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1 CARBOIDRATOS Introdução Os carboidratos são a classe mais abundante de moléculas orgânicas encontradas na natureza. O nome carboidrato advém da fórmula molecular básica (CH2O)n, que pode ser reescrita como (C.H2H)n para mostrar que essas substâncias são hidratos de carbono, onde n ≥ 3. Os carboidratos constituem um classe vers Nomenclatura dos Carboidratos Os carboidratos são classificados em três grupos: monossacarídeos (e seus derivados), oligossacarídeos e polissacarídeos. Os monossacarídeos, também chamados de açúcares simples, têm a fórmula (CH2O)n. Os monossacarídeos não podem ser quebrados em açúcares menores em condições suaves. Os oligossacarídeos têm seu nome derivado da palavra grega oligo, que significa “poucos”, e consistem de dois a dez moléculas de açúcares simples. Os dissacarídeos são comuns na natureza, e os trissacarídeos também ocorrem com freqüência. Oligossacarídeos com 4 a 6 unidades estão geralmente ligados a outras moléculas, incluindo as glicoproteínas. Como seu nome sugere, o polissacarídeos são polímeros de açúcares simples e de seus derivados. Estes podem ser lineares ou ramificados e podem conter centenas a milhares de unidades de monossacarídeos. Seu peso molecular está na faixa de 1 milhão ou mais. Monossacarídeos Classificação Os monossacarídeos consistem tipicamente de três a sete átomos de carbono e são descritos tanto como aldoses ou cetoses, da molécula conter a função aldeído ou um grupamento cetona. A aldose mais simples é o gliceraldeído, e a cetose mais simples é a diidroxicetona (Fig. 1). Esses dois açúcares simples são denominados trioses porque cada um deles contem três átomos de carbono (ver a família de aldoses e cetose com três, quatro, cinco e seis carbonos nas Fig. 2 e 3). As hexoses são os acúcares mais abundantes na natureza. Além disso, os açúcares dessa classe são importantes para o metabolismo. Aos monossacarídeos, aldoses e cetoses, são dados nomes genéricos mais detalhados para descrever tanto o grupo funcional como para indicar o número de átomos de carbono. Logo, pode-se referir a aldotetroses e cetotetroses, aldopentoses e cetopentoses, aldohexoses e cetohexoses, e assim por diante. Em alguns casos, o monossacarídeo contendo o grupamento cetona são denominados simplesmente inserindo as letras ul no meio do termo simples genérico, tal como tetruloses, pentuloses, hexuloses, heptulose, e assim por diante. Os monossacarídeos mais simples são solúveis em água e a maioria tem o gosto doce. Estereoquímica As aldoses com pelo menos três carbonos e as cetoses com pelo menso quatro carbonos contém um centro quiral ou assimétrico (um átomo de carbono ligado a quatro átomos ou grupos de átomos diferentes). A nomenclatura para essas moléculas deve especificar a configuração relacionada a cada centro assimétrico, e a representação da estrutura dessas moléculas deve ser baseada em um sistema que claramente especifique essas configurações. As estruturas mostradas nas figuras 1 e 2 são projeções de Fischer. Para monossacarídeos com dois ou mais carbonos assimétricos, o prefixo D ou L se refere à configuração do carbono assimétrico de maior número (o carbono assimétrico mais afastado do carbono carbonílico). Logo, o monossacarídeo é designado D se o grupo hidroxila no carbono assimétrico de maior número está localizado à direita na projeção de Fischer, como no D-gliceraldeído (fig. 1). Nata-se que a 2 designação D ou L relata meramente a configuração de uma dada molécula, como o gliceraldeído, e não especifica se o sinal de rotação. Se o sinal de rotação óptica é para ser especificado no nome, a convenção de Fischer das designações D ou L podem ser usadas junto com + (mais) ou − (menos). Então, a D-glucose pode ser chamada D(+)-glucose porque é dextrorrotatória, enquanto a D-frutose, que é levorrotatória, pode ser também chamada D(−)-frutose Todas as estruturas mostradas nas figuras 2 e 3 estão na configuração-D, e as formas D dos monossacarídeos são predominantes na natureza, assim como os aminoácidos predominam na forma L. Estas preferências, estabelecidas aparentemente por uma escolha aleatória no primórdios da evolução, persistem uniformemente na natureza por causa da estereoespecificadade das enzimas que sintetizam e metabolizam essas pequenas moléculas. Os L-monossacarídeos existem na natureza, servindo a poucas funções relativamente especializadas. A L-galactose é um constituinte de certos polissacarídeos, e a L-arabinose é um constituinte da parede celular de bactérias. Por convenção, as formas D- e L- de um monossacarídeos são imagens especulares um do outro, como mostra a Figura 4 para a frutose. Estereoisômeros que são imagens especulares um do outro são chamados enantiômeros, ou algumas vezes pares enantioméricos. Para moléculas que possuem dois ou mais centros quirais, mais de dois estereoisômeros podem existir. Qualquer estrutura em um dado grupo das Figuras 2 e 3 são pares diastereoméricos. Dois açúcares quer diferem na configuração por um único centro quiral são descritos como epímeros. Por exemplo, D- manose e D-glucose são epímeros, enquanto D-glucose e D-talose não são epímeros mas meramente diastereoisômeros Figura 1 estrutura de uma aldose simples (gliceraldeído) e de uma cetose simples (diidroxicetona). 3 Figura 2. Estruturas e relações estereoquímicas das D-aldoses com três a seis carbonos. A configuração D é determinada pelo carbono assimétrico de maior numeração de cada séri (em cinza). Em cada grupo, o novo carbono assimétrico é mostrado em vermelho. 4 Figura 3.Figura 2. Estruturas e relações estereoquímicas das D-cetoses com três a seis carbonos. A configuração D é determinada pelo carbono assimétrico de maior numeração de cada série (em cinza). Em cada grupo, o novo carbono assimétrico é mostrado em vermelho Figura 4. D-Frutose e L-frutose, um par enantiomérico. Mudando-se a configuração em C-5 a D-frutose mudará para L-sorbose. 