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ESMEG – ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DE GOIÁS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Bruno Pontes - 2012 
 
Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, ainda que parcial, sem autorização prévia (Lei 
9.610/98) 
 
 
AULAS 01 E 02 – CONSTITUCIONALISMO, DIREITO CONSTITUCIONAL E CONCEITO E SENTIDOS DE CONSTITUIÇÃO 
 
Sumário: 
 
I. CONSTITUCIONALISMO E DIREITO CONSTITUCIONAL 
I.1 Considerações gerais 
I.2 Sentidos de constitucionalismo 
I.3 Origem e divisão histórica do constitucionalismo 
I.4 Neoconstitucionalismo 
I.5 Direito constitucional 
I.6 Origem do direito constitucional 
I.7. Características do Direito Constitucional 
I.8 Direito constitucional e teoria geral da Constituição 
I.9 Divisões do direito constitucional 
2.0 Direito constitucional processual e direito processual constitucional 
 
II. CONCEITO E SENTIDOS DE CONSTITUIÇÃO 
II.1 Definindo Constituição 
II.2 Sentidos de Constituição 
II.3 Outros sentidos de Constituição 
II.4 Conceito de Constituição 
II.5 Classificação de constituições 
II.6 Outras classificações 
II.7 Classificação da Constituição de 1988 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo I: 
CONSTITUCIONALISMO E DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
“Por trás de todo direito há um rasto de sangue”. 
 
I.1. Considerações gerais 
 
 As primeiras conquistas do homem foram contra o próprio homem. O bando que tinha mais 
força dominava as propriedades, a comida e as fêmeas do outro bando. Por isso, os homens resolveram 
criar algo poderoso, que pudesse resguardar suas propriedades e gerar, assim, um mínimo de segurança 
para viver: criaram o Estado, concentrando nele toda a força disponível, transformando-se na primeira 
grande conquista do homem, enquanto ser social. 
 Se os homens resolveram delegar poderes para o Estado, concentrado nele toda a força 
necessária para manter a paz social, era de se supor que o Estado acabasse abarcando a tudo e a todos; que 
acabasse sendo absoluto. A intenção era esta mesma: o Estado deveria ser absoluto, não podendo ser a ele 
oposto outro poder, outra força, sob pena de balbúrdia, insegurança e fragilidade do próprio Estado. Por 
isso é que o inglês Thomas Robbes (05.04.1588 – 04.12.1679) chegou a comparar o Estado ao monstro 
bíblico “Leviatã”, no livro Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, de 1651, 
enfocando que seria necessário um contrato social entre os povos para celebrar a paz, porque os homens 
são egoístas e caminham inevitavelmente para a guerra. Seria necessário, portanto, algo poderoso e 
soberano para limitar esta fraqueza humana e impor medo aos homens, afastando os problemas que esta 
fraqueza pode ocasionar, como guerra, caos, injustiças, desordem e insegurança. Era uma época em que o 
Estado precisava ser forte, daí porque Hobbes afirmou: “Esta é a geração daquele enorme Leviatã, ou antes 
– com toda reverência – daquele deus mortal, ao qual devemos, abaixo de Deus Imortal, nossa paz e 
defesa”. 
O absolutismo estatal deveria, portanto, ser canalizado unicamente para gerar paz, 
segurança e justiça social. Não foi, entretanto, o que ocorreu. Na verdade, nos primórdios da criação do 
Estado a humanidade não conhecia o recado do francês Montesquieu (18.01.1689-10.02.1755): todo 
homem que tem o poder sente inclinação para abusar dele, e segue abusando até encontrar limites. Foi por 
isso que os homens não imaginaram, originalmente, que o Estado, que é uma ilustração simbólica cuja força 
se efetiva pelas mãos do homem, se voltaria contra os próprios homens, tornando-se opressor e violento. 
Não se imaginava que a vontade por mais segurança e justiça acabaria trazendo outras formas de 
insegurança e injustiça, forjando a humanidade a lutar contra o próprio Estado. Porém, se a conquista do 
homem contra o próprio homem, criando o Estado, apesar de natural, foi difícil, as conquistas contra o 
próprio Estado foram ainda mais penosas. 
Muito mais sob a insígnia do ódio do que propriamente do amor, a humanidade passou a 
lutar com intensidade em busca de cada direito, dando razão à concepção realista dos direitos 
fundamentais. Até um dos primeiros direitos do ser humano, o direito ao sepultamento, foi conquistado a 
duras penas. Não foi à toa que a espada – ou cornucópia - foi parar em uma das mãos da Deusa Têmis, o 
símbolo da Justiça, porque na verdade não quer representar apenas a força do Direito, mas também as lutas 
que o antecederam: se foi preciso a utilização da força bruta para conquistar um direito, a Deusa Têmis 
deixa claro que a mesma força será utilizada para efetivá-lo. 
 O constitucionalismo, ao lado, antes e depois de muitos outros movimentos, surgiu neste 
momento de assombro da sociedade para com um Estado desvirtuado dos verdadeiros e razoáveis motivos 
que o fizeram surgir. A sociedade, estupefata, porém mais crítica, organizada e corajosa, começou a se 
insurgir contra o leviatã, para que fosse preservada a liberdade individual e a propriedade privada, 
comumente devassadas pelo Estado. É que o Estado absolutista, especialmente o Estado absolutista 
monárquico, começou a eliminar o espaço individual dos homens, restringindo suas vontades pessoais e 
inevitavelmente causando a deflagração do movimento liberal: era preciso conter a atividade estatal para 
dar segurança ao círculo subjetivo do ser humano, por meio da maximização da liberdade individual e 
limitação legal da vontade estatal. 
 Muitos movimentos, revolucionários ou não, marcaram a história da humanidade. Porém, 
um deles, o Iluminismo, surgiu forte no Século XVIII, exultando a razão para explicar as coisas e servindo de 
grande impulsionador do constitucionalismo. Herdeiro do renascimento e do humanismo, o Iluminismo 
valorizava a razão e o homem, inserindo este como centro do universo (antropocentrismo). Teve a seu favor 
o gênio de grandes pensadores da humanidade: John Locke (1632-1704), que enfatizou a aquisição de 
conhecimento do homem pela experiência empírica; Voltaire (1694-1778), ardo defensor da liberdade de 
pensamento e contumaz crítico da intolerância religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que defendia 
a igualdade de todos por meio de um Estado democrático; Montesquieu (1689-1755), que massificou e deu 
cientificidade à divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; e Denis Diderot (1713-1784) 
e Jean le Rond d’Alembert (1717-1783), que, juntos, reuniram em uma enciclopédia o conhecimento e o 
pensamento filosófico da época. 
 Após o transcurso de uma longa estrada contra o Estado Leviatã, transcurso muitas vezes 
marcados por lutas terríveis e sanguinolentas, não demorou para que se sobrepujasse na sociedade o 
sentimento de que o poder político deveria ser legalmente limitado, não podendo estar livremente solto na 
cabeça daqueles que detêm o poder, sob pena de inevitáveis arbitrariedades e prejuízos para a liberdade 
individual. Este sentimento generalizado acabou encontrado um método inteligente de controle do Estado, 
ao enfatizar a necessidade de um documento superior contendo regras de contenção da atividade estatal e 
direitos e garantias básicas para que os homens tivessem uma existência digna. Todo o conjunto de forças 
da sociedade, então, começou a se engajar contra o Estado e contra a falta de cientificidade que imperava. 
Tanto a sociedade quanto os Conselhos Parlamentares, e até os grandes juristas e filósofos, começaram a 
lutar para que, em cada país, fosse construído documentos vistosos e suficientemente capazes de limitar e 
regular o Estado. Era o constitucionalismo, nascendo em prol do homem e de sua liberdade individual e 
contra as arbitrariedades estatais, epor isso mesmo muitas vezes taxado de subversivo. 
 Portanto, o constitucionalismo significou uma conquista da humanidade, e pode ser 
considerando um movimento político, ideológico e jurídico que ocorreu durante o Iluminismo, por oposição 
ao absolutismo, e que tinha por fim estabelecer o regime constitucional em um determinado país para 
limitar e tornar razoável a atuação estatal, protegendo, assim, a liberdade individual do ser humano. Foi, na 
verdade, uma técnica jurídica encontrada pelo mundo, que se iniciou precipuamente para que o Estado não 
violasse os direitos dos cidadãos, e foi avançando para regulamentar cada vez mais a atividade estatal, e 
com o tempo passou a ter maiores contornos científicos, com é o caso da ideia de superioridade hierárquica 
em relação às demais normas, força normativa, separação dos poderes, criação de sistema de freios e 
contrapesos, aumento das previsões constitucionais e concretização da jurisdição constitucional. 
 Necessário enfatizar que o constitucionalismo não nasceu junto com a democracia. Pode-se 
dizer que o constitucionalismo abriu as possibilidades para se criar a democracia, mas no início o 
constitucionalismo não tinha a intenção de determinar as formas de participação da sociedade no poder, 
mas apenas conter este poder. Depois que se fixou a ideia de que o poder estatal deveria ser limitado pela 
Constituição, logo a humanidade passou a se preocupar com as fórmulas de concretização das 
constituições, e aí sim houve a grande preocupação de que estas fórmulas incluíssem diretamente a 
vontade do povo, para efetivação da soberania popular. 
 
