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ibpt revista governanca tributaria 2011

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Revista Governança Tributária • 1 • 
Edição Comemorativa - 19 anos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário - IBPT
A volta da CPMF
é uma afronta à
boa administração
dos recursos
públicos
Brasil sobe no
ranking mundial
dos países com
maior carga
tributária
Carga tributária
e o princípio do
não-confisco
Governança
Tributária: 
imprescindível
para as empresas
The taxation
of the future:
social-environmental
issues
• 2 • Revista Governança Tributária
A partir da implementação de me-
lhores práticas de Governança Corpora-
tiva no Brasil, as empresas, cada vez mais, 
preocupam-se com a ética e a transpa-
rência nas suas relações negociais.
Isso porque a Governança Corpora-
tiva está alicerçada em quatro princípios 
fundamentais: a transparência (disclosure), 
a equidade (fairness), a prestação de 
contas (accountability) e o respeito ao 
cumprimento das leis (compliance).
Nesse ambiente de Governança 
Corporativa, surge a Governança Ju-
rídica, que é, sem dúvida, uma parte 
importante daquela. Assim, esta repre-
senta um conjunto de procedimentos e 
ferramentas aplicado por profissionais 
da área jurídica, visando soluções aos 
desafios corporativos diários enfrenta-
dos na atividade empresarial, de forma 
a orientar a empresa nas áreas societá-
ria, tributária, ambiental, trabalhista, pro-
priedade industrial e regulatória.
Quando se fala em Governança 
Corporativa, sempre nos vem à men-
te que esta é praticada somente pe-
las grandes empresas, principalmente 
aquelas que têm as suas ações nego-
GOVERNANÇA TRIBUTÁRIA É 
IMPRESCINDÍVEL PARA TODOS OS 
TAMANHOS DE EMPRESAS
Editorial
 Revista Governança Tributária • 3 • 
ciadas em Bolsa de Valores. Sem dú-
vida, essas empresas devem observar 
as melhores práticas de Governança 
Corporativa, pois captam recursos 
do mercado e, por este motivo, têm 
um comprometimento muito maior 
com seus investidores.
No entanto, cabe ressaltar que 
não só nas grandes empresas é im-
portante a Governança Corporativa 
e Jurídica, mas, igual e principalmente, 
nas empresas de médio porte, que 
geralmente não dispõem de um de-
partamento jurídico próprio. 
Atualmente, existem no Brasil em 
torno de 25 mil empresas de mé-
dio porte, sendo que, destas, 6.000 
estão na mira dos fundos de private 
equity. Estes fundos dispõem de um 
caixa elevado e estão dispostos a “ir 
às compras”, sendo que as empresas 
de médio porte com melhor nível de 
Gorvernança Corporativa e Jurídica 
se tornam as preferidas. 
No âmbito da Governança Jurí-
dica, destaca-se a Governança Tribu-
tária, um conjunto de métodos de 
gestão empresarial que visa à coor-
denação, controle e revisão dos pro-
cedimentos tributários adotados pela 
empresa, com o intuito de prevenir 
autuações fiscais, multas pelo descum-
primento de obrigações acessórias, 
bem como evitar a ocorrência de cri-
mes tributários. Tudo isso, em estrito 
cumprimento à legislação tributária e 
societária aplicáveis à espécie. 
No atual cenário empresarial, onde a 
transparência das organizações é funda-
mental para o mercado, a Governança 
Tributária assume maior importância, pois, 
quando bem praticada, gera melhores re-
sultados e um maior controle do custo 
tributário. Esse entendimento é corrobo-
rado por Jorge Gerdau Johannpeter, em 
entrevista exclusiva para essa primeira 
edição da Revista Governança Tributária: “a 
Governança Tributária é a alternativa mais 
inteligente e efetiva para o complexo sis-
tema tributário brasileiro, pois age preven-
tivamente, por meio de um conjunto de 
soluções que tornam a empresa mais ágil 
e transparente. Isso maximiza resultados, 
pois possibilita a identificação e quantifi-
cação de riscos tributários, com base em 
planejamento e inteligência fiscal”.
Embora algumas empresas já te-
nham a consciência da importância da 
governança tributária no mundo das 
organizações, é preciso fazer muito 
mais. Ou seja, o que falta, na verdade, é 
conscientizar administradores de todos 
os tipos e tamanhos de sociedades de 
que a implantação de práticas eficazes 
de Governança Tributária nas empresas 
é fundamental para possibilitar o seu 
rápido, ordenado e eficiente desenvol-
vimento econômico em meio a merca-
dos cada vez mais competitivos.
Com esse intuito, a Revista Governan-
ça Tributária quer ampliar esse debate, 
publicando a opinião de empresários e 
de profissionais especializados na área 
tributária, de forma a, progressivamen-
te, inserir o tema Governança Tributária 
nas discussões estratégicas do empre-
sariado e dos gestores de empresas de 
todos os tipos e tamanhos. 
Rumo à introdução de boas práticas 
de Governança Tributária em sua em-
presa! Boa leitura!
Gilberto Luiz do Amaral
Editor
Editorial
• 4 • Revista Governança Tributária
Since the introduction of good Corporate 
Governance practices in Brazil, the companies 
are more and more concerned with the ethics 
and transparency in their business relations.
This is because Corporate Governance 
is based on four fundamental principles: 
disclosure, fairness, accountability and 
compliance.
The Legal Governance rises from the 
Corporate Governance and it is, without a 
doubt, a very important part of it. Thus, Legal 
Governance is defined as a set of procedures 
and tools used by legal professionals in a 
company, aiming to solve daily corporate 
challenges faced in their business activities. 
These legal professionals advise their clients 
(the companies) in the main areas of law, such 
as corporate, tax, environment, employment, 
industrial property and regulatory laws. 
When we think about Corporate 
Governance in Brazil, it always comes to our 
minds that it is practiced by big companies only, 
mainly those that have their shares listed in a 
Stock Exchange. Nonetheless these big Stock 
Exchange listed companies have to observe 
the best Corporate Governance practices 
– because they capture market resources 
and, for that reason, are compelled to have a 
bigger compliance with their investors – the 
Corporate and Legal Governance are also 
essential in the small and medium companies 
that, generally speaking, do not have a legal 
department.
Nowadays Brazil has about 25.000 
medium companies from which 6.000 are 
targets of private equity funds. These funds 
have a lot of money to invest and are focusing 
on the acquisition of medium companies 
that have the best Corporate and Legal 
Governance levels.
In the context of the Legal Governance, 
Tax Governance can be emphasized, as it is 
defined as a set of corporate management 
methods that aim the coordination, controlling 
and revision of the tax procedures adopted 
by a company in order to prevent tax 
assessments, tax penalties as well as tax crimes. 
Tax Governance is always implemented in strict 
compliance with corporate and tax legislation.
In the current business scenario, in 
which corporate disclosure is fundamental 
to investors, Tax Governance assumes 
more an important role because it is able, 
when efficiently implemented by the target 
companies, to produce better results 
regarding tax risks and a higher tax expenses 
controlling.
This understanding is shared by Jorge 
Gerdau Johannpeter, president of the Board 
of Directors of the Brazilian multinational 
Gerdau, one of the biggest steel suppliers 
of the world, who has given an exclusive 
interview for the first edition of the Tax 
Governance Magazine: “the Tax Governance is 
the most intelligent and effective alternative 
for the complex Brazilian Tax System because 
it acts preventively by means of a set of 
solutions that makes company’s procedures 
faster and transparent. This maximizes results 
because it makes easier the identification and 
quantification of taxrisks, always based on tax 
planning and tax intelligence”.
Although some companies are already 
aware of the importance of the Tax 
Governance in the corporation’s world, it 
is still necessary that they execute much 
more than that. This means that it is still 
necessary that the directors of all sizes and 
types of companies get familiarized with the 
introduction of efficient Tax Governance 
practices in their companies, which is essential 
to make possible their fast, structured and 
capable economic development and growth, 
especially considering the existence of more 
and more competitive markets.
Considering all the aspects 
abovementioned, Tax Governance Magazine 
aims to enlarge this debate, introducing the 
opinion of and tax professionals in order to 
insert Tax Governance topic in the strategic 
business discussions, regardless of the size or 
type of company in question.
Let’s go to the articles explaining how to 
introduce good Tax Governance practices in 
your company. Have a great reading!
Gilberto Luiz do Amaral
Editor
TAX 
GOVERNANCE 
IS ESSENTIAL 
FOR SMALL, 
MEDIUM AND BIG 
COMPANIES
Editorial
 Revista Governança Tributária • 5 • 
Expediente
 
 
Av. Cândido Hartmann, 50
CEP: 80730-440, Curitiba - PR
Tel./Fax: (41) 3232-9241
www.ibpt.com.br / ibpt@ibpt.com.br
 
Conselho editorial
Gilberto Luiz do Amaral
João Eloi Olenike
Letícia Mary Fernandes do Amaral
Fernando Steinbruch
Cristiano Lisboa Yazbek
 
Produção e Edição
De León Comunicações
Tels.: (11) 5017-4090/7604
E-mail: deleon@deleon.com.br
 
Editora e Jornalista Responsável
Lenilde Plá De León (MTb 11.707/SP)
Coordenadora Editorial
Viviane Farias (MTb 53.498/SP)
 
Redatora
Mariana Lessa (MTb 53.715/SP)
 