5 Estruturas Cíclicas e Formas Anoméricas Embora as projeções de Fischer sejam úteis para apresentar as estruturas de monossacarídeos e de seus estereoisõmeros, estas ignoram uma das mais facetas mais interessantes da estrutura do açúcar – a caçpacidade de forma estruturas cíclicas com a formação de um centro assimétrico adicional. Alcoóis reagem prontamente com aldeídos para formar hemiacetais (Figura 5). O químico de carboidratos britânico, Sir Norman Haworth, mostrou que a forma linear da glucose (e de outras aldohexoses) podia se submeter a uma reação intramolecular similar para formar um hemiacetal cíclico. O anel de seis membros resultante, contendo um oxigênio, é semelhante ao pirano e denominado uma piranose. A reação é catalisada por ácido (H+) ou base (OH-) e é completamente reversível. Figura 6. Projeções de Haworth para uma cetohexose (frutose). Figura 5. Projeções de Haworth para uma aldohexose (glicose). 6 De modo semelhante, as cetonas podem reagir com alcoóis para formar hemicetais. A reação intramolecular análoga de um açúcar cetose, como a frutose, produz um hemiacetal cíclico (Figura 6). O anel de cinco membros então formado é reminiscente ao furano e é referido como furanose. As formas cíclicas piranose e furanose são as preferidas dos açúcares em meio aquoso. No equilíbrio, a estrutura em forma de aldeído ou cetona linear é só um mínimo componente da mistura (geralmente menos que 1%). Quando hemiacetais e hemicetais são formados, o átomo de carbono que carrega a função carbonila torna-se um carbono assimétrico. Isômeros de monossacarídeos que diferem em sua configuração só em relação a este átomo de carbonosão chamados anômeros, designados como α ou β, como mostra a Figura 5, e o carbono carbonílico é então chamado de carbono anomérico. Quando a hidroxila no carbono anomérico estiver no mesmo lado do átomo de oxigênio do carbono de maior número da projeção de Fischer, a configuração do carbono anomérico é α, com na α-d- glucopiranose. Quando a hidroxila anomérica estiver no lado oposto da projeção de Fischer, a configuração é β, como na β-D-glucopiranose. A adição desse centro assimétrico na formação do hemiacetal e do hemicetal altera as propriedades de rotação dos monossacarídeos, e a utilização das notações α e β surgiram a partir de estudos dessa propriedades. Inicialmente, os químicos observaram que a roração de uma solução de glicose (e de outros açúcares) mudava com o tempo, um processo chamado mutarrotação. Isto indicava que uma mudança estrutural estava ocorrendo. Descobriu-se eventualmente que a α-D- glicose tem rotação óptica específica, [ α]D20, de 112,2o, e que a β-D-glicose tem uma rotação específica de 18,7o. A mutarrotação envolve a interconversão das formas α e β do monossacarídeo com a formação de um aldeído ou cetona linear (Figuras 5 e 6). Projeções de Haworth As projeções de Haworth propõem a representação da piranose e furanose como anéis hexagonais e pentagonais perpendiculares ao plano do papel, com linhas mais grossas indicando o lado do anel próximo ao leitor. Essas projeções são largamente usadas para representar estruturas de sacarídeos (Figuras 5 e 6), mostrando os grupos substituintes se projetando para tanto para cima como para baixo do anel. Substituintes localizados do lado esquerdo na projeção de Fischer são representados para cima na projeção de Haworth. Substituintes localizados do lado direito na projeção de Fischer são colocados para baixo na projeção de Haworth. Exceções para essa regra ocorrem na formação da forma furanosídica das pentoses e na formação das formas da furanose e piranose de hexoses. Nesses casos, a estrutura deve ser redesenhada com uma rotação sobre o carbono cuja grupo hidoxil estiver envolvido na formação da forma cíclica (Figuras 7 e 8), com o objetivo de orientar o grupo hidroxil apropriadamente na formação do anel. 7 Embora as projeções de Haworth sejam convenientes para apresentar estruturas de monossacarídeos, elas não representam precisamente as conformações dos anéis de piranose e furanose. Dados os ângulos de ligações tetraédricas C-C-C de 109o e C-O-C de 111o, nem os anéis de piranose nem de furanose podem adotar estruturas planas verdadeiras. Ao invés disso, eles adquirem conformações em dobras e, no caso das piranoses, as duas estruturas favoráveis são a conformação de cadeira e a conformação de barco, mostradas na Figura 8. Nota-se que os substituintes nessas estruturas podem ser equatoriais, parecendo aproximadamente coplanares com o anel, ou axiais, paralelos a um eixo que atravessa o anel, como mostrado na figura. Dois papéis determinam a conformação a ser adotada por uma dada unidade de sacarídeo. Primeiro, a maioria dos grupos substituintes nesses anéis são mais estáveis quando ocupam posições equatoriais do que em posições axiais e, segundo, conformações em cadeira são levemente mais estáveis que conformações em bote. Para uma piranose típica, como a β-D-glicose, existem duas possíveis conformações em cadeira (Figura 8). De todas as D-aldohexoses, a β-D-glicose é a única com todos os grupos na posição equatorial. Com essa vantagem, explica-se o fato de que β-D-glicose é o monossacarídeo de maior ocorrência na natureza e a hexose central no metabolismo dos carboidratos. Figura 7. A D-glicose e a D-ribose podem ser ciclizadas de duas maneiras diferentes, formando piranoses ou furanoses. 