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Cidadania_M05

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Aula 1 - Discutindo Conceitos
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
2
Módulo 5 - Questões Étnico Raciais
Por Rogério Terra de Oliveira
Objetivo do estudo
Este módulo tem como objetivo discutir alguns conceitos importantes para o enten-
dimento de questões étnico raciais: raça, racismo, etnia, preconceito e discriminação; 
traçar um panorama histórico da exclusão dos negros no Brasil; e apresentar algumas 
iniciativas governamentais e da sociedade civil que têm contribuído para a redução das 
desigualdades raciais..
Aula 1 - Discutindo Conceitos
Introdução
Falar sobre questões étnico raciais signifi ca, primeiramente, entender 
alguns conceitos que têm sido comumente utilizados em nossa sociedade 
quando se trata de relações étnico raciais. Portanto, nesta aula vamos 
conversar sobre qual o signifi cado que atribuímos aos conceitos de raça, 
racismo, etnia, preconceito e discriminação. O que eles signifi cam? 
Prontos para as descobertas?! Então, vamos seguir em frente!
Fonte: http://www.plc122.com.br/entenda-plc122/#axzz23daZ5oqs
Raça ou Etnia?
Etmologicamente falando, a palavra raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do 
latim ratio, que signifi ca sorte, categoria, espécie. Já na história das ciências naturais, 
o conceito de raça foi primeiramente usado na Zoologia e na Botânica para classifi car 
as espécies animais e vegetais. (MUNANGA, 2003)
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
3
A evolução do conceito de raça. 
Caixa Latim Medieval 
No latim medieval, o conceito de raça passou a designar a descendência, a 
linhagem, ou seja, um grupo de pessoas que têm um ancestral comum e que, 
ipso facto, possuem algumas características físicas em comum. (MUNANGA, 
2003)
Caixa Séculos XVI-XVII
Nos séculos XVI-XVII, o conceito de raça passa efetivamente a atuar nas re-
lações entre classes sociais da França, pois era utilizado pela nobreza local, 
que se identifi cava como os Francos - de origem germânica, em oposição ao 
Gauleses - população local identifi cada como a Plebe. (MUNANGA, 2003)
Caixa Século XVIII
No século XVIII, a cor da pele foi considerada como um critério fundamental e 
divisor d’água entre as chamadas raças. Por isso, que a espécie humana fi cou 
dividida em três raças estancas que resistem até hoje no imaginário coletivo 
e na terminologia científi ca: raça branca, negra e amarela. (MUNANGA, 2003)
Caixa Século XIX
No século XIX, acrescentou-se ao critério da cor outros critérios morfológicos 
como a forma do nariz, dos lábios, do queixo, do formato do crânio, o ângulo 
facial etc. para aperfeiçoar a classifi cação. (MUNANGA, 2003)
Caixa Século XX
No século XX, descobriu-se, graças aos progressos da Genética Humana, que 
havia no sangue critérios químicos mais determinantes para consagrar defi -
nitivamente a divisão da humanidade em raças estancas. Grupos de sangue, 
certas doenças hereditárias e outros fatores na hemoglobina eram encontra-
dos com mais frequência e incidência em algumas raças do que em outras, 
podendo confi gurar o que os próprios geneticistas chamaram de marcadores 
genéticos. Um marcador genético característico de uma raça, pode, embora 
com menos incidência ser encontrado em outra raça. Estudiosos chegaram a 
conclusão de que a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um 
conceito alias cientifi camente inoperante para explicar a diversidade humana 
e para dividi-la em raças estancas. Ou seja, biológica e cientifi camente, as 
raças não existem. (MUNANGA, 2003).
O conceito de raça ainda hoje é bastante controverso. Pessoas persistem em utilizá-lo 
apenas para se referir a diferenças fenotípicas (cor da pele, textura dos cabelos, formato 
do nariz etc.). Como um substituto para o conceito de raça, em decorrência das suas 
implicações, tem-se optado pelo conceito de etnia.
Para saber mais sobre raça, acesse o texto Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, 
identidade e etnia, de Kabengele Munanga. Disponível em: https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59 
Saiba mais
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
4
Raça ou Etnia?
Alguns pesquisadores fogem do conceito de raça e o substituem pelo conceito de etnia 
considerado como um lexical mais cômodo que o de raça. Então, falamos em etnias 
para poder identifi car e diferenciar alemães de italianos, negros de índios e assim 
sucessivamente. 
Etnia é:
Um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um an-
cestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmo-
visão; uma mesma cultura e moram geografi camente num mesmo território. 
(MUNANGA, 2003)
Se percebemos alguma diferença entre um grupo étnico e outro, isto ocorre mais em 
relação às circunstanciais sociais e históricas nas quais eles se desenvolveram do que 
propriamente em razão de uma explicação biológica ou genética imutável. A prática 
de classifi car grupos ou pessoas gera quase sempre confl ito, preconceito e exclusão ao 
invés de nos ajudar na construção de um mundo mais justo, pacífi co e democrático. 
Aqui, neste texto, utilizaremos a expressão raça para nos referirmos de fato às dife-
rentes etnias. 
Juntamente com os conceitos raça e etnia, temos outros conceitos que são também 
cruciais para refl etirmos sobre questões étnico raciais: racismo, preconceito e discri-
minação.
Quer saber mais a respeito da utilização do conceito de raça no campo dos estudos sobre racismo 
e sua implicação nas questões de desenvolvimento e democracia no Brasil? Leia o texto Relendo o 
signifi cado de raça, de Carlos Alberto Figueiredo e Jorge França Motta. Disponível em: 
http://www.unisuam.edu.br/augustus/index.php?option=com_content&view=article&id=41:relendo-o-
signifi cado-de-raca&catid=5:edicao-27&Itemid=62
Saiba mais
Racismo
Infelizmente as diferenças raciais tiveram forte infl uência em algumas épocas e fi zeram 
surgir um dos mais terríveis crimes contra a humanidade: o racismo.
O racismo é:
Crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela 
relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico 
e o cultural. (MUNANGA, 2003)
Ele não está relacionado apenas à cor da pele, mas também às raças distintas 
existentes em uma sociedade. É o caso dos ciganos, chineses, índios.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
5
Fonte: http://www.c7s.com.br/projetoinformatica/turma-5/ngs/297-racismo-e-um-0-esquerda
Foi em nome do racismo que Hitler, na década de 30, declarou a superioridade da 
raça branca na Alemanha nazista e condenou à morte milhões de judeus. Foi também 
o racismo que justifi cou a escravização de africanos em várias partes do mundo, 
inclusive no Brasil. 
O regime racista da África do Sul, que começou em 1948, condenava a população 
negra (a grande maioria), a viver separada dos brancos, a não participar da vida 
política e a não possuir propriedades. O poder e os privilégios eram todos da minoria 
branca. Somente em 1994, assistimos ao fi m ofi cial do apartheid na África do Sul. 
Já entendemos o que é racismo. Agora vamos conhecer o que é discriminação e 
preconceito. 
Discriminação ou Preconceito?
Quem nunca ouviu uma piadinha sobre loiras, sobre mulher no volante, sobre 
português? As piadas, embora possam parecer discursos neutros, reforçam uma 
série de preconceitos. Vários tipos de preconceitos, gerados a partir de estereótipos, 
perpetuam-se em nossa sociedade, criando valores culturais e, consequentemente, 
valores sociais.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
6
Preconceito é:
Conjunto de valores e crenças estereotipadas que levam um indivíduo ou um grupo a 
alimentar opiniões negativas a respeito de outro, com base em informações incorretas, 
incompletas ou por ideias preconcebidas.
Alguns tipos de preconceito:
• Preconceito à outra cor - denominado de racismo.• Preconceito à outra religião - o maior exemplo deste preconceito são os confl itos 
no Oriente Médio (luta entre judeus e islâmicos).
• Preconceito contra as mulheres - denominado de machismo e existe por causa 
do antigo papel das mulheres como dona de casa. 
• Preconceito quanto à classe social – classe média/alta discrimina pessoas de 
baixa classe social.
• Preconceito contra pessoas de outra orientação sexual - homossexuais e bissexuais.
• Preconceito contra pessoas de outra nacionalidade - brasileiros sofrem preconceito 
em outros países, assim como muitos estrangeiros são discriminados no Brasil. 
Esses preconceitos nascem da repetição irrefl etida de algo que já ouvimos mais de 
uma vez. Diante de tanta repetição, acabamos por aceitá-los como verdadeiros e os 
pronunciamos sem nos preocuparmos em verifi car o quão certos são.
Discriminação ou Preconceito?
Já a palavra discriminação, esta possui diversos signifi cados. “O signifi cado mais 
comum, no entanto, tem a ver com a discriminação sociológica: social, racial, religio-
sa, sexual, por idade, nacionalidade..., que tenha por objeto ou resultado anular ou 
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de 
condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, eco-
nômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.” (Convenção 
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial – 1965)
A Regra de Ouro - Norman Rockwell 
"Fazei aos outros o que quereis que vos façam” 
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
7
Por que será que o artista retratou pessoas tão diferentes umas 
das outras em sua pintura?