Projeto Gráfico e Diagramação
Marcelo Vieira
mvieiradg@gmail.com
 
Periodicidade
Semestral
 
Tiragem
5.000
 
Impressão
Ajir Gráfica
 
As opiniões expressas nos artigos assinados 
são de inteira responsabilidade de seus 
autores e os anúncios veiculados são de 
inteira responsabilidade dos anunciantes.
Sumário
Governança Empresarial e 
Controladoria
A volta da CPMF é uma afronta à boa 
administração dos recursos públicos
The taxation of the future: social-
environmental issues
Governança Tributária: 
imprescindível para as empresas
O verdadeiro custo dos tributos
IBPT: há 19 anos instruindo e 
conscientizando o Brasil sobre tributos
Governança Tributária na Prática
Brasil sobe no ranking mundial dos 
países com maior carga tributária
Quantidade de normas editadas no Brasil: 
22 anos da Constituição Federal de 1988
 “Modelo tributário brasileiro é seme-
lhante ao dos antigos países medievais”
Carga tributária e o princípio
do não-confisco
Diretoria do IBPT
6
22
31
14
26
40
10
24
36
18
29
43
• 6 • Revista Governança Tributária
Muito tem se falado da importância 
da Governança Corporativa ou Empre-
sarial. No presente artigo, pretende-se 
examinar este tema e também a relevân-
cia da controladoria nas organizações.
Em termos conceituais, pode-se di-
zer que Governança Corporativa ou 
Empresarial é o sistema pelo qual as 
organizações são dirigidas, monitoradas 
e incentivadas, envolvendo os relacio-
namentos entre proprietários, conselho 
de administração, diretoria e órgãos de 
controle. As boas práticas de Governan-
ça Corporativa convertem princípios 
em recomendações objetivas, alinhando 
interesses com a finalidade de preservar 
e otimizar o valor da organização, facili-
tando seu acesso ao capital e contribuin-
do para a sua longevidade.
A origem da boa Governança tem 
como marco inicial a primeira metade 
dos anos 90, em um movimento inicia-
do principalmente nos Estados Unidos, 
quando acionistas despertaram para 
a necessidade de novas regras que os 
protegessem dos abusos da diretoria 
executiva das empresas, da inércia de 
conselhos de administração inoperantes 
e das omissões das auditorias externas. 
Conceitualmente, a Governança Em-
presarial surgiu para superar o “conflito 
de agência”, decorrente da separação 
entre a propriedade e a gestão em-
presarial. Nesta situação, o proprietário 
(acionista) delega a um agente especia-
lizado (executivo) o poder de decisão 
sobre sua propriedade. No entanto, os 
interesses do gestor nem sempre esta-
rão alinhados com os do proprietário, 
resultando em um conflito de agência 
ou conflito agente-principal. 
A preocupação da Governança 
Empresarial é criar um conjunto efi-
ciente de mecanismos, tanto de incen-
tivos quanto de monitoramento, a fim 
de assegurar que o comportamento 
dos executivos esteja sempre alinhado 
com o interesse dos acionistas. 
A boa Governança proporciona aos 
proprietários (acionistas ou cotistas) a 
gestão estratégica de sua empresa e a 
monitoração da direção executiva. As 
principais ferramentas que asseguram o 
controle da propriedade sobre a gestão 
são o conselho de administração, a audi-
toria independente e o conselho fiscal. 
A empresa que opta pelas boas prá-
ticas de Governança Empresarial adota 
como linhas mestras a transparência, a 
prestação de contas, a equidade e a res-
ponsabilidade empresarial. Para tanto, o 
conselho de administração deve exer-
cer seu papel, estabelecendo estratégias 
para a empresa, elegendo e destituindo 
o principal executivo, fiscalizando e ava-
liando o desempenho da gestão e esco-
lhendo a auditoria independente. 
A ausência de conselheiros qualifica-
dos e de bons sistemas de Governança 
Governança Empresarial
e Controladoria
Artigo
 Revista Governança Tributária • 7 • 
Artigo
Empresarial tem levado empresas a fra-
cassos decorrentes de abusos de poder 
(do acionista controlador sobre minori-
tários, da diretoria sobre o acionista e 
dos administradores sobre terceiros), 
erros estratégicos (resultado de muito 
poder concentrado no executivo prin-
cipal) e de fraudes (uso de informação 
privilegiada em benefício próprio, atua-
ção em conflito de interesses).
No Brasil, a Governança Empresarial 
teve o seu início com as privatizações 
que ensejaram as primeiras experiências 
de controle compartilhado no País, for-
malizado por meio de acordo de acio-
nistas. Nessas empresas, os investidores 
integrantes do bloco de controle pas-
saram a dividir o comando da empresa, 
estabelecendo contratualmente regras.
Os investidores institucionais - segu-
radoras, fundos de pensão e fundos de 
investimentos, entre outros - assumiram 
uma postura ativa, passando a compa-
recer nas assembleias gerais, a exercer 
os direitos de voto de suas ações e a 
fiscalizar de modo mais próximo a ges-
tão das companhias investidas.
A abertura e consequente modifi-
cação na estrutura societária das em-
presas também ocorreu no mercado 
financeiro. Houve aumento de investi-
mentos de estrangeiros no mercado de 
capitais, o que reforçou a necessidade 
das empresas se adaptarem às exigên-
cias e padrões internacionais. Em resu-
mo, as práticas de Governança Empre-
sarial tornaram-se prioridade e fonte 
de pressão por parte dos investidores.
Como resultado da necessidade de 
adoção das boas práticas de Governan-
ça, foi publicado em 1999 o primeiro 
código sobre Governança Corporativa, 
elaborado pelo Instituto Brasileiro de Go-
vernança Corporativa - IBGC. O código 
trouxe inicialmente informações sobre o 
conselho de administração e sua conduta 
esperada. Em versões posteriores, os qua-
tro princípios básicos da boa governança 
foram detalhados e aprofundados.
Em 2001, foi reformulada a Lei 
das Sociedades Anônimas e, em 2002, 
a Comissão de Valores Mobiliários - 
CVM lançou sua cartilha sobre o tema 
Governança. Este documento foi foca-
do nos administradores, conselheiros, 
acionistas controladores e minoritá-
rios e auditores independentese visa 
orientar sobre as questões que afetam 
o relacionamento entre os já citados.
Outra contribuição à aplicabilidade 
das práticas de Governança partiu da 
Bolsa de Valores de São Paulo, ao criar 
segmentos especiais de listagem des-
tinados a empresas com padrões su-
periores de Governança Empresarial. 
Além do mercado tradicional, passa-
ram a existir três segmentos diferen-
ciados de Governança: Nível 1, Nível 2 
e Novo Mercado. O objetivo foi o de 
estimular o interesse dos investidores 
e a valorização das empresas listadas.
Basicamente, o segmento de Nível 1 
caracteriza-se por exigir práticas adicio-
nais de liquidez das ações e disclosure. En-
quanto o Nível 2 tem por obrigação prá-
ticas adicionais relativas aos direitos dos 
acionistas e conselho de administração. 
O Novo Mercado, por fim, diferencia-se 
do Nível 2 pela exigência para emissão 
exclusiva de ações com direito a voto. Es-
tes dois últimos apresentam como resul-
tado esperado a redução das incertezas 
no processo de avaliação, investimento e 
de risco, o aumento de investidores inte-
ressados e, consequentemente, o forta-
lecimento do mercado acionário. Resul-
tados que proporcionam benefícios para 
investidores, empresa, mercado e Brasil.
Apesar do aprofundamento nos de-
bates sobre Governança e da crescente 
pressão para a adoção das boas práticas 
de Governança Empresarial, o Brasil ain-
da se caracteriza pela alta concentração 
do controle acionário, pela baixa efeti-
vidade dos conselhos de administração 
e pela alta sobreposição entre proprie-
dade e gestão, o que demonstra vasto 
campo para o incentivo ao conhecimen-
to, ações e divulgação dos preceitos da 
• 8 • Revista Governança Tributária
Governança Empresarial.
Várias empresas brasileiras desenvol-
veram projetos de Governança Empre-
sarial com sucesso, entre estas pode-se 
citar a Gerdau, a Saraiva e a Natura.
No âmbito do mercado de capitais, a 
adoção de práticas de Governança Em-
presarial, que visem aumentar a transpa-
rência das demonstrações financeiras e o 
respeito ao direito dos acionistas minori-
tários, tem sido utilizada com o objetivo 
de melhorar a percepção das empresas 
pelo mercado e, consequentemente, a 
demanda por suas ações. O aumento ex-
pressivo do número de companhias que 
realizaram abertura de capital no Brasil, 
nos últimos anos, tem acelerado a bus-
ca por implementação de tais práticas 
de Governança em empresas de capital 
fechado, que tenham como objetivo rea-
lizar Initial Public Offering - IPO.
A estrutura de Governança Empresa-
rial definida para a realização de IPO nos 
novos segmentos de listagem na Bolsa 
de Valores de São Paulo - Bovespa pres-
supõe a adoção de práticas que, dentre 
outras características, aumentam a expo-
sição e o rigor no tratamento das ques-
tões contábeis e tributárias pelas empre-
sas, podendo ter efeitos nos resultados.
Neste cenário, cabe examinar qual é o 
papel da Controladoria no âmbito da Go-
vernança Empresarial. A controladoria tem 
como uma de suas atribuições a manuten-
ção dos sistemas de controles internos da 
empresa, que é a plataforma dos sistemas 
de informações, instrumentos de gestão 
e de controle operacional que fomentam 
a eficácia organizacional, via tomadas de 
decisões acertadas e a segurança dos ati-
vos envolvidos nesse processo. 
As empresas procuram subsídios na 
área de controladoria para se tornarem 
mais competitivas e organizadas. Com-
petitivas no sentido de que faz parte da 
missão dessa área fornecer aos gestores 
informações precisas para subsidiar o 
processo decisório, além de organizadas, 
pois a ela também se atribui a respon-
sabilidade de estabelecer, implementar 
e monitorar o sistema de controles in-
ternos necessários para a salvaguarda de 
ativos e para a manutenção da integrida-
de dos registros contábeis. 
Cabe salientar que, atualmente, as fun-
ções da controladoria estão sofrendo pro-
fundas modificações, devido ao aumento 
de complexidade das organizações e das 
exigências que o ambiente de negócios 
gera sobre ela. Assim, pode-se dizer que a 
controladoria contribui para uma organi-
zação da qual faça parte ao desempenhar 
atividades, como colaborar na formação de 
estratégias, organizar, analisar e apresentar 
dados coletados, elaborar informações re-
levantes à administração e gerar modelos 
decisórios coerentes e consistentes com a 
missão e visão da empresa.
Artigo
A controladoria gera informações 
sobre os ambientes internos e externos 
à empresa, úteis na tomada de decisão 
pela administração. Deve-se enxergar a 
empresa como um sistema que busca 
a eficiência, atuando em um ambiente 
extremamente competitivo e de rápidas 
mudanças. É neste contexto, de otimiza-
ção de resultados, que se dá a atuação 
da controladoria.
A palavra controller tem origem no 
século XV, que vem da junção das pa-
lavras counter e roller, que é aquele que 
tem a relação do que entra e do que sai 
de dinheiro e mercadorias. O countroller 
era a pessoa que controlava as contas 
pessoais dos lordes ingleses. Nos Estados 
Unidos, até hoje, comptroller é o título 
dado a funções na área governamental, 
e controller, a empresas privadas.
Nas empresas modernas, o controller 
é um executivo de alto nível, que tem sob 
seu comando equipes altamente treina-
das, com o propósito de possibilitar à em-
presa as melhores escolhas econômicas.
O controller é o executivo financeiro 
de uma grande ou média empresa, que 
combina as responsabilidades por con-
tabilidade, auditoria, orçamento, planeja-
mento de lucros, relatórios de desem-
penho, controle de tributos e outras 
atividades da empresa.
As principais funções da controla-
doria são: a mensuração do realizado e 
 Revista Governança Tributária • 9 • 
Artigo
do planejado, o sistema de simulação, a 
avaliação de resultados e desempenhos, 
a estruturação de modelos decisórios, 
a gestão dos sistemas de informação, a 
análise e estudos econômicos e, por fim, 
o resultado econômico otimizado.
É importante destacar, também, que a 
função da controladoria, dentro de uma 
organização, consiste em dirigir e implan-
tar sistemas de informação, motivação, 
coordenação, avaliação, planejamento e 
acompanhamento dos planos traçados.
Nesse sentido, percebe-se que o 
controller, que geralmente é o gestor da 
controladoria, tem papel fundamental na 
formulação e no controle do planejamen-
to estratégico da empresa, uma vez que 
ele fornece aos gestores os dados neces-
sários da companhia e seu desempenho 
no setor, possibilitando a análise das for-
ças e fraquezas e auxiliando na formula-
ção das estratégias de desenvolvimento.
A controladoria é o departamento 
responsável pelo projeto, elaboração, im-
plementação e manutenção do sistema 
integrado de informações operacionais, 
financeiras e contábeis das organizações.
O trabalho da controladoria deve en-
globar as seguintes áreas: Contabilidade, 
Departamento Fiscal, Financeiro, Custos, 
Planejamento Tributário, Previsão Orça-
mentária Anual, Planejamento Estratégico 
e Relatórios para tomadas de decisões.
Embora a contabilidade seja de grande 
importância para a controladoria, essas ati-
vidades não se confundem, ou seja, a con-
tabilidade assume o papel de um grande 
banco de dados que supre os mais dife-
rentes modelos decisórios, ao passo que 
a controladoria tem por finalidade garantir 
informações adequadas ao processo de-
cisório. A missão da controladoria é asse-
gurar a eficácia da empresa por meio da 
otimização de seus recursos.
Pode-se observar que as funções da 
controladoria estão ligadas a um conjun-
to de atividades que permite um contro-
le da gestão econômica da empresa.
Para poder contribuir no processo de-
cisório da empresa, faz-se necessário que 
o controller seja o gestor de um sistemade informação. Estas informações devem 
ser preparadas, analisadas e interpretadas 
pela controladoria. Para que esse proces-
so seja eficiente, as decisões devem ser 
tomadas com base em informações per-
tinentes, oportunas e confiáveis.
As atribuições da controladoria só 
serão possíveis de serem cumpridas se 
o controller tiver competências e habili-
dades, como o conhecimento em conta-
bilidade gerencial, tributos, custos, infor-
mática e orçamento.
Além da capacidade técnica, é es-
sencial, para o desenvolvimento da ativi-
dade, que o controller seja um líder, pois 
só assim poderá motivar as pessoas de 
maneira a fazer funcionar, com eficiência, 
o sistema de informação do qual ele ne-
cessita para o desempenho das suas fun-
ções. Outras habilidades que o controller 