I.2. Sentidos de constitucionalismo 
 
 É possível dividir o constitucionalismo em dois sentidos: o amplo e o estrito. 
No sentido amplo, constitucionalismo significa que todo Estado sempre possui uma 
Constituição, seja em qualquer época da humanidade. Mesmo não havendo um documento formal 
chamado de Constituição, há uma constituição, na sociedade, de regulamentações, mesmo que 
costumeiras. Este sentido amplo enfatiza que sempre haverá regulamentações para as condutas, sempre 
haverá limites, em decorrência da cultura da sociedade e dos diversos métodos de controle social e de 
relacionamento humano. Até na mais afastada aldeia indígena, haverá formas razoáveis e aceitas de regular 
a conduta dos integrantes do grupo, mesmo que a regulamentação não esteja expressa em um documento. 
No sentido estrito, constitucionalismo significa uma técnica jurídica elaborada para colocar 
em um documento escrito superior, a tutela das liberdades e regular os poderes do Estado, limitando-os 
para o fim de impedir a opressão e o abuso. 
Interessante notar que o sentimento do constitucionalismo surgiu de forma ampla, mas o 
constitucionalismo conhecido na doutrina constitucional é aquele em sentido estrito. Afinal, não haveria 
como lutar por um documento superior, se a sociedade não aceitasse, culturalmente, a necessidade de 
afunilar as suas grandes reservas morais e éticas, inclusive contra o Estado, em uma Constituição. 
 
 
I.3. Origem e divisão histórica do constitucionalismo 
 
 É costume destacar que a origem formal do constitucionalismo está nas Constituições 
escritas e rígidas dos Estados Unidos da América, de 1787, e da França, de 1791, consequência das 
Revoluções Burguesas deste final do Século XVII. Foi a partir destes momentos da história da humanidade 
que o mundo definitivamente se inclinou para a necessidade de cada país ter sua Constituição, e nela 
constar a organização do Estado, suas limitações, além da previsão de direitos e garantias fundamentais 
para os cidadãos. 
 Muitos movimentos e revoluções propiciaram a existência do constitucionalismo. É o caso 
da Revolução inglesa do Século XVII (iniciada com a Revolução Puritana de 1640 e concluída com a 
Revolução Gloriosa 1688), que significou, em apertada síntese, a limitação ao absolutismo monárquico pela 
transferência dos poderes para o Parlamento. Também é possível citar o movimento, na própria Inglaterra, 
que forjou a Magna Carta de 1215. Esta Carta, aliás, é considerada como a origem medieval do 
constitucionalismo no mundo, porque limitou os poderes do então Rei João Sem Terra. 
Porém, o mundo realmente despertou definitivamente contra o Estado Leviatã, e passou à 
Idade Contemporânea, após a Independência Americana de 1776 e a Revolução Francesa de 1789. A partir 
destes momentos únicos da história da humanidade, o mundo foi todo mudado e as ideias 
constitucionalistas passaram a campear a mente da burguesia, das elites em geral e, em muitos casos, até 
mesmo da plebe, manuseada muitas vezes, é verdade, mas sem dúvida beneficiada pela existência de uma 
Constituição então inexistente ou inexpressiva em face do Estado. 
Por isso é correto dizer que a base do Direito Constitucional é a estrutura do Estado e os 
direitos fundamentais. Esta base foi lançada na Revolução Francesa, quando seus operadores, frêmitos, 
lançaram ao mundo o art. 16 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, 
surgida em meio à Revolução Francesa e que posteriormente serviu de base para a Declaração dos Direitos 
Humanos de 1948. O dispositivo dizia: “Toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos 
e determinada a separação dos Poderes, não tem Constituição”. 
 O mundo deve às duas revoluções que antecederam as constituições dos Estados Unidos de 
1787 e da França de 1791, o sentimento constitucional, até então adormecido. A partir daí, a sociedade 
mundial acordou para a necessidade de cada país ter uma Constituição soberana, austera, simbólica, e que 
representasse os anseios mais devotos da sociedade e que fosse sempre um marco na limitação do Poder 
Público. 
 Veja que o constitucionalismo surgiu entrelaçado com a ideia de liberalismo1, isto é, com a 
ideia de preservação da liberdade individual, no campo econômico, político, religioso e intelectual, contra as 
investidas e as interferências insensatas e arbitrárias do Poder Público. Naquele momento histórico do final 
do Século XVIII, que suscitaram as revoluções nas então colônias da Inglaterra (Estados Unidos) e na França, 
o mundo estava sendo contaminado com as ideias liberais. A maior prova disto é que Adam Smith havia 
publicado o seu livro A Riqueza das Nações, no ano de 1776, que iniciou a consolidação do capitalismo ao 
sustentar que a iniciativa privada em busca do busca do lucro é uma força imensa que incrementa a 
capacidade e a criatividade humana, produzindo riquezas, desenvolvimento, libertação do ser humano e 
bem estar comum. 
 Por isso, o constitucionalismo foi influenciado decisivamente pelo liberalismo, no sentido de 
que as constituições poderiam frear as intervenções arbitrárias do Poder Público e, consequentemente, 
atingir o objetivo maior, que era dar segurança aos indivíduos para, com liberdade individual, viver e 
produzir, mesmo que para isso tivesse que se arriscar. 
 Por fim, resta lembrar que a doutrina costuma dividir o constitucionalismo sob a perspectiva 
histórica: 
 
1
 Pode-se dizer que as Revoluções Americana e Francesa provocaram o aparecimento do Estado Liberal: Estado 
estruturado política e juridicamente para não intervir da economia e na liberdade do cidadão, deixando a sociedade 
livre para ditar, com suas próprias forças, seu próprio destino. As consequências foram: a) superação do absolutismo 
estatal, especialmente o absolutismo monárquico; b) aparecimento do Estado mínimo (intervenção mínima possível na 
esfera particular dos cidadãos) e dos direitos fundamentais de primeira geração (liberdades públicas – liberdade de ir e 
vir, de expressão, de associação e de reunião, liberdade religiosa, direito de propriedade, direitos políticos -, que 
garantem uma abstenção do Estado); c) Estado começa a ser laico (separação do Estado com a religião);d) ideia mais 
sólida de soberania popular (a fundamentação do poder se desvincula das questões transcendentais e religiosas e 
passa a ser ligada à vontade da nação, do povo, ambiente próprio para a teorização do Poder Constituinte, feito por 
Emmanuel Sieyès. Adiante, veja mais detalhadamente em Poder Constituinte). 
 Constitucionalismo Antigo, ou da Antiguidade. 
 
Foi o surgimento tímido das características do constitucionalismo junto ao povo hebreu, a 
partir do momento em que o povo sentiu-se incomodado com atos estatais que estariam violando a moral 
religiosa/bíblica, fiscalizando-os por seus profetas, inclusive com a criação, ainda no distante Século V antes 
de Cristo, das cidades com características democráticas (Cidades-Estados gregas, com democracia direta e 
maior participação popular). 
 
 Constitucionalismo Medieval. 
 
Trata-se do constitucionalismo surgido durante a Idade Média (476 d.C-1453 d.C), e teve 
como marco a Magna Carta de 1215 (Carta do Rei João Sem Terra). Foi, na verdade, um movimento 
liderado pela burguesia inglesa que, aproveitando-se dos fracassos do Rei João Sem Terra, que havia 
perdido batalhas importantes para ampliação do império britânico, acabou impondo limites à vontade do 
monarca, especialmente para proteção contra a fúria tributária e acusatória do Estado Monárquico 
Absolutista da Inglaterra. 
 
 Constitucionalismo Moderno. 
 
Inaugurado com as constituições dos Estados Unidos de 1787 e da França de 1791, 
marcando uma época de instrumentos normativos escritos que continham a atividade estatal, após a 
influência do Iluminismo e do liberalismo no mundo para que o Estado não interferisse na liberdade 
individual dos homens, liberando-os para agirem conforme seus méritos. O constitucionalismo moderno 
foi o responsável pela noção atual de que Constituição é uma norma superior a todas as demais, escrita, 
codificada e imperativa, que impõe divisão de poderes, assegura os direitos e garantias individuais e 
estabelece as vigas-mestras do Estado, com fundamento na soberania popular, e que só pode ser 
modificada por meio de um processo mais rígido que o processo de modificação das outras leis (não se 
pode perder de vista que esta noção não é de toda correta, tendo-se em vista a existência de constituições 
não-codificadas e não-escritas, como é o caso da Inglaterra). 
 
 Constitucionalismo Contemporâneo. 
 
Fase atual do constitucionalismo, também conhecido como neoconstitucionalismo (vide a 
seguir), com valorização das constituições e desvalorização da lei, em face da incapacidade desta de conter 
os abusos do Estado e de seus governantes. Daí porque as constituições passaram a representar a 
esperança do povo, incluindo nelas todos os clamores, com a consequência de torná-las analíticas, 
carregadas de várias matérias e muitos programas e metas vinculantes para o Estado (dirigismo estatal). A 
fase atual superou, sem dúvida, aquele momento da histórica em que as constituições eram apenas 
instrumentos de coordenação e organização do governo, sem força normativa e vinculante, vistas como 
símbolos de mudança histórica. A era atual é da “Constituição Total” (“totalitarismo constitucional”), 
porque engloba tudo e a todos, dirigindo a atuação do Estado (“Constituição Dirigente”, que exige ações do 
Estado), não mais se prestando apenas a limitar a atuação do Estado por meio da fixação de direitos e 
garantias individuais (“Constituição-Garantia”, que exige abstenção do Estado). Por isso, o 
constitucionalismo atual acaba produzindo várias situações, como é a superação do positivismo e o 
aparecimento do pós-positivismo, a normatividade dos princípios, os novos métodos de interpretação 
constitucional e o maior papel político do Judiciário, incrementando seu protagonismo na vida da 
sociedade. 
 
