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Relações Sociais e o Serviço Social no Brasil Iamamotto

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Relações Sociais e o Serviço Social no Brasil 
 Iamamotto. Marilda Vilella 
 
 
“RELAÇÕES SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL” - ESBOÇO DE 
UMA INTERPRETAÇÃO HISTÓRICO-METODOLÓGICA. 
Autora: IAMAMOTTO, Marilda Vilella. 
São Paulo, Ed. Cortez/Celats 
Parte I – Proposta de Interpretação histórico metodológica 
Cap. 1 - O Serviço Social no processo de Reprodução das relações 
sociais 
Parte II – Aspectos da história do serviço social no Brasil 
Capítulo 1. A questão social nas décadas de 20 e 30 e as bases para a 
implantação do serviço social 
Cap. 2 - Protoformas do serviço social 
Cap. 3 - Instituições assistenciais e serviço social 
Cap. 4 - Em busca de atualização. 
 
Parte I – Proposta de interpretação histórico-metodológica. 
Capítulo 1 – O Serviço Social no processo de reprodução das relações 
Sociais. 
A autora ressalta que o Serviço Social é um tipo de especialização do 
trabalho coletivo, situado no interior da divisão sócio técnica do trabalho. É 
portanto, um elemento que participa da reprodução das relações sociais 
(relações de classe) E do relacionamento contraditório entre as classes 
fundamentais presentes na realidade social (interesses antagônicos entre o 
capital e o trabalho). 
A reprodução das relações sociais e consequentemente do capitalismo, é 
reprodução da totalidade do processo social, a reprodução de um determinado 
modo de vida que envolve o cotidiano da vida em sociedade; o modo de viver e 
trabalhar, de forma socialmente determinada, dos indivíduos em sociedade. 
Marilda chama nossa atenção para o fato de que a totalidade concreta em 
movimento encontra-se sempre, em processo de estruturação. A reprodução 
das realidades sociais atinge a totalidade da vida cotidiana, expressando-se 
tanto no trabalho, na família, no lazer, na escola, no poder, como também na 
profissão. 
A profissão Serviço Social é constituída a partir de dois ângulos que estão 
imbricados entre si, formando uma unidade contraditória: 
1. como realidade vivida e representada na/e pela consciência de seus 
agentes profissionais, expressa pelo discurso teórico-ideológico sobre o 
exercício profissional; 
2. a atuação profissional como atividade socialmente determinada pelas 
circunstâncias sociais objetivas que conferem uma direção social à mesma e 
que condiciona e mesmo ultrapassa a vontade e/ou consciência de seus 
agentes individuais. 
Ao ressaltamos apenas um ou outro desses ângulos, a autora afirma que 
estaremos acentuando de modo excludente, um pólo do movimento 
contraditório do concreto, sendo nesse sentido, análises unilaterais (Serviço 
Social Conservador/Serviço Social Transformador são afirmativas mecanicistas 
e voluntaristas). 
SERVIÇO SOCIAL TRANSFORMADOR: Ao superestimar a eficácia 
política da atividade profissional, subestimamos o lugar das organizações 
políticas das classes sociais no processo de transformação da sociedade, 
enquanto sujeitos da história; por outro lado parece desconhecermos a 
realidade do mercado de trabalho e os objetivos do mandato institucional. 
O Serviço Social é necessariamente polarizado pelos interesses de tais 
classes, tendendo a ser cooptado por aqueles que tem uma aposição 
dominante. Reproduza também, pela mesma atividade, interesses contrapostos 
que convivem em tensão responde tanto as demandas do capital como do 
trabalho e só pode fortalecer um ou outro pólo pela mediação de seu oposto. 
Iamamotto chama nossa atenção para um aspecto da realidade social que 
é a CONTRADIÇÃO; esta é o motor da história e é através da consideração de 
que as relações sociais se caracterizam pela contraditoriedade, que podemos 
apontar que os mecanismo de dominação e as necessidades da classe 
trabalhadora são duas faces de uma mesma moeda. 
É a partir dessa compreensão que se pode estabelecer uma estratégia 
profissional e política, para fortalecer as metas do capital ou do trabalho, mas 
não se pode exclui-las do contexto da prática profissional, visto que as classes 
só existem inter relacionadas. É isso inclusive, que viabiliza a possibilidade de 
o profissional colocar-se no horizonte dos interesses das classes 
trabalhadoras. 
O modo pelo qual a clientela do Serviço Social compreende o mundo e as 
relações a sua volta, é condicionado pelo lugar social que ocupam no processo 
de produção. A individualidade é tida como expressão/manifestação do seu ser 
social, de sua vida em sociedade. 
Por que surgiu essa profissão? 
O desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais 
engendradas nesse processo determinam novas necessidades sociais e novos 
impasses que passam a exigir profissionais qualificados para o seu 
atendimento. A intervenção profissional deveria estar pautada nos parâmetros 
de “racionalidade” e “eficiência” inerentes à sociedade capitalista. 
É portanto, no contexto do desenvolvimento do capitalismo industrial e da 
expansão urbana, que se coloca a necessidade do Serviço Social, enquanto 
mediador das classes fundamentais de então; burguesia industrial e 
proletariado fabril. 
A questão social – enquanto manifestação no cotidiano da vida social, da 
contradição entre essas classes – servirá como base de justificação para a 
ação do assistente social, para além da caridade da repressão. 
A pauperização absoluta ou relativa gera o fenômeno do lumpen-
proletariado, que não será mais absorvido pelo mercado de trabalho. A 
socialização dos custos de reprodução desta força de trabalho exige a 
presença do Estado no que se refere a constituição de políticas sociais. 
A autora volta a sinalizar que o Serviço Social não tem um caráter de 
autonomia: não se pode pensar à profissão no processo de reprodução das 
relações sociais independente das organizações institucionais a que se vincula, 
como se a atividade profissional se encerra em si mesma e seus efeitos sociais 
derivassem, exclusivamente, da atuação profissional. 
No processo de constituição de sua hegemonia, o Estado não pode 
desconsiderar por completo as necessidades/interesses das classes 
dominadas, como condição mesma de sua legitimação; a incorporação destas 
necessidades se dá de forma subordinada, não afetando os interesses da 
classe capitalista como um todo. 
No ingresso do Serviço Social como profissão, uma das pré-condições é a 
transformação de sua força de trabalho em mercadoria e de seu trabalho em 
atividade subordinada à classe capitalista. A mesma lógica que preside o 
trabalho da classe trabalhadora, também preside a intervenção do Serviço 
Social. 
O Serviço Social não se afirma no mercado como profissional liberal por 
não dispor de condições objetivas para esta realização, ele necessita das 
políticas sociais, de cunho público ou privado para o exercício profissional se 
concretizar. 