8 O a a ea e e a e a e O a a ea e e a e a e Eixo Eixo Cadeira Bote (a) (b) O H H OHH OH OH H CH2OH H OH O OH OH H OH H H OH H H CH2OH Figura 8. Conformação em cadeira e bote de um açúcar piranosídico. (b) Duas possíveis conformações da β-D- glicose. Derivados dos Monossacarídeos Uma variedade de reações químicas e enzimáticas produz derivados a partir de um açúcar simples. Essas modificações produzem uma gama variada de derivados sacarídeos, como é mostrado a seguir. Açúcares Ácidos Açúcares com átomos de carbono anomérico são agentes redutores razoavelmente bons e podem reduzir peróxido de hidrogênio, ferricianeto, certos metais (Cu2+ e Ag+) e outros agentes oxidantes. Tais reações convertem o açúcar a um açúcar ácido. Por exemplo, a adição de uma solução alcalina de CuSO4 (chamada de solução de Fehling) a uma açúcar aldose produz um precipitado vermelho de óxido cuproso (Cu2O): RC O H + Cu2+ + 5OH- RC O O- + Cu2O + 3H2O Aldeído Carboxilato e converte a aldose a um ácido aldônico, como o ácido glucônico (Figura 9). A formação do precipitado vermelho de Cu2O constitui um teste positivo para um aldeído. Carboidratos que podem reduzir agentes oxidantes, nesse caso são considerados açúcares redutores. Quantificando-se a quantidade de agentes oxidantes reduzidos pelo açúcar numa solução, pode-se determinar com precisão a quantidade açúcar. A diabetes mellitus é uma condição que causa altos níveis de glicose na urina e no sangue, e a análise freqüente de açúcar redutores em pacientes diabéticos é uma parte importante do diagnóstico e do tratamento dessa doença. Os monossacarídeos podem ser oxidados enzimaticamente em C-6, produzindo ácidos urônicos, como os ácidos D-glucorônico e L-idurônico (Figura 9). O ácido L-idurônico é semelhante ao ácido D-glucorônico, exceto por apresentarem configuração oposta em C-5. Oxidação em C-1 e C-6 produz ácidos aldáricos, como o ácido D-glucárico. 9 C C C C C CH2 OH O H OH OH H H OH H OH H COOH C C C C CH2 OH H OH OH H H OH H OH COOH C C C C COOH H OH OH H H OH H OH O H H OHH OH OH H CH2OH H OH Oxidação em C-1 Oxidação em C-6 Oxidação em C-1 e C-6 Ácido D-glucônico Ácido D-glucorônico (GlcUA) Ácido D-glucárico OH C OH H H H OH OH H OH O CH2OH O CH H H OH OH H OH O CH2OH + OH- Ácido D-glucônico D-δ−Gluconolactona O H H OHH OH OH H CH2OH H OH Ácido L-Idurônico (IdUA) Figura 9. Figura 9. Açúcares ácidos a partir da oxidação da D-glicose. Açúcares Alcoóis Os açúcares alcoóis podem ser preparados por redução suave do grupo carbonila de aldoses e cetoses com NaBH4 (tetraboreto de sódio) ou agentes similares. Os açúcares alcoóis, ou alditóis, são designados pela adição de -itol ao nome do açúcar parental (Figura 10). Os alditóis são moléculas lineares que não podem se ciclizar como as aldoses. No entanto, os alditóis são caracteristicamente doces e largamente usados para adoçar gomas de mascar e balas sem açúcar. O acúmulo de sorbitol nos olhos de diabéticos está implicado com a formação de catarata. O glicerol e o mio-inositol, um álcool cíclico, são componentes de lipídeos. Existem nove diferentes estereoisômeros do inositol; um dos mostrados na Figura 10 foi isolado inicialmente do miocárdio e por isso tem o prefixo mio- de músculo. O ribitol é um constituinte das coenzimas flavínicas. CH2OH C C C C CH2OH H OH OH H H OH H OH CH2OH C C C CCH2OH OH H OH H H OH H OH CH2OH C C C CH2OH H OH OH H H OH CH2OH C CH2OH H OH OH OH OH OH OH OH H H H H H H CH2OH C C C CH2OH H OH H OH H OH D-Glucitol D-Manitol D-Xilitol D-Glicerol mio-Inositol D-Ribitol Figura 10. Estruturas de alguns açúcares alcoóis. Deoxi-açúcares Os deoxi-açúcares são monossacarídeos com um ou mais grupos hidroxilas substituídos por hidrogênios. A 2-deoxi-D-ribose (Figura 11), conhecida sistematicamente por 2-deoxi-D- 10 eritropentose, é um constituinte do DNA em todos os seres vivos. Os deoxi-açúcares também ocorrem com freqüência nas glicoproteínas e polissacarídeos. A L-fucose e a L-ramnose, ambos 6- deoxi-açúcares, são componentes de parede celular, e a ramnose é um dos componentes da ouabaína (Figura 11), um glicosídeo cardiotóxico encontrado na casca e raízes do ouabaio (Acokanthera ouabaio). A ouabaína inibe a ATPase da bomba de Na+/K+ no miocárdio e é usada pelos Somalis no Leste da África como veneno de flechas. O H OH H H H OH CH2OH H O H HCH3 OH H H OH OH OH H O H OHCH3 H OH H OH H OH H 2-Deoxi-α-D-Ribose α-L-Ramnose (Rha) α-L-Fucose (Fuc) O H HCH3 OH H H OH OH O H CH3 CH2 OH O O OHOH OH OH Ouabaina Figura 11. Alguns deoxi-açúcares e a ouabaina, que contém alfa-L-ramnose (Rha). Átomos de H marcados em vermelhos estão nas posições deoxi. Açúcares-ésteres Os ésteres fosfatos de glicose, frutose e de outros monossacarídeos são importantes intermediários metabólicos, e a porção ribose dos nucleotídeos como o ATP e GTP é fosforilada na posição 5’ (Figura 12). O OPO3 2- H H H OH OH H OH H CH2 OH O CH2OPO3 2- OH H OH OH H 2-O3POH2C H α-D-Glicose-1-fosfato α-D-Frutose-1,6-bifosfato O O OHOH P O O- P O O O- O- O- O O P N N N N NH2 Adenosina-5'-trifosfato (ATP) Figura 12. Alguns açúcares ésteres importantes para o metabolismo. Aminoaçúcares Os aminoaçucares, incluindo a D-glucosamina e a D-galactosamina (Figura 13), contêm um grupo amino (no lugar do grupo hidroxila) na posição C-2. Eles são encotrados em muitos oligo- e polissacarídeos, incluindo a quitina, um polissacarídeo do exoesqueleto de crustáceos e 11 insetos. O ácido murâmico e o ácido neuramínico, que são componentes dos polissacarídeos da membrana celular de organismos superiores e também da parede celular bacteriana, são glucosaminas ligadas a ácidos de três carbonos pelas posições C-1 e C-3. No ácido murâmico (assim chamado por ter sido isolado de parede celular bacteriana, do latim murus (=muro, parede)), o grupo hidroxila da porção ácido láctico faz uma ligação éter com C-3 da glucosamina. O ácido neuramínico (uma amina isolada do tecido nervoso) forma uma ligação C−C entre o C-1 da N- acetilmanosamina e o C-3 do ácido pirúvico (Figura 14). Os derivados N-acetil e N-glicolil do ácido neuramínico são conhecidos com ácidos siálicos e são amplamente distribuídos em bactérias e sistemas animais. O H H H H OH OH H NH2 OH CH2OH O H H H OH H OH H NH2 OH CH2OH β-D-2-glucosamina β-D-2-galactosamina Figura 13. Estruturas da D-glucosamina e da D-galactosamina. O H H H H OH O H NH2 OH CH2OH CH3 CH COOH C C C C C CH2OH OH NH H OH H H OH H OH H CH2 C COOH O CCH3 O N-Acetilmanosamina Ácido pirúvico Ácido N-Acetil-D-neuramínico (NeuNAc) C C C C C CH2OH OH NH H H H OH H OH H CH2 CHOOC O CCH3 O O CCH3 O O OH H NH OH H OH H COOH H C C CH2OH H OH H OH C O CH3 O OH H OH H H H COOH OH NH OH HOH2C H HOH Ácido murâmico Projeção de Fischer Projeção de Haworth Conformação de cadeira Ácido N-acetil-D-neuramínico (NeuNac), um ácido siálico Figura 14. Estruturas dos ácidos murâmico e siálico e algumas formas de representação do ácido siálico. 