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Advogado x “Adevogado” Qual deles você quer ser? Geraldo Cossalter Advogado x “Adevogado” Qual deles você quer ser? Direção Editorial: Marco Aurélio Lucchetti Edição: Marco Aurélio Lucchetti Programação Visual: Gabriel “Billy” Castilho Copidesque e Revisão do Texto: Marco Aurélio Lucchetti Ficha catalográfica elaborada por Kamila Veronese (CRB 8/7335) C836a Cossalter, Geraldo Domingos Advogado x adevogado, qual deles você quer ser? / Geraldo Domingos Cossalter. – Ribeirão Preto : Paradoxo Editorial, 2014. 102 p. ISBN 978-85-917905-0-0 Inclui bibliografia 1. Direito. 2. Direito – Língua portuguesa. I. Título. CDU: 340 SUMÁRIO PREFÁCIO INTRODUÇÃO ESCLARECIMENTO SOBRE A PRONÚNCIA “ADVOGADO” O ADVOGADO E O “ADEVOGADO” O CONCEITO DA CHAVE MESTRA A IMPORTÂNCIA DA LEITURA A IMPORTÂNCIA DOS TEXTOS ORAIS E ESCRITOS A PRODUÇÃO DE TEXTOS A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS O POLIGLOTA DA LÍNGUA MÃE TEXTOS ÉTICOS E OBJETIVOS A ORATÓRIA COLOQUIAL, CULTA E TÉCNICA A ARTE DA PERSUAÇÃO ORAL E ESCRITA A ANÁLISE HUMANA A REFLEXÃO A ALTERIDADE A VOCAÇÃO A HUMILDADE, A SIMPLICIDADE E A SOBERBA EPÍLOGO 21 23 29 31 35 39 43 49 53 59 63 67 73 77 81 85 91 95 99 7 Geraldo Cossalter HOMENAGEM Peço licença ao caro leitor para homenagear minha querida Nita (Tânia), pelos 33 anos de cumplicidade. Eu amo você, Tânia; sua fidelidade me faz um homem honrado e feliz. Obrigado pelas noites mal dormidas, pelas manhãs de trabalho árduo, pelos dias de estudo e inúmeros finais de semana sem lazer, quando estive debruçado sobre os livros. Obrigado por me incentivar e por acreditar em meu trabalho! Quero também prestar uma homenagem ao Rafael, nosso menininho, que há 23 anos se foi. Fruto do nosso amor, sua presença é constante em tudo o que faço. E, por esta razão, jamais irei desistir de lutar pela vida. Eu amo você, meu filho, anjinho que Deus nos emprestou um pouquinho! 9 Geraldo Cossalter DEDICATÓRIA “A humanidade quer sempre ir além de seus limites. Isto é uma grande mentira! A grande verdade é que a maioria dos homens teme ir além de seus limites.” Geraldo Cossalter, 2013 Eu sempre tive o desejo de cursar Direito. E, sem que haja uma explicação qualquer, passei pelo menos dez anos indo de faculdade em faculdade, com a intenção de me matricular; mas, quando chegava o momento de começar o curso, eu acabava deixando para o ano seguinte. No momento em que definitivamente fui cursar Direito, eu contava cinquenta anos e acabara de me aposentar. Isto ocorreu no final do ano de 2011, quando conheci o Prof. Alexandre Meneghin Nutti. Naquela época, o Prof. Nutti era o vice- coordenador do curso de Direito da UNIP, Campi Vargas, Ribeirão Preto, SP. Em 2012, quando comecei o curso, ele havia se tornado o coordenador do curso de Direito. Voltando em 2011, tão logo o Prof. Nutti me contou a história de seu pai, um grande advogado que se formou com mais de quarenta anos, percebi que minha hora havia chegado finalmente. Eu poderia ficar pelo resto da vida aposentado, vivendo uma vida sem perspectivas, já que viver da aposentadoria 10 Advogado x Adevogado em nosso país é tarefa muito difícil. Eu também poderia ficar sem fazer nada ou pescar vez ou outra; entretanto, não era exatamente o que eu queria fazer. Apesar de estar aposentado, continuava a trabalhar como administrador, mesmo assim me faltava algo. Após experimentar muitas dúvidas, concluí que cinquenta anos não é idade para estar apenas aposentado, pelo menos para mim, porque sei que eu morreria pouco a pouco, se deixasse meu desejo passar em branco por esta vida. Diante disto, decidi finalmente iniciar a realização do maior projeto que sempre tive desde minha juventude; aliás, acabei por descobrir que o Direito não era apenas um projeto, e sim minha verdadeira vocação. Acabei descobrindo que o Direito é uma missão nobre e não apenas uma profissão. Descobri que a missão social do profissional do Direito tem relação direta com a essência humana. E foi aí que enxerguei a razão de estar vivo, pois em vão será minha vida, se jamais puder exercer o Direito em prol das pessoas. Quando eu era um adolescente, a vida me levou para muitos caminhos, já que precisava trabalhar e não podia seguir o caminho dos estudos; porém, nunca esqueci o Direito. Todavia, antes de iniciar o curso, eu jamais havia imaginado que pudesse encontrar uma forma de pensar tão ampla, pois sempre enxerguei o Direito bem direito, até porque sempre me achei direito. No entanto, chegando ao lançamento desta obra, posso assegurar que o Direito continua direito e eu também. Hoje, sei que nem tudo o que eu acreditava ser direito é direito. Não apenas para o Direito, uma vez que na vida somos muitas vezes levados a acreditar em um mundo irreal e cheio de falsas verdades. Mas o que é realmente ser direito? Que é o Direito? Quando passei a 11 Geraldo Cossalter enxergar o Direito sob um prisma que nunca imaginei existir, pude ver que há um conceito inicial para este mundo. Fiquei pasmo pela sua simplicidade. Não pelo seu conteúdo, visto que este é bastante complexo; mas exatamente por ser tão simples de enxergá-lo. Fiquei empolgado e ao mesmo tempo preocupado. Quando cheguei para a primeira aula, eu me sentia tranquilo, acreditando que minha idade e experiência de vida certamente iriam contribuir muito com meu desempenho. Ledo engano! Então, por meio das aulas e das lições de meus mestres, a realidade humana e a abrangência do Direito, pude ver o quanto eu preciso estudar, pois, geralmente, o assunto principal desta obra é desprestigiado por muitos, podendo ser calouros, veteranos e até mesmo profissionais do Direito. Olhando sempre por este prisma, fundamentei em meus pensamentos que existe uma matéria que conceituo como a porta de entrada para o complexo mundo do Direito. Tal porta de entrada intitulei “o conceito da chave mestra”; e tal “chave mestra” me foi apresentada pela Profª Dra. Ana Dorotéia Arantes Medeiros, a quem dedico esta obra. 13 Geraldo Cossalter AGRADECIMENTO Foram muitas horas de trabalho e reflexão. Estou feliz e agradecido. A publicação desta obra de natureza muito simples foi possível graças ao aprendizado que pude obter de meus mestres. A influência que cada um deles exerceu em meus pensamentos é o combustível que gerou este resultado. Minha responsabilidade é maior de agora em diante, pois, ao reunir citações, pensamentos e matérias que com eles aprendi, consegui dar início a uma nova forma de pensar. Reconheço a importância de tê-los ouvido e, principalmente, por ter absorvido a essência de seus ensinamentos. Posto isto, tenho a honra de relacionar seus nomes em ordem alfabética como forma de lhes render a minha eterna gratidão: Dr. Alexandre Meneghin Nutti Dr. André Luiz Carrenho Géia Dra. Ana Dorotéia Arantes Medeiros Dr. Humberto Rocha Mestra Juliana Souza Lopes Prof. Leandro Vila Torres Dr. Luiz Henrique Beltramini Dr. Luiz Vicente Ribeiro Corrêa Dr. Marcelo Velludo Garcia de Lima Dra. Maria Ester V. A. Monteiro de Barros 14 Advogado x Adevogado Dr. Matheus Marques Nunes Dr. Ricardo Velasco Cunha Dr. Rodrigo Forcenette Dr. Samuel Nobre Sobrinho Dra. Tríssia Maria Fortunato Paes de Barros. Suas lições jamais serão esquecidas. 15 Geraldo Cossalter OUTRO AGRADECIMENTO A UNIP, Campi Vargas, Ribeirão Preto, SP, me acolheu, oferecendo estrutura, atendimento, recursos para o aprendizado e, acima de tudo, uma equipe de profissionais exemplares em todas as áreas. Este conjunto denota a cultura voltada para o ser humano, razão de meu orgulho em carregar o seunome pelo resto de minha vida. Na pessoa da vice-reitora Profª Melânia Dalla Torre, agradeço e enalteço a Universidade Paulista pelas oportunidades que aqui pude encontrar. Obrigado, UNIP. Seu nome é o meu escudo! 17 Geraldo Cossalter ÚLTIMO AGRADECIMENTO Há vários anos, fui indicado ao Dr. Cristiano, um jovem e competente advogado. Na ocasião, eu necessitava de orientação jurídica; e ele pensou que eu fosse um advogado. Com o passar dos anos, tornamo-nos amigos; e, por diversas vezes, ele me incentivou a cursar Direito. Quando eu comecei a cursar Direito, tive o privilégio de ser convidado pelo Dr. Cristiano, a participar de palestras e atividades promovidas pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), 12ª Subsecção de Ribeirão Preto, SP. E, por seu intermédio, conheci e tenho conhecido pessoas que muito têm ajudado em minha trajetória como estudante de Direito. Tenho participado de diversos eventos. E asseguro que estas oportunidades têm sido importantes para aprimorar o meu conhecimento. É a Casa da Advocacia cumprindo o seu papel social democraticamente. Penso que o aluno de Direito e o cidadão deveriam participar dos eventos lá realizados, já que promover a cidadania é o principal objetivo desta casa. Com certeza, a OAB já faz parte de minha formação e continuará a fazer sempre, até porque, lá tenho encontrado respostas para muitas dúvidas e muitas dúvidas para novas respostas. 