A autora sublinha que o Serviço Social não é função diretamente produtiva, 
ele participa, ao lado de outras profissões, da tarefa de implementação de 
condições necessárias ao processo de reprodução no seu conjunto, integrada 
como está a divisão sócio-técnica do trabalho. 
A produção e reprodução capitalista inclui, também, uma gama de 
atividades, que não sendo diretamente produtivas, são indispensáveis ou 
facilitadoras do movimento do capital. Embora não sejam geradoras de valor, 
tornam mais eficiente o trabalho produtivo, reduzem o limite negativo colocado 
à valorização do capital, não deixando de ser para ele uma fonte de lucro. 
Marilda situa o Assistente Social na sua condição de intelectual; para tanto 
se utiliza de Gramsci para subsidiar sua análise. Cada classe possui seus 
próprios intelectuais, que tem o papel de contribuir na luta pela direção sócio-
cultural destas classesna sociedade. O intelectual é o organizador, dirigente e 
técnico que coloca sua capacidade a serviço da criação de condições 
favoráveis à organização da própria classe a que se encontra vinculado. 
O Assistente Social na sua qualidade de intelectual, tem como instrumento 
de trabalho a linguagem; historicamente, não constitui atividade proeminente 
para essa categoria profissional a produção de conhecimento científico. O 
Serviço Social emerge e se afirma em sua evolução como uma categoria 
voltada para a intervenção na sociedade. Marilda sublinha que a cisão entre 
trabalho intelectual e manual, que se desenvolve à medida que se aprofunda o 
capitalismo. 
O SIGNIFICADO DOS SERVIÇOS SOCIAIS 
A expansão dos Serviços Sociais, no século XX, está ligada ao 
desenvolvimento da noção de CIDADANIA; a luta pelos direitos sociais é 
perpassada pela luta contra o estigma do assistencialismo, presente até os 
nossos dias. 
Os Serviços Sociais nada mais são na sua realidade substancial, do que 
uma forma transfigurada de parcela do valor criado pelos trabalhadores e 
apropriado pelos capitalistas e pelo Estado, que é desenvolvido a toda a 
sociedade sob a forma de serviços sociais; assim, aparecem como 
BENEFÍCIO, expressão humanitária do Estado e/ou da empresa privada. 
A generalização dos Serviços Sociais é expressão da vitória da classe 
operária na luta pelo reconhecimento de sua cidadania na sociedade burguesa. 
O que é direito do trabalhador, reconhecido pelo próprio capital, é 
manipulado de tal forma, que se retorna um meio de esforço de visão 
paternalista do Estado, que recupera nesse processo o coronelismo presente 
na história política brasileira, agora instaurado no próprio aparelho do Estado. 
RELAÇÕES SOCIAIS E O SERVIÇO SOCIAL 
Considerando a contraditoriedade presente nas relações sociais, Marilda 
ressalta a necessidade de uma reflexão sobre o caráter político da prática 
profissional; essa reflexão é condição para o estabelecimento de uma 
estratégia teórico-prática que possibilite, dentro de uma perspectiva histórica, a 
alteração do caráter de classe da legitimidade desse exercício profissional. 
Os múltiplos e complexos problemas com as quais se depara a classe 
trabalhadora – fome, desemprego, miséria, doença – são expressão de 
questão social que por seu turno, corresponde as desigualdades oriundas de 
lógica capitalista de produção/reprodução das mercadorias. 
No entanto, as políticas sociais são constituídas a partir de dimensões 
particulares e particularizadas da situação de vida dos trabalhadores: saúde, 
educação, habitação, alimentação, etc. Dessa forma, a fragmentação não 
permite ao trabalhador a aquisição de uma consciência mais coletiva sobre 
seus problemas. 
Na linguagem do poder, os “benefícios” sociais são algumas vezes 
denominado “salário indireto”, já que são encarados como uma 
“complementação salarial” preferível (para os patrões, é claro!) à elevação real 
dos salários, à proporção que podem ser descontados total ou parcialmente 
dos “beneficiários” ou de impostos governamentais. Os Serviços Sociais 
tornam-se, portanto, um meio de reduzir os custos de reprodução da força de 
trabalho. 
A rede de Serviços Sociais viabiliza ao capital uma ampliação de seu 
campo de investimentos, subordinando a satisfação das necessidades 
humanas às necessidades de reprodução ampliada do capital. 
A pauperização acentuada determina um ambiente fértil à demergência de 
utopias, de inconformismos que são potencialmente ameaçadores à ordem 
vigente. Controlar e prever as ameaças têm sido uma estratégia política do 
poder. (como o empobrecimento generalizado não tem solução nos marcos do 
capitalismo, o que o Estado faz é administrar e controlar a situação de 
descontentamento). 
Os Serviços Sociais têm significados diferentes a partir da lógica de 
constituição das classes; para os capitalistas, representa um caráter 
complementar à reprodução da força de trabalho a menor custo; do ponto de 
vista dos representantes do trabalho, os Serviços Sociais respondem às 
necessidades legítimas, à medida que são, muitas vezes, temas de lutas 
político-reinvindicatórias da classe trabalhadora, no empenho de terem seus 
direitos sociais reconhecidos, como estratégia de defesa de sua própria 
sobrevivência. 
SERVIÇO SOCIAL E REPRODUÇÃO DE CONTROLE E DA IDEOLOGIA 
DOMINANTE 
A autora sublinha que não é para subestimarmos a importância e a força 
desta profissão, pois ela é um instrumento auxiliar e subsidiário, ao lado de 
outros de maior eficácia política e mais ampla abrangência, na concretização 
do objeto sinalizado acima. 
Utilizando-se da reflexão tecida por José de Souza Martins, a autora 
sublinha que, o modo capitalista de produzir supõe um modo capitalista de 
pensar, ou seja, não é a forma como pensa o capitalista, mas antes de tudo, a 
forma necessária de toda a sociedade pensar e agir, fundamental à 
reelaboração das bases de sustentação – ideológicas e sociais – do 
capitalismo. 
Portanto, o controle social não se reduz ao controle governamental e 
institucional; é exercido, também, através de relações diretas, expressando o 
poder de influência de determinados agentes sociais sobre o cotidiano de vida 
dos indivíduos, reforçando a internalização de normas e comportamentos 
legitimados socialmente. Entre esses agentes institucionais encontra-se o 
profissional do Serviço Social. Importante ressaltar que a ideologia dominante é 
um meio de obtenção do consentimento dos dominados e oprimidos 
socialmente, adaptando os à ordem vigente. Em outros termos: a difusão e 
reprodução da ideologia dominante é uma das formas de exercício do controle 
social. 
