Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROF. MARCO SOARES DIREITO ADMINISTRATIVO COMEÇANDO DO ZERO 1 DIREITO ADMINISTRATIVO PROF. MARCO SOARES 1 DIREITO ADMINISTRATIVO Diversos juristas procuram conceituar o direito administrativo, que em um bom nível de entendimento consiste no conjunto de princípios e regras jurídicas que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas, realizando de forma direta, concreta e imediata os fins desejados pelo o Estado. As fontes do Direito Administrativo são: lei, doutrina, jurisprudência e costume. 1.1 ESTADO O Estado é uma pessoa de Direito Público, territorial e soberana, formada pelos elementos povo (grupo de pessoas), território (onde o povo se fixa) e governo soberano (elemento que detém e exerce o poder emanado do povo). O Brasil adota o modelo de Estado Federado, tendo como característica a descentralização política, onde coexistem diferentes esferas políticas no mesmo território (a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios), sendo estes indissolúveis. É assegurada a soberania à União e autonomia aos Estados, Distrito Federal e Municípios. Logo, não existe subordinação entre os entes federados. No Brasil, a forma federativa de Estado constitui cláusula pétrea. 1.2 GOVERNO Na seara do direito administrativo, a expressão “governo” é usada para designar o conjunto de órgãos constitucionais responsáveis pela função política do Estado. A noção de governo está relacionada com a função política de comando, de coordenação, de direção e de fixação de planos e diretrizes de atuação do Estado. O modo como o Poder Executivo e o Poder Legislativo se relacionam, indicará o Sistema de Governo, podendo ser Presidencialista ou Parlamentarista. O Brasil, atualmente, adota o Sistema Presidencialista e a Forma Republicana de Governo. 1.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A administração pública em sentido amplo abrange os órgãos do governo que exercem função política, ou seja, aquelas que estabelecem as diretrizes e programas de ação governamental, os planos de atuação do governo e a fixação de políticas públicas e também os órgãos e pessoas jurídicas que exercem função meramente administrativa que resume-se à execução das políticas públicas formuladas no exercício da referida atividade política. Já em sentido estrito, a administração pública só inclui os órgão e pessoas jurídicas que exercem função meramente administrativa, de execução, excluindo os órgãos e as funções políticas de elaboração das políticas públicas. Adotaremos neste estudo, conforme Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino, o sentido estrito, limitado as funções meramente administrativas aos órgãos e entidades que as desempenham. O Brasil adota o sentido formal de administração pública, sendo este entendido juridicamente como o conjunto de órgãos, pessoas jurídicas e agentes. Integram a administração pública os órgãos da administração direta e as entidades da administração indireta. Em síntese, como estamos tratando de uma acepção formal, subjetiva, deve-se perquirir tão somente “quem” o ordenamento jurídico considera administração pública, e não “o que” (critério objetivo, material) é realizado. 1.4 REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO O regime jurídico-administrativo é um regime de direito público, aplicável aos órgão e entidades que compõem a administração pública e à atuação dos agentes administrativos em geral. Em outras palavras Regime jurídico administrativo é o conjunto de princípios que define o Direito Administrativo. PROF. MARCO SOARES DIREITO ADMINISTRATIVO COMEÇANDO DO ZERO 2 Existe divergência quanto aos princípios que fundamentam tal regime. Embora a constituição Federal, ao tratar da administração pública, não traga, a doutrina majoritária cita a supremacia do interesse público e a indisponibilidade do interesse público. 1.5 PRINCÍPIOS Os princípios são as ideias centrais de um sistema,estabelecendo suas diretrizes e conferindo a ele um sentido lógico, harmonioso e racional, o que possibilita uma adequada compreensão de sua estrutura. Os princípios fundamentais orientadores de toda a atividade da Administração Pública encontra-se, explícita ou implicitamente, no texto da Constituição Federal. Os principais princípios implícitos são: SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PARTICULAR e INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO. Já os expressos são: LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE e EFICIÊNCIA. 