18 Advogado x Adevogado Na pessoa do Dr. Cristiano Jacob Shimizu (aquele jovem advogado do início da história), da Dra.Thaís Helena Cabral Kourrouski, da Dra. Marília Constantino Vaccari e do atual presidente, Dr. Domingos Assad Stocco, enalteço o trabalho e agradeço a receptividade de todos os membros da OAB, 12ª Subsecção de Ribeirão Preto SP, casa, onde já me sinto em casa. 19 Geraldo Cossalter MENSAGEM ESPECIAL Geraldo, especial aluno: Percebi que você construirá pela vida de aluno, futuro profissional, aos poucos na UNIP, lutando e vivendo cada momento, absorvendo experiências de vida, cultura e tudo que há de melhor na vida universitária. Simplicidade é a sua tônica, e será sua vitória! Obrigada por honrar a UNIP! Melânia Dalla Torre – Vice-Reitora, Campi Vargas, Ribeirão Preto, SP 21 Geraldo Cossalter PREFÁCIO O bom vernáculo no exercício profissional é o tema deste livro-manual, de autoria do admirável acadêmico do curso de Direito da UNIP – Universidade Paulista, Campi Vargas, Ribeirão Preto, Geraldo Cossalter. É uma obra voltada não só para o acadêmico em Direito, mas também para todo e qualquer profissional, quer ainda estudante ou não. Livro bom deve ser lido por todas as pessoas. Este, do qual tenho a honra de prefaciar, deve ser lido por todos os operadores do Direito e especialmente pelos universitários do curso de Direito, já que a palavra ou a boa verve é a arma de quem tudo na vida quer fazer benfeito, isto é direito. Embora o livro nos mostre as razões para ter uma boa redação na atuação do estagiário de Direito e do advogado, esta obra, pelas considerações que lhe foram dedicadas, a objetividade, síntese e a preocupação do autor para com os universitários, bacharéis em Direito em tempo de prestar o exame de ordem, diz respeito não apenas à Advocacia, mas também a outras pessoas que diuturnamente tentam a efetivação do Direito e a conquista do ideal de justiça. Valor este buscado pelo homem de há muito e muito tempo. Por oportuno, vivemos momentos que os cidadãos estão exigindo vertiginosas mudanças na sociedade brasileira, que cada 22 Advogado x Adevogado vez mais se faz monossilábica nos seus relacionamentos pessoais e eletrônicos. E o autor, com este manual, procurou mostrar a necessidade da boa escrita. E, neste passo, este livro é um presente para os universitários, sobretudo para aqueles que desejam ingressar no mundo do Direito, na OAB, pois se trata, consoante dito, de um manual de fácil compilação, entendimento e com alguns pronunciamentos de seus professores da UNIP. Portanto, antevejo e auguro excelente sucesso no mercado livreiro (embora este não seja o seu objetivo) para esta obra de autoria de Geraldo Domingos Cossalter, acadêmico que conheci na universidade e que com ele também aprendo, respeito, admiro e de cuja amizade tenho o privilégio de hoje usufruir. Ribeirão Preto, agosto de 2014 Luiz Vicente Ribeiro Corrêa, advogado há 33 anos; professor universitário há trinta anos; e ex-presidente (2001-2003) da OAB 12ª Subsecção de Ribeirão Preto, SP 23 Geraldo Cossalter INTRODUÇÃO “A compaixão consiste em abdicar da arrogância e compreender que também sou imperfeito.” Geraldo Cossalter, 2012 No mundo do Direito, o glamour é valorizado por muitos, ou quem sabe até seja o principal motivo para grande parte daqueles que pretendem um dia se tornar bacharel em Ciências Jurídicas e depois advogado (a). Sim, o glamour, pois se trata de uma profissão reconhecidamente respeitada, admirada e – por que não dizer? incompreendida; mas glamorosa, sempre glamorosa. Afinal, a profissão pode representar um sonho, uma tradição de família ou pode ser uma opção para realizações financeiras. É também uma forma de participar de concursos e se tornar um funcionário publico com uma carreira estável. Não importa, até porque existe uma infinidade de razões; entretanto, ter vocação para o Direito implica, acima de tudo, dedicação, estudo e pesquisas constantes e amor pela humanidade. Provavelmente existam muitos outros motivos; porém, o fato é que o caminho dos estudos e do conhecimento deve ser percorrido de uma maneira única, já que um (a) advogado (a) mal 24 Advogado x Adevogado informado (a) e malformado (a) enfrentará dificuldades imensas. Todo universitário precisa compreender que, para se tornar um grande profissional do Direito, deve incorporar e assimilar muitas etapas; aliás, são tantas etapas, que chego a me perder se for enumerá- las uma a uma, pois não existe uma sequência lógica ou um manual que nos leve diretamente ao ponto do total conhecimento do Direito, uma vez que o Direito requer um aprendizado que jamais terá fim! Não existe um caminho predeterminado que levará o estudante ao conhecimento total e exato do Direito. Isto é impossível, razão pela qual o legítimo profissional do Direito deve ser, antes de tudo, um eterno estudante. O futuro profissional do Direito, a partir da data que inicia o curso, passa a ter a necessidade permanente de estudar. Não apenas até o quinto ano, ou até conseguir a tão sonhada carteira da OAB; mas deverá estudar e pesquisar sempre, já que o Direito é muito amplo. O Direito não é rígido e nem tampouco tem as mesmas respostas ou os mesmos resultados em situações que aparentemente são iguais. A propósito, nada no Direito é igual, nada no Direito é constante, nada no Direito é certeza. A única certeza que podemos ter é a necessidade da constante busca do conhecimento e aprimoramento profissional e pessoal. Para aquele que quer se tornar um grande profissional do Direito, para aquele que tem vocação para o Direito, deixo aqui uma pequena, porém valiosa dica, que poderá fazer toda a diferença durante a vida: jamais deixe de “estudar, pesquisar, compreender e interpretar o Direito” pelo resto de sua vida, sempre mantendo a mente preparada para enxergar horizontes novos todos os dias, porque jamais haverá 25 Geraldo Cossalter algum tipo de tecnologia que possa substituir o pensamento e o conhecimento. Tecnologia alguma poderá substituir a linguagem ou a língua, tecnologia alguma irá substituir a expressão. A eficiência do aprendizado dependerá exclusivamente de seu interesse individual e da forma como irá progredir dia a dia, seja na sala de aula, seja fora dela e principalmente nas relaçõeshumanas, afinal; ninguém aprende isolado ou sozinho. Jamais espere que tudo venha com facilidade, pois sua responsabilidade como estudante de Direito é muito grande e tem início desde a primeira aula. Jamais eleja os mestres como culpados pelo seu fracasso, já que, para um mestre, o sucesso de seus discentes é o maior prêmio que pode receber. Portanto, tenha sempre a certeza de que você é o grande responsável pela sua trajetória e pelo sucesso ou fracasso que atingir. Muitos, quando entram em sala de aula pela primeira vez, ficam imaginando e pensando diversas coisas, tais como as matérias, como são os mestres, como serão os trabalhos, a pausa para o lanche, as paqueras, as festas, os livros mais importantes, a formatura, a festa de formatura, enfim existem tantas dúvidas, tantas vontades, tantas necessidades que chegam a deixar alguns confusos e outros inseguros. Pois bem, diante do exposto, posso afirmar que existe uma matéria que é a “chave mestra” que abre a porta para o mundo do Direito. Quando passei a enxergar esta matéria sob este prisma, pude começar a enxergar pelo mesmo prisma todas as demais matérias. Obviamente que todas as matérias são de extrema importância; mas, como tudo na vida tem um início, passei a refletir sobre o assunto e, agora, decidi exteriorizar o “conceito da chave mestra”. 26 Advogado x Adevogado Mas que conceito é este? Que é a chave mestra? Talvez as leis, os códigos? Não seria a Filosofia? Talvez a Psicologia? Que tal as Instituições Judiciárias? Direito civil, trabalhista, penal? Direito público ou privado? Seriam os direitos fundamentais? Direito penal ou História do Direito? Direito constitucional? Direito processual civil, penal? Sim, todas elas e muitas outras formam o conjunto que deverá ser compreendido e assimilado, pois individualmente todas são importantes; porém, em conjunto elas se completam, haja vista que o Direito é um só. O Direito é subdividido para promover uma melhor compreensão didática; todavia, é um único bloco. De qualquer maneira, o “conceito da chave mestra” elege uma matéria como sendo aquela que deverá receber uma atenção especial desde o início do curso de Direito, visto que, sem o seu domínio, dificilmente se conseguirá dominar as outras matérias. Talvez ela possa ser a mais desprezada pelos universitários e até mesmo por muitos profissionais do Direito; entretanto e sem qualquer dúvida, sempre será a matéria que, desde que seja compreendida e aplicada corretamente, fará do 27 Geraldo Cossalter estudante de Direito um (a) futuro (a) advogado (a). Caso contrário, o que acabaremos vendo será um (a) “adevogado (a)”. Qual deles você quer ser? 29 Geraldo Cossalter ESCLARECIMENTO SOBRE A PRONÚNCIA “ADVOGADO” Quando se tem, em determinado vocábulo, p+e, pronuncia-se pe; já p+i soa, logicamente, pi. Psozinho, todavia, não seguido de vogal alguma na palavra, não é pe nem pi; constitui apenas um ruído, e não um som, uma vez que este se caracteriza pela presença de uma vogal (a, e, i, o, u). Deve-se ter em mente essa realidade, quando se está diante de palavras com consoantes desacompanhadas de vogais: absoluto, administração, admirar, advogado, captar, optar, pneu, psicologia. Tente o leitor, como exercício, pronunciar, diferenciando pe, pi e simplesmente p. Quando notar a diferença, verá, por exemplo, que a pronúncia não será p(i)neu nem p(e)neu, mas apenas pneu. Em seguida, tente exercitar-se na pronúncia de outras palavras que tenham consoantes desacompanhadas de vogais, como as da lista anterior. Quando isso ocorrer, há de verificar, para o caso específico da consulta, que não se pronuncia ad(e)vogado nem ad(i)vogado, mas apenas advogado. Acrescente-se, ainda, que a parte da Gramática que cuida da correta pronúncia dos vocábulos chama-se ortoepia (ou ortoépia). E Eliasar Rosa, a respeito de advogado, faz a seguinte advertência: 30 Advogado x Adevogado “É comum ouvir o barbarismo: adevogado.”1 Epêntese viciosa que até advogados cometem, porque não proferem muito ligeiramente o d, mas lhe acrescentam, na pronúncia, um e inexistente. Esclareça-se, por fim, que epêntese viciosa é a inserção equivocada de um ou mais fonemas no meio de uma palavra, geralmente para facilitar a pronúncia. 