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ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde 1 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 AVALIAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS PARA MEDIDA INDIRETA DA PRESSÃO ARTERIAL EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE CÉLIA REGINA FARIAS DE ARAÚJO EUGENIA VELLUDO VEIGA MOACYR LOBO DA COSTA JR. MARIA SUELY NOGUEIRA EVELIN CAPELARI CÁRNIO Oficina de Projetos em Esfigmomanometria – Departamento Geral e Especializado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de SãoPaulo Endereço para correspondência: Av. Costabile Romano, 280 – ap. 901 – Edifício Aroeira – Ribeirania – CEP 14096-030 – Ribeirão Preto – SP Este trabalho tem por objetivo avaliar o procedimento da medida indireta da pressão arterial em uma Unidade de Terapia Intensiva pelos profissionais de saúde, investigando suas práticas, identificando os passos da técnica e relacionando-a com o procedimento recomendado pelo III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (CBHA/1998). Utilizou-se um “check-list” com 28 itens relacionados ao procedimento da medida indireta da pressão arterial. Foram realizadas 54 observações do procedimento da medida indireta da pressão arterial por um único observador. A população foi constituída de 1 enfermeira (5,8%), 5 médicos (22,2%) e 16 auxiliares de enfermagem (72%). Os profissionais desconheciam que estavam sendo observados. O estudo demonstrou que 63% usaram esfigmomanômetro aneróide; 31,5%, de coluna de mercúrio; e apenas 5,6% utilizaram esfigmomanômetro automático. Quanto à escolha do membro, 47,2% escolheram o membro superior direito e 52,8%, o superior esquerdo. A lavagem das mãos antes do procedimento foi ignorada por todos nas 54 observações, tendo sido realizada apenas após o procedimento. A não-interação com o cliente durante o procedimento foi observada em 38,9% dos sujeitos. Apenas 24,1% dos indivíduos palparam a artéria braquial antes de colocar o estetoscópio, e 100% não estabeleceram o nível máximo de inflação do manguito. Conclui-se que há necessidade de investir esforços nos cuidados prestados pela equipe de saúde durante a mensuração dos valores da pressão arterial por meio da medida indireta. Há necessidade de treinamento, reciclagem e motivação da equipe quanto ao procedimento. Nem todas as recomendações do III CBHA (1998) têm sido seguidas durante a realização desse procedimento na prática clínica. Palavras-chave: pressão arterial, medida indireta da pressão arterial, profissionais de saúde. (Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2006;1 Supl A:1-8) RSCESP (72594)-1584 2 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde INTRODUÇÃO A hipertensão arterial tem se destacado nos Ser- viços de Saúde como a principal doença crônica de- generativa e a mais comum do mundo. A hiperten- são arterial hoje afeta cerca de 50 milhões de pesso- as nos Estados Unidos, e aproximadamente 1 bilhão de pessoas no mundo. Com o envelhecimento da população, a prevalência de hipertensão irá aumen- tar ainda mais, a não ser que medidas preventivas amplas e eficazes sejam implementadas.1 A hipertensão é o terceiro fator de risco, em or- dem de importância, para doenças cardiovasculares, precedido apenas pelo tabagismo e pela dislipide- mia. Chega a taxas elevadas, acometendo até 40% da população nos países desenvolvidos.2 O “Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure”1 define e classifica a hipertensão em adultos com base na média de duas ou mais medidas de pressão arterial, feitas com o paciente sentado ade- quadamente, medidas em cada uma de duas ou mais visitas ao consultório. Uma nova categoria, designada pré-hipertensão, foi adicionada, e os estágios 2 e 3 de hipertensão foram combinados. Segundo Potter e Perry3, a hipertensão é um distúr- bio freqüentemente assintomático, caracterizado por ele- vação persistente da pressão sanguínea. Em adultos jo- vens, considera-se hipertensão quando os níveis pressó- ricos estão acima de 140 (sistólica) e 90 (diastólica). A hipertensão, sem dúvida, é um matador silencioso e o primeiro grande sintoma pode ser a morte4. Não se pode deixar de reconhecer que, ainda hoje, apesar das facilidades disponíveis tanto nos países desenvolvidos como no Brasil, existe um contigente substancial de hipertensos que desconhecem serem portadores da doença, sujeitando-se passivamente à