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UFRPE Monografia 2013.2 FEV.2014 Alcides Pires CMTD1 versao 3 final

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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
BACHARELADO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE COMPORTAMENTO 
EMPREENDEDOR E INOVAÇÃO NA GÊNESE E NA CONSOLIDAÇÃO DE 
CLUSTERS NA ÁREA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO – O CASO DO 
PORTO DIGITAL DA CIDADE DE RECIFE - PE 
 
 
ALCIDES NICEAS PIRES 
 
MONOGRAFIA 
Professor Orientador: 
Guerino Edécio da Silva Filho 
guerinofilho@uol.com.br 
Aluno: 
Alcides Niceas Pires 
alcides_pires@hotmail.com 
 
Recife – Pernambuco 
Fevereiro de 2014 
2 
 
 
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
BACHARELADO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE COMPORTAMENTO 
EMPREENDEDOR E INOVAÇÃO NA GÊNESE E NA CONSOLIDAÇÃO DE 
CLUSTERS NA ÁREA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO – O CASO DO 
PORTO DIGITAL DA CIDADE DE RECIFE - PE 
 
ALCIDES NICEAS PIRES 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Bacharelado em Ciências Econômicas, do 
Departamento de Economia, da Universidade 
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), como 
requisito parcial para a obtenção do grau de 
Bacharel em Economia. 
 
 
 
 
RECIFE-PE 
Fevereiro - 2014 
Orientador: Professor Doutor Guerino Edécio da Silva Filho 
 
3 
 
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
BACHARELADO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE COMPORTAMENTO 
EMPREENDEDOR E INOVAÇÃO NA GÊNESE E NA CONSOLIDAÇÃO DE 
CLUSTERS NA ÁREA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO – O CASO DO 
PORTO DIGITAL DA CIDADE DE RECIFE - PE 
 
ALCIDES NICEAS PIRES 
Monografia submetida ao corpo docente do Curso de Ciências Econômicas da Universidade 
Federal Rural de Pernambuco e aprovada na data a seguir: 
 
Recife, ___ de ______________ de 2014 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Prof. Dr. Guerino Edécio da Silva Filho (Orientador) 
 
Assinatura: _____________________________________________ Nota: ______ 
 
Prof. Ms. Carlos Alberto Fernandes 
 
Assinatura: _____________________________________________ Nota: ______ 
 
Prof. Ms. Kátia Ferreira Lima Falcão Meneses 
 
Assinatura: _____________________________________________ Nota: ______ 
 
 
4 
AGRADECIMENTOS 
 Concluir um curso de graduação é uma tarefa de longo fôlego, cujo esforço é 
frequentemente realizado no início da vida adulta, e sem algumas das responsabilidades 
características das fases seguintes da vida. Iniciar aos 46 anos e concluir aos 50, traz desafios 
adicionais, e os agradecimentos precisam ser extensos. 
 Sem a ajuda de tanta gente seria impossível concluir. À Norma, minha mulher e 
companheira, cujo incentivo diário me fez tantas vezes vencer a inércia para encarar as aulas e 
os estudos. Aos meus filhos Eduardo e Leonardo, que sendo concorrentes na alocação do 
recurso escasso do tempo do pai, foram um estímulo permanente e cobradores exigentes quanto 
ao desempenho acadêmico. À minha mãe Fernanda, e ao meu pai Fernando que já se foi, que 
me deram as condições de partida que me trouxeram pela vida até aqui. Com todos eles eu 
também quito a dívida de concluir uma graduação, depois de ter estado tão perto e ter deixado 
passar as oportunidades. Ao meu sócio e amigo Garibaldi Rocha, que tantas vezes escutou e 
discutiu os assuntos de Economia e cuja carga de trabalho e responsabilidade foi 
proporcionalmente mais elevada quando as minhas atividades acadêmicas ficaram mais 
intensas. 
 Por estarmos em uma universidade pública, não posso deixar de agradecer a 
todos os brasileiros, que com seus impostos financiam essa estrutura, essa fantástica máquina 
de criar e disseminar conhecimento, e que nem sempre colhem os melhores frutos do seu 
investimento. 
 Aos meus colegas de turma, aos que seguiram até o final e também aos que 
tomaram rumos diferentes, mas que de alguma forma somaram suas vidas à formação de um 
grupo unido, solidário, determinado e vencedor. Agradeço em especial à acolhida que ignorou 
a diferença de idade, de experiência, de energia e de disponibilidade para me fazer um igual, 
um aluno, um aprendiz junto com eles e também aprendiz das coisas deles. Essa convivência 
foi um suporte crucial nessa jornada. 
 Aos meus amigos e colegas empreendedores, privados e públicos, companheiros 
de jornada na formação do APL Porto Digital, cujo espírito de empreendimento, inovação e 
aglutinação foram a inspiração a este trabalho. 
 
 
5 
 Agradeço ao meu professor orientador, Doutor Guerino Filho, cujo papel no 
desenvolvimento do curso e deste trabalho foi além da informação acadêmica, sempre 
acendendo a chama da curiosidade, despertando o entusiasmo pelo conhecimento e o foco nas 
coisas mais importantes. 
 Agradeço ademais a todos os outros professores. Com suas características, tão 
diferentes entre si, somaram de forma definitiva uma construção de conhecimento que só se faz 
sólida pela universalidade, pela pluralidade de conhecimentos e pela singularidade com que 
tocam a cada um de nós. E também aos professores que não conhecemos. Aos meus professores 
de outras épocas. Aos professores dos nossos professores. Aos autores dos livros que usamos. 
Aos economistas defuntos, dos quais sempre somos, de alguma forma, seguidores. 
 Foi sobre esses tantos ombros que me ergui para estudar e de onde humildemente 
me curvo para agradecer. 
 
 
6 
SUMÁRIO 
 
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... 4 
SUMÁRIO .................................................................................................................................. 6 
RESUMO ................................................................................................................................... 7 
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................ 8 
CAPÍTULO 2 – JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS ................................................................ 10 
2.1 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 10 
2.2 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 11 
2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 12 
CAPÍTULO 3 - O CLUSTER DO PORTO DIGITAL DO RECIFE ....................................... 13 
3.1 O RECIFE ..................................................................................................................... 13 
3.2 O PORTO DIGITAL ..................................................................................................... 14 
CAPÍTULO 4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................. 16 
4.1 COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR ................................................................. 16 
4.2 INOVAÇÃO .................................................................................................................. 22 
4.3 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS ......................................................................... 24 
CAPÍTULO 5 - METODOLOGIA........................................................................................... 28 
5.1 PESQUISA DE CAMPO .............................................................................................. 29 
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE DE RESULTADOS ..................................................................... 31 
6.1 DISCUSSÕES ............................................................................................................... 32 
CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................... 36 
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 39 
 
 
 
7 
RESUMO 
Após a criação do NGPD – Núcleo de Gestão do Porto Digital no ano de 2000, e a 
introdução de políticas públicas e privadas de educação de excelência, fornecimento de 
infraestrutura física, financiamento à inovação, treinamento profissional, divulgação e renúncia 
fiscal, o Porto Digital adquiriu visibilidade internacional e ganhou diversos prêmios. É hoje um 
caso de sucesso na implantação de um APL e como referência é inspirador para outras 
iniciativas que buscam resultados similares. Com base em teorias do comportamento 
empreendedor, desenvolvimento regional baseado em aglomerações e inovação como base do 
crescimento econômico, este trabalho tem como objetivo mostrar a importância da existência 
de empreendedores inovadores como parte das condições iniciais sobre as quais as políticas 
públicas tiveram êxito, e que de fato havia tais empreendedores na Cidade do Recife, e que 
estes tinham as características necessárias. 
Palavras-chave: inovação, desenvolvimento regional, comportamento empreendedor, Recife, 
Porto Digital 
 
ABSTRACT 
After creation of NGPD, in Portuguese Porto Digital Management Core (non-
governmental organization created to manage and aggregate public policies around Old Recife 
to new technologies companies), and afterwards the introduction of public and private policies 
as excellence education, infrastructure, innovation funding, professional training, propaganda 
and tax waiver, Porto Digital got international visibility and earned prizes. Nowadays, Porto 
Digital is a success case about regional development policy and inspires other local 
governments to make similar initiatives. Based on theories of entrepreneurship behavior, 
regional development and innovation the main objective of this work is showing existence of 
innovators entrepreneurs in Recife, they was part of the start conditions, and how these 
businesspersons were important to the future success of Porto Digital. 
Keywords: innovation, regional development, entrepreneurship behavior, Recife, Porto Digital 
 
8 
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 
 
 Busca-se estudar neste trabalho as relações entre o comportamento empreendedor e a 
inovação na gênese de um Cluster Econômico. Apesar de serem de relevância crucial para o 
processo de consolidação de aglomerados produtivos cooperativos - em especial para aqueles 
que envolvem segmentos econômicos vinculados à tecnologia mais sofisticada, a exemplo dos 
clusters da área de Tecnologia da Informação - essas interações são pouco estudadas, 
constituindo uma lacuna importante na literatura sobre o desenvolvimento e consolidação de 
clusters, muito provavelmente por serem mais difíceis de serem observadas, dado que têm 
caráter qualitativo e pouco mensurável. 
 