Na pintura acima, o artista Rockwell teve a intenção de retratar pessoas diferentes 
para reforçar a ideia da regra de ouro (“Fazei aos outros o que quereis que vos façam”), 
mostrando o respeito à diversidade em uma situação em que pessoas de diferentes etnias 
e culturas estão juntas, dividindo harmonicamente o mesmo espaço e respeitando a 
religião um do outro, sem nenhuma discriminação. 
Discriminação é fazer distinção por:
• Classe social
• Raça
• Religião
• Sexo 
• Etnia
• Idade
• Cor
• Estado civil
• efi ciência 
• Doença
• Aparência
Nesta aula, vimos alguns conceitos indispensáveis para o entendimento das relações 
étnico raciais. Na aula seguinte, conheceremos como se deu a formação do povo 
brasileiro, atentando para a exclusão da população negra de espaços importantes da 
nossa sociedade, ao longo da história.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
8
CONTEÚDO DE ESTUDO 
Para saber um pouco mais sobre o assunto assista:
Escravidão - http://www.youtube.com/watch?v=pUIcocVoS_s
Isto é Brasil - Trabalho escravo em pleno século XXI
http://www.youtube.com/watch?v=FmP7sDVJ2Ls
TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL SEC XXI
http://www.youtube.com/watch?v=Bm8VUWqm-B8
Analfabetismo: Alexandre Garcia critica sistema educacional do Brasil
http://www.youtube.com/watch?v=WjUNUoad7Vg&feature=related
Primeiro Jornal - Analfabetismo no Brasil por Fernando Mitre
http://www.youtube.com/watch?v=Dn5Yfap_97M
“O Analfabeto Político” - Bertolt Brecht - http://www.youtube.com/watch?v=2RwJemF_9tY
Desigualdade social - A Realidade do nosso País
http://www.youtube.com/watch?v=9GHGi2Tmb5o&feature=related
Indo além
Que tal organizar os conhecimentos que você adquiriu até agora e avaliar o que você, realmente 
aprendeu?
Realize os exercícios on-line disponíveis para este módulo. Para isso, acesse no ambiente Virtual: 
ACESSÓRIOS
Saiba mais
Aula 2 - Um Panorama Histórico da Exclusão dos Negros
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
2
Módulo 5 - Questões Étnico Raciais
Por Rogério Terra de Oliveira
Objetivo do estudo
Este módulo tem como objetivo discutir alguns conceitos importantes para o enten-
dimento de questões étnico raciais: raça, racismo, etnia, preconceito e discriminação; 
traçar um panorama histórico da exclusão dos negros no Brasil; e apresentar algumas 
iniciativas governamentais e da sociedade civil que têm contribuído para a redução das 
desigualdades raciais..
Aula 2 - Um Panorama Histórico da Exclusão dos Negros
Introdução
O povo brasileiro é representado por uma diversidade étnico-racial. Somos um povo mestiço, 
como diria Darcy Ribeiro (1995). Porém, essa diversidade não se traduz em igualdade de 
condições para os distintos segmentos que integram a população do país. O último Censo 
de 2010 registrou que a nossa população ultrapassou 190 milhões de pessoas, dentre 
as quais 47,7% são brancos, 7,6% negros, enquanto o número de pardos atingiu 43,1%.
Os dados evidenciam que a população que se autodeclara branca ainda é a maioria no 
Brasil. Eles também mostram que o número de pessoas que se classifi cam como pardas 
ou pretas cresceu, enquanto o número de brancos caiu. Porém, mesmo com essa mudança 
cultural, decorrente de um processo de valorização da raça negra e de um aumento da 
autoestima dessa população, a questão racial persiste como um problema social a ser 
enfrentado em várias frentes, sejam elas econômicas, sociais, políticas ou culturais.
Historicamente, as contribuições culturais europeias foram supervalorizadas e culturas 
socialmente consideradas menos importantes, como a negra e a indígena, foram excluídas. 
Nesta aula, faremos um exame da história da formação da sociedade brasileira, a fi m de mostrar 
como a exclusão da contribuição negra ajudou a construir negros e negras como “outros”.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
3
Perspectiva Histórica
Vamos começar este tópico com algu-
mas perguntas:
Você já observou o seu rosto? E as suas 
fotos? O que se pode perceber da sua 
nacionalidade e do seu pertencimento 
étnico racial?
Provavelmente você identifi cou alguns 
traços comuns de semelhança físi-
ca, cultural e histórica que o façam 
reconhecer-se como pertencente a um 
determinado povo, não é mesmo? É a 
nossa identidade étnica. Vamos conhe-
cer melhor essa nossa herança étnica!
As teorias sobre a formação étnica do povo brasileiro são relativamente recentes. 
Durante o período colonial a refl exão acerca das relações entre negros e brancos não 
existia. Enquanto colônia, nós não possuíamos uma representação da nossa imagem, 
senão como continuidade de Portugal. Em outras palavras, o Brasil não existia como 
país e não fazia sentido tentar entender quem era o brasileiro. Éramos colônia.
A ordem escravocrata existente no período era tida como natural e não despertava 
nenhum tipo de questionamento. Nesse sentido, os quilombos representavam muito 
mais uma resistência regional resultante de uma situação de opressão do que um 
movimento político de âmbito nacional. Logo, tinha um caráter mais prático e reativo 
do que ideológico. Hoje sim, reconhecemos aqueles acontecimentos como movimen-
to de luta pela liberdade, resgatando sua memória para pensarmos a identidade e o 
valor cultura negra para o Brasil, mas na época os objetivos eram bem mais simples 
e imediatistas.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
4
Será que temos uma única identidade nacional?
Muitos “cientistas” da época (séc. XIX) con-
denavam a junção das raças, pois a mistura 
entre elas, segundo eles, defi nharia as ca-
racterísticas de cada uma, principalmente 
a do branco evoluído superior. Portanto, 
a miscigenação degeneraria as sociedades 
porque iria piorar as supostas limitações 
das raças inferiores (as não-brancas).
O “cientista” ideólogo Conde de Gobine-
au, Consul da França no Brasil e amigo 
do Imperador Dom Pedro II, publica em 
1856 o livro intitulado Diversidade Moral 
e Intelectual das Raças no qual defende a 
superioridade da raça branca em relação ao 
negro e ao índio. Para ele, cada etnia tinha 
uma qualidade o que resultava ematribu-
tos de superioridade física para o negro e 
superioridade intelectual para o branco.
Gobineau defendia que a ordem social se mantinha organizada, harmônica e próspera 
se cada uma delas soubesse seu lugar dentro do modelo que defendia. Nessa perspec-
tiva, o futuro do Brasil estaria comprometido, uma vez que o nosso povo era mestiço. 
A mistura de raças levaria a uma desorganização da sociedade e teria como consequ-
ência o enfraquecimento das virtudes existente em cada uma delas (DA MATTA, 1993).
O sistema vigente no Brasil colônia era extremamente desigual. Naquela época, a maioria 
absoluta da população, por ser escrava ou afrodescentente (com ascendência parcial 
ou totalmente africana), era excluída dos benefícios políticos, econômicos e sociais. 
Da Matta (1993) ressalta que nesse “sistema não há a necessidade de segregar o mes-
tiço, o mulato, o índio e o negro porque as hierarquias asseguram a superioridade do 
branco como grupo dominante”, foi por isso que os escravos e senhores interagiam 
livremente, porque cada qual sabia o seu papel na sociedade.
Operários — 1933, de Tarsila 1933” Col. do Gov. do Estado de São Paulo
Fonte: http://pigscreamo.blogspot.com.br/2010/06/oque-seria-o-new-metal.html 
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
5
O Brasil criou uma espécie de triângulo das raças composta por brancos, índios e 
negros. Acreditar nesse triângulo é aceitar a ideia de que brancos, índios e negros 
se encontravam numa espécie de carnaval social e biológico, o que não era verdade. 
A mistura de raças serve apenas para esconder uma profunda injustiça social, porque 
é mais fácil dizer que o Brasil foi formado por um triângulo de raças, o que nos conduz 
ao mito da democracia racial, do que assumir que existe uma sociedade hierarquizada.
Democracia Racial
Segundo Damatta (1987) as teorias da democracia racial embasadas na fábula da 
relação harmônica das três raças serviram para camufl ar o preconceito e o racismo 
existente no Brasil. Para o autor, o racismo brasileiro não se dá apenas pela cor da pele, 
mas dentro de um contexto relacional, aonde a amizade, 
a beleza e o dinheiro tornam-se algumas das variáveis 
que utilizamos para agir de maneira preconceituosa ou 
não. Ou seja, o amigo negro ou a mulata bonita não são 
discriminados, mas o pobre feio sim. Nessa perspectiva 
o preconceito que praticamos pode ser até mais cruel 
por ser disfarçado e de difícil combate. O discurso da 
democracia racial parece nos convencer de que o pro-
blema racial no Brasil é assunto sem importância ou 
da imaginação das pessoas. O grau de naturalização e 
de conformismo com os problemas da nossa sociedade 
tornam-se barreiras intransponíveis.
É a partir da independência do Brasil e mais intensa-
mente com a abolição da escravidão que surge, de forma 
consistente e estruturada, um discurso racial sobre o 
Brasil. A vida política nacional, as pressões internacionais e as questões econômicas 
levam a um intenso debate sobre a formação do povo brasileiro, suas características 
e perspectivas.