deve ter é a capacidade de negociação e 
ser de fácil relacionamento.
É também importante que o controller 
saiba delegar tarefas, permitindo que os 
seus colaboradores tenham a respon-
sabilidade de desenvolver o trabalho e 
que estejam engajados no espírito de 
equipe.
Assim, no ambiente da Governança 
Empresarial, tem-se que é de extrema 
importância o papel da controladoria no 
planejamento estratégico e no processo 
decisório das organizações.
* João Eloi Olenike é presidente do IBPT.
* Fernando Steinbruch é diretor técnico 
do IBPT.
Referências:
IBCG – Instituto Brasileiro de Governança 
Corporativa. Governança Corporativa em 
tempos de crise. Editora Saint Paul.
KNIGHT, F.H. Risk, uncertainty, and profit. 
Boston: Houghton Mifflin Company, The 
Riverside Press Cambridge.
OLIVEIRA, Antonio Benedito Silva. Con-
troladoria fundamentos do controle em-
presarial. São Paulo: Saraiva, 2009.
• 10 • Revista Governança Tributária
A Governança Tributária representa 
o conjunto de procedimentos de gestão 
empresarial engendrados de forma per-
sonalizada para cada empresa ou entida-
de, com vistas à coordenação, controle e 
revisão dos procedimentos tributários e 
proporcionando como resultado a redu-
ção dos riscos fiscais e a consistência e 
transparência das demonstrações finan-
Governança Tributária na prática
A Governança Tributária ganhou espaço com o desenvolvimento da Governança 
Corporativa, após os escândalos envolvendo os departamentos fiscais e os auditores 
independentes das norte-americanas Enron e WorldCom entre outubro de 2001 e mar-
ço de 2002. Assim como na Governança Corporativa, a Governança Tributária visa à 
transparência das informações fornecidas aos acionistas e ao mercado, com a distinção 
de ter como foco informações tributárias, nelas incluídas as contábeis e fiscais.
ceiras, deixando-as verídicas e confiáveis. 
Trata-se, pois, da Governança Corpora-
tiva no que se refere à tributação.
A boa Governança Tributária deve 
ser praticada com obediência aos prin-
cípios gerais aplicáveis à Governança 
Corporativa, bem como aos princípios 
que lhe são específicos, tais como: mo-
ralidade e ética, legalidade, compliance, 
preservar a reputação da empresa e 
de seus administradores e lucratividade 
(ou commerciality)1. Para que tais prin-
cípios sejam colocados em prática, as 
seguintes políticas podem ser adotadas 
pelas empresas, de acordo com suas es-
pecificidades e objetivos e sempre sob a 
supervisão técnica de profissionais qualifi-
cados e especializados na área tributária:
Artigo
 Revista Governança Tributária • 11 • 
Para que seja mantida a boa reputação, a empresa 
ou instituição deve desenvolver uma política de cum-
primento das obrigações tributárias acessórias, para o 
que é primordial a contratação de uma equipe técni-
ca altamente capacitada e que interaja com as demais 
áreas da corporação.
Organizar formal e materialmente as atividades ne-
gociais, de modo a fazer incidir a menor carga tributária 
legalmente e eticamente possível, e estabelecer quem 
será o responsável pela tomada de decisões nessa área 
e pela implementação e execução dessas decisões.
Estabelecer políticas formais de como manter 
contato com o governo acerca de questões tributá-
rias de forma igualmente ética e honesta.
Muito embora a controladora de um grupo de em-
presas possa adotar políticas de Governança Tributária 
que devem ser seguidas por todo o grupo, a responsabi-
lidade pela correta adoção e execução dessas políticas é 
do Conselho de Administração ou dos administradores 
da subsidiária em si e não de sua controladora.
O Conselho de Administração ou os administrado-
res, cientes da importância das questões tributárias no 
conjunto das decisões estratégicas, devem manter uma 
conduta pré-estabelecida acerca do nível de agressivi-
dade que a empresa poderá tomar em matéria de pla-
nejamento tributário. Para tanto, deve ser considerada 
a possibilidade de mudança da lei ou de sua interpre-
tação (incluindo jurisprudência) e toda decisão toma-
da deve ser cuidadosamente documentada com a sua 
justificativa, a fim de evitar qualquer responsabilização 
tributária nas pessoas dos administradores.
Estabelecer uma política ou código de conduta inter-
no, governando o relacionamento da empresa com as 
autoridades fiscais e que preze pela honestidade e proati-
vidade nesse relacionamento, com vistas a que o próprio 
Fisco fiscalize a empresa de forma mais controlada.
Adotar um manual de procedimentos sobre as 
informações fiscais que deverão ser comunicadas aos 
sócios, acionistas, à imprensa e aos lobistas, estabele-
cendo diferentes critérios de acordo com cada desti-
natário da informação.
Adotar uma política que estabeleça quem 
será(ão) o(s) responsável(eis) por qualquer mani-
festação formal da empresa sobre essas questões 
e também em quais ocasiões alguma manifestação 
formal será ou não recomendada, evitando, assim, 
contradições ou equívocos acerca do ponto de vista 
da empresa sobre determinado assunto.
Cumprimento das obrigações tributárias:
Conduta de gerenciamento de riscos 
tributários: 
Relacionamento com o governo (po-
líticos, ministros e conselheiros políticos 
externos):
Relacionamento da empresa com seu 
grupo:
Conduta de planejamento tributário:
Relacionamento com as autoridades fiscais:
Relacionamento com sócios, acionistas, 
imprensa e lobistas:
Participação em fóruns de discussão e 
debates referentes às questões tributárias:
Artigo
• 12 • Revista Governança Tributária
1- Assembleia de acionistas (S.A.) ou sócios (demais sociedades): responsáveis, no campo da “macro” tributação, pela eleição do 
Conselho Fiscal (no caso de uma S.A.) ou pela contratação de auditoria externa (no caso das demais sociedades) e por controlar, dirigir 
e orientar os demais órgãos da companhia ou demais departamentos da sociedade no que se refere à elaboração e à implementação 
das políticas de boa Governança Tributária. Para tanto, é importante que contem com o auxílio interno dos outros órgãos societários ou 
externo de profissionais qualificados nas questões tributárias.
2- Conselho Fiscal (S.A.) ou auditoria externa (demais sociedades): responsáveis, no campo da “macro” tributação, pela fiscalização 
dos atos dos administradores da empresa relativos à definição das políticas de Governança Tributária e, ainda, pela denúncia de fraudes 
tributárias e pela elaboração de relatórios referentes às suas próprias atividades. Já relativamente à “micro” tributação, tem a responsa-
bilidade de examinar a compatibilidade entre as informações contidas nos demonstrativos contábeis/financeiros e aquelas declaradas 
nos documentos fiscais e pela escolha de empresa de contabilidade ou de auditoria nos casos em que a sociedade não conte com uma 
auditoria externa.
A decisão referente ao nível de divulgação dessas políticas de Governança Tributária cabe aos administradores da empresa, 
os quais deverão levar em consideração os benefícios que tal divulgação poderá proporcionarà reputação da sociedade.
Além disso, a execução prática dessas políticas pode se dar por meio de um modelo de Governança baseado na dinâ-
mica tributária, ou seja, no monitoramento e no gerenciamento das mudanças – ou propostas de mudanças – que exerçam 
influência sobre a tributação da sociedade, estabelecendo a divisão de competências e a intraconectividade entre os órgãos 
societários. Para tanto, leva-se em conta os “macros” (planejamento e estratégias tributárias ligados à carga tributária efetiva 
da corporação) e os “micros” (gerenciamento e integração dos departamentos financeiro, contábil e fiscal nas suas operações 
relativas ao cumprimento das obrigações tributárias acessórias) aspectos da tributação. Referido modelo pode ser ilustrado 
e resumido da seguinte forma:
Modelo
Dinâmico
da Gestão
Tributária
Corporativa
Estrutura
Organizacional
Apoio
Externo
Apoio
Externo
Auditoria
Externa
Auditoria
Externa
Apoio
Externo
Apoio
Externo
Membros
Permanentes
ad hoc
Macro Aspectos
Micro Aspectos
Conselho
Fiscal
Conselho
de Administração
Diretor
Presidente
Diretor
Financeiro
Comitê
de Gestão Tributária
Departamentos
Internos das Unidades de Negócio
Unidades de
Negócio
Assembleia de
Acionistas
Artigo
 Revista Governança Tributária • 13 • 
Por fim, é de suma importância que se 
determine uma política de interação entre 
o comitê de gestão tributária, as unidades 
de negócio, seus departamentos internos 
e eventuais conselheiros tributários exter-
nos, de modo que todos os envolvidos 
fiquem a par das responsabilidades dos 
demais órgãos, o que contribui para a sua 
fiscalização mútua. Dessa forma, torna-se 
mais eficaz a governança tributária da so-
ciedade, proporcionando evidentes benefí-
cios à empresa, por meio da redução ou, 
até mesmo, eliminação de seus riscos tribu-
tários e de sua maior competitividade ante 
3- Conselho de Administração (S.A.) ou sócio-administrador (demais sociedades): responsáveis, no campo da “macro” tributação, pela ins-
tituição das políticas de Governança Tributária na empresa, bem como pela fixação e fiscalização das atribuições dos diretores da sociedade no 
que se refere a essas políticas e pela eleição de auditoria independente/externa que fiscalize a correta implementação de tais políticas.
4- Diretor presidente (S.A.) ou administrador (demais sociedades): suas responsabilidades se inserem tanto no âmbito da “macro” 
quanto no da “micro” tributação. Têm os deveres legais de lealdade, diligência e informação. Com relação ao dever de informação, 
recomenda-se a adoção de procedimento acerca de como e quando órgãos societários de hierarquia superior devem encaminhar os 
problemas fiscais ao diretor presidente ou administrador, de forma a evitar que eles cheguem ao seu conhecimento quando o problema 
já seja de difícil ou impossível solução. O administrador tem responsabilidade tributária pessoal (ou seja, exclui-se a responsabilidade da 
empresa) por infrações à lei ou a contrato e por infrações cometidas com culpa ou dolo que resultem em lesão ao Fisco. Quando a 
infração for cometida pelos demais órgãos da sociedade, a responsabilidade do administrador passa a ser solidária à do infrator.
5- Comitê de Gestão Tributária (todos os tipos de sociedades): nos âmbitos da “macro” e “micro” tributação é responsável exclusi-
vamente pela implementação na empresa do princípio da boa Governança Tributária, auxiliando os demais órgãos societários a definir 
as estratégias tributárias e a estabelecer e implantar as políticas de Governança Tributária. Esse comitê pode ser constituído tanto por 
membros permanentes quanto por membros ad hoc, todos com vasta especialização na área tributária, e deve ter como atribuições a 
coordenação, o controle, a revisão e o planejamento das políticas tributárias da empresa, inclusive aquelas relativas ao gerenciamento de 
riscos tributários. Tais políticas devem abranger todas as obrigações tributárias da empresa e de terceiros (no caso de responsabilidade 
tributária), principais e acessórias, nas três esferas de governo, inclusive sob um panorama internacional (preços de transferência, aplicação 
de tratados de bitributação etc), quando aplicável.
6- Unidades de negócios (diretores financeiro, contábil e fiscal): responsáveis, na esfera da “micro” tributação, pelo gerenciamento e 
supervisão dos seus respectivos departamentos internos no cumprimento das obrigações financeiras, contábeis e tributárias principais 
e acessórias, ou seja, a tudo que diz respeito ao pagamento dos tributos e à elaboração, entrega, armazenamento e divulgação das 
declarações e documentos financeiros, contábeis e fiscais. Podem ser designados como responsáveis, igualmente no campo da “macro” 
tributação, pela execução de algumas políticas fiscais (relativas, por exemplo, ao gerenciamento de riscos tributários, relacionamento com 
as autoridades fiscais e com o governo etc).
7- Departamentos internos das unidades de negócios (departamentos financeiro, contábil e fiscal): responsáveis, no campo da 
“micro” tributação, pela execução das tarefas delegadas por suas respectivas unidades de negócios, nelas incluídos o cumprimento e a 
execução técnica de algumas políticas de Governança Tributária.
* Letícia Mary Fernandes do Amaral é advogada tributarista, empresarial e internacional, com experiência profissional em Londres, vice-
presidente do Instituto Brasileiro de Governança Tributária – IGTAX e do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT, professora 
de Direito e Processo Tributário em cursos de extensão e pós-graduação, mestre em Direito Internacional e Europeu de Negócios pela 
Universidade de Toulouse, França, com título reconhecido pela Universidade de São Paulo – USP e especialista em Direito Tributário pela 
Academia Brasileira de Direito Constitucional.
Artigo
as técnicas de redução da carga tributária 
empresarial, sempre seguindo os ditames 
de legalidade, ética e moralidade.
 1Para um estudo mais detalhado acerca dos princípios aplicáveis 
à Governança Corporativa e Tributária, vide AMARAL VIGGIA-
NO, Letícia Mary Fernandes do. Governança Tributária: princípios 
e prática. Direito Tributário Atual, v. 22, p. 258-266, 2008.
• 14 • Revista Governança Tributária
Reportagem
de Capa
Coordenação, controle e ética se unem em um mesmo 
instrumento de planejamento para gerar riqueza às 
empresas e ao País.
Governança Tributária:
imprescindível para as empresas.
No conturbado cenário em que se encontra a 
economia mundial, a Governança Tributária tornou-se a 
chave mestra para as empresas, entidades e organizações 
em geral, uma vez que a sua utilização de maneira eficaz 
proporciona políticas que geram bons resultados e um 
maior controle dos impostos. O tributarista Gilberto Luiz 
do Amaral, um dos poucos estudiosos e especialistas no 
assunto no Brasil, faz uma ampla explanação, orientadora 
e explicativa, sobre o assunto, mostrando como aplicar 
a Governança Tributária e tirar dela o máximo proveito 
para o desenvolvimento do negócio.
Gilberto Luiz do Amaral,
coordenador de estudos 
do IBPT.
 Revista Governança Tributária • 15 • 
Reportagem
de Capa
O que é exatamente a Go-
vernança Tributária?
A Governança Tributária é o con-
junto de procedimentos de gestão 
que visam à coordenação, controle e 
revisão dos procedimentos tributários. 
Com a sua prática, há a redução dos 
riscos fiscais e o estabelecimento de ín-
dices de eficiência, atendendo aos ele-
vados padrões de Governança.
 