I.4. Neoconstitucionalismo 
 
 Hoje se fala em neoconstitucionalismo, para enfocar um novo movimento, surgido após a 2ª 
Guerra Mundial, para que as constituições fossem mais abrangentes, aumentando a jurisdição 
constitucional, incluindo normas programáticas de cunho social e com superioridade hierárquica em relação 
às outras normas. É dizer: não basta apenas a Constituição limitar a atuação estatal, exigindo da mesma 
uma abstenção, porque é preciso que a Constituição exija uma ação estatal para melhorar as condições de 
vida do povo, passando ela a ser o ponto de partida para obrigar a todos, com possibilidade dos atos 
inferiores serem nulos. O neoconstitucionalismo confunde-se com o constitucionalismo contemporâneo. 
 As constituições surgiram sintéticas, muitas vezes como símbolos de um momento histórico 
de ruptura. Portanto, natural serem pouco carregadas de matérias, porque bastava a inserção de um ou 
dois assuntos essenciais, como divisão do poder e direitos e garantias individuais, até porque o importante 
era a revolução e o sentimento social expressado na Constituição. O mundo, porém, assustou-se com a 
capacidade malévola do Estado, em especial após as calamidades da 2ª Guerra Mundial, e enxergou nas 
constituições um porto seguro para despejar todas as suas ansiedades. 
 O marco histórico deste novo direito constitucional é a Lei Fundamental de Bonn 
(Constituição Alemã de 1949), com a consequente criação do Tribunal Constitucional Federal em 1951, e a 
Constituição da Itália de 1947, e a também consequente criação da Corte Constitucional em 1956. A partir 
de então, foi gerado um amplo movimento com novas características, que desembocaram especialmente na 
redemocratização e da expansão da jurisdição constitucional, como ocorreu em Portugal em 1976 e na 
Espanha em 1978. É possível dizer que o neoconstitucionalismo desenvolveu-se na Europa, ao longo da 
metade do século XX, e no Brasil tardiamente após a Constituição de 1988. 
 Como não poderia deixar de ser, o termo neoconstitucionalismo pode ser contestado, na 
medida em que a nova onda de ver e sentir as constituições pode muito bem ser chamado de uma nova 
fase do constitucionalismo, ou então apenas a ratificação do desenvolvimento do constitucionalismo. É até 
possível falar em constitucionalismo primitivo, antigo, moderno e pós-moderno, ou contemporâneo, mas o 
importante, de todo modo, é destacar que a sociedade mundial elegeu a Constituição para nela 
desembocar os anseios e valores que vão se cristalizando, e enxergar nela o local correto de depositar uma 
“esperança civilizada”. Por certo que não basta descarregar as ansiedades na Constituição, mas é, sem 
dúvida, um ótimo começo, porque demonstra cada vez mais a necessidade de concretizar sentimento 
constitucional, para integrar a sociedade em um compromisso nacional estampado no documento supremo. 
Pode-se dizer, também, que o neoconstitucionalismo caracteriza-se pelo pós-positivismo, 
isto é, certa confluência entre o jusnaturalismo e o positivismo. Isto ocorreu porque o jusnaturalismo 
procurava dar proximidade entre lei e razão, sempre baseado na filosofia e nos princípios universalmente 
aceitos, mas pecava por ser metafísico e anticientífico, dando margens a excessivas subjetividades, daí a 
insegurança. Era baseado no direito livre: o aplicador do direito deve vislumbrar primeiro uma decisão justa, 
e depois buscar um fundamento para a decisão. O jusnaturalismo, portanto, se preocupava com a limitação 
com o direito naturalmente considerado pelo grupo social, e acabava influenciando as decisões, no sentido 
de não haver um vínculo inicial e intenso do julgador com a lei, daí porque seu principal método era o 
casuísmo (decisão de acordo com o caso e a ética pessoal do julgador). Por outro lado, o positivismo 
buscava a objetividade científica e acabava por colocar o Direito, a justiça e a filosofia, na lei, 
supervalorizando-a e criando uma legalidade estrita. O positivismo deu ensancha a injustiças e 
autoritarismo, como ocorreu no fascismo e no nazismo, que sempre agiram sob a proteçãoda lei, porque 
sempre havia o risco de colocar toda a ideologia política, as vaidades pessoais dos governantes, na lei, sem 
que ninguém pudesse discordar, interpretar ou tê-la por inválida (decisão de acordo com o silogismo). 
Qual das possibilidades deveriam ser extirpadas: a insegurança do jusnaturalismo ou a 
possibilidade de injustiça do positivismo? Se de um lado a lei poderia ser usada para limitar as mentes e 
colocar, à ferro e fogo, a ideologia de quem está no poder, por outro lado o jusnaturalismo deixa passear 
em mares desconhecidos, a liberdade do julgador. Diante desta confessada divergência, deste antagonismo 
angustiante, surge o pós-positivismo como forma de suplantar os defeitos do positivismo e do 
jusnaturalismo, buscando enfatizar suas vantagens para, sem nunca desprezar o direito posto, valorizar uma 
nova interpretação baseada na justiça, na ética, sem autoritarismo e sem excesso de subjetividades. É um 
meio-termo entre o folgazão e o severo, entre o chiste e o hirto: nem tanto ao céu e nem tanto à terra. 
 A verdadeira intenção do neoconstitucionalismo é a mudança de paradigma, 
especialmente para: a) reconhecer a força normativa da Constituição; b) expandir a jurisdição 
constitucional; e c) forçar novas elaborações de interpretação constitucionais: 
 
 a) Reconhecer a força normativa da Constituição. 
A Constituição não é mais um documento meramente político, para somente organizar os 
Poderes e deixar para a conformação discricionária legislativa e política, a concretização do seu espírito, 
porque passa a ter força normativa para ser aplicada na vida social, uma vez que cria mecanismos próprios 
de coação e cumprimento forçado. É dizer: a Constituição não é mais um depósito de promessas vagas e 
sugestões sem aplicabilidade. 
 b) Expandir a jurisdição constitucional. 
 As Constituições criaram mecanismos judiciais para sua real efetivação, em especial a 
criação de Cortes Constitucionais em quase todos os países europeus, dando ao Poder Judiciário o poder 
para fiscalizar o cumprimento das normas constitucionais, que passaram a abarcar várias questões que 
antes não constavam dos textos constitucionais, chegando mesmo a ser prolixa em alguns casos. 
 No Brasil, já em 1965 foi a CF/46 emendada para criar a ação direta de 
inconstitucionalidade, ou chamada de ação genérica naquela época, e com a CF/88, foram criados outros 
diversos mecanismos, como a ação direta de inconstitucionalidade por ação e por omissão, a ação 
declaratória de constitucionalidade (EC 03/93), a arguição de descumprimento de preceito fundamental, 
além da quebra do monopólio do Procurador-Geral da República para propositura das ações diretas; 
 
 c) Forçar novas elaborações de interpretação constitucional. 
 Em relação às normas infraconstitucionais, um modelo tradicional de interpretação já era 
conhecido e amplamente utilizado, que se baseava na interpretação gramatical, histórica, sistemática e 
teleológica, com os critérios hierárquico (lei superior prevalece sobre lei inferior), temporal (lei posterior 
prevalece sobre lei anterior) e especial (lei especial prevalece sobre lei geral). 
 Neste modelo tradicional para as normas infraconstitucionais, existia um processo de 
subsunção dos fatos às normas, onde estas oferecia uma solução abstrata para os problemas jurídicos, sem 
muita indagação minuciosa, e o juiz, seu aplicador por excelência, cabia apenas identificar tecnicamente a 
norma para ser aplicada ao problema, já que se pressupunha que os problemas estavam todos resolvidos 
abstratamente pelas normas. 
 A interpretação constitucional, entretanto, deveria ir além deste modelo tradicional, mesmo 
sem desconsiderá-lo, porque a norma constitucional é o ápice do sistema, e tem estrita relação com os 
maiores valores e princípios de toda a nação, daí porque é preciso complementação do método tradicional 
com a inclusão específica de princípios, como é o caso da simetria, da supremacia e da unidade da 
Constituição, do efeito integrador, da máxima efetividade, da concordância prática, da relatividade e da 
conformidade funcional, além de métodos próprios (jurídico, tópico-problemático, hermenêutico-
concretizador, científico-espiritual e normativo-estruturante) (vide adiante: Interpretação e Aplicação da 
Constituição) . 
 Assim, a função da norma é outra, assim como a do juiz, porque nem sempre ela consegue 
relatar abstratamente a solução para os casos concretos, vivos e cheios de detalhes, e o juiz, por isso, já não 
pode mais ficar adstrito à legalidade estrita e à técnica, porque adentra no próprio processo de criação do 
Direito, valorando-o para encontrar a solução possível e justa. 
Não por outro motivo, a interpretação tradicional não se adéqua, por exemplo, aos novos 
fatores constitucionais, como é o caso da colisão de princípios e direitos fundamentais (antinomia jurídica 
imprópria), exigindo a técnica interpretativa da ponderação, para que o intérprete faça concessões 
recíprocas entre as normas, para mantê-las vivas e operantes, o que possibilita prevalecer uma delas, que 
tenha “maior valor para o caso concreto”, realizando mais adequadamente a vontade constitucional, assim 
como a técnica interpretativa da argumentação, para, quando o conflito for difícil de resolver, dar vazão a 
uma razão prática, isto é, prevendo sempre as consequências da decisão e a possibilidade de utilizar um 
fundamento jurídico que possa ser utilizado genérica e universalmente para os casos similares. 
 As consequências mais visíveis, provocadas por tais fatores característicos da quebra de 
paradigma, são: 
 