2 ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ESTADO Como já foi visto, administração pública em sentido amplo abrange os órgão de governo que exercem função política, e também os órgãos e pessoas jurídicas que exercem função meramente administrativa. Administração pública em sentido estrito só inclui os órgãos e pessoas jurídicas que exercem a função meramente administrativa, de execução dos programas de governo. Ficam excluídos os órgãos políticos e as funções políticas, de elaboração das políticas públicas. E é nesse sentido que usaremos a expressão “administração pública.” Em sua organização, o Estado dividiu a sua administração em administração pública direta e indireta. 2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA Inicialmente, a administração pública se organiza em administração direta, onde temos os órgão integrantes da estrutura de uma pessoa política (União, Estados, DF e municípios) e administração indireta que é composta por entidades (autarquia, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista). Administração direta é o conjunto de órgãos que integram as pessoas políticas do Estado (União, Estado, DF e municípios), aos quais foi atribuída a competência para o exercício, de forma centralizada, de atividades administrativas. Administração indireta é o conjunto de pessoas jurídicas desprovidas de autonomia política que, vinculadas à administração direta, têm a competência para o exercício, de forma descentralizada, de atividades administrativas. 2.2 CENTRALIZAÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO, CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO Centralização é quando o Estado executa suas tarefas diretamente, por meio dos órgãos e agentes integrantes da denominada administração direta. Lembrando que aqui não há subordinação, e sim vinculação. Descentralização é quando o Estado desempenha algumas de suas atribuições por meio de outras pessoas e pode ocorrer de duas formas. a) descentralização por outorga: ocorre quando o Estado cria outra entidade e a ela transfere, por meio de lei, determinado serviço público. Normalmente é conferida por prazo indeterminado. É o que ocorre com as entidades da administração indireta. b) descentralização por delegação: ocorre quando o Estado transfere, através de contratos (prazo determinado) e atos unilaterais (em regra, prazo indeterminado), apenas a execução de determinado serviço isto para que o ente delegado preste em seu próprio nome e por sua conta e risco sob a fiscalização do Estado. Normalmente é PROF. MARCO SOARES DIREITO ADMINISTRATIVO COMEÇANDO DO ZERO 3 concedida por prazo determinado. É o que ocorre com as concessionárias e permissionárias. Embora não haja consenso na doutrina, a corrente majoritária entende que na delegação por outorga, há a transferência da titularidade do serviço público à entidade administrativa, e não sua mera execução, como ocorre na delegação. A prestação concentradade um serviço ocorreria em uma pessoa jurídica que não apresentasse divisões em sua estrutura interna. É conceito praticamente teórico. A desconcentração administrativa ocorre dentro da mesma pessoa jurídica. Como resultado da desconcentração, temos o surgimento dos denominados órgãos públicos. Por ocorrer dentro de uma mesma pessoa jurídica, surge a relação de hierarquia, subordinação, entre os órgãos dela resultantes. Disso, decorrem os poderes de comando, fiscalização, revisão, punição, solução de conflitos de competência, delegação e avocação. Cabe mencionar que a desconcentração é apenas mera técnica administrativa de distribuição interna de atribuições e que ocorre tanto no exercício de competências pela administração direta quanto pela indireta. 3 AGENTES PÚBLICOS Considera-se agente público todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função pública. A expressão “agente público” tem sentido amplo, alcançando todas as pessoas que, a qualquer título, exercem uma função pública, remunerada ou gratuita, definitiva ou transitória, política ou jurídica, como preposto do Estado. O agente é a pessoa natural mediante a qual o Estado se faz presente. Logo, não se deve confundi-lo com a figura do órgão administrativo que é um centro de competência despersonalizado. O agente manifesta uma vontade que, afinal, é imputada ao próprio Estado. Não se deve confundir o gênero “agentes públicos” com algumas de suas mais conhecidas espécies, quais sejam: servidor público, empregado público e funcionário público. 