Como a Governança Cor-
porativa pode ser aplicada nas 
empresas?
A Governança Corporativa ou Em-
presarial parte da premissa de que a 
empresa não é de um único dono ou 
de poucas pessoas, mas para ela existir 
precisa se relacionar com o mercado, 
clientes, fornecedores, instituiçõesfinan-
ceiras, entre outros. A empresa tem res-
ponsabilidade social no sentido de gerar 
empregos e riquezas, ou seja, de exe-
cutar um modelo de negócio que não 
agrida o meio ambiente e que contribua 
para a manutenção e equilíbrio. Dentro 
do escopo de exigência das empresas, 
cada vez mais social e ambientalmente 
responsáveis, a Governança Corporativa 
impõe aos administradores e gestores 
uma conduta calcada no sentido de pos-
sibilitar mais segurança aos investidores 
e evitar o privilégio dos acionistas majo-
ritários em detrimento dos minoritários.
Como equacionar a Gover-
nança Tributária com a crise 
econômica e financeira que 
assolou o mundo?
 O Brasil tem chamado a atenção 
por ser um mercado que tem superado 
muito bem as dificuldades provenien-
tes da crise financeira internacional. Os 
investidores estão mais criteriosos na 
avaliação das empresas, justamente por-
que a crise foi ocasionada por falta de 
gestão e de uma correta administração, 
como aconteceu no passado nos casos 
da Enron e da WorldCom, que levaram 
milhares de investidores à bancarrota, 
justamente por falta de Governança. A 
questão tributária é importantíssima na 
medida em que o tributo é o principal 
custo da empresa. Uma má gestão da 
tributação empresarial pode levar a 
empresa a ter grandes dificuldades, a 
pagar multas expressivas, enfim, a com-
prometer os seus resultados. Portanto, 
a Governança Tributária se insere nesse 
ambiente de Governança Corporativa, 
procurando oferecer instrumentos de 
monitoração da conduta dos adminis-
tradores, principalmente dos gestores.
 
