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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM SEGURANÇA AULA 6 Prof. Nivaldo Vieira Lourenço 2 CONVERSA INICIAL Concluído os estudos sobre a evolução histórica do policiamento moderno que resultaram no conhecimento do Policiamento Orientado para Solução de Problemas (POSP), iremos nesta sexta aula conhecer algumas Estratégias institucionais para o policiamento, sendo: o planejamento no emprego e gestão de pessoas para a segurança pública; as estratégias de policiamento e os Direitos Humanos; o significado de “etiquetamento” na segurança pública; ferramentas tecnológicas de informações para a segurança pública e finalizaremos com uma conversa sobre os Conselhos Comunitário de Segurança. Muito importante complementar os estudos, por meio das referências indicadas em cada capítulo, fazer as atividades propostas e estudar fazendo a leitura do livro base da disciplina. Bons estudos! TEMA 1 - PLANEJAMENTO NO EMPREGO E GESTÃO DE PESSOAS PARA A SEGURANÇA PÚBLICA Os representantes dos servidores públicos são os sindicatos, associações ou categorias, no qual apresentam pautas específicas ao executivo referente à questão de pessoal, entre as pautas podemos citar: melhoria nas infraestruturas das organizações, data base do vencimento, concurso público e outras. Somos conhecedores de que os eleitos para o executivo apresentam um plano para o mandato de quatro anos, nestes planos estão contidos temas referentes à segurança, entre eles podemos citar: a aplicação de recursos materiais para a segurança pública, contratação de policiais, reformulação do plano de cargos e salários, e outros com o objetivo de assegurar uma maior efetividade na política de segurança pública para a população. Então somente contratar mais e pagar mais, melhora a segurança? A resposta pode ser negativa, tanto que iremos aprofundar os estudos por meio de pesquisas científicas sistematizadas pelo pesquisador Greene (2002), 3 no qual nos apresenta as conclusões das várias iniciativas científicas de relacionar a efetividade da segurança pública com o contingente policial, vejamos: “Pressman e Carol, Greenwood e Waycki, Cloninger e Stahura e Huff identificaram um vínculo positivo entre o quantitativo de policiais e os índices criminais; Wellford, apesar de um percentual baixo, identificou uma relação negativa entre o número de policiais e a eficiência na redução de crimes; Mathiesen e Passell, Philips et. al, Decker, em suas pesquisas, encontraram vínculo negativo entre indicadores criminais e quantitativo de policiais; Por fim, Allison e Levine não encontraram qualquer relação entre o número de policiais e os índices criminais, enquanto Carr-Hill e Stern não conseguiram chegar a uma conclusão com as informações que portavam sobre uma possível relação entre indicadores criminais e o efetivo de policiais.” (Greene, 2002). Citamos ainda três pesquisadores do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que realizaram estudos sobre o crime de homicídio no Brasil, o qual cresce segundo Cerqueira, Lobão e Carvalho (2005) no percentual de 5,6%, estes autores fizeram o trabalho de pesquisa baseado em sete mitos: 1) “Segurança pública é um caso de polícia”; 2) “É preciso uma polícia dura, direitos humanos deveriam existir apenas para cidadãos de bem”; 3) “O problema é social, a polícia só pode enxugar gelo”; 4) “A questão é muito complexa, depende de toda a sociedade, os governos pouco ou nada podem fazer”; 5) “O problema é meramente de falta de recursos, com mais dinheiro os problemas serão resolvidos 6) “Com mais viaturas e policiais resolveremos o problema”; 7) “Com o crescimento econômico o problema será resolvido.” (CERQUEIRA; LOBÃO; CARVALHO, 2005). Podemos concluir, após estes estudos que o simples investimento em número de policiais, sem um planejamento de pessoal, resultará em pouca ou nenhuma efetividade. TEMA 2 - ESTRATÉGIAS DE POLICIAMENTO E DIREITOS HUMANOS Este tema será explicado mediante a análise da Declaração Universal dos Direitos Humanos, estudaremos no tema três desta aula a Teoria do Etiquetamento (labelling approach), no qual iremos perceber sua vinculação com o tema aqui tratado. 4 Direitos humanos são a proteção dos direitos fundamentais do indivíduo, pelo simples fato de ser humano. Após a Segunda Guerra Mundial os países reunidos em assembleia entenderam que determinadas violações e atrocidades praticadas contra as pessoas, ainda que em um conflito armado, não poderiam mais ser admitidas. Neste período é criada a Organização das Nações Unidas (ONU) e em dezembro 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no qual os Estados relacionaram os direitos essenciais inerentes a qualquer indivíduo, vejamos alguns desses direitos: 1. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. 2. Ninguém será submetido à tortura. 3. Todos têm capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 4. Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 5. Ninguém será mantido em escravidão ou servidão 6. Não será feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa. Podemos concluir que a polícia e os direitos humanos estão intimamente vinculados, pois esta só subsiste quando aquela o fomenta, protege e guarda. TEMA 3 - EXPLICANDO O QUE SIGNIFICA ETIQUETAMENTO A teoria surgiu na década de 1960 nos Estados Unidos, questionando os paradigmas etiológicos. Mas o que vem a ser Etiologia? É o ramo do conhecimento que se destina a compreender a determinação e a origem dos mais variados fenômenos, que podem conduzir pessoas a pré- 5 determinadas práticas, não sendo, portanto, dirigidas por escolhas orientadas pelo livre arbítrio. E etiquetamento? Então etiquetamento significa formar um pré-conceito, uma preconcepção do indivíduo com base em percepções essencialmente sensoriais, seja pelo seu modo de vestir, ou de se comportar. Podemos chegar a algumas conclusões: A prática do crime, realmente, não está vinculada ao fato de possuir maior ou menor poder aquisitivo. Poderíamos entender que criminosos são aqueles que violam uma conduta tida como penalmente proibida pela maioria da sociedade, porém não basta somente isto, é necessário que exista um “interesse” em perseguir aquela conduta, e, após uma ritualística denominada “processo penal”, ocorra a condenação com o trânsito em julgado. Para o labelling approach (etiquetamento ou rotulagem), o conceito de crime ou de quem é criminoso é construído a partir de uma conformidade social, assim, apesar de todos os indivíduos em igualdades de condições possam vir a praticar um delito, devido a fatores sociais determinadas pessoas consideradas marginalizadas ou rotulados estão mais expostas a serem tratados como criminosos. TEMA 4 - FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS DE INFORMAÇÃO PARA A SEGURANÇA PÚBLICA A tecnologia da informação é de suma importância para a vida em sociedade, sendo um valioso instrumento de obtenção de dados de indicadores criminais até a gestão do pessoal, logística, comunicações, orçamento, e principalmente atendendo aos princípios de transparência e eficiência do serviço público. Veremos as funcionalidades oferecidaspela tecnologia disponível para os órgãos de segurança pública, desde que bem aplicadas. 1 - Informações gerais - a informação é um recurso essencial para o planejamento estratégico, pois sem informação não será possível elaborar, gerir 6 e implementar o projeto. As instituições policiais devem ser tratadas como organizações singulares, e não poderia ser diferente, pois seus integrantes são oriundos da sociedade, a qual possui identidades e complexidades variáveis conforme a cultura, o local, as pessoas que a compõe, o território de atuação, dentre outros. Não é possível desenvolver um programa de segurança pública, sem levar em conta fatores que irão repercutir diretamente nas relações entre a organização policial e a sociedade local. A tecnologia da informação, antes de tudo, é um importante auxiliar, seja para quem está à frente das políticas públicas, seja o próprio cidadão cada vez mais consciente de que os recursos públicos (impostos) devem ser aplicados da forma mais eficiente possível. 2 - Interpretar as informações - não basta ter acesso às informações organizacionais, é necessário interpretá-las. Por isso ao elaborar uma política pública sobre segurança, é muito importante avaliar os custos e o orçamento, analisando o impacto sobre os índices criminais, fazer uma análise sistemática, respondendo algumas perguntas: Quais são os gastos com automóveis? Salários? Computadores? Preparação para enfrentar distúrbios? Pagamento de incentivos educacionais? Programas para promover o envolvimento comunitário? Quem faz parte do efetivo? Policiais militares ou civis? O pessoal operacional ou administradores? O que eles de fato fazem? Rondas? Conduzem investigações? Trabalham com grupos comunitários? Funcionam como administradores? Trabalham como motoristas da polícia? E outras. 