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Fichamento BURKE A impressão gráfica em seu contexto

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BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. A impressão gráfica em seu contexto. In: Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. 3.ª ed. São Paulo: Zahar, 2016. p. 27-84.
Fichamento do Capítulo: “1. A Impressão gráfica em seu contexto”
	Ano 1.450 é a data aproximada da invenção da prensa gráfica provavelmente por Johan Gutenberg de Mainz, embora na China e Japão haja registros de “impressão em bloco” (um grande carimbo) já no século VII, se não antes. Este tipo de impressão era adequado para culturas que utilizavam milhares de ideogramas, e não um alfabeto entre 20 e 30 letras. A prensa de Gutenberg imprimia com tipos móveis. Mas já no século XV há registros de que na Coreia já havia uma prensa de tipos móveis, sendo possível que a invenção ocidental tenha sido estimulada pelas notícias do Oriente.
	O sucesso da prensa gráfica de Gutenberg foi rápido. Em 1.500 já havia mais de 250 máquinas instaladas na Europa, que produziram cerca de 27 mil edições até este mesmo ano de 1.500, cumulando cerca de 13 milhões de livros – a 500 cópias por edição – , para uma população média de 100 milhões de habitantes. Entretanto, a penetração da prensa gráfica foi difícil na Rússia e no mundo cristão ortodoxo, cuja educação formal se reduzia ao clero, e a população laica e iletrada não ajudava a disseminá-la. No século XVIII, o czar Pedro, O Grande fundou uma gráfica em 1.711, que depois foram instaladas no Senado, na Academia Naval e na Academia de Ciências. No mundo muçulmano havia decreto de morte a quem praticasse a impressão, baixado pelo sultão Salim I, em 1.515. De acordo com o embaixador imperial em Istambul em meados do séc. XVI, os turcos otomanos entendiam como pecado imprimir livros sagrados. Apenas no final do séc. XVI o sultão Murad III permitiu a impressão de livros não-religiosos. Henry Oldenbur, primeiro secretário da Sociedade Real de Londres, associou a ausência de impressão gráfica ao despotismo na Turquia, em 1.659: o turco é inimigo da aprendizagem, pois acha vantajoso manter o povo na ignorância.
	A invenção da prensa gráfica marcou época, tanto pensada isoladamente como em conjunto com a invenção da pólvora e da bússola. Mas também trouxe problemas: os escribas perderiam seu mercado de trabalho; a igreja desconfiava, pois os da hierarquia mais baixa poderiam estudar diretamente os textos, em vez de confiar nos ensinamentos dos seus superiores; a “explosão da informação” exigia novos métodos de administrar a informação, tal qual a internet atualmente; ampliação de bibliotecas; bibliotecários com tarefas árduas de manter catálogos atualizados; advento dos jornais no séc. XVII e as diversas informações disponíveis. Mas, por outro lado, sem contar a publicização da informação e da cultura escrita, a prensa gráfica possibilitou a criação de novas ocupações, como o corretor das provas tipográficas, além do aumento dos vendedores de livros e bibliotecários. E se livros técnicos eram por vezes caros, surgiram as brochuras, de papel mais barato e simples, popularizando a impressão gráfica.
	A historiadora norte-americana Elizabeth Eisenstein sustentou que a impressão gráfica foi uma “revolução não reconhecida”, enfatizando duas consequências a longo prazo: a) padronização e preservação do conhecimento; b) as impressões abriram margem a uma crítica à autoridade, facilitando a discussão e o debate entre visões conflitantes sobre o mesmo tema. Mas a tese da historiadora foi entendida como exagerada por BRIGGS e BURKE na obra ora em fichamento, pois, em suma, ela vê a impressão gráfica em relativo isolamento, quando é fundamental olhar a mídia como um todo, como um sistema.