ocorrência de graves danos a órgãos vitais5. Como o diagnóstico de hipertensão arterial é ba- seado no valor obtido por meio da medida da pres- são, a identificação errônea de normotensão quando o indivíduo é hipertenso poderá privá-lo dos benefí- cios do tratamento, ao passo que o diagnóstico de hipertensão em indivíduo normotenso poderá sub- metê-lo a tratamentos desnecessários6. Os Consensos Brasileiros vêm sendo realizados no país desde 1990. E a cada quatro anos vêm sendo revisados, atualizados e discutidos. Eles têm como objetivo ser um guia prático, com a finalidade de aju- dar o médico e demais profissionais de saúde no di- agnóstico e no tratamento da hipertensão arterial. Neles, as questões relacionadas à padronização da medida indireta da pressão arterial estão presentes, embora nem sempre seguidas na prática clínica. Em fevereiro de 2002, foram publicadas as IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial7, que atualizaram o III Consenso Brasileiro de Hiperten- são Arterial (1998)8, até então existente, e reelabora- ram o que até o momento tem sido utilizado entre os especialistas no que se refere ao tratamento e ao con- trole da hipertensão arterial. Para a realização da medida indireta da pressão arterial, as IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial7 recomendam: certificar-se de que o pacien- te não está com as pernas cruzadas; promover rela- xamento para atenuar o efeito do “avental branco”; certificar-se de que o paciente não praticou exercíci- os físicos há 60-90 minutos; manter o braço do paci- ente na altura do coração, livre de roupas, com a pal- ma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeira- mente fletido; aguardar um minuto antes de inflar novamente o manguito para a estimativa do nível da pressão sistólica; ultrapassar de 20 mmHg a 30 mmHg o nível estimado da pressão sistólica; após identificação do som que determina a pressão sistó- lica, aumentar a velocidade para 5 mmHg a 6 mmHg para evitar congestão venosa e desconforto para o paciente; determinar a pressão sistólica no momento do aparecimento do primeiro som (fase I de Koro- tkoff), seguido de batidas regulares que se intensifi- cam com o aumento da velocidade de deflação; quan- do os batimentos persistirem até o nível zero, deter- minar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da sistólica/ diastólica/zero. Na literatura internacional, as recomendações quanto aos procedimentos da medida indireta da pres- são arterial já são descritas de longa data, o que pode ser constatado em algumas publicações, como, por exemplo, “American Heart Association and the Car- diac Society of Great Britain and Ireland Standardi- zation of Blood Pressure Readings” (1939)9, Petrie e colaboradores (1986)10, Poggi e colaboradores (1988)11, “American Society of Hypertension” (1992)12, Perloff e colaboradores (1993)13, “Canadi- an Coalition for High Blood Pressure Prevention and Control” (1994)14 e “World Health Organization” (1999)15, e os Consensos nacionais estão baseados nessas recomendações. No presente trabalho, optou-se por utilizar as re- comendações do III Consenso Brasileiro de Hiper- tensão Arterial (1998)8 por serem essas as vigentes no período da coleta de dados.A medida da pressão arterial é um dos procedi- mentos mais realizados, se não o mais, por enfer- meiros em todo o mundo, o que leva a supor que sua execução deva ser correta e que os dados obtidos sejam sempre fidedignos16. A fidedignidade do valor da pressão arterial depende de vários fatores, dentre eles as condições do equipamento, as boas técnicas e a qualificação dos profissionais6. Na prática, tem sido observada a desvalorização de algumas etapas imprescindíveis para a obtenção de dados fidedig- nos de pressão arterial, por parte tanto dos acadêmi- ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde 3 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 cos como dos profissionais17. A importância da verificação da pressão arterial leva a refletir sobre o procedimento de verificação de seus valores e, principalmente, a rever os passos de sua técnica18. Cuidados devem ser tomados no intuito de garantir a acurácia da medida indireta da pressão arterial, evitando fatores de erro que podem levar a interpretações incorretas19. Embora se acredite que a medida indireta da pres- são arterial seja um procedimento fácil, não onero- so, e que pode contribuir significativamente