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Caso Marbury x Madison

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Marbury vs Madison�
					Prof. gassen gebara
Imprescindível que se destaque a importância desse caso concreto, ocorrido nos EUA em meados do séc. XIX, pois o Direito Constitucional brasileiro se filiou, desde a Constituição 1891, ao sistema constitucional americano. Na verdade, filiou-se predominantemente no direito americano, porque as influências que se têm produzido no campo constitucional não se adstringem à experiência daquele pais. Mas não há se negar que por obra de Rui Barbosa a base do constitucionalismo brasileiro foi alicerçada na experiência americana, principalmente a partir de uma notável decisão que foi proferido em 1803, pela Suprema Corte dos Estados Unidos, num caso submetido à sua apreciação. Esse caso é conhecido no contexto jurisprudencial americano como Marbury vs Madison.
Este caso consiste, em breve síntese, no seguinte:
John Adams, presidente dos Estados Unidos, nomeou diversos correligionários seus para ocuparem cargos no Judiciário, pois eram vitalícios e seus vencimentos eram irredutíveis. Dentre outros, foi nomeado o jurista William Marbury como Juiz de Paz do Distrito de Columbia. Isso ocorreu exatamente no final do governo de Adams, QUANDO JÁ ELEITO Thomas Jefferson como Presidente, adversário político de Adams.
John Marshall, secretário de Estado de Adams foi nomeado como Presidente da Suprema Corte dos EUA. Ocorre que apesar de já assinado pelo então Presidente (Adams) o título de nomeação e de já estar com o “selo” americano, não houve tempo para que se completasse a investidura de Marbury. 
Com a assunção de Thomas Jefferson na Presidência, James Madison, novo Secretário de Estado Americano, negou posse ao nomeado. 
De conseqüência, irresignado com a negativa, William Marbury impetrou um writ of mandamus perante a Suprema Corte Americana contra o ato de Madison objetivando afastá-lo para garantir a investidura plena no cargo de Juiz de Paz do Distrito de Columbia. 
O mandado de segurança, contudo, ficou dois anos sem ser julgado, provocando reação na opinião pública e na mídia, pensando-se até mesmo no impeachment dos juízes da Suprema Corte.
Cogitou-se, também, se Marshall (nomeado que fora por Adams) como Presidente da S. Corte teria isenção para julgar o caso, eis que Marbury também era ligado àquele Presidente.
O Governo, por sua vez, diz que se Marshall julgasse procedente o writ e determinasse a nomeação de Marbury, instalar-se-ia uma crise institucional entre os poderes (judiciário e executivo).
Marshall resolve, então, pronunciar-se. Em seu voto, desenvolve raciocínio dedicado à demonstração de que Marbury tinha direito à investidura no Cargo�. Na segunda parte, deduz que, se Marbury tinha o direito, necessariamente deveria haver um remédio jurídico para assegurá-lo�. Finalmente, enfrenta duas outras questões distintas: a de saber se o writ era a via processual adequada e, em caso afirmativo, se a Suprema Corte detinha legitimidade para concedê-lo�.
Em relação à primeira indagação, Marshall responde de modo positivo, argumentando que o writ consista em uma ordem para a prática de determinado ato. Após, examina a possibilidade de se emitir uma determinação dessa natureza a um agente do Poder Executivo. Sustentou, então, que havia duas categorias de atos do Executivo que não eram passíveis de revisão judicial: os atos de natureza política e aqueles que a Constituição ou a Lei houvessem atribuído a sua exclusiva discricionariedade. Fora essas duas exceções, onde a Constituição e a lei impusessem um dever ao Executivo, o Judiciário poderia determinar o seu cumprimento. Estabeleceu, dessa forma, a regra de que os atos do Poder Executivo são passíveis de controle jurisdicional, tanto quanto a sua constitucionalidade como quanto a sua legalidade�.
Em sua decisão, começa dizendo que Marbury tinha direito de ser empossado e que, portanto, Madison (Secretário de Estado) e o presidente Jefferson agiram contrariamente à lei.