1Cf. ROSA, Eliasar. Os Erros Mais Comuns nas Petições. 9ª. ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1993, p. 23. 31 Geraldo Cossalter O ADVOGADO E O “ADEVOGADO” “Quanto mais advogados bons, pior para você; a concorrência será grande.” Prof. Matheus Marques Nunes, 2012 Quando falamos do advogado, logo imaginamos um profissional muito bem trajado, conceituado, respeitado e, acima de tudo, bem-sucedido. Isto vale para todos os profissionais da área do Direito, homens e mulheres, pois não estou distinguindo sexo e sim falando do profissional. O (a) advogado (a), para obter o título precisa ser necessariamente bacharel em Ciências Jurídicas, ter aprovação nas duas fases do exame da OAB, pagar uma anuidade e assim estar apto para advogar. Sabemos muito bem que o (a) advogado (a) necessita passar por todas estas fases, mas e o (a) “adevogado (a)”? Obviamente que o “adevogado (a)” não existe e é apenas uma forma de expressão que poderá ter muitos significados. No nosso caso, trata-se de uma forma folclórica de descrever o mal profissional. 32 Advogado x Adevogado Obviamente que, em toda e qualquer profissão, iremos encontrar aqueles que de alguma forma acabam se tornando exemplos que não devem ser seguidos; porém, não pretendo falar dele, mas do verdadeiro profissional do Direito, o (a) advogado (a). Tal profissional do Direito tem premissas que devem fazer parte de sua vida cotidiana, pois é um formador de opinião e, pelo fato de conhecer as leis, tem a obrigação de ser um agente da e na sociedade. A ética, o caráter, a civilidade, a cortesia, a boa-fé, a integridade, as boas relações, o respeito e a verdade são alguns deveres de todo cidadão; entretanto, o (a) advogado (a), por ser exemplo a ser seguido e formador de opinião, tem a responsabilidade de jamais abdicar de tais práticas. O (a) advogado (a) tem uma nobre missão social e, por esta razão, deve carregar consigo, por toda a vida, o compromisso de sempre cumprir deveres, antes de exigir direitos. Como nos ensina o Prof. Luiz Henrique Beltramini, “o (a) advogado (a) tem por obrigação ser parte da solução e não do problema que lhe é apresentado”. Muitos profissionais do Direito acabam por acumular erros — seja pelo despreparo, seja pela falta de conhecimento ou até de informação — e acabam perpetuando erros nos processos. Erros esses que muitas vezes prejudicam o cliente e a si mesmos. Tais erros estão ligados diretamente ao “conceito da chave mestra”. Praticar o Direito é estudá-lo e jamais abandoná-lo, pois está aí o cerne de todo o conhecimento jurídico. Está aí o epicentro de todo o conhecimento que todo profissional do Direito deve ter, pois, sem tal prática, o profissional, com certeza, estará fadado ao 33 Geraldo Cossalter fracasso perante seus pares, perante magistrados e promotores e perante seus clientes. O fascinante mundo do Direito deixa qualquer calouro em estado de ansiedade desde a primeira aula, já que são muitas dúvidas, são muitas expectativas, são muitos pensamentos que fazem deste momento tão especial algo indescritível e ao mesmo tempo temeroso. Juiz ou Promotor? Delegado ou Cartorário? Concursos públicos? Profissional liberal? Consultor? Advogado (a) especialista em que área? São tantas oportunidades, que muitos chegam ao ponto da incerteza até mesmo quando estão próximos de se formarem ou até quando já estão formados. Logo no início do curso muitostêm em mente que as principais matérias são as relacionadas às leis. Outros acreditam que interpretar as leis é o fator preponderante para se tornar um bom profissional. Outros ainda acreditam que seguir a lei corretamente bastará para se tornar um profissional exemplar. Pense comigo: São tantas matérias, tantos trabalhos, tantos livros, tantos questionamentos, que muitas vezes o estudante não consegue compreender a importância do conjunto formado pelas matérias que se completam com o passar do tempo e do aprendizado. 34 Advogado x Adevogado Quando o aluno não consegue tal compreensão, provavelmente deixou algo passar despercebido, deixou passar algo de grande importância. E é aí que a compreensão do Direito acaba ficando difícil para alguns e impossível para outros. Muito bem, já descobriram o “conceito da chave mestra”? Ainda não? Pois bem. Em nosso próximo capítulo, finalmente iremos começar a tratar deste assunto, razão desta obra. E o leitor começará a compreender o tamanho de sua importância, haja vista que, sem ela, e absolutamente sem ela, jamais iremos compreender todas as demais matérias. 35 Geraldo Cossalter O CONCEITO DA CHAVE MESTRA “Aconselho o universitário do curso de Direito a ter sempre consigo um bom dicionário da Língua Portuguesa e um bom dicionário de termos jurídicos, além de estabelecer um aprendizado dos termos em Latim.” Profª Ana Dorotéia Arantes Medeiros, 2012 Muitos poderão não entender hoje, mas no futuro irão compreender o tamanho de sua importância: Como nos ensina a Profª Ana Dorotéia Arantes Medeiros, a Língua Portuguesa, a linguagem, a Literatura e um vocabulário rico formam o “conceito da chave mestra”. Podemos acrescentar o Latim como acessório importante para a profissão, e assim formamos por completo tal conceito. Espantado, espantada? Simples demais, não é? O incrível é que tenho visto com muita frequência que o desconhecimento e o desinteresse por nossa língua mãe tem sido o fator gerador de reprovas, não só nas provas da OAB, mas também em concursos e na seleção de candidatos às diversas áreas no mercado de trabalho. Não é apenas no Direito, mas em muitas áreas; entretanto, para o 36 Advogado x Adevogado (a) advogado (a), isto é inconcebível, pois sem compreender a nossa língua mãe, jamais saberemos as demais matérias do Direito. Jamais! É preciso compreender que nossa língua mãe é a grande porta de entrada para o Direito. Isto é real e certo, pois imaginemos daqui a alguns anos a diferença entre aqueles que tiverem um grande vocabulário e os que não tiverem. Imaginemos uma petição com erros de acentuação e de Português. Imaginemos qual será o comentário de um (a) colega advogado (a). Imaginemos o conceito que o magistrado terá deste profissional. Imaginemos um texto mal redigido, que servirá para perpetuar os erros deste (a) profissional. Imaginemos o tipo de advogado (a) que este (a) profissional será. O “conceito da chave mestra”, a chave que abre todas as portas para o mundo do Direito, tem na língua, na linguagem, na leitura, no vocabulário, na interpretação de textos, na produção de textos e na expressão oral e até corporal o seu grande segredo. E aqueles(as) que dominarem todas estas técnicas certamente compreenderão as outras matérias do curso, pois, além da compreensão propriamente dita, irão esbanjar conhecimento da forma mais difícil que existe, ou seja, “colocando no papel”, para que possa ser compreendido(a) por quem lê. Um profissional jamais poderá cometer erros primários, que comprometam a sua reputação, uma vez que produzir um texto jurídico recheado de erros será o mesmo que perpetuar a própria incapacidade profissional, será o mesmo que perpetuar a própria falta de conhecimento, algo inconcebível para um profissional 37 Geraldo Cossalter do Direito. Pense bem e não deixe que isto aconteça em sua vida, porque, apesar da tecnologia que pode ser usada para corrigir textos – leiam-se programas de correção ortográfica –, o conhecimento sempre será insubstituível. Segure a sua “chave mestra” e abra todas as portas do mundo do Direito, começando por conhecer a nossa língua e a nossa linguagem. Desenvolva um vocabulário rico e seja um(a) profissional admirado(a) e respeitado(a), pois o início de tudo deverá ser “a primeira palavra dita e a primeira palavra escrita”. E, sendo assim, “bem dita e bem escrita” farão de sua reputação o seu maior patrimônio. Aliás, existe ainda um componente da maior importância. E tal componente chamamos de mestres. Sim, os nossos mestres, pois tenham a certeza de que eles sempre estarão lá para ajudá-lo (a), bastando criar um relacionamento honesto com cada um deles; eles irão retribuir com lições que o (a) tornarão um (a) profissional gabaritado (a). Quando falo em um relacionamento honesto, eu falo de honestidade consigo mesmo (a), isto mesmo, consigo mesmo (a), pois os mestres não são ingênuos e sabem perfeitamente quando estão sendo enganados; porém, o (a) grande enganado (a) nesta história será você mesmo (a), já que o resultado final, sendo ele bom ou ruim, será destinado 100% a você. Seja honesto (a) consigo mesmo (a) e terá para sempre os mestres. Seja honesto (a) consigo mesmo (a) e terá para sempre seus amigos e futuros clientes. Seja honesto (a) consigo mesmo (a) e tenha o privilégio de se tornar um exemplo 38 Advogado x Adevogado a ser seguido. Seja honesto (a) e colha uma safra tão abundante que você irá se surpreender com você mesmo (a). O (a) maior esperto (a) de todos (as) é o honesto (a). 