 A constitucionalização dos direitos (o que implica em tornar as constituições cada vez 
mais analíticas) 
 A irradiação da Constituição para todos os Poderes 
 A valorização do Judiciário para adequar as relações de poder, ponderando-as 
 A aplicabilidade direta da Constituição a diversas situações 
 A intensificação da importância da interpretação conforme a Constituição 
 
 As constituições estão sofrendo nítida influência das teorias materiais, ao largo das teorias 
processuais, porque a insegurança que as guerras, o poder do Estado e a frivolidade das relações humanas 
dos dias atuais, parecem forçar um movimento retilíneo e intenso de sobrecarregamento das constituições, 
inserindo nelas todos os assuntos possíveis. Nela se insere questões econômicas, políticas, sociais e 
jurídicas, e ela não se basta como simples instrumento de governo; as constituições não servem mais para 
manter o status quo, porque elas hoje são frutos da esperança do povo para que o status seja alterado a 
partir delas. 
 Por isso, o movimento hoje em voga, diante de um mundo cada vez mais inseguro, onde a 
percepção de injustiça assola até as mentes sãs, é de expandir a jurisdição constitucional, até como forma 
de prevenção e de defesa da sociedade. 
Este movimento ressalta que o paradigma de Constituição-protetora, de Constituição-
garantia, desvinculada da política e do Estado, deve ser mudado, uma vez que é a partir deste supremo 
instrumento da sociedade – a Constituição -, é que a felicidade deve ser buscada. Mesmo reconhecendo a 
impossibilidade de se mudar os fatos reais da vida humana simplesmente através da lei, o movimento 
ressalta que a Constituição, muito mais que uma mera lei, é uma caixa onde se depositam as esperanças e 
que tem força para iniciar a mudança do status quo, dando razão e eficácia à existência do próprio Estado, 
no sentido de forjá-lo a cada vez mais distribuir justiça. 
Por isso é que Pietro Sanchis resumiu bem as novas exigências do neoconstitucionalismo: 
“Mais princípios que regras; mais ponderação que subsunção; mais Constituição que lei; mais juiz que 
legislador”. 
Aliás, a teoria unidimensional do ordenamento jurídico, que defende a ideia de que não há 
mais divisão entre Direito Público e Direito Privado,acaba recebendo apoio do neoconstitucionalismo, na 
medida em que este, ao sobrecarregar as constituições, leva para o Direito Público diversos assuntos que, 
no passado, eram próprios do Direito Privado, como as relações familiares (arts. 226 e ss.), questões 
relacionadas à Educação, Cultura e Desporto (arts. 205/217), ambiente de trabalho (art. 7º) e até regras 
sobre a atividade econômica do empresariado (arts. 170 e ss.), sem esquecer que os direitos e garantias 
fundamentais têm, hoje, eficácia horizontal (entre os particulares). Assim, o neoconstitucionalismo, ao 
constitucionalizar direitos antes pertencentes apenas ao nível infraconstitucional, e muitos deles apenas ao 
Direito Privado, acaba aproximando ainda mais o Direito Público do Direito Privado. 
Não podemos esquecer que o neoconstitucionalismo, malgrado seus inegáveis fatores 
positivos, apresenta alguns perigos, a seguir resumidos: 
a) Banalização e descrédito da Constituição. Se todos os assuntos estão na Constituição, 
estando ela cheias de promessas que não podem ou não são cumpridas, a sociedade começa a desacreditar 
na sua força e na sua utilidade, o que é muito perigoso, porque dá oportunidade de diminuir o papel do 
texto constitucional na construção de uma sociedade mais justa. Isto acaba criando, também, brechas para 
que vários direitos e garantias individuais e sociais sejam retirados do texto constitucional, impedindo que a 
rigidez seja uma garantia contra mudanças; 
b) Falta de flexibilização2. Como uma grande quantidade de assuntos acabam parando na 
Constituição, a sociedade acaba sendo impedida de mudar temas que devem ser adaptados às mudanças da 
realidade social. Como a Constituição é rígida e analítica, vários assuntos que precisam ser modificados com 
urgência ou com a necessária rapidez, à vista também da rapidez com que a sociedade muda, o Congresso 
fica impossibilitado de adaptar a Constituição aos valores atuais da sociedade, inclusive não podendo dispor 
na legislação infraconstitucional. Veja o que ocorreu no caso da exigência de separação judicial por mais de 
um ano para tornar possível o divórcio. Como era uma exigência constitucional (art. 225, §6º, antes da EC 
66, de 13.07.2010), vários casais se separavam e, mesmo não divorciados, passavam a viver maritalmente 
com outras pessoas, demonstrando claramente que o texto aprovado em 1988 estava em descompasso 
com a sociedade, e este descompasso não foi alterado antes em face da rigidez necessária para alterar a 
Constituição. O mesmo pode ser imaginado quanto à regra imposta no §2º do art. 230, que garante 
gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores de 65 anos: mesmo que a expectativa de vida da 
população cresça vertiginosamente, o legislador infraconstitucional fica impossibilitado de adaptar a 
questão à nova realidade, justamente porque é preciso modificar o texto constitucional por um processo 
mais rígido, que nem sempre é possível efetivar. Não por outro motivo é que, vez por outra, surgem 
propostas de reduzir o tamanho da CF/88, como ocorre com a PEC 341/2009, que pretende sintetizar a 
Constituição brasileira para que nela constem apenas normas materialmente constitucionais, passando de 
250 para 62 artigos, até porque, do jeito que está, ela se apresenta como um colcha de retalhos, cheia de 
dispositivos que deveriam estar na legislação ordinária. 
 
 
 
 
2 A respeito da plasticidade da Constituição, e sua adaptabilidade à realidade social, vide “Constituição Plástica”, na 
Classificação das Constituições, e também “Plasticidade da Constituição”, no tópico referente à Interpretação e 
Aplicação da Constituição. 
I.5. Direito constitucional 
 
 Diversos são os conceitos de Direito Constitucional, porém todos na mesma índole 
doutrinária de destacá-lo como o ramo que se estuda os elementos constituidores do Estado (daí Direito 
“Constitucional”, isto é, que constitui o Estado). José Afonso da Silva, por exemplo, diz que o Direito 
Constitucional é “o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas 
fundamentais do Estado” (Curso de Direito Constitucional Positivo, 32ª edição, Malheiros, 2009, p. 34 - 
grifei). Uadi Lamego Bulos, por sua vez, enfatiza que “Direito Constitucional é a parcela da ordem jurídica 
que compreende a ordenação sistemática e racional de um conjunto de normas supremas encarregadas de 
organizar a estrutura do Estado e delimitar as relações de poder” (Direito constitucional, 2007, Saraiva, p. 2 
- grifei). Alexandre de Morais também: “O Direito Constitucional é o ramo do Direito Público, destacado por 
ser fundamental à organização e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do 
mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política” (Direito constitucional, Atlas, 2007, 22ª 
edição, p. 1 - grifei). Afonso Arinos de Melo Franco diz que “O Direito Constitucional é o estudo metódico da 
Constituição do Estado, da sua estrutura institucional político-jurídica” (Direito constitucional: teoria da 
constituição; as constituições do Brasil, RJ, Forense, 1981, p. 4). Manoel Gonçalves Ferreira Filho trilha o 
mesmo caminho: “Direito Constitucional é o conhecimento sistematizado das regras jurídicas relativas á 
forma do Estado, à forma do governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, ao estabelecimento de 
seus órgãos e aos limites de sua ação” (Curso de direito constitucional, Saraiva, SP, 2005, p.4). 
Por isso, hoje é comum afirmar que o Direito Constitucional é considerado como um ramo 
do Direito Público - na verdade o Direito Público por excelência - porque visa o estudo das normas que 
estruturam o Estado. O Direito Constitucional não teria, em princípio, por objetivo tratar das relações entre 
os cidadãos, mas sim a ontologia estatal, muito embora a relação do Estado com os cidadãos seja algo, hoje 
em dia, natural para o Direito Constitucional em face dos direitos e garantias fundamentais. 
 Entretanto, cabe uma observação, no sentido de que hoje o Direito Constitucional não pode 
mais ser visto apenas como um ramo do Direito Público que tem normas destinadas única e exclusivamente 
para regulação do tratamento cidadão-Estado e do próprio Estado, visto que os próprios direitos 
fundamentais têm eficácia horizontal, isto é, uma eficácia que regula a relação entre os cidadãos, sem 
esquecer que as normas constitucionais sobre a ordem econômica são destinadas para a regulação da 
relação entre trabalhadores e a iniciativa privada. Além do mais, os conhecidos direitos sociais trabalhistas, 
que estão tutelados na Constituição, visam proteger o trabalhador na sua relação com a iniciativa privada, e 
não unicamente na sua relação com o Estado. 
 Isto é assim porque as constituições, objetos básicos do Direito Constitucional, nasceram 
sucintas, e realmente com a intenção de regular apenas alguns aspectos da relação do Estado com o 
cidadão. Eram as primeiras ondas de direitos fundamentais, consideradas de primeira geração, que visavam 
limitar a atuação do Estado, exigindo uma abstenção. As constituições, então, nasceram “garantistas”, ou 
“negativas”, e por isso se preocupavam apenas com a regulamentação do Poder Público. Porém, com o 
neoconstitucionalismo e o sobrecarregamento das constituições com vários temas (e, claro, gerando 
problemas, como a prolixidade e a maior dificuldade de adaptação das normas às novas realidades, apesar 
da mutação constitucional, mas também soluções, como a maior garantia e segurança), está razoavelmente 
cristalizado no mundo que as constituições não devem, apenas, tratar do Estado em si mesmo e sua relação 
com a sociedade; deve ir além, para expandir suas normas para regular a relação entre os membros da 
sociedade, sob o influxo de valores sensíveis, como é o caso da dignidade, do respeito ao meio ambiente e, 
de resto, dos valores aceitos universalmente,que devem ser efetivados pelo Estado, pela sociedade e pelos 
homens em geral. 
 