Talvez tenha sido Schumpeter, economista austríaco, o primeiro a chamar a atenção para 
o papel fundamental exercido pelos empresários no desenvolvimento das economias 
capitalistas. Para ele, “... os empresários são um tipo especial, e o seu comportamento um 
problema especial, a força motriz de um grande número de fenômenos significativos.” 
SCHUMPETER (1983) 
 
 Assim, um melhor entendimento dos aspectos que cercam o comportamento 
empreendedor dos agentes econômicos e de suas relações com a inovação no processo de 
criação e consolidação de APLs se justifica por possibilitar a geração de subsídios importantes 
para a formatação de políticas públicas mais adequadas para o fortalecimento dos APLs e 
Clusters1. Também, tais subsídios podem ser de elevada relevância para o processo de tomada 
de decisões de investimentos privados a serem dirigidos para essas aglomerações produtivas. 
Esses são, em última instância, os objetivos centrais deste documento. 
 
Enquanto que as políticas públicas adotadas são conhecidas e mensuráveis, inclusive pela 
necessidade de publicidade característica do poder público, o comportamento empreendedor e 
inovador dos empresários e empreendedores públicos é dado como certo, ou eventualmente 
ignorado, sem que haja maiores investigações a respeito. 
 
 
1 Aqui os Arranjos Produtivos Locais (APLs) estão sendo tomados como uma etapa anterior à formação de um 
Cluster Econômico. Neste nível, a eficiência econômica do aglomerado produtivo é garantida a partir de um 
intenso processo de cooperação existente entre as suas organizações empresariais constituintes. 
9 
O setor público, por exigência legal, necessita declarar os seus investimentos e renúncias 
fiscais. Essa divulgação naturalmente direciona a percepção por terceiros para esses 
investimentos e renúncias fiscais, que inadvertidamente desapercebem-se de outros pontos a 
considerar, dentre os quais destaca-se a existência de uma massa crítica de empreendedores 
inovadores, capital intelectual e capital físico instalado. 
 
O presente trabalho buscará então, identificar comportamentos empreendedores e 
examinar suas associações com a inovação e o sucesso de um Cluster Econômico. 
Especificamente, o estudo baseou-se em pesquisa de campo levada a cabo junto ao Porto 
Digital, um cluster produtivo da área de Tecnologia da Informação (TI) com sede em Recife, 
capital do estado de Pernambuco, de reconhecido sucesso no meio empresarial e acadêmico, 
nacional e internacional, tendo ganho a indicação de melhor parque tecnológico do país nos 
anos de 2007 e 2011 pela Associação Nacional de Promoção de Empreendimentos Inovadores 
– ANPROTEC. 
Para atingir seus objetivos, o presente documento é composto, além desta Introdução, 
do Capítulo 2 que explicita e justifica o objetivo geral e os específicos; o Capítulo 3 que mostra 
uma apresentação da cidade do Recife, com dados históricos e econômicos, assim como 
também da própria iniciativa Porto Digital; o Capítulo 4 que trata da fundamentação teórica que 
embasou o trabalho; o Capítulo 5 que mostra a metodologia adotada para que se chegasse a 
termo a análise e os resultados; o Capítulo 6 que analisa os resultados obtidos e os confronta 
com a teoria e finalmente o Capítulo 7 que trata das conclusões e faz recomendações para entes 
públicos interessados na implantação de APLs. 
 
 
10 
CAPÍTULO 2 – JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS 
 
2.1 JUSTIFICATIVA 
 
O tema tem relevância no atual momento do país, do Estado de Pernambuco e da cidade 
do Recife, pois os agentes públicos e os agentes econômicos buscam alternativas de promoção 
do desenvolvimento e as experiências bem sucedidas são espelho para implantação e 
desenvolvimento de APLs e Clusters similares em outras cidades. 
Muitas vezes, as ações governamentais não são suficientes para garantir uma 
implantação sustentável de um APL, sem que haja na sua gênese um conjunto de agentes 
privados e públicos com comportamento empreendedor e capacidade de inovação. Os agentes 
governamentais, portanto, devem observar a existência das condições de partida para que as 
políticas públicas, que em última instância significam recursos públicos, não sejam aplicadas 
sobre um substrato inapropriado. 
 
Há um conhecimento consolidado sobre as variáveis que afetam o desenvolvimento 
local, dentre elas a posição do empreendedor. Dentre as múltiplas variáveis que podem afetar o 
desenvolvimento de uma aglomerado econômico, algumas se destacam como mais importante, 
como explicado por Jorge Tapia no seu trabalho que dentre outras coisas enfoca os sistemas 
locais de inovação: 
Portanto, a dinâmica do sistema econômico local (distritos industriais) e sua 
transformação dependeriam tanto das especificidades locais quanto das estruturas degovernança e da capacidade das elites locais que controlam as variáveis-chave que 
afetam o desenvolvimento. 
Essa construção social, econômica e institucional tem quatros características 
principais: 
 Utilização de recursos locais (força de trabalho, capital acumulado a nível local, 
cultura empresarial, conhecimentos específicos sobre os processos produtivos, 
competências peculiares) 
 Capacidade de controle local do processo de acumulação; 
 Capacidade de inovação e; 
 Presença e capacidade de desenvolvimento de interdependência produtiva, seja 
intra-setorial seja intersetorial no plano local. 
GAROFOLI apud TAPIA (1991, 1992a, pag. 9, grifos nossos) 
 
 
11 
 Neste trabalho vai-se buscar apontar no caso real de um APL bem sucedido, as 
condições de partida sobre as quais as políticas públicas tiveram eco, focando especificamente 
no comportamento empreendedor e inovador de empresários e agentes públicos que estiveram 
presentes no entorno do período de formalização do APL. Com este trabalho, será possível ter 
um guia para buscar condições similares em locais candidatos a implantar um APL, como 
embrião de um Cluster. 
 
 
2.2 OBJETIVO GERAL 
 
Quais as relações entre o comportamento empreendedor e a inovação que foram críticas 
no estabelecimento dos alicerces do Cluster do Porto Digital na cidade do Recife? O objetivo é 
responder a essa questão, e a resposta provisória a essa questão constitui na hipótese a ser 
examinada no presente trabalho, que virá a confirmar ou refutar, total ou parcialmente. 
A hipótese é que havia, antes da criação do Núcleo de Gestão do Porto Digital, a 
Organização Social que realizou a governança e deu existência formal ao APL, um conjunto 
consistente de empreendedores, de cultura empreendedora e de capacidade para inovação, ao 
que se juntaram políticas públicas de formação de capital humano, disponibilidade de capital 
físico e financeiro, renúncia fiscal e divulgação externa, cujo conjunto evoluiu para o que hoje 
é uma referência nacional e internacional de sucesso na implantação e desenvolvimento de 
APL, que culminou com o Cluster. 
 
O desenvolvimento do trabalho irá apontar as bases da teoria econômica para o tema, 
assim como buscar evidências empíricas do comportamento empreendedor e da inovação nos 
empresários que estiveram na gênese do Porto Digital. 
 