39 Geraldo Cossalter A IMPORTÂNCIA DA LEITURA “Habituem-se aos termos técnicos do Direito, pois eles são vitais para o desempenho da profissão.” Prof. Samuel Nobre Sobrinho, 2013 Para o (a) advogado (a), ler deve ser o mesmo que respirar. O hábito da leitura deve sempre começar na infância; porém, não é bem isto o que ocorre na vida de muitos, pelo menos foi assim comigo. Entretanto, ainda é possível na universidade começar a prática diária, não importando a preferência do leitor, já que todo tipo de obra pode ser considerada essencial para o conhecimento e gradualmente o crescimento do vocabulário. Quando falo em leitura, falo em bons livros, bons informativos, boas revistas e jornais. Bons livros, além de ajudar a evoluir o vocabulário, nos abrem os horizontes, que, de uma forma ou de outra, acabam por contribuir para o aprimoramento da cultura e o conhecimento. Sim, o conhecimento que acabamos adquirindo por meio da leitura muitas vezes nos leva a viajar sem sair do lugar, o que irá resultar em mais conhecimento, cultura e vocabulário. Criar e cultuar o hábito da leitura é ponto fundamental para o sucesso profissional, pois, além da construção de um vocabulário rico, o leitor poderá se tornar culto, o leitor poderá 40 Advogado x Adevogado se tornar diferenciado; e estes diferenciais são muito procurados e respeitados no mercado de trabalho. Imaginemos um profissional do Direito com um vocabulário ruim, com uma escrita ruim, sem noção de pontuação e consequentemente sem nenhuma aptidão para interpretar ou produzir textos. Fatalmente, tal profissional terá dificuldades que não serão poucas e nem tampouco pequenas. Portanto, caro leitor, leia muito. Leia livros clássicos, de História, Direito, doutrinas, romances, política, revistas e jornais. Não importa, o importante é ler sempre e sempre ler bons assuntos. O leitor habitual adquire confiança e oralidade, razão de se beneficiar triplamente. Triplamente, por ser dono de um vocabulário rico, por ser dono de uma oratória confiável e finalmente por conseguir interpretar o que ouve e lê, já que o hábito o leva a isto. Vejamos o que nos ensina a Profª Maria Ester ViannaArroyo Monteiro de Barros: “Vocês precisam ler; quem não lê, não tem conteúdo.” Portanto, leia, leia muito, pratique o hábito da leitura diariamente. Pratique conhecer e compreender as palavras por meio do dicionário ou outros meios de pesquisa. Jamais perca as boas oportunidades, pois a leitura está disponível a todos; porém, os que se esforçarem em praticá-la diariamente e constantemente certamente acabarão atingindo um nível que poucos irão atingir. Não pense que será fácil, tenha a certeza de que será uma luta árdua e constante; mas tenha a absoluta certeza de que, quando você estiver praticando a leitura, já terá dado um passo muito grande rumo a uma forma de aprendizado que jamais terá fim. Jamais leia por ler, tenha sempre 41 Geraldo Cossalter como meta uma leitura de pesquisa. Conforme lemos, devemos pesquisar, já que ler e deixar de entender determinadas palavras de nada adiantará. Pesquise lendo e leia pesquisando sempre. Nunca deixe de tirar dúvidas com os mestres, visite bibliotecas, utilize a internet como ferramenta de aprendizado, construa a sua biblioteca a partir do primeiro livro e não tenha pressa. Leia calmamente, serenamente, compreendendo e interpretando o texto, vivendo o texto. “Viver o texto” significa “mergulhar” na leitura. E uma leitura com estes ingredientes certamente trará benefícios com o passar do tempo. O tempo é preponderante para um aprendizado consistente e eficiente. Crie o hábito da leitura em momentos que geralmente são desperdiçados. Faça uma análise de seu dia a dia e descubra que existem muitos momentos que podem ser aproveitados para a leitura. Crie um roteiro para organizar os momentos diários, semanais e até mensais. Isto irá lhe beneficiar muito. Ao praticar o hábito da leitura, certamente estará perseguindo um objetivo que o (a) levará a altitudes jamais imaginadas. E jamais pare de ler, visto que a subida é lenta e difícil, mas a descida é muito rápida. Leia e jamais deixe de ler, pois a leitura é gratuita e seus benefícios valem um tesouro que ladrão algum conseguirá lhe roubar. Com o tempo, isto será perceptível; e somente aqueles que praticarem a leitura poderão conhecer o seu verdadeiro e incontestável valor. Encerramos assim este capítulo, com uma técnica que muito irá contribuir para a boa leitura. Quem nos ensina é a Profª Ana Dorotéia Arantes Medeiros. 42 Advogado x Adevogado Veja: Leia e verifique se compreendeu; Escreva perguntas sobre o texto; Quando o texto não for compreendido, leia novamente; Destaque as principais ideias; Após ler, repita o texto, usando suas próprias palavras; Grife termos desconhecidos e consulte o dicionário; Escreva um resumo; Consulte seu mestre sempre. Bons estudos... 43 Geraldo Cossalter A IMPORTÂNCIA DOS TEXTOS ORAIS E ESCRITOS “Não comprem uma falsa realidade. Não queiram apenas um diploma.” Profª Maria Ester Vianna Arroyo Monteiro de Barros, 2014 “Se eu perdesse a voz, estaria morto”, diz Lula a jornal (Portal Terra, terça-feira, 30 de março de 2012). Observando esta frase do ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva, fica demonstrada a importância da fala dentro da sua profissão. Ele chegou a afirmar que teve mais medo de perder a voz do que de morrer. Por incrível que possa parecer, no caso dele, a fala é a principal forma de expressão e comunicação. A fala o levou a se tornar conhecido mundialmente. Existem casos como o do também ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, um intelectual que, apesar de dominar a fala, tem na escrita seu trunfo maior, inclusive por ter diversos livros publicados. Sem comparações políticas, mas comparando as diferentes formas de textos utilizados por cada um deles, podemos afirmar que Lula é conhecido por falar uma linguagem popular, com uma oratória envolvente, o que o tornou conhecido no mundo todo. Observando FHC, 44 Advogado x Adevogado vemos que é um político de intelecto refinado, bom orador e com grande destaque como escritor desde 1969. A partir desta pequena comparação, podemos enxergar de uma forma prática as diferenças importantes entre um texto oral e um texto escrito, pois no nosso dia a dia, os textos orais são corriqueiramente usados em todos os tipos de comunicação. Como futuros profissionais do Direito, nossa responsabilidade muda radicalmente, visto que a Língua Portuguesa escrita passa a ser uma exigência, passa a ser uma necessidade dentro do ambiente jurídico, uma vez que são inaceitáveis linguagens grotescas, é inaceitável uma linguagem que leve o profissional ao ridículo ou ao descrédito. Obviamente que se faz necessária uma adaptação constante para cada caso, pois existem muitas diferenças entre os inúmeros ambientes onde o profissional irá militar, haja vista que nosso país tem dimensões continentais e não é incomum encontrar pessoas de localidades com costumes e formas de expressão diferentes. É fundamental evidenciar que a linguagem se materializa por meio de textos, tanto orais quanto escritos; entretanto, cada tipo tem suas características próprias, pois não têm a mesma gramática nem os mesmos recursos expressivos. Na linguagem oral, muitas vezes usamos textos vagos, o que é próprio deste tipo de linguagem, já que a interação entre os interlocutores da conversa produzem o entendimento da linguagem. Isso é impossível no texto escrito, visto que na linguagem oral ambos (emissor e receptor da mensagem) partilham o conhecimento que possuem do assunto. 45 Geraldo Cossalter No cotidiano, convivemos mais com textos orais. Aliás, todos os povos são assim; e a escrita não pode reproduzir muitos fenômenos do texto oral, na qual temos os gestos, a mímica, os olhos e outros movimentos do corpo (na linguagem escrita, temos o tamanho das letras e seu tipo, suas cores e pontuações diversas). Para se ter uma ideia, se transcrevermos um texto oral de uma reunião de cerca de trinta pessoas, provavelmente não entenderemos muita coisa, uma vez que o diálogo é extremamente repetitivo e não tem uma composição lógica; e, por esta razão, torna-se inapropriado para ser transcrito. De modo geral, fala e escrita apresentam distinções que, se forem bem interpretadas, nos fazem compreender suas diferenças. A fala é uma forma de texto que, completada por gestos, mímica e movimentos do corpo, transmite ao ouvinte o seu sentido, enquanto a escrita é um modo de comunicação textual que se caracteriza pela sua constituição gráfica e trata-se de uma linguagem complementar à fala. Existem muitos textos escritos próximos ao da fala (exemplos: bilhetes curtos, cartas familiares), bem como o inverso, quando é possível se observar textos falados que também se aproximam do texto escrito. É comum acreditarmos que a verdadeira linguagem é a escrita, sendo a fala muitas vezes enxergada como um complemento da linguagem escrita. E, devido à aparente autoridade que emana da escrita, acabamos por acreditar que a escrita é a principal forma de linguagem. Há quem diga que devemos “falar como escrevemos”. Ledo engano! 