I.6. Origem do direito constitucional 
 
 Apesar de o constitucionalismo ter origem formal nas Constituições da França e dos Estados 
Unidos, é comum afirmar que a origem do Direito Constitucional escrito está nos pactos, nos forais, nas 
cartas de franquia, nos contratos de colonização e nos pactos sociais. Isto ocorre porque o Direito 
Constitucional surgiu antes mesmo do constitucionalismo estrito, a partir da necessidade de estudar toda a 
constituição de normas que regulassem e limitassem, de uma forma ou de outra, o Estado, isto é, a partir da 
necessidade de estudar as fórmulas encontradas pela humanidade para regular a vida estatal e com ela 
manter um relacionamento razoável, mesmo que estas fórmulas não possam ser analisadas sob o influxo do 
que hoje se conhece como Constituição. 
 Pactos eram acordos entre o rei e a nobreza (burguesia), para fixar o modo mínimo de gerir 
o governo e as garantias individuais. É até possível imaginar que as primeiras garantias escritas contra o 
Estado surgiram pela necessidade que os reis tinham de incrementar suas vaidades e necessidades pessoais, 
pois precisavam de comerciantes para trazer as oferendas, e estes se aproveitaram para exigir um mínimo 
de respeito por parte do Estado. Exemplos: Magna Carta, de 1215 – João Sem Terra e os Barões; “Petition of 
Rights”, de 1628 – Rei Carlos I fez acordo para se proibir a cobrança de dádiva, empréstimo ou benevolência 
somente a uma pessoa, pois a cobrança tinha que ser para todos – origem do princípio da isonomia e da 
igualdade tributária; “Habeas Corpus Act”; “Bill of Rights”, de 1687, que foi um documento escrito mais 
geral, com previsão de garantias e direitos individuais, regulou exigência de impostos, porte de arma, 
eleições, imunidade parlamentar e governo representativo. 
 Forais, próprios da Europa medieval, permitiam aos burgueses se autogovernarem. 
 Cartas de franquia davam franquias a algumas corporações de terem independência para 
exercerem suas atribuições – início da autonomia dos entes da federação, do Judiciário etc. 
 Contratos de colonização: contratos entre as Colônias da América do Norte, para viverem 
em paz e com respeito mútuo – reforço da autonomia administrativa, política e financeira destas Colônias 
em face do Poder Central. 
 Pacto social: a autoridade dos governantes se funda em contrato com os súditos 
(compromisso do príncipe de governar com justiça - Thomas Robbes, O Leviatã, 1599-1679; Rosseu, O 
Contrato Social, 1712-1778). 
 Estes antecedentes são a origem formal do Direito Constitucional escrito. Eles, reunidos, 
forjaram um documento escrito com normas gerais para determinado país, porque foram as fontes 
primeiras de um sentimento que, posteriormente, grassou no mundo e teve seu estopim nas revoluções 
americana e francesa no final do Século XVIII. 
 Como se vê, os movimentos que fizeram ecoar os pactos, os forais, as cartas de franquia, os 
contratos de colonização e os pactos sociais, foram muito antigos, e eles tinham a missão de confrontar o 
monarca, em uma época dominada pelo absolutismo. Daí porque alguns costumam dizer que o 
constitucionalismo é dividido em constitucionalismo antigo, quando a preocupação maior era tal 
confrontação, e o constitucionalismo moderno, quando a sociedade, já suficientemente livre do 
absolutismo, começou a perceber que era preciso uma Constituição voltada para as regras básicas de 
organização e limitação do Estado, e previsão de garantias e direitos individuais e sociais. 
 
 
 
I.7. Características do Direito Constitucional 
 
Merece friso, as características do Direito Constitucional expostas por Kildare Gonçalves 
Carvalho, Direito Constitucional – Teoria do Estado e da Constituição – Direito Constitucional Positivo – 17ª 
edição, DelRey Editora, 2011, pp. 01/02). Para ele, as características são estas – com minhas observações: 
a) supremacia – está no ápice da ordem jurídica, já que estuda justamente as normas 
hierarquicamente superiores; 
b) transversalidade – se o Direito Constitucional está no ápice do sistema jurídico, deve ter 
um caráter dialógico (dialogar com outras ciências) para poder estabelecer as opções dogmáticas para toda 
a sociedade nacional (tem que ter um intertexto aberto); 
c) politicidade – como o Direito Constitucional estuda a Constituição, e esta rege as relações 
de poder, muitas vezes tal Direito impõe decisões baseadas em critérios políticos, e não critérios puramente 
técnico-jurídicos. Esta característica faz com que o STF, naturalmente, tenha funções políticas, e não 
meramente técnicas-jurídicas (vide adiante, no Poder Judiciário); 
d) estadualidade – o Direito Constitucional, já se disse, é o estudo de tudo aquilo que 
“constitui” o Estado; daí não há Estado sem o Direito Constitucional, porque todo Estado tem uma 
Constituição, escrita ou costumeira. Existem, até, teorias que igualam o Estado com o Direito, até porque 
determinado país surge quando a sua Constituição é construída; 
e) legalismo – o legalismo é uma característica do Direito Constitucional porque até este 
Direito preocupa-se com suas fontes, e uma grande fonte é a Constituição, que é uma norma. Afinal, 
estamos na era do constitucionalismo de Direito, com constituições escritas; 
f) fragmentarismo – o Direito Constitucional, basicamente, é principiológico, porque ele visa 
estudar os fundamentos gerais do Estado e da sociedade insertos no texto constitucional (evidentemente 
que, com o neoconstitucionalismo, muitos temas são tratados até à exaustão pelas constituições analíticas). 
Por isso, não pode tal Direito se ocupar de detalhes e regulamentações excessivas, deixando para o 
legislador infraconstitucional completar sua obra. Então, o Direito Constitucional e a Constituição não 
completam a normatização dos temas, porque impõe fragmentos gerais dos principais temas na Carta 
Política (neste sentido, veja a seguir que não há, via de regra, o princípio da reserva constitucional); 
g) juventude – o Direito Constitucional surgiu depois das Revoluções Liberais do final do 
Século XVIII, em especial na França e na Itália, e por esta razão vários temas do Direito Constitucional Geral 
(Poder Constituinte, hermenêutica, teoria da Constituição – conceito, objeto, classificação, tipos, natureza 
das normas constitucionais etc.) ainda estão em estudo, sem conclusões razoável e universalmente aceitas. 
A face mais atual desta juventude é o neoconstitucionalismo, que provoca várias discussões, em especial 
diante dos novos métodos e princípios de hermenêutica constitucional (normativo estruturante, científico 
espiritual, hermenêutico concretizador, tópico problemático, princípios da presunção de 
constitucionalidade, da unidade, do efeito integrador, da concordância prática etc.) e da jurisdição 
constitucional, cada vez mais atuante nas relações de poder; 
h) abertura – o Direito Constitucional não pode ser fechado, e o próprio ordenamento 
jurídico não é assim tão puro como idealizava Hans Kelsen, justamente porque deve absorver experiências, 
estudos, ideias e realidades das demais ciências e das complexidades da sociedade moderna, até por ser 
transverso e fragmentário. Nas Ditaduras, o Direito Constitucional é fechado, no sentido de que não se abre 
para as experiências da sociedade, porque geralmente o que é dever do cidadão para com o Estado. 
Ousaria acrescentar, também, que o Direito Constitucional tem a característica da 
inicialidade, porque para compreender os demais ramos do Direito, primeiro o estudioso deve ir na fonte 
do sistema jurídico, que é a Constituição. Daí existir a teoria da Dupla Finitude do Direito (vide a seguir), 
justamente porque o Direito não pode regredir indefinida e infinitamente, já que nasce na Constituição. 
 
 
I.8. Direito constitucional e teoria geral da ConstituiçãoComo foi visto, o Direito Constitucional costuma ser definido como o ramo do direito 
público que analisa, identifica e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado, e tem por 
objeto a constituição estrutural do ente estatal. A base do Direito Constitucional é a estrutura do Estado e 
os direitos fundamentais, daí porque é a disciplina básica do Direito Público. 
 Assim, não se pode confundir a doutrina do direito constitucional com a teoria geral da 
Constituição. A doutrina é específica para o estudo da ordem jurídica constitucional de determinado Estado, 
daí porque se trata de um ramo interno do direito público, e a teoria cuida do estudo abstrato, 
generalizado, tentando identificar pontos comuns que formam uma verdadeira teoria geral válida para 
todos os ordenamentos. 
 Ao estudarmos a Constituição do Brasil, estaremos diante do Direito Constitucional 
brasileiro; ao se estudar os institutos constitucionais que se mostram estáveis em todas as constituições, ou 
pelo menos na maioria delas (Poder Constituinte, Conceito e Classificação de Constituição e Direito 
Constitucional – teoria da Constituição-, Métodos de Interpretação etc.), estaremos diante da Teoria Geral 
da Constituição. 
 
