Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Salgado de Oliveira – Universo Profª. Renata Dias/ Direito Civil II 18ª Aula 1 – Arras (arts. 417 a 420 CC/02) Em nossas últimas aulas tivemos a oportunidade de conhecermos algumas das conseqüências do inadimplemento, dentre elas: - conseqüências judiciais: perdas e danos (art. 402); - conseqüências legais: juros (art. 206); - conseqüência convencional: cláusula penal (art. 409). Na presente aula nos voltaremos para a análise de outra conseqüência do inadimplemento, também de cunho convencional e acessório (visa garantir uma obrigação principal), que é denominada pelo legislador como “Arras”. Também conhecidas como “sinal” as arras representam uma “quantia” inicial ou coisa que é entregue por um dos contratantes ao outro, quando da formação da relação obrigacional, com o objetivo de demonstrar que há, realmente, a intenção de manter o negócio ajustado ou com a função de permitir o direito de arrependimento. Ex: Na compra de um imóvel de R$ 80.000,00 dá-se R$ 5.000,00 de sinal. Na definição de Eduardo Espínola, citado por Tepedino (2004, p.756), arras ou sinal são aquilo que ao celebrar um contrato, uma das partes da à outra, como garantia do acordo a que chegaram e da obrigatoriedade do mesmo. E completa Tepedino na mesma obra que, há casos, entretanto, em que as arras representam justamente o contrário: no lugar da vinculação definitiva das partes, a possibilidade de arrependimento. A referência a “quantia” não impede que outra garantia, que não o dinheiro, seja disponibilizada para efeitos da confirmação da contratação, entretanto, a pecúnia é a garantia que, normalmente, representa as arras. Obs: Apesar de não haver um valor mínimo e máximo para definição das arras, não podem as mesmas corresponder ao valor integral da prestação, pois, caso contrário, não seriam garantia e sim adimplemento integral da prestação. 2 – Espécies de arras: 3.1) Arras confirmatórias: Entrega de algo à titulo de sinal. Firmam a presunção de um acordo final, tornando obrigatório o contrato. O contrato é considerado obrigatório por que as partes não podem desistir da negociação (estão definitivamente vinculadas) sem arcar com as conseqüências, quais sejam: Se o contrato não for executado: Se o culpado foi quem deu o sinal: perderá o valor dado como sinal; Se o culpado foi quem recebeu o sinal: restituirá o valor recebido como sinal mais o seu equivalente. Nas duas hipóteses arcarão, ainda, com juros, correção... (art. 418). Não obstante as conseqüências analisadas acima, se o negócio se impossibilitar sem culpa ou por mero distrato (desistência mútua dos contratantes) as arras confirmatórias serão devolvidas e as partes voltarão ao estado anterior. Se, entretanto, a obrigação for devidamente cumprida pelas partes, o sinal entregue como garantia será devolvido a quem o concedeu ou, se da mesma natureza da prestação devida, será descontado da obrigação principal, servindo como início de pagamento. Ex: Sinal de R$ 500,00 na obrigação de pagar R$ 3.000,00 (haverá computação). Sinal de R$ 500,00 para obrigação de entregar um animal (haverá devolução). Obs1: As arras serão consideradas confirmatórias na falta de disposição contrária, de modo que, apenas excepcionalmente as partes estabelecem o direito de se arrepender. Obs2: As perdas e danos poderão ser exigidas se comprovado prejuízo maior, não compensado pelo sinal, mas este será computado (descontado) do valor total da indenização (art. 419). Obs3: Da observação feita acima podemos extrair a seguinte conclusão: As arras confirmatórias são inicialmente previstas para reforçar o vínculo (não permitem o arrependimento) e não para servir de indenização em caso de descumprimento da obrigação, de modo que, é permitida a indenização suplementar, servindo as arras, nesse caso como mínimo indenizatório. Obs4: As arras confirmatórias representam o fortalecimento do vínculo obrigacional, pois não autorizam o arrependimento. 3.2) Arras penitenciais: Possibilitam o direito de arrependimento� unilateral, que será permitido independente de inadimplemento da outra parte. Entretanto, a parte que se arrepender da avença pagará um preço por tal decisão, nas seguintes circunstâncias: Se o desistente foi quem deu o sinal: perderá a quantia do mesmo; Se o desistente foi quem recebeu o sinal será compelido a devolvê-lo em dobro. Ressalta-se que tais valores devem ser corrigidos monetariamente, mesmo não tendo o legislador feito tal referência. Vale ressaltar que, se o negócio se impossibilitar sem culpa das partes o sinal será devolvido sem correção para que as partes voltem ao estado anterior. Se as partes levarem adiante o negócio não exercendo seu direito de arrependimento, o sinal assumirá a função de início de pagamento, sendo amortizado, salvo disposição contrária, quando serão restituídas (art. 417). Nesse sentido, O sinal tem função condenatória somente diante da possibilidade de arrependimento. Obs1: As arras penitenciais se diferem das confirmatórias, principalmente, pela possibilidade de arrependimento das partes. Assim, quem desiste do contrato não infringe dispositivo contratual, mas exerce direito potestativo que o próprio contrato lhe outorgou. Obs2: Quando são convencionadas as arras penitenciais presume-se que uma parte conferiu a outra a possibilidade de arrependimento, estabelecendo, para tanto, uma pré – liquidação dos prejuízos. Assim, se uma das partes se arrepender o sinal já tem a função indenizatória não admitindo indenização suplementar (art. 420). Obs3: Esta modalidade de arras tem o condão de substituir a cláusula penal, por ser uma pré fixação de indenização. Obs4: As arras penitenciais representam o enfraquecimento do vínculo obrigacional, pois autorizam o arrependimento. 