12 C OH H R' OR + R'' OH C O H R' OR R'' + H2O C OH R'' R' OR + R''' OH C O R'' R' OR R''' + H2O Hemiacetal Acetal Hemicetal Cetal Figura 15. Acetais e cetais podem ser formados a partir de hemiacetais e hemicetais. Acetais, Cetais e Glicosídeos Hemiacetais e hemicetais podem reagir com alcoóis na presença de ácido para formar acetais e cetais (Figura 15). Esta reação é um exemplo de síntese por desidratação e é semelhante à reação que ocorre com aminoácidos para formar peptídeos e com nucleotídeos para forma ácidos nucléicos. As formas piranosídicas e furanosídicas dos monossacarídeos reagem com alcoóis desse modo para formar glicosídeos com a retenção da configuração α ou β no carbono C-1. A nova ligação entre o átomo de carbono anomérico e o átomo de oxigênio do álcool é chamada de ligação glicosídica. Os glicosídeos são denominados de acordo com o monossacarídeo parental. Por exemplo, o metil-β-D-glucosídeo (Figura 16) pode ser considerado um derivado da β-D-glucose. O OCH3 H H H OH OH H OH H CH2 OH O H H H H OH OH H OH OCH3 CH2 OH Metil-α-Dglicosídeo Metil-β-D-glicosídeo Figura 16. As formas anoméricas do metil-D-glucosídeo. Oligossacarídeos Dada à relativa complexidade dos oligassacarídeos e dos polissacarídeos nos organismos superiores, é surpreendente que essas moléculas sejam formadas a partir de relativamente poucas unidades diferentes de monossacarídeos. Nesse aspecto, os oligo- e polissacarídeos são parecidos com as proteínas; ambos formam estruturas complexas baseadas num pequeno número de diferentes blocos constitutivos. As unidades dos monossacarídeos incluem as hexoses glucose, frutose, manose e galactose e as pentoses ribose e xilose. Dissacarídeos Os oligossacarídeos mais simples são os dissacarídeos, que consistem em duas unidades de monossacarídeos unidos por uma ligação glicosídica. Como as proteínas e os ácidos nucléicos, cada unidade individual em um oligossacarídeos é denominado um resíduo. Os dissacarídeos da Figura 17 são todos encontrados correntemente na natureza, sendo a sacarose, a maltose e a lactose os mais comuns. Cada um é um acetal misto, com um grupo hidroxila formado intramolecular e uma hidroxila do outro monossacarídeo. Com exceção da sacarose, cada uma dessas estruturas possuem um átomo de carbono anomérico livre não substituído, de modo que cada um desses dissacarídeos é um açúcar redutor. A extremidade da molécula contendo um carbono anomérico livre é chamada de 13 extremidade redutora, e a outra extremidade é chamada de estremidade não redutora. No caso da sacarose, ambos os átomos de carbonos anoméricos são substituídos, isto é, nenhum tem um grupo −OH livre. Os carbonos anoméricos substituídos não podem ser convertidos à configuração aldólica e então não podem participar das reações de oxido-redução características dos açúcares redutores. Daí, a sacarose não é um açúcar redutor. A maltose,isomaltose e celobiose são todas homodissacarídeos porque todas contêm um só tipo de monossacarídeo, ou seja, a glucose. A maltose é produzida a partir do amido (um polímero de α-D-glucose produzido pelas plantas) pela ação de enzimas amilolíticas (amilases), e é um componente do malte, um produto obtido deixando-se grãos (de cevada, em particular) umedecerem em água e germinarem. A enzima diástase, produzida durante o processo de germinação, catalisa a hidrólise do amido à maltose. A maltose é usa em bebidas (leite maltado, por exemplo) e, quando fermentada por levedura, é importante na produção de cerveja. Tanto a maltose como a celobiose, as unidades de glucose estão unidas por ligações 1→→→→4, ou seja, C-1 de uma glucose está ligada por uma ligação glicosídica ao oxigênio de C-4 da outra glucose. A única diferença é a configuração da ligação glicosídica. A maltose existe na configuração α, enquanto a celobiose é β. A isomaltose é obtida pela hidrólise de alguns polissacarídeos (como a dextrana), e a celobiose é obtida pela hidrólise ácida da celulose. A isomaltose também consiste em duas unidades de glucose com uma ligação glicosídica, mas neste caso, C-1 de uma glucose está ligada a C-6 da outra, e a configuração é α. Para designar de forma abreviada a estrutura desses dissacarídeos, usa-se α ou β, para se denotar a configuração e um número apropriado par indicar a natureza da ligação. Então, a celobiose é Glcβ1−4Glc, enquanto a isomaltose é Glcα1−6Glc. Em geral, a ligação glicosídica é escrita com uma seta de modo que a celobiose e a isomaltose podem ser escritas como Glcβ1→4Glc e Glcα1→6Glc, respectivamente. Como a ligação do primeiro açúcar está sempre em C-1, uma nova tendência é desprezar o 1− ou 1→ e escrever simplesmente Glcβ4Glc e Glcα6Glc, respectivamente. Um nome mais completo pode ser usado, todavia, tal que a maltose será O-α-D- glucopiranosil-(1→4)-D-glucopiranose. β-D-Lactose (O-β-D-Galactopiranosil-(1→4)-D-glucopiranose (Figura 17) é o principal carboidrato do leite e é importância nutricional crítica nos estágios iniciais do desenvolvimento dos mamíferos. A lactose não pode ser absorvida diretamente na corrente sangüínea. Ela tem que ser quebrada em galactose e glucose pela lactase, uma enzima intestinal que existem em jovens, lactantes mas não é produzida em quantidades significantes em mamíferos maduros. A maioria dos humanos, com exceção de certos grupos africanos e do norte da Europa, produz só poucos níveis de lactase na fase adulta. Para a maioria das pessoas, isto não é problema, mas algumas não toleram lactose e sofrem dores intestinais e diarréia após consumo de leite. Sacarose, ao contrário da lactose é o dissacarídeo de tolerância quase universal. Produzida por muitas plantas superiores e conhecido comumente como açúcar de mesa, é um dos produtos d fotossíntese e é composto de frutose e glucose. A sacarose tem uma rotação óptica específica, [α]D20, de +66,5o, mas uma mistura equimolar de seus monossacarídeos tem uma rotação líquida negativa ([α]D20 da glucose é +52,5o e da frutose é −92o). A sacarose é hidrolisada pela enzima invertase, assim chamada pela inversão da rotação óptica que acompanha essa reação. A sacarose é facilmente hidrolisada por ácido diluído, aparentemente porque a frutose na sacarose está numa forma relativamente instável da furanose. Embora a sacarose e a maltose sejam importantes para a dieta humana, estes não são absorvidos diretamente no organismo. Tal como a lactose, estas são hidrolisada pela sucrase e maltase, respectivamente, no intestino. 