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1 Direito Penal Prof. Danilo Pereira Apostila 4. Título XI. Capítulo III. Dos crimes contra a administração da justiça. Capítulo IV. Dos crimes contra as finanças públicas PARTE ESPECIAL TÍTULO XI DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA Art. 338 Reingresso de estrangeiro expulso Art. 339 Denunciação caluniosa Art. 340 Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 341 Auto-acusação falsa Art. 342 Falso testemunho ou falsa perícia Art. 343 Corrupção ativa de testemunha ou perito Art. 344 Coação no curso do processo Art. 345 Exercício arbitrário das próprias razões Art. 346 Supressão ou dano em coisa própria em poder de terceiro Art. 347 Fraude processual Art. 348 Favorecimento pessoal Art. 349 Favorecimento real Art. 349-A Ingresso de aparelho de comunicação em estabelecimento prisional Art. 350 Exercício arbitrário ou abuso de poder Art. 351 Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança Art. 352 Evasão mediante violência contra a pessoa Art. 353 Arrebatamento de preso Art. 354 Motim de presos Art. 355 Patrocínio infiel Art. 356 Sonegação de papel ou objeto de valor Art. 357 Exploração de prestígio Art. 358 Violência ou fraude em arrematação judicial Art. 359 Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito Considerações iniciais Este Capítulo – Crimes contra a Administração da Justiça – ainda dentro do Título XI do Código Penal (Crimes contra a Administração Pública), visa o resguarda de condutas que atentem contra a regularidade da administração pública, agora no sentido especial de proteger a regularidade da Administração da Justiça, interesse de clara importância. Por Administração da Justiça deve-se entender toda atividade instrumental necessária à prestação jurisdicional, abrangendo desde a aquisição, manutenção, acompanhamento e controle dos bens materiais e dos serviços burocráticos correlatos até a própria tramitação física de papéis, publicações, certidões, intimações e autos de processos. 2 Direito Penal Prof. Danilo Pereira REINGRESSO DE ESTRANGEIRO EXPULSO Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena. OJ: o ato oficial de expulsão, ato este inerente à administração da justiça, que é a proteção final da norma. SD: trata-se de crime próprio, somente o praticando o estrangeiro; sujeito passivo é o Estado. EO: “reingressar” que significa voltar, entrar outra vezes dentro dos limites do território nacional (território, marítimo ou aéreo). O estrangeiro deve ter sido expulso, ou seja, decretada sua expulsão mediante o decreto próprio pelo Presidente da República (art. 65/75 da Lei 6.815/80 – Estatuto do Estrangeiro (EE)) tendo esta sido cumprida, ou seja, saiu do país e retornou. Não tendo ainda sido cumprida sua expulsão, não há que se falar neste crime. ���� Extradição: é instrumento de cooperação internacional em que um Estado entrega à outro pessoa acusada ou condenada para que seja processada ou cumpra uma pena já aplicada. Grosso modo, é a entrega do delinqüente por parte de um Estado a outro que é competente para julgá-lo ou para executar a sanção penal imposta. ���� Deportação: saída obrigatória do estrangeiro para o país de sua nacionalidade ou procedência ou para outro que consinta em recebê-lo, por estar irregular em nosso país, podendo aqui retornar se regularizada sua situação (art. 58 e 64 EE). ���� Expulsão: ocorre quando o estrangeiro atentar, de qualquer forma contra segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais (art. 65, § único EE). A consequência é que o estrangeiro ficará impedido de aqui retornar. O Decreto 98.961/90 dispõe sobre a expulsão de estrangeiro condenado por tráfico de drogas afins. O fato do agente ser casado com brasileiro ou ter filhos com brasileiro pode garantir sua mantença no Brasil, vejamos o teor da L. 6.815/80: Art. 75. Não se procederá à expulsão: I - se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; ou II - quando o estrangeiro tiver: a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos; ou b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente. § 1º. não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao fato que o motivar. § 2º. Verificados o abandono do filho, o divórcio ou a separação, de fato ou de direito, a expulsão poderá efetivar-se a qualquer tempo. “Estrangeiro. Existência de filha brasileira. Descendente que nunca viveu sob a guarda e dependência econômica do pai. Não ocorrência de causa impeditiva do ato. Risco de constrangimento ilegal inexistente. HC denegado. Precedentes. Inteligência do art. 75, caput, inc. II, 3 Direito Penal Prof. Danilo Pereira b, da Lei nº 6.815/80. Não lhe obsta à expulsão o fato de o estrangeiro ter filho brasileiro que nunca viveu sob sua guarda nem dependência econômica.” (STF – HC – 94896 – Rel. Min. Cezar Peluzo – J. 18.11.2008). “A regra direciona à observância das normas em vigor no país em que cometido o crime - artigos 5º e 7º do Código Penal. Tráfico de Drogas. Para efeito de extradição, considera-se a modalidade ocorrida no país requerente que, ante o princípio da territorialidade e considerada convenção internacional, possua jurisdição própria à persecução criminal. Extradição - Família Constituída - Alcance. Ao contrário do que ocorre com o instituto da expulsão, a existência de família constituída no Brasil não é obstáculo à procedência do pedido de extradição.” (STF – Extradição 687 – Tribunal Pleno – Rel. Min. marco Aurélio – J. 05.11.2003). ES: previsão apenas de modalidade dolosa, e o dolo é genérico. CT: com a reentrada no território nacional, ou seja, ultrapassados os limites marítimos, territoriais ou aéreos. Admite-se a tentativa. AP: pública incondicionada. Pena: reclusão de 1 a 4 anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena. Quer dizer, será processado por este crime, se condenado, cumprirá sua pena e novamente será expulso. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. OJ: interesse na correta prestação jurisdicional, a administração da justiça de forma primária; secundariamente a honra da pessoa maculada pela falsa imputação. SD: trata-se de crime comum, qualquer um o pratica. Sujeito passivo primário é o Estado, e secundariamente protege-se também a pessoa acusada caluniosamente. Diferença da calúnia (art. 138 CP): A diferença entre calúnia e denunciação caluniosa é que a primeira contenta-se com a verbalização da imputação ou divulgação desta seja diretamente a terceiros ou por meio de imprensa, enquanto que na segunda o sujeito dá um passo a mais, dando causa à instauração de investigação policial (notitia criminis ao MP, inquérito policial ou boletim de ocorrência, ou mesmo dá ensejoa uma apuração administrativa contra alguém) ou processo judicial. Inclusive, na denunciação caluniosa, admite-se esta no caso de contravenção penal (art. 339, § 2º CP). EO: “dar causa”: significa provocar, motivar, dar ensejo, originar investigação por crime ou contravenção penal (vide § 2º), independentemente do desfecho da denúncia. Não exige-se qualquer formalidade, bastando que origine a instauração de procedimento contra alguém determinado. Este crime não recai somente sobre procedimentos judiciais, mas, insere-se como denunciação caluniosa a instauração de procedimentos administrativos como inquérito policial, inquérito civil (apuração em ação civil pública), sindicâncias ou procedimentos administrativos dentro de repartições públicas e corregedorias etc. 4 Direito Penal Prof. Danilo Pereira ES: o crime é doloso, exigindo dolo direto pois o tipo faz expressa referência que o autor imputa algo “de que o sabe inocente”. Assim, se o autor da denúncia acredita que o sujeito é o autor do fato ao qual denuncia, não há que se falar em crime. Entendemos haver dolo específico por isso, ou seja, demanda conhecimento da inocência e, quem assim age, só pode querer prejudicar alguém. CT: com a efetiva instauração de procedimento (judicial ou administrativo) de investigação. A tentativa é admitida. AP: pública incondicionada. Pena: reclusão de 2 a 8 anos, e multa. Forma agravada (§ 1º): aumenta de 1/6 se o denunciante se vale de anonimato (sem identificação) ou nome suposto (nome fictício). A razão disso é a dificuldade da identificação da autoria da denúncia. Forma privilegiada (causa de redução de pena - § 2º): reduz-se de ½ se a denúncia recai sobre contravenção penal (dec. Lei 3.688/41). Como vimos acima, o legislador puniu primeiramente a denunciação por crime, mas, reconheceu que a falsa denúncia por contravenção penal também merece reprimenda, pois, de qualquer forma, uma ou outra atentam contra o interesse na correta prestação jurisdicional. Porém, tendo em vista o desvalor da conduta, verificando a menor potencialidade lesiva que propicia a vítima uma acusação por contravenção penal, o legislador reconheceu essa causa de redução de pena. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Essa conduta é muito próxima ao delito anterior, sendo que apenas comentaremos as principais diferenças. EO: a conduta é “provocar”, que tem sentido de dar causa, ocasionar, motivar. Incrimina-se o comportamento daquele que motiva a ação de autoridade (policial ou judiciária), comunicando-lhe ocorrência de crime ou contravenção. Enquanto na denunciação caluniosa o sujeito denuncia pessoa determinada por crime ou contravenção que sabe não ter cometido, neste delito há denúncia de infração que sequer existiu, não apontando seu autor, ou seja, o agente sabe que o delito não ocorreu. Aqui são punidos os chamados “trotes”. ES: dolo direto de comunicar infração que sabe que não ocorreu. Inerente a este crime o dolo específico contido na expressão “provocar ação de autoridade”, ou seja, comunica falso crime ou contravenção para que aja a autoridade. CT: consuma-se o crime com a efetiva ação da autoridade (Provocar a ação...). Admite-se a tentativa. Pena: detenção de 1 a 6 meses, ou multa. 5 Direito Penal Prof. Danilo Pereira AUTO-ACUSAÇÃO FALSA Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. OJ: interesse na correta prestação jurisdicional, a administração da justiça. SD: trata-se de crime comum, qualquer um o pratica. Sujeito passivo primário é o Estado. EO: “acusar-se”: significa atribuir a si próprio, imputar-se crime (não contravenção) inexistente (não houve) ou que foi praticado por outra pessoa (sem co-autoria ou participação pelo agente), seja doloso ou culposo. Indispensável que a auto-acusação de dê perante a autoridade competente para essa apuração (policial ou judicial), e não para qualquer outra pessoa, como particulares ou funcionários públicos sem qualidade de autoridade. É a confissão ou declaração do agente, que pressupõe seja escrita e assinada. ES: o crime é doloso, exigindo dolo direto, com consciência que o crime não existiu ou que foi cometido por outrem, sem um fim especial de agir, bastando a mera auto-acusação (dolo genérico). Autodefesa: se confessa um crime para livrar-se de outro, trata-se de exercício de autodefesa e não haverá crime por força de garantias constitucionais – direito ao silêncio (art. 5º, LXIII e § 2º CF, Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 8º, 2, “g”). CT: quando a autoridade toma conhecimento da auto-acusação. Admite-se a tentativa, apesar de ser de difícil verificação. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 3 meses a 2 anos, ou multa. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa (L. 12.850/13 alterou pena) § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. OJ: administração da justiça, a especial proteção da veracidade sobre as provas. SD: trata-se de crime de mão própria, pois somente pode ser praticado por testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, administrativo, inquérito policial ou juízo arbitral, não admitindo co-autora, apenas participação (moral ou material). Sujeito passivo é o Estado, e secundariamente a pessoa prejudicada pela falsidade. EO: três são as condutas: “fazer afirmação”: tem sentido de afirmar algo falso. “negar a verdade”: o sujeito nega aquilo que sabe. “calar a verdade”: o sujeito silencia, omite o que sabe. 6 Direito Penal Prof. Danilo Pereira OM: o objeto material do crime é a falsidade, que pode ser objetiva (quando o falso será o que não corresponde ao que aconteceu) ou subjetiva (falso será o que não corresponde ao que o agente percebeu). Demanda algumas observações: 1. fato relevante: deve recair sobre fato juridicamente relevante ou com potencialidade lesiva, pois, em se tratando de circunstância irrelevante, sem prejuízo para qualquer um pois em nada influi, não há crime. 2. feita em processo judicial, administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral. 3. necessidade de compromisso: reza o art. 203 do CPP sobre o compromisso da testemunha: “a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber ou lhe for perguntado.” Do contrário, não serão compromissados os ascendentes, descendentes, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão, o pai, a mãe, o filho adotivo do acusado (art. 206 CPP). 4. falsidade para evitar auto-incriminação: mentindo, negando ou calando para evitar sua auto- acusação, trata-se de inexigibilidade de conduta diversa, que exclui a culpabilidade do agente, ante seu direito de autodefesa para evitar sua incriminação. ES: previsão apenas de modalidade dolosa, exigindo apenas a consciência de que falta com a verdade, semum fim especial de agir. Não pune-se a simples contradição, mas a prova de que tem consciência da falsidade. O dolo é genérico. CT: com o encerramento do depoimento ou da interpretação pelo tradutor ou com a entrega do laudo contábil ou da tradução ou da perícia médica. Como trata-se de crime de mão própria, ou há o falso e o crime está consumado, ou não há, e não há crime. Difícil imaginar tentar mentir, pois, se mentiu, mesmo que imediatamente descoberto, praticou a conduta. AP: pública incondicionada. Pena: reclusão de 1 a 3 anos, e multa. Forma agradava (§ 1º): aumento de 1/6 a 1/3 se o falso é praticado (exige-se tenha ocorrido o falso): 1. mediante suborno: recebimento de alguma vantagem. 2. fim de obter prova em processo penal. 3. fim de obter prova em processo civil quando for parte (autor ou réu) entidade da administração pública direta ou indireta. Retratação (§ 2º): retratação é causa que extingue a punibilidade do agente – art. 107, VI CP, ou seja, impedem o Estado, apesar de ter ocorrido um crime punir o agente, pois a punibilidade é a consequência do crime. Exige-se: 1. total e completa: deve o sujeito retirar e esclarecer tudo o quanto foi falado, esclarecendo a inverdade afirmada, ou, no caso de ter calado, falando o que sabe ou, no caso do tradutor ou intérprete, retratar a verdadeira interpretação do ato,e, na perícia, esclarecê-la integralmente de acordo com os achados verificados pelo perito. 7 Direito Penal Prof. Danilo Pereira 2. ocorra antes da sentença: quer dizer, antes da sentença onde ocorreu o ilícito, no processo em que o sujeito falseou a verdade e, no caso de processo administrativo ou juízo arbitral, até as respectivas decisões administrativas. No procedimento do Júri por sentença entende-se a sentença em que ocorre o julgamento após reunião dos jurados, e não a sentença de pronúncia. 3. voluntariedade: deve o agente se desdizer pessoalmente, sendo indiferente a espontaneidade ou o receio de ser preso, etc. Comunicabilidade da retratação: apesar de ser crime de mão própria, havendo mais de um falso praticado e sendo esclarecido por uma das testemunhas, entendemos que deve ser estendida a retratação a todas as demais, pois, o interesse é a administração da justiça, que, de fato, uma vez esclarecido o falso, desapareceu o perigo que representava. CORRUPÇÃO ATIVA DE TESTEMUNHA OU PERITO Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação: Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. Este delito trata-se de conduta criminosa próxima ao crime de falso testemunho e à corrupção ativa (art. 333 CP). Aqui pune-se aquele que dá, oferece ou promete dinheiro ou qualquer vantagem para que pessoa que servirá como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete pratique o crime de falsa testemunho ou falsa perícia. Não há crime se faz simples pedido. Estas ações referem-se aos processos anotados no delito anterior (processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral). Ou seja, incrimina-se aquele que corrompe a testemunha ou perito para que minta. Assim, verificaremos somente as peculiaridades inerentes a este delito: SD: crime comum, qualquer um o pratica. A vítima é o Estado primariamente, bem como a pessoa prejudicada pelo falso, secundariamente. Corromper a vítima para que altere seu depoimento e minta não configura este crime pois esta não é compromissada a dizer a verdade, e não comete crime de falso testemunho. ES: o crime é doloso, havendo um fim especial de agir consistente na intenção de que a testemunha ou perito faça afirmação falsa, negue ou cale a verdade, logo, há dolo específico. CT: com qualquer das condutas (dar, oferece ou prometer), independentemente da testemunha ou perito aceitar ou não. Claro que aceitando e vindo a falsear, a testemunha ou perito respondem pelo art. 342 CP, enquanto que aquele que deu, ofereceu ou prometeu o dinheiro ou qualquer outra vantagem responde pelo art. 343 CP. É crime formal, não havendo necessidade de qualquer prejuízo para Administração ou para particulares. AP: pública incondicionada Pena: reclusão de 3 a 4 anos, e multa. 