3 - Escolhendo o software – aprendemos a importância das informações nas quais advém da tecnologia disponível no mercado, e, portanto, a necessidade de um Sistema de Informação de Planejamento Estratégico, também foi analisado o cuidado em processar estas informações de forma adequada, evitando chegar a conclusões equivocadas. Um ponto na escolha do software é de que seja de fácil utilização pelo administrador, ou seja, aquele que será o usuário do sistema. Obviamente que o usuário não se preocupa com a engenharia do software, ao contrário, ele é o destinatário final, por isso, ao escolher o programa o gerenciador deve se preocupar em avaliar se atende às suas necessidades, e se é capaz de extrair os dados que serão processados em informações. É importante compreender que há uma divisão de softwares, conforme sua destinação e funcionalidade. O 7 Software Básico é o sistema operacional, responsável pelo funcionamento elementar de toda a máquina, exemplos: o Windows da Microsoft, o Mac/OS da Apple, o Linux e outros. Também há os Softwares Aplicativos, utilizados nas atividades de escritório, a exemplo de elaboração de planilhas, redação de textos, cálculos, gráficos, apresentações, organização de arquivos. TEMA 5 - CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA – CONSEGS O desdobramento da polícia comunitária é a implantação do chamado Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG), que para a SENASP (2008, p. 297) se traduz como: Entidade de direito privado, com vida própria e independente em relação aos segmentos da segurança pública ou a qualquer outro órgão público modalidade de associação comunitária, de utilidade pública, sem fins lucrativos, constituída no exercício do direito de associação garantido no art. 5.º, inciso XVII, da Constituição Federal, e que tem por objetivos mobilizar e congregar forças da comunidade para a discussão de problemas locais da segurança pública, no contexto municipal ou em subdivisão territorial de um Município. Essa articulação e envolvimento comunitário são as condições indispensáveis para o encaminhamento dos problemas comuns de uma região, nesse contexto, a organização comunitária é a melhor forma para a construção de alternativas, o desenvolvimento da cidadania e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Vejamos algumas finalidades dos Conselhos Comunitários de Segurança: Conhecer as aspirações da comunidade, para que os integrantes das forças policiais possam maximizar suas ações em defesa da comunidade; Congregar as lideranças comunitárias, juntamente com as autoridades locais, para o planejamento de ações integradas de segurança; Desenvolver e fortalecer as relações sociais entre membros de uma mesma comunidade, fomentando assim a amizade, união e troca de experiências; Promover e implantar programas de orientação por meio de campanhas educativas; 8 Propor às autoridades policiais a definição de prioridades na segurança pública. NA PRÁTICA Leia a Portaria nº 02, de 27 de fevereiro de 2007, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), que instituiu o Grupo de Trabalho com o propósito de elaborar a MATRIZ CURRICULAR NACIONAL PARA POLÍCIA COMUNITÁRIA, no qual surgiu a obra “Curso Nacional de Promotor de Polícia Comunitária”. Essa obra contextualiza os diversos problemas da sociedade atual e indica fundamentos da polícia comunitária e da mobilização social. Aproveite e descubra se em seu bairro ou na região de localização de seu bairro existe um Conselho Comunitário de Segurança e vá conhece-lo. FINALIZANDO Nossos estudos buscaram conjugar conhecimentos de gestão, planejamento estratégico e uma moderna forma de composição para a solução de problemas de segurança e uma administração pacífica de conflitos. Nesse sentido, da mesma forma que o planejamento estratégico, que deve ser pautado na necessidade das pessoas, os problemas de segurança só poderão ser solucionados a partir da participação e da integração com a comunidade. REFERÊNCIAS CERQUEIRA, Daniel; LOBÃO, Waldir; CARVALHO, Alexandre X. de. O jogo dos sete mitos e a miséria da segurança pública no Brasil. 2005. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/1778/1/TD_1144.pdf Acesso em: 27 jan. 2017. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 9 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS; 1948. Disponível em: http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf. Acesso em 27 jan. 2017. GREENE, Jack R. Administração do trabalho policial: Questões e Análises, organizador; tradução de Ana Luísa Amêndola Pinheiro. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. – (Série Polícia e Sociedade; n. 5/Organização: Nancy Cardia). p. 20.
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