14 O H H H OH H OH H OH CH2OH O O H H H OH H OH CH2OH HOH O H H H OH OH H OH H CH2OH O O H H H OH H OH HOH CH2OH O H H H H OH OH H OH CH2OH O O H H H OH H OH CH2OH HOH O H H H OH OH H OH H CH2OH O OCH2OH OH H H OH H CH2OH O H H H OH OH H OH H CH2OH O H H H OH OH H OH CH2 O HOH Lactose (galactose-β-1,4-glucose) Maltose (glucose-α-1,4-glucose) Sacarose (glucose-α-1,2-frutose) Celobiose (glucose-β-1,4-glucose) Isomaltose (glucose-α-1,6-glucose Carbono anomérico livre (terminal redutor) Figura 17. As estruturas de alguns dissacarídeos importantes. A notação HOH significa que a configuração pode ser tanto alfa como beta. Oligossacarídeos Maiores Além dos dissacarídeos simples, muitos outros oligossacarídeos são encontrados em procariontes e em eucariontes, tanto ocorrendo naturalmente ou como produtos de hidrólise de componentes naturais. A Figura 18 mostra um número de oligossacarídeos, juntamente com a descrição de sua origem e características interessantes. Alguns são constituintes de néctares doces ou de seivas exsudadas ou extraídas de plantas e árvores. As cicloamiloses são oligossacarídeos interessantes e úteis, e em solução podem forma “pockets” moleculares de vários diâmetros. Esses pockets são capazes de formar complexos de inclusão estereoespecíficos com moléculas que podem ficar retidas dentro dos pockets. Desse modo, misturas de estereoisômeros de pequenas moléculas podem ser separados em isômeros puros e colunas de cicloheptamilose, poexemplo. A estaquiose (Figura 18) é típica dos oligossacarídeos encontrados em grande quantidade em feijões, ervilhas, farelos e grãos integrais. Esses oligossacarídeos não são digeridos pelas enzimas digestivas, mas são metabolizados facilmente pelas bactérias do intestino. Isto causa flatulência que geralmente seguem ao uso desses alimentos. Atualmente, existem produtos comerciais que auxiliam na digestão dos componentes produtores de gases desses alimentos. Esses produtos contêm uma enzima que hidrolisa os oligossacarídeos no estômago antes deles tornarem- se disponíveis para as bactérias intestinais. A amgdalina, que ocorre na amêndoa amarga e nas sementes e caroços das cerejas, pêssegos e apricós, quando hidrolisada e com subseqüente oxidação, produz a laetrila, que tem sido mencionada como tendo propriedades anticâncer. Mas não há evidências científicas para isso, nem o FDA nunca aprovou seu uso nos EUA. 15 O OH OH OH CH2OH O CH2OH H O OH H CH2OH H O OOH OH OH CH2OH Melezitose (um cosntituinte do mel) C H CN O O OH OH OH CH2O O OH OH OH CH2OH CHO O OH OH OH COOH CN Amigdalina (ocorre em sementes de Rosaceae, é um glicosídeo da amêndoa amarga, em caroços de cerejas, pera e abricó) Laetrile (referida como agente anticâncer, mas sem nenhuma evidência científca rigorosa) O O O O O O O O O O O O O O CH2OH HOH2C HOH2C HOH2C CH2OH CH2OH CH2OH OH OH OH OH OH OH OH OH OH OH OH OH Cicloheptamilose (um produto da degradação do amido; usado em separações cromatográficas) O O CH2OH OH OH CH2OH O OH OH OH CH2 O OOH OH OH CH2 O OOH OH OH CH2OH Estaquiose (um constituinte de muitas plantas: jasmin branco, tremoço, lentilha, soja: caisa flatulência uma vez que humanos não podem digerir) O OOH OH OH CH2OH O OOH OH OH CH2 O OHOH OH OH CH2 Destranotriose (um constituinte do saqué e do mel) Figura 18. As estruturas de alguns oligassacarídeos interessantes. Polissacarídeos Estrutura e Nomenclatura A maioria dos carboidratos na natureza ocorre na forma de polissacarídeos. Por definição, polissacarídeos incluem não somente aquelas substâncias compostas sóde resíduos de açúcar unidos por laços glicosídicos mas também moléculas que contêm estruturas sacarídeas poliméricas ligadas via ligações covalentes a aminoácidos, peptídeos, proteínas, lipídeos e outras estruturas. Polissacarídeos, também chamados glicanas, consistem de monossacarídeos e de seus derivados. Se um polissacarídeo contém só um tipo de molécula de monossacarídeo, este é um homopolissacarídeo, ou homoglicana, enquanto aqueles que contêm mais de um tipo de monossacarídeo são heteropolissacarídeos, ou heteroglicanas. O constituinte mais comum dos polissacarídeos é a D-glucose, mas a D-frutose, D-galactose, L-galactose, D-manose, L-arabinose e D-xilose também são comuns. Os derivados comuns de monossacarídeos que são encontrados nos polissacarídeos são os aminoaçúcares (D-glucosamina e D-galactosamina), seus derivados (ácido N- acetilneuramínico e ácido N-acetilmurâmico) e açúcares ácidos simples (ácidos glucorônico e idurônico). Os homopolissacarídeos são geralmente denominados pelo nome da unidade de açúcar que este contém, de modo que homopolissacarídeos de glucose são chamados de glucanas, enquanto os de manose são mananas. Outros homopolissacarídeos são, obviamente, galacturonanas, arabinanas, etc.. Os homopolissacarídeos com tipos de ligação uniforme são geralmente chamados incluindo a notação que indique tamanho de anel e tipo ligação. Então, a celuloses é uma (1→4)-β-D-glucopiranana. Os polissacarídeos se diferem não só do tipo de monossacarídeo componente como também no comprimento de suas cadeias e da quantidade de ramificações que podem ocorrer. Embora um dado resíduo de açúcar tenha somente um carbono anomérico podendo formar uma única ligação glicosídica com grupos hidroxilas de outras 16 moléculas, cada resíduo de açúcar carrega vários grupos