Como reduzir os custos das 
empresas com a Governança 
Tributária?
A Governança Tributária envolve 
um conjunto de procedimentos para a 
coordenação do controle e revisão, evi-
tando o pagamento de multas ou en-
cargos indevidos. Se a empresa cumpre 
corretamente com as suas obrigações 
e fica atenta a todos os requisitos legais, 
evita multas. A Governança Tributária 
também exige a racionalização do cus-
to tributário, por meio da adoção de 
modelos de negócios em que o custo 
tributário seja o menor possível. O pla-
nejamento tributário pertence à Go-
vernança Tributária por meio de remo-
delações societárias, de reorganizações, 
de uma integração entre todos os de-
partamentos, com uma análise criteriosa 
de toda a legislação, buscando caminhos 
legais para a diminuição do custo tribu-
tário, mas com respeito às normas de 
Governança.
 
Com relação à competitivi-
dade das empresas, é uma fer-
ramenta eficaz?
Para a empresa ser competitiva, ela 
necessita ter preços competitivos, sen-
do necessária uma redução dos custos, 
e sendo o custo tributário o mais ele-
vado, precisa de uma correta gestão e 
• 16 • Revista Governança Tributária
planejamento tributário. A correta Go-
vernança proporciona custos menores 
e resultados mais eficazes.
 
Qual a melhor maneira 
para se gerenciar os tribu-
tos?
A melhor maneira é a personaliza-
da, ou seja, criar toda uma filosofia de 
Governança Tributária, incutindo em 
todos os departamentos e nas pesso-
as a necessidade de uma redução dos 
custos tributários para a competitivida-
de das empresas. Isso se faz por meio 
da integração dos departamentos e da 
busca de meios legais e da criatividade 
operacional, no sentido de deixar a em-
presa cada vez mais apta para ter produ-
tos mais acessíveis ao público. Por meio 
da integração e da implementação de 
uma filosofia de Governança Tributária, 
o custo tributário será reduzido ao lon-
go do tempo, com a criação de metas e 
também com a monitoração dos riscos.
 
A Governança Tributária 
pode aumentar a transparência 
das empresas?
A Governança Tributária faz parte de 
uma exigência cada vez mais intensa por 
transparência, não apenas no sentido de 
anunciar quais são as suas práticas de racio-
nalização tributária, mas a transparência é 
no sentido de que toda prática adotada na 
questão tributária encontre respaldo na le-
gislação e jurisprudência e esteja dentro da 
ótica da Governança Corporativa, seguindo 
os modelos ou trâmites de Governança, 
de forma que o investidor, o fornecedor, 
o cliente e as instituições financeiras vejam 
que aquela empresa é ética, transparente e 
tem fundamentos na adoção de seus pro-
cedimentos.
 Como pode ser feito o con-
trole fiscal por meio da Gover-
nança Tributária?
O controle fiscal faz parte da Go-
vernança Tributária, mas é uma pequena 
parte desta Governança, que se inicia por 
meio de uma filosofia, estabelecendo re-
gras de ética, transparência e consistência. 
A partir daí passa a níveis de gestão estra-
tégica e de gestão operacional. Traça-se 
toda a estratégia de gestão da tributação, 
de maneira a criar indicativos, parâmetros, 
metas, índices, para que a gestão opera-
cional prossiga. O controle mais eficaz da 
tributação exige, também, a integração 
do departamento tributário com os ou-
tros departamentos da empresa. A ques-
tão tributária não é um tema que se ate-
nha somente àquele departamento que 
cuida da sua operacionalização, mas essa 
questão deve ser colocada em todos os 
departamentos, uma vez que todos têm 
um reflexo tributário, seja na área de ven-
das, compras, logística, financeira, gestão 
de pessoas, entre outras.
 
O que significa para a Go-
vernança Tributária uma maior 
rigidez da legislação?
A maior rigidez da legislação impõe 
comportamentos mais monitorados, tan-
to por parte do Fisco, das organizações e 
das partes relacionadas. Isto significa que 
os investidores serão mais exigentes na se-
leção de empresas; os consumidores, por 
sua vez, irão se preocupar se o produto 
agride ou não o meio ambiente, ou seja, 
haverá um controle maior das empresas 
pela sociedade.
A Governança Tributária en-
volve quais setores?
Envolve todos os setores da empresa, 
desde a assembleia geral, sócios, direção, 
conselhos de administração, deliberativo, 
“A integração da 
gestão tributária 
com todos os 
departamentos 
é um requisito 
indispensável para a 
eficiência e resultados 
eficazes de uma 
correta Governança 
Tributária”
Reportagem
de Capa
 Revista Governança Tributária • 17 • 
até a gestão executiva da empresa e o 
setor organizacional. A integração da 
gestão tributária com todos os depar-
tamentos é um requisito indispensável 
para a eficiência e resultados eficazes de 
uma correta Governança Tributária.
 
Quais os desafios para a Go-
vernança Tributária?
O que falta é conscientizar a socieda-
de sobre o papel fundamental da ques-
tão tributária. Nós não temos no Brasil 
analistas de mercado, que sejam especia-
listas em tributação, ou seja, profissionais 
que têm o dever de recomendar ou não 
a aquisição de ações e títulos mobiliários 
para os investidores, não abordam a 
questão tributária em suas análises. Desta 
forma, mesmo que os índices contábeis 
da empresa sejam favoráveis ao investidor, 
a empresa poderá estar vulnerável no as-
pecto tributário, sendo que esta questão 
não será objeto de análise por parte dos 
analistas de mercado. Além disso, o de-
safio é conscientizar os profissionais da 
área tributária e que eles devem se in-
tegrar com os outros departamentos da 
empresa, porque a gestão tributária efi-
caz tem conotações e reflexos em toda 
a organização. Outro importante desafio 
é permitir ao mercado uma maior moni-
toração das empresas.
 Nossa tributação é uma das 
mais altas do mundo. Quais 
suas consequências e como 
diminuí-la?
A carga tributária é um impedimen-
to ao desenvolvimento econômico do 
País, uma vez que onera internamente 
a produção e o trabalho, e, com isso, 
reduz a possibilidade de consumo. A 
renda do brasileiro é comprometida 
de maneira direta e indireta com o pa-
gamento de tributos. A diminuição da 
cargatributária só se dará por meio da 
conscientização da sociedade, que mo-
bilizada poderá cobrar dos governos 
sua racionalização e também sua apli-
cação em serviços à população.
Como diminuir os riscos utili-
zando a Governança Tributária?
A correta Governança Tributária 
estabelece índices de riscos, visando 
sua minimização. Avaliam-se as altera-
ções, no sentido de identificar os possí-
veis riscos e, dessa forma, poder imple-
mentar um conjunto de medidas que 
reduza o risco tributário ao máximo.
 
Segundo estudo do IBPT, 
muitas empresas com ações na 
Bolsa de Valores estão inscritas 
na dívida ativa da União. Como 
a Governança Tributária pode 
contribuir com essas empresas?
Se a maioria dessas empresas fizesse 
uma correta gestão tributária, não deixa-
ria que seus nomes constassem em ca-
dastros de inadimplência, porque a lista 
de devedores nada mais é do que uma 
lista de inadimplentes. Há casos em que 
pode ter havido um erro por parte da 
Fazenda, o que pode configurar uma fa-
lha na estrutura de Governança. De acor-
do com o Estudo realizado pelo IBPT, em 
2009, 29,11% das empresas que fazem 
parte da Bovespa constavam na dívida 
ativa da União. Esse índice é muito alto, 
porque representa três vezes a média 
dos países desenvolvidos e dos em de-
senvolvimento. Existe ainda um caminho 
longo para que as grandes empresas, hoje 
inadimplentes, adotem uma postura de 
Governança mais eficaz. A pesquisa de-
monstra que a Governança Tributária 
não tem sido levada muito a sério por 
parte de alguns segmentos empresariais.
“A carga tributária 
é um impedimento 
ao desenvolvimento 
econômico do 
País, uma vez que 
onera internamente 
a produção e o 
trabalho, e reduz 
a possibilidade de 
consumo.”
Reportagem
de Capa
• 18 • Revista Governança Tributária
“Modelo tributário
brasileiro é semelhante
ao dos antigos países
medievais”
Filho do fundador da Gerdau S.A., Jorge Gerdau Johannpeter começou a 
trabalhar na empresa há quase 60 anos, na condição de auxiliar. Foi ganhando 
posição e, em 1983, assumiu a Presidência. Foi sob sua liderança que a empresa 
se tornou internacional. Hoje, a Gerdau está presente em 14 países e é uma 
das maiores fornecedoras de aço do mundo. Em entrevista exclusiva à Revista 
Governança Tributária, Jorge Gerdau enfatiza a necessidade de uma reforma 
tributária no País e afirma que o modelo tributário brasileiro é atrasado. “É 
semelhante ao dos antigos países medievais”, diz.
Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Jorge Gerdau 
Johannpeter começou sua carreira profissional na companhia 
em que trabalha até hoje, a Gerdau, uma das maiores potências 
siderúrgicas do mundo. Ingressou na empresa em 1954 com o 
cargo de auxiliar, passando a fazer parte da diretoria em 1973 
e chegando à Presidência em 1983. Hoje, ele ocupa o cargo de 
presidente do Conselho de Administração da Gerdau.
A
ná
lis
e
Entrevista
 Revista Governança Tributária • 19 • 
Qual a sua opinião a respeito da 
Governança Tributária?
Sem dúvida, a Governança Tributá-
ria é a alternativa mais inteligente e efe-
tiva para o complexo sistema tributário 
brasileiro, pois age preventivamente, 
por meio de um conjunto de solu-
ções que tornam a empresa mais ágil e 
transparente. Isso maximiza resultados, 
pois possibilita a identificação e quanti-
ficação de riscos tributários, com base 
em planejamento e inteligência fiscal.
 