	O fluxo das informações seguiu o fluxo do comércio, através dos transportes via água e terra. Avançaram as estradas e os mapas. Mas o sistema pela água era mais barato, embora mais lento. A comunicação era considerada “os nervos do governo”, de modo que o sistema postal de mensageiros especiais já viajava cerca de 200 Km por dia, no séc. XVI, com troca de cavalos a intervalos regulares, embora o sistema postal comum fosse mais lento. Mas buscava-se ampliar as rotas e entregas, inclusive por via aquática. 
	A comunicação oral foi afetada pela invenção do jornal impresso. Mas a comunicação oral dos altares e púlpitos das igrejas, na idade média, ocupava grande expressão como meio de comunicação em massa. Não só das liturgias e religiosidades, mas também difundir informações e estimular obediência ao governo. A comunicação oral acadêmica também foi afetada, pois o ensino baseava-se em palestras e debates, além da retórica. Na gramática, a habilidade de falar latim era muito importante, e os professores compunham diálogos e peças para as falas. A arte da comunicação oral foi cultivada, nos salões, bares, cafés, tabernas, banhos públicos, na mercancia das bolsas de valores, nos boatos para fazer inflar ou desinflar preços. 
	A comunicação escrita, no contexto da leitura por finalidades de mercancia, revelava-se nas escolas especializadas para meninos que iriam se tornar comerciantes ou contadores. No contexto religioso, a comunicação escrita é visível na alfabetização como benefício dos iletrados. 
	A comunicação visual, na forma de linguagem do gesto, era considerada a retórica manual ou linguagem natural das mãos. Em sentido mais amplo, a comunicação visual alcança as obras de arte e seculares, como eventos comunicativos de imagem. Mas somente a partir do séc. XVI é que os artistas começaram a produzir para o mercado, produzindo antes e vendendo depois, e não o contrário, que era a regra.
	Com respeito às imagens impressas, a primeira xilogravura data do final do séc. XIV e provavelmente foi inspirada na estamparia de tecidos. O advento da figura impressa foi a mudança mais profunda da comunicação visual, pois permitia que as imagens ficassem disponíveis para difusão, como Botticelli, artista do Renascimento, que criou uma série de ilustrações em xilogravuras para a “Divina Comédia”, de Dante. O custo da impressão e do transporte era baixo, permitindo que alcançasse rapidamente um número elevado de pessoas. Outra novidade surgida pela xilogravura foi a narrativa em tiras ou história em imagens, precursoras das histórias em quadrinhos do séc. XX.
	As formas de comunicação mais efetivas naquele período, assim como acontece hoje, eram as que apelavam aos olhos e aos ouvidos, aliando mensagens verbais com não verbais, musicais e visuais. No início da era moderna, essas formas incluíam rituais, espetáculos, teatro, peças, balés, óperas. O aparecimento do teatro comercial veio com o aumento populacional das cidades, ultrapassando os 100 mil habitantes.
	Outros meios de interação entre os meios de comunicação foram os rolos com falas saindo da boca das figuras, como balões de quadrinhos, além dos manuscritos ou cartas, que foram influenciados pelos manuais impressos de como escrever cartas amorosas, de felicitações, de condolências, etc. . A fala e o texto impresso também se mesclaram e evoluíram com o advento da prensa gráfica. A arte da conversação foi influenciada, se não transformada, pela difusão de artigos impressos e tratados escritos sobre esta arte, italianos, franceses, alemães, espanhóis e ingleses. 
	Com a difusão da prensa gráfica e dos impressos, uma questão sensível aos governos, autoridades e igreja era o teor das manifestações, que podiam conter heresia, sedição, imoralidade ou qualquer conteúdo que pudesse ser considerado ofensivo para os parâmetros deles. Daí a censura. O mais famoso foi o “Índice de Livros Proibidos”, da igreja católica. Os livros poderiam ser “perigosos” e as autoridades mantinham controles de inspeção antes da publicação.
	Mas se o que é considerado proibido traz o desejo natural de se conhecer o que é, ou o porquê da proibição, a comunicação clandestina era difundida de forma oculta, mas havia também repressão pelas autoridades, em batidas nas gráficas consideradas suspeitas. E os autores de escritos sobre assuntos “proibidos” se ocultavam atrás de pseudônimos, como Pascal criticando os jesuítassob o codinome “Louis de Montale”. 