Há possibilidades de, no espaço da prática profissional, construir-se outras 
formas de pensar e agir? 
Marilda ressalta que a linguagem é o meio privilegiado através do qual se 
efetiva a peculiar ação persuasiva ou de controle por esse profissional. Trata-
se de uma ação global de cunho sócio-educativo ou socializadora, voltada para 
mudanças na maneira de ser, de sentir, de ver e agir dos indivíduos, que busca 
a adesão dos sujeitos não sendo, no interior da categoria profissional, uniforme 
e unívoco o direcionamento dessa ação, ele tem sido orientado, 
predominantemente, por uma perspectiva de integração à sociedade. 
A autora nos alerta que a compreensão do cotidiano não se reduz aos 
aspectos mais aparentes, triviais e rotineiros; se eles são parte da vida em 
sociedade, não a esgotam. O cotidiano é expressão de um modo de vida, 
historicamente circunscrito, onde se verifica não só a reprodução de suas 
bases, mas onde são, também gestados, os fundamentos de uma prática 
inovadora. 
Assim, o cotidiano não está apenas mergulhado no falso, mas referido ao 
possível. A descoberta do cotidiano é descoberta das possibilidades de 
transformação da realidade. Por isso, a reflexão sobre o cotidiano acaba sendo 
crítica e comprometida com o possível. O cotidiano é o “solo” da produção e 
reprodução das relações sociais. 
O acesso que temos as histórias de vida dos sujeitos, muitas vezes se 
caracteriza por ser uma “invasão” de privacidade da “clientela”; situa-se aqui, a 
importância do compromisso social do profissional, orientado no sentido de 
solidarizar-se como o projeto de vida do trabalhador ou de usar esse acesso 
para objetivos que lhes são estranhos. 
Importante considerar que os organismos institucionais dependem da 
adesão, pelo menos passiva, de seus agentes, para a consecução das metas e 
estratégias de classe que implementam. Se o Assistente social, enquanto 
trabalhador assalariado, dever responder às exigências básicas da entidade 
que contrata seus serviços, ele dispõede uma RELATIVA AUTONOMIA no 
exercício de suas funções institucionais; ele é co-responsável pelo rumo 
imprimido às suas atividades pelas formas de conduzi-las. A imprecisão quanto 
à delimitação das atribuições desse profissional pode ser um fator de 
ampliação da margem de possibilidade de redefinição de suas estratégias de 
trabalho. 
A nova qualidade de preocupação com a prática profissional está dirigida 
ainda a resgatar, sistematizar e fortalecer o potencial inovador contido na 
vivência cotidiana dos trabalhadores, na criação de alternativas concretas de 
resistência ao processo de dominação. Esse projeto traduz-se na confiança 
que move uma prática, na possibilidade histórica de criação de novas bases de 
vida em sociedade, assumido e subvertido em direção a um novo tempo. 
Parte II – Aspectos da história do Serviço Social no Brasil 
Capítulos 1, 2, 3, 4 e considerações finais 
Um dos aspectos principais dessa obra que deve ser salientado é a 
preocupação em resgatar as fontes do pensamento marxiano, objetivando 
apontar os alicerces da sociedade capitalista, sua lógica de ordenamento e seu 
viés de superação, bem como as estratégias do estado no que se refere ao 
gerenciamento/administração de suas crises. 
A profissão é pensada pela primeira vez em sua história a partir de sua 
insuprimível relação com a sociedade/realidade, num movimento sempre 
constante de verificação de seus conteúdos internos, seus compromissos 
político-ideológicos. É desse imbricamento com a realidade social que o 
Serviço Social retira sua dinamicidade e contabiliza as possibilidades e limites 
para sua intervenção. 
Marilda Iamamotto foi a primeira autora a pensar o Serviço Social – sua 
constituição e história a partir da relação de classes e sua característica 
principal que é a contraditoriedade. 
A história do Serviço Social é a interpretação histórica das principais forças 
determinantes na origem e evolução desta profissão, ou seja, o Serviço Social 
não pode ser pensado de per si. Temos de relacioná-lo com os processos 
sociais e econômicos da realidade brasileira ao longo de sua história. 
Perspectiva de análise que o livro enseja: o Serviço Social como profissão, 
no contexto de aprofundamento do capitalismo na sociedade brasileira no 
período 30/60. Dessa forma, o Serviço Social se insere no processo 
contraditório de reprodução das relações sociais. 
Objetivo do estudo: desvendar o significado social dessa instituição e das 
práticas desenvolvidas em seu interior. 
Surgimento da profissão: a partir da configuração da chamada questão 
social que assume essa expressão, a partir do surgimento do proletariado 
como expressão política própria. A estratégia utilizada pelas classes 
dominantes, como meio de exercer sutilmente seu poder na sociedade e para 
responder as sequelas advindas da relação de assalariamento do proletariado, 
foi a instituição de políticas sociais. 
O Serviço Social surge a partir de uma nova racionalidade que visou 
superar as ações caritativas até, muito dispersas, sem um fio condutor que 
costurasse uma nova lógica de enfrentamento da questão social. 
Capítulo 1 – A Questão Social nas décadas de 20 e 30 e as bases para 
a implantação do Serviço Social. 
O Trabalho Assalariado: é característica presente no mercado de trabalho 
nos moldes capitalistas. A força de trabalho formalmente livre é mais uma 
mercadoria como qualquer outra. 
Na relação estabelecida entre a burguesia e o proletariado convergem 
interesses contraditórios que exigirão medidas que visem o controle social da 
exploração dessa força de trabalho. A inexistência de uma legislação 
trabalhista neste início de século tornará ainda mais visível as seqüelas da 
questão social. O trabalho infantil, extensas jornadas de trabalho, 
superexploração, etc. 
O Serviço Social se constituirá através de frações da classe burguesa que 
agirão por intermédio da Igreja Católica e posteriormente pelo conjunto das 
classes dominantes. 
Entre os anos de 1917/1920 o ANARQUISMO (tendência política trazida 
pelo operariado europeu do Brasil) enquanto força política-ideológica, é 
presente no cenário brasileiro. A densidade das manifestações tornou visível 
para a burguesia, a organização dos trabalhadores na luta pela melhoria das 
condições de vida e trabalho. 
Importante considerar a incapacidade genética do Estado em gerar 
políticas sociais que dêem respostas às seqüelas da superexploração. A 
utilização da repressão tanto indeológica quanto física (ambos poderosos 
instrumentos de manutenção da paz social) sempre estiveram presentes em 
nossa realidade. 