para a identificação precoce e o controle da hipertensão, é preciso identificar como vem sendo realizado esse procedimento pelos profissionais da área da saúde em diferentes locais20. OBJETIVO Este estudo tem como objetivo avaliar o procedi- mento da medida indireta da pressão arterial realizado pelos profissionais de saúde em uma Unidade de Tera- pia Intensiva, investigando suas práticas e identificando os passos da técnica, relacionando-os com as etapas do procedimento recomendadas pelo III Consenso Brasi- leiro de Hipertensão Arterial (CBHA) de 1998. MÉTODO O presente estudo foi realizado na cidade de Forta- leza, Estado do Ceará, na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital privado. A amostra constituiu-se de to- dos os profissionais de saúde dessa Unidade, que esta- vam trabalhando na escala de plantão no dia seleciona- do para a realização das observações e que concorda- ram em participar da pesquisa. Foi composta de médi- cos, enfermeira e auxiliares de enfermagem, de ambos os sexos. Os dados foram obtidos no período de 17/5/ 1999 a 12/6/1999, nos turnos da manhã, da tarde e da noite, por um único observador. Para a realização do presente estudo o projeto foi submetido inicialmente à Comissão de Ética do Hospi- tal, para apreciação e manifestação quanto a seu desen- volvimento. Posteriormente, foi solicitada autorização à chefia do setor (médica e de enfermagem). Foi tam- bém encaminhado o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – EEERP-USP. Os profissionais de saúde não foram avisados an- teriormente, para não interferir no comportamento dos profissionais observados quando da mensuração da medida indireta da pressão arterial. Durante as mensurações, foi utilizado o método de observação direta não-participativa. Inicialmente, o observador comunicou aos profissionais que estava realizando uma pesquisa e que estava observando os “procedi- mentos” de enfermagem, sem especificar qual pro- cedimento. Foi oferecida a cada participante a op- ção de participar ou não do estudo, sendo garantido seu anonimato. Os dados foram coletados pela pesquisadora, que já havia atuado profissionalmente nessa Unidade por seis anos. As observações foram realizadas nas de- pendências desse setor, onde a pesquisadora, de posse de um “check-list” com as etapas do procedimento da medida da pressão arterial, observava a realiza- ção ou não dos passos descritos, registrando tam- bém algum fato que julgasse relevante. Para discutir os dados obtidos nesse experimento, optou-se por seguir a seqüência do “check-list”, deno- minado protocolo. O “check list” foi elaborado segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1998)8, contendo questões estruturadas de modo a possibilitar a coleta dos dados dos pacientes e as “observações” reali- zadas (Tab. 1). Foi utilizado um instrumento (Tab. 2), pelo qual o funcionário foi acompanhado durante a ve- rificação dos sinais vitais, mais especificamente da pres- são arterial, procurando conferir a técnica realizada pelo mesmo com o instrumento (protocolo) previamente ela- borado segundo as normas de aferição da pressão arteri- al constantes no III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1998)8, acrescido dos itens: lavagem das mãos antes e após o procedimento, estabelecimento de intera- ção com o cliente, e número da ficha de paciente. Foram observadas no máximo quatro medidas. O tempo gasto para cada observação foi de dois mi- nutos. Alguns foram observados mais de uma vez durante a aferição da pressão arterial. PROCEDIMENTO DO ESTUDO O procedimento foi considerado correto quando os passos realizados correspondiam aos do “check- list”, e foi considerado errado quando diferia dessa recomendação. Os dados foram processados em computador na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Uni- versidade de São Paulo, empregando o programa “EPI-INFO” da Organização Mundial da Saúde. RESULTADOS Foram avaliados 22 profissionais de saúde, da equipe de trabalho da Unidade de Terapia Intensiva, que estavam de plantão no dia escolhido pela autora e que mediram a pressão arterial, incluindo 5 médi- cos, 1 enfermeira e 16 auxiliares de enfermagem. Desses profissionais, 17 (77,2%) eram do sexo fe- minino e 5 (22,8%) eram do sexo masculino, dos quais 6 trabalhavam no turno da manhã (27,2%), 8 (36,3 %) trabalhavam no turno da tarde, 8 (36,3%) no turno da noite e 1 nos turnos da manhã e da