3.1 CLASSIFICALÇAO DOS AGENTES PÚBLICOS Os agentes públicos são classificados em cinco grupos, a saber: agentes políticos, agentes administrativos, gentes honoríficos, agentes delegados e agentes credenciados. Agentes políticos são os integrantes dos mais altos escalões do Poder Público cabendo-lhes elaborar as diretrizes de atuação governamental e as funções de direção, orientação e supervisão geral da administração pública. Podemos citar os chefes do Executivo, seus auxiliares imediatos, membros do Poder Legislativo, e alguns autores citam os membros da magistratura e MP. Agentes administrativos são todos aqueles que exercem uma atividade pública de natureza profissional remunerada, sujeitos à hierarquia funcional e ao regime estabelecido. São os ocupantes de cargos, empregos e funções públicas sejam eles servidores, empregados ou temporários. Agentes honoríficos são cidadãos requisitados ou designados para, transitoriamente, colaborarem com o Estado prestando algum serviço específico normalmente sem remuneração, por exemplo, jurados, mesários e membros do Conselho Tutelar (sendo estes remunerados). Agentes delegados são particulares que recebem a incumbência de exercer determinada atividade, obra ou serviço público e o fazem em nome próprio, por sua conta e risco, sob fiscalização do poder delegante. Exemplo: leiloeiro, tradutores, etc. PROF. MARCO SOARES DIREITO ADMINISTRATIVO COMEÇANDO DO ZERO 4 Agentes credenciados são pessoas que recebem a missão de representar a administração em determinado ato mediante remuneração. 3.2 SERVIDOR, EMPREGADO E FUNCIONÁRIO PÚBLICO Servidor público em sentido estrito é aquele que mantém relação funcional com o Estado em regime estatutário e são regidos pelo regime jurídico de direito público. Empregado público é aquele que sob o regime contratual trabalhista (celetista), mantém vínculo funcional com a administração pública e são regidos pelo regime jurídico de direito privado. A expressão funcionário público é empregada no direito penal abarcando todos os agentes correspondendo ao mesmo que agente público. 4 PODERES ADMINISTRATIVOS São prerrogativas e instrumentos dos quais se vale a Administração Pública para promoção e defesa do interesse público. Costumam ser chamados de poderes- deveres. a) PODER VINCULADO: é aquele poder que o administrador não tem liberdade, não tem juízo de valor, nem conveniência nem oportunidade b) PODER DISCRICIONÁRIO: há um juízo de valor na hora do administrador agir. Baseia-se em um poder discricionário, embasado em oportunidade e conveniência, para atuar discricionariamente (mas não se exclui o poder vinculado). É aquele em que o agente administrativo dispõe de uma razoável liberdade de atuação, podendo valorar a oportunidade e conveniência da pratica quanto ao seu motivo, e, sendo o caso, escolher, dentro dos limites legais, o seu conteúdo. c) PODER HIERÁRQUICO: caracteriza-se pela existência de subordinação entre órgãos e agentes públicos. d) PODER DISCIPLINAR: nada mais é do que a possibilidade de aplicar sanção em razão de uma infração funcional. O poder disciplinar decorre do poder hierárquico. e) PODER REGULAMENTAR: também chamado de Poder Normativo (MARIA SYLVIA DI PIETRO). Tem por finalidade disciplinar, complementar a previsão legal e buscando a sua fiel execução. f) PODER DE POÍCIA: pelo conceito moderno, adotado no direito brasileiro, o poder de polícia é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público. Esse interesse público diz respeito aos mais variados setores da sociedade, tais como segurança, moral, saúde, meio ambiente, defesa do consumidor, patrimônio cultural, propriedade. Daí a divisão da polícia administrativa em vários ramos: polícia de segurança, das florestas, das águas, de trânsito, sanitária etc. O fundamento do poder de polícia é o princípio da predominância do interesse público sobre o particular, que dá à Administração posição de supremacia sobre os administrados. O Poder de Polícia é resultado do exercício de supremacia geral (aquela atuação do poder público que independe de relação jurídica anterior), ex.: controle alfandegário, multa de trânsito, vigilância sanitária. 5 ATOS ADMINISTRATIVOS Ato administrativo é toda manifestação ou declaração da administração pública, nesta qualidade, ou de particulares no exercício de prerrogativas públicas, que tenha por fim imediata produção de efeitos jurídicos determinados, em conformidade com o interesse público e sob regime predominantemente público. Embora os atos administrativos sejam atos típicos de Poder Executivo no exercício de suas funções próprias, não se deve esquecer que os Poderes Judiciário e PROF. MARCO SOARES DIREITO ADMINISTRATIVO COMEÇANDO DO ZERO 5 Legislativo também editam atos administrativos. 5.1 ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO Também chamados de requisitos ou pressupostos, são condições necessárias à constituição do ato administrativo, à existência do ato. Co Fi Fo Mo Ob Competência: pessoa que pratica Finalidade: objetivo almejado Forma: modelo determinado para a exteriorização Motivo: fato que autoriza a prática Objeto: efeito jurídico 5.2 ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO Os atos administrativos possuem atributos, também chamados de características, são as suas qualidades. Presunção de legitimidade: são verdadeiros Imperatividade: impostos de forma unilateral Autoexecutoriedade: é executado sem a necessidade de se socorrer ao judiciário Tipicidade: devem corresponder a figuras previamente estabelecidasem lei (poucos autores elencam este atributo). 