Entre as décadas de 1910/1920, o proletariado (predominantemente de 
origem européia; italianos, alemãs, portugueses...) encontra-se ainda 
numericamente fragilizado; em sua grande maioria, é o trabalhador uriundo do 
campo que vem “engrossar” essa nascente classe; o perfil ideológico desses 
ex-campesinos – agora trabalhador urbano – em nada lembra a identidade dos 
trabalhadores imigrantes no que se refere a sua história de lutas na Europa. 
A Burguesia (sua fração industrial) utilizava a estratégia de negar as 
reivindicações do proletariado; desrespeitando os acordos e utilizando o 
aparato policial no enfrentamento das manifestações dos trabalhadores. 
A tática de alguns empresários apontou para a construção de uma política 
assistencialista: as vilas operárias, as creches, as escolas, no entanto, havia 
rebaixamento salarial, controle de tempo “livre” do trabalhador e um 
condicionamento do bom comportamento para acesso à esses salários 
indiretos. O objetivo dessas estratégias era o de aliar o controle sócio-político 
ao incremento da produtividade, através do aumento da taxa de exploração. 
Não há nenhum sentido de redistribuição nessa política e sim, o intuito de 
melhorar as condições gerais de acumulação capitalista. 
Onde a Igreja Católica entra nesses processos históricos? É importante 
considerar a estreita relação existente entre a hierarquia católica com Roma 
(Papa) e a influência dos E.U.A. com essa hierarquia central. Alguns aspectos 
podem ser apontados como condicionadores do movimento de reação da igreja 
católica: 
1. A reforma protestante nos países da Europa; 
2. a perda de sua hegemonia no que se refere a visão de mundo; 
3. preocupação com a ideologia anarquista/comunista que se propagava 
no meio operário; 
Será a partir destes aspectos que se dará o movimento de “recatolização 
da nação”: a Igreja começa a ter uma preocupação em assumir uma 
intervenção face à questão social; vale a pena ressaltar o estreito 
colaboracionaismo entre Igreja Católica brasileira e as autoridades 
constituídas. As formas de enfrentamento da questão social pela Igreja em 
nenhum momento irão colidir com os interesses do Estado brasileiro. 
No decorrer da década de 20, perante a movimentação da classe operária, 
a igreja reforça o apelo à manutenção da ordem e o respeito à hierarquia. 
No transcorrer da década de 30 o proletariado já se apresenta com um 
maior peso numérico e organizativo, desenvolvimento esse que ocorre 
concomitante ao crescimento da indústria na economia brasileira. No início 
dessa década e a partir da crise mundial de 1929, começa a ocorrer uma nova 
configuração política onde a burguesia agrária – apesar de continuar a ter o 
peso na economia, começa a perder poder político-econômico para a 
burguesia industrial. A conjuntura política e social presente nesse momento – a 
crise de hegemonia entre as frações burguesas e a movimentação das classes 
subalternas. Abrirá à Igreja um enorme campo de intervenção na vida social 
(movimento político-militar que pôs fim a República Velha – ver página 152).O novo bloco no poder buscará o apoio da hierarquia da Igreja (visto seu 
compromisso com as forças anteriores) oferecendo em troca o ensino religioso 
nas escolas. Esse período corresponderá a uma situação de ambigüidade, 
onde ambos – Igreja e Estado – unidos pela preocupação comum de 
resguardar e consolidar a ordem e a disciplina social, se mobilizarão para 
estabelecer mecanismos de influência e controle. A igreja se lançará à 
mobilização da opinião pública católica e à reorganização em escala ampliada 
do movimento católico leigo. 
A partir de 1932 dá-se a ampliação da intervenção do movimento católico 
laico, via: 
1. Ação universitária católica; 
2. Instituto de estudos superiores; 
3. Associação da bibliotecas católicas; 
4. Liga eleitoral católica. 
5. 
Como se dá a resposta da Igreja aos problemas sociais? Através da 
formulação de uma via cristã corporativa para a harmonia e progresso da 
sociedade: Deus é fonte de toda justiça, e apenas uma sociedade baseada nos 
princípios da cristandade pode realizar a justiça social. 
A visão de sociedade que a Igreja assume, sofre influência direta da 
perspectiva positivista, ou seja, é visualizada enquanto um todo unificado 
através das conexões através das tradições, dogmas e princípios morais de 
que ela é depositária. Indivíduos e fenômenos sociais coexistem. Em coesão 
orgânica com a sociedade em sua totalidade. 
Relações entre Igreja e Estado: À Igreja cabe a tarefa de reunificação e 
recristianização da sociedade burguesa... concluindo pelo alinhamento 
doutrinário do Estado laico ao direito natural, orientado por suas normas 
transcendentes. 
Objetivo da Igreja: recuperar o proletariado da influência de ideologias 
exóticas (postura anticomunista); ordenar as relações de produção e 
harmonizar as classes em conflito. 
Eixos da ação política: a mobilização do eleitorado católico e o postulado 
social, a eficácia de sua ação pedagógica e política pode ser visualizada na 
eleição de extensa bancada católica na Assembléia Constituinte de 1933. 
Esses representantes estariam, no espaço de construção das leis, defendendo 
os interesses da hierarquia católica. 
RETOMANDO: A estratégia da Igreja é o de investir no desenvolvimento 
do movimento laico, visando fortalecer sua linha de Ação Católica (Apostulado 
Social). Para tanto aposta na organização da juventude católica para atuar 
junto à classe operária: 
1. JOC (Juventude Operária Católica); 
2. JUC (Juventude Universitária Católica); 
3. JEC (Juventude Estudantil Católica); 
4. JIC (Juventude Ind. Católica); 
5. JFC (Juventude Feminina Católica); 
O CEAS de São Paulo (Centro de Estudos e Ação Social), foi a 
manifestação original do Serviço Social no Brasil, no ano de 1932. Seu objetivo 
foi o de capacitar tecnicamente a prestação de assistência, seu público seria de 
jovens católicos que compunham as diferentes frações das classes 
emergentes. 
Em 1936 dá-se o surgimento da primeira escola de Serviço Social de São 
Paulo e em 1935 é criado o Departamento de Assistência Social do Estado 
(primeira iniciativa no Brasil). 
O Estado começa a legitimar esses quadro técnico que vai sendo formado 
e, ao mesmo tempo, passará a regulamentar essa profissão nascente, 
incentivando e institucionalizando sua progressiva transformação em profissão 
legitimada dentro da divisão sócio-técnica do trabalho. 
Nesse movimento de alargamento da demanda por assistentes sociais, 
ocorre um processo de mercantilização desta força de trabalho. 
O número de profissionais era inferior a necessidade daquele mercado 
crescente. 