Porém, mesmo após a abolição da escravidão e a proclamação da República o negro 
permanecia sendo percebido como um elemento negativo. Ele era tido como um ob-
jeto. As teses do embranquecimento racial justifi cavam o abandono que se seguiu a 
abolição dos escravos sem nenhum tipo de indenização ou políticas compensatórias. 
Ao contrário, imputavam a eles os males que impediam o nosso desenvolvimento en-
quanto país e nação.
Pelo que podemos perceber nem a abolição da escravatura, nem a proclamação da 
república com todo seu cosmopolitismo se preocuparam com a situação excludente 
que a sociedade moderna delegava aos ex-escravos e aos afrodescendentes. Ou seja, 
não colocou em prática uma política social que viesse amenizar a concorrência desleal 
que foi imposta aos ex-escravos e afrodescendentes.
Teses fundamentadas em determinismos biológicos, como as de Gobineau, continuaram 
infl uenciando o pensamento social brasileiro com a proclamação da República. Elas 
foram reinterpretadas para se adaptar a nova realidade social e a expectativa que se 
cria em torno do novo regime.
A aceitação da perspectiva de existência de uma hierarquia racial e o 
reconhecimento dos problemas imanentes a uma sociedade multirracial 
somaram-se à ideia de que a miscigenação permitiria alcançar a predomi-
nância da raça branca. A tese do branqueamento como projeto nacional 
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
6
surgiu, assim, no Brasil, como uma forma de conciliar a crença na supe-
rioridade branca com a busca do progressivo desaparecimento do negro, 
cuja presença era interpretada como um mal para o país[...] O projeto de 
um país moderno era, então, diretamente associado ao projeto de uma 
nação progressivamente mais branca. A entrada dos imigrantes europeus 
e a miscigenação permitiriam a diminuição do peso relativo da população 
negra e a aceleração do processo de modernização do país. (JACCOUD, 
2008, p.49)
Somente a partir de 1930 as teses racistas começam a ser desacreditadas, apesar de 
persistirem até hoje no imaginário e nas falas das pessoas. Em contrapartida, desen-
volveram-se as teorias da democracia racial que enalteciam a mestiçagem e percebiam 
de maneira positiva a formação étnica brasileira. Elas defendiam um passado de con-
vivência pacífi ca que existia entre negros, brancos e índios que permitiu superarmos 
os problemas raciais observados em outros países.
Fizemos aqui, nesta aula, uma volta à história e à cultura afro-brasileira, desde o perí-
odo colonial, para analisar como se deu o processo de exclusão da população negra em 
nosso país. Na próxima aula, conheceremos algumas iniciativas governamentais e da 
sociedade civil que têm contribuído para a redução das desigualdades raciais. Até lá!
Para saber mais sobre a construção do cidadão afrodescendente a partir do pós-abolição, leia o texto 
Relações étnico-raciais e cidadania: História e Cultura Afro-brasileira como fatores fundamentais para 
construção do cidadão afrodescendente a partir do pós-abolição de Leonardo Santana da Silva e 
Adriana Patricia Ronco. Disponível em Material para Impressão
Saiba mais
Aula 3 - Para Superar as Desigualdades Raciais
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
2
Módulo 5 - Questões Étnico Raciais
Por Rogério Terra de Oliveira
Objetivo do estudo
Este módulo tem como objetivo discutir alguns conceitos importantes para o enten-
dimento de questões étnico raciais: raça, racismo, etnia, preconceito e discriminação; 
traçar um panorama histórico da exclusão dos negros no Brasil; e apresentar algumas 
iniciativas governamentais e da sociedade civil que têm contribuído para a redução das 
desigualdades raciais..
Aula 3 - Para Superar as Desigualdades Raciais
Introdução
Na atualidade, inúmeros debates sobre políticas antirracistas têm ocorrido no contexto 
brasileiro. É bem verdade que este debate foi bastante intenso no cenário internacional no 
decorrer das últimas décadas. São debates que servem de tema central para outras tantas 
discussões que trazem em seu bojo a coibição de um racismo institucional e medidas 
compensatórias em virtude de uma população afrodescendente brasileira excluída. 
O debate que versa colocar em prática medidas compensatórias, visa a ressarcir, os 
descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos 
e educacionais sofridos sob o regime da escravidão, bem como em virtude das políticas 
explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios 
exclusivos para grupos com poder de governar e de infl uir na formulação de políticas, 
no pós-abolição. (SECAD, 2006). Desse modo, as medidas compensatórias têm como 
objetivo reverter de fato, um quadro social fundamentado em discriminação racial e 
exclusão socialda população negra. 
Nesta aula, conheceremos algumas iniciativas governamentais e da sociedade civil que 
têm contribuído para a redução das desigualdades raciais. 
As Constituições e a Garantia dos Direitos Iguais 
Comecemos, então, por uma análise do construto e da garantia de uma igualdade social 
do ponto de vista da máxima que um Estado pode ter: as Constituições Federais. 
1891 1934 1937 1946 1967 1969 1988
Caixa 1891 
Na Constituições de 1891, veio à primeira afi rmativa de tentar nivelar socialmente todos 
os brasileiros, ainda que permanecemos, todavia, com uma igualdade formal. O artigo 
72, incisos 1º e 2º desta mesma Constituição determina a garantia a brasileiros e a 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, 
à segurança individual e à propriedade, a partir dos seguintes termos: ninguém pode 
ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; todos são 
iguais perante a lei. Mais do que isso, fi ca estabelecido que a República não admite 
privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza e extingue as ordens honorífi cas 
existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como os títulos nobiliárquicos 
e de conselho. 
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
3
Caixa 1934
Na Constituição de 1934, igualmente como a de 1891, dispôs-se em seu capítulo II 
intitulado Dos Direitos e das Garantias Individuais, no seu artigo 113 e parágrafo 1 que 
a Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à 
propriedade, nos termos seguintes: todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, 
nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profi ssões próprias ou dos pais, 
classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas. 
Caixa 1937
A Constituição de 1937 assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o 
direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade. Todos são iguais perante a lei 
e todos os brasileiros gozam do direito de livre circulação em todo o território nacional, 
podendo fi xar-se em qualquer dos seus pontos, aí adquirir imóveis e exercer livremente 
a sua atividade. 
Caixa 1946
A Constituição de 1946, outra vez traz a tona o princípio da igualdade que já fora 
estabelecida na Constituição de 1934. Repelindo a propagada em favor do preconceito 
de classes ou raça, foi, na mesma medida, superfi cialmente tratada na Constituição de 
1937. Neste contexto – o da Constituinte de 1946 – surgiu no cenário jurídico à lei do 
silêncio, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) e a primeira lei penal 
sobre a discriminação instaurada em 1951. Em meio a estas leis publicadas no campo 
sócio jurídico, um aspecto paradoxal continua pairando sobre a cidadania do brasileiro, 
principalmente em particular no cotidiano dos afrodescendentes.
Caixa 1967
Na Constituição de 1967 nada mudou. Permaneceu igualmente o que já havia se 
estabelecido nas Constituições anteriores. Dispôs-se mais uma vez que todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. 
Não obstante a referida Constituição que acabou de ser citada apresenta características 
estagnadas em seu sentido jurídico, não podemos negar que outras conquistas dentro 
deste mesmo período histórico foram alcançadas. 
Caixa 1969
Foi feita uma emenda constitucional nº 1, de outubro de 1969, referente à Constituição 
de 1967 podendo ser considerada uma Constituição de 1969. Nela, o conteúdo referente 
ao caráter de igualdade e discriminação dos cidadãos brasileiros permaneceu igualmente 
ao da Constituição anterior. Foi enfatizado mais uma vez a intolerância de qualquer 
discriminação existente na sociedade brasileira.
Caixa 1988
A Carta Constitucional de 1988 garante direitos civis, políticos, sociais e econômicos, assim 
como direitos dos indígenas, dos negros, dos idosos e das crianças – considerados grupos 
vulneráveis. Esses direitos possuem proteção especial e nem emendas constitucionais 
podem extingui-los. A abertura política que se seguiu ao fi m do regime militar na década 
de 1980 fi rmou na Carta Magna o princípio da igualdade entre todas as pessoas e o 
direito a uma vida digna nos termos do art. 5º, que diz: Todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade. O artigo 5º, incisos XLI e XLII, desta Constituição, estabelece punição a 
qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais, acrescentando 
que a prática do racismo constitui crime inafi ançável e imprescritível, sujeito à pena de 
reclusão, nos termos da lei.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
4
As Constituições seriam um dos principais, se não o principal caminho que talvez pudesse 
ter impedido a instauração do racismo em nosso país. Ao mesmo tempo, a insistência 
inexorável de não se fazer valer o que diz a vigente Constituição brasileira, pode ser 
considerado, do mesmo modo, o entrave que poderia nos levar para a desconstrução e, 
até mesmo, para eliminação do racismo que assola dia a dia as “relações sócias raciais” 
em nossa sociedade, deixando, portanto, de lançar na prática os fundamentos básicos 
para a noção universalista de humanidade independentemente de sexo, cor, condição 
socioeconômica ou credo religioso.