6 CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A administração pública pode realizar o seu próprio controle por meio da autotutela. Além disso, está sujeita ao controle jurisdicional e também ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo. A responsabilidade civil consubstancia-se na obrigação de indenizar um dano patrimonial ou moral decorrente de um fato humano Há a necessidade de haver um nexo causal direto e imediato, isto é, deve haver ligação lógica direta entre a conduta (comissiva ou omissiva) e o dano efetivo. No âmbito do direito administrativo, temos que a responsabilidade civil da Administração Pública evidencia-se na obrigação que tem o Estado de indenizar os danos patrimoniais ou morais que seus agentes, atuando em seu nome, ou seja, na qualidade de agentes públicos, causarem à esfera juridicamente tutelada dos particulares. Traduz-se, pois, na obrigação de reparar economicamente danos patrimoniais, e com tal reparação se exaure. As infrações cometidas pelo servidor público acarretam, conforme o caso, responsabilização administrativa, civil e criminal que em princípio são independentes. A responsabilidade civil do agente público é do tipo subjetiva, por culpa comum, isto é, eles só respondem pelos danos que causarem, por ação ou omissão, se o Estado provar que houve culpa ou dolo do servidor, cabendo ação regressiva do Estado contra o agente. A absolvição criminal por negativa de autoria ou inexistência de fato, inocenta o servidor nas demais esferas. Isso já não acontece se o motivo for ausência de provas ou ausência de tipicidade ou de culpabilidade penal. EXERCÍCIOS 1 (CESPE, PCPE, 2016) A jurisprudência e os costumes não são fontes do direito administrativo. PROF. MARCO SOARES DIREITO ADMINISTRATIVO COMEÇANDO DO ZERO 6 2 (CESPE, PCGO, 2016) Território e povo são elementos suficientes para a constituição de um Estado. 3 (CESPE, PCGO, 2016) Governo é o órgão central máximo que formula a política em determinado momento. 4 (CESPE, DPU, 2016) A função administrativa é exclusiva do Poder Executivo, não sendo possível seu exercício pelos outros poderes da República. 5 (CESPE, TRT, 2016) A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal são elementos do Estado Brasileiro. 6 (CESPE, DPU, 2016) A repartição do poder estatal em funções — legislativa, executiva e jurisdicional — não descaracteriza a sua unicidade e indivisibilidade. 7 (CESPE, TJSE, 2014) O princípio administrativo do interesse público é um princípio implícito da administração pública. 8 (CESPE, TJCE, 2014) De acordo com o princípio da publicidade, que tem origem constitucional, os atos administrativos devem ser publicados em diário oficial. 9 (CESPE, PCGO, 2016) Sem ter sido aprovado em concurso público, um indivíduo foi contratado para exercer cargo em uma delegacia de polícia de determinado município, por ter contribuído na campanha política do agente contratante. Nessa situação hipotética, ocorreu, precipuamente, violação do princípio da impessoalidade. 10 (CESPE, TCE-PA, 2016) O princípio da publicidade viabiliza o controle social da conduta dos agentes administrativos. 11 (CESPE, TCE-PA, 2016) O princípio da eficiência norteia essencialmente a prestação de serviços públicos à coletividade, sem impactar, necessariamente, rotinas e procedimentos internos da administração. 12 (CESPE, PCPE, 2016) As empresas públicas e as sociedades de economia mista, se constituídas como pessoa jurídica de direito privado, não integram a administração indireta. 13 (CESPE, PCPE, 2016) Desconcentração é a distribuição de competências de uma pessoa física ou jurídica para outra, ao passo que descentralização é a distribuição de competências dentro de uma mesma pessoa jurídica, em razão da sua organização hierárquica. 14 (CESPE, PCPE, 2016) Em decorrência do princípio da legalidade, é lícito que o poder público faça tudo o que não estiver expressamente proibido pela lei. 15 (CESPE, TJCE, 2014) As prerrogativas do Poder Legislativo incluem a sustação dos atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar. Curta minha página no Face: Prof. Marco Soares Me siga no Instagran: @professormarcosoares PROF. MARCO SOARES DIREITO ADMINISTRATIVO COMEÇANDO DO ZERO 7 GABARITO 1 E, 2 E, 3 E, 4 E, 5 E, 6 C, 7 C, 8 E, 9 E, 10 C, 11 E, 12 E, 13 E, 14 E, 15 C.
Compartilhar