O objetivo geral é comprovar a existência de tal cultura empresarial, e associá-la aos 
pontos da teoria, e ainda mostrar a sua importância para o sucesso do APL. 
 
 
 
 
12 
2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 Estudar as bases teóricas da Inovação para que sirva de modelo de abordagem nos 
levantamentos de campo, de forma que esses levantamentos apontem os pontos de convergência 
ou eventual divergência com a teoria estudada; 
 
 Estudar as bases teóricas do Comportamento Empreendedor para que balize as 
entrevistas e apontem as melhores formas de coleta das informações; 
 
 Estudar as bases teóricas dos arranjos produtivos locais – APLs, de forma a posicionar 
adequadamente o objeto do estudo no campo do conhecimento; 
 
 Entrevistar os principais empreendedores privados e públicos que tiveram atuação direta 
ou indireta na formação de uma massa crítica de empresas, que associada às políticas públicas 
vieram a formar o APL Porto Digital; 
 
 Concluir sobre a existência ou não de comportamento inovador e empreendedor na 
gênese do APL Porto Digital, o que em última análise significa confirmar ou refutar, em todo 
ou em parte, a hipótese levantada. 
 
 
13 
CAPÍTULO 3 - O CLUSTER DO PORTO DIGITAL DO RECIFE 
 
3.1 O RECIFE 
Recife é a segunda e atual capital do Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil, e uma 
cidade nascida a partir de uma vila de pescadores e trabalhadores do porto que se abriga atrás 
de arrecifes, e cuja primeira referência é de 1537, na carta foral daquele ano. 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a cidade conta com 
população de 1.537.704 habitantes e um território de 218 km2. IBGE (2013) 
 A cidade se desenvolveu com uma economia baseada no comércio, dada a sua posição 
privilegiada em relação a Portugal e em relação ao nordeste do Brasil, e com seu porto protegido 
pela barreira de arrecifes. Naturalmente foi crescendo a partir da povoamento do porto em 
direção às “freguesias”, engenhos de cana de açúcar e outros agrupamentos sócio-econômicos 
então distantes e hoje incorporados à paisagem urbana. 
Hoje a cidade tem uma economia baseada em serviços, o que se nota nos dados do IBGE, 
mostrados abaixo. 
Gráfico 1 – PIB (valor adicionado) 
 
Fonte: IBGE (2013) 
 
 
 
14 
3.2 O PORTO DIGITAL 
 
Depois de um longo período de decadência econômica e social da área retroportuária da 
cidade, que abriga um conjunto arquitetônico que conta as história do seu desenvolvimento, a 
partir da década de 1980 começou-se a buscar alternativas econômicas que permitissem uma 
“revitalização” da área conhecida com “Recife Antigo”, basicamente a ilha denominada de 
“ilha de Antônio Vaz”. 
Essa necessidade de valorização da região para preservação e uso do acervo 
arquitetônico, se encontrou no final da década de 1990 com um movimento que vinha 
crescendo, associando os governos estadual e municipal, universidades e empresas, e que visava 
dar maior importância econômica ao setor de tecnologia da informação do Estado de 
Pernambuco. 
Juntou-se o porto com o digital. 
Esse movimento articulado tem um histórico que associa um departamento de 
Informática que foi crescendo em excelência desde a década de 1980 na Universidade Federal 
de Pernambuco - UFPE, um curso técnico de referência e um curso superior de cunho menos 
científico na Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP, empresas públicas de 
informática que em algum momento de sua história foram referências nacionais ou mesmo 
internacionais como o Centro de Prestação de Serviços Técnicos de Pernambuco - CETEPE 
(estadual) e Empresa Municipal de Informática - EMPREL, e empresas privadas de grande 
porte investindo em tecnologia, tais como os BANORTE, BANDEPE, MERCANTIL, grupo 
BOMPREÇO, grupo BRENNAND, PHILIPS (Sulamérica Teleinformática) e outras. Essas 
instituições formaram gerações de profissionais capacitados tanto nas tecnologias de 
desenvolvimento de software quanto no gerenciamento de tecnologia para negócios. Empresas 
de tecnologia também se destacaram e cresceram mesmo em uma época em que não havia 
computação de pequeno porte e eram necessários grandes investimentos, dentre as quais se 
pode destacar a ASSISTE, PRODASA, PROCENGE, TELESYSTEMES e o grupo ELÓGICA. 
Movimentos associativos também aconteceram. Organizações como a SUCESU 
(Sociedade de Usuários de Computadores) e ASSESPRO (Associação de Empresas de 
Serviços), atuavam desde a década de 1970. O início da década de 1980 trouxe para o Brasil a 
revolução dos computadores de pequeno porte e levou a computação para as mesas com o início 
da popularização dos PCs, ainda sob a legislação protecionista conhecida como a reserva de 
15 
mercado de informática, que foi parte da política geral de substituição de importações 
característica do período militar de governo. 
Com a queda da reserva, a década de 1990 trouxe além da redução dos custos dos 
computadores pessoais também o advento da internet comercial, e no território do Recife um 
conjunto de novas empresas de tecnologia. Nesse território já havia sido proposto ainda no 
governo Marco Maciel, a criação de um “Pólo de Informática”. 
O aumento do número de empresas de tecnologia e o crescimento do mercado com a 
estabilidade econômica pós Plano Real fez crescer as necessidadesassociativas. O Governo 
Federal lançou em 1993 o programa SOFTEX 2000, que redirecionava a política governamental 
para o setor de informática saindo de hardware para software, de pequena para grande escala, e 
de nacional para internacional. ARAUJO (2014) 
Recife se destacou por ter conseguido mobilizar toda a chamada “comunidade de 
informática” em torno do projeto. 
Tudo isso significava, em resumo: um território, uma nova geração de empreendedores 
e técnicos saindo das universidades, empreendedores maduros de maior porte em atividade e 
com algum capital acumulado, gerentes experientes, fornecedores de diversos portes em toda a 
cadeia, um mercado em expansão e um espírito associativo de certa forma imantado pelo 
projeto SOFTEX, que neste período passou a ser um agente local, liderado pelas empresas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
CAPÍTULO 4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
4.1 COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR 
 
 O Comportamento Empreendedor é relevante na análise pela sua importância na 
obtenção de resultados práticos. Na sua tese de doutorado, a doutora Michelle Steiner dos 
Santos, SANTOS (2004), diz: 
 
Defende-se nesta pesquisa, que a eficácia do poder pessoal transcende ao poder 
organizacional. Ou seja, que características de personalidade são essenciais junto ao 
conhecimento técnico, para o êxito de projetos organizacionais, onde o talento, a 
qualificação e a habilidade tornam-se os principais meios de seleção profissional e 
de ascensão social. Neste sentido amplia-se a necessidade de compreender o 
comportamento e o funcionamento da mente humana. SANTOS (2004, p. 28) 
 
 Schumpeter já havia determinado a importância do empreendedor no processo de 
criação de inovação e da inovação na base de um ciclo econômico positivo. Dado o 
estabelecimento da importância do empreendedor, e dado que a política de desenvolvimento 
regional busca oferecer a um território as condições para que tenha um desenvolvimento 
acelerado, entender o comportamento desses empreendedores passa a ser um dos focos de 
estudo. 
A visão de Celso Furtado, relendo Schumpeter, é que 
 
O espírito de empresa, elemento central no pensamento schumpeteriano, surge como 
uma categoria abstrata, independentemente do tempo e de toda ordem institucional. 
É, aparentemente, um dom do espírito humano, assim como a propensão para a troca 
de Adam Smith. O empresário seria fenômeno de todas as organizações sociais, da 
socialista à tribal. FURTADO apud SANTIAGO (2009, pag. 89) 
 