Não obstante este entendimento, Marshall decidiu não conceder o mandado de segurança sob a alegação de que a lei (processual) que outorgava competência à Suprema corte para aquela providência (nomeação de juiz de paz em um distrito) contrariava a Constituição Federal que não previa como sendo da competência da Suprema Corte o writ of mandamus assestado contra ato de Secretário do Governo Americano. 
Diante disso, Marshall denega a segurança com base em preliminar de incompetência da Suprema Corte em analisar e julgar atos praticados por Secretário do Governo Americano, lembrando que pela Carta Política americana, só ato do Presidente poderia desafiar o controle direto pela Suprema Corte. A questão crucial que se punha, para a Suprema Corte dos Estados Unidos, não era apenas jurídica. Era, antes de tudo, uma questão política. Thomas Jefferson assumia a Presidência dos Estados Unidos numa época em que se discutia a crescente influência que o Executivo vinha exercendo sobre os demais poderes. Então se afirmava que o Executivo tinha poderes demais, que o Presidente dominava a cena não apenas política, mas jurídica. Essa questão assumia relevo maior porque Thomas Jefferson era uma das personalidades mais reverenciadas da Nação. 
Por obra do Chief Justice John Marshall, Presidente da Suprema Corte, que foi o relator do Mandado de Segurança, se produziu uma das maiores e mais significativas peças jurídicas de que se tem conhecimento, que é o voto que levou a Suprema Corte, por decisão unânime, a fixar toda a técnica do controle jurisdicional da constitucionalidade das leis pelo sistema que se tornou conhecido como o sistema americano ou sistema difuso: a nulidade do ato inconstitucional realiza, de modo bastante expressivo, a concretização do princípio da hierarquia da normas e das fontes do direito: a posição de incontrastável superioridade jurídica da Constituição impõe a necessidade de tutelar a ordem normativa nela formalmente plasmada. 
São expressivos dessa orientação os seguintes excertos do voto do Chief Justice Marshall, ao relatar o caso Marbury vs Madison: 
“se eles (o Congresso) elaborarem uma lei não permitida por um dos poderes enumerados, ela deve ser considerada, pelos juízes, como infringentes à Constituição, da qual eles são guardiões. Eles não deverão considerá-la como lei, ao exercerem a sua função jurisdicional. Eles deverão declará-la nula”.
A decisão de Marshall ilustra o chamado CONTROLE POR UM ÓRGÃO JURISDICIONAL, isto é, uma técnica de controle de constitucionalidade da lei que entrega o exercício dessa competência a um órgão jurisdicional. 
A dificuldade enfrentada pelo Juiz reside no fato de a Constituição dos EUA de 1787 apesar de mencionar em seu art. VI – “Esta Constituição e as leis complementares e todos os tratados já celebrados ou por celebrar sob a autoridade dos Estados Unidos constituirão a lei suprema do país; os juízes de todos os Estados serão sujeitos a ela, ficando sem efeito qualquer disposição em contrário na Constituição ou nas leis de qualquer dos Estados” e fazer alusão no artigo III Seção 2: “1. A competência do Poder Judiciário se estenderá a todos os casos de aplicação da Lei e da Equidade ocorridos sob a presente Constituição, as leis dos Estados Unidos, e os tratados concluídos ou que se concluírem sob sua autoridade; a todos os casos que afetem os embaixadores, outros ministros e cônsules; a todas as questões do almirantado e de jurisdição marítima; às controvérsias em que os Estados Unidos sejam parte; as controvérsias entre dois ou mais Estados, entre um Estado e cidadãos de outro Estado, entre cidadãos de diferentes Estados, entre cidadãos do mesmo Estado reivindicando terras em virtude de concessões feitas por outros Estados, enfim, entre um Estado, ou os seus cidadãos, e potências, cidadãos, ou súditos estrangeiros” não expressa de modo inequívoco um controle de constitucionalidade das leis deferidas aos seus tribunais. De igual sorte, não faz nenhuma alusão ao princípioda separação dos poderes. 