8 Direito Penal Prof. Danilo Pereira Forma agravada (§ único): aumenta-se de 1/6 a 1/3: 1. fim de obter prova em processo penal. 2. fim de obter prova em processo civil quando for parte (autor ou réu) entidade da administração pública direta ou indireta. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência. OJ: administração da justiça, a especial proteção da veracidade sobre as provas. SD: trata-se de crime comum, qualquer um o pratica. Sujeito passivo é o Estado, e secundariamente a pessoa coagida. O tipo informa as pessoas pelo qual é dirigida a coação (física ou moral) para sua configuração: autoridade (juiz, delegado etc.), parte (autor da ação, réu, advogado), qualquer pessoa que é chamada a intervir (escrivão, perito, tradutor, testemunha, intérprete, testemunha, jurado etc.). EO: a conduta é ‘usar”, que tem sentido de empregar, utilizar. Para configuração deste crime o sujeito usa violência (física) ou grave ameaça (promessa de mal sério e grave). A ação recai em processo judicial (cível, penal, trabalhista), policial (inquérito, boletim de ocorrência) ou administrativo (sindicância) ou juízo arbitral. O fato de uma pessoa afirmar a outra que se não falar a verdade a processará por falso testemunho, não configura este crime, tratando-se de mera advertência. ES: há previsão de dolo específico consistente na vontade de favorecer interesse próprio ou alheio exigido pelo tipo. CT: com o uso da violência ou da grave ameaça, independentemente do resultado ser alcançado ou não, trata-se de crime formal. A tentativa é admitida. AP: pública incondicionada. Pena: reclusão de 1 a 4 anos, e multa, além da pena correspondente a violência. Observa-se com isto que aplica-se a regra do concurso material de crimes (art. 69 CP) entre o crime de coação e a violência. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. OJ: administração da justiça, interesse estatal em evitar a justiça privada. SD: trata-se de crime comum, qualquer um o pratica. Sujeito passivo é o Estado, e secundariamente a pessoa prejudicada. 9 Direito Penal Prof. Danilo Pereira EO: a conduta é “fazer justiça com as próprias”, que tem sentido de punir a pessoa que acredita ter direito contra outra pessoa e arbitrariamente satisfaz sua pretensão ao invés de recorrer a justiça, usando violência, grave ameaça, fraude, subtração etc. O legislador se utilizou da expressão pretensão assim fazendo entender que para configuração deste crime é pressuposto queo sujeito tenha interesse em satisfazer um direito que acredita ter em relação a outra, seja legítimo ou ilegítimo. É indiferente a natureza deste direito (real, pessoal, de família etc.). ES: há previsão de dolo específico consistente na vontade de satisfazer pretensão, exigido pelo tipo. Exclusão da ilicitude: a ressalva prevista na parte final deste tipo indica que não haverá este crime quando a lei permitir a busca da pretensão pessoalmente pelo agente. São hipóteses em que a própria lei permite que o particular aja imediatamente, independentemente de busca de instrumentos legais, como no caso das excludentes de antijuridicidade do Código Penal (art. 23 CP) ou, no cível, a defesa ou desforço imediato para resguardo da posse invadida etc. Daí porque o próprio nomem juris deste tipo exige seja o exercício “arbitrário”, pois patente a possibilidade do agente agir em diversas hipóteses. CT: a consumação dá-se com a efetiva satisfação da pretensão pois o tipo exige “fazer justiça” significando que o agente deve conseguir sua pretensão. A tentativa é admitida. AP (§ único): pública incondicionada se há emprego de violência (física), pois, não havendo violência a ação será privada, mediante queixa crime. Pena: reclusão de 15 dias a 1 mês, ou multa, além da pena correspondente a violência. Aplica-se a regra do concurso material de crimes (art. 69 CP) entre o crime de coação e a violência. SUPRESSÃO OU DANO EM COISA PRÓPRIA EM PODER DE TERCEIRO Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. OJ: administração da justiça, interesse estatal em evitar a justiça privada. É uma modalidade muito próxima a anterior, mas, especialmente prevendo as hipóteses de exercício arbitrário das próprias razões. SD: no tocante ao sujeito ativo, trata-se de crime próprio, pois somente o proprietário da coisa pratica este crime. Sujeito passivo é o Estado, e secundariamente a pessoa prejudicada. EO: trata-se de um tipo misto alternativo, prevendo diversas condutas criminosas: tirar (subtrair, retirar), suprimir (fazer desaparecer), destruir (tornar inexistente) ou danificar (estragar, tornar pior). OM: a conduta recai sobre a “coisa própria”, isto é, aquela de propriedade do sujeito ativo, mas que se acha em poder de terceiro por uma ordem judicial (v.g., busca e apreensão) ou por convenção (acordo, contrato firmado entre as partes, locação etc.). ES: é a vontade de praticar qualquer das ações, sabendo que existe uma ordem judicial ou convenção, sem um fim especial de agir, há dolo genérico. 10 Direito Penal Prof. Danilo Pereira CT: a consumação dá-se com a efetiva tirada, supressão, destruição ou danificação. A tentativa é admitida. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 6 meses a 2 anos, e multa. FRAUDE PROCESSUAL Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. OJ: administração da justiça. SD: trata-se de crime comum, qualquer um o pratica, o autor da ação, o réu, alguma das partes, mesmo terceiros, sendo indiferente que tenha interesse direto no processo. Sujeito passivo é o Estado, e secundariamente a pessoa prejudicada. EO: a conduta é “inovar”, que tem sentido de mudar, alterar ou modificar. Para caracterização da inovação, exige-se: 1. deve recair em processo cível ou administrativo em curso: já instaurado ou iniciado. Observando que se a conduta recai sobre processo penal, há previsão de aumento de pena (§ único) onde, ademais sequer exige-se tenha sido este iniciado. 2. praticada artificiosamente: mediante ardil ou artifício, indicando meio enganoso ou fraudulento. 3. recai sobre: a) estado do lugar: local. Ex: abertura de janelas, retirada de manchas etc. b) coisa: móvel ou imóvel. Ex.: alteração de limites de imóveis. c) pessoa: aspecto físico. Ex.: cirurgia plástica. ES: há previsão de dolo específico consistente na vontade de induzir a erro juiz ou perito, exigido pelo tipo. CT: a consumação dá-se com a efetiva inovação, desde que comprovada seja idônea para levar a erro o juiz ou perito, sendo indiferente que consiga efetivamente a indução a erro, trata-se de crime formal. A tentativa é admitida. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 3 meses a 2 anos, e multa. Forma agravada (causa de aumento de pena - § único): no caso de a inovação recair sobre produção de provas em processo penal, ainda que não iniciado (quer dizer, mesmo que em fase de inquérito, ou antes mesmo da instauração deste), as penas serão aplicadas em dobro. 11 Direito Penal Prof. Danilo Pereira FAVORECIMENTO PESSOAL Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. OJ: administração da justiça. SD: trata-se de crime comum, qualquer um o pratica, exceto se estiver se autofavorecendo pois trata-se de um direito não produzir prova contra si, ou for ascendente, cônjuge ou irmão do criminoso, pois há isenção de pena por força expressa do § 2º. Sujeito passivo é o Estado. Autor de crime: em nosso sistema penal só temos a autoria certa do crime quando há condenação definitiva transitado em julgado, assim, entendemos que, o favorecimento ao ‘acusado’ é atípico, enquanto não seja este definitivamente condenado. Tal se dá pois não podemos fazer interpretação extensiva ao CP e aplicar este art. 348 àquele que auxilia acusado. EO: a conduta é “auxiliar a subtrair-se”, quer dizer qualquer forma que vise favorecer aquele que é perseguido ou será perseguido pela autoridade pública (policial, judicial ou administrativa), como a ocultação do autor do crime, auxílio a sua fuga, despistamento dos policiais etc. Pune-se o favorecimento ao autor do crime, e não ao próprio crime, onde então haveria participação (art. 29 CP). Assim, para configuração do favorecimento pessoal, o auxilio deve ser prestado depois de praticado o crime (e não contravenção penal), e não antes ou durante. Desinteressa que seja o crime doloso ou culposo, consumado ou tentado. Ademais, exige-se que o auxílio recaia sobre crime onde a pena cominada seja de reclusão. Não haverá favorecimento pessoal se houve quanto ao crime anterior: 1. extinção da punibilidade (art.107 CP); 2. exclusão da ilicitude (art. 23 CP); 3. inimputabilidade (art. 26 CP); 4. crime anterior for de ação penal privada ou condicionada a representação e não houver o ofendido intentado a queixa crime ou representação. ES: em nosso entender a própria conduta prevista (auxiliar a subtrair) remonta e vontade especial de pretender a impunidade do autor do crime, logo, há previsão de dolo específico. CT: a consumação dá-se com o idôneo auxilio, demonstrando ser conduta hábil à impunidade do autor do crime, independentemente de conseguir ou não o intento. A tentativa é admitida. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 1 a 6 meses, ou multa. Forma privilegiada (§ 1º): o caput somente pune o crime de favorecimento pessoal se o auxílio recai a autor de crime cujo seja cominada pena dereclusão. Porém, neste parágrafo, pune mais beneficamente se o auxilio se dá a autor de crime cujo não seja cominada pena de reclusão, ou seja, 12 Direito Penal Prof. Danilo Pereira seja previsto apenas pena de detenção. Assim, apena será de detenção de 15 dias a 3 meses, e multa. Escusa absolutória (exclusão da punibilidade - § 2º): se quem presta o auxilio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso ficará isento de pena. Tal causa de exclusão da punibilidade se dá em razão de não ser exigível outra conduta de pessoas tão próximas ao criminoso. Entendemos que na hipótese de outras pessoas não arroladas pela lei (amásia, filho ou pai adotivo) auxiliarem ao criminoso teria excluída sua culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. FAVORECIMENTO REAL Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. OJ: administração da justiça. SD: trata-se de crime comum, qualquer um o pratica, exceto se este for co-autor ou partícipe do crime anterior, onde, claramente apenas estaria exaurindo o crime anterior já praticado ao adotar condutas que visassem tornar seguro o proveito do crime. Sujeito passivo é o Estado. EO: a conduta é “prestar auxilio”, isto é, ajudar aquele que praticou crime anterior a tornar seguro o proveito do crime anterior na posse ou gozo do proveito do crime anterior. A conduta recai sobre proveito que significa qualquer vantagem material ou mesmo moral obtida ou esperada em razão do crime anterior praticado, incluindo-se a recompensa, o produto e o resultado do crime precedente. Claro que o auxilio deve ser dado após a prática do crime anterior, pois se é anterior ou mesmo durante o cometimento daquele crime haverá co-autoria ou participação. Aliás, o próprio legislador exclui a hipótese de prática do favorecimento real se há co-autoria ou receptação, no primeiro caso porque o sujeito sendo co-autor responderá pelo crime anterior praticado na forma do art. 29 CP, no segundo caso pois a receptação afigura-se já uma forma de favorecimento real especial para crimes contra o patrimônio, e não haveria como se punir o receptador pelo art. 180 e por este delito, pois configuraria grosseiro bis in idem. ES: há vontade especial de agir contido na expressão “destinado a tornar seguro o proveito do crime”, logo, há previsão de dolo específico. Logo, ignorando tratar-se de proveito de crime anterior, não há crime. CT: a consumação dá-se com o idôneo auxilio que sirva a tornar proveito ou produto, ou seja, pela própria leitura do tipo verifica-se que o legislador se contentou com o “auxilio destinado”, demonstrando que, basta à consumação do crime seja a conduta é hábil a tornar seguro o proveito do crime, independentemente de conseguir ou não o intento (crime formal). A tentativa é admitida. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 1 a 6 meses, ou multa. 13 Direito Penal Prof. Danilo Pereira INGRESSO DE APARELHO DE COMUNICAÇÃO EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Trata-se de uma espécie de favorecimento real. Este delito foi acrescentado ao Código Penal através da Lei 12.012, de 06.08.2009. Na verdade é um crime muito próximo ao delito previsto no art. 319- A já estudado, que diz respeito a omissão do diretor de penitenciária e/ou agente público do dever de vedação a acesso a aparelho telefônico, tratando-se de crime próprio praticado por funcionário público contra a Administração. A punição neste art. 349-A recai sobre a pessoa que insere ou facilita a inserção de aparelho de comunicação dentro do estabelecimento prisional. Quanto ao preso que detém ou recebeu o aparelho, apesar de poder ser sujeito ativo deste crime, ainda configura-se falta disciplinar grave a posse de aparelho de comunicação, prevista na LEP em seu art. 50, VII, levando a diversos prejuízos no tocante ao cumprimento de pena, como perda dos dias remidos, configuração de mau comportamento carcerário que é impeditivo de progressão de regime ou livramento condicional, regressão de regime etc. alguns destaques: OJ: visa resguardar a administração da justiça, com orientação voltada a regularidade do funcionamento e manutenção do sistema prisional. SD: crime comum, qualquer um o pratica, inclusive o próprio preso, v.g., em regime semi-aberto, retorna ao estabelecimento prisional após alguma saída temporária ingressando com um aparelho telefônico. Sujeito passivo é o Estado. EO: as condutas são ingressar (entrar, adentrar), promover (realizar), intermediar (mediar), auxiliar (ajudar) e facilitar (tornar mais fácil). OM: as condutas recaem sobre aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar. EN: a expressão sem autorização legal significa exatamente que existem hipóteses autorizadas de ingresso de aparelho nestes estabelecimentos, como no caso daqueles de propriedade da direção ou de comunicação entre os próprios agentes, claramente revestidos de legalidade por razões óbvias. ES: o crime é doloso, sem existir um fim especial de agir por parte do agente, o dolo é genérico. CT: com a localização do aparelho dentro do estabelecimento prisional. Admite-se a tentativa. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 3 meses a 1 ano. “1. A Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984) institui um amplo sistema de deveres, direitos e disciplina carcerários. O tema que subjaz a este habeas corpus diz com tal sistema, especialmente com as disposições normativas atinentes à disciplina penitenciária. Disciplina que o legislador entende ofendida sempre que o condenado “tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo” (inciso VII do art. 50 da LEP). 2. Em rigor de interpretação jurídica, o que se extrai da Lei de Execução Penal é a compreensão de que o controle estatal tem de incidir sobre o aparelho telefônico, mas na perspectiva dos seus componentes. É dizer: a Lei 11.466/2007 encampou a lógica finalística de proibir a comunicação a distância intra e extramuros. Pelo que a posse de qualquer artefato viabilizador de tal comunicação faz a norma incidir de pleno direito. 3. Tal maneira de orientar a discussão não implica um indevido alargamento da norma 14 Direito Penal Prof. Danilo Pereira proibitiva. Norma que faz menção expressa à posse, ao uso e ao fornecimento de “aparelho telefônico, de rádio ou similar”. E o fato é que o chip faz parte da compostura operacional do telefone celular. Não tem outra serventia senão a de se acoplar ao aparelho físico em si para com ele compor uma unidade funcional. Donde se concluir que o referido artefato nem sequer é de ser tratado como mero acessório do aparelho telefônico, sabido que acessório é aquilo “que se junta ao principal, sem lhe ser essencial; detalhe, complemento, achega”. Ele se constitui em componente do aparelho e com ele forma um todo operacional pró-indiviso. 4. Ordem denegada, cassada a liminar.” (STF – HC 105973/RS – 2ª Turma – Rel. Min. Ayres Britto – J. 30.11.2010) EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ABUSO DE PODER Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder: Pena - detenção, de um mês a um ano. Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que: I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a execução de penaprivativa de liberdade ou de medida de segurança; II - prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de executar imediatamente a ordem de liberdade; III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. Revogação tácita: segundo domina no entendimento doutrinário, esse dispositivo foi revogado tacitamente pela Lei de Abuso de Autoridade (L. 4898/65), onde, em seu art. 4º, letras “a” e “b” regulam expressamente essas condutas, reproduzindo este art. 350 CP. Mas, faremos algumas breves considerações. OJ: administração da justiça. SD: crime próprio, só o responsável em ordenar a ordem ou o funcionário responsável em executá- la. Sujeito passivo é o Estado e secundariamente o detido. EO: pune-se no caput as condutas de ordenar (determinar, desde que tenha poder para isso) e executar (fazer cumprir a ordem), ou seja, relativas aquele que leva o detido à prisão: sem as formalidades legais (elemento normativo, onde deve-se verificar as formalidades para haver a prisão, v.g., existência de mandado de prisão) ou com abuso de poder. No parágrafo único encontram-se as figuras equiparadas que pune aquele que: 1. ilegalmente recebe ou recolhe alguém: quer dizer, aceita e mantém presa a pessoa sem as formalidades exigíveis 2. prolonga o cumprimento da medida (pena ou medida de segurança): deixa de expedir (ao juízes competem a expedição) ou executar (cumprir) o alvará de soltura. 3. submete a pessoa que está sob sua guarda a vexame ou constrangimento não autorizado por lei: óbvio que existem hipóteses em que condutas que seriam constrangedoras ou vexaminosas são autorizadas em estabelecimentos prisionais, como a nudez em algumas revistas a presos, desde que justificada e fundada na segurança no próprio estabelecimento e dos próprios presos e visitas. 4. realiza diligências com abuso de poder: ato judicial ou policial que configura abuso de poder. ES: o crime é doloso, sem existir um fim especial de agir por parte do agente, o dolo é genérico. 15 Direito Penal Prof. Danilo Pereira CT: com a efetiva ou manutenção da prisão (caput, I e II) com o constrangimento ou vexame praticado (III) e com a diligência abusiva (IV). Admite-se a tentativa. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 1 mês a 1 ano. FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à violência. § 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou o internado. § 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. OJ: administração da justiça. SD: crime comum, qualquer pessoa o pratica. Quanto ao próprio preso que foge, não se aplica este crime pois o tipo pune quem promove ou facilita fuga de outrem, pois a fuga (sem violência) em si não constitui crime algum. É possível aplicar-se este crime ao preso que promove ou facilita a fuga de outros presos. Sujeito passivo é o Estado. EO: pune-se no caput as condutas de “promover” (realizar) ou “facilitar” (auxiliar) a saída (ainda que rápida ou temporária) de pessoa legalmente presa (seja cautelar ou definitivamente presa) ou submetida a medida de segurança detentiva (manicômio judiciário). A prisão tem sentido de clausura física, e não a mera detenção pelos policiais em via pública, que consistira em crime de resistência (art. 329 CP). Ainda, exige-se que a prisão seja “legal”, ou seja, revestida das formalidades e no tempo, pois, caso contrário torna-se abusiva e criminosa, passível, inclusive de suscitar legítima defesa ou estado de necessidade de terceiro contra a prisão ilegal. ES: o crime é doloso, sem existir um fim especial de agir por parte do agente, o dolo é genérico. CT: com a efetiva fuga, ainda que rápida ou temporária. Admite-se a tentativa. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 6 mês a 2 anos. Forma qualificada (§ 1º e 3º): 1. emprego de armas, concurso de duas ou mais pessoas ou mediante arrombamento (§ 1º): reclusão de 2 a 6 anos. 2. crime praticado pelo responsável pela custódia ou guarda do preso ou internado (guarda, carcereiro, agente penitenciário etc.) (§ 3º): reclusão de 1 a 4 anos. Concurso material (§ 2º): havendo violência contra pessoa (lesão corporal ou morte), o agente responderá também por estes crimes na forma do art. 69 CP. 16 Direito Penal Prof. Danilo Pereira Modalidade culposa (§ 4º): no caso de fuga resultante da falta de dever de cuidado necessário pelo funcionário incumbido da custódia ou guarda, a pena será de detenção de 3 meses a 1 ano, ou multa. Interessante que como este parágrafo é expresso em responsabilizar pela culpa do funcionário na fuga, não aplica-se este delito para o caso de colocação do preso em liberdade pelo próprio carcereiro pela identificação errônea do preso, pois, não há fuga neste caso. EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência. SD: é crime próprio, o pratica somente o preso, submetido à prisão ou a tratamento em medida de segurança detentiva. Sujeito passivo é o Estado, e secundariamente a pessoa que sofreu a violência. EO: os verbos são evadir-se (fugir, escapar) ou tentar evadir-se (tentar fugir), classificando-se de crime de atentado ou empreendimento uma vez que tanto a consumação quanto a tentativa possuem a mesma pena. Tal gera certa perplexidade pois a tentativa, segundo a regra geral do art. 14, II CP, é punida com causa de redução de pena, o que não ocorre neste crime. Essa evasão deve obrigatoriamente dar-se mediante violência contra a pessoa, ou seja, violência real, não havendo este crime se há violência contra coisa ou mesmo grave ameaça. Claro que a fuga do preso (com ou sem violência), ainda é considerada falta grave pela LEP (art. 50, II), levando a consequências no cumprimento de sua pena. ES: o crime é doloso, não revelando qualquer finalidade especial de agir do sujeito, logo, o dolo é genérico. CT: com a prática da violência comprovada como meio usado para fim de evasão. A tentativa é punida da mesma forma que o crime consumado. AP: pública incondicionada Pena: detenção de 3 meses a 1 ano, além da pena correspondente a violência (concurso material) ARREBATAMENTO DE PRESO Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda: Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspondente à violência. EO: pune-se neste delito a conduta daquele que arrebata (toma a força) o preso (provisório, definitivo, cumprindo medida de segurança) que está sobre a guarda (detido por policiais, fora de estabelecimento prisional) ou custódia (detido em estabelecimento prisional), com o fim de maltratá-lo, quer dizer, agredi-lo. São os casos de punição do linchamento que ainda hoje costumam ocorrer. ES: há dolo específico, pois o arrebatamento dá-se com a finalidade de maltratar o preso. 17 Direito Penal Prof. Danilo PereiraCT: no momento em que o preso é retirado, com violência, de quem o escolta ou da guarda do carcereiro ou agente penitenciário. AP: pública incondicionada. Pena: reclusão de 1 a 4 anos, além da pena correspondente a violência (concurso material) MOTIM DE PRESOS Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência. OJ: visa resguardar a administração da justiça, com orientação voltada a regularidade do funcionamento e manutenção do sistema prisional. SD: é crime próprio, o pratica somente o preso, submetido à prisão ou a tratamento em medida de segurança detentiva. Sujeito passivo é o Estado. EO: a conduta é “amotinarem-se” que tem sentido de revoltarem-se, levantarem-se conjuntamente contra os funcionários e as instalações do estabelecimento prisional. Como o tipo é expresso quanto ao plural “presos”, deve haver numero razoável de pessoas detidas para configuração deste crime e, aliás, prova de que era suficiente para perturbar a ordem ou disciplina da prisão. A amotinação constitui falta grave (art. 50, I LEP). ES: o crime é doloso, não revelando qualquer finalidade especial de agir do sujeito, logo, o dolo é genérico. CT: com a efetiva perturbação da ordem e disciplina. A tentativa é teoricamente admitida. AP: pública incondicionada Pena: detenção de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente a violência (concurso material). PATROCÍNIO INFIEL Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. Patrocínio simultâneo ou tergiversação Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias. OJ: administração da justiça, uma vez que a própria CF/88, em seu art. 133 considera o advogado indispensável á administração da justiça. SD: crime próprio, somente o advogado ou estagiário inscrito na OAB. Sujeito passivo é o Estado. EO: pune-se no caput a conduta de “trair” (ser infiel) os deveres da profissão, prejudicando interesse que lhe foi confiado, ou seja, exige-se: 1. prejuízo de interesse: aquele concreto, tanto material como moral. 2. patrocínio que lhe é confiado: deve existir um mandato, escrito ou verbal, gratuito ou oneroso, ou mesmo existir a nomeação de um juiz como advogado dativo ou ad hoc (para aquele ato). 18 Direito Penal Prof. Danilo Pereira 3. em juízo: a ação deve ser praticada em causa judicial, cível ou penal. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir por parte do advogado, bastando a traição, independentemente do fim desejado, o dolo é genérico CT: com o efetivo prejuízo causado (crime material) no caput, ou, com a prática processual contra o cliente primitivo, no parágrafo único. Admite-se a tentativa. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 6 meses a 3 anos, e multa. Forma equiparada (§ único): Pune-se com a mesma pena o advogado que, na mesma causa (mesma pretensão, e não mesmo processo como no caso de cobrança de alimentos por períodos sucessivos) que defende partes contrárias cujos interesses colidem, ou seja, com teses antagônicas. Simultânea é a defesa feita ao mesmo tempo, e sucessivo é o patrocínio em que há tervigersação, com o advogado passando a tratar do interesse da parte contrária depois de abandonar ou ser dispensado pela parte primitiva. SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador: Pena - detenção, de seis a três anos, e multa. OJ: administração da justiça. SD: crime próprio, somente o advogado ou estagiário inscrito na OAB (procurador judicial). Sujeito passivo é o Estado, e secundariamente a parte prejudicada. EO: pune-se as condutas de “inutilizar” (tornar imprestável, que não mais serve), “deixar de restituir” (sonegar, deixar de devolver). Exige-se que o advogado tenha recebido, quer dizer regularmente retirado os autos da repartição pública mediante a identificação própria, pois se não havia autorização para retirá-lo (chamada “carga” dos autos), haverá o crime de subtração ou inutilização de livro ou documento (art. 337 CP). Ainda, sendo procurador concursado (funcionário público), como integrante da Advocacia Geral da União, Procuradoria da Fazenda Nacional, Defensoria Pública, haverá o crime praticado por funcionário público previsto no art. 314 CP (Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento). Essas condutas, que podem dar-se total ou parcialmente, recaem sobre: 1. autos: tanto processo (cível, penal trabalhista, administrativo) como inquérito policial. 2. documento de valor probatório: aquele comprobatório de fato juridicamente relevante. 3. objeto de valor probatório: é a coisa capaz de comprovar algo ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir por parte do advogado, bastando a inutilização, ainda que parcial, ou a não restituição (não devolução), independentemente do fim desejado, o dolo é genérico. Como não é punida a modalidade culposa, comprovado ter pedido os autos, o fato é atípico. 19 Direito Penal Prof. Danilo Pereira CT: na modalidade inutilização, com a perda da aptidão probatória; na modalidade sonegação de autos quando deixa de restituí-los, após intimado a devolvê-los e, da mesma forma com a sonegação de documento ou objeto, consumando-se quando não o devolve em tempo juridicamente relevante depois de ter sido formalmente solicitada a devolução. A tentativa é admitida na modalidade inutilização (lembrando-se que mesmo a inutilização parcial já configura este crime) AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 6 meses a 3 anos, e multa. EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo. Este crime é muito próximo ao tráfico de influência já estudado (art. 332 CP) sendo este delito do art. 357, uma modalidade mais especial daquele, onde, as condutas lá previstas (solicitar, exigir, cobrar ou obter) servem para influir em ato praticado por qualquer funcionário público, e, neste delito (art. 357 CP), a solicitação ou recebimento serve para influir funcionários públicos determinados: juiz (autoridade judiciária, componente do poder judiciário), jurado, órgão do Ministério Público (promotor de justiça de 1ª instância ou procurador de justiça de 2ª instância), funcionário da justiça (funcionário público que exerce atividade no poder judiciário), tradutor, intérprete ou testemunha. É a venda de fumaça, onde há um pretexto do agente. EO: pune-se as conduta de “solicitar” (pedir) ou “receber” (aceitar) dinheiro ou qualquer utilidade, ou seja, qualquer benefício ou interesse do sujeito. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir, bastando a conduta (solicitar ou receber), independentemente do fim desejado, o dolo é genérico CT: com a só solicitação (ainda que rejeitada) ou o recebimento. Admite-se a tentativa. AP: pública incondicionada. Pena: reclusão de 1 a 5 anos, e multa. Forma agravada (§ único): Aumenta-se de 1/3 se o agente alega ou insinua que o dinheiroou a utilidade também se destinam as pessoas referidas no caput. Assim, como o art. 332, visa punir mais gravemente aquele que compromete o bom nome do funcionário público e da própria Administração. VIOLÊNCIA OU FRAUDE EM ARREMATAÇÃO JUDICIAL Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena correspondente à violência. SD: crime comum, qualquer pessoa o pratica. A vítima é o Estado, e secundariamente o concorrente, o licitante ou terceiro prejudicado. 20 Direito Penal Prof. Danilo Pereira EO: existem duas partes este tipo, a primeira pune-se as condutas de: 1. impedir: obstar, obstruir. 2. perturbar: atrapalhar, embaraçar. 3. fraudar: usar ardil para iludir. Essas condutas recaem sobre arrematação judicial, que é a venda em hasta pública promovida pelo poder judiciário. Na segunda parte, pune-se: 1. afastar ou procurar afastar: afastar é por de lado, tirar do caminho, impedir, ou tentar impedir. Essa conduta recai sobre concorrente ou licitante, que é aquele que concorre, participa de concorrência ou licitação para consecução de alguma atividade ou obra pública. A forma de execução desta segunda parte do crime deste crime também foi descrita pelo legislador, mediante: 1. violência: coação física contra pessoa, e não contra coisas. 2. grave ameaça: é a intimidação séria e grave; 3. fraude: é o ardil, para enganar. 4. oferecimento de vantagem: é propor favor, lucro ou ganho. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir, independentemente do fim desejado, o dolo é genérico. CT: com a prática de qualquer das condutas (impedir, perturbar ou fraudar); na segunda parte, havendo violência, grave a ameaça, fraude ou com o só oferecimento de vantagem. Admite-se a tentativa. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 2 meses a 1 ano, ou multa, além da pena correspondente a violência (concurso material – art. 69 CP) DESOBEDIÊNCIA A DECISÃO JUDICIAL SOBRE PERDA OU SUSPENSÃO DE DIREITO Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. EO: Trata-se de um delito que pune uma especial forma de desobediência, não obstante a previsão do crime de desobediência já estudado (art. 330 CP). Aqui pune-se o sujeito que exerce (desempenha com habitualidade) função, atividade, direito autoridade ou múnus (encargo) ao qual foi suspenso ou privado por uma decisão judicial. Decisão judicial é aquela proferida por autoridade judiciária de caráter definitivo, neste caso, referente aos efeitos da condenação. São hipóteses em que o sujeito teve cessado o direito de exercício por determinado período (suspenso) ou definitivamente (privado) como efeito de uma decisão judicial, como nos casos dos efeitos da condenação previstos no art. 92, I a III do CP: perda do cargo, função ou mandato eletivo; 21 Direito Penal Prof. Danilo Pereira incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela por crimes dolosos cometidos contra o filho, tutelado ou curatelado; a inabilitação para dirigir veículo automotor. SD: crime próprio, somente cometido por aquele que foi suspenso ou privado por decisão judicial de sua função, atividade, direito, autoridade ou múnus. Sujeito passivo é o Estado. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir, o dolo é genérico. CT: com o efetivo exercício. Trata-se de crime habitual, exigindo a prova da constância do exercício, sob pena de uma única vez configurar fato atípico. AP: pública incondicionada. Pena: detenção de 3 meses a 2 anos, ou multa. PARTE ESPECIAL TÍTULO XI DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CAPÍTULO IV DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS Art. 359-A Contratação de operação de crédito Art. 359-B Inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar Art. 359-C Assunção de obrigação no último ano do mandato ou legislatura Art. 359-D Ordenação de despesa não autorizada Art. 359-E Prestação de garantia graciosa Art. 359-F Não cancelamento de restos a pagar Art. 359-G Aumento de despesa total com pessoal no último ano do mandato ou legislatura Art. 359-H Oferta pública ou colocação de títulos no mercado Considerações gerais Este Capítulo IV foi acrescentado integralmente pela Lei 10.028, de 19.10.2000. O legislador buscou estabelecer normas visando a responsabilidade na gestão fiscal, a fim de prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas. A proteção dispensada às finanças públicas, no Brasil da atualidade, é crescente, espalhando-se por várias leis infraconstitucionais, embora encontre na Carta Magna seu fundamento e vértice, conforme verificamos no Título VI, Capítulo II (Das Finanças Públicas), em seus artigos 163 as 169, fornecendo a diretrizes para proteção, regulação, objetivos e funcionamento das finanças públicas da dívida pública externa e interna, concessão de garantias por entidades públicas, emissão e resgate de títulos da dívida pública, fiscalização das instituições financeiras, operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, Estados, Municípios e Distrito Federal etc. Nessa linha o art. 165, § 9º da CF estabeleceu que competia a lei complementar regular as normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta. De fato, no ano de 2000, entrou em vigor a Lei complementar 101, de 4/05/2000, que dispõe sobre as responsabilidades da gestão fiscal. Portanto, é inegável a necessidade de leis para consecução dos objetivos orçamentários do país de modo a impedir o endividamento exagerado e daninho ao desenvolvimento econômico e social, tornando as gestões desastrosas à sociedade em geral. Sob tal prima, incluiu-se no Código Penal este Capítulo 22 Direito Penal Prof. Danilo Pereira IV, tendo por finalidade tipificar a conduta ilícita dos administradores irresponsáveis no trato do dinheiro público. CONTRATAÇÃO DE OPERAÇÃO DE CRÉDITO Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legislativa: Pena - reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou externo: I - com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou em resolução do Senado Federal; II - quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo autorizado por lei. OJ: o equilíbrio das contas públicas, especialmente o controle legislativo do orçamento. SD: trata-se de crime próprio, o pratica somente funcionário público com atribuição para ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito. Sujeito é passivo é o Estado, órgão da Administração direta (União, Estado ou Município) atingido e, claro, a própria sociedade. Há possibilidade de co- autoria ou participação do particular, desde que este saiba da condição de funcionário público do autor. EO: as condutas são: 1. ordenar: tem significado de autorizar, determinar. 2. autorizar: significa dar ou conferir autorização. 3. realizar: tem sentido de pôr em prática, executar, contratar a operação de crédito. Estas condutas recaem sobre operação de crédito, segundo definição da Lei Complementar 101/00, art. 29, III, trata-se do “compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valoresprovenientes de venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros.” Interna é a operação feita dentro do país. Externa, é a realizada com o exterior. Exige-se, para configuração deste crime que as condutas sejam realizadas sem prévia autorização legislativa, ou seja, trata-se de elemento normativo do tipo onde deve-se verificar as normas que autorizam tais operações que devem constar na lei orçamentária ou através de uma lei específica que depende de prévia autorização da casa legislativa competente de acordo com a lei orçamentária da União, Estado ou Município. No caso do crime praticado por Presidente da República ou Prefeitos haverá crime de responsabilidade (Lei 1.079/50 e dec. Lei 201/67) e Improbidade Administrativa (L. 8.429/92). Formas equiparadas (§ único): equipara-se ao caput aquele que realiza aquelas condutas: I - com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou em resolução do Senado Federal; II - quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo autorizado por lei. 23 Direito Penal Prof. Danilo Pereira Em ambas as condutas, ao contrário do caput, há autorização para a operação de crédito, mas o agente desrespeita limite, condição ou o valor estabelecido pela lei ou resolução do Senado Federal (I), ou quando os limites da dívida total assumidas pelo ente de Federação (União, Estados ou Municípios) são maiores do que o limite estabelecido pela lei (II). ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir do agente, bastando a prática de qualquer das condutas previstas no tipo para sua configuração, sabendo da inexistência de prévia autorização legislativa para a operação de crédito realizada (caput), ou, quando autorizada, ultrapassa o limite, condição ou montante autorizado por lei (I e II) (dolo genérico). CT: com a efetiva ordem, autorização ou realização da operação, tratando-se de crime formal, sem necessidade de ocorrência de um resultado naturalístico. Apesar disso entendemos que praticada qualquer das condutas mesmo que sem resultado naturalístico (logo, havendo só o perigo), ou, no caso de haver a realização da operação (logo, havendo resultado), em qualquer caso deve ficar comprovado que houve séria interferência no planejamento ou equilíbrio das contas públicas, sob pena de não atingir-se a objetividade jurídica deste tipo. AP: pública incondicionada Pena: reclusão de 1 a 2 anos. INSCRIÇÃO DE DESPESAS NÃO EMPENHADAS EM RESTOS A PAGAR Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar, de despesa que não tenha sido previamente empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. OJ: o equilíbrio e proteção das contas públicas, especialmente a normal escrituração das contas públicas. SD: trata-se de crime próprio, o pratica somente funcionário público com atribuição para ordenar e autorizar a inscrição de restos a pagar. Sujeito é passivo é o Estado, órgão da Administração direta (União, Estado ou Município) atingido, e a própria sociedade. Há possibilidade de co-autoria ou participação do particular, desde que este saiba da condição de funcionário público do autor. EO: as condutas são: 1. ordenar: tem significado de autorizar, determinar. 2. autorizar: significa dar ou conferir autorização. Estas condutas recaem sobre restos a pagar, que segundo definição da Lei 4.320/64, art. 36, “consideram-se restos a pagar as despesas empenhadas mas não pagas até o dia 31 de dezembro, distinguindo-se as processadas das não processadas.” Em linhas gerais os restos a pagar constituem a despesa ainda não foi paga no exercício anterior, mas que já havia sido empenhada (comprometida) durante o período do exercício financeiro ou que, apesar de ter sido empenhada, excedeu o limite estabelecido na lei. Chamamos de restos a pagar uma conta flutuante que serve para pagamento destas despesas comprometidas no exercício financeiro anterior. Despesa é o emprego ou gasto de dinheiro para aquisição de coisas ou execução de serviços. Em matéria de administração de orçamento público, o 24 Direito Penal Prof. Danilo Pereira empenho é indispensável porque constitui a “programação” do panorama dos compromissos assumidos e as dotações orçamentárias disponíveis para seus pagamentos. É vedada a realização de despesas que não tenham sido previamente separadas (empenhadas) do orçamento para honrar o compromisso assumido. Dessa forma, evita-se deixar para o ano seguinte e, especialmente para outro administrador, as despesas que já constem expressamente como devidas e cujo pagamento há de se estender no tempo. Chamam-se restos a pagar processados as despesas que cumpriram o estágio de liquidação (são dívidas certas) e que deixaram de ser pagas apenas por circunstâncias próprias do encerramento do exercício fiscal. Os restos não processados são todas as despesas que deixaram de passar pelo estágio de liquidação. Em arremate, pune-se a ordenação ou autorização de pagamento de despesa na forma de restos a pagar, de despesa que não foi empenhada ou que tenha excedido o limite estabelecido por lei para o pagamento, sendo que o sujeito ativo pratica as condutas ordenando ou autorizando a inscrição de despesas que não se constituem restos a pagar. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir do agente, bastando a prática de qualquer das condutas previstas no tipo para sua configuração, sabendo da inexistência de prévia autorização do comprometimento da despesa ou que tenha excedido o limite estabelecido (dolo genérico). CT: com a efetiva ordem ou autorização tratando-se de crime formal, sem necessidade de ocorrência da efetiva operação de crédito e prejuízo ao erário. Ademais, é crime de forma vinculada, pois praticado das duas formas eleitas pelo legislador: inscrição de despesa como restos a pagar sem que tenha sido empenhada, ou que tenha excedido o limite legal. AP: pública incondicionada Pena: reclusão de 6 meses a 2 anos. ASSUNÇÃO DE OBRIGAÇÃO NO ÚLTIMO ANO DO MANDATO OU LEGISLATURA Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. OJ: o equilíbrio e proteção das contas públicas, especialmente a normal escrituração das contas públicas. SD: trata-se de crime próprio, o pratica somente funcionário público com atribuição para ordenar e autorizar a assunção de obrigação, e, claro, ocupante do cargo ao qual foi eleito. Abrange tanto o chefe do Poder que exerce a função administrativa quanto o integrante do Poder Legislativo incumbido de autorizar gastos (v.g., vereador). Ainda, inclui-se todos os gestores que tem autonomia administrativa e financeira para deliberar sobre gastos, como o chefe do Ministério Público, Juiz Diretor do Fórum etc. Sujeito é passivo é o Estado, órgão da Administração direta (União, Estado ou Município) atingido. Há possibilidade de co-autoria ou participação do particular, desde que este saiba da condição de funcionário público do autor. EO: as condutas são: 25 Direito Penal Prof. Danilo Pereira 1. ordenar: tem significado de determinar. 2. autorizar: significa dar ou conferir autorização. Estas recaem sobre a obrigação assumida, exigindo-se: 1. a assunção de obrigação nos dois últimos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura cuja despesa que nãopode ser paga no mesmo exercício financeiro: significa assumir a contração de despesa cujo impedimento (quadrimestres = 8 meses) que vai de 1º de maio até o final da legislatura ou mandato. 2. ou reste parcela a ser paga no exercício seguinte, sem disponibilidade suficiente de caixa: é todo o estoque de dívida existente até 30 de abril, independentemente do exercício em que foi gerada. Desse montante identifica-se o valor vencido e a vencer até 31 de dezembro para fins de projeção da disponibilidade de caixa naquela data. Na verdade, este crime quer conter a leviana contratação de obrigação cujo será paga pelo sucessor levando a constante inadimplência e desequilíbrio fiscal por parte dos órgãos públicos. Assim, evita- se que o administrador transmita despesa sua ao seu futuro sucessor. Dessa forma, nessa primeira parte, proibi-se a assunção de dívida que não será paga no mesmo exercício, sendo complementada pela segunda parte, voltada a garantir que a dívida, caso reste para o exercício seguinte, ao menos tenha previsão de caixa suficiente para ser satisfeita. Visa este dispositivo moralizar a passagem do funcionário por determinado cargo, a fim de que gaste aquilo que pode e está autorizado em lei. Busca o equilíbrio fiscal. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir do agente, bastando a prática de qualquer das condutas previstas no tipo para sua configuração (dolo genérico). CT: com a efetiva ordem ou autorização tratando-se de crime formal, sem necessidade de ocorrência da efetiva assunção de obrigação da despesa. AP: pública incondicionada Pena: reclusão de 1 a 4 anos. ORDENAÇÃO DE DESPESA NÃO AUTORIZADA Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. OJ: o equilíbrio e proteção das contas públicas. SD: trata-se de crime próprio, o pratica somente funcionário público com atribuição para ordenar despesa. Sujeito é passivo é o Estado, órgão da Administração direta (União, Estado ou Município) atingido. Há possibilidade de co-autoria ou participação do particular, desde que este saiba da condição de funcionário público do autor. EO: a conduta incriminada é “ordenar” que, como já visto nos delitos anteriores, tem sentido de determinar, mandar que se faça. O contexto deste dispositivo visa moralizar a administração pública, visando a punição daquele que ordena despesa não autorizada por lei ou em desacordo com a autorização legal, constituindo afronta ao disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei 26 Direito Penal Prof. Danilo Pereira complementar 101/00). Assim, fim precípuo desse tipo é ensejar ou maior proveito dos tributos recolhidos pelo Administrador em prol da coletividade, vontade esta que inspira ou deveria inspirar os governantes. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir do agente, bastando a prática da conduta previstas no tipo para sua configuração, ou seja, com ma só ordem (dolo genérico). CT: basta a efetiva ordem, tratando-se de crime formal, sem necessidade de ocorrência a efetiva despesa. AP: pública incondicionada Pena: reclusão de 1 a 4 anos. PRESTAÇÃO DE GARANTIA GRACIOSA Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito sem que tenha sido constituída contragarantia em valor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. OJ: o equilíbrio e proteção da regularidade das contas públicas. SD: trata-se de crime próprio, o pratica somente funcionário público com atribuição para prestar garantia em operação de crédito. Sujeito é passivo é o Estado, órgão da Administração direta (União, Estado ou Município) atingido. Há possibilidade de co-autoria ou participação do particular, desde que este saiba da condição de funcionário público do autor. EO: a conduta incriminada é “prestar garantia” que tem sentido de compromissar-se a satisfazer uma dívida assumida oferecendo algum tipo de caução destinada a conferir segurança ao pagamento. Garantia pode ser oferecida pelo próprio devedor, ou por terceiro estranho (garantidor) ao vínculo obrigacional que garantiu. Assim, por exemplo, a União pode ser chamada a dar alguma garantia no caso de operação junto a algum organismo internacional que deseje um empréstimo, sendo que compete ao funcionário competente exigir uma contragarantia (garantia sobre aquele empréstimo) que seja igual ou maior a garantia prestada pela União. Em arremate, a conduta típica objetiva neste crime é impedir que o administrador apto a prestar garantia em operação de crédito possa valer-se dessa faculdade sem a devida exigência de contragarantia, o que é indispensável, para conferir segurança ao ente que assegurou o compromisso alheio. Logo, pune-se o funcionário que preste a garantia por mera liberalidade. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir do agente, bastando a prática da conduta prevista no tipo para sua configuração, ou seja, com o só compromisso assumido - garantia prestada (dolo genérico). CT: basta o compromisso assumido, independentemente da efetiva realização da operação de crédito, tratando-se de crime formal. AP: pública incondicionada Pena: reclusão de 3 meses a 1 ano. NÃO CANCELAMENTO DE RESTOS A PAGAR Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de promover o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito em valor superior ao permitido em lei: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. OJ: o equilíbrio e proteção da regularidade das contas públicas. 27 Direito Penal Prof. Danilo Pereira SD: trata-se de crime próprio, o pratica somente funcionário público com atribuição para ordenar, autorizar ou promover o cancelamento dos restos a pagar. Sujeito é passivo é o Estado, órgão da Administração direta (União, Estado ou Município) atingido. Há possibilidade de co-autoria ou participação do particular, desde que este saiba da condição de funcionário público do autor. EO: as condutas incriminadas e tratam de delitos omissivos, ou seja, uma abstenção indevida por parte do administrador: 1. deixar de ordenar: deixar de dar um comando, uma ordem. 2. deixar de autorizar: significa deixar de aquiescer, fornecer consentimento. 3. deixar de promover: fazer algo, gerar algo.O objetivo deste crime é complementar o art. 359-B (inscrição de despesas ao empenhadas em restos a pagar). Assim, aquele que ordena ou autoriza a inscrição de despesa não autorizada por qualquer razão em restos a pagar, responde pelo art. 359-B, enquanto que o agente administrativo que, podendo e tendo competência a tanto, toma conhecimento do que foi feito por outro e não determina o cancelamento dessa indevida inscrição, responde pelo art. 359-F. Ressalte-se que sendo o mesmo administrador embuído dessa competência (inscrição e cancelamento desta), este artigo 359-F é considerado um pós fato impunível (post factum não punível) por considerar-se exaurimento da conduta anterior (art. 359-B), logo o sujeito responderá apenas pelo art. 359-B CP. ES: o crime é doloso, sem um fim especial de agir do agente, bastando a prática de qualquer das condutas omissivas previstas (dolo genérico). CT: com a omissão prevista, independentemente de qualquer resultado, tratando-se de crime formal. AP: pública incondicionada Pena: detenção de 6 meses a 2 anos. AUMENTO DE DESPESA TOTAL COM PESSOAL NO ÚLTIMO ANO DO MANDATO OU LEGISLATURA Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura:) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. OJ: o equilíbrio e proteção da regularidade das contas públicas.
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