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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
FACULDADE DE DIREITO 
DIREITOS HUMANOS 
PROF. JOSEMAR ARAÚJO - josemar@josemararaujo.com 
FOLHA DE APOIO 01 
 
Direitos Humanos e Direitos Fundamentais 
 
Explica J.J. Gomes Canotilho que direitos humanos e direitos fundamentais são 
termos utilizados, frequentemente, como sinônimos. Entretanto, segundo a origem e 
o significado, podem ter a seguinte distinção: direitos do homem são direitos válidos 
para todos os povos e em todos os tempos (dimensão jus naturalista). direitos 
fundamentais são os direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e 
limitados espaciotemporalmente. Os direitos humanos decorreriam da própria 
natureza humana, e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal: os direitos 
fundamentais seriam os direitos objetivamente vigentes numa ordem jurídica 
concreta. 
 
Edilsom Farias [indica que, a despeito dessa semelhança, importa assinalar que 
ultimamente vem-se utilizando a expressão direitos fundamentais para referir-se à 
dimensão constitucional desses direitos, reservando-se a aplicação da expressão 
direitos humanos para aludir-se à dimensão internacional dos mesmos, ou seja, 
quando proclamados em declarações e demais tratados internacionais. 
 
Conceito de Direitos Humanos em uma Perspectiva Jusnaturalista 
 
Foi numa perspectiva filosófica ou jusnaturalista que os direitos humanos foram 
primeiramente considerados, ou seja, traduzidos, em primeira dimensão, pelo direito 
natural, vistos, pois, como direitos de todas as pessoas humanas, em todos os 
tempos e em todos os lugares, sendo, portanto, absolutos, imutáveis, anespaciais e 
atemporais. Nesta maneira de ver, são paradigmas axiológicos, anteriores e 
superiores ao Estado e à própria Sociedade. Não se pode afirmar que esta 
perspectiva não desapareceu, sendo a ela que às vezes se recorre ainda hoje, 
sempre que há deficiências ou dificuldades na aplicação das normas positivas 
referentes aos direitos humanos. 
 
Nesta perspectiva Selma Regina Aragão afirma que são "os direitos em função da 
natureza humana, reconhecidos universalmente pelos quais indivíduos e 
humanidade, em geral, possam sobreviver e alcançar suas próprias realizações”. 
 
Conceito de Direitos Humanos em Uma perspectiva Universalista 
 
Numa segunda perspectiva, em decorrência dos efeitos do pós-guerra (II Grande 
Guerra), os direitos humanos são concebidos como direitos de todas as pessoas, 
em todos os lugares. São declarados, pactuados e convencionados com vistas à 
aplicação e proteção no âmbito da comunidade internacional, numa visão 
universalista ou internacionalista. 
 
Nas palavras de Maria Victória Benevides, Direitos Humanos são “aqueles comuns 
a todos os seres humanos, sem distinção de raça, sexo, classe social, religião, 
etnia, cidadania política ou julgamento moral”. decorrem do reconhecimento da 
dignidade intrínseca a todo ser humano. Independem do reconhecimento formal dos 
poderes públicos – por isso são considerados naturais ou acima e antes da lei, 
embora devam ser garantidos por esses mesmos poderes. 
 
Conceito de Direitos Humanos em uma Perspectiva Constitucional 
 
Nesta acepção, os direitos humanos são entendidos como direitos das pessoas ou 
de certas categorias de pessoas, num determinado tempo e lugar, mais 
precisamente em seus estados nacionais, como direitos positivos, 
constitucionalizados, tornando-se, assim, por meio da consagração constitucional, 
direitos fundamentais, caracterizando uma visão constitucionalista de tais direitos. 
Em razão deste movimento de constitucionalização dos direitos humanos, são raras 
as constituições que não apresentem prescrições destacando os direitos 
fundamentais como direitos humanos constitucionalizados. 
 
Alexandre de Moraes, que utiliza a expressão direitos humanos fundamentais, 
afirma que formam “o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser 
humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua 
proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições 
mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana”. 
 
Conceito Geral 
 
Perez Luño afirma que os Direitos Humanos podem ser compreendidos como “um 
conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam 
as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humanas, as quais devem 
ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e 
internacional”. 
 