 Esses pensadores identificaram no empreendedor algo diferente da maioria, mas com 
alguns traços em comum entre eles. Observando o mundo, é possível concluir que esses 
pensadores tinham razão em apontar algo de incomum na ação dos empreendedores. Pode-se 
acrescer que na enorme diversidade de caráter, de modo de ação, de personalidade, de valores 
mesmo, que há um conjunto de características comportamentais que é compartilhada pela 
maioria. Dessa observação, pode-se concluir que há o que se pode chamar de super conjunto de 
características, e que cada empreendedor em particular é mais forte ou mais fraco em cada uma 
delas, provavelmente com variações individuais em uma análise temporal. Não somente os 
17 
empreendedores, mas todos os homens e mulheres são mais fortes ou mais fracos nessas 
características. Haverá um mínimo de características nas quais uma pessoa é forte, e 
provavelmente algumas delas em determinados conjuntos harmônicos, que determinarão se tem 
o que se chamaria de característica empreendora. É provável ainda que determinadas 
características sejam mais inatas e outras mais fáceis de se obter por treinamento. De fato, se se 
pode imaginar inatas todas as características, não se poderia falar em treinamento para 
empreendedores no sentido de melhorar ou obter certas características. 
 É mesmo possível imaginar conjuntos indesejáveis, como o caso de um empreendedor 
forte na característica de correr riscos, mas fraco na busca de informações e planejamento. Ou 
forte em planejamento e fraco em iniciativa. Dificilmente uma pessoa será forte ou fraca em 
todas elas, e uma combinação apropriada de características fortes, no meio ambiente correto, 
fará de uma pessoa um empreendedor em potencial. Isso significa que ainda há um caminho 
para a realização do potencial, que é o empreendedor realmente empreender. 
 Para implantação de um APL, são necessárias certas condições iniciais sobre as quais 
se assentarão as políticas públicas de incentivo. Segundo Jair do Amaral Filho, 
Se, de um lado, não é correto traçar etapas pelas quais deverão percorrer os SAPLs, 
de outro, é necessário analisar sua evolução. Neste caso, a trajetória de um sistema 
produtivo depende: i) da origem e das condições iniciais; ii) dos arranjos construídos; 
iii) do ambiente no qual se encontra; e iv) do passado percorrido, ou path 
dependence. AMARAL (2011) 
 
Como parte essencial do “ambiente”, estão os empreendedores, agentes que deverão ter 
a ação encorajada, apoiada e multiplicada, para que haja repercussões que vão além das suas 
próprias empresas. São essas repercussões, que ultrapassam os beneficiários diretos, que 
justificam as ações governamentais e as políticas públicas que suportam o desenvolvimento do 
APL. 
No caso particular do Porto Digital, esses empreendedores formaram alianças e 
buscaram suporte governamental para impulsionar suas ações e fazer do Recife uma base de 
produção nacional de tecnologia. A tese que se apresenta é que essas pessoas tinham um forte 
perfil empreendedor e inovador, e foram parte fundamental do ambiente sobre o qual se ergueu 
o Porto Digital, criado no ano 2000. Se eram empreendedores, se comportaram como tal e esse 
comportamento pode ser observado. 
 
18 
Em sua tese de mestrado, Venturi reproduz um quadro de abordagens para o 
comportamento empreendedor, o que mostra a diversidade existente e de certa forma a 
importância do tema. O Quadro 1 mostra tal diversidade e multiplicidade. 
 
Quadro 1: Diversas abordagens sobre o comportamento empreendedor 
Fonte: BOULTON at al apud VENTURI (2003, p. 56) 
 
 Dentre as diversas linhas de estudo a respeito do comportamento empreendedor, foi 
escolhida a base da metodologia adotada pelo programa EMPRETEC, que no Brasil é realizado 
pelo SEBRAE. SEBRAE (2014) 
 O programa EMPRETEC foi criado pelas Nações Unidas e foi baseado em uma pesquisa 
realizada em países em desenvolvimento. A pesquisa fez um estudo comparativo do 
comportamento de empreendedores bem sucedidos com outros sem sucesso. A pesquisa inicial 
foi realizada por contratação da agência de cooperação norte-americana para conhecer os 
programas de treinamento dos países em desenvolvimento e quais deles tinham efetividade 
comprovável. Este trabalho foi desenvolvido por David McClelland, um dos teóricos 
apresentados no Quadro 1, junto com a MSI, consultoria de Washington dirigida por Marina 
Fanning. ZARA (2013) 
19 
 Em entrevista à revista CONEXÃO, a criadora do programa EMPRETEC para a 
UNCTAD, Marina Fanning, disse: 
 
CONEXÃO: Como foi seu processo de pesquisa para agrupar as 10 características do 
comportamento de sucesso do empreendedor? 
 
Marina Fanning: Elas foram descobertas por meio de entrevistas com empreendedores 
de sucesso em países em desenvolvimento. Então nós comparamos o comportamento 
exibido por eles com o de empresários que não tiveram bons resultados. Isso permitiu 
identificar as atitudes que ajudam e afastam o sucesso. Nesse processo, identificamos 
primeiramente 86 comportamentos individuais e depois refinamos para 30. Esses 30 
foram agrupados nas 10 características comportamentais empreendedoras difundidashoje. ZARA (2013, p. 7) 
 
 
 Os 30 comportamentos citados por Fanning são parte do instrumento de pesquisa de 
campo, no ANEXO 1, e estão agrupados nas também citadas 10 características do 
comportamento empreendedor, conforme indicado no Quadro 2. 
 
Quadro 2 – Comportamentos empreendedores agrupados em características 
Característica Comportamental 
Empreendedora 
Comportamento empreendedor 
 
1) BUSCA DE OPORTUNIDADES E 
INICIATIVA 
a) Faz as coisas antes de solicitado ou forçado pelas circunstâncias 
 b) Age para expandir o negócio a novas áreas, produtos ou serviços 
 c) Aproveita oportunidades fora do comum para começar um 
negócio novo, obter financiamento, equipamentos, terreno, local de 
trabalho ou assistência 
 
2) PERSISTÊNCIA a) Age diante de um obstáculo significativo 
 b) Age repetidamente ou muda de estratégia afim de enfrentar um 
desafio ou superar um obstáculo 
 c) Faz um sacrifício pessoal ou despende um esforço extraordinário 
para completar uma tarefa 
 
3) COMPROMETIMENTO a) Atribui a si mesmo e a seu comportamento as causas do seu 
sucesso e fracassos e assume responsabilidade pessoal pelos 
resultados obtidos 
20 
 b) Colabora com os empregados ou coloca-se no lugar deles, se 
necessário, para terminar uma tarefa 
 c) Esforça-se para manter os clientes satisfeitos e coloca a boa 
vontade a longo prazo acima do lucro a curto prazo 
 
4) EXIGÊNCIA DE QUALIDADE E 
EFICIÊNCIA 
a) Encontra maneiras de fazer as coisas melhor, mais rápido ou 
mais barato 
 b) Age de maneira a fazer coisas que satisfazem ou excedem 
padrões de excelência 
 c) Desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o 
trabalho seja terminado a tempo ou que atenda a padrões de 
qualidade previamente combinados 
 
5) CORRER RISCOS CALCULADOS a) Avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente 
 b) Age para reduzir os riscos ou controlar o resultados 
 c) Coloca-se em situações que implicam desafios e riscos 
moderados 
 
6) ESTABELECIMENTO DE METAS a) Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e têm 
significado pessoal 
 b) Tem visão de longo prazo clara e específica 
 c) Estabelece objetivos de curto prazo mensuráveis 
 
7) BUSCA DE INFORMAÇÕES a) Dedica-se pessoalmente a obter informações dos clientes, 
fornecedores e concorrentes 
 b) Investiga pessoalmente como fabricar um produto ou 
proporcionar um serviço 
 c) Consulta especialista para obter assessoria técnica ou comercial 
 
8) PLANEJAMENTO E 
MONITORAMENTO SISTEMÁTICOS 
a) Planeja dividindo tarefas de grande porte em sub tarefas com 
prazos definidos 
 b) Constantemente revisa seus planos levando em consideração os 
resultados obtidos ou mudanças circunstanciais 
 c) Mantém registros financeiros e os utiliza para tomar decisões 
 