OBS: a Igreja recomenda a tutela estatal para a classe operária, ao mesmo 
tempo em que reclama liberdade de ação para o desenvolvimento de sua ação 
e o subsídio do estado para ela. 
A extração de classes dos profissionais somada à ideologia religiosa 
conformavam um perfil de assistente social que desconsiderava as condições 
concreta de vida do proletariado. A neutralidade sempre inexistiu no meio 
profissional, pois era bastante claro o conteúdo político que atravessava a 
prática desenvolvida. Ocorria um processo de “culpabilização” do proletário por 
sua situação: ele era considerado portador de uma “ignorância natural”, baixo 
nível cultural, fraca formação moral, insuficiente em recursos econômicos, 
enfim, era presa fácil da “fanfarra subversiva”. 
O Discurso caracterizava-se por ser doutrinário e moralista, ou seja, os 
profissionais assumiam uma outra postura de conhecimento e decisão sobre o 
que era melhor para o outro; o julgamento moral tem por base o esquecimento 
das bases materiais das relações sociais. 
O autoritarismo, o paternalismo, o doutrinarismo e ausência de base 
técnica (influência do Serviço Social Europeu) vão encontrar bases sólidas para 
sua implementação dos interesses da classe da burguesia industrial nascente. 
A influência do Serviço Social europeu aqui no Brasil vai até o final dos 
anos 30; em 1941 ocorre o Congresso Interamericano de Serviço Social em 
Atlantic City e aí se amarram laços sobre programas de formação e técnicas de 
intervenção. 
Capítulo II. Protoformas do Serviço Social 
 
 Grupos Pioneiros e as Primeiras Escolas de Serviço Social 
A participação do clero no controle direto do operariado industrial remonta 
do surgimento das primeiras grandes unidades industriais, em fins do século 
passado (XIX). É viva a presença de religiosos no próprio interior dessas 
unidades, que muitas vezes possuíam capelas próprias, onde diariamente os 
trabalhadores eram obrigados a assistir a missa e outras liturgias. No plano 
sindical, com o apoio patronal, desenvolvem iniciativas assistenciais e 
organizacionais visando contrapor-se ao sindicalismo autônomo de inspiração 
anarco-sindicalista. 
No contexto internacional, o surgimento da primeira nação socialista ( 
antiga União Soviética – URSS) e a efervescência do movimento popular 
operário em toda a Europa caracterizam o contexto de surgimento das 
primeiras escolas de serviço social naquele continente. A questão social vinha 
à tona e com ela a necessidade de procurar soluções para resolvê-la, senão 
minorá-la. 
As instituições assistenciais que surgem nesse momento, como a 
Associação das Senhoras Brasileiras (1920) no Rio de Janeiro, e a Liga das 
Senhoras Católicas (1923), em São Paulo, possuem já – não apenas ao nível 
da retórica – uma diferenciação face às atividades tradicionais de caridade. 
Possuem um aporte de recursos e potencial de contatos no âmbito do Estado 
que lhes possibilita o planejamento de obras assistenciais de maior 
envergadura e eficiência técnica. 
O surgimento dessas instituições dá-se dentro da primeira fase do 
movimento de “reação católica”, da divulgação do pensamento social da Igreja 
e da formação das bases organizacionais e doutrinárias do apostolado laico. 
Tem em vista não o socorro aos indigentes, mas já dentro de uma perspectiva 
embrionária de assistência preventiva, de apostolado social, atender e atenuar 
determinadas seqüelas do desenvolvimento capitalista, principalmente no que 
se refere a menores e mulheres. É nesse período, também que a incorporação 
da mulher à força de trabalho urbana deixa de ser “privilégio” das famílias 
operárias, passando a atingir também a parcelas da pequena burguesia. 
Em 1922 é fundada a Confederação Católica – precursora da Ação 
Católica – que objetiva centralizar politicamente e dinamizar esses primeiros 
embriões de apostolado laico. 
 O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a 
Necessidade de uma Formação Técnica Especializada para a Prestação 
da Assistência. 
O CEAS – considerado manifestação original do serviço social no Brasil,surge em 1932, com o incentivo e sob o controle da Igreja Católica. 
Surge a partir da necessidade de dar maior rendimento às iniciativas e 
obras promovidas pela filantropia das classes dominantes paulistas sob o 
patrocínio da Igreja e de dinamizar a mobilização do laicado. 
O objetivo central do CEAS será o de promover a formação de seus 
membros pelo estudo da doutrina social da igreja e fundamentar a sua ação 
nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas 
sociais. 
Há também uma clareza quanto ao sentido novo dessa ação social, se 
tratará de intervir diretamente junto ao proletariado para afastá-lo de influências 
subversivas. 
Até dezembro de 1932, o CEAS fundou quatro centros operários onde suas 
propagandistas, por meio de aulas de tricô e trabalhos manuais, conferência, 
conselhos sobre higiene, etc, procuraram interessar e atrair as operárias e 
entrar assim em contato com as classes trabalhadoras, estudar-lhes o 
ambiente e necessidades. 
Aceitando a uma idealização de sua classe sobre a vocação natural da 
mulher para as tarefas educativas e caridosas, essa intervenção assumia, aos 
olhos dessas ativistas, a consciência do posto que cabe a mulher na 
preservação da ordem moral e social e o dever de tornarem-se aptas para agir 
de acordo com suas convicções e suas responsabilidades. 
Paralelamente, sua posição de classe lhes faculta um sentimento de 
superioridade e tutela em relação ao proletariado, que legitima a intervenção. 
Mas, por que uma associação que reúne moças da sociedade se ocuparia 
de problemas da classe operária ? Essa iniciativa é também legitimada e é 
explicável – ela se baseia num sentimento profundo de justiça social e de 
caridade cristã, que leva aquelas que dispõem de tempo e de meios a 
auxiliarem as classes sociais mais fracas a formar suas elites, para que estas 
também possam cumprir eficientemente o seu dever. Elas mostram a essas 
elites como deverão se organizar para defender a família e a classe operária 
contra os ambiciosos e os agitadores que exploram seu trabalho ou a sua 
ignorância. 
Em 1936 é fundada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira 
desse gênero a existir no Brasil. A partir daí, inicia-se uma demanda por 
quadros habilitados por essa formação técnica especializada, partindo de 
determinadas instituições estatais. 
Através da lei 2497 de 24/12/1935 foi criado o Departamento de 
Assistência Social do Estado, primeira iniciativa desse gênero no Brasil. Nesse 
sentido, quando em 1936 é fundada pelo CEAS a primeira escola de serviço 
social, esta não pode ser considerada como fruto de uma iniciativa exclusiva do 
movimento católico laico, pois já existe presente uma demanda – real ou 
potencial – a partir do Estado, que assimilará a formação doutrinária própria do 
apostolado social. 