hidroxilas, onde um ou mais dos quais pode ser aceptor de substituintes glicosídicos. Isto possibilita formar estruturas ramificadas que distinguem os polissacarídeos de proteínas e ácidos nucleicos, que ocorrem só como polímeros lineares. Funções dos Polissacarídeos Os polissacarídeos são listados com funções de material de reserva, componentes estruturais e de substâncias protetoras. Então, amido e glicogênio, e outros polissacarídeos, são completamente metabolizados e proporcionam reservas de energia à célula. A quitina e a celulose proporcionam suporte ao exoesqueleto dos artrópodos e plantas verdes, respectivamente. Mucopolissacarídeos, como o ácido hialurônico, formam coberturas protetoras nas células animais. Em cada caso, o polissacarídeo envolvido tanto pode ser um homopolímero ou um polímero com pequenos grupos de unidades repetidas. Pesquisa recentes indicam, contudo, que oligossacarídeos e polissacarídeos com estrutura variada podem estar envolvidos em tarefas muito mais sofisticadas nas células, incluindo uma variedade de eventos de reconhecimento celular e comunicação intercelular. Polissacarídeos de Reserva Os polissacarídeos de reserva são carboidratos importantes em plantas e animais. Os organismos armazenam os carboidratos na forma de polissacarídeos ao invés de monossacarídeos para reduzir a pressão osmótica das reservas de açúcar. Como a pressão osmótica depende do número de moléculas, a pressão osmótica é grandemente reduzida pela formação de umas poucas moléculas de polissacarídeos contendo milhares (e até milhões) de unidades de monossacarídeos. Amido De longe, o amido é o polissacarídeo de reserva mais comum nas plantas, existindo em duas formas: αααα-amilose e amilopectina, como mostrado nas Figura 19. A maioria das formas de amido na natureza apresenta 10 a 30% de α-amilose e 70 a 90% de amilopectina. Um amido de milho típico apresenta 25% de amilose e 75% de amilopectina. A α-amilose é constituída por cadeias lineares de D-glucose em ligações α(1→4). As cadeias variam em comprimento, tendo pesos moleculares que variam de alguns milhares a meio milhão. As cadeias têm uma extremidade redutora e uma não redutora. Embora pouco solúvel em água, a α-amilose em água forma micelas que assumem uma forma helicoidal . O iodo (I3-) reage com a α-amilose dando uma cor azul intensa, decorrente da inserção do iodo no meio de sua hélice hidrofóbica (Figura 21). As moléculas de amilose são relativamente pequenas e se apresentam em cadeias formadas por algumas centenas de unidades de glicose, ligadas umas às outras, através de uma ligação α-D- (1→4). A amilose, na presença de iodo, desenvolve uma coloração azul intensa; a amilopectina não desenvolve cor azul. A amilopectina, por sua vez, é ramificada e pode apresentar um peso molecular que varia de algumas centenas de milhares a milhões, por apresentar milhares de unidades de glucose por molécula. A amilopectina pode apresentar outros tipos de ligações, embora predomine α-D-(1→4) e α-D-(1→6). A ligação α-D-(1→3) é encontrada na amilopectina do milho tipo waxy, uma variedade de milho mutante, descoberta em 1909, na China, cujo amido não apresenta a fração amilose, apenas a amilopectina. 17 O OH OH OH CH2OH O O OH OH CH2OH O O OH OH CH2OH O O OH OH CH2OH O O OH OH CH2OH O- - - - O OH OH OH CH2OH O O OH OH CH2OH O O O OH OH CH2OH O OH OH OH CH2OH O O OH OH CH2OH O O OH OH CH2 O O OH OH CH2OH O O OH OH CH2OH O- - - - Amilose Amilopectina Figura 20. Pontos de quebra da amilopectina pela beta-amilase. Figura 21. A amilose suspensa em água adota conformação helicoidal. O iodo (I2) pode se inserir no meio da hélice produzindo uma coloração azul, que caracteriza a presença de amido. Figura 19. Estrutura do amido mostrando as ligações glicosídicas alfa-D-(1,4) e alfa-D-(1,6). 18 Na planta, o amido ocorre na forma de grânulos. O precursor imediato do amido é a glucose, formada pela fotossíntese e dando origem, em seguida, ao amido que se forma nas folhas. Para que o amido se forme em outras partes da planta (onde não ocorre fotossíntese), este tem que ser convertido a sacarose, que é transportada para área onde o amido vai ser produzido para que este seja ressintetizado. O amido é armazenado nas células vegetais no estroma dos plastídios (organelas da célula vegetal) de dois tipos: cloroplastos, onde ocorre a fotossíntese, e amiloplastos, plastídios que são corpos especializados no acúmulo de amido. Quando o amido precisa ser mobilizado e usado pela planta, ele é quebrado em seus componentes monossacarídeos. O amido é convertido em seus monossacarídeos por clivagem gradual fosforolítica das unidades de glucose, catalisada pela amido fosforilase. Esta é uma reação típica de fosforilação, cujos produtos são uma molécula de glucose-1-fosfato e uma molécula de amido com uma unidade de glucose a menos. Na α-amilose, este processo continua ao longo de toda a cadeia até o terminal ser atingido. Porém, os pontos de ramificação α(1→6) da amilopectina não são suscetíveis à clivagem pela fosforilase, e a digestão completa da amilopectina pela fosforilase deixa uma dextrina limite, que pode ser atacada por uma α(1→6)-glucosidase que clica os pontos de ramificação 1→6 e permite uma completa hidrólise das ligações 1→4 remanescentes. Nos animais, a digestão e utilização do amido das plantas começa na boca com a α-amilase salivar (α(1→4)-glucana 4-glucanohidrolase), a principal enzima secretada pelas glândulas salivares. Embora a capacidade de produzir e secretar a α-amilase salivar e disseminad a no mundo animal, alguns animais (gatos, cães, pássaros e cavalos) não a secretam. A α-amilaseé uma endoamilase que quebra ligações glicosídicas α(1→4) só no meio da cadeia. O amido bruto não é suscetível à endoamilase salivar. No entanto, quando uma suspensão de grânulos de amido é aquecida, os grânulos incham, absorvendo água e permitindo que o polímero torne-se mais acessível à enzima. Por isso, o amido cozido é mais digestível. No estômago, a α-amilase salivar é inativada