 
I.9. Divisões do direito constitucional 
 
 Também em função desta peculiaridade diferencial, é costume dividir o Direito 
Constitucional em: a) geral; b) especial; e c) comparado. 
 a) Direito constitucional geral (ou comum) procura unificar e delimitar pontos comuns nas 
Constituições (conceito de Poder Constituinte; classificação das Constituições; métodos de interpretação). 
Interessa à Teoria Geral do Direito Constitucional e garante a cientificidade do Direito Constitucional (teoria 
da Constituição); 
 b) Direito constitucional especial (particular, positivo ou interno), se dedica aos estudos de 
determinada Constituição de um determinado Estado (Brasil, Itália, Portugal etc.); 
 c) Direito constitucional comparado, é a referência à parte do direito constitucional que 
estuda as diversas constituições, comparando seus contrastes e suas semelhanças (método comparativo). 
 O direito constitucional comparado utiliza-se de três critérios básicos: 
 1) Temporal – compara as diversas Constituições do mesmo Estado (no Brasil, comparação 
com as Constituições de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1988). É possível, então, falar em direito 
constitucional comparado pela análise de constituições do mesmo país. É também chamado de diacrônica; 
 2) Espacial – comparação entre constituições de Estados diferentes, privilegiando-se a 
comparação entre Estados da mesma região – América Latina, Europa, Ásia etc. Muitos chamam este 
critério de sincrônica; 
 3) Mesma forma de Estado – compara constituições entre Estados com a mesma forma de 
Estado – comparação entre países que adotaram a forma federativa, por exemplo. 
 
2.0. Direito constitucional processual e direito processual constitucional 
 
 A doutrina diferencia direito constitucional processual e direito processual constitucional. 
Direito constitucional processual é o direito que estuda as normas processuais da Constituição, e direito 
processual constitucional é o direito que estuda as normas da Constituição que visam efetivar os direitos 
constitucionais por meio da jurisdição constitucional. 
 Assim, os princípios do juiz natural, do devido processo legal, da ampla defesa, a análise da 
existência ou não do duplo grau de jurisdição no corpo da Constituição, da fundamentação das decisões, da 
proibição de provas ilícitas, e as regras de competência dos Tribunais, seriam próprios do direito 
constitucional processual. 
 Por outro lado, os instrumentos de controle concentrado de constitucionalidade (ação 
direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade, a arguição de descumprimento de 
preceito fundamental, a representação interventiva), assim como todas3 as garantias constitucionais que 
visem tornar eficaz um direito constitucional (“habeas corpus” para garantir o direito de locomoção; o 
mandado de segurança para garantir o direito líquido e certo contra abuso de autoridade; o “habeas data” 
assegurar o direito de conhecer as informações relativas à sua pessoa, constantes de registros ou banco de 
dados de entidades governamentais ou de caráter público, ou para retificação dos dados; mandado de 
injunção para garantir o direito a ter uma norma regulamentadora que torne viável o exercício dos direitos 
e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania), 
seriam próprios do direito processual constitucional. 
 Pode-se até dizer que a criação, ou maior enfoque nos institutos da Constituição que visam 
efetivar ela mesma, é consequência direta da evolução do constitucionalismo que procura, a cada dia, não 
só carregar o texto constitucional de modo irresponsável, mas também criar mecanismos para efetivá-lo. Se 
o Direito faz surgir uma nova área, o direito processual constitucional, que visa estudar mais a fundo os 
mecanismos de efetivação do espírito constitucional, porém por meio da jurisdição constitucional, acaba 
abrindo os olhos dos outros ramos do conhecimento para que sejam criados, também, estudos específicos 
de efetivação do desejo constitucional, com mecanismos próprios, como ocorre ou sói ocorrer, com a 
economia constitucional, a sociologia constitucional, a filosofia constitucional e assim por diante. O Direito 
Constitucional acaba sendo cada vez mais dialógico, porque não pode ficar sem dialogar permanentemente 
com as outras áreas do conhecimento, devido a característica política e cultural da Constituição. 
Isto não deixa de ser acalentador. 
 
 
 
3
 Todas as garantias constitucionais podem ser enquadradas no Direito Processual Constitucional? Veja a importância 
de se definir o “Direito Processual Constitucional”: se ele for definido, como foi anteriormente, como “ramo do direito 
que estuda as normas da Constituição que visam efetivar os direitos constitucionais por meio da jurisdição 
constitucional”, pode-se dizer que nem todas as garantias constitucionais são enquadradas no Direito Processual 
Constitucional, porque existe uma delas, o “Direito de Petição”, que não busca na jurisdição constitucional uma forma 
de efetivar o espírito constitucional. Como sabe, “Direito de Petição” (CF/88, art. 5º, XXXIV, “a”) é um direito 
constitucional posto à disposição dos cidadãos para que eles possam levar ao conhecimento dos poderes públicos um 
fato ilegal ou abusivo, contrário ao interesse público, para que as medidas possam ser tomadas, mas é exercido em 
qualquer dos Poderes invocando suas funções administrativas, e não a função jurisdicional (assim, mesmo se exercido 
perante o Judiciário, não se faz por meio da jurisdição, mas sim por meio da função atípica administrativa deste Poder). 
 
Capítulo II: 
CONCEITO E SENTIDOS DE CONSTITUIÇÃO 
 
II.1. Definindo Constituição 
 
 Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, verdadeiro estatuto jurídico 
fundamental da sociedade. A Constituição, que é objeto de estudo do Direito Constitucional, tem por fim 
estabelecer o conteúdo referente à composição e ao funcionamento da ordem política desse Estado. 
Engloba, portanto, a organização do poder, a distribuição da competência, o exercício da autoridade e os 
direitos e as garantias individuais e sociais da pessoa humana. 
Atualmente, em face do neoconstitucionalismo, na Constituição não se limita apenas na 
regulamentação do Estado, porque também tem normas direcionadas para a sociedade, como é o caso da 
eficácia horizontal dos direitos fundamentais, os direitos dos trabalhadores e a regulamentação da ordem 
econômica. Deste modo, no conceito de Constituição moderna, devem estar inclusas as normas não só para 
a regulamentação da atividadeestatal, mas também aquelas destinadas para a sociedade. 
Apesar desta rápida análise, importante frisar que não há uma pacificação em relação à 
definição de Constituição, até porque a teoria geral da Constituição está em andamento, com tentativas de 
formulações que atravessam, inclusive, os séculos. De todo modo, há maior tranquilidade doutrinária a 
respeito do que uma Constituição deveria se ocupar, isto é, do que deveria constar em uma Constituição. 
Tudo que deveria estar na Constituição seriam assuntos materialmente constitucionais, e já foram 
relacionadas anteriormente (composição e funcionamento da ordem política estatal). 
Inicialmente, a Constituição nasceu como norma fundamental de organização jurídica do 
Estado. É dizer: a Constituição seria um documento, superior a todas as outras normas do país, com 
destinação para organizar o Estado, e todas as circunstâncias que esta organização envolve, como é o caso 
da tripartição dos Poderes, da forma de Estado e de Governo, do sistema de Governo, do exercício das 
competências, das formas de acesso ao Poder e aos cargos públicos, da responsabilidade das autoridades 
etc. 
Com o neoconstitucionalismo, a Constituição não pode mais ser vista apenas como uma 
fórmula de organização jurídica do Estado, porque ela não é mais destinada única e exclusivamente para 
tratar dos assuntos estatais. Em face das teorias materiais da Constituição que, ao contrário das teorias 
processuais, há um sobrecarregamento da Constituição com diversas matérias, como forma de maior 
proteção da sociedade. Isto, inevitavelmente, fez da Constituição um documento que vai além da mera 
regulação jurídica do Estado, e acabou se transformando de instrumento até de regulação da própria 
relação dos cidadãos. O exemplo mais gritante desta extensão é o tratamento que a Constituição dá, muitas 
vezes invariável em diversos países, aos direitos dos trabalhadores em face dos patrões, relacionamento 
este que se estabelece entre particulares, e não entre Estado e particulares. Da mesma forma, os próprios 
direitos fundamentais hoje têm uma função horizontal, para ter eficácia inclusive entre os cidadãos, vez que 
já ultrapassada apenas a sua eficácia vertical, que visava regular a relação cidadão-Estado – afinal, os 
direitos fundamentais nasceram para limitar a atividade do Poder Público. Ainda é possível verificar que não 
é raro nas constituições do mundo moderno o tratamento, por normas constitucionais, da atuação dos 
agentes que atuam no mercado, muitas vezes em uma tentativa de equilibrar o Estado Liberal com o Estado 
Social. Na Constituição brasileira de 1988, por exemplo (art. 170), existem diversos princípios que devem ser 
respeitados pelo agente que atua na ordem econômica, princípios estes que, apesar de servirem de base 
para a atuação estatal, devem ser respeitados pelos particulares em suas relações. 
Em todos estes casos citados, a Constituição não existe apenas para regular a atividade 
estatal, daí porque o conceito de Constituição não pode se vincular apenas a uma forma de regulação 
jurídica do Estado. Ela deve ser vista, também, como forma de dar alguns contornos a vários aspectos da 
relação entre os particulares. 
Assim, muito embora existam alguns pontos fundamentais e inarredáveis na formulação de 
um conceito de Constituição, e por isso incluem-se automaticamente como normas materialmente 
constitucionais, ainda existem outros que precisam de maior desenvolvimento para se saber se devem ou 
não ser considerados como integrantes de tais normas. Não por outro motivo, é possível verificar em 
praticamente todos os doutrinadores, a forte tendência de se levar em consideração os diversos sentidos 
que a Constituição oferece, sobressaindo os sentidos jurídico, político, sociológico e culturalista. 
Dificilmente se encontra um doutrinador que desconsidera os sentidos, quando trata do conceito da 
Constituição. Isto ocorre não apenas porque ainda está se formando uma teoria geral da Constituição, mas 
também porque a Constituição é, sem dúvida, um documento escrito que suscita todo tipo de discussão 
(ideológica, filosófica, social, política, jurídica, antropológica, cultural). A consequência não poderia ser 
senão a suscitação de diferentes visões e concepções do que vem a ser este documento escrito, do que vem 
a ser a Constituição, sendo de fato importante tratar dos diversos “sentidos da Constituição” ou 
“concepções da Constituição”, logo após a evolução histórica, porque assim é mais fácil compreender 
porque alguns pensam diferente de Hans Kelsen, e entendem que a Constituição não é um fator meramente 
jurídico. 
Se houver consciência de como foi o difícil caminho percorrido pelo constitucionalismo, logo 
será possível saber que não se pode desconsiderar, em cada sociedade, os fatores sociais e políticos 
envolvidos na formação constitucional. Talvez seja até possível enfatizar que a teoria geral da Constituição 
caminha para uma não-definição, isto é, caminha para sedimentar a ideia de que Constituição não pode ter 
um conceito único e intangível, porque é a mais nobre das leis, o fundamento e a aspiração da comunidade 
que é regida por ela, e por isso deve sempre ter uma maleabilidade para que cada país eleja o que lhe é 
constitucionalmente adequado. Muitas vezes, o que é materialmente constitucional para um país, não é 
para outro, em função das suas peculiaridades culturais, políticas e históricas, daí porque pode-se até 
encontrar alguns requisitos básicos para se conceituar uma Constituição, como é o caso de ser ela 
hierarquicamente superior e limitar a atuação estatal, mas não é possível definir todos os requisitos e nem 
afunilá-los em uma definição geral para o mundo. Nesse sentido, pode-se até fazer um esforço de 
imaginação para considerar que até mesmo a separação dos Poderes, pode ser que em determinado país 
não seja importante, em função das suas peculiaridades. 
 