21 
9) PERSUASÃO E REDE DE 
CONTATOS 
a) Utiliza estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir os 
outros 
 b) Utiliza pessoas chave como agentes para atingir seus próprios 
objetivos 
 c) Age para desenvolver e manter relações comerciais 
 
10) INDEPENDÊNCIA E 
AUTOCONFIANÇA 
a) Busca autonomia em relação a normas e controles dos outros 
 b) Mantém seu ponto de vista mesmo diante da oposição ou de 
resultados desanimadores 
 c) Expressa confiança na sua própria capacidade de completar um 
tarefa difícil ou de enfrentar um desafio 
Fonte: Programa EMPRETEC – Nações Unidas – SEBRAE – Material de treinamento 
 
 
 
22 
4.2 INOVAÇÃO 
 Joseph Alois Schumpeter é um dos maiores economistas do século XX, em alguns 
aspectos tem uma visão diferenciada do desenvolvimento econômico, e é a maior referência em 
inovação. Para Schumpeter, a inovação estava na gênese de um ciclo de crescimento 
econômico, na medida em que uma inovação rompe com um equilíbrio, dando ao empreendedor 
inovador a perspectiva de aumento expressivo de sua produtividade, ou de sua participação no 
mercado, ou mesmo na criação de novos mercados. 
 O desenvolvimento de um APL traz consigo um conjunto de condicionantes. Um APL 
de tecnologia da informação tem um condicionante a mais, que é a necessidade de inovação 
para se estabelecer. Depois de ter entrado nas organizações para resolver problemas tipicamente 
“save money”, ou seja, nas funções corporativas de organização para melhorias nas funções já 
existentes como folhas de pagamento, faturamento e contabilidade, a indústria de software 
passou a fazer parte das empresas em aplicações “make money”, ou seja, criando diferencial 
competitivo para as corporações.2 
Em um caso típico no sistema bancário brasileiro, o BANORTE criou e desenvolveu 
um grande centro de processamento de dados cujo núcleo era o sistema de contas correntes. 
Apesar de essencial para a produtividade dos bancários, ter os lançamentos e saldos corretos 
não é nenhuma vantagem especial para os clientes e isso é tido por eles como o mínimo que o 
banco tem que fazer. Até que o banco desenvolveu um sistema de comunicação e tratamento 
de imagens que permitiu que qualquer agência pudesse acessar a imagem das assinaturas dos 
clientes, independentemente da agência ao qual o cliente estava ligado. Isso passou a ser um 
diferencial para o cliente, que passava a contar com toda a rede para realizar saques e não mais 
somente a sua própria agência. Isso era particularmente importante antes da popularização dos 
“cash dispenser”, ou máquinas bancárias de autoatendimento. A campanha de marketing 
chamava a atenção de que agora o cliente era “do banco e não da agência”. Era a tecnologia 
gerando inovação no negócio, e com isso fazendo conquistar mais clientes e melhor posição no 
mercado. É tipicamente uma aplicação da tecnologia para ampliar o faturamento.3 
 
 
 
 
2 Informações obtidas verbalmente em treinamento executivo da IBM Brasil 
3 O exemplo citado no parágrafo foi colhido da experiência do autor, que atuou na época como profissional de 
informática e gestor de empresa de tecnologia 
23 
Aqui pode-se ver Schumpeter em estado puro, quando na sua “Teoria do 
Desenvolvimento Econômico” diz que 
A busca de novos mercados nos quais um artigo ainda não tenha se tornado familiar 
e no qual não é produzido é uma fonte extraordinariamente rica de lucro 
empresarial... SCHUMPETER (1997, p. 135) 
 
 O exemplo acima serve para mostrar a importância da Tecnologia da Informação e 
Comunicação – TIC, na inovação de mercados fora da própria indústria de TIC. Tantos são os 
exemplos de inovações geradas a partir de aplicações de TIC, dentre os quais o uso de robótica 
na fabricação de bens industriais, que alguns autores falam na “terceira revolução industrial” 
ou “revolução técnico-científica”, que além de TIC agrega biotecnologia, química fina e 
nanotecnologia. 
 A importância da inovação em um APL de TIC ganha então uma importância especial. 
Se já o seria em qualquer indústria, na indústria de TIC a inovação tem o papel de definir o 
fracasso ou o sucesso de uma empresa ou de um conjunto delas. Mais que produzir inovações 
internas que o diferenciem dos seus concorrentes, a indústria de TIC precisa oferecer soluções 
que gerem inovação competitiva nos seus clientes. 
 
 
 
24 
4.3 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS 
 Os Arranjos Produtivos Locais – APLs, caracterizam-se, segundo Maurício Romão, por 
... um agrupamento de empresas que conta com algumas empresas líderes geradoras 
de riqueza, via comercialização de produtos e/ou serviços competitivos. Além dessas 
empresas, também são incluídas aquelas que as abastecem com insumos e serviços, 
bem como todas as organizações que oferecem recursos humanos capacitados,tecnologia, recursos financeiros, infraestrutura física e clima de negócios ROMÃO 
apud RANDS (2000) 
 
 Ou, segundo Michel Porter, como 
Concentrações geográficas de empresas e instituições interconectadas numa área de 
atuação particular. Eles incluem um conjunto de empresas e outras entidades ligadas 
que são importantes para competição. Os clusters abrangem, por exemplo, 
fornecedores de insumos especializados, tal como componentes, máquinas, serviços 
e provedores de infraestruturas especializadas. Clusters frequentemente se estendem 
na cadeia para incluir canais de comercialização e mesmo compradores, ou 
produtores de bens complementares, atingindo algumas vezes empresas relacionadas 
por qualificação da mão-de-obra, tecnologias ou insumos comuns. Finalmente, 
muitos clusters incluem instituições governamentais e de outra natureza, tais como 
universidades, instituições de controle de qualidade, empresas de pesquisa e geração 
de ideias, especializadas em qualificação profissional, e associações patronais, que 
proveem treinamentos especializados, educação, informações, pesquisa, e suporte 
técnico. PORTER apud RANDS (2000) 
 
 Segundo Marshall, economista pioneiro na observação do que ele chamou de “distrito 
industrial”, e que é base de uma parte importante da teoria de desenvolvimento local, “quando 
se fala de distrito industrial fazemos referência a uma entidade socioeconômica constituída por 
um conjunto de empresas, que pertencem geralmente a um mesmo setor produtivo, localizado 
numa área circunscrita, entre as quais há cooperação e competição." MARSHALL apud TAPIA 
(2003) 
 Na definição de Marshall, assim como de Porter, vemos claramente a visão territorial, 
uma delimitação visível, mapeável, onde se encontram as outras características de forma 
particularmente concentrada. Essa caracterização territorial é parte essencial da ideia de que é 
possível promover o crescimento econômico a partir de um “polo”, ainda que reconhecidamente 
haja assimetria territorial nesse crescimento. 
 Nesse ponto, a teoria da polarização de François Perroux assume papel definitivo, visto 
que a teoria de Marshall busca uma visão do desenvolvimento das indústrias, enquanto Perroux 
apresenta uma visão de desenvolvimento da região. No trabalho vencedor do prêmio IPEA - 
CAIXA apresentado em 2006 para a ESAF, Anderson Cavalcante aponta que 
 
25 
Entender a aglomeração produtiva como um fator de desenvolvimento regional é 
algo novo frente à conceituação teórica de Marshall, que considerava a aglomeração 
a partir de um ponto de vista do desenvolvimento das indústrias. CAVALCANTE 
(2006, p. 9) 
 
 Outra contribuição essencial de Perroux para a compreensão da dinâmica necessária à 
implantação de um APL é a ideia de espaços mais que geográficos. Simões e Lima, mostram 
que Perroux definiu espaço em três dimensões. 
i) o espaço definido como conteúdo de um plano, sendo este entendido como o 
conjunto das relações estabelecidas entre a empresa, seus fornecedores de input e 
seus compradores de output. É mutável no tempo e independe de seu espaço vulgar; 
ii) o espaço definido como campo de forças, constituído por centros de emanação de 
forças centrífugas e recepção de forças centrípetas. Cada centro tem seu próprio 
campo, que é invalidado pelos campos de outros centros. A zona de influência 
econômica da empresa é determinada por sua capacidade de atrair elementos 
econômicos e pode ou não estar relacionada à sua zona de influência topográfica; e 
iii) o espaço definido como conjunto homogêneo. As relações de homogeneidade 
dizem respeito às unidades ou às relações entre estas unidades (quaisquer que sejam 
as coordenadas no espaço vulgar, o espaço econômico ocupado por estas empresas 
é o mesmo). SIMÕES; LIMA (2010, p. 6) 
 