46 Advogado x Adevogado Existem razões para a supervalorização da escrita em detrimento da oralidade, visto que os que dominam a escrita geralmente se sobressaem exatamente pelo fato de dominar a escrita. Texto oral é natural. Basta uma criança conviver com familiares que aprenderá a falar, enquanto o texto escrito dependerá de interpretação, pois uma única vírgula poderá mudar totalmente o sentido da frase. Os que dominam textos escritos geralmente são vistos como intelectuais, pois passam a falsa imagem de “mais inteligentes”; e, por esta razão, poderá ocorrer uma segregação, já que os que não dominam este tipo de linguagem podem ser excluídos naturalmente por não conseguirem compreender o sentido do texto. Se concluirmos que a escrita édominante em relação à oratória, estaremos cometendo um equívoco, uma vez que, na prática, não é exatamente assim. Uma boa oratória geralmente proporciona a vantagem da rapidez para o orador frente aos ouvintes. Discursos e sermões são exemplos de linguagem oral que identificam e posicionam o orador. No caso dos sermões, geralmente ouvimos explicações de textos litúrgicos que não dominamos. No caso dos discursos, o mesmo ocorre. Quem de nós se atreveria a questionar um determinado assunto que não domina? A mesma coisa será em um tribunal, onde o (a) advogado (a) tem a obrigação de não apenas dominar a escrita ou a lei, mas também a oralidade. Por outro lado, linguagem oral sofre rápidas mudanças, até porque novas formas de comunicação surgem geralmente pela oralidade, enquanto na linguagem escrita isto demora algum 47 Geraldo Cossalter tempo a ser incorporado. Refletindo, vemos que a escrita é mais conservadora; e a fala muda, indo ao encontro de épocas, modismos e acontecimentos, enquanto na escrita a incorporação é mais demorada. Talvez esse seja o maior choque daqueles que se aventuram no mundo da escrita, visto que a riqueza da linguagem falada fica reduzida à linguagem padrão. O falante regional sempre procura identificar-se com a língua padrão, pois é histórico que aprendemos na escola que a língua falada é a língua errada e a escrita, a certa. Por outro lado, quando conversamos, mudamos de assunto sem nenhum tipo de rigidez, sendo que, ao escrever, dependemos de frases mais longas que possam passar a devida compreensão do texto. Quando falamos, usamos nossa linguagem corporal, diferentemente do que acontece quando escrevemos, em que temos de expressar tudo “no papel”. Como já foi dito, uma criança aprende a falar naturalmente, vivendo dentro de um grupo familiar, enquanto a escrita depende de estudo e é preciso um duro trabalho prolongado de aprendizado e de mestres que nos ensinem. Tais razões apresentadas até aqui confirmam a teoria da “chave mestra”, pois para o profissional do Direito sempre será inconcebível os textos (tanto orais quanto escritos) praticados de forma equivocada e que irão servir apenas para contribuir para a desvalorização do profissional. A tarefa é árdua e constante. Mas é a partir de agora que se inicia a maior tarefa a ser realizada; porque, além da compreensão das demais matérias, a língua e a linguagem devem ser estudadas e compreendidas, para que se possa estudar e compreender as demais matérias. 48 Advogado x Adevogado Longe de afirmar que todas as outras matérias do Direito não são importantes, muito pelo contrário. Mas com a mais absoluta certeza é possível afirmar que “a chave mestra” abrirá as portas das outras matérias do Direito muito mais facilmente, muito mais claramente, fazendo do (a) futuro (a) advogado (a) um (a) profissional que saberá utilizar corretamente palavras, frases e textos, bem como saberá interpretar textos, criar textos e ser compreendido (a) por seus interlocutores. Acima de tudo, o importante é tornar-se um profissional ímpar. Pense nisto. Portanto, caro leitor, mãos à obra, ou melhor, olhos nos livros, atenção nos mestres, atenção às dúvidas e estude muito, pois um dos segredos do bom profissional do Direito está bem diante de nossos olhos. Basta olhar para frente e para a lousa que ele estará lá. A lousa atrás e o mestre à frente dela. Porém, vale lembrar que depender apenas e tão somente de nossos mestres é um enorme engano, visto que de nada valerá ser um universitário exemplar e respeitoso, que escuta o mestre, que acompanha o raciocínio nas aulas, mas que não tem o hábito da leitura. Ler e compreender o conteúdo das matérias é fundamental, tanto para o aprendizado quanto para a evolução do vocabulário, porque, além da compreensão propriamente dita do conteúdo, aumentará as chances de o universitário se tornar um profissional exemplar. Assim, nunca se esqueça destes ingredientes: a lousa, os mestres, os livros, a dedicação e, acima de tudo, a vontade de aprender. Aprender sempre, este é o verdadeiro desafio e o verdadeiro objetivo. 49 Geraldo Cossalter A PRODUÇÃO DE TEXTOS “O tempo passa muito rápido. Estudem, estudar muito é o caminho.” Prof. Marcelo Velludo Garcia de Lima Produzir textos que consigam exprimir ideias e que consigam traduzir pensamentos e sentimentos são, na verdade, o resultado do acúmulo de conhecimento obtido por meio da leitura, de pesquisas e estudos. Qualquer texto pode-se dizer que foi produzido. Todavia, para que possamos produzir textos com conteúdo, é necessário praticar o conhecimento e desenvolver o talento individual que possuímos naturalmente. Todos nós somos dotados de inteligência e raciocínio; entretanto, desenvolver o talento se faz necessário para a produção de textos diferenciados, o que certamente irá privilegiar com resultados surpreendentes os que se dedicarem com afinco. No geral, produzir textos significa ser compreendido, significa obter entendimento por parte daqueles que irão ler e interpretar o texto. Quando desenvolvemos uma ideia, é necessário que usemos de todo conhecimento obtido, além do talento que é natural em todos os seres humanos. Todos os seres humanos são diferentes uns dos outros e, portanto, têm talentos diferentes. Pode até ser o mesmo talento; 50 Advogado x Adevogado porém, sempre será diferente. Como assim o mesmo talento; porém, diferente? Sim, podemos ter um determinado talento e outra pessoa o mesmo talento, mas de forma diferente. Explicando melhor: “A” tem talento para o desenho e “B” também tem. Mas “A” estabelece uma forma de desenhar que acaba determinando uma espécie de superioridade em relação ao desenho de “B”, exatamente pelo fato de conseguir ser compreendido pelos que olham o desenho de “A”. No caso da produção de textos é a mesma coisa, ou seja, temos um talento que geralmente ainda não foi descoberto ou desenvolvido. Descobrir os próprios talentos sempre será essencial para o exercício do Direito; porém, desenvolver o talento para a produção de textos é algo tão grandioso que chego ao extremo de afirmar que aqueles que desenvolverem realmente este talento e, por consequência, conseguirem colocá-lo em prática certamente serão totalmente diferenciados perante seus pares e perante o mercado de trabalho. Produzir textos é muito mais que simplesmente escrever. Produzir textos significa pensar no resultado final do texto. Significa conseguir enxergar quais resultados podem ser obtidos pela redação do texto em questão. Produzir textos implica em conhecimento, talento, análise, pensamento e direcionamento, pois, para cada ocasião, temos de estudar especificamente. Produzir textos implica em traduzir a situação em questão, de forma a ser compreendido. Para o (a) advogado (a), produzir textos é o mesmo que usar com precisão cirúrgica um bisturi. Em síntese, o bisturi do advogado é o texto que irá produzir. O bisturi é a principal ferramenta do médico, assim como o texto é a principal ferramenta do advogado. 51 Geraldo Cossalter Produzir textos corretos é o mesmo que obter cirurgia de sucesso; portanto, não há de se falar em erros. O médico pode salvar ou não o paciente com um bisturi, enquanto o advogado pode salvar ou não o seu cliente com um texto. Portanto, o texto é essencial para a prática do Direito, independentemente de ser este ou aquele cliente, independentemente de ser esta ou aquela situação. A produção de textos corretos é essencial para um resultado positivo e tornar o (a) advogado (a) um profissional admirado e respeitado. Não significa “preencher espaços vazios”, pois a quantidade de linhas e páginas necessariamente não significa que se trata de um bom texto. Muitas vezes um texto bem construído tem exatamente na objetividade o seu principalfundamento. Deste modo, pensar, analisar, aplicar o conhecimento obtido, desenvolver o talento próprio e, acima de tudo, aplicar uma dose de filosofia certamente farão de você um profissional que irá construir e produzir bons textos. Pense bem e coloque em prática todo conhecimento que obter. Pense bem e coloque-se no lugar daqueles que estão vivenciando a situação, obviamente que sem qualquer tipo de envolvimento e de forma a obter subsídios que facilitem a construção do texto. Pense bem, analise caso a caso e construa textos que certamente farão de você um profissional exemplar e admirado. Jamais deixe de aprender e jamais se esqueça das lições da sala de aula. Pense bem nisto e comece já a construir bons textos, provando para você mesmo que você tem talento. 53 Geraldo Cossalter A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS “Hoje, vocês são amigos; amanhã, serão concorrentes. Portanto, façam tudo da melhor forma, não façam mais ou menos benfeito, pois o mercado de trabalho é exigente e você poderá se arrepender.” Prof. Ricardo Velasco Cunha, 2013 Que significa exatamente interpretar textos? Significa apenas ler e compreender? No mundo do Direito, um texto não é uma história ou uma fábula, pois trata da realidade humana. Na verdade, todos os textos jurídicos contêm fatos verdadeiros, explícitos e muitas vezes implícitos. Como profissionais, deveremos identificar sentimentos, fatos ocorridos, verdades, inverdades e situações que jamais poderemos deixar passar despercebidas. Tal afirmação jamais deverá ser esquecida, pois um texto bem compreendido e acima de tudo bem interpretado garantirá ao profissional o seu sucesso, já que pelo conteúdo do texto será possível compreender e interpretar o sentimento e as intenções e vontades da outra parte. 