	Clandestina ou não, a impressão gráfica se demonstrou lucrativa. Os livros, as notícias, eram considerados também mercadorias. O surgimento da ideia de propriedade intelectual, se já se vislumbrava no séc. XV, se fortaleceu. A partir do séc. XVIII, foi regulada legalmente, garantindo os direitos autorais, época em que os historiadores chamam de “o nascimento de uma sociedade de consumo”.
	Os estilos de leitura também se transformaram entre os anos 1.500 e 1.800. Cinco tipos de leitura se destacam: 
crítica: com o aumento das oportunidades de comparação de textos, a leitura crítica evoluiu;
perigosa: a leitura sem supervisão era considerada subversiva e perigosa, por autoridades seculares. Assim como o jornal, que poderia encorajar pessoas comuns a criticar o governo.
criativa: a obra poderia ser lida e interpretada de maneira diferente e até oposta àquela intencional do autor;
extensiva: ao final do séc. XVIII, uma revolução na leitura ocorreu , com a leitura de um número amplo de textos, de modo rápido, com a possibilidade de folheá-los, com índices, sumários, notas de rodapé.
privada: a leitura como momento de privacidade, absorta a pessoa no texto e alheia ao mundo à sua volta. Nos séc. XVII e XVIII, o tamanho menor dos livros se tornou popular, possibilitando carregar nos bolsos, facilitando a leitura em praticamente qualquer lugar. 
	Os usos da leitura eram variados, desde a instrução até o simples lazer, do entretenimento, verificando-se, neste último caso, a retórica do sensacionalismo, com títulos chamativos referindo-se a eventos “terríveis”, “sangrentos”, “bizarros”, etc. .
	Na discussão sobre a “revolução da impressão gráfica”, desponta a controvérsia sobre a lógica da escrita e a lógica da impressão gráfica, com os debates sobre as consequências da prensa e os efeitos do letramento na população. Alguns pontos principais:
A mudança cultural foi mais aditiva do que substitutiva, pois a velha mídia oral continuou presente, coexistiu e interagiu com a nova mídia impressa, assim como esta convive atualmente com a televisão e a internet em pleno séc. XXI. 
A impressão gráfica facilitou a acumulação do conhecimento, mantendo perene a informação dos textos. E permitiu aos leitores se tornarem mais conscientes da existência de interpretações e textos conflitantes. 
O conceito de plágio e da propriedade intelectual é produto essencialmente decorrente da revolução da imprensa.
A publicidade, os anúncios, a propaganda, foram estimulados pelo novo meio de impressão.
Confiáveis ou não, os materiais impressos se tornaram importantes. A difusão do material impresso incluiu também o surgimento dos chamados “cartaz” e “formulário oficial”, que transmitiam mensagens das autoridades, nas esquinas e nas portas das igrejas, ou mensagens de peças de teatro, nomes de lojas, nomes de ruas, fixados em placas impressas.
As formas impressas se popularizaram: recibos de aluguéis, declarações de rendas, censos, formulários em geral. 
O jornal diário se tornou parte da vida cotidiana, que difundiam todo o tipo de informação, inclusive resenha de livros. Uma forma impressa, o jornal, anunciava e reforçava a outra, um livro. E os jornais estimularam o aparecimento da opinião pública.
O desenvolvimento do conceito de “opinião pública” foi redefinido por Habermas, em 1.962, como o surgimento da “esfera pública”, graças a seu influente livro “Mudança estrutural da esfera pública”. Em vez de falar em “opinião pública”, Habermas fala sobre uma arena na qual aconteceram os debates, já que o séc. XVIII foi um período crucial do aparecimento da argumentação racional e crítica, presente dentro de uma “esfera pública” burguesa liberal, que estava aberta à participação de todos. O estudo de Habermas é importante pela visão da mídia como um “sistema” (jornais, cafés, clubes, salões), onde os elementos distintos trabalham em conjunto.

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