Isto, todavia, não foi obstáculo a que Marshall valendo-se de impecável lógica, demonstrasse no célebre aresto citado acima que o princípio das constituições rígidas impõe necessariamente aquela supremacia. 
As reflexões do juiz foram literalmente do seguinte teor, conforme consta da sentença histórica. Os poderes do legislativo são definidos e limitados, sendo essa limitação a causa das constituições escritas. Se não fossem eles definidos e limitados, por que reduzí-los à forma escrita, se a cada passo poderiam esses poderes ser alterados por aqueles cuja competência se pretende restringir?
Partiu, assim, Marshall para uma proposição evidente e incontestável: ou a Constituição controla todo ato legislativo que a contrarie, ou o legislativo, por um ato ordinário, poderá modificar a Constituição. Não há meio termo entre tais premissas. Logo, afirma ele: ou a Constituição é lei superior e suprema, que se não pode alterar por vias ordinárias, ou entra na mesma esfera e categoria dos atos legislativos ordinários, sendo como tais suscetível também de modificar-se ao arbítrio da legislatura.
Assevera na mesma ordem de idéias que, se um ato de legislativo, oposto à constituição, é nulo, como pode ele – interroga – sem embargo de sua invalidade, vincular tribunais e obriga-los a reconhecer-lhe efeito?
Assinala ainda que é dever do Poder Judiciário declarar o direito. De modo que se uma lei colide com a Constituição, se ambas, a lei e a Constituição, se aplicam a uma determinada causa, o tribunal há de decidir essa causa, ou de conformidade com a lei, desrespeitando a Constituição, ou de acordo com a Constituição, ignorando a lei; em suma, à Corte compete determinar qual dessas regras antagônicas se aplica à espécie litigiosa, pois nisso consiste a essência mesma do dever judiciário (Charles Evans Hughes, The Supreme Court of the United Estate, NY, 1928, pp. 87-88).
Argumentou, outrossim, que seria de se presumir que os constituintes de Filadélfia tivessem já presente ao espírito a necessidade de estabelecer um sistema de controle que fizesse as leis ordinárias sempre conformes à Constituição. Basta que se atente no lugar seguinte do FEDERALISTA onde Hamilton parece inculcar a conveniência desse controle: “por uma constituição limitativa, eu entendo aquela que contém certas exceções específicas à autoridade legislativa, como por exemplo as que de não aprovarão ‘bill of attainder’ nem leis ‘ex post facto’ ou outras semelhantes. Tais limitações na prática somente poderão ser preservadas por via dos tribunais, cuja obrigação deve ser a de declarar nulos todos os atos contrários ao teor manifesto da Constituição. Sem isto todas as reservas de direitos particulares ou privilégios se reduziriam a nada”.
�Direito Constitucional II – 3o semestre – 2013________________________________Prof. Gassen Zaki Gebara
� “É, portanto, a opinião dessa Corte: 1º - que ao assinar o ato de investidura do Sr. Marbury, o Presidente dos EUA nomeou-o juiz de paz e que esta nomeação confere a ele o direito ao cargo pelo prazo de cinco anos” – tradução livre do original.
� “2º Que, tento título jurídico para o cargo, ele tem como conseqüência direito ao ato de investidura; e a recusa em entrega-lo a ele é uma clara violação desse direito, para a aqueal as leis desse país conferem-lhe remédio jurídico” – tradução livre.
� “3. Resta indagar se ele tem direito ao remédio jurídico que postula? Isso depende – 1º da natureza do writ postulado; e, 2º, da competência dessa Corte” – tradução livre
� “ A competência da Corte é tão somente decidir acerca dos direitos individuais, e não indagar como o executivo e seus agentes cumprem os deveres em relação aos quais têm discrição. Questões políticas em sua natureza, ou que pela Constituição e pelas leis são privativas do Executivo, não podem ser apreciadas por essa Corte (...) Mas, quando o chefe de um poder tem o dever jurídico de praticar um ato que afeta direitos individuais, não haveria fundamento para os tribunais do País demitirem-se do dever de prestar jurisdição” – tradução livre.

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