54 Advogado x Adevogado Em uma história ou um conto, podem existir sentimentos e fatos ocorridos, bem como verdades e inverdades. Porém, a diferença entre um texto jurídico e uma história ou conto está no resultado final, uma vez que uma história ou conto serve como lazer ou cultura, diferentemente do texto de um processo, que é a realidade vivida por uma ou mais pessoas. É verdade que histórias ou contos contribuem para se obter conhecimento e cultura; mas jamais irão provocar um resultado ruim ou bom, pois não envolvem a realidade de um cliente, que é um ser humano, com expectativas e sentimentos. Geralmente, não conseguimos obter o entendimento de tudo o que lemos na primeira vez, razão pela qual temos a necessidade do conhecimento aprofundado e constante da língua e da linguagem, além de uma dose generosa de reflexão. Refletir sobre o tema lido irá proporcionar um fator de diferenciação para o profissional. Refletir significa analisar, significa filosofar sobre o tema. Sem tal aprofundamento, dificilmente será possível compreender e interpretar as verdadeiras intenções e vontades contidas no texto de um processo. Muitas vezes uma pontuação fará toda a diferença, outras vezes uma palavra colocada em determinada ordem fará a diferença. O importante é ter atenção redobrada para tais situações, já que os que atentam para isto inevitavelmente terão grande vantagem diante de outros que não atentam para o fato. Analise as frases abaixo: Sócrates bebeu a morte. Sócrates bebeu à morte! 55 Geraldo Cossalter Perceberam a diferença? Temos aqui exatamente as mesmas palavras; porém, com significados diferentes, que demonstram a necessidade da interpretação correta, o que irá garantir sucesso na vida profissional. O primeiro exemplo nos mostra em sentido figurado que Sócrates ao tomar a cicuta bebeu a morte, ingeriu a morte. O segundo exemplo nos mostra que Sócrates comemorou a morte, tudo por conta de uma “simples crase”. Interpretar textos é uma arte. Interpretar textos é uma ciência que requer imaginação e, acima de tudo, um permanente conhecimento com uma dose de filosofia. Como nos ensina o Prof. Luiz Vicente Ribeiro Corrêa, “filosofar sobre uma determinada frase ou um determinado texto não é exagero algum; pelo contrário, pois se trata de uma ciência que irá expandir os horizontes”. Quando falo em expandir horizontes, falo da forma que devemos enxergar o que o texto nos apresenta muitas vezes implicitamente. Pois um pequeno detalhe fará a diferença. É muito comum comprarmos um jornal ou revista devido a uma manchete e, ao lermos a notícia, acabamos por nos decepcionar, já que a manchete era melhor que a notícia. Da mesma forma, assim são os textos que iremos encontrar em nosso dia a dia profissional. Cuidado! Todo cuidado é pouco, porque muitas vezes lemos o que não está escrito e entendemos o que não foi dito, ou melhor, acabamos por entender de uma forma equivocada. 56 Advogado x Adevogado Compreender primeiro é melhor que ser compreendido por outrem, visto que, ao compreendermos o outro lado primeiramente, estaremos abrindo uma margem de novas possibilidades, em que iremos aplicar o nosso entendimento do que foi compreendido. Melhor dizendo: quando consigo compreender primeiro o que meu interlocutor diz, consigo raciocinar e conduzir a situação para um desfecho favorável a mim. Então, posso utilizar meus argumentos com maior força, contra-argumentando meu interlocutor e produzindo, com isto, resultados positivos, já que, ao compreender o outro, consigo estar ao mesmo tempo dos dois lados. Mas o que é estar dos dois lados? Significa me antecipar ao pensamento de meu interlocutor, interpretando e compreendendo o texto oral ou escrito de forma ampla, o que somente é possível quando compreendemos o significado das palavras e dos textos. Enfim, quando procuramos entender exatamente o que nosso interlocutor deseja dizer. Não basta compreender a língua e a linguagem. Não basta compreender os textos orais e escritos. É necessário que, além disso tudo, saibamos compreender a essência do que iremos ler ou escrever. Devemos também saber sobre a essência do que iremos ouvir ou falar, pois como já foi dito, falar, ouvir, escrever ou ler é uma ciência que requer “filosofar”, imaginar o verdadeiro significado dos sentimentos e pensamentos nossos e de outrem. Portanto, a teoria do aprendizado é a forma mais correta e o caminho mais curto para se conseguir o acesso amplo ao campo 57 Geraldo Cossalter jurídico, visto que, incorporando tais conceitos e compreendendo a finalidade deste aprendizado, você estará “recebendo a sua chave mestra”, aquela que abrirá todas as portas para o mundo do Direito. Sem qualquer tipo de exagero, já tive o sentimento de que, para muitos, falar e escrever corretamente nossa língua mãe é motivo de “segregação” ante os grupos sociais ou “tribos” que geralmente têm uma linguagem padrão diferente, cheia de gírias ou significados que são normais dentro dos seus respectivos ambientes. Sem dúvida, para a convivência de tais grupos, tudo isto é perfeitamente normal, assim como os signos ou a linguagem da internet, o chamado “internetês”; porém, para o profissional do Direito, isto tudo é inconcebível. Os magistrados têm sido muito criteriosos quanto ao uso da linguagem e da língua como sempre foram; entretanto, tenho percebido uma mudança no volume de palavras utilizadas nos processos, ou seja, os (as) advogados (as) que estão preparados (as) e que dominam nossa língua e nossa linguagem precisam ir além, pois a objetividade está em alta nos dias de hoje. Não adianta o (a) advogado (a) desprezar a objetividade em detrimento de “rechear” páginas e páginas, que apenas irão servir para prejudicá-lo(a) na tentativa de demonstrar conhecimento e profissionalismo. Pensem comigo: um (a) advogado (a) que tem domínio da língua e da linguagem e produztextos objetivos e consistentes tem uma vantagem grande, já que passa a ter naturalmente uma visão mais objetiva do cliente, do processo e da outra parte por consequência. O conteúdo de nossa língua e nossa linguagem deve ser estudado muito. Requer afinco, atenção e, acima de tudo, paixão para compreendê-lo e dominá-lo. Aliás, 58 Advogado x Adevogado dominar totalmente é algo grandioso demais, diria impossível, pois a língua e a linguagem sofrem modificações com o passar do tempo; no entanto, a paixão será o diferencial daqueles que realmente têm o desejo de ser um profissional “ímpar”. Nossa língua mãe tem uma infinidade de tópicos; todavia, não tenho como objetivo ensinar tais tópicos, até porque não tenho autoridade para tal. Mas sei que posso contribuir, alertando por meio desta obra, que tem como objetivo único aumentar o campo de visão do leitor, despertando-o para a verdadeira e correta forma de entrar definitivamente no mundo do Direito. Nos próximos capítulos, irei apresentar outros tópicos do nosso tema central, além de garantir ao leitor a oportunidade de refletir sobre tão vasto e complexo tema. Vamos lá? 59 Geraldo Cossalter O POLIGLOTA DA LÍNGUA MÃE “A Ciência Jurídica apresenta uma constante evolução e complexidade. Somente os que verdadeiramente se dedicarem durante todo o curso de Direito a perseguirem contínuo e profundo aperfeiçoamento estarão aptos para enfrentar os desafios da vida profissional.” Prof. Alexandre Meneghin Nutti, 2012 Certa vez, ouvi uma entrevista com o Prof. Pasquale Cipro Neto, na qual ele afirmava que deveríamos ser “poliglotas do Português”; então, comecei a desenvolver um raciocínio, em que acabei por concluir que, antes de sermos poliglotas em outras línguas, deveríamos ser “poliglotas” de nossa própria língua. Inicialmente me parecia ser uma loucura, mas a grande verdade é que muitos não se preocupam com a nossa língua nativa e até a desrespeitam em favor de outras línguas. Em meus tempos de escola nos anos 1960 e 1970, ensinava- se o Francês e o Inglês, sendo que o primeiro foi extinto dos currículos escolares e o segundo permanece até hoje. Vejo com imensa tristeza a importância dada a uma segunda língua, sem que se dê a mesma ou maior importância à nossa língua mãe. A grande verdade é que 60 Advogado x Adevogado muitos aprendem um segundo ou até terceiro idioma, sem sequer saber corretamente o nosso Português. Isto é realmente incrível, mas é a mais pura verdade. É comum nos dias atuais vermos crianças, jovens e adultos aprenderem novas línguas, enquanto praticam o Português de forma errada e equivocada. Para a infelicidade de muitos, saber outras línguas para o ambiente jurídico é muito bom; porém, não dominar o Português é péssimo. A má notícia será dada ao universitário que tem esta dificuldade no exame da OAB. O conhecimento de outras línguas, sem dúvida, é importantíssimo para a carreira e o currículo; no entanto, o Português deverá ser o ponto de partida para qualquer um que queira realmente ser um bom profissional do Direito. Ser poliglota da própria língua pode parecer uma incoerência ou uma piada muito engraçada, mas é uma grande verdade ou uma forma incomum de dizer o quão devemos ter de conhecimento profundo de nossa língua mãe. Talvez até não seja uma loucura tal afirmação, pois nossa língua é bastante complexa; e não seria exagero algum dizer que, ao obtermos o conhecimento abrangente, poderemos nos considerar poliglotas de nossa própria língua; basta se lembrar do Prof. Pasquale, que é autoridade no que diz. A grande verdade é que em nosso país existe uma grande influência de outras línguas e uma má influência em relação ao Português, ou seja, nossa língua muitas vezes é desprezada. Muitos exemplos são corriqueiros, muitos exemplos acontecem no dia a dia de qualquer brasileiro; porém, o pior de tudo é a forma como são discriminados os que falam corretamente e escrevem corretamente nossa língua. Incrível isto! Mas é uma triste realidade que, além 61 Geraldo Cossalter