Como o senhor encara a concor-
rência?
Enfrentamos a concorrência buscan-
do sempre fazer o melhor. Trabalhamos 
continuamente para termos produtos 
e serviços com patamares superiores 
de qualidade e eficiência, além de bus-
carmos nos antecipar às necessidades 
de nossos clientes.
 
Quais as alternativas que a em-
presa utiliza para atrair mais 
consumidores?
É preciso ser cada vez mais eficien-
te, reduzindo custos e aumentando a 
produtividade. O verdadeiro empreen-
dedor nunca está satisfeito: ele se com-
porta como um animal que caça, sem-
pre em busca de novas oportunidades 
e de inovação. Esse estado de atenção 
constante é essencial no dia a dia para 
o êxito de um negócio.
Qual a sua opinião sobre haver 
destaque em Nota Fiscal do va-
lor dos tributos incluídos no pre-
ço final dos produtos?
Entendemos que representa um 
avanço importante. No entanto, em ra-
zão da complexidade do nosso atual sis-
tema tributário, é uma medida difícil de 
ser implementada. Nesse sentido, refor-
çamos a importância da reforma tribu-
tária, que simplificaria o sistema e possi-
bilitaria que os consumidores tivessem 
conhecimento da parcela de impostos 
sobre os produtos.
 
Isso amedrontará o consumidor, 
fazendo-o deixar de adquirir es-
ses produtos?
O mais provável é que o consumi-
dor não deixe de adquirir os produtos, 
pois, em princípio, a medida não alte-
rará os preços. O mais importante, no 
entanto, é que se trata de uma medida 
de transparência e respeito com o con-
sumidor, a exemplo do que já ocorre 
em outros países.
 
O senhor acha que o brasileiro 
paga muitos tributos?
Sim, sem dúvida. O patamar da car-
ga tributária do País é comparável ao 
de países desenvolvidos e com serviços 
públicos amplos e eficientes, que tam-
bém destinam um porcentual elevado 
para investimentos, o que no Brasil é 
mínimo. Por isso, acreditamos que a re-
forma tributária deveria incluir a fixação 
de um teto para a tributação no País.
 
A alta carga tributária atrapalha 
os negócios?
A alta carga de tributos do País é 
hoje a variável que mais atrapalha a 
atuação das empresas, tanto no merca-
do local como no internacional. A car-
ga tributária tira a competitividade das 
empresas e atinge também os próprios 
Estados, mantendo esse processo com-
plexo e oneroso.
 
O senhor acredita que a alterna-
tiva mais viável seria a reforma 
tributária?
O nosso atual sistema tributário é 
ultrapassado e não atende às necessida-
des e evoluções da economia. Por isso, é 
imperativo que se aprove e implemente 
o mais breve possível a reforma tributá-
ria, tornando a economia brasileira mais 
competitiva globalmente. 
 
Uma das propostas da reforma 
é a desoneração das folhas de 
pagamentos. Com o grande nú-
mero de funcionários, qual será o 
“Trabalhamos 
continuamente 
para termos 
produtos e serviços 
com patamares 
superiores”
M
at
hi
as
 C
ra
m
er
Entrevista
• 20 • Revista Governança Tributária
impacto disso para a Gerdau?
Mais importante do que calcular o 
impacto dessa medida para uma empre-
sa, é verificar o que ela representa para 
o Brasil. É indiscutível que o País perde 
em competitividade, porque do total 
do custo da folha de pagamento o co-
laborador fica com 50%. Do valor bru-
to total, pelo menos 40% são impostos. 
Quando se analisa uma cadeia produ-
tiva complexa, existem, no mínimo, dez 
etapas nas quais esses impostos vão se 
acumulando. São custos incorporados 
ao preço dos produtos, que oneram o 
consumidor e tiram a competitividade 
das empresas no mercado internacional. 
O Brasil é um dos raros países que con-
tinua a exportar tributos.
 
Há alguns anos, o senhor afirmou 
em uma entrevista que a refor-
ma tributária seria um dos temas 
mais importantes para a econo-
mia do Brasil. Continua sendo?
Continuamos defendendo que a re-
forma tributária é altamente necessária e 
urgente. No mercado internacional, prin-
cipalmente, compete-se, muitas vezes, 
por uma diferença de 0,5% a 1%. É por 
isso que os empresários, de modo ge-
ral, acreditam que a reforma tributária é 
absolutamente necessária. A competição 
hoje, no País, não é mais local, é global.
 
O senhor afirmou também que 
o sistema tributário brasileiro é 
medieval. Por quê?
Se um empresário investeR$ 100 
milhões para construir uma fábrica, por 
exemplo, é obrigado a recolher R$ 30 
milhões em impostos antes mesmo de 
começar a produzir, e se esse investi-
mento fosse feito em outro país, não 
teria custo tributário antes de iniciar a 
operação. Os R$ 30 milhões, ou seja, 
esses 30% de impostos, poderiam ser 
aplicados no que interessa: no aumento 
da produção e na consequente gera-
ção de mais empregos. Esse modelo 
é semelhante ao dos antigos países 
medievais, onde o nobre, para dar a 
autorização para o comerciante tra-
balhar, exigia o pagamento antecipado. 
Essa cultura foi enterrada no mundo 
moderno, mas ainda está incrustada na 
burocracia brasileira. Ainda não conse-
guimos romper esse traço cultural. 
 
O que mais o preocupa no atual 
sistema tributário?
Temos um sistema tributário muito 
complicado e confuso, além do peso da 
carga tributária e a sua regressividade, 
ou seja, a elevada participação de tribu-
tos indiretos. Todos esses fatores preci-
sam ser equacionados com urgência. É 
preciso acabar com o excesso de leis, o 
alto custo de conformidade e a grande 
quantidade de tributos.
 
Qual a sua opinião sobre a tribu-
tação nas exportações?
O governo vem tomando atitudes 
positivas referentes ao mercado interno, 
como a redução do Imposto sobre Pro-
dutos Industrializados - IPI para os seg-
mentos automotivos e de eletrodomés-
ticos e o plano de incentivo à habitação. 
Porém, faltam ainda ações para promo-
ver o aumento de nossa competitividade 
no exterior. Em primeiro lugar, é preciso 
desonerar os investimentos. Em nenhum 
país do mundo se pagam tantos impos-
tos antes do início da produção como no 
Brasil. Além disso, exportamos tributos, 
o que encarece nossos produtos no ex-
terior. Isso poderia ser resolvido com a 
implantação de um sistema de compen-
sação de impostos na exportação.
 
Qual a diferença da carga tribu-
tária paga pela Gerdau dentro e 
“O verdadeiro 
empreendedor 
nunca está satisfeito: 
ele se comporta 
como um animal 
que caça, sempre 
em busca de novas 
oportunidades e de 
inovação.”
Le
o
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St
re
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ev
Entrevista
 Revista Governança Tributária • 21 • 
fora do Brasil? 
No Brasil, os impostos consomem 
em torno de 34% do valor que adiciona-
mos ao preço do produto. Fora do País, 
esse porcentual é de 14%. Logo, é muito 
difícil competir produzindo por aqui, 
somando-se, ainda, o custo do dinheiro. 
Querendo ou não, sempre pagamos um 
resíduo do risco Brasil, mesmo nas ope-
rações financeiras feitas no exterior.
 
Qual país é melhor para se fazer 
negócios, com relação às ques-
tões tributárias?
O Chile, sem dúvida, é um desta-
que, ao lado dos Estados Unidos e do 
Canadá, que possuem um sistema tri-
butário equilibrado e lógico, além de 
pouca burocracia.
 
O que falta ao Brasil? 
É fundamental realizar as reformas 
estruturais que limitam a capacidade 
das empresas de ganharem posições 
no mercado internacional. Precisamos 
fazer a reforma tributária, reduzir os 
juros, melhorar a logística, aprimorar 
a legislação ambiental e aumentar a 
flexibilização das relações trabalhistas, 
tão oneradas pelos encargos fiscais. 
Some-se a isso o atual problema do 
câmbio. São temas de complexa reso-
lução e que vêm sendo empurrados 
pelos governos há décadas. Se não 
tomarmos uma posição firme, daqui 
a dez anos continuaremos vivendo 
com os mesmos problemas, perden-
do espaço no mercado global e, con-
sequentemente, empregos.
 
Empresas de outros setores 
estão fazendo aquisições ou 
fusões. A Gerdau tem planos 
semelhantes?
Nos últimos anos, a Gerdau exer-
ceu um papel determinante na consoli-
dação do setor siderúrgico global. Esse 
movimento elevou a participação da 
empresa no mercado mundial e a co-
locou como uma das companhias bra-
sileiras mais internacionalizadas. Porém, 
nesse momento, estamos focados em 
manter a competitividade de nossas 
operações em um cenário de incerteza 
econômica mundial.
 