É importante situar que ocorre um processo de “mercantilização” dos 
portadores daquela formação técnica especializada que se traduz na sua 
transformação em força de trabalho que pode ser comprada. O portador dessa 
qualificação não mais necessariamente será uma moça de sociedade devotada 
ao apostolado social. Progressivamente se transformará num componente de 
força de trabalho, possuindo uma determinada qualificação, englobada na 
diferença social e técnica do trabalho. 
 O Serviço Social e a Sistematização da Atividade Social. 
Naquele momento histórico, a cidade do Rio de Janeiro, além de ser o mais 
antigo polo industrial da região sudeste – tendo perdido há pouco para São 
Paulo a condição de principal conglomerado industrial – é o grande centro de 
serviços, contando com numeroso proletariado. É ainda, a maior cidade do 
país, capital federal onde se concentra a administração federal e os principais 
aparatos da igreja católica, os grandes bancos. Por essas condições é a cidade 
onde mais se desenvolveu a infra estrutura de serviços básicos, inclusive 
serviços assistenciais com forte participação do Estado. A diferença de São 
Paulo, verifica-se uma participação mais intensa das instituições públicas e o 
apoio ainda mais explícito da alta administração federal e da cúpula hierárquica 
da igreja católica e do movimento católico laico. 
A primeira semana de ação social do Rio de Janeiro (1936) é considerado 
um marco para a introdução do serviço social na capital da república. Naquele 
momento a Igreja recomenda a tutela estatal para a classe operária, ao mesmo 
tempo em que reclama liberdade de ação para o desenvolvimento de sua ação 
social e o subsídio do Estado para ela. 
A necessidade de formação técnica especializada para a prática de 
assistência é vista não apenas como uma necessidade particular ao movimento 
católico. Tem-se presente essa necessidade, enquanto necessidade social que 
não apenas envolve o aparato religioso, mas também o Estado e o 
empresariado. A visão da possibilidade de profissionalização do apostolado 
social é dada de forma sutil, na medida em que se encarece a necessidade de 
colaboradores para as obras particulares e se prevê a demanda de pessoal 
permanente para as instituições oficiais e patronais, reconhecendo nessas 
duas instâncias socialmente habilitadas a possibilitar esse empreendimento. 
No ano de 1936 é realizado o primeiro curso “intensivo de serviço social”, 
com a duração de três meses constando de uma série de palestras sobre 
temas sociais, legais, educacionais e médicos, com ênfase para o problema da 
“infância abandonada”. Paralelamente, realizou-se um curso prático de serviço 
social, para cuja realização foram requisitadas as duas primeiras assistentes 
sociais paulistas recém-formadas na Bélgica. Em 1938, começa a funcionar 
sob orientação leiga o curso regular da Escola Técnica de Serviço Social, que 
diploma sua primeira turma em 1941. 
No decorrer da década de 40 surgem várias escolas de serviço social nas 
capitais dos estados, sendo que quatorze delas enviam representação ao I 
Congresso Brasileiro de Serviço Social, realizado em 1947. 
A existência de assistentes sociais diplomados se limitará por um longo 
período quase apenas ao RJ e SP, sendo que mesmo aí, seu número é pouco 
significativo. (a demanda por assistentes sociais era maior do que o número de 
profissionais disponíveis). 
 Campos de Ação e Prática dos Primeiros Assistentes Sociais 
Começa a ser notado um certo alargamento da base de recrutamento das 
alunas das escolas; deixa assim de ser um privilégio das classes médias, para 
abarcar crescentemente parcelas da pequena burguesia urbana. Vão se 
colocar para as assistentes sociais desta época o problema do mercado de 
trabalho mas, de luta pelo reconhecimento da profissão e pela exclusividade, 
pelos diplomados, de inúmeras vagas que foram se abrindo no serviço público 
ou instituições para-estatais e autarquias, no campo dos serviços sociais. 
Os centros familiares organizados pelo CEAS, a partir do convênio com o 
departamento de serviço social do Estado, começaram a funcionar a partir de 
1940 nos bairros operários; estes centros deveriam se constituir como modelos 
de prática do serviço social. Sua finalidade seria a de “separar as famílias das 
classes proletárias, prevenindo sua desorganização e decadência e procurando 
elevar seu nível econômico e cultural por meio de serviços de assistência e 
educação” (atividades desempenhadas: plantão, visitas domiciliares, 
bibliotecas infantis, reuniões educativas, curso primário, curso de formação 
familiar, restaurante para os operários). 
Enquanto pesquisadores sociais se dedicarão através de inquéritos 
familiares, a diversos levantamentos nos bairros operários, pesquisando as 
condições de moradia, situação sanitária econômica e moral (situação civil,promiscuidade, alcoolismo, desocupação, etc) do proletariado. 
Nas primeiras experiências em serviço social de empresa, os profissionais 
atuarão, em geral, na racionalização dos serviços assistenciais ou na sua 
implantação, assim como em atividades de cooperativismo, ajuda mútua e 
organização de lazeres educativos. Paralelamente, interferirão crescentemente 
nos encaminhamentos necessários a obtenção dos benefícios da legislação 
social junto aos órgãos de previdência. 
No campo do serviço social médico, as iniciativas são ainda extremamente 
embrionárias. Estarão ligadas inicialmente à puericultura e à profilaxia de 
doenças transmissivas e hereditárias. 
A atuação prática desenvolvida pelos primeiros profissionais estará, assim, 
voltada essencialmente para a organização da assistência, para a educação 
popular e para a pesquisa social. 
 Elementos do Discurso do Serviço Social 
Durante essa fase a produção específica sobre a matéria do serviço social, 
como hoje é correntemente entendida, é bastante limitada. Constitui-se no 
essencial, em veículo de doutrinação e propaganda do pensamento social da 
igreja, propondo-se a mobilização da opinião católica para o apostolado social. 
O serviço social tem por objeto remediar as deficiências dos indivíduos e 
das coletividades; quando se dirige ao ajustamento de um determinado quadro, 
ele o faz para sanar deficiências acidentais, decorrentes de certas 
circunstâncias, e não de um defeito estrutural. 
No que tange a um entendimento mais amplo da sociedade, o discurso é 
essencialmente doutrinário e apologético. Tendo por base o pensamento 
católico europeu – em sua vertente mais direitista – e, principalmente, as 
encíclicas papais, esse discurso se antepõe ao comunismo totalitário e à 
ordenação social do liberalismo, incapaz de resolver o problema das classes 
subalternas. 