de se tratar de um desrespeito ao nosso velho Português, se trata também de uma forma de tentar nivelar por baixo os que falam e escrevem corretamente. Para muitos, usar corretamente o Português é motivo de vergonha, ou melhor dizendo, é motivo até de chacota perante os amigos, as “tribos” ou comunidades em que vivem. As gírias são bastante antigas; entretanto, elas não cabem no mundo jurídico. O mundo jurídico exige conhecimento do Português e uma prática constante, pois, diferentemente de outros profissionais, o (a) advogado (a) talvez seja o único profissional que eterniza os erros que comete. Principalmente com a tecnologia, que possibilita uma acessibilidade muito maior, ou seja, até então os textos ficavam apenas em pastas e mais pastas e hoje ficam visíveis na tela do computador. Com a chegada da tecnologia, o profissional da área jurídica, além de ter por obrigação o conhecimento de nossa língua mãe, passa a ter a obrigação do conhecimento de tais tecnologias. Já temos em muitas comarcas a implantação dos processos eletrônicos. E, com isso, certamente haverá uma tendência de melhoria quanto ao tempo dos processos, aliás, isto já está ocorrendo; todavia, tenho a percepção de que mudanças rápidas e consistentes deverão ocorrer na rotina do (a) advogado (a). Caso contrário, haverá um comprometimento no resultado do seu trabalho. Diria até que é iminente a necessidade de investimento em Informática e a tecnologia apropriada. Obviamente que a Informática não irá substituir os livros, nem tampouco o conhecimento do nosso bom e velho Português. Entretanto, o (a) advogado (a) contemporâneo (a) deve ser aquele (a) que aprende em sala de aula, somado àquilo 62 Advogado x Adevogado que pratica e lê todos os dias, somado às novas tecnologias que estão chegando e sendo implantadas. Não adianta tentar se enganar, pois certamente aqueles que dominarem nossa língua mãe saberão usar a tecnologia em seu proveito, pois somente a tecnologia não fará deste o melhor profissional. Temos de somar tudo e jamais esperar que a tecnologia substitua o conhecimento obtido. Portanto, caros colegas, vamos à luta! O caminho é longo e árduo, mas gratificante. Boa sorte! 63 Geraldo Cossalter TEXTOS ÉTICOS E OBJETIVOS “Não se deixe influenciar por ideias conturbadoras ou negativas, faça o bem e dê o melhor de si em cada ato praticado, pois as oportunidades aparecem a todo momento. Lembre-se: se os seus objetivos não foram conquistados ainda, é porque o que Deus tem guardado pra você é muito maior.” Prof. Rodrigo Forcenette, Subcoordenador do curso de Direito/Unip, Campus Vargas, Ribeirão Preto, SP Um texto ético é, acima de tudo, uma forma de expressar a essência do seu autor, pois, apesar de estar o (a) advogado (a) interpretando e expressando a realidade de um cliente, certamente serão as suas palavras transcritas que irão explicar o fato. Além deste pensamento, imaginemos um (a) advogado (a) que confunde uma expressão por outra ou que acaba por cometer o erro imperdoável de deixar por conta de um auxiliar a digitação de um texto, sem observar se este foi corretamente digitado, acabando por formalizar tal texto sem ler. Imperdoável não é mesmo? Atualmente, temos os processos eletrônicos sendo implantados pelo Brasil afora. Que dizer de uma petição inicial postada com uma página que foi inserida 64 Advogado x Adevogado por engano? Além de problemas operacionais deste tipo, temos também a ética propriamente dita como causa de problemas futuros para o autor, porque, por exemplo, nem sempre se consegue mudar o que já foi escrito em momentos de distração. Que fazer em tal situação? Não há o que fazer! Quando a ética é deixada de lado, geralmentesurgem problemas dos mais graves, o que implicará no descrédito do profissional. Textos éticos denotam a verdade do fato, já que, apesar de ser parte da solução e não do problema, o (a) advogado (a) pode acabar sendo um problema para a solução, razão da necessidade da ética nos textos, porque, na verdade, eles devem descrever fria e fielmente o fato ocorrido. A forma de comunicação com o magistrado é o texto. A oralidade também; no entanto, esta poderá não ser considerada em determinadas situações, pois o texto é que determina o início de toda a comunicação com o judiciário. Podemos considerar que, na atualidade, os textos mais “enxutos”, mais simples, mais curtos, porém bem elaborados, sempre se usando da formalidade necessária para com o magistrado, sem exageros e termos desnecessários, serão certamente vistos como resultado do trabalho de um profissional competente. Com a mais absoluta certeza, textos com tais características irão surtir efeitos mais eficientes, haja vista que textos aéticos e principalmente recheados de palavras e frases inúteis deixarão com certeza uma imagem ruim e desnecessária para aqueles que irão interpretá-lo. Ética não significa apenas utilizar palavras e termos que não ofendam o decoro. Ética significa analisar a realidade do cliente, significa refletir, significa filosofar sobre a questão, orientando o cliente e aplicando as palavras 65 Geraldo Cossalter no texto, de forma a explicar ao magistrado com transparência, de forma clara, de forma objetiva, sem a necessidade de tentar demonstrar ao magistrado o conhecimento de artigos e leis, ou até termos em Latim. Não estou, com isto, afirmando que jamais se use termos, leis ou o Latim em um texto, ao contrário, digo que tudo isso deve ser usado de maneira equilibrada. “Todo exagero é desperdício; e todo desperdício é uma oportunidade que não se recupera.” Obviamente que, na ocasião certa, o (a) advogado (a) competente saberá utilizar termos, leis ou artigos, a fim de resguardar os interesses do cliente. Um texto ético nada mais é que um texto simples, objetivo, transparente, livre de termos complicados e desnecessários, visto que mais vale uma palavra bem interpretada do que mil palavras bem ditas. Mil palavras não irão garantir resultado algum, até porque um argumento sólido não significa que tenha de ser um texto longo. É obvio que, durante o andar de um processo, textos e mais textos poderão aumentar o seu volume; porém, é importante assimilar que, atualmente, a coesão e a concisão são fatores preponderantes para o bom andamento de um processo. Há petições iniciais que chegam ao absurdo de ter páginas e mais páginas desnecessárias, que podem até “emperrar” de alguma maneira o seu andamento e, portanto, acabam atrapalhando o cliente, o (a) advogado (a) e o judiciário. Pensem bem nisto; afinal, um texto ético e conciso certamente irá construir e consolidar uma imagem profissional, a não ser que a ação tenha o tamanho do famoso caso Hatfields e McCoys, que durou de 1863 a 1891. Eis aí, por sinal, uma boa dica de filme para estudantes de Direito. A fita Hatfields e McCoys, 66 Advogado x Adevogado produzida em 2013 e estrelada por Kevin Kostner e Bill Paxton, tem cerca de cinco horas de duração (no Brasil, ela foi lançada em três DVD´s) e enfoca fato verídico no qual vemos muitas facetas do Direito inglês. Além dos princípios jurídicos, a história também mostra a ausência da ética, já que o enredo está focado tanto na autotutela (fazer justiça com as próprias mãos) e na busca pela justiça nos tribunais americanos e disputas pelo poder. É uma história ímpar, já que podemos constatar que a ausência da ética provocou uma tragédia incomum. Também é possível traçar um comparativo entre o Direito inglês e o Direito brasileiro, que é originário do Direito romano-germânico. “Por ser filha da subjetividade, a ética se materializa com atitudes positivas.” Portanto, caros amigos, materializar a ética por meio de textos éticos não é uma qualidade apenas do bom profissional; mas, antes de tudo, um dever de todo cidadão. Diria até que materializar a ética exigirá coragem e respeito ao semelhante. Vejamos o que nos ensina o Prof. Matheus Marques Nunes: “A ética é a reflexão da moral.” Boa sorte nesta empreitada, talvez uma das mais difíceis, tendo em vista que o predomínio de nossas fraquezas induz muitas vezes o ser humano a cometer erros irreparáveis, por conta da ausência da ética. 67 Geraldo Cossalter A ORATÓRIA COLOQUIAL, CULTA E TÉCNICA “O bom advogado jamais pode ser um comerciante, pois lida com pessoas e não com mercadorias.” Prof. Leandro Vila Torres, 2012 O advogado é um profissional realmente diferenciado, ou pelo menos deve ser assim, pois às vezes será preciso ser ao mesmo tempo vários tipos de “profissional”. Como assim, vários tipos de profissional? Imagine, em uma sala de espera para uma audiência, o advogado e seu cliente tendo uma conversa. Dependendo do grau de conhecimento cultural e intelectual do cliente, o advogado certamente irá aplicar uma linguagem coloquial. Sim, aquela linguagem simples, aquela linguagem do povo, aquela linguagem singela que pode ser compreendida pelo cliente em questão, visto que muitas vezes uma linguagem culta não atingirá o efeito desejado. De nada servirá ao (à) próprio (a) advogado (a) aplicar uma linguagem culta, que o cliente não irá entender. Muitas vezes uma única palavra não fará sentido para o cliente; e isto poderá colocar em risco o futuro da lide, o futuro do processo. Imagine um advogado conversando com um cliente, que jamais estudou o suficiente para compreender certas palavras. De 68 Advogado x Adevogado nada adiantará falar cultamente com ele. É mais fácil ser simples em uma situação como esta, falando pouco e usando palavras coloquiais para ser compreendido, ao invés de utilizar palavras desconhecidas do cliente (muitas vezes até palavras do cotidiano profissional jurídico, mas