noite na mesma unidade (foi observado no período notur- no). Foram observados alguns funcionários mais de uma vez, durante a aferição da medida indireta da 4 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde Tabela 1. Instrumento de coleta de dados. Etapas dos procedimentos Sim Não 1. Instrumento utilizado: 1.1. Coluna de mercúrio 1.2.Aneróide 1.3. Automático 2. Posição escolhida: 2.1. Sentada 2.2. Deitada 2.3. De pé 3. Membro de escolha: 3.1. Membro superior direito 3.2. Membro inferior direito 3.3. Membro superior esquerdo 3.4. Membro inferior esquerdo 4. Lava as mãos antes e após: Antes: Depois: 5. Estabelece interação com o cliente 6. Explica o procedimento ao cliente 7. Posiciona o braço do cliente 8. Localiza a artéria braquial pelo método palpatório 9. Indaga sobre a ingesta de “drogas” 10. Indaga sobre a ingesta de dieta hipossódica 11. Solicita membros inferiores relaxados e não cruzados 12. Indaga sobre valor habitual da pressão arterial 13. Coloca o manguito no local adequado 14. Posiciona o olhar na altura da coluna de mercúrio e/ou manômetro 15. Faz uso do estetoscópio 16. Posiciona a campânula ou o diafragma sobre a artéria braquial 17. Determina o nível máximo de insuflação por meio da palpação 18. Desinsufla o manguito 2 a 3 segundos 19. Aguarda no mínimo 30 segundos para nova verificação 20. Anota de acordo com o valor encontrado 21. Informa o valor encontrado 22. Em caso de pressão arterial elevada, verifica em intervalos menores. Quanto tempo: Certifica (30 minutos antes) 23. Não está com bexiga cheia 24. Não praticou atividade física 25. Não ingeriu bebida alcoólica 26. Não ingeriu café 27. Não fumou 28. Não conversou durante a medida pressão arterial: o máximo foi de 4 medidas, sendo estas realizadas com o pessoal do período noturno. Os dados foram colhidos e tratados por números absolutos e porcentagem, sendo apresentados por meio de tabelas. Foram observadas 9 medidas do profissionalmédi- co, 2 do enfermeiro e 43 dos auxiliares de enfermagem. Em nenhuma das 54 observações constatou-se problema ou procedimento incorreto nas medidas em relação aos seguintes itens do instrumento: 9. Indaga sobre a ingesta de “drogas”; 10. Indaga sobre a ingesta de dieta hipossódica; 14. Posiciona o olhar na altura da coluna de mercú- rio e/ou manômetro; 15. Faz uso do estetoscópio; 16. Posiciona a campânula ou o diafragma sobre a artéria braquial; 18 . Desinsufla o manguito 2 a 3 segundos; ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde 5 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 Tabela 2. Procedimentos da aferição da medida indireta da pressão arterial, por etapas, conforme reco- mendação do III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1998), comparando com a prática observada na Unidade de Terapia Intensiva em um hospital de Fortaleza, Ceará, entre maio e junho de 1999. Executou Não executou Itens observados n % n % 1. Instrumento: 1.1. Coluna de mercúrio 17 31,5 - - 1.2. Aneróide 34 63,0 - - 1.3. Automático 3 5,6 - - 2. Posição escolhida: 2.1. Sentada 3 5,6 - - 2.2. Deitada 51 94,4 - - 2.3. De pé - - - - 3. Membro de escolha: 3.1. Membro superior direito 25 47,2 - - 3.2. Membro inferior direito - - - - 3.3. Membro superior esquerdo 28 52,8 - - 3.4. Membro inferior esquerdo - - - - 4. Lava as mãos antes e após - - 54 100 5. Estabelece interação com o cliente 33 61,1 21 38,9 6. Explica o procedimento ao cliente 45 83,3 9 16,7 7. Posiciona o braço do cliente 53 98,1 1 1,9 8. Localiza a artéria braquial pelo método palpatório 13 24,1 41 75,9 9. Indaga sobre a ingesta de “drogas” 54 100 - - 10. Indaga sobre a ingesta de dieta hipossódica 54 100 - - 11. Solicita membros inferiores relaxados e não cruzados 36 66,7 18 33,3 12. Indaga sobre valor habitual da pressão atual 25 46,3 29 53,7 13. Coloca o manguito no local adequado 45 83,3 9 16,7 14. Posiciona o olhar na altura da coluna de mercúrio e/ou manômetro 54 100 - - 15. Faz uso do estetoscópio 54 100 - - 16. Posiciona a campânula ou o diafragma sobre a artéria braquial 54 100 - - 17. Determina o nível máximo de insuflação por meio da palpação 3 5,6 51 94,4 18. Desinsufla o manguito 2 a 3 segundos 54 100 - - 19. Aguarda no mínimo 30 segundos para nova verificação 54 100 - - 20. Anota de acordo com o valor encontrado 52 96,3 2 3,7 21. Informa o valor encontrado 40 74,1 14 25,9 22. Em caso de pressão arterial elevada, verifica em intervalos menores. Quanto tempo: 