Essa percepção holística do espaço, admitindo a existência de forças convergentes ou 
conflitantes e também da ideia de homogeneidade, permitem a compreensão do ambiente 
público, empresarial, acadêmico e macroeconômico que estavam presentes no momento da 
criação do Porto Digital. A marca territorial é importante na percepção da aglomeração pelos 
atores diretos e pela sociedade. Cláudio Marinho, que era Secretário de Ciência, Tecnologia e 
Meio Ambiente à época e considerado o idealizador do Porto Digital, destacou na sua entrevista 
para este trabalho que “ao apontar cada edifício, cada parte do chão, cada intervenção realizada 
na ilha, e de me rever no alto das construções que se erguiam, eu mais uma vez me dei conta de 
que algo de muito importante foi feito aqui”4. 
Além do território, nas leituras apresentadas há a existência de “empresas e outras 
entidades”, que estão presentes nesse território. Essas empresas se apresentam de tal forma que 
há entre elas ao mesmo tempo competição e cooperação. Os ganhos de escala externos, em 
particular, são importantes na formação de um APL onde há um conjunto heterogêneo de 
empresas em relação ao porte, e nenhuma delas grande o suficiente para se posicionar como 
“motriz” no sentido apresentado por Perroux. PERROUX apud SIMOES; LIMA (op. cit.) 
 
4 Os comentários do então Secretário de C&T servem para reforçar a visão de território 
26 
No caso de um APL de tecnologia da informação, os ganhos comuns mais sensíveis 
estão relacionados à formação de mão de obra especializada e também à criação de uma imagem 
pública positiva de referência. 
Como externalidade inevitável está o vazamento de conhecimento através da 
mobilidade de pessoas entre as empresas, que com elas carregam 
 conhecimento de tecnologias, tais como linguagens de programação, ambientes 
operacionais, fontes de consulta, etc; 
 conhecimento de mercado, tais como clientes, perfis de clientes, mercados 
compradores, etc; 
 conhecimento gerencial, tais como técnicas e metodologias de desenvolvimento, 
de coordenação de equipes, de incentivo e liderança, etc. 
 
Complementando a ideia do APL está a existência de entidades não empresariais, 
governamentais e não governamentais. Essas entidades estão associadas à governança dos 
esforços públicos, ao associativismo das empresas e das pessoas, da articulação da academia 
com a sociedade, das academias e pesquisadores entre si e com outras escolas nacionais e 
internacionais e centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação. 
As entidades associativas têm importância na transformação de uma demanda 
normalmente difusa, particularizada e por vezes de curto prazo em demanda com um maior 
grau de especificidade, articulada para o longo prazo, de efeito comum e social. Essa demanda, 
agora mais republicana e adequada à articulação com o poder público, é representada não mais 
por pessoa ou empresa, mas por associação. 
As entidades acadêmicas, na raiz da formação de profissionais, aparecem como fonte de 
talentos que são submetidos à transmissão de conhecimento e técnicas conhecidas, e de onde 
florescem novas ideias, novos projetos, novas tecnologias. 
Ao encontrar esses fatores juntos e pesquisando o histórico da criação do Porto Digital 
e seu embasamento teórico, pode-se ver o conceito de “Triple Helix”, ou hélice tripla, que 
apontam na base do APL as relações de Universidade-Indústria-Governo, “indústria” vista 
nesse contexto como setor econômico que no caso estudado é a indústria de tecnologia da 
informação. LEYDESDORFF (2012) 
O conceito de triple helix foi proposto por Etzkowitz & Leydesdorff em 1995, e expressa 
a integração de empresas, universidade e indústria, especialmente quando colocadas de forma 
conjunta para produzir desenvolvimento econômico. LEYDESDORFF (2012) 
27 
Segundo Leydesdorff “In various countries, the Triple Helixconcept has also been used 
as an operational strategy for regional development and to further the knowledge-based 
economy”, que em tradução livre diz que “Em vários países, o conceito de Hélice Tripla tem 
sido usado também com uma estratégia operacional para desenvolvimento regional e para 
aprofundar a economia baseada no conhecimento”. Ou seja, um alto alinhamento com os 
objetivos declarados na criação do APL de tecnologia da informação em Pernambuco, 
conforme consta no capítulo 4 do Estatuto Social do NGPD. 
A figura abaixo, tirada de apresentação institucional do Porto Digital, mostra bem tanto 
a tripla hélice quanto a questão locacional, presentes na concepção do APL. 
 
Figura 1 – A ideia do Porto Digital 
 
 Fonte: Porto Digital – Apresentação Institucional (2011) 
 
28 
CAPÍTULO 5 - METODOLOGIA 
Foi realizada pesquisa bibliográfica para revisão do arcabouço teórico sobre os temas 
abordados. Foram lidos livros, artigos e depoimentos. Foi também realizado uma pesquisa 
empírica, onde se selecionou 10 empreendedores que atuavam no Recife à época da criação do 
NGPD. 
 Para obtenção dos dados primários foram realizadas entrevistas com empreendedores 
que faziam parte da base territorial sobre a qual foi implantado o NGPD no ano de 2000. Estas 
entrevistas visaram medir o grau de empreendedorismo desses homens de negócio, através de 
um padrão já estabelecido e em uso pelo SEBRAE – Programa EMPRETEC. O autor foi 
facilitador credenciado pelas Nações Unidas para o programa EMPRETEC no Brasil, e recebeu 
treinamento nas técnicas de identificação de comportamento empreendedor. 
Para confirmar ou refutar a existência de comportamento empreendedor nos 
empresários e empreendedores públicos atuantes à época da criação do Porto Digital, a amostra 
foi feita com empreendedores que atuaram de forma direta ou indireta na criação do Porto 
Digital. Isso significa que no ano de 2000, todos eles ocupavam posições ou de dirigente de 
entidade privada ou de entidade pública. 
As entrevistas foram feitas pessoalmente, com exceção de uma delas cujo entrevistado 
hoje mora no Rio de Janeiro, e duraram cerca de uma hora, algumas chegaram até três horas. 
Foi aplicada uma entrevista focada, com perguntas que deliberadamente buscam respostas que 
contem histórias específicas. Nessas histórias, o entrevistador buscou os comportamentos 
empreendedores listados no Quadro 2, marcando cada ocorrência clara nas respostas. 
Eventualmente, ao perceber que o entrevistado tangenciou a narrativa de um comportamento, 
mas que ficava evidente a sua existência, o entrevistador fazia perguntas complementares que 
visavam o esclarecimento e por conseguinte a verbalização ou não do comportamento. 
Foi feita então uma totalização de ocorrências dos comportamentos em cada CCE – 
Característica Comportamental Empreendedora. Essas totalizações foram transcritas para uma 
planilha, e foram feitos estudos sobre os resultados globais, desprezando aspectos individuais 
de cada empreendedor em particular. 
Foi realizada uma análise de conjunto, buscando identificar posições fortes ou fracas no 
perfil médio. Dentre as análises efetuadas está a busca específica de conjunto de 
comportamentos que mostre capacidade inovadora. 
29 
As conclusões foram então registradas e se encontram no capítulo específico, de forma 
que apontam qualitativamente e tanto quanto possível quantitativamente, a existência do 
comportamento empreendedor. 
 