Promulgação de Leis
Nos últimos anos, leis foram promulgadas na direção de combater o racismo e reparar 
as dívidas históricas da sociedade brasileira com sua população afrodescendente.
Lei nº 9.459/1997
Incluiu novos tipos penais, visando principalmente combater os crimes resultantes de 
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Lei nº 10.639/2003 
Inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a 
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. 
Lei n˚ 3.627/2004 
Garante a reserva de vagas nas instituições públicas de educação superior para 
estudantes egressos de escola pública, em especial negros e indígenas.
Lei nº 12.288/2010 
Institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a 
efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, 
coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
Lei nº 6.067/2011
Dispõe sobre reserva de vagas para negros e índios nos concursos públicos para 
provimento de cargos efetivos e empregos públicos integrantes dos quadros permanentes 
de pessoal do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro e das Entidades de sua 
Administração Indireta. 
A mudança na legislação e as políticas governamentais não são sufi cientes por si só para 
mudar as desigualdades históricas que herdamos das gerações passadas, tampouco 
a inclusão no currículo escolar de novas temáticas modifi ca as práticas educacionais 
vigentes. De qualquer sorte, as conquistas dos movimentos sociais e as iniciativas 
governamentais são avanços signifi cativos que gradativamente transformam a sociedade. 
Atualmente, compreende-se que é preciso mesclar políticas sociais universais e políticas 
afi rmativas específi cas para reverter este quadro histórico. 
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
5
 Lei nº 9.459/1997
http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1997/9459.htm 
Lei nº 10.639/2003 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm 
Lei n˚ 3.627/2004 
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ref_projlei3627.pdf 
Lei nº 12.288/2010 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm 
Lei nº6.067/2011
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/c8aa0900025feef6032564ec0060dfff/03027007b98a1171
8325793a0059909b
Saiba mais
Para saber mais sobre ações afi rmativas e cotas, acesse Cotas raciais - por que sim?, do IBASE, 
disponível em: http://www.ibase.br/userimages/cart_ibase_cotas_fi nal.pdf
Saiba mais
Implementação de Ações Afi rmativas
Vivemos hoje em um mundo globalizado marcado pela convivência 
de várias culturas, assim como vivemos em uma sociedade 
plural permeada por diferentes etnias e grupos sociais. No caso 
brasileiro esta realidade se intensifi ca. Darcy Ribeiro dizia, como 
já vimos, que o que nos defi ne como brasileiros é a mestiçagem. 
Diferente do Inglês ou do Italiano o que nos defi ne é a mistura e a 
diversidade, logo a nossa sociedade deve ser capaz de incorporar, 
incluir, interagir com essa realidade plural.
Percebemos que mudanças efetivas são realmente difíceis de 
serem obtidas, uma vez que encontram barreiras “invisíveis” 
nas práticas sociais e no pensamento das pessoas que ocupam 
cargos importantes, assim como no cidadão comum.
Por tudo isso, a luta política pode ser um instrumento importante de afi rmação do negro 
e de combate do preconceito e da desigualdade racial. Não uma luta política apenas em 
termos de políticas públicas ou de novas legislações, mas uma luta política de afi rmação 
de direitos nas relações sociais, na dignidade da pessoa humana e no cotidiano.
É nesse contexto de luta que surgem as ações afi rmativas, entendidas como “um conjunto 
de ações privadas e/ou políticas públicas que tem como objetivo reparar os aspectos 
discriminatórios que impedem o acesso de pessoas pertencentes a diversos grupos sociais 
às mais diferentes oportunidades” (IBASE, 2008, p. 7). As leis citadas anteriormente 
são exemplos de ações afi rmativas. Outro exemplo é a política de criação de delegacias 
policiais especializadas no atendimento a mulheres.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
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Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais do Ministério da Educação, por 
meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad). Disponível em: 
http://www.ifrj.edu.br/webfm_send/269
Saiba mais
Inicialmente, as ações afi rmativas se defi niam como um mero “encorajamento”,
por parte do Estado, a que as pessoas com poder decisório nas áreas pública
e privada levassem em consideração, nas suas decisões relativas a temas sensíveis como 
o acesso à educação e ao mercado de trabalho, fatores até então tidos como formalmente 
irrelevantes pela grande maioria dos responsáveis políticos e empresariais, quais sejam: 
a raça, a cor, o sexo e a origem nacional das pessoas (SECAD, 2007).
Posteriormente, as políticas de ação afi rmativa passaram a ser implementadas a partir 
imposição de cotas pré-defi nidas de acesso de “minorias” no mercado de trabalho e em 
instituições educacionais. Vale lembrar que as cotas são apenas uma das formas de 
ação afi rmativa. 
Políticas de ação afi rmativa já foram utilizadas em diversas partes do mundo. O pioneiro 
foram os Estados Unidos. A luta contra a discriminação racial, nesse país, mobilizou a 
comunidade negra elegendo políticos, com a participação de religiosos de personalidades 
negras da vida cultural americana. 
No Brasil, a implementação de ações afi rmativas é entendida como reparação, indenização 
devida pela sociedade brasileira aos negros, ante as injustiças raciais, entre outras, de 
que estes foram e ainda são vítimas (SECAD, 2007), garantindo, dessa forma, o que 
é proposto pela Constituição de que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza”.
Conclusão
Neste módulo, tivemos a oportunidade de conhecer alguns conceitos indispensáveis para 
o entendimento das relações étnico raciais. Vimos que os discursos sobre as relações 
raciais no Brasil variaram ao longo do tempo, mas que muitos pensamentos e práticas 
preconceituosas se perpetuam até hoje. Se no passado o discurso racial trazia uma 
interpretação negativa sobre nossa formação étnica, atualmente a mestiçagem tem sido 
prestigiada como elemento diferenciador do nosso povo.
Identifi camos algumas políticas adotadas que a partir da década de 1980 buscaram 
diminuir as desigualdades sociais. Observamos que mesmo assim, a desigualdade racial 
ainda permanece como um problema para nossa sociedade. O preconceito no Brasil se 
apresenta de uma maneira velada porque não aponta diretamente para o negro, mas 
para um contexto relacional que se torna ainda mais cruel e desafi ador. 
Portanto, o enfrentamento da questão racial no Brasil aponta a necessidade para políticas 
públicas que diminuam a pobreza e ofereçam melhores serviços de educação e cultura 
para a sociedade em geral, mas também, políticas afi rmativas específi cas que permitam 
ao negro ampliar suas chances no mercado de trabalho.
A luta contra o preconceito racial e a discriminação não é fácil de ser realizada porque 
ela se estabelece no plano ideológico de maneira dissimulada e quase imperceptível o 
que requer uma mobilização constante da sociedade civil e principalmente dos negros do 
movimento negro no sentido da sua afi rmação social e na defesa dos direitos individuais.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
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Relações étnico-raciais e cidadania: História e Cultura Afro-
brasileira como fatores fundamentais para construção do cidadão 
afrodescendente a partir do pós-abolição.
Leonardo Santana da Silva1
Adriana Patricia Ronco2
Resumo: A proposta do presente artigo busca evidenciar elementos chaves que engendram 
a construção do cidadão brasileiro afrodescendente. Neste sentido, os aspectos históricos 
e culturais afro-brasileiro são destacados como fatores de suma importância para 
argumentação e legitimação da cidadania garantida pela própria Constituição Federal 
Brasileira. No entanto, não obstante aos avanços históricos, o direito de “ser cidadão” 
garantido pela nossa Constituição, em determinados momentos, acaba não sendo 
respeitado ou cumprindo pelo Estado. Se observarmos bem a questão da desigualdade 
social existente no Brasil, perceberemos que esta disparidade não pode ser resumida 
apenas aos critérios econômicos. As fontes estatísticas apontam para um desequilíbrio 
em relação a um maior número de oportunidades para brancos, o que nos revela, então, 
uma preterição da população negra. Dentro desta perspectiva, buscaremos abordar 
pontos que perpassam pela discussão das cotas étnico-raciais como política afi rmativa e 
por aspectos da história africana e da cultura afro-brasileira, instituída como obrigatória 
no ensino brasileiro através da Lei 10.639, servindo de aporte para contrapor a suposta 
negatividade do negro apresentada por meio das teorias racistas, conceito de raça e mito 
da democracia racial num contexto de modernização cujo objetivo era o progresso, o 
desenvolvimento e a civilização de um Brasil considerado culturalmente atrasado.
 Introdução.
Em face da alteração da Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes 
e bases da educação nacional, um grande avanço histórico está sendo vivenciado 
pela sociedade brasileira. Com a Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003 sancionada pelo 
presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva fi ca decretado à obrigatoriedade do 
ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira no currículo ofi cial da Rede de 
Ensino do setor público ou privado, nos segmentos do ensino fundamental e médio. Este 
marco histórico é sinônimo de um avanço étnico em que o Brasil reconhece ofi cialmente 
que seu nascimento é fruto de encontros das culturas e das civilizações que o torna, 
por excelência, um país de diversidade. Em contrapartida, este avanço na história 
brasileira, do ponto de vista educacional, um grande desafi o se apresenta. Tanto para 
os profi ssionais da área de educação que,ao exercer a prática do ensino precisam se 
dedicar e, ao mesmo tempo, se dispor inteiramente de conhecimentos específi cos que 
transversa sobre a História da África e da Cultura Afro-brasileira, quanto para a sociedade 
brasileira que anseia por respostas e discussões refl exivas que traz como epicentro de 
seu bojo o já conhecido tema do mito da democracia racial.