que não pertencem ao vocabulário do cliente). Vencer uma ação poderá ter relação direta com uma situação como esta, em que, mais que utilizar um palavreado culto com o cliente, significa compreender o palavreado coloquial do cliente. O (a) advogado (a) jamais poderá se colocar como alguém que não compreende tudo o que o cliente diz e deseja, até porque isto é fundamental para se saber quais os melhores caminhos jurídicos devem ser adotados. Como já dizia o mestre da viola caipira Tião Carreiro na música “O Mineiro e o Italiano”, a simplicidade e inteligência do mineiro venceram a arrogância do italiano. Tratava-se de uma demanda de terras, em que os personagens tinham diferenças enormes, pois o mineiro era muito pobre e o italiano muito rico. O mineiro temia perder a ação, e o italiano se gabava do poder financeiro que tinha e dizia que iria ver o mineiro voltar a pé para Minas Gerais. O mineiro pensou em pedir ao juiz que lhe desse razão na demanda e, em troca, lhe daria de presente a única leitoa que tinha. Nesta bela música raiz de nossa cultura interiorana, o advogado do mineiro impede que seu cliente mande uma leitoa de presente para o juiz, já que ambos (o advogado e o juiz) eram profissionais sérios e jamais iriam contrariar a lei e a ética. Por sua vez, o advogado explica ao cliente mineiro o sentido da ética em linguagem simples; e o mineiro compreende, mas é matreiro. Prestes a perder a ação, preocupado, o advogado 69 Geraldo Cossalter do mineiro tem uma surpresa, quando chega o dia do veredicto. O mineiro vence a ação! Perguntando ao mineiro o que havia ocorrido, o cliente responde: “Mandei minha leitoa para o juiz em nome do italiano.” Esta pequena história nos mostra dois lados: o lado honesto e ético do juiz e do advogado; e o lado “matreiro” do mineiro, que soube compreendero fato e aproveitar-se da situação sem dizer uma só palavra, obviamente de forma aética. Certamente que não devemos utilizar o exemplo na vida real, até porque se trata de uma fantasia; porém, é interessante para refletir, pois, mesmo sendo um cliente simples, o mineiro soube compreender o sentido da ética do juiz e assim ganhar a ação usando um artifício não recomendável. É obvio que uma atitude destas poderá ser punida na vida real, uma vez que o mineiro se passou pelo italiano, o que não é correto. Obviamente que não iremos jamais utilizar isto como estratégia de trabalho, mas é uma forma de reflexão quanto à compreensão de uma determinada linguagem. Quanto à linguagem culta, desnecessário afirmar que ela é obrigatória dentro das situações profissionais do (a) advogado (a), seja com determinados clientes, seja com seus pares, seja diante do ministério público ou diante dos magistrados. A linguagem culta irá denotar o grau de conhecimento e, com isto, irá formar o conceito do (a) advogado (a) em questão. O mesmo vale para a linguagem técnica, que, sem ela, ou melhor dizendo, sem compreendê-la e sem aplicá- la, certamente o (a) advogado (a) estará fora do rol de profissionais qualificados e prestigiados pelo próprio meio em que milita. Um (a) advogado (a) sem o domínio da linguagem técnica (tanto a sua 70 Advogado x Adevogado compreensão, quanto a sua aplicação) certamente estará fadado ao fracasso, uma vez que não compreenderá e não se fará compreendido pelos demais profissionais e operadores do Direito. E olhe que não estamos falando do Latim, até porque existe hoje uma corrente que defende o uso cada vez menor de tal língua; porém, sua importância também é grande, pois, mesmo não usado com a mesma frequência de anos atrás, outros profissionais do Direito poderão usá-lo e será aí que se saberá quem o domina ou não. Imagine em uma audiência na qual um (a) advogado (a) decide aplicar uma frase em Latim. Já pensaram se o outro advogado não consegue compreender? Ruim, não é mesmo? Muito ruim. O mesmo pode acontecer com uma palavra técnica, com um termo técnico; e, somente com o domínio de tal linguajar, o (a) advogado (a) terá tranquilidade para enfrentar situações inesperadas e inusitadas. Pense bem nisto e aja sempre da seguinte forma: É preciso utilizar a linguagem culta; porém, retrocedo e uso a linguagem coloquial para compreender meu cliente. Mas, no ambiente jurídico, jamais deixo de utilizar a linguagem culta e técnica. Entretanto, devo sempre observar a situação para assim me adaptar ao momento. Importante ressaltar que o correto é estar adaptado sempre ao momento, ao cliente, ao juiz, pois assim nos faremos compreendidos com maior facilidade. Isto é uma arte; e os que praticarem tal arte certamente irão garantir prestígio e credibilidade frente ao meio que milita e, principalmente, estarão fazendo um bem para si mesmos e seus clientes. 71 Geraldo Cossalter Boa sorte. Aprenda, pratique e seja sempre um aprendiz, com a mente sempre aberta para as mudanças, pois elas são a única certeza no “Mundo do Direito”. 73 Geraldo Cossalter A ARTE DA PERSUAÇÃO ORAL E ESCRITA “O bom advogado não precisa mentir, precisa saber argumentar.” Prof. Luiz Henrique Beltramini, 2013 Persuadir significa convencer. Oralmente, talvez seja a forma que mais imaginamos ser difícil. Pois falar em público é uma tarefa bastante difícil para muitos. Falar em público é algo que chega a ser temeroso para alguns e impossível para outros. Na profissão de advogado, a persuação é fundamental, porque o bom profissional, além de todo conhecimento que necessita obter, também tem por obrigação ser um bom orador. É muito comum a oralidade entre os pares e a comunicação com o ministério público e com os magistrados; então, começa a nascer aí uma segunda necessidade, que é a persuação escrita. Esta é mais difícil até que a primeira, pois praticar a arte da persuação escrita é, sem dúvida, a forma mais complexa de demonstrar conhecimento e ao mesmo tempo aptidão persuasiva. O (a) bom (a) advogado (a) consegue transmitir por meio de uma síntese escrita o que é dito oralmente em poucas palavras, mas sintetizar no papel o que foi dito não é uma tarefa tão simples assim. Muitas vezes uma pequena frase necessita ser dita e explicada. 74 Advogado x Adevogado Por exemplo: uma petição, que é o meio que o (a) advogado (a) se comunica formalmente com o magistrado, necessita muitas vezes de explicações detalhadas, porém sintética nos dias atuais, contendo ainda assim argumentos que possam convencer o magistrado a aceitar a ação. Classificar um (a) advogado (a) de “bom de papo” não significa que ele (a) seja um (a) bom (a) advogado (a), pois persuação nada tem a ver com ser “bom de papo”. Ao contrário, o (a) bom (a) advogado (a) persuasivo (a), que consegue o convencimento do magistrado, está baseado em ser eficaz quanto à fundamentação de seu pedido, sendo eficiente quanto ao texto que criou e sendo persuasivo quanto aos argumentos que utilizou para conceber tal texto. Um texto persuasivo ou uma fala persuasiva geralmente tem as mesmas bases; entretanto, a diferença está no fato da ausência ou presença do interlocutor. Ou seja, quando se fala para uma plateia, ou até para um interlocutor apenas, temos o fator “presença”, pois estamos diante de outras pessoas e geralmente acabamos por utilizar a entonação, os gestos, as expressões faciais e outros meios que, no caso da escrita, não podemos usar. Quando tratamos da forma oral de persuação, logo nos lembramos daquele vendedor que nos convenceu a comprar algo. Já na forma escrita, as necessidades de uma boa persuação são muito diferentes, pois é necessário despertar o interesse, apresentar motivos concretos, apresentar um texto ético e, acima de tudo, convincente, além de apresentar argumentos que irão concretizar literalmente o objetivo do texto. A arte da persuação significa conseguir ser persuasivo sob os aspectos da ética, da tolerância, da fundamentação no que se afirma e conhecimento do 75 Geraldo Cossalter que se fala, porque sempre iremos encontrar alguém que saberá algo que não sabemos. Geralmente, iremos encontrar alguém que sabe mais que nós; e isto nunca poderá ser descartado. Tanto oral quanto escrita, a boa persuação dependerá do conhecimento linguístico, do conhecimento filosófico, do conhecimento hermenêutico e do conhecimento dos códigos. A arte da persuação tem nos conhecimentos linguísticos, filosóficos, hermenêuticos, técnicos e humanos, sob o prisma da ética, o caminho para o sucesso neste campo tão importante do Direito. A arte da persuação não está ligada ao campo da mentira, jamais se esqueça disto; até porque a mentira não pode jamais estar contida na arte da persuação. Persuadir significa convencer com propriedade, com exatidão, com certeza, com meios lícitos que levem ao resultado pretendido. Ser um profissional brilhante também é meta para muitos; mas poucos são os que realmente conseguem compreender rapidamente o conceito da persuação, já que somos levados a ser persuadidos e nunca persuasivos. Assim é a sociedade que vivemos; entretanto, como futuros profissionais do Direito, é preciso compreender que a arte da persuação está para o (a) advogado (a), assim como o bisturi está para o (a) médico (a). Digamos que a arte da persuação tem de ter precisão cirúrgica, porque um pequeno engano poderá colocar em xeque todo o trabalho até então desenvolvido. Portanto, é preciso aprender e jamais esquecer que para ser persuasivo (a) é necessário compreender suas etapas e praticá-las sempre. Tenho um amigo que por meses a fio falava consigo mesmo diante do espelho, pois, apesar de saber os fundamentos da boa persuação, tinha muito medo de 76 Advogado x Adevogado
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