52 96,3 2 3,7 23.Não está com bexiga cheia 29 53,7 25 46,3 24. Não praticou atividade física 54 100 - - 25. Não ingeriu bebida alcoólica 54 100 - - 26. Não ingeriu café 25 46,3 29 53,7 27. Não fumou 54 100 - - 28. Não conversou durante a medida 54 100 - - 24. Não praticou atividade física; 25. Não ingeriu bebida alcoólica; 27. Não fumou; e 28. Não conversou durante a medida. Dois itens apresentaram altíssima freqüência de pro- cedimento inadequado. O primeiro deles foi o item 4 6 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde (“Lava as mãos antes e após”), em que das 54 observa- ções realizadas nenhuma delas evidenciou a lavagem das mãos anterior ao procedimento. O outro é o item 17 (“Determina o nível máximo de insuflação por meio da palpação”), com 51 observações de problemas no pro- cedimento. É sabido que a falta de anti-sepsia propicia a infec- ção cruzada. As mãos dos profissionais de saúde, por estarem diretamente em contato com o paciente, devem ser lavadas antes e após cada procedimento, pois essa atitude representa importante prevenção da dissemina- ção dos microrganismos. Como pode ser visto na Tabela 2, verificou-se que em 100% (54) das observações realizadas nenhum dos observados lavou as mãos antes do procedimento da medida da pressão arterial. Cabe ressaltar que não foi observado se, antes do procedimento propriamente dito, o observador já havia realizado a lavagem das mãos para realizar outro procedimento com o mesmo paciente ava- liado. A lavagem das mãos “antes” é para evitar o trans- porte de microrganismos para o paciente, a partir de al- guém ou alguma coisa. A lavagem “após” é para dimi- nuir a disseminação de microrganismos entre outras pessoas, particularmente entre pacientes internados em unidades restritas(21). Quanto ao item 17, é importante aferir ante-riormente a pressão arterial sistólica por palpação para evitar a in- suflação exagerada do manguito e a conseqüente com- pressão demasiada da artéria, alterando os níveis pres- sóricos. A palpação do pulso é fundamental para evitar o desconforto desnecessário ao paciente. Constatou-se aqui, também, que, em 94,4% (51), os profissionais não determinaram o nível máximo de insuflação por meio da palpação (mensurado em equipamento aneróide e/ ou de coluna de mercúrio). Foram realizada três medi- das com equipamento automático (dispensa tal procedi- mento). Quando o observador deixa de verificar previamen- te a pressão máxima pelo método palpatório, corre o risco de perder a fase I e, assim, subestimar o valor da pressão sistólica5. Outros seis itens também chamam a atenção, em função da alta freqüência de observações de procedi- mentos inadequados. São eles: 12. Indaga sobre valor habitual da pressão arterial (29 observações); 26. Não ingeriu café (29 observações); 23. Não está com bexiga cheia (25 observações); 5. Estabelece interação com o cliente (21 observações); 11. Solicita membros inferiores relaxados e não cruza- dos (18 observações); e 21. Informa o valor encontrado (14 observações). Todos esses itens estão relacionados com a intera- ção paciente/profissional, indicando que nem sempre a interação recomendada é realizada, evidenciando que o procedimento de mensuração da pressão arterial é reali- zado de forma mecânica. O enfermeiro Cláudio Porto22, chefe da fiscalização do COREN-SP, no treinamento para implantação do Processo de Enfermagem (agosto/1999), relata: “Fora os instrumentos legais de fiscalização do exercício pro- fissional, a única forma de melhorar a qualidade de cui- dar é por meio da aproximação efetiva do enfermeiro ao paciente, planejando, coordenando, supervisionando e avaliando a assistência de enfermagem”. Saber sobre os valores habituais da pressão arterial é de fundamental importância, pois evita-se, assim, a in- flação desnecessária do manguito e, conseqüentemen- te, desconforto para o paciente. Araújo23, em relação à determinação do nível máxi- mo de insuflação por meio da palpação, relata: “Inde- pendentemente do conhecimento e da habilidade do observador, determinadas medidas devem ser observa- das com o objetivo de comprovar a credibilidade dos dados obtidos. Recomenda-se que seja feita inicialmen- te uma medida preliminar da pressão arterial para o cli- ente que não está habituado a ter sua pressão arterial verificada com freqüência, visando a adaptá-lo às sen- sações de inflação e deflação do manguito e que os va- lores