A partir destas duas lógicas, principalmente aquela referente ao tema do mito da 
democracia racial com sua exclusão sócio racial, velada ou não, implícita ou explicitamente 
é que pretendemos fundamentar e viabilizar nossa discussão. Centrando-se, portanto, 
na história e na cultura Afro-brasileira é que buscaremos demonstrar que tais aspectos 
norteadores da trajetória do negro no Brasil podem ser considerados como fatores 
fundamentais para construção do cidadão afrodescendente a partir do pós-abolição.
1 Mestre em História Social USS. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da 
UFRJ. Professor do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) e do Conservatório Brasileiro de Música (CEU-CBM). 
Leonardocello@yahoo.com.br
2 Doutora em História. Professora do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM)
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
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Ao propormos delegar esforços em analisar histórica e criticamente o processo das 
relações étnico-raciais e a questão da cidadania dos afrodescendentes brasileiros no 
contexto do pós-abolição, temos plena consciência de que esta não seria, e ainda está 
longe de ser uma tarefa fácil, uma vez que, um conglomerado de complexidades envolve 
o assunto. Por assim dizer, entendemos que existe uma real difi culdade de se chegar 
a respostas contundentes, conscientes e convincentes em se tratando das nítidas 
condições do negro brasileiro do ponto de vista de sua cidadania. Condições estas, diga 
se de passagem, que é fadada a uma visão que poderíamos classifi car como simplista, 
complicada e contraditória se pensarmos de maneira pura e exclusivamente sendo a 
culpa do próprio negro o desrespeito e o não cumprimento dos seus direitos garantidos 
pela Constituição.
 
Ao contrario desta visão, a responsabilidade do não cumprimento da lei pode ser 
considerada, neste caso, advinda das próprias difi culdades impostas pela sociedade em 
não enxergar, ou até mesmo, considerar a existência da cidadania do afro-brasileiro. 
Fato este, se é que podemos explicar ou justifi car, muito presente nas mentalidades 
de uma sociedade em que o escravo não era sequer considerado gente e que refl etirá 
persistentemente no cotidiano de uma sociedade republicana. Ou seja, num momento 
em que legitimamente com a Constituição de 1891, previu-se de forma categórica que 
todos seriam iguais perante a lei.
É neste mar de complexidade que a discussão relativa à construção da cidadania e das 
relações étnico-raciais no Brasil está submersa. Para tentarmos delinear uma discussão 
com objetivo de entender todo este processo de não inclusão, ou se preferirem classifi car, 
como um processo de exclusão do negro, devemos perpassar por algumas questões que, 
a nosso ver, são de suma importância para compor o cenário intertextual e oferecer uma 
maior inteligibilidade desse nosso objeto de estudo. Neste sentido, abordaremos aqui, 
alguns assuntos que podem parecer a priori, assuntos desgastados, que vão desde o 
processo abolicionista e teorias racistas cientifi cistas até aos temas mais atuais discutidos 
paulatinamente na contemporaneidade de nossa sociedade, quais sejam: o anti-racismo, 
as relações raciais, as desigualdades sócio raciais, as políticas afi rmativas etc. 
A Constituição Federal e o cidadão brasileiro: a guardiã do direito de igualdade 
social sem precedentes discriminatórios. 
Comecemos, então, por uma análise do construto e da garantia de uma igualdade social 
do ponto de vista da máxima que um Estado pode ter: as Constituições Federais. Ao 
longo da história sociopolítica, principalmente no que diz respeito ao arvorecer do regime 
Republicano de nosso país, um marco histórico foi se confi gurando.
Com a instauração da República, em sua primeira Constituinte, a de 1891,veio à primeira 
afi rmativa de tentar nivelar socialmente todos os brasileiros, ainda que permanecemos, 
todavia, com uma igualdade formal. O artigo 72, incisos 1º e 2º desta mesma Constituição 
determina a garantia a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, a partir 
dos seguintes termos: ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei; todos são iguais perante a lei.3 Mais do que isso, fi ca estabelecido 
que a República não admite privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza e 
extingue as ordens honorífi cas existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem 
como os títulos nobiliárquicos e de conselho.4
3 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Titulo IV: Seção II, Art. 
72. 
4 Idem, ibidem. 
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
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Sob a ótica alusiva das várias Constituições da República brasileira elaboradas ao longo 
de nossa história é que queremos ditar a tônica que servirá de pano de fundo para pauta 
destinada ao problema das relações étnico-raciais e a cidadania do afro-brasileiro. Este 
seria um dos principais, se não o principal caminho que talvez pudesse ter impedido 
a instauração do racismo em nosso país. Ao mesmo tempo, a insistência inexorável 
de não se fazer valer o que diz a vigente Constituição brasileira, pode ser considerado, 
do mesmo modo, o entrave que poderia nos levar para a desconstrução e, até mesmo, 
para eliminação do racismo que assola dia a dia as “relações sócias raciais” em nossa 
sociedade, deixando, portanto, de lançar na prática os fundamentos básicos para a noção 
universalista de humanidade independentemente de sexo, cor, condição socioeconômica 
ou credo religioso.
Nesta perspectiva, em que diz respeito ao vai-e-vem histórico das Constituições brasileiras, 
pouco se inovou. Salvo algumas pequenas exceções, que iremos mencionar ocorridas 
entre as Constituintes de 1891 e 1988 havendo teoricamente irrisórias mudanças. 
Neste sentido, é que na atual Constituição tão salvaguardada como cidadã por Ulisses 
Guimarães, demonstra-se completamente antagônica até os dias atuais. Não por pensar 
que seu respectivo conteúdo seja defi ciente, e sim pela falta de vontade política em 
colocar em prática o princípio da igualdade sob a égide dos princípios e valores sobre 
quais repousam a instituição da própria Carta Magna. 
Em se tratando da jurisprudência que embasa a nossa atual Constituição Federal, 
analisá-las-emos com maior rigor mais adiante. Esta postura é simplesmente por motivos 
de coerência, pois, neste momento, cederemos lugar para analisar historicamente 
as Constituições anteriores à de 1988, para tão somente, compararmos as referidas 
mudanças e continuidades no teor dos textos que as compõem. Sem mais de longas, do 
concerto ao soneto vamos aos textos.
Sem contar com a Constituição de 1824 – a primeira Constituição brasileira – o Brasil 
teve outras seis Constituições: 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988, além da emenda 
constitucional nº 1, de outubro de 1969, referente à Constituição de 1967 podendo ser 
considerada uma legitima Constituição. Ressaltamos que não será abordada aqui, a 
Constituição de 1824, por se encontrar inserida no período imperial não sendo, portanto, 
pertinente ao nosso recorte temporal e a Constituição de 1891, por já ter sido comentada 
anteriormente. 
Na Constituição de 1934, igualmente como a de 1891, dispôs-se em seu capítulo II 
intitulado Dos Direitos e das Garantias Individuais, no seu artigo 113 e parágrafo 1 que 
a Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentesno País a inviolabilidade 
dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à 
propriedade, nos termos seguintes: todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, 
nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profi ssões próprias ou dos 
pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas. Pode parecer muito 
semelhante às duas respectivas Constituições, porém, se observamos bem, a segunda 
acarreta algo a mais do que a primeira. 
A Constituição de 1934 torna-se mais específi ca na medida em que determina em seu texto 
o caráter de inconstitucionalidade caso haja a manutenção de privilégios sejam eles por 
motivo de nascimento, sexo, raça, profi ssões próprias ou dos pais, classe social, riqueza, 
crenças religiosas ou idéias políticas. Ainda que intrinsecamente, todavia nitidamente, 
há uma repulsa relativa à descriminação, embora tal aversão fundamentada sob a luz 
do discurso ofi cial da Carta Magma de 1934 tem permanecido apenas no campo do 
simbolismo. Ou seja, uma homilia única e repleta de ingenuidade declarando entre 
linhas a inexistência da descriminação no território brasileiro.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
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Na outorgada Constituição de 1937, pelo que podemos perceber, o teor de seu texto 
mostra-se um tanto simplifi cado. A decorrência da não admissão da presença real 
da discriminação talvez tenha sido o fi o condutor para que o trato da matéria tenha 
proclamado de maneira simples e até mesmo singularmente em se tratando da 
permanência de que todos seriam iguais perante a lei. A atitude em manter o código desta 
maneira simplista demonstra certa fragilidade e um abismo entre o direito proclamado 
na Constituição Federal e a realidade dos fatos.
A Constituição de 1946, outra vez traz a tona o princípio da igualdade que já fora 
estabelecida na Constituição de 1934. Repelindo a propagada em favor do preconceito 
de classes ou raça, foi, na mesma medida, superfi cialmente tratada na Constituição de 
1937. Neste contexto – o da Constituinte de 1946 – surgiu no cenário jurídico à lei do 
silêncio, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) e a primeira lei penal 
sobre a discriminação instaurada em 1951. Em meio a estas leis publicadas no campo 
sócio jurídico, um aspecto paradoxal continua pairando sobre a cidadania do brasileiro, 
principalmente em particular no cotidiano dos afrodescendentes.