5.1 PESQUISA DE CAMPO 
A pesquisa de campo teve como objetivo levantar um perfil empreendedor médio, com 
um conjunto de 10 empreendedores, que estavam em posições chave no ano 2000, que marcou 
a fundação do Núcleo de Gestão do Porto Digital, Organização Social cujo objetivo era fazer a 
articulação das políticas públicas e participar da articulação das três hélices entre si. 
Para identificar os comportamentos empreendedores, o entrevistador fez 6 perguntas, 
pedindo para que as respostas fossem dadas preferencialmente com relatos no mundo 
profissional. 
As perguntas feitas a cada um dos entrevistados foram: 
Tabela 1 – Perguntas da pesquisa de campo 
1) Descreva uma situação na qual você fez alguma coisa por si mesmo 
2) Descreva uma situação na qual você teve que conseguir que alguém fizesse algo 
que você queria 
3) Descreva uma situação em que teve muita dificuldade para conseguir algo 
4) Descreva uma situação na qual você ficou satisfeito por ter realizado algo 
5) Descreva uma situação na qual você tenha corrido riscos calculados 
6) Descreva uma situação na qual você tenha se empenhado de forma excepcional 
 
 Para cada resposta, que normalmente vinha em forma de um relato, o entrevistador 
marcava um traço em cada comportamento empreendedor identificado. 
 Todas as seções de entrevista foram feitas de forma pessoal, previamente marcadas. 
Houve a exceção de um entrevistado por telefone, dado que hoje reside no Rio de Janeiro. 
 Os entrevistados se encontram na lista abaixo: 
 
 
30 
Tabela 2 - Entrevistados 
Entrevistado Organização onde estava em 2000 Tipo de Organização 
Garibaldi Rocha MIDIAVOX Privada 
Herman Braga TRUENET Privada 
Fred Arruda CESAR Pública 
Claudio Marinho SECTMA Pública 
Ismar Kaufman INFORMA Privada 
Gerino Xavier BISA Privada 
José Claudio Oliveira PROCENGE Privada 
Geraldo Andrade PARTEC Privada 
Manoel Amorim FACILIT Privada 
Yves Nogueira CAPITAL LOGIN/KURIER Privada 
 Fonte: ELABORADO PELO AUTOR 
 Além de empresários, a maioria dos presentes na lista dedicavam parte do seu tempo à 
construção de uma articulação comum, com visão de ganhos para toda a sociedade no longo 
prazo, algo na linha do “empreendedorismo cívico”, citado em artigo do professor José Carlos 
Cavalcanti no Jornal do Commercio de 30 de julho de 1998, ainda que com doações muito mais 
do recurso tempo que financeiro. CAVALCANTI (1998) 
 Além da marcação dos comportamentos empreendedores, o autor recebeu valiosas 
informações dos bastidores da criação do Porto Digital, tanto nos aspectos físicos, quanto 
históricos, quanto humanos. Uma rica experiência que mereceria uma atenção especial para 
registro histórico em livro ou documentário. 
 A quantidade de comportamentos identificados foi totalizada por Característica 
Comportamental Empreendedora (CCE) e marcada em uma planilha, calculados em média e 
multiplicados por 5 para manter a compatibilidade com a prática adotada pelo programa 
EMPRETEC. 
 
 
31 
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE DE RESULTADOS 
 
 O resultado final das entrevistas foi o mostrado na tabela abaixo. 
Tabela 3 – Totalização dos pontos em CCEs, calculados na média 
Característica Comportamental Empreendedora – CCE Pontos 
de 
Perfil 
1) BUSCA DE OPORTUNIDADES E INICIATIVA 20 
2) PERSISTÊNCIA 24 
3) COMPROMETIMENTO 19 
4) EXIGÊNCIA DE QUALIDADE E EFICIÊNCIA 16 
5) CORRER RISCOS CALCULADOS 23 
6) ESTABELECIMENTO DE METAS 12 
7) BUSCA DE INFORMAÇÕES 12 
8) PLANEJAMENTO E MONITORAMENTO SISTEMÁTICOS 15 
9) PERSUASÃO E REDE DE CONTATOS 24 
10) INDEPENDÊNCIA E AUTOCONFIANÇA 22 
 Fonte: ELABORADO PELO AUTOR 
 Graficamente, os resultados apresentados são mais fáceis de visualização e são 
apresentados abaixo. 
 
32 
Gráfico 2 – Representação gráfica do perfil empreendedor médio dos entrevistados 
 
 Fonte: ELABORADO PELO AUTOR 
 
 
6.1 DISCUSSÕES 
A pesquisa de campo pode ser avaliada sob diversos aspectos. Em primeiro lugar, pode-
se buscar responder à pergunta se o grupo tem, na média, um comportamento 
caracteristicamente empreendedor. Para McClelland (Op. cit.), perfil com pontuação superior a 
15 indica comportamento empreendedor. Vemos então que temos perfil empreendedormarcado 
em oito das dez características, o que representa um perfil empreendedor forte. FONSECA; 
MUYLDER (2010) 
Para uma análise em grupos, observe-se o gráfico 3 abaixo, que reproduz o gráfico 2, 
mas destacando os comportamentos que obtiveram pontuação de 20 ou mais. 
 
 
33 
Gráfico 3 – CCEs com pontuação de 20 ou mais destacados 
 
 Fonte: ELABORADO PELO AUTOR 
 Vê-se destacadas as CCEs de Persistência, Correr Riscos Calculados, Persuasão e Rede 
de Contatos e Independência e Autoconfiança. São comportamentos tipicamente 
empreendedores. As quatro características com forte pontuação juntas são encontradas 
tipicamente em empresários bem sucedidos5. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 Observação prática do autor como facilitador do programa EMPRETEC 
34 
 Observe-se agora o grupo das CCEs com força intermediária, ainda acima do nível 
empreendedor, destacadas no gráfico abaixo. 
Gráfico 4 – CCEs com pontuação intermediária 
 
 Fonte: ELABORADO PELO AUTOR 
 Vê-se destacadas as CCEs de Busca de Oportunidades e Iniciativa, Comprometimento, 
Exigência de Qualidade e Eficiência e no limite, Planejamento e Monitoramento Sistemáticos. 
São CCEs poderosas, que mostram muito a capacidade de realização de um empreendedor. 
 Somente as CCEs de Estabelecimento de Metas e Busca de Informações se mostraram 
abaixo do nível 15. Frequentemente a CCE de Busca de Informação baixa é combinada com 
Independência e Autoconfiança elevada. A autoconfiança produz a falsa impressão de que o 
empreendedor não precisa de informações externas. É o dilema da família perdida no carro com 
o homem dirigindo, a mulher pedindo para ele parar para perguntar e sua autoconfiança dizendo 
que não precisa. 
 O estabelecimento de metas baixo é característico dos empreendedores latino-
americanos de forma geral e dos brasileiros em particular. É como parte da cultura local, de 
visão de curto prazo. 
 Outra forma de ver o conjunto de resultados é a visão em grupos fortes e fracos. 
 Uma combinação positiva vista no Gráfico 2 são as CCEs 1, 2 e 3 fortes. Busca de 
Oportunidades e Iniciativa, junto com Persistência e Comprometimento, costumam apontar 
para um empreendedor que mantem resultados no longo prazo, já que conjuga compromisso, 
35 
capacidade de manter os esforços e inovação. Em oposição, poder-se-ia pensar em uma 
combinação de Busca de Oportunidades e Iniciativa forte, com Persistência fraca. Como a 
inovação nem sempre gera resultados no curto prazo, tal perfil tende a desperdiçar as boas ideias 
e iniciativas por falta da capacidade de resistência ou resiliência. 
 Nesse aspecto, o grupo apresentou excelente resultado. 
 Uma combinação perigosa no entanto é o conjunto Busca de Oportunidades e Iniciativa 
forte, Independência e Autoconfiança forte e Busca de Informações fraca. Tipicamente, essa 
combinação pode levar a que boas ideias e projetos fracassem por falta de informações técnicas, 
científicas e/ou comerciais. 
 Nesse aspecto, o grupo apresentou um resultado ruim. 
 Outra boa combinação é Correr Riscos Calculados e Persuasão e Rede de Contatos 
fortes. A existência de risco é típica da atividade empreendedora, e sem o risco é impossível 
haver inovação. A capacidade de persuasão e a existência de uma rede de contatos com a qual 
o empreendedor convive e interage, faz com que o risco seja minimizado pela capacidade de 
convencimento ampla. 
 Em compensação, Correr Riscos Calculados forte junto com Busca de Informações 
fraca é uma outra combinação perigosa, já que a busca de informações é essencial para garantir 
a parte “calculada” da CCE de riscos. Nesse aspecto, o grupo apresentou resultado indefinido. 
 Outra combinação interessante é a existência de Persistência e Comprometimento fortes, 
com Estabelecimento de Metas fraca. A persistência pode ser negativa se não estiver a serviço 
de uma visão de longo prazo e a falta de metas impede um monitoramento dos resultados. Assim 
também para o comprometimento. 
 Uma visão específica para a CCE que o autor associa ao ímpeto inovador pode ser feita. 
Neste caso, os comportamentos associados à CCE são a) Faz as coisas antes de solicitado ou 
forçado pelas circunstâncias; b) Age para expandir o negócio a novas áreas, produtos ou 
serviços; e c) Aproveita oportunidades fora do comum para começar um negócio novo, obter 
financiamento, equipamentos, terreno, local de trabalho ou assistência. 
 Nesse ponto, o grupo atingiu uma pontuação específica de 19,5, o que se aproxima de 
20, uma pontuação bastante expressiva. Destes comportamentos, a maior incidência se deu no 
comportamento 1b “Age para expandir o negócio a novas áreas, produtos e serviços”, 
possivelmente o mais característico de inovação dos três comportamentos da CCE. 
36 
CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 
 