considerados sejam obtidos numa segunda verifi- cação”. É necessário informar ao paciente o valor da pres- são arterial, com o intuito de tranqüilizá-lo, e sobretudo de obter a colaboração do mesmo no processo de con- trole dos níveis pressóricos. Sabe-se que o envolvimen- to do cliente em seu autocuidado aumenta sua adesão ao tratamento e oferece maior garantia para a terapêutica recomendada. Distensão vesical, alimentação, álcool e fumo são fatores que influenciam os registros obtidos e que deve- riam ser levados em conta na interpretação dos resulta- dos dos valores da pressão arterial obtidos24. CONCLUSÃO A finalidade deste estudo foi avaliar o procedimen- to da medida indiretada pressão arterial entre os profis- sionais de saúde numa Unidade de Terapia Intensiva, seguindo as recomendações do III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. O estudo permitiu concluir que: – não há adequação do procedimento da medida indire- ta da pressão arterial; – algumas das recomendações do III Consenso Brasi- leiro de Hipertensão Arterial (1998) não têm sido seguidas pelo grupo observado; – há necessidade de investir esforços em treinamento, reciclagem, educação permanente e motivação da equipe quanto ao procedimento da medida indireta da pressão arterial, seguindo-se as recomendações das diretrizes de Sociedades de Especialistas; – o uso de diferentes larguras do manguito seria reco- mendável, a fim de evitar erros na obtenção dos va- lores da pressão arterial. ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde 7 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 EVALUATION OF PROCEDURES FOR THE INDIRECT MEASUREMENT OF BLOOD PRESSURE BY HEALTHCARE PROFESSIONALS IN AN INTENSIVE CARE UNIT CÉLIA REGINA FARIAS DE ARAÚJO EUGENIA VELLUDO VEIGA MOACYR LOBO DA COSTA JR. MARIA SUELY NOGUEIRA EVELIN CAPELARI CÁRNIO This paper aims to evaluate the procedure for the indirect measurement of blood pressure by healthcare professionals in an Intensive Care Unit, investigating their practice and identifying the steps for such technique and relating it to the procedure recommended by the III Brazilian Consensus on Arterial Hypertension (CBHA/1998). A check list containing 28 items related to the procedure for the indirect measurement of blood pressure was utilized. One only observer carried out 54 observations of the procedure of indirect measurement of blood pressure. The population consisted of one nurse (5.8%), five physicians (22%), and sixteen nursing auxiliaries (72%). The professionals did not know that they were being observed. 63% used an aneroid sphygmomanometer, 31.5% used a mercury-column and only 5.6% used the automatic type. 47.2% chose the upper right limb and 52.8% the left one. Hand washing before the procedure was ignored by all professionals and only one had the hands washed after the procedure had been carried out. The lack of interaction with the patient during the procedure was observed in 38.9% and 24.1% touched the brachial artery before placing the stethoscope. One hundred percent under observation did not establish the maximum level of inflation of the arm cuff. We could conclude that there are problems concerning the care given during the measurement of blood pressure values by means of the indirect measurement. It is necessary to train, to update and to motivate the healthcare team regarding such procedure. Not all the recommendations of the III CBHA (1998) are followed when this procedure is utilized in clinical practice. Key words: blood pressure, indirect measurement of blood pressure, healthcare professionals. (Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2006;1 Supl A:1-8) RSCESP (72594)-1584 8 RSCESP SUPLEMENTO A JAN/FEV/MAR 2006 ARAÚJO CRF e cols. Avaliação dos procedimentos para medida indireta da pressão arterial em Unidade de Terapia Intensiva por profissionais de saúde REFERÊNCIAS 1. The Seventh Report of the Joint National Com- mittee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. JAMA. 2003;289:2560-72. 2. Faludi AA, Mastrocollo LE, Bertolami MC. Atu- ação do exercício físico sobre os fatores de risco para doenças cardiovasculares. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 1996;6(1):1-5. 3. Potter PA, Perry AG. Grande tratado de enfer- magem prática: clínica e prática hospitalar. 3ed. São Paulo: Santos Ed.; 2002. p. 185-211. 4. Cooper KH. 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