pelo baixo pH, mas a secreção pancreática também contém α-amilase. A β-amilase, uma enzima ausente em animais, mas presente em plantas e microrganismos, quebra o amido em unidades de dissacarídeo (maltose) a partir da extremidade da cadeia, sendo uma exoamilase. Mas nem a α-amilase nem a β-amilase podem quebrar os pontos de ramificação α(1→6) da amilopectina e, outra vez, a α(1→6)-glucosidase é necessária para quebrar os pontos de ramificação e permitir uma hidrólise completa da amilopectina do amido. Glicogênio A principal forma de polissacarídeo de armazenamento em animais é o glicogênio. O glicogênio é encontrado principalmente no fígado (cerca de 10% da massa do fígado) e no músculo esquelético (contando com 1 a 2% da massa muscular). O glicogênio hepático consiste de grânulos contendo moléculas altamente ramificadas, com ramificações α(1→6) ocorrendo a cada 8 a 12 unidades de glucose. Tal como a amilopectina, o glicogênio produz uma cor violácea com iodo. O glicogênio pode ser hidrolisado tanto por α- como β-amilases, produzindo glucose e maltose, respectivamente, como produtos e pode também ser hidrolisado pela glicogênio fosforilase, uma enzima presente nos tecidos hepático e muscular, que libera glucose-1-fosfato. Dextranas As dextranas são uma importante família de polissacarídeos de reserva, formadas por unidades de glucose unidas por ligações α(1→6) e com ramificações, encontradas em leveduras e bactérias (Figura 22). Como a cadeia principal é formada por ligações α(1→6), a unidade repetida é a isomaltose, Glcα(1→6)-Glc e os pontos de ramificação podem ser 1→2, 1→3 ou 1→6 e m várias espécies. O grau de ramificação e o tamanho médio das cadeias depende da espécie ou linhagem do organismo. Bactérias que crescem na superfície dos dentes produzem acúmulo extracelular de dextranas, que é um importante componente da placa dental. A dextrana bacteriana são geralmente usadas em laboratórios de pesquisa como meio suporte para cromatografia em coluna de 19 macromoléculas, num produto conhecido comercialmente como Sephadex. O O.OH OH OH O OOH OH OH O OOH OH OH CH3 Dextrana Figura 22. A dextrana é um polímero ramificado de D-glucose. A cadeia principal é de ligações alfa(1,6), mas ramificações são alfa (1,2), (1,3) ou (1,4). Polissacarídeos Estruturais Celulose Os polissacarídeos estruturais têm propriedades dramaticamente diferentes daquelas dos polissacarídeos de reserva, muito embora as composições dessas duas classes sejam semelhantes. O polissacarídeo estrutural celulose é o polímero natural mais abundante no planeta. Encontrada na parede celular de quase todas as plantas, a celulose é um dos principais componentes que lhes dão estrutura física e resistência. A madeira e a casca das árvores são insolúveis, altamente estruturas altamente organizadas formadas a partir de celulose e também lignina. É assustador olhar para uma grande árvore é suportada por uma estrutura polimérica derivada de açúcares e alcoóis. A celulose também tem um lado delicado. O algodão, que é usado na confecção de tecidos e roupas. Outros derivados da celulose, como os acetatos de celulose, conhecidos simplesmente como acetatos, que têm aparência de seda, e são usados em roupas, lingeries, estofados e roupas finas. A celulose é homopolímero de unidades de D-glucose, igual a α-amilose. A diferença estrutural que altera completamente as propriedades do polímero, é que a, na celulose, as unidades de glucose estão ligadas por ligações glicosídicas β(1→4), enquanto que a α-amilose é α(1→4) (Figura 23). O que dá mais estabilidade à estrutura da celulose é que nas ligações β(1→4) ocorre um giro alternado de 180o nas unidades de glucose, fazendo com que as cadeia de celulose adote uma conformação completamente linear, referida como uma fita estendida (Figura 23 e 24). A justaposição de algumas dessas cadeias permite um eficiente intercâmbio de pontes de hidrogênio, que é a base de uma boa parte da resistência da celulose. O O. H OH H OH HH CH2OH H O OH OH HOH H H HOH2C H O. Unidades de D-glucose unidas por ligações αααα-1,4. Unidades de D-glucose unidas por ligações ββββ-1,4. O H OH H OH OH CH2OH H O. OH OH H OH OH CH2OHH O O. H OH H OH H H CH2OH H (a) (b) Figura 23. (a) Amilose, constituída por ligações alfa-D-(1,4), adota conformação helicoidal e (b) a celulose, beta(1,4), é extendida com a alternação de 180o de rotação da glucose. As cadeias de celulose formam lâminas achatadas que se posicionam lado a lado e são unidas por pontes de hidrogênio. As folhas são colocadas uma sobre a outra de modo que encaixem 20 de forma desencontrada, do mesmo modo que se colocam tijolos para se dar estabilidade a uma parede. A celulose é extremamente resistente à hidrólise, seja por ácido ou por amilase digestiva. Por isso, a maioria dos animais, incluindo humanos, não podem digerir a celulose nem a um grau insignificante. Os ruminantes, tais como gado, cervídeos, girafas e camelos, são uma exceção por causa das bactérias que vivem no rúmen, que secretam a enzima celulase, uma β−glucosidase efetiva na hidrólise da celulose. A glucose resultante é metabolizada por um processo de fermentação que produz ácidos graxos voláteis que fornecem energia ao animal hospedeiro. Termitas e outros xilófagos que contêm bactérias que secretam celulases em seu trato digestivo de forma similar conseguem digerir a celulose. O H OH H OH OH CH2OH H O. OH OH H OH OH CH2OHH O O H OH H OH H H CH2OH H O H OH H OH H CH2OHH O H . . Celulose O H NH H OH OH CH2OH H O. OH NH H OH OH CH2OHH O O H NH H OH H H CH2OH H O H NH H OH H CH2OHH O H . . C O CH3 C O CH3 C O CH3 C O CH3 Quitina Unidades de N-acetilglucosamina O H OH H OH OH CH2OH H O. O H OH H OH OH CH2OHH O O H OH H OH H H CH2OH H O H OH H OH H CH2OHH O H . . CH4 Manana Unidades de manose O H OH H OH OH COO -H O. O H OH H OH OH COO - H O O H OH H OH H H COO - H O H OH H OH H COO - H O H . . Poli (D-Manuronato) O H COO- H OH HO OH H O O H OH H OH O. H COO- H O H COO- H OH HO. OH H O O H OH H OH H COO- H Poli (L-Guluronato) Figura 24. Tal como a celulose, quitina, manana e poli(D-manuronato) formam fitas estendidas e que se alinham juntas eficientemente devido à vantagem das múltiplas pontes de H. Quitina A quitina é um polissacarídeo similar à celulose, tanto em sua função biológica e em suas estruturas primária, secundária e terciária. A quitina está presente nas paredes celulares de fungos e é o material fundamental no exoesqueleto de crustáceos, insetos e aracnídeos. A estrutura da quitina é uma fita estendida idêntica à celulose, excetopor o grupo −OH em cada C-2 ser substituído por −NHCOCH3, tal que as unidades repetidas sejam N-acetil-D-glucosaminas unidas por ligações β(1→4) (Figura 24). Igual a celulose, as cadeias de quitina formam fitas estendidas e se dispõem lado a lado formando uma estrutura cristalina fortemente mantida por pontes de hidrogênio. Uma significante diferença entre celulose e quitina está no arranjo das cadeias. O arranjo pode ser paralelo (as extremidades redutoras de um feixe de cadeias todas juntas numa só extremidade) ou antiparalela (cada folha de cadeias tendo as cadeias arranjadas de modo oposto entre as folhas de 21 cima e as de baixo). A celulose natural parece ocorrer somente em arranjos paralelos. A quitina, todavia, parece ocorrer em três formas, às vezes todas em um mesmo organismo. A α-quitina é um arranjo todo paralelo de cadeias, enquanto a β-quitina é um arranjo antiparalelo. Na δ−quitina, imagina-se que a estrutura envolve pares de folhas paralelas separadas por uma simples folha antiparalela. A quitina é o segundo maior polímero carboidrato mais abundante (depois da celulose). Sua imediata disponibilidade permite muitas possibilidades de aplicação industrial. Uma cobertua à base de quitina pode aumentar o tempo de prateleira de frutas, e um derivado da quitina que se liga aos átomos de ferro na carne retardando as reações que causam rancidez e perda de sabor. Sem esta cobertura, o ferro na carne ativa o oxigênio da ar, formando radicais livres reativos que atacam e oxidam lipídeos polinsaturados, causando a perda de sabor associada à rancidez. Alginatos Uma família de estruturas em fitas estendidas que se liga a íons metálicos, particularmente cálcio, em sua estrutura são os polissacarídeos alginatos da alga marinha marrom (Phaeophyceae). Estas incluem poli(ββββ-D-manuronato) e poli(αααα-L-guluronato), que são cadeias com ligações (1→4) formadas por ácido β-manurônico e ácido α-gulurônico, respectivamente. Ambos destes polímeros são encontrados juntos na maioria dos alginatos marinhos, emboram apresentes grandes diferentes extensões, e cadeias mistas contendo ambos monômeros também são encontradas (Figura 24). por Agarose Uma importante mistura de polissacarídeos isolada da alga vermelha marinha (Rhodophyaceae) é o ágar, que consiste de dois componentes, agarose e garopectina. A agarose é uma cadeia de D-galactose alternada com 3,6-anidro-L-galactose, com cadeias laterais de 6-metil- D-galactose. A agaropectina é semelhante, mas contém em adição um éster como cadeia lateral e ácido D-glucorônico. A estrutura tridimensional da agarose é uma dupla hélice como um parafuso de eixo de três passos cada hélice. A cavidade central é grande o bastante para acomodar moléculas de água. Agarose e agaropectina formam géis contendo grande quantidades de água (mais de 99,5%). A agarose pode ser processada para remover a maior parte dos grupos carregados, produzindo um material (nome comercial Sepharose) usado para purificação de macromoléculas em cromatografia por exclusão em gel. Pares de cadeias formam duplas hélices que se agregam em feixes para formar um gel estável. Glicosaminoglicanas Os polissacarídeos conhecidos como glicosaminoglicanas estão envolvidos em uma variedade de funções extracelulares (e algumas vezes intracelulares). As glicosaminoglicanas consistem de cadeias lineares de dissacarídeos repetidos nos quais uma das unidades de monossacarídeos é uma aminoaçúcar e uma (ou ambas) das unidades de monossacarídeos contém pelo menos um grupo sulfato ou carboxilato carregado negativamente. As estruturas repetidas encontradas comumente nas glicosaminaglicanas são mostradas na Figura 25. A heparina, com a maior carga negativa líquida de dissacarídeos, é uma substância anticoagulante natural. Ela se liga fortemente com a antitrombina III (uma proteína envolvida na bloqueio do processo de coagulação) e inibe a coagulação sanguínea. As moléculas de hialuronato pode consistir de em torno de 25000 unidades de dissacarídeos, com peso molecular acima de 107. Os hialuronatos são importantes componentes do humor vítreo no olho e do fluido sinovial, o fluido lubrificante das articulações no corpo. Os sulfatos de condroitinas e de querana são encontrados nos tendões, cartilagens e em outros tecidos conjuntivos, enquanto queo o dermatan sulfato, como implica o seu nome, é um componente da matriz extracelular da pele. As glicosaminaglicanas são constituintes fundamentais das proteoglicanas. 22 O H H -O2SO H H NH CH2OH H O H H H OH H OH COO − H O . O . C CH3 O O H H H OH H NHOSO 2 - CH2OSO 2 - H O O H H H OH H OSO 2 - COO − H O. . C CH 3 OO H H H OH H OH COO − H O . O H H OH H H NH CH2OSO 2 - H O . O H H H OH H OH COO − H O . O H H H OH H NH CH2OH H O . C CH3 O O H COO - H OH H OH H H . O O H H -O2SO H H NH CH2OH H O . C CH3 O CH2OSO2 - O H H H CH3 H NH H O . C CH3 OO H H OH H H OH CH2OH H . O Condroitina-4-sulfato Heparina Condroitina-6-sulfato Hialuronato Dermatan sulfato D-glucoronato N-acetil-D-galactosamina- -4-sulfato D-glucoronato- N-Sulfonil-D-glucosamina- 2-sulfato 6-sulfato D-glucoronato N-Acetil-D-glucosamina D-glucoronato N-Acetil-D-glucosamina L-Iduronato N-Acetil-Dgalactosamina- 4-sulfato D-Galactose N -Sulfonil-D-glucosamina- 6-sulfato β β β β β α α β ββ Figura 25. As glicosaminaglicanas são formadas a partir da repetição da combinação de dissacarídeos. As glicosaminaglicanas são componentes dos proteoglicanas.
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