No plano da metodologia e técnicas, também não se observa por parte dos 
profissionais, um trabalho de teorização e adaptação à realidade brasileira. A 
tônica será a do serviço social de casos individuais; só muito mais tarde se 
começará a pensar na organização e desenvolvimento de comunidade, e isto 
também a partir de influência externa. 
Verifica-se a partir do discurso dos assistentes sociais, a existência de um 
projeto teórico de intervenção nos diversos aspectos da vida do proletariado, 
tendo em vista a reordenação do conjunto da vida social. 
A incorporação da força de trabalho feminina e infantil, as migrações 
ocasionadas pela transformação da agricultura, as transformações técnicas da 
produção industrial, tem por conseqüência a existência de um imenso exército 
industrial de reserva – vivendo em condições sub-humanas – e permitindo que 
o preço da força de trabalho possa ser depreciado de seu valor. Neste quadro, 
a reprodução da força de trabalho ativa – da mesma forma que a daqueles, 
total ou parcialmente ocupados, componentes do exército industrial de reserva 
– só pode realizar-se parcialmente sob a forma valor. Torna-se necessária a 
complementação de sua subsistência. 
O componente da formação religiosa dos profissionais e de sua vocação 
mística de um apostolado social constitui, por sua vez, elemento essencial de 
legitimação de seu projeto. Recristianizar a sociedade ameaçada pela crise, 
recuperar o homem, significam, mais concretamente recristianizar e recuperar 
o proletariado. 
Freqüentemente se tem atribuído à influência européia determinadas 
características assumidas pelos processos de implantação do serviço social 
entre nós. O autoritarismo, paternalismo, doutrinarismo e a ausência de base 
técnica, que marcariam a atuação dos primeiros núcleos que se formariam no 
Rio e São Paulo, seriam típicos do serviço social europeu. 
O perfil exigido do assistente social era: ser uma pessoa da mais íntegra 
formação moral, que a um sólido preparo técnico alie o desinteresse pessoal, 
uma grande capacidade de devotamento e sentimento de amor ao próximo; 
deve ser realmente solicitado pela situação penosa de seus irmãos, pelas 
injustiças sociais, pela ignorância, pela miséria, e a esta solicitação devem 
corresponder a qualidades pessoais de inteligência e vontade. 
Como marca da influência norte-americana no ensino especializado no 
Brasil, situa-se o Congresso Interamericano de Serviço Social realizado em 
1941 em Atlantic City, EUA. A partir desse evento se amarram os laços que 
irão relacionar estreitamente as principais escolas de serviço social brasileiras 
com as grandes instituições e escolas norte-americanas e os programas 
continentais de bem-estar social. 
Ainda em relação à ideologia religiosa, fenômenos como a miséria, o 
pauperismo do proletariado urbano, aparecerão como situação patológica, 
como anomia, cuja origem é encontrada na crise de formação moral deste 
mesmo proletariado. O julgamento moral do proletariado se sobrepõe às 
constatações sobre as causas da miséria e do pauperismo. Desta forma, esse 
julgamento tem por base o esquecimento das bases materiais das relações 
sociais. (As ações não atacam sobre as causas e sim sobre os efeitos 
produzidos na vida e na família operária). A ação destes profissionais é 
caracterizada como o de modernos agentes da caridade e da justiça social. 
Essa caracterização contribui para obscurecer e dar aparência de 
qualidades profissionais, neutras e caridosas, a um projeto de classe. 
A apreensão da realidade a partir dessa referência obscurece o sentido e 
os efeitos políticos e econômicos das práticas de inculcação ideológica 
desenvolvidas pelos assistentes sociais. 
Capítulo III - Instituições Assistenciais e Serviço Social 
 O Estado Novo e o desenvolvimento das grandes instituições 
sociais 
Em 1937, ocorre o golpe de estado por Getúlio Vargas; sua política 
econômica estava voltada ao incentivo da industrialização, apoio à 
capitalização e a acumulação deste setor. O estado volta-se ao incremento da 
infra estrutura básico à implantação do parque industrial. 
Em termos políticos ocorre uma aliança dos burgueses industriais com os 
grandes proprietários rurais, o que denota uma preocupação comum que é a 
manutenção do status quo; o pólo industrial passa a ser o centro motor da 
acumulação capitalista. 
O crescimento do proletariado urbano se dá via mão-de-obra liberada pela 
capitalização interna da agricultura; entretanto, não estavam adaptadas à 
lógica do trabalho urbano-industrial e o regime tentará canalizar para o 
fortalecimento do seu projeto, neutralizando os componentes autônomos e 
revolucionários dos trabalhadores mais politizados. 
A legislação trabalhista assume a condução de integradora, legitimadora do 
regime; é a forma social de exploração da força de trabalho. 
A repressão física (violência) se fazia acompanhar de uma política de 
massa (populismo de Getúlio Vargas); a legislação sindical dava fecho ao 
círculo de ataque às fomas autônomas de organização da classe trabalhadora. 
Os dissídios tiveram que ser autorizados pelo governo; cria-se o imposto 
sindical que possibilita o esquecimento do trabalho de base por parte dos 
dirigentes sindicais; atrela-se o viés assistencialista ao aparelho sindical; são 
criados os sindicatos amarelos, simpáticos ao governo. 
O objetivo desta legislação sindical visou fundamentalmente o 
enquadramento da força de trabalho garantindo assim a acumulação do capital. 
Ideologicamente, a figura de Getúlio Vargas foi passada para a história, de 
forma bastante competente, como o pai dos “pobres”. 
Contexto sócio-político dos anos 40: 
O governo brasileiro usa um discurso para mobilizar a população quanto ao 
esforço requerido pela guerra; apesar da expansão industrial, decresce o 
salárioreal; pioram as condições de vida, aumenta-se o ritmo do trabalho e 
intensifica-se a exploração; exarceba-se a impopularidade do governo, 
ocorrendo o fortalecimento da oposição e o reaparecimento do movimento 
operário. 
Getúlio Vargas ao considerar a conjuntura internacional e nacional busca 
adesão do movimento popular democrático e antifascista, objetivando manter 
em sua essência, o modelo de dominação. Estrategicamente afrouxa os 
mecanismos de controle social (ele é deposto em 1945). 
A implantação e desenvolvimento das grandes instituições sociais e 
assistenciais (que se dá na década de 40) criarão as condições para a 
existência de um crescente mercado de trabalho,... permitindo um 
desenvolvimento rápido de ensino especializado do Serviço Social. Nesse 
processo ocorre a legitimação e a institucionalização da profissão. 
- LBA (1942 – Engajamento do Brasil na 2ª Guerra Mundial): rentabilidade 
política para o governo diante do que o “ esforço de guerra” iria propiciar. 