Como empresário brasileiro 
no mercado externo, quais as 
maiores dificuldades que o se-
nhor encontra?
O sistema tributário brasileiro cer-
tamente é um dos pontos principais. 
Porém, há vários outros aspectos que 
limitam a competitividade das empre-
sas brasileiras e, como consequência, 
reduzem nossas vendas no exterior, 
hoje um mercado extremamente re-
levante, dada a limitação do mercado 
interno. A burocracia é outra dificul-
dade crucial que se impõe no ambien-
te de negócios: atualmente, o Brasil 
é um dos países onde é mais difícil 
empreender. Isso tem origem direta 
na gestão ineficiente do Estado e no 
baixo incentivo à ação empreendedo-
ra. Podemos citar, também, a neces-
sidade de investimentos na estrutura 
logística do País, que representa um 
custo adicional para diversos setores 
da economia, como o agronegócio. A 
manutenção da taxa básica de juros 
em um patamar alto também é preju-
dicial, pois recai sobre cada etapa do 
processo produtivo, encarecendo o 
produto final. Oferecer juros elevados 
gera um desestímulo ao investimento 
produtivo e à geração de empregos. 
Atualmente, poderíamos ter um nível 
de juros extremamente baixo, em ra-
zão do volume de nossas reservas. A 
alta taxa de juros também atrai ex-
pressivos volumes de capital, gerando 
um afluxo de dólares no País e fazen-
do com que o real se sobrevalorize. 
Novamente, nossos produtos perdem 
competitividade, pois chegam ao ex-
terior mais caros. Tradicionalmente, a 
taxa de juros desempenhou um papel 
fundamental na contenção da inflação 
e nas políticas fiscais no Brasil. Entre-
tanto, é preciso mudar essa política, na 
medida em que, nesse momento, não 
há mais riscos de inflação, pois a de-
manda segue reduzida. Esses e outros 
pontos são limitadores da competitivi-
dade brasileira e prejudicam a geração 
de empregos e renda, fazendo o País 
perder oportunidades de desenvolvi-
mento. O Estado precisa estar atento 
para corrigir esses erros e procuramos, 
por meio de iniciativas como o Movi-
mento Brasil Competitivo, contribuir 
com esse debate. Porém, o caminho é 
longo e ainda há muito a ser feito.
Entrevista
• 22 • Revista Governança Tributária
O que se está presenciando no mo-
mento, não é a tentativa efetiva da volta 
da Contribuição Provisória sobre Movi-
mentação ou Transmissão de Valores e de 
Créditos e Direitos de Natureza Financei-
ra – CPMF, que sucumbiu definitivamente 
em dezembro de 2007, mas a instituição 
de um novo tributo, denominado Con-
tribuição Social para a Saúde – CSS, cujo 
projeto prevê a destinação dos valores 
arrecadados a este título para o financia-
mento da saúde pública.
A possibilidade de sua introdução está 
prevista no artigo 195, parágrafo 4º da 
Constituição Federal Brasileira – C.F, na 
chamada competência tributária residual 
para instituir contribuição especial para a 
seguridade social.
Porém, se aprovada nos moldes em 
que está sendo atualmente discutida, a 
CSS provavelmente terá sua constitucio-
nalidade discutida no Supremo Tribunal 
Federal – STF, em razão de não obedecer 
ao que dispõem os artigos 195, parágrafo 
4º c/c 154, inc. I, ambos da C.F, os quais 
exigem, entre outros requisitos, que tal 
contribuição seja não cumulativa.
Isso porque a cobrança da contribui-
ção discutida não terá qualquer tipo de 
compensação de valores, incidindo de 
forma repetitiva e indiscriminada sobre 
débitos em contas bancárias, e esta não-
compensação fere frontalmente disposi-
ção constitucional clara.
Porém, independentemente dessa dis-
cussão judicial, precisamos refletir: o que se 
esconde por trás da proposta da instituição 
de uma nova contribuição para a saúde, a 
qual nos remete à “recriação da CPMF”? 
Estamos diante da discussão de uma 
A volta da CPMF é uma
afronta à boa administração dos 
recursospúblicos
proposta para a criação de um novo tri-
buto, similar à CPMF, havendo apenas a 
alteração do nome da contribuição e do 
percentual da alíquota, que anteriormente 
era de 0,38% e agora passaria para 0,10%.
Ressalte-se que a arrecadação da CPMF 
ficava em torno de R$ 36,5 bilhões anuais 
(dados de 2007), fato que nos remete à pos-
sibilidade de, por meio de um cálculo propor-
cional, projetar um valor de R$ 13,8 bilhões 
de recolhimento anual do novo tributo.
É de nosso entendimento que esta ver-
ba, neste valor, o qual representa algo em 
torno de 1,09% da carga tributária global 
do País (cf. previsão para 2010), em nada 
possibilitaria acabar com os problemas da 
saúde pública do nosso País.
Também é importante atentarmos para 
o fato de que, como a forma de incidência 
deste novo tributo leva em consideração 
Artigo
 Revista Governança Tributária • 23 • 
Diante deste quadro, o que pode-
mos verificar é que todos os tributos 
que são destinados à Seguridade Social 
e, consequentemente, à saúde, tiveram, 
de 2007, ano em que a CPMF foi extinta, 
até 2010 (previsão de arrecadação), um 
crescimento nominal de 38% e, ainda, de 
18% de crescimento real, ou seja, depois 
de descontada a inflação do período.
Ora, o raciocínio é lógico, evidente-
mente os valores destinados à saúde foram 
arrecadados e em grandes proporções, 
não existindo argumento que justificasse a 
necessidade da criação de um novo tribu-
to para financiar a saúde pública, pois está 
claro que após a extinção da CPMF houve, 
inclusive, um aumento na arrecadação. 
Com todos esses recursos crescen-
do significativamente neste período, por 
que a saúde pública continua em estado 
lastimável? Será que estes valores foram 
efetivamente destinados para o setor? 
Será que a criação de um novo tributo, 
que arrecadaria aproximadamente R$ 
14 bilhões no ano, efetivamente resol-
veria os problemas da saúde no Brasil?
Ou seja, torna-se muito cômoda a ins-
tituição de um novo tributo, fazendo com 
que, novamente, os contribuintes venham 
a pagar pela ineficiência governamental na 
administração dos recursos arrecadados.
Temos de dar um basta em tudo 
isso! A sociedade não tolerará a cria-
ção de mais um tributo que é comple-
tamente inoportuno e desnecessário, e 
que tem a finalidade precípua de se en-
cobrir a má utilização e administração 
dos recursos públicos. 
* João Eloi Olenike é tributarista, contador, 
auditor, professor de Contabilidade e Plane-
jamento Tributário, e presidente do IBPT.
Levando-se em conta somente os 
tributos mencionados na Car ta Mag-
na, temos que a seguridade social é 
financiada pelos recursos do INSS, 
a) Encargos da Previdência Social (Instituto Nacional do Seguro Social – INSS) do empregador, das empresas, das entidades 
a ela equiparadas incidentes sobre:
a.1) folhas de salários e demais rendimentos pagos;
a.2) receita ou faturamento;
a.3) sobre o lucro.
b) Contribuições (INSS) do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social;
c) Receitas de concursos de prognósticos.
d) Do importador de bens ou serviços, ou de quem a ele a lei equiparar.
da Contribuição Social Sobre o Lu-
cro – CSLL e da Contribuição para 
o Financiamento da Seguridade Social 
– Cofins.
Em pesquisa ao site da Receita Fe-
deral do Brasil – RFB, verificamos as 
seguintes arrecadações, referentes a 
estes tributos:
Artigo
os débitos efetuados em conta bancária, a 
exposição da movimentação bancária dos 
contribuintes voltaria a ser obrigatória por 
parte das instituições financeiras e estas in-
formações seriam destinadas ao órgão ar-
recadante. É notório que o acesso a estes 
dados sempre foi interessante para o Go-
verno Federal e, por este motivo, pode-se 
concluir que a volta deste tipo de controle 
pode vir a ser a intenção principal e camu-
flada da cobrança deste tributo.
Para justificar a afirmação de que a 
criação da CSS em nada possibilitaria aca-
bar com os problemas da saúde pública do 
nosso País, precisamos primeiramente ter 
ciência do texto trazido pela Constituição 
Federal em seu artigo 194, o qual dispõe 
sobre a seguridade social nos seguintes 
termos: “A seguridade social compreende 
um conjunto integrado de ações de inicia-
tiva dos Poderes Públicos e da sociedade, 
destinadas a assegurar os direitos relativos à 
saúde, à previdência e à assistência social”.
Podemos constatar por meio deste 
dispositivo, que a saúde está inserida no 
conceito de seguridade social.
Ainda de acordo com a C.F, em seu 
artigo 195, há a indicação da origem dos 
recursos para o financiamento da seguri-
dade social, são eles:
Fonte: site da Receita Federal do Brasil.
• 24 • Revista Governança Tributária
A Organização para Cooperação 
e Desenvolvimento Econômico – 
OCDE divulgou, no dia 15 de dezem-
bro de 2010, os dados de 2009 sobre 
a arrecadação tributária em compara-
ção ao Produto Interno Bruto - PIB, 
a chamada Carga Tributária, dos países 
que dela fazem parte.
Em geral, houve uma queda na carga 
tributária da maioria dos países listados, 
em comparação com os dados de 2008, 
em razão do declínio da atividade econô-
mica e do corte de tributos, motivados 
pela recessão que seguiu a crise econô-
mica mundial iniciada em 2008. Os países 
com maior queda em sua carga tributária 
foram: Chile (de 22,5% em 2008 para 
18,2% em 2009), México (de 21% em 
2008 para 17,5% em 2009) e Grécia (de 
32,6% em 2008 para 29,4% em 2009).
Alguns poucos países ainda registra-
ram um aumento na carga tributária de 
2009 em comparação com a de 2008, 
dentre eles Luxemburgo (de 35,5% em 
2008 para 37,5% em 2009), Suíça (de 
29,1% em 2008 para 30,3% em 2009) 
e Eslovênia (de 37,2% em 2008 para 
37,9% em 2009). Como se percebe, a 
elevação na carga tributária desses pou-
cos países — em média de 0,5% — foi 
bem menos expressiva do que a queda 