A lei do silêncio, por exemplo, contrasta-se paradoxalmente com a Declaração Universal 
dos Direitos do Homem e com a primeira lei penal sobre a discriminação. De um lado, 
a repressão do preconceito acaba sendo inviabilizada por causa da lei do silêncio. Em 
contrapartida, as duas outras leis respectivamente acabam viabilizando em âmbito 
nacional o verdadeiro problema do dia a dia da sociedade brasileira, qual seja: a 
existência da discriminação sócio racial. Percebe-se então claramente a presença de 
uma tensão em torno da situação problemática que há no Brasil desde que os ideários 
do regime republicano tinham como seus objetivos extinguir qualquer desigualdade em 
sua sociedade.
Em relação à Constituição de 1967 em nada se mudou. Permaneceu igualmente o que 
já havia se estabelecido nas Constituições anteriores. Dispôs-se mais uma vez que 
todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso 
e convicções políticas. Não obstante a referida Constituição que acabou de ser citada 
apresenta características estagnadas em seu sentido jurídico, não podemos negar que 
outras conquistas dentro deste mesmo período histórico foram alcançadas. 
Não entrando no mérito da questão, em que pese na balança, qualquer sentença eivada 
de um juízo de valor classifi cando-as como positiva ou negativa as ideologias das ações 
afi rmativas trazidas pela Convenção Internacional sobre Eliminação de todas as Formas 
de Discriminação Racial adotada pelas Nações Unidas em 21 de dezembro de 1965 sendo 
ratifi cada pelo Brasil em 27 de março de 1968, o que nos interessa saber é que o seu 
principal objetivo era eliminar qualquer desigualdade entre indivíduos ou grupos raciais 
e étnicos sem que haja, ao mesmo tempo, em hipótese alguma, medidas que conduzam 
em conseqüência a manutenção de direitos separados de diferentes grupos étnicos. 
Mesmo que os objetivos destes grupos sejam alcançados. Neste sentido, a posição da 
Convenção é enfática em condenar a segregação racial.
Partindo para a Emenda de número 1 de 1969 – podendo ser considerada uma 
Constituição de 1969 – o conteúdo referente ao caráter de igualdade e discriminação 
dos cidadãos brasileiros permaneceu igualmente a Constituição anterior. Foi enfatizado 
mais uma vez a intolerância de qualquer discriminação existente na sociedade brasileira.
No que tange a Constituição de 1988, os parlamentares constituintes acabam se 
deparando com uma gama de informações já estabelecidas nas anteriores. A respeito da 
igualdade social democraticamente garantida pela nossa Constituição, os parlamentares 
constituintes, nesta ocasião, optaram em manter grande parte dos textos fi xados pelas 
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
11
demais Constituições acrescentando algumas ressalvas. Isto signifi ca dizer que, os 
representantes legítimos do povo brasileiro, a fi m de ressaltar e promover uma igualdade, 
que até certo ponto, se mantivera simplesmente no campo da formalidade, decidiriam 
em Assembléia Nacional Constituinte a criação de um Estado democrático, cujo objetivo 
principal é o de garantir o exercício de direitos individuais e sociais, explicitamente exposto 
na elaboração e incorporação de um preâmbulo no texto geral da Constituição Federal 
brasileira. Vejamos então o que diz na íntegra o preâmbulo da nossa Constituição:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia 
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, 
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, 
a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a 
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade 
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com 
a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a 
proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA 
FEDERATIVA DO BRASIL.5
Na citação que acabamos de ler fi ca bastante evidente que os fundamentos estabelecidos 
na República brasileira revelam uma verdadeira valorização voltada para a dignidade 
da pessoa humana e, por conseguinte, para a cidadania brasileira, o que corrobora e 
justifi ca a elaboração e a vigência de uma Constituição Federal. Noutras palavras, o 
sentimento da cidadania e da igualdade “sócio racial” só acontecerão na prática a partir 
do momento em que haja um verdadeiro respeito à dignidade e ao direito humano. 
Nunca se esquecendo de que a lógica de toda Constituição Federal calcada nos princípios 
republicanos é de que as leis são feitas para regulamentar e legitimar a convivência do 
homem e não ao contrário, ou seja, uma idéia sem qualquer coerência ou fundamento 
de que os homens é que seriam feitos para as leis.
De acordo com o texto promulgado na Constituição de 1988, estruturalmente divididos 
em diversos títulos e capítulos, consequentemente, em artigos e incisos, destacaremos 
apenas algumas passagens, as que mais estejam direcionadas para fundamentação 
de nossa discussão. Já no 1º artigo e, respectivamente alguns de seus incisos, estão 
dispostos que a República Federativa do Brasil formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democrático de Direito 
e tem como fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa humana. ( Incisos II e III).
O artigo 3º nos demonstra com clareza que a única alternativa em fazer valer uma ação 
que venha corrigiras desigualdades sociais em todos os sentidos é o cumprimento da 
lei cujos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil estão centrados em: 
construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; 
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação. (Incisos I, II, II, IV).
Um breve comentário caberia ser realizado em relação ao artigo 3º da Constituição 
Federal. Este comentário poderia ser parafraseado ao discurso do excelentíssimo Sr. 
Ministro do Superior Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, em sua incisiva decisão 
proferida, ao votar no julgamento do caso concernente a constitucionalidade ou não das 
cotas raciais nas universidades públicas brasileiras. Todavia, por ser tratar de um marco 
histórico, sobretudo em nosso país, sem utilizarmos de qualquer posição tendenciosa 
em defender uma posição a favor ou contra as cotas, queremos pedir licença para fazer 
alusão a um trecho deste voto em que o ministro Marco Aurélio Mello analisa o referido 
artigo justifi cando o embasamento de sua decisão. Na concepção do ministro:
5 Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Preâmbulo. 
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Do artigo 3º nos vem luz sufi ciente ao agasalho de uma ação 
afi rmativa, a percepção de que a única maneira de corrigir 
desigualdades é colocar o peso da lei, com a imperatividade que 
ela deve ter em um mercado desequilibrado, a favor daquele que 
é discriminado, tratado de modo desigual. Nesse preceito, são 
considerados como objetivos fundamentais de nossa República: 
primeiro, construir – prestem atenção a esse verbo – uma sociedade 
livre, justa e solidária; segundo, garantir o desenvolvimento 
nacional – novamente temos aqui o verbo a conduzir não a atitude 
simplesmente estática, mas a posição ativa; erradicar a pobreza 
e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
e, por último, no que interessa, promover o bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação.
Pode-se dizer, sem receio de equívoco, que se passou de uma 
igualização estática, meramente negativa, no que se proibia a 
discriminação, para uma igualização efi caz, dinâmica, já que os 
verbos ”construir”, “garantir”, “erradicar” e “promover” implicam 
mudança de óptica, ao denotar “ação”. Não basta não discriminar. 
É preciso viabilizar – e a Carta da República oferece base para 
fazê-lo – as mesmas oportunidades. Há de ter-se como página 
virada o sistema simplesmente principio lógico. A postura deve 
ser, acima de tudo, afi rmativa. Que fi m almejam esses dois artigos 
da Carta Federal, senão a transformação social, com o objetivo 
de erradicar a pobreza, uma das maneiras de discriminação, 
visando, acima de tudo, ao bem de todos, e não apenas daqueles 
nascidos em berços de ouro?6
Ainda em consonância a Constituinte de 1988, temos o inciso VIII do artigo 4º que declara 
repúdio ao terrorismo e ao racismo; e o artigo 5º com seus setenta e oito incisos no qual 
queremos destacar a validade estabelecida em seus incisos XVI e XVII respectivamente em 
que defi ne que a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades 
fundamentais; e a prática do racismo constitui crime inafi ançável e imprescritível, sujeito 
à pena de reclusão, nos termos da lei.
Queremos abrir um parêntese para esclarecer que, não obstante termos utilizado, num 
primeiro momento, concepções teóricas do ministro Marco Aurélio em se tratando das 
políticas de cotas raciais como ações afi rmativas, esse debate será abordado com um maior 
enfoque em nossa discussão. Será feito sob outro ângulo – o da política afi rmativa – uma 
vez que, ao rememorarmos a análise feita pelo ministro do STF, estamos compartilhando 
de uma concepção em que o próprio ministro Marco Aurélio faz uma leitura elucidativa 
da Constituição como base de sustentação para extirpar a desigualdade social. Assim 
sendo, passemos para outros pontos chave deste artigo–conceito de raça, teorias racistas, 
mito da democracia racial e exclusão social. 
Qual é a sua cor: preto ou branco? Se disseres a sua cor poderei dizer quem tu és? 
Uma refl exão sobre a condição do negro no período pós-abolição.