3 – Funções das arras: A partir da análise das espécies de Arras conseguimos abstrair as seguintes funções: Garantia da seriedade do contrato (da intenção de levar adiante o contrato) e reforço do vínculo obrigacional (as partes não podem desistir da convenção, sob pena de sofrerem as conseqüências do descumprimento) – ARRAS CONFIRMATÓRIAS. Caracterização de princípio de pagamento ou adiantamento do preço ajustado (se cumprida a obrigação - art. 417) e caso possuam o mesmo gênero da prestação principal – ARRAS CONFIRMATÓRIAS OU PENITENCIAIS. Possibilidade de desistência da avença feita no contrato (as arras servirão de indenização – pré – liquidação dos prejuízos - pelo arrependimento dos contratantes) – ARRAS PENITENCIAIS. 4 – Observações importantes sobre as arras: - Apesar de muito comum no contrato de compra e venda, pode servir de garantia para outros contratos que apresentem prestações pendentes; - É possível que o sinal seja dado por ambos os sujeitos (arras recíprocas); - Podem se estabelecer em contratos definitivos e em contratos preliminares (ex: promessa de compra e venda); - Podem se formalizar no momento da constituição da relação obrigacional ou posteriormente, desde que antes do cumprimento da prestação. - Não se confundem com as parcelas pagas de uma relação obrigacional periódica. 5 – Paralelo com outros institutos: QUADRO COMPARATIVO INSTITUTOS SEMELHENÇA DIFERENÇA Arras penitenciais e Obrigação Alternativa Nas arras penitenciais existe a alternativa entre o cumprimento ou desistência do contrato. Nas Obrigações alternativas existe a possibilidade de se escolher entre duas ou mais obrigações. 1) Nas arras a opção se dá entre a prestação da relação obrigacional (definida) ou o sinal pelo descumprimento. Na obrigação alternativa o negócio nasce com mais de uma opção de prestação e a escolha se opera como adimplemento. Arras penitenciais e Cláusula Penal As arras penitenciais e a cláusula penal constituem pré estipulação das perdas e danos. 1) As arras têm cunho real (a entrega real e prévia da garantia que é o sinal). Na cláusula penal não existe entrega real, mas somente uma previsão.2) As arras decorrem de um direito de desistência (arras penitenciais). A cláusula penal decorre de uma violação. 3) As arras não poderão ser reduzidas e a cláusula penal sim. 4) A cláusula penal reforça o vínculo e as arras enfraquecem. Arras confirmatórias e Cláusula Penal As arras e a cláusula penal servem de reforço da garantia de cumprimento da obrigação. Idem (1 e 2) As questões abaixo dizem respeito ao conteúdo estudado na presente aula 1 – Uma jóia pode representar as arras? Por quê? 2 – As arras podem ser representadas pelo valor integral da obrigação? Por quê? 3 – Cite e explique as funções das arras relacionando-as com as espécies de arras. 4 – O sinal sempre será descontado da prestação convencionada? 5 – Nas arras confirmatórias o descumprimento da obrigação será compensado, tão somente, pelo sinal? 6 – Nas arras penitenciais o descumprimento da obrigação ensejará o pagamento de perdas e danos, além do direito ao sinal? 7 - Cite as semelhanças e diferenças entre as arras e o instituto da obrigação alternativa. 8 - Cite as semelhanças e diferenças entre as arras e o instituto da Cláusula penal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: - DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: Teoria geral das obrigações. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. v.2. - FIUZA, César. Direito Civil: curso completo. 8. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. - LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. v.2. - RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: parte geral das obrigações. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v.2. - ROSA, Pedro Henrique de Miranda. Direito Civil: parte geral e teoria geral das obrigações. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. - TEPEDINO, Gustavo, BARBOZA, Heloisa Helena, MORAES, Maria Celina Bodin de. Código Civil interpretado segundo a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. v. 1. - VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2005. v. 2. O presente material foi elaborado para fins didáticos, entretanto, não substitui a bibliografia adotada pela instituição para efeito de avaliação. Sua função é, tão somente, orientar o aluno com os principais tópicos a serem tratados em sala de aula. As obras utilizadas para suas elaboração devem ser consultadas pelos alunos para aprofundamento do conteúdo. A alteração ou indevida utilização do conteúdo aqui exposto ensejará as penalidades cabíveis � O arrependimento pode ser tácito ou expresso e, ainda, atual e incondicional (não podendo ficar subordinado a evento futuro e incerto). �PAGE � �PAGE �1�
Compartilhar