no percentual de carga tributária dos 
demais países — média de 1,9%. 
Caso o Brasil integrasse o rol de 
membros da OCDE (composto atual-
mente de 33 países), estaria ocupando 
o 14º lugar no ranking geral dos países 
com o maior percentual de carga tri-
butária (34,41%, segundo dados divul-
gados pelo Instituto Brasileiro de Pla-
nejamento Tributário – IBPT), apenas 
“perdendo” para os seguintes países:
Brasil sobe no ranking
mundial dos países com maior 
carga tributária
Brasil subiu quatro posições no ranking mundial dos países 
com maior carga tributária em 2009, segundo dados divulgados 
em 15 de dezembro de 2010 pela OCDE.
Artigo
 Revista Governança Tributária • 25 • 
Comparando tais dados com os di-
vulgados pela OCDE em 2008, quando o 
Brasil, caso dela fizesse parte, estaria ocu-
pando a 18ª posição (com uma carga tri-
butária de 34,7%, segundo dados do IBPT), 
percebe-se que o Brasil subiu quatro posi-
ções, chegando bem próximo de integrar 
a lista dos “TOP 10” dentre os países com 
as maiores cargas tributárias do mundo.
Surpreende o fato de o Brasil so-
mente “perder” para países europeus 
altamente desenvolvidos, como é o 
caso dos países da Escandinávia (Sué-
cia, Noruega, Dinamarca e Finlândia), 
que, ao contrário do Brasil, prestam 
serviços públicos de qualidade, garan-
tindo à sua população saúde, seguran-
ça, educação, previdência social, boas 
estradas, reembolso de medicamentos, 
auxílio moradia etc. Ou seja, além do 
que os habitantes desses países têm de 
destinar aos seus respectivos governos, 
por meio do pagamento de tributos, 
não precisam recorrer ao setor priva-
do, despendendo ainda outra parcela 
significativa de seus rendimentos para 
custear tais serviços essenciais. 
Essa é a grande distinção entre tais 
países europeus e o Brasil, onde, além 
de ser necessário trabalhar quase 150 
dias (ou cinco meses) do ano somen-
te para custear a cobrança de tributospor parte do governo, o brasileiro ain-
da tem de trabalhar outros quase cin-
co meses somente para pagar, ao setor 
privado da economia, os serviços pú-
blicos essenciais que o governo deve-
ria garantir-lhe, pois é essencialmente 
Enfim, basta agora parar para refletir 
até onde se espera que o Brasil chegue 
com essa sua elevada carga tributária. E 
olha que não falta muito para se inserir 
entre os “TOP 10” do mundo! 
Espera-se, sinceramente, que esse 
não seja o objetivo do novo governo 
em 2011, pelo menos não sem que haja 
uma mudança significativa na taxa de 
retorno de serviços públicos à popula-
ção brasileira. 
Se é para o Brasil ser comparado 
aos países europeus, que não seja ape-
nas no percentual elevado de sua carga 
tributária, mas sim, e primordialmente, 
na qualidade de serviços públicos pres-
tados à população!
para isso que os tributos são pagos.
É importante esclarecer, nesse 
sentido, que o principal motivo dessa 
grande distorção entre os países euro-
peus com carga tributária elevada e o 
Brasil – também com carga tributária 
muito elevada – não é o número de 
habitantes, nem a extensão geográfica 
ou qualquer outro motivo nesse senti-
do que se queira dar (que nada dizem 
respeito ao cálculo da carga tributária, 
que é feito proporcionalmente ao ta-
manho físico e econômico do país, pois 
justamente é a divisão do total arre-
cadado em tributos pelo PIB do país), 
mas sim, e primordialmente, a quanti-
dade do desvio do dinheiro público e 
a má gestão da máquina pública que 
levam, ainda, a uma outra consequên-
cia nefasta: a sonegação tributária. 
Aí é que se encontra o “rombo” 
brasileiro, o que causa grande revolta na 
população.
O brasileiro, em geral, não é contra 
o pagamento de tributos, até mesmo 
porque tem consciência de sua impor-
tância para custear a máquina pública. 
O que lhe angustia e lhe causa revol-
ta é saber que paga — e paga muito 
— ao governo e não tem um retorno 
minimamente satisfatório. 
Além disso, também causa revolta 
saber que o brasileiro tem de pagar 
mais tributos do que os habitantes do 
Reino Unido, do Canadá, da Espanha 
e dos Estados Unidos, somente para 
citar alguns outros impor tantes países 
desenvolvidos. 
Mais revolta ainda causa saber que, en-
tre os países em estágio de desenvolvimen-
to equivalente ao brasileiro, o Brasil lidera, 
disparado, o ranking em carga tributária:
* Letícia Mary Fernandes do Amaral é advo-
gada e vice-presidente do Instituto Brasileiro 
de Planejamento Tributário - IBPT.
Artigo
* C.F. estudo elaborado pelo escritório Machado-Meyer, intitulado “ 
Tax burden in the world - A comparative Brasil x BRICS”, obtido em http://
www.indiabrazilchamber.org/en/?p=2094, acesso em 16 dez. 2010.
• 26 • Revista Governança Tributária
O verdadeiro
custo dos
tributos
Artigo
 Revista Governança Tributária • 27 • 
A atual sistemática de cálculo 
eleva indevidamente a tributação 
em cerca de R$ 63 bilhões por ano, 
equivalente a 2,03% do Produto In-
terno Bruto – PIB. Ou seja, a carga 
tributária brasileira de 2009, se não 
Não é novidade que o Brasil tem 
uma das mais altas cargas tributárias 
do mundo. Também se sabe que temos 
uma grande quantidade de tributos, 
uma burocracia eivada de normas de 
todas as espécies e uma miríade de 
obrigações acessórias. Além disso, a 
maior tributação se concentra sobre a 
produção, o faturamento e os salários, 
que oneram injustamente o consumo 
das famílias brasileiras.
Se não bastasse tudo isso, há mais 
um agravante nessa situação caótica: a 
forma como esses tributos são cobra-
dos, principalmente aqueles exigidos 
do consumidor final.
De acordo com o correto uso da 
norma tributária, para a determinação 
do montante do tributo, deve ser apli-
cada uma alíquota (percentagem) sobre 
a base de cálculo (valor estabelecido na 
legislação tributária).
O grande problema da técnica de 
incidência utilizada no Brasil está na 
inclusão do tributo na sua própria 
base de cálculo (incidência “por den-
tro”). Isso, além de dificultar o acom-
panhamento da real incidência, eleva 
significativamente o custo da tributa-
ção para o consumidor.
Os principais tributos que oneram o 
preço final dos produtos e serviços são: 
ICMS (imposto estadual com alíquotas 
variáveis de acordo com o Estado e com 
o produto/serviço, normalmente entre 
17% e 30%); PIS (contribuição federal 
com alíquota nominal de 1,65%, inciden-
te sobre o faturamento das empresas); 
Cofins (contribuição federal com alíquo-
ta nominal de 7,6%, incidente sobre o fa-
turamento das empresas), e IPI (imposto 
federal sobre produtos industrializados, 
com alíquotas variáveis de 2% a 330%).
A diferença da incidência “por den-
tro” e “por fora” está no impacto no 
preço final das mercadorias e servi-
ços. O somatório das alíquotas de 
PIS e Cofins é 9,25%. Como no cálcu-
lo destas contribuições a incidência é 
“por dentro”, as alíquotas nominais de 
9,25% resultam em alíquotas reais de 
10,19%. Assim, verifica-se a diferença 
de incidência das principais alíquotas, 
conforme tabela abaixo:
houvesse esta anomalia que aumenta 
indevidamente a tributação, seria de 
32,99% e não 34,41% do PIB, segun-
do dados do IBPT.
Além de ser grande a confusão e 
a dificuldade de se efetuar o “cálcu-
lo por dentro” nos tributos sobre o 
consumo, essa “inovação matemática” 
— infelizmente, diga-se de passagem 
— é “filha única” de pais brasileiros. 
Isso quer dizer que não se têm no-
tícias de que tal cálculo seja adotado
9,25%
17%
18%
19%
25%
26%
27%
30%
10,19%
20,48%
21,95%
23,46%
33,33%
35,14%
36,99%
42,86%
ALÍQUOTA NOMINAL ALÍQUOTA EFETIVA
Artigo
• 28 • Revista Governança Tributária
em outras partes do globo terrestre.
De fato, na Europa, por exemplo, 
onde desde a edição da Sexta Diretiva 
sobre o Imposto sobre o Valor Agre-
gado – IVA ou Value Added Tax – VAT 
já se unificou o sistema de cobrança 
desse tributo, o seu cálculo leva em 
conta tão-somente o preço de com-
pra/aquisição/importação do bem ou 
do serviço em si, excluindo-se o valor 
do próprio IVA. Além disso, lá também 
se aplica o princípio da não-cumula-
tividade, ou seja, o contribuinte tem 
direito a deduzir do valor do imposto 
a ser pago nas operações subsequen-
tes o montante de imposto devido em 
razão de operações passadas.
Diferentemente, nos Estados 
* Gilberto L
uiz do Amar
al é 
coordenado
r de estudo
s do 
Instituto Bra
sileiro de Pl
ane-
jamento Trib
utário – IBP
T e 
presidente 
do Instituto
 de 
Governança T
ributária – IG
TAX, 
advogado t
ributarista, 
audi-
tor, consulto
r de empres
as e 
professor d
e pós-gradu
ação 
em Direito, 
Gestão e Pl
ane-
jamento Trib
utário.
* Letícia Mary Fernandes do Amaral é vice-presidente do Instituto Brasileiro de Pla-nejamento Tributário – IBPT e do Instituto de Governan-ça Tributária – IGTAX, advo-gada tributarista, mestre em Direito Internacional pela Universidade de Toulouse, França e professora de Direito e Processo Tributário em cursos de extensão e pós-graduação,
* João Eloi Olenike é pre-sidente do Instituto Brasi-leiro de Planejamento Tri-butário – IBPT, tributarista, contador, auditor, professor de Contabilidade e Plane-jamento Tributário.
Unidos, onde existe um Sales Tax 
(imposto sobre vendas) de compe-
tência estadual e local em vez de um 
VAT, o cálculo é ainda mais direto e 
simples. Os industriais e atacadistas 
devem apenas cer tificar ao Fisco 
que não são consumidores finais 
dos bens adquiridos dentro da ca-
deia produtiva. Assim, as operações 
por eles efetuadas são consideradas 
não-tributadas, sendo o imposto de-
vido somente quando da venda ao 
consumidor final. Desse modo, o cál-
culo da alíquota do imposto é feito

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