Perfi lar a situação do negro brasileiro em virtude do contexto pós-abolição requer uma 
análise mais minuciosa, não em seu sentido quantitativo, mas sim em matéria qualitativa, 
com detalhes voltados para a história e cultura afro-brasileira desde o período que 
antecede a abolição. Defi nir quem é branco ou preto numa sociedade completamente 
6 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 186 Distrito Federal. Voto na íntegra do ministro Marco 
Aurélio Mello sobre a validade das cotas raciais, p. 4-5. Disponível em www.stf.jus.br
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abrangente em termos etnicamente culturais, como é o caso do Brasil, é uma tarefa 
um tanto complexa. Se levarmos em consideração a condição heterogênica existente no 
Brasil, não havendo somente infl uência étnica portuguesa e africana, constataremos 
nitidamente que a composição social brasileira é bastante diversifi cada no que diz respeito 
ao seu grau de complexidade cultural. Daí a difi culdade, se é que podemos defi nir, se 
existe uma “eugenia étnica” ou uma defi nição de quem é branco, preto ou até mesmo 
mulato no Brasil.
Recuperar a memória do cotidiano dos escravos e de seus descendentes, principalmente 
nas últimas décadas do império brasileiro, nos permite transitar em um conjunto de 
acontecimentos, que vão desde as relações culturais da casa de Tia Ciata com sua proteção 
e, ao mesmo tempo, arquitetando uma orquestração dos subalternos, até chegar ao ponto 
em que José Murilo de Carvalho se apropria e utiliza-o como tema central em uma das 
suas obras clássicas – Os bestializados. Ou seja, “o povo que pelo ideário republicano 
assistira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez 
uma parada militar.”7
É para este sentido que devemos fazer alusão “observando o relacionamento entre o 
cidadão e o Estado, mostrando a contradição entre propaganda republicana e o tratamento 
dispensado ao povo.”8
Das reminiscências que esta população trazia da experiência do cativeiro; do que fi cou 
como chão rememorável e como explicitava o que formaria um imaginário que iria 
colaborar para a formação de uma expressão de vida, sua feição; pois se é certo afi rmar 
que nem todos os oprimidos socialmente foram homens de cor, somente estes vivenciaram 
a discriminação por ostentarem no corpo, mais precisamente na cor da pele, a suspeita 
em potencial e, por isso, sujeitos a arbitrariedades mais frequentemente e sem qualquer 
cerimônia. Reminiscências como feridas mal cicatrizadas, mas nem por isso esvaindo-se 
em dolorosos lamentos, apenas lanternas atentas a vigiarem o sono do mostro sempre 
prestes a.9(sic).
Revisitar a trajetória sociocultural dos afrodescendentes, fundamentalmente no período 
entre dois sistemas político-econômicos – imperial e republicano – se observará que 
nada mudou neste fremente momento transitório. Sobrepondo-se a ruína do regime 
imperial tão já desgastado e, por conseguinte, completamente insustentável, o fl orescer 
do regime republicano com todas as teorias que decantavam seu pensamento fi losófi co 
“não adotou políticas que igualassem o negro e o branco no sentido de lhes dar realmente 
uma mesma condição de oportunidades no mercado competitivo de trabalho.”10 Trazer 
a trajetória social e cultural dos afrodescendentes para o epicentro de nossa discussão 
serve de embasamento para consubstanciação da nossa proposta aqui exposta, qual 
seja: as relações étnico-raciais e a questão da cidadaniada população negra.
Contradições e exclusão social não faltavam no pensamento fi losófi co deste novo cenário 
da nova ordem urbana e cosmopolita que se confi gurava, principalmente no Rio de 
Janeiro – a capital republicana. Frente à bandeira do progresso, da regeneração, da 
civilização e da reurbanização implantada com a idéia de modernização veio-se o caráter 
contraditório, excludente, desolador e drástico. Um verdadeiro mito da modernidade e 
da cidade moderna foi instaurado:
7 Carta de Aristides Lobo ao Diário Popular de São Paulo, em 18.11.1889. Citada por Leôncio Basbaum, em História 
Sincera da República, de 1889 a 1930 (São Paulo, Fulgor, 1968), p. 18. In: CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: 
o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 9. 
8 NASCIMENTO, Gizêlda Melo do. Feitio de viver: memórias de descendentes de escravos. Londrina: Eduel, 2006, 
p. 4. 
9 Idem, p. 85-86.
10 SILVA, Leonardo Santana da.A contribuição do chorinho para inserção do negro na sociedade brasileira. Rio de 
Janeiro: Publit, 2011, p. 122. 
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Se, em nome de todo esse progresso civilizador, foram excluídas 
as camadas populares que eram vistas e definidas como 
incompatíveis com a nova ordem progressista, qual seria então 
a verdadeira essência do espírito modernizador surgido com a 
Belle Époque? O termo modernizar em seu sentido literal não 
signifi ca avanço, atualização e desenvolvimento? Por que essas 
ideologias não foram aplicadas como medidas sociopolíticas a 
uma camada popular que sofria discriminação por ser herdeira 
de um passado escravista?11
Pelo que podemos perceber nem a abolição da escravatura, nem a proclamação da 
república com todo seu cosmopolitismo se preocuparam com a situação excludente que 
a sociedade moderna delegava aos ex-escravos e aos afrodescendentes. Ou seja, não 
colocou em prática uma política social que viesse amenizar a concorrência desleal que foi 
imposta aos ex-escravos e afrodescendentes. Neste sentido, acreditamos cada vez mais 
na existência real de um momento de segregação racial vivido em nossa sociedade. Ainda 
que teoricamente esta segregação possa se apresentar de maneira velada, na prática, ela 
aparece de maneira desmascarada, portanto, às claras. Mesmo que não houvesse uma 
restrição ao acesso a lugares institucionais do setor público, como ocorreu nos Estados 
Unidos e na África do Sul, não devemos nos esquecer de que o segmento negro, vítima 
de perseguições foi obrigado a deixar os bairros do centro urbano aglomerando-se em 
bairros periféricos formando as favelas.12
Sem querermos ser exaustivos, não entraremos profundamente numa discussão teórico-
metodológica sobre conceitos e teorias racistas, mito da democracia racial e exclusão social. 
Entendemos que estes temas já foram muito bem elucidados em obras contundentes 
a respeito. De qualquer forma, na expectativa de se entender um contexto que norteia 
um determinado recorte geográfi co-temporal é que perpassaremos resumidamente por 
tais questões para que não cometamos o erro de não citar a sua importância histórica. 
Mergulhada num profundo espírito cosmopolita e defensora dos ideais de civilização e 
progresso a sociedade brasileira moderna com o seu contexto da Belle Époque tornava-
se palco das inúmeras discussões intelectuais. O tema central era em torno do processo 
de regeneração de um passado escravista. Dentro desta perspectiva é que o pensamento 
social brasileiro tinha como objetivo transformar o Brasil culturalmente atrasado em um 
país progressivamente desenvolvido e civilizado.
Foi neste contexto intelectual que surgiram novas idéias e correntes científi cas no Brasil 
baseadas em um discurso ideológico e racial absorvidas, principalmente, da Europa 
e dos Estados Unidos. O darwinismo social, o naturalismo, o positivismo, o racismo 
científi co, a eugenia, a frenologia, a antropometria e a teoria do branqueamento são 
teses13 que através de uma suposta cientifi cidade explicam uma hierarquia entre a “raça” 
11 Idem, Leonardo Santana da.Op. cit., p. 121.
12 Em relação à segregação urbana na metrópole ver GARCIA, Antonia dos Santos. Desigualdades raciais e 
segregação urbana em antigas capitais: Salvador, cidade D`Oxum e Rio de Janeiro, cidade de Ogum. Rio de Janeiro: 
Garamond, 2009. 
13 Exporemos nesta nota, duas das diversas teorias racistas cientifi cistas. Como poderá ser visto ao longo desta 
nota explicativa, sugerimos a aqueles que se interessem mais profundamente sobre tais teorias buscar informações 
mais completas em SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 
1870-1930. São Paulo: Companhia Das Letras, 1993. Em síntese, as teorias raciais que se disseminavam pelo mundo 
ocidental tinham a preocupação de classifi car as raças subjugando-as conforme o seu caráter étnico. Assim, justifi car as 
novas formas de inferioridade racial através dos modelos explicativos científi cos era o mesmo que manter de maneira 
fundamentada a continuidade hierárquica de uma sociedade escravista. Neste sentido, negros e mestiços seriam sempre 
considerados inferiores. No darwinismo social analisava-se justamente a diferença entre as raças e sua natural hierarquia 
sem que se problematizassem as implicações negativas da miscigenação. Nesta sua perspectiva, os darwinistas sociais 
viam de forma pessimista a miscigenação, já que acreditava que não se transmitiam caracteres adquiridos, nem mesmo 
por meio de um processo de evolução social. Ou seja, todo cruzamento, por princípio, seria entendido como um erro, 
uma vez que as raças constituiriam fenômenos fi nais e resultados imutáveis. As máximas desse tipo de postulado eram 
duas: enaltecer a existência de “tipos puros” – e, portanto não sujeitos a processos de miscigenação – e compreender 
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humana na tentativa de melhora da raça considerada inferior. Este suposto cientifi cismo 
regenerador fi cou em voga no “pensamento social brasileiro”14 entre os anos de 1870 a 
1930, tendo o seu grande ápice nestes anos. Na sua lógica central, a de estratifi cação 
racial, tinha como necessidade classifi car quem eram os superiores e os inferiores, era 
uma solução para manter de forma legitimada uma hierarquização nos moldes de uma 
sociedade escravista.
