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1. Comente a evolução dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil. “No final do século XIX e início do século XX, começam a surgir programas oficiais de assistência à criança e ao adolescente, culminando com a fundação, no Rio de Janeiro, do Instituto de Proteção e Assistência à Infância, mencionado pela doutrina como o primeiro estabelecimento a crianças e adolescentes. Neste período inicia-se a distinção técnica entre “criança” e “menor”: criança – população infanto-juvenil incorporada à sociedade convencional; menor – população infanto-juvenil em situação de vulnerabilidade social. É importante notar que durante muito tempo a tônica dada à criança e ao adolescente foi sempre no sentido de buscar alguma forma de controle ou proteção para os que se encontrassem em situação de risco ou vulnerabilidade social. Assim é que a Lei 4.242, de 5.1.1921, autorizou o governo a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância Abandonada e Delinquente. Da mesma forma, a Lei 4.242/1921 autorizava o governo a criar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância Abandonada e Delinquente e abria oportunidade para a criação dos juízos de menores. A profusão de leis impôs a necessidade de organização da legislação em um único estatuto, de forma que, em 1927, foi aprovado o Código de Menores, que compilava toda a legislação existente na época. É de se observar que esse texto aboliu o critério do discernimento e exigia que o menor ficasse sob o cuidado dos pais até os 14 anos, e, na impossibilidade de tais cuidados, a internação seria então aplicada. Para o que se encontrasse entre 14 e 18 anos havia a previsão de tratamento, desde que fosse “menor abandonado”. Porém, é de se destacar, como dado positivo, que foi prevista a necessidade de defesa técnica para o então menor. Em 1941, durante o governo Getulio Vargas, é criado o Serviço de Assistência Social ao Menor – SAM, órgão ligado ao Ministério da Justiça cuja função era equivalente à atribuída ao sistema penitenciário comum, com uma única diferença: era voltado à população juvenil. Vê-se, então, que a tônica ainda permanecia na ideia de que o adolescente infrator era, simplesmente, um criminoso comum, cujo processo era apenas diferenciado. Em 1959 tem-se a primeira grande evolução no sentido da mudança de mentalidade sobre o tema: a Assembleia Geral da ONU aprovou por unanimidade a Declaração dos Diretos da Criança, transformando o problema da criança em um desafio que implicava uma solução universal: pais e países tinham a obrigação de proteger e de educar suas crianças. Tratava-se de uma afirmação de princípios. Enquanto isso, no Brasil, em 1964, após anos de luta para o fim do SAM – órgão tipicamente repressivo –, é estabelecida a Política Nacional do Bem- Estar do Menor (Lei 4.513/1964), cujo enfoque era claramente assistencialista. Tinha como órgão nacional a FUNABEM, e surgiu como órgão do Ministério da Justiça, passando, de 1972 a 1986, a integrar o Ministério da Previdência Social. Em 1979 é aprovado o Código de Menores (Lei 6.697), que tratava da proteção e vigilância às crianças menores e aos adolescentes em situação irregular. Apresentava um único conjunto de medidas destinadas, indiferentemente, às pessoas menores de 18 anos, autoras do ato infracional, carentes ou abandonadas. Na década de 1980, em plena abertura política, surge no Brasil grande movimento em prol da nova concepção da infância e da juventude, que busca o desenvolvimento de nova consciência e postura em relação à população infanto-juvenil. Por influência dos ventos de democracia que cá sopravam, passou-se a ver questão da criança e do adolescente como ponto fulcral para o desenvolvimento na Nação, pelo menos do ponto de vista teórico. Nessa época, ganha destaque o trabalho desenvolvido pela Frente Nacional de Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes, pela Pastoral do Menor, pelo Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, pela Comissão Nacional Criança e Constituinte, dentre outros. A situação foi ganhando corpo de forma que culmina, em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, que prevê uma série de dispositivos que visam proteger a criança e o adolescente. O tema ganha capítulo próprio na Constituição Federal, sendo regulado, especialmente, nos arts. 226 a 230. A atenção mundial voltada ao tema também ganha relevância, de forma que tratados e convenções são assinados, o que indica a preocupação das democracias em relação à proteção à criança e ao adolescente. É importante notar que o Brasil se obrigou a cumprir o quanto estabelecido nos tratados e convenções assinados, somente podendo descumpri-los em caso de denúncia do acordo internacional. Dentre as principais convenções destaca-se a Convenção sobre os Direitos da Criança (Res. 45/112, de 14.12/1990) e as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade, que prevê o reconhecimento da criança como sujeito de direitos e não apenas como objeto de proteção: recomenda a criação de uma justiça especializada e de um sistema processual adequado. É também de 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente, cuja função é regulamentar e dar efetividade aos dispositivos constitucionais da Carta Política de 1988. 2. Foi abordado que a sistemática principiológica envolvendo crianças e adolescentes não pode ser tratada simplesmente a partir do estudo do Estatuto da Criança e do Adolescente, pois é na Constituição Federal que que se busca a fonte primordial que inspira toda a atuação do legislador e do intérprete da lei. Desse modo, comente 3 (três) princípios em sede de infância e juventude previstos na Constituição e no ECA. Resposta: a) princípio da prioridade absoluta tem um objetivo bem claro: realizar a proteção integral, assegurando primazia que facilitará a concretização dos direitos fundamentais enumerados no caput do artigo 4º do ECA c/c artigo 227 da CF/88; b) princípio do melhor interesse reconhecido na Declaração dos Direitos da Criança, em 1959, apresenta-se como garantidor do respeito aos direitos fundamentais titularizados por crianças e adolescentes, independentemente de sua relação familiar, de credo ou raça. c) princípio da municipalização ou participação popular através da formulação de políticas locais – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – da escolha de cidadãos interessados em integrar o Conselho Tutelar a fim de solucionar conflitos mais simples e resguardar os direitos fundamentais infanto-juvenis – CF, art. 227, §§3º e 7º, c/c o art. 204, II.d) princípio da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento apontando a criança e o adolescente como destinatário do direito, porquanto está vivenciando um processo de formação e de transformação física e psíquica.
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