Sua criação se deu a partir da iniciativa privada, sendo posteriormente, 
encampada pelo governo. 
Organizada em todo o território nacional. Essa instituição passou a ser 
responsável por toda estrutura assistencial do governo (programas de creche, 
para idosos, gestante, etc). 
- SENAI (1942 - empreendimento que visava a necessidade crescente de 
qualificação da mão-de-obra exigida pela industria. A formação anteriormente 
dava-se no interior das empresas ou através da importação de mão-de-obra. É 
aqui que podemos situar a iniciativa da atuação coletiva do empresariado, a 
estratégia aqui utilizada consistia em articular a violência simbólica do sistema 
escolar e a coerção e autoritarismo das unidades de produção. 
As atividades desenvolvidas eram: saúde bucal e geral, alimentação, 
asseio corporal, fornecimento de sopa, leite, organização de colônia de férias, 
dentistas, mediadas assistenciais e educativas. 
- SESI (1946) – objetivos: estudar, planejar e executar medidas que 
contribuam para o bem estar do trabalhador na indústria, “visando a 
valorização do homem e os incentivos à atividade produtora” (bem estar 
voltado ao incremento da produtividade). Sendo assim, extrapola-se o controle 
interno que ocorre nas unidades fabris para o cotidiano da vida dos proletários. 
1. FUNDAÇÃO LEÃO XIII (1946 – através do decreto lei): atuação 
focalizada nos habitantes favelados (fenômeno crescente a partir do êxodo 
rural). 
Âmbito de ação: favelas da cidade do Rio de Janeiro, que era à época, 
capital federal. 
A extrema precariedade material e moral dessa população, expunha à 
influência do comunismo, segundo avaliação das autoridades. 
Serviço Social na Fundação: o “problema da favela” é o problema da 
educação/casos individuais, lazer educativo, educação popular e formal. 
Pág. 294 – o empreendimento de educação e lazer para favelados visa 
ocupar o seu tempo livre (resgatado do capitalismo) para ocupá-lo de forma 
que neutralizasse seu possível conteúdo de autonomia e relativa liberdade. 
1. PREVIDÊNCIA SOCIAL: A primeira experiência oficial da implantação 
do Serviço Social na estrutura burocrática do seguro social foi 1942 no IPAC 
(Instituição de Pensões e Aposentadoria dos Comerciários). 
O assistente social passou a ser elemento que esclareceria sobre o seguro 
social; é ele quem oferecia uma face humana à burocracia do órgão e passa a 
incentivar o pagamento das prestações, sublinhando as vantagens para o 
trabalhador. A ideologia do assistente social acentuava que o espírito de 
imprevidência e insegurança das camadas pobres derivava de sua ignorância 
acerca das finalidades do seguro social. Seria preciso investir na educação 
social do segurado. 
Institucionalização da prática profissional dos assistentes sociais 
Serviço Social: mandato institucional profundamente vinculado a uma 
demanda, objetivamente determinada pela relação de força entre as classes 
fundamentais da sociedade. 
O rompimento da profissão com sua origem católica se dá via o surgimento 
e consolidação do mercado de trabalho (grandes instituições/influência do 
Serviço Social Norte Americano) e o assalariamento da força de trabalho ( não 
eram mais moças de família, mas camadas médias que tiveram que vender 
sua força de trabalho). 
O significado social da profissão encontra-se estreitamente vinculado às 
políticas sociais do Estado, via instituições ( de saúde, educação, etc). 
O processo de institucionalização e de profissionalização do Serviço Social 
ocorre de forma simultânea no processo histórico; por isso não dá para pensar 
o desenvolvimento e até a renovação do social sem vincula-la aos movimentos 
da sociedade brasileira. 
As instituições tem uma incapacidade genética de resolver os problemas 
dos sujeitos. Essa fragilidade pode ser visualizada no fenômeno de setorização 
das políticas sociais e na manutenção da exclusão enquanto aspecto 
fundamental dessas políticas (a demanda crescente e o caráter seletivo e 
limitado do acesso). 
Dessa forma, assistimos o fenômeno de canalização para as instituições 
assistenciais e previdenciárias, de uma série de contradições que se originam 
no nível das relações sociais de produção. 
O Serviço Social se constitui como instrumento de esclarecimento e 
conscientização sobre os direitos, os serviços, os benefícios da instituição e 
forma de acesso a ela; a profissão utiliza em seu cotidiano, a ação ideológica 
dos aconselhamentos. O Serviço Social está situado entre a demanda 
institucional (e a sua incapacidade em resolver as problemáticas dos 
indivíduos) e diante da revolta e inconformismo da população. 
Capítulo IV – Em busca de atualização: 
O primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social ocorrido em 1947 foi 
promovido pelo CEAS/SP (Centro de Estudos e Ação Social). Nesse evento 
fica patente o apoio às entidades e programas pan-americanos e 
interamericanos relacionados à assistência (a influência do serviço Social Norte 
Americano já se fazia sentir). 
A pauta do encontro indicava: a discussão de normas para funcionamento 
das escolas de Serviço Social; a regulamentação do ensino e a luta pelo 
reconhecimento profissional (influência no surgimento da Associação Brasileira 
de Escolas de Serviço Social – ABESS e da Associação Brasileira de 
Assistentes Sociais – ABAS). 
A expansão da profissão e a ideologia desenvolvimentista 
Década de 60 – expansionismo no Serviço Social/ideologia 
desenvolvimentista (JK: 50 anos em 5 – expansão econômica e 
internacionalização da economia); alargamento das funções exercidas pelo 
assistente social (coordenação e planejamento); modernização do corpo 
teórico/métodos (Serviço Social de grupo e comunidade) e técnicas. 
A partir dessa ideologia desenvolvimentista, o problema central a atacar 
era o ATRASO, do qual decorre a posição secundária ou marginal ocupada 
pelo Brasil dentro do mundo capitalista. O subdesenvolvimento era justificado 
por conta do predomínio do modelo agrário – exportador e ao, ainda fraco, 
desenvolvimento industrial do país. 
A miséria e a pobreza devem ser superadas tendo em vista a possibilidade 
de construção de focos de descontentamento social (fácil presa para o 
comunismo). A concepção de desenvolvimento coadunava ordem e segurança 
num clima de paz social. 
O II Congresso Brasileiro de Serviço Social ocorreu em 1961 (estratégia de 
atualização em relação às idéias que agitam os setores dominantes e as 
demandas objetivas que fazem à instituição Serviço Social), a profissão nesse 
momento histórico necessita rearrumar seus pressupostos interventivos face às 
novas exigências que a realidade vem colocando.

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