Dentro dos discursos das diferentes correntes racistas cientifi cistas, uma queda de 
braços foi se confi gurando. Os diversos teóricos brasileiros defensores deste pensamento 
racista, não se contentando em classifi car as raças, subjugando-as de acordo com suas 
características étnicas, passaram a centrar suas discussões teóricas em torno de uma 
defesa em considerar qual seria a teoria mais adequada em se tratando da realidade 
brasileira. Ou seja, suas tarefas eram constatar qual seria a teoria que se aplicaria mais 
adequadamente ao debate do futuro étnico do Brasil. Ora, diante de tanto conhecimento 
disseminado entre os pensadores sociais brasileiros, eles não foram capazes de perceber 
que não poderiam existir teorias racistas melhores ou piores. O simples fato de se 
ter teorias que colocavam etnicamente pessoas em lados opostos em seu sentido de 
superioridade e inferioridade, não tinha nada de positivo, de melhor ou de mais adequado. 
O que ocorreria é que negros e mestiços permaneceriam sempre considerados inferiores.
Em meio a todo esse contexto de hostilidade que se encontrava camufl ado sob o rótulo 
de processo modernizante, progresso, civilização, que na verdade geraria o conceito de 
degeneração e inferioridade em relação aos negros e mestiços, a cultura popular desses 
setores da sociedade considerados marginalizados começaram a penetrar na esfera 
erudita desta mesma sociedade. 
No início do século XX, temos como exemplo desta penetração 
cultural dacamada popular no âmbito urbano carioca a 
tradicional Festa da Penha em que, diga-se de passagem, se 
tornou a principal festa popular carioca, só fi cando atrás do 
carnaval. Na organização desta Festa, merecem destaques os 
desafi os de capoeira, danças, as barraquinhas de quitutes da 
cozinha baiana da Tia Ciata e os concursos de música popular, 
que logo sobressaíram pela presença de nomes famosos como 
os de João Pernambuco, Pixinguinha, Donga e Catulo da Paixão 
Cearense. (...)
A busca por uma cultura diferente daquela considerada 
clássica pela burguesia ilustrada se tornou cada vez mais 
constante. Consideramos que o interesse dessa burguesia pela 
a mestiçagem como sinônimo de degeneração não só racial como social. Na teoria do evolucionismo social sublinhou-
se a noção de que as raças humanas não permaneciam estacionadas, ou seja, elas estavam em constante evolução e 
aperfeiçoamento, eliminando-se a idéia de que a humanidade era una. Conforme os evolucionistas sociais, a espécie 
humana seria desigual entre si, ou melhor, hierarquicamente desiguais em seu desenvolvimento global. SCHWARCZ, Lilia 
Moritz. O espetáculo das raças. Op. Cit., pp. 18, 58 e 62. 
Transformada em um movimento científi co e social vigoroso a partir dos anos de 1880, a eugenia cumpria metas diversas. 
Como ciência, ela supunha uma nona compreensão das leis da hereditariedade humana, cuja aplicação visava a produção 
de nascimentos desejáveis e controlados; enquanto movimento social, preocupava-se em promover casamento entre 
determinados grupos e – talvez o mais importante – desencorajar certas uniões consideradas nocivas à sociedade.[...] 
A eugenia não apenas representava a política social desse modelo determinista, como revelava as incompatibilidades 
existentes entre evolucionismo cultural e darwinismo social. Punha-se por terra a hipótese evolucionista, que acreditava 
que a humanidade estava fadada à civilização, sendo que o termo degeneração tomava aos poucos o lugar antes ocupado 
pelo conceito de evolução, enquanto metáfora maior para explicar os caminhos e desvios do progresso ocidental. Para os 
autores darwinistas sociais, o progresso estaria restrito às sociedades “puras”, livres de um processo de miscigenação, 
deixando a evolução de ser entendida como obrigatória. [...] Partindo da teoria de Darwin, mas na verdade subvertendo-a, 
esses pensadores afi rmavam que o resultado de um casamento híbrido era sempre degenerado ou mais fraco. Pior ainda, 
carregava os defeitos (e não as qualidades) de cada um de seus ancestrais. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das 
raças. Op. Cit., pp. 60-61. 
14 Alguns nomes de intelectuais do pensamento social brasileiro que compactuavam destas diversas teorias 
racistas: Oliveira Viana, Silvio Romero, Nina Rodrigues e João Baptista Lacerda.
Desafi os Globais: Velhas Questões - Módulo 5 Cidadania
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cultura popular acabou por gerar uma comunicação entre dois 
mundos que se encontravam isolados, suscitando, com isso, o 
enfraquecimento das “rígidas barreiras que o modelo cultural da 
Belle Époque carioca procura estabelecer entre o mundo letrado 
e o restante da sociedade”. É neste sentido que membros da 
elite carioca começaram a se relacionar com a cultura popular 
e, principalmente, com os músicos populares.15
Diferentemente da visão excludente desenvolvida pelo pensamento científi co racista em 
afi rmar “que a herança cultural dos afro-brasileiros não foi sufi cientemente plástica, 
forte e envolvente para a formação de uma cultura peculiar e riquíssima como a do nosso 
país”16, o horizonte cultural afro-brasileiro mostra-se bastante sólido e visível para quem 
quiser analisá-las. “Em termos gerais é visível que a contribuição cultural do negro 
encontra-se presente no cotidiano brasileiro através da religiosidade, da cultura popular, 
da culinária, da música e da linguagem; estes são alguns dos exemplos.”17
 
Cota racial e universidade pública brasileira: um debate em nossa contemporaneidade. 
Na atualidade, inúmeros debates sobre as políticas anti-racistas têm ocorridos no contexto 
brasileiro. É bem verdade que este debate foi bastante intenso no cenário internacional 
no decorrer das últimas décadas. Do mesmo modo, este debate tem se intensifi cado 
servindo de tema central para outras tantas discussões que trazem em seu bojo a coibição 
de um racismo institucional e medidas compensatórias em virtude de uma população 
afrodescendente brasileira excluída. O debate que versa colocar em prática medidas 
compensatórias, visa reverter de fato, um quadro social fundamentado em discriminação 
racial e exclusão social da população negra. Isto signifi ca uma tentativa de fazer valer o 
chamado direitos básicos da cidadania: trabalho, saúde, lazer e educação.
Este debate não é nada simples, muito pelo contrário, é extremamente complexo. Há uma 
tensão muito grande entre os que defendem e os que são contra a política de cotas raciais. 
Para os defensores da adoção desta política, de um modo geral, esta seria uma forma de 
reparar um malefício que os negros vêm sofrendo desde sua condição de escravo até a 
perpetuação de uma condição de exclusão social ainda presente em sua realidade. Em 
contrapartida, para aqueles que são contra a adoção deste tipo de política afi rmativa, a sua 
justifi cativa está embasada, por exemplo, em uma teoria em que adotar uma política de cotas 
raciais para garantir o ingresso de negros nas universidades brasileiras seria o mesmo que 
legitimar, perpetuar e reafi rmar uma condição de inferioridade da população afro-brasileira. 
Não é nosso objetivo aqui traçar um panorama histórico das políticas anti-racistas, 
sobretudo, um panorama da densa discussão sobre a cota racial nas universidades 
públicas brasileiras sob a ótica refl exiva à luz da experiência Norte Americana. Também 
não é nossa pretensão apresentar qualquer juízo de valor, ou uma solução como resposta 
defi nitiva, apontando o que seria certo ou errado em relação ao debate sobre as variantes 
das políticas afi rmativas e anti-racistas e seus paradoxos.
Acreditamos que as medidas compensatórias adotadas hoje no cenário nacional brasileiro 
têm dois lados da moeda. Se por um lado tais medidas serviriam como uma política 
indenizatória e reparadora diante de um quadro permanentemente discriminatório, 
por outro lado, a adoção de tais medidas não poderia servir para a criação de novos 
grupos de privilegiados perante aos demais cidadãos brasileiros? Será que privilegiar 
15 SILVA, Leonardo Santana da .A contribuição do chorinho e a inserção do negro na sociedade brasileira. Op. 
cit., pp.143-145.
16 Idem, p. 159.
17 Idem, p. 160.
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os afrodescendentes com tais medidas, não poderiam servir de embasamento para uma 
postura de racialização ofi cial da população afrodescendente, colocando-os em uma 
categoria de inferioridade? Aí, perguntemos ainda: em termos culturais e biológicos 
existem raças inferiores ou superiores? Não seria a idéia de raça uma construção a partir 
de uma concepção formulada através de um olhar historicamente justaposto realizado 
em classifi car tais diferenças étnicas? 
Mas, afi nal o que queremos? Abolição do racismo ou criação de 
direitos de “raça”? (...) o combate ao racismo signifi ca lutar pela 
desracialização dos espíritos e das práticas sociais. Para isso é 
preciso rechaçar qualquer medida de classifi cação racial pelo 
Estado com vistas a estabelecer um tratamento diferencial por 
raça, ou, para sermos mais claros, os direitos de raça.18
Mais do que uma simples defesa de interesses políticos, o tema das políticas afi rmativas 
e, consequentemente, anti-racistas, requer uma seriedade em se tratar da problemática 
do negro brasileiro. Mesmo que, para alguns daqueles que discutem sobre um possível 
paradoxo, no sentido de perpetuação da diferença racial com a adoção

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