A hipótese de partida deste trabalho é que na gênese do APL conhecido como PORTO 
DIGITAL, havia um conjunto de empreendedores inovadores, e que isso foi fundamental para 
o sucesso do APL conforme é possível constatar nos dias de hoje. 
A base teórica que foi apresentada sustenta uma lógica consistente que mostra que 
existem vantagens em uma economia de aglomeração, com os distritos industriais de Marshall 
e a teoria da polarização de Perroux. Estudou-se a base teórica que orientou a criação do NGPD, 
com a “Triple Helix” da articulação universidade-indústria-governo, onde fica mais uma vez 
mostrada a necessidade da existência de um grupo de empresas para o sucesso do 
estabelecimento de um APL 
Também foi caracterizada a inovação como parte do motor de desenvolvimento 
econômico, e como a tecnologia da informação é fator importante para a inovação em qualquer 
setor econômico, notadamente nessa sociedade baseada na informação e o sucesso ou fracasso 
dos produtos e serviços passam muitas vezes por sistemas computacionais, redes sociais ou 
computação móvel. Por outro lado, foi destacada a figura do empreendedor no processo de 
inovação. 
Também foi demonstrado que há características comuns entre os empreendedores bem 
sucedidos, e que é possível medir essas características. 
Foi realizado um levantamento de campo, com entrevistas focadas em alguns dos 
empreendedores que estiveram na cena da criação do Porto Digital, tanto atuando como 
empresários quanto como executivos de instituições chave no processo, ocorrido no ano 2000. 
Desta pesquisa, pode-se concluir com segurança que o grupo estudado apresenta fortes 
características empreendedoras, o que confirma a primeira parte da hipótese de partida, ou seja, 
sim, havia um conjunto de empreendedores. 
Também se pode concluir da pesquisa que a Característica Comportamental 
Empreendedora que o autor elegeu para representar a inovação não estava no grupo das mais 
fortes características do grupo, mas ainda assim foi identificada como forte. 
Com uma análise rigorosa, pode-se dizer que o grupo é mais caracterizado pela 
persistência, comprometimento e autoconfiança do que pela inovação, mas que ainda assim tem 
na inovação um viés forte, que tem que ser levado em consideração. 
37 
A pesquisa confirma a hipótese de partida, ainda que sem a devida força conclusiva. Ou 
seja, sim, os empreendedores tinham um forte traço inovador, mas esse não é o seu principal 
traço empreendedor. 
O modelo adotado para o trabalho é consistente, mas tem pontos fracos. A teoria buscada 
foi quase sempre aquela que corrobora o pensamento do autor, dado que um estudo muito mais 
profundo seria necessário para o confronto com outras teorias. Também o modelo de medida 
do comportamento empreendedor tem suas fragilidades. Como parte de uma entrevista focada,o entrevistado pode ter respondido com histórias que não sejam as que melhor representam as 
suas características. Também o entrevistador pode ter perdido parte dos comportamentos, ou 
não ter tido a percepção de que estavam “escondidos” nas curvas das histórias e portanto não 
tenha provocado o entrevistado com perguntas complementares adequadas. Por fim, o 
relacionamento preexistente entre o entrevistador e os entrevistados pode ter enviesado as 
respostas, provocando omissões compreensíveis para o caso, visto que as situações-resposta 
foram em parte vividas em conjunto. Assim mesmo, considerando as fragilidades, o autor 
considera que o resultado foi satisfatório do ponto de vista de investigação científica. 
Para os gestores públicos que observam o sucesso do Porto Digital e muitas vezes 
buscam informações para replicar o modelo, o trabalho apresenta uma recomendação. 
A implantação de um APL de tecnologia, nas palavras de Cláudio Marinho citando 
Richard Florida, precisa de um “triplo T: tecnologia, talentos e tolerância”. A interpretação do 
autor, depreendida da entrevista, é que esse triplo T funciona como uma medida das condições 
de partida para implantação do APL. A tecnologia é a base do arranjo produtivo e 
evidentemente não poderia ser um elemento ausente. Os talentos são de duas naturezas, sendo 
parte de natureza técnica e artística, refinados nas universidades, e parte de natureza 
empreendedora, lapidados pela concorrência e sobreviventes do mercado. E por fim, a 
tolerância. Essa magnífica qualidade humana, às vezes tão escassa, permite que concorrentes 
busquem juntos soluções que serão boas para si e para outros, agora e depois. Essa tolerância 
que permite que convivam lado a lado talentos técnicos e artísticos, nacionais e estrangeiros, de 
todas as cores, de todas as raças, de todas as crenças e de todas as orientações sexuais. A 
tolerância permite a diversidade. A diversidade oxigena a criatividade e acende a centelha da 
inovação. 
Como decorrência dessa observação, os gestores precisam buscar nos seus territórios as 
características difíceis. O triplo T pode ser alimentado por políticas públicas consistentes, e o 
tempo necessário para que floresça dependerá das condicionantes iniciais. 
38 
 Podemos “ver” o triplo T se houver um conjunto de empresas que conseguem ao mesmo 
tempo competir e cooperar, e conquistar mercados e clientes. Se houver universidades que 
formem gente que sabe fazer, sabe pensar e talvez principalmente, sabe perguntar. E se dessas 
universidades saiam humanos mais preparados para a vida econômica, mas também para a vida 
social. Se esse triplo T puder ser visto, provavelmente as políticas públicas de suporte ao 
crescimento de um APL serão bem sucedidas. 
 No caso do Porto Digital, havia as condicionantes citadas por Jair do Amaral Filho (op. 
cit.), que se resumem em i) da origem e das condições iniciais; ii) dos arranjos construídos; iii) 
do ambiente no qual se encontra; e iv) do passado percorrido. 
Havia uma história. Havia um território. Havia um conjunto de empresas. Havia talentos 
sendo bem preparados nas universidades. Havia empreendedores. Havia vontade política. 
 
Ao sair da última entrevista, realizada no coração do bairro do Recife, na ilha chamada 
de Antônio Vaz, em um edifício empresarial moderno construído com o esforço coletivo que 
abriga mais de 40 empresas de tecnologia, em uma semana já impregnada de Carnaval, o autor 
se deparou com dois empresários, um professor e um visitante conversando na rua em inglês, 
enquanto foliões animados tomavam cerveja na calçada e uma troça de maracatu esquentava os 
seus instrumentos. 
Do berço esquecido do Recife se ergueu um arranjo produtivo, em um espaço urbano 
que abriga tecnologia e cultura, trabalho e lazer. Convivendo juntos o ontem, o hoje e o amanhã. 
 
Uma tripla hélice, mostrando um triplo T, no tempo tríbio de Gilberto Freyre. 
 
 
 
 
 
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