INDUSTRIALSÉCULO XX, Detroit, anos 1920 DECADÊNCIA DA CIDADE INDUSTRIAL SÉCULO XX, Detroit ESVAZIAMENTO DA CIDADE INDUSTRIAL SÉCULO XX, Detroit SUBÚRBIO RESIDENCIAL, CIDADE DO MEXICO SUBÚRBIO RESIDENCIAL, Cidade do México CIDADE DO MÉXICO, subúrbio, casas abandonadas e novos conjuntos habitacionais CIDADE DO MÉXICO SUBÚRBIOS INDUSTRIAIS DE MOSCOU, sob a neve PAISAGEM DE BARUERI, subúrbio ao longo da PAISAGEM DE BARUERI, subúrbio ao longo da SUBÚRBIOS RESIDENCIAIS POPULARES DE PARIS, nos dias de hoje SUBÚRBIO RESIDENCIAL BUCÓLICO DE TORONTO A CRISE DA METRÓPOLE DOS EMERGENTES, Paraisópolis, São Paulo A CRISE DA METRÓPOLE DOS EMERGENTES, subúrbio de Manilla, Filipinas A CRISE DA METRÓPOLE DOS EMERGENTES, tecido urbano da periferia, São Paulo METRÓPOLE MODERNA E os Centro Cívicos Nas cidades contemporâneas assim originadas, as elites fogem para arredores bucólicos, longe das fábricas e do burburinho do comércio As cidades se desumanizam Os urbanistas criam Centros Cívicos para reabilitar um certo espírito de urbanidade The core of the cities (CIAM) BARBICAN CENTER, Londres LONG BEACH, Civic Center, 1978 PALM ISLAND, Dubai SANTO ANDRÉ, Paço Municipal e Centro Cívico, Rino Levi Arqs. Associados, 1965 SÃO BERNANRDO, Paço Municipal, Jorge Bonfim, 1960/65 ANTIGO MERCADO CENTRAL DES HALLES, Paris, 1858 FORUM LES HALLES, Paris, Claude Vasconi, 1971 FORUM LES HALLES CARRÉ DES HALLES, Paris, 1985 CARRÉ DES HALLES, Paris CARRÉ DES HALLES, NNNNNNN NOVO FORUM LES HALLES, Paris, 2010/2016, Patrick Berger e Jacques Anziutti NOVO FORUM LES HALLES, Paris, em construção.
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