II.2. Sentidos de Constituição 
 
 A divisão clássica dos sentidos da Constituição é esta: sentido sociológico, sentido político e 
sentido jurídico. Há, porém, quem ainda fala no sentido culturalista. Vejamos: 
 
 a) SSEENNTTIIDDOO SSOOCCIIOOLLÓÓGGIICCOO 
 
 Este sentido foi pinçado da obra de Ferdinand Lassalle, polonês, nascido em 11.04.1825, 
que era um grande orador e contagiava a plateia com suas ideias. Para ele, Constituição é fato social, e não 
apenas uma norma; é, na verdade, o valor e a realidade social que representam a Constituição. O bloco de 
palavras no documento é apenas folha de papel, que pode ser manuseada sempre ao gosto dos valores 
sociais. Por isso, é preciso dividir a Constituição em Constituição Real (fatores reais de poder) e 
Constituição Escrita (folha de papel). 
 Ele dizia que a Constituição são os fatores reais de poder, e estes fatores “são essa força 
ativa e eficaz que informa todas as leis e instituições jurídicas da sociedade em apreço, determinando que 
não possam ser, em substância, a não ser tal como elas são”. Provocativo, dizia mais: 
 
“Vamos supor, por um momento, que um grande incêndio irrompeu e que nele queimaram-se todos 
os arquivos do Estado, todas as bibliotecas públicas, que o sinistro destruísse também a tipografia 
concessionária onde se imprimia a Coleção legislativa e que ainda, por uma triste coincidência — 
estamos no terreno das suposições — igual desastre se desse em todas as cidades do país, 
desaparecendo inclusive todas as bibliotecas particulares onde existissem coleções, de tal maneira 
que em toda a Prússia não fosse possível achar um único exemplar das leis do país. Suponhamos isto. 
Suponhamos mais que o país, por causa deste sinistro, ficasse sem nenhuma das leis que o 
governavam e que por força das circunstâncias fosse necessário decretar novas leis. Julgai que neste 
caso o legislador, completamente livre, poderia fazer leis a capricho de acordo com o seu modo de 
pensar?”O que delimitaria a ação do legislador, e da própria sociedade e dos órgãos públicos, seria, 
neste caso, como a própria Constituição, os fatores reais de poder. Exemplo desta situação temos aos 
borbotões, inclusive no Brasil: A partir de março de 1964, quem coordenava as relações de poder era a 
Constituição de 19464 ou os fatores reais de poder nas mãos da Junta Militar? E na Alemanha Nazista, a 
Constituição de Weimar de 1919 ordenava as forças reais do país ou era os fatores reais de poder de Adolf 
Hitler? 
 
4
 Lembre-se que o Ato Institucional n. 01, baixado pela Junta Militar em 09.04.1964, manteve a Constituição de 1946. 
 b) SSEENNTTIIDDOO PPOOLLÍÍTTIICCOO 
 Se o sentido sociológico deve-se ao pensamento de Lassalle, o sentido político deve-se às 
ideias do alemão Carl Schimtt (11.07.1888-07.04.1985). Para ele, Constituição é uma “decisão política 
fundamental”. Constituição é o Poder Constituinte, que rege os fatores e valores sociais, para colocar em 
um documento o que o povo decidiu colocar. Não se trata, então, de mera decisão política sobre a forma do 
Estado, mas sim uma decisão política como consequência dos anseios sociais, mas tais anseios só podem ser 
“constitucionalizados” através de uma decisão política fundamental em dado momento. De que adianta, 
então, a existência de fatores reais de poder, se a sociedade não decide tomar uma decisão política 
fundamental de condensar estes fatores em um determinado momento? 
 É possível fazer uma referência entre o que hoje se entende com normas materialmente 
constitucionais e formalmente constitucionais, e o que este sentido se propôs, porque a visão política 
destaca que a Constituição é aquilo que é mais importante e que deve estar na Constituição; o que não 
deveria estar lá é apenas lei constitucional, apesar de estar. O sentido político, então, divide a Constituição 
em Constituição propriamente dita e leis constitucionais. 
 Schimtt criticava o positivismo jurídico, na medida em que este deslocava as questões 
fundamentais do direito político para a Teoria Geral do Estado. Assim, sua Teoria da Constituição buscava 
superar a divisão entre Teoria Geral do Estado, Direito Constitucional e Política, para reabilitar o político na 
análise dos temas da teoria constitucional. 
 
 c) SSEENNTTIIDDOO JJUURRÍÍDDIICCOO 
 O principal pensador deste sentido é Hans Kelsen (11.10.1881-19.04.1973), austríaco, 
naturalizado estadunidense. Para ele, a Constituição é norma, que deve ser vista como tal, sem 
considerações políticas, ideológicas, sociológicas ou antropológicas. É o jurista o seu principal investigador, 
e não o filósofo ou o sociólogo, porque a Constituição é norma pura. A Constituição é aquilo que temos na 
nossa mão, aprovada e cheia de princípios e regras que devem ser respeitados. Hans Kelsen teorizou que o 
jurista deve ser alheio a valores – neutralidade. Deve, necessariamente, estar como o símbolo da justiça e 
da neutralidade vista nos olhos vendados e na balança – Themis e Minerva -, pois as emoções podem 
contaminar a norma jurídica. 
 c.1) Sentido lógico-jurídico - “lógica hipotética”. 
Como Kelsen não aceitava a Constituição como algo sociológico, e sim como algo 
puramente normativo, foi obrigado a justificar este pensamento com outro pensamento meramente 
formal, e dizer que o pressuposto lógico da Constituição era esta hipótese lógica de hierarquia. Para 
Kelsen, a estrutura hierárquica do processo de criação do direito termina em uma norma que dá 
fundamento e unidade para todo o ordenamento jurídico5 (A norma fundamental é hipotética, e não está 
positivada sequer na Constituição, porque está acima dela, de modo que haveria uma “Constituição em 
sentido lógico-jurídico” responsável por instituir um órgão criador do direito, órgão este em grau inferior, 
responsável por estabelecer as regras básicas para se elaborar todo o resto da legislação. Este órgão 
superior seria a “Constituição em sentido lógico-jurídico”, e a o órgão inferior, seria a “Constituição em 
sentido jurídico-positivo”. Este sentido é, na verdade, um esforço de ficção jurídica para manter a 
autopoiese do Direito6. 
 c.2) Sentido jurídico-positivo. 
Este sentido destaca a existência de uma norma superior suprema, escrita em um 
documento positivado, que valida todas as demais. Esta norma suprema só pode ser alterada em condições 
especiais, e com base nela é que se vai formar todo o ordenamento jurídico de determinado país. 
 
 
 
5
 Esta concepção acaba dando ensejo à Dupla Finitude do Direito: o início do Direito se dá com a Constituição e 
termina com a coisa julgada. A ordem jurídica tem dois extremos: o início, com a Constituição, e o fim, com a coisa 
julgada, não podendo regredir nem progredir indefinidamente. 
6
 Hans Kelsen lutava pela autonomia científica do Direito, considerando este um sistema autopoiético, isto é, um 
sistema com bases próprias bastante em si mesmo, porque tinha estrutura científica que não precisaria de apoio ou 
fundamentação exterior, de modo que seus elementos seriam produzidos e reproduzidos internamente em uma 
interação circular e fechada. Assim, quando uma norma não estava suficientemente clara, ou quando houvesse uma 
aparente lacuna, o jurista não deveria procurar o esclarecimento ou a complementação em questões exteriores ao 
Direito, como nas ideias e teorias filosóficas, econômicas e políticas, mas sim em outras normas dentro do próprio 
sistema jurídico, continuando neste trajeto, de forma sucessiva, até uma causa finita, que era a Constituição. 
 d) SSEENNTTIIDDOO CCUULLTTUURRAALLIISSTTAA - “Constituição Total” 
 A Constituição seria a expressão cultural total da sociedade, em determinado momento 
histórico e influenciando na sua evolução cultural. Esta nova concepção reafirma que a existência de uma 
Constituição Total, que envolve todos os sentidos, até mesmo os filosóficos, e acaba dando uma 
perspectiva unitária. A Constituição é produto do fato cultural que influencia a sociedade naquele 
momento, fato cultural este que deve ser tutelado pelo direito à cultura (normas constitucionais referente à 
cultura, ao ensino e ao desporto). Se a Constituição deve reunir os mais importantes valores da sociedade, é 
preciso entender, então, que a Constituição é aquilo que é adequado para determinada sociedade no 
momento histórico em que a norma fundamental é elaborada. 
 
II.3. Outros sentidos de Constituição 
 
 
 Muito embora existam basicamente quatro sentidos, que doutrinariamente se tenta fixar 
para a Constituição, a teoria do direito constitucional mostra-se ávida por vários outros sentidos, próprios 
de estudiosos no tema. Muito embora exista a tentativa de dar um sentido unitário da Constituição, 
envolvendo todos os outros sentidos (Constituição Total), existem outros tantos sentidos. 
 Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco (Curso de 
Direito Constitucional, Saraiva, 2007, pp. 6 e ss.), resumem bem os diversos sentidos hoje em voga sobre a 
Constituição, apresentados pelo constitucionalista português José Joaquim Gomes Canotilho: 
 
 
 Constituição como garantia do “status quo” econômico e social (Ernst Forsthoff). Neste 
caso, a Constituição é indiferente à necessidade de mudança, porque tal mudança deverá ocorrer pela 
Política. A Constituição é axiologicamente neutra e visa, apenas, manter o estado das coisas. 
 
 Constituição como instrumento de governo (Hennis). A Constituição é uma lei processual, 
que regula e define os limites da atividade política, não podendo ser sobrecarregada com outros assuntos 
(esse sentido, portanto, é adepta das teorias processuais da Constituição, no sentido de que ela não pode 
estar sobrecarregada de muitos assuntos). 
 
 
 Constituição como processo público(Peter Häberle). A Constituição deve ser entendida e 
ter um sentido após um processo público de interpretação, não podendo ficar limitada apenas à 
interpretação de um único órgão (Corte Constitucional) diante do pluralismo da sociedade, isto porque ela é 
destinada ao público, não sendo possível definir, de modo claro, seu real sentido sem antes passar por este 
processo de publicidade (Constituição aberta à sociedade dos intérpretes). 
 
 Constituição como ordem fundamental e programa de ação que identifica uma ordem 
político-social e o seu processo de realização (Bäulin). A Constituição não pode ser vista apenas como um 
instrumento de governo ou de manutenção do “status quo”, e sim como um instrumento de transformação 
social, com definição dos processos de conformação política em uma perspectiva sociológica. 
 
 Constituição como programa de integração e representação nacionais (Krüger). Para que a 
Constituição dure, e não se banalize, ela deve conter apenas as questões que forem sedimentadas no 
espírito da sociedade, não podendo, portanto, ser depósito de questões que são facilmente alteradas pelo 
tempo. Por isso, Constituição é aquilo que contém o espírito de integração nacional sobre a totalidade 
política da sociedade, isto é, somente as questões materialmente constitucionais, não incluindo aquilo que 
se refere às questões econômicas e trabalhistas, por exemplo. 
 
 Constituição como legitimação do poder soberano, segundo a ideia de Direito (Burdeau). A 
Constituição é a criadora do Estado de Direito e racionalizadora do poder e da atividade dos governantes. O 
Poder, então, não está nas mãos de quem o exerce provisoriamente, mas sim está nas mãos da 
Constituição, daí porque o Poder é de Direito, totalmente despersonalizado; 
 
 Constituição como ordem jurídica fundamental, material e aberta, de determinada 
comunidade (Hesse). A Constituição é a reunião de todos os sentidos, em face da inexistência de uma 
opinião dominante sobre sua essência (daí porque aberta, para sintetizar todos os sentidos). A preocupação 
é encontrar um sentido que não seja desafiado, suficientemente genérico e abstrato para propiciar um 
conceito definitivo e seguro. 
 
 
II.4. Conceito de Constituição 
 
 Todos os sentidos (jurídico, sociológico, político, culturalista, de Forsthoff, Hennis, Häberle, 
Bäulin, Krüger, Burdeau, Hesse), demonstram que a teoria do direito constitucional e da própria 
Constituição ainda está caminhando, talvez porque ainda está caminhando a própria humanidade. Como 
a Constituição é algo importante, sensível e definitivo para a sociedade, seus reais contornos só serão 
definidos na medida em que a própria sociedade universal encontrar um parâmetro de conduta estável. 
Enquanto em um país houver prática de horrores, e no outro a vida social estiver adequada, haverá aqui e 
acolá uma diferenciação no conceito de Constituição e no próprio processo constitucional. Se a Constituição 
não fosse o que ela é para a sociedade (muitas vezes seu retrato, muitas vezes sua única esperança, muitas 
vezes seu engodo), poderia haver uma definição mais adequada. De todo modo, a falta de definição de um 
sentido único é prova de que a Constituição não pode regular apenas parte dos valores da sociedade. 
 Por isso, é possível perceber que a teoria constitucional caminha de fato para uma 
Constituição Total, onde se agrupa todos os sentidos, mas que só pode ter um sentido 
constitucionalmente adequado aos valores da sociedade. A Constituição só poderá ser entendida dentro 
da situação, dentro do contexto em que está inserida, daí se fala em sentido adequado. Não há como, 
portanto, fixar uma teoria geral da Constituição válida universalmente. Talvez a teoria geral da Constituição 
seria justamente eficaz se se chegasse à conclusão de que não há uma teoria geral; ou, então, se se 
chegasse à conclusão de que a teoria geral deveria levar em consideração, no conceito de Constituição, as 
realidades de cada país onde ela está inserida, ou, em uma trocadilho, levar em consideração as realidades 
que fizeram inserir a Constituição no mundo jurídico daquele país. 
 O que não se pode negar, é que, para conceituar uma Constituição, não podem ser negados 
os seguintes aspectos: superioridade hierárquica, validade e unidade. Sem perigo de errar, portanto, pode 
ser conceituada como norma superior de determinado sistema jurídico, dando-lhe validade e unidade, e que 
nasce para regular os assuntos mais importantes para o país onde está inserida. 
Resumidamente, também pode-se dizer que Constituição é a norma mais importante para a 
sociedade que a construiu. 
 
II.5. Classificação das constituições 
 
 Tradicionalmente, a classificação das constituições nasceu objetiva, considerando-se apenas 
o seu conteúdo (materiais e formais); a sua forma (escrita e não escritas), o seu modo de elaboração 
(dogmática e histórica), a sua origem (popular e outorgada) e a sua estabilidade (rígida, flexível e 
semirrígida). Posteriormente, na classificação foi considerado também o critério da extensão (Constituições 
analíticas/dirigentes e Constituições sintéticas/negativas/garantista), e atualmente já existem outros tantos 
critérios, que precisam ser lembrados (critério dogmático, ontológico, sistemático, estrutural, de 
legitimidade material). 
 
A) CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM: PROMULGADA, OUTORGADA E PACTUADA 
 
Esta classificação enfatiza a maneira como uma Constituição foi elaborada, as formas e 
modos fixadas como base para que determinada Constituição pudesse surgir. Daí porque para esta 
classificação, interessa a que Poder Constituinte deve a sua criação. 
 
 
 A.1) CONSTITUIÇÃO PROMULGADA (Democrática, Dogmática, Votada ou Popular) 
 
 É a Constituição formada com base na Assembleia Nacional Constituinte, esta, por sua vez, 
convocada com o fim específico de constituir uma nova Constituição, eleita pelo povo. Foi o caso das 
Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988. Nas constituições promulgadas, o exercício do Poder 
Constituinte é realizado pelo seu titular (povo). 
 
 A.2) CONSTITUIÇÃO OUTORGADA (Imposta) 
 
 Tal Constituição nasce de um órgão constituinte não popular (Constituições brasileiras de 
1824, 1937, 1967 e 1969). Nestas constituições, diz-se que o exercício do Poder Constituinte não foi 
realizado pelo seu titular, havendo usurpação do Poder Constituinte. 
 
 
 CONSTITUIÇÕES CESARISTAS: Os governantes destas épocas, geralmente ditadores, até como 
forma de “ficar com a consciência tranquila”, buscam métodos para popularizar, democratizar a 
Constituição que nasceu da força, e não do seio do povo. O governo, normalmente ditatorial, submete ao 
povo, mediante plebiscito ou referendo, a Constituição que foi imposta, para que o povo possa aprová-la. 
Estas Constituições impostas, submetidas à consulta popular, são chamadas de “constituições Cesaristas”. 
Daí porque a doutrina não costuma classificar as constituições Cesaristas nem como 
promulgadas e nem como outorgadas, porque na verdade é um misto de promulgação, porque existe forma 
de participação popular, e outorga, vez que é criada apenas pelo ditador, pela junta militar ou pelo grupo 
que domina o poder. 
A Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937, no art. 187 previa consulta popular 
para ratificação de seu texto, nestes termos: “Esta Constituição entrará em vigor na sua data e será 
submetida ao plebiscito nacional na forma regulada em decreto do Presidente da República”. Nas 
constituições Cesaristas, há previsão de forma de democracia direta, porque a Constituição é imposta pelo 
ditador, ou pelo grupo ditatorial, e o povo apenas faz análise posterior ao texto pronto e acabado 
(referendum), ou até uma análise prévia do texto que será imposto (plebiscito). O art. 187 da CF/37, 
portanto, foi atécnico quando fez referência a “plebiscito”, que

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