Características dos Direitos Humanos 
 
Conforme se verifica, as várias perspectivas de conceituação dos Direitos Humanos 
(jus naturalista, universalista e constitucional) informam várias características. Como 
principais características dos Direitos Humanos, encontradas nas três vertentes, 
podem ser mencionadas duas: a indivisibilidade que se refere aos direitos 
relacionados ao homem como um todo e a universalidade, tendo em vista que tais 
direitos são inerentes a qualquer ser humano. 
 
 
Evolução Histórica e Internacionalização dos Direitos Humanos 
 
Sempre se mostrou intensa a polêmica sobre o fundamento e a natureza dos direitos 
humanos. A divergência consiste em saber se são direitos naturais e inatos, direitos 
positivos, direitos históricos ou, ainda, direitos que derivam de determinado sistema 
moral. Esse questionamento ainda permanece intenso no pensamento 
contemporâneo. Flávia Piovesan Defende a historicidade dos direitos humanos, na 
medida em que estes não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, 
em constante processo de construção e reconstrução. Enquanto reivindicações 
morais, os direitos humanos são fruto de um espaço simbólico de luta e ação social, 
na busca por dignidade humana, o que compõe um construído axiológico 
emancipatório. Citando Norberto Bobbio, esta autora destaca que os direitos 
humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos 
positivos particulares (quando cada Constituição incorpora Declarações de Direitos) 
para finalmente encontrar a plena realização como direitos positivos universais. 
 
O Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho 
situam-se como os primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos 
humanos. Para que os Direitos humanos se internacionalizassem, foi necessário 
redefinir o âmbito e o alcance do tradicional conceito de soberania estatal, a fim de 
permitir o advento dos direitos humanos como questão de legítimo interesse 
internacional . Foi necessário redefinir o status do indivíduo no cenário internacional, 
para que se tornasse verdadeiro sujeito de Direito Internacional. 
 
Direito Humanitário 
 
Direito Humanitário é o ramo do Direito dos Direitos Humanos que se aplica aos 
conflitos armados internacionais e, em determinadas circunstâncias, aos 
conflitos armados internos. Este Direito (direito humanitário) trata de um 
tema de Direito Internacional Público: a paz e a guerra. Remontando à 
Convenção de 1864, tem como fontes principais as quatro Convenções de 
Genebra de 1949 e os seus princípios devem aplicar-se hoje, quer às guerras 
internacionais, quer às guerras civis e a outros conflitos armados. 
 
A proteção humanitária refere-se a situações de extrema necessidade, 
integráveis no intuito de fixar limites à atuação do Estado e assegurar a observância de 
direitos fundamentais. A proteção humanitária se destina, em caso de guerra, a militares 
postos fora de combate (feridos , doentes, náufragos, prisioneiros) e a populações civis. 
Ao se referir a situações de extrema gravidade, o Direito Humanitário ou o Direito 
Internacional da Guerra impõe a regulamentação jurídica do emprego da violência no 
âmbito internacional. Nesse sentido, o Direito Humanitário foi a primeira expressão de 
que, no plano internacional, há limitesà liberdade e à autonomia dos Estados, ainda 
que na hipótese de conflito armado. 
 
A liga das Nações 
 
A Liga das Nações, por sua vez, veio a reforçar essa mesma concepção, apontando para a 
necessidade de relativizar a soberania dos Estados. Criada após a Primeira Guerra 
Mundial, a Liga das Nações tinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança 
internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e a 
independência política dos seus membros. A Convenção da Liga das Nações, de 1920, continha 
previsões genéricas relativas aos direitos humanos, destacando-se as voltadas ao sistema 
das minorias e aos parâmetros internacionais do direito ao trabalho — pelo qual os 
Estados se comprometiam a assegurar condições justas e dignas de trabalho para homens, 
mulheres e crianças. Esses dispositivos representavam um limite à concepção de soberania 
estatal absoluta, na medida em que a Convenção da Liga estabelecia sanções econômicas e 
militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem suas 
obrigações. Redefinia-se, desse modo, a noção de soberania absoluta do Estado, que passava 
a incorporar em seu conceito compromissos e obrigações de alcance internacional no que diz 
respeito aos direitos humanos. 
A Organização Internacional do Trabalho 
Ao lado do Direito Humanitário e da Liga das Nações, a Organização Internacional do Trabalho 
(International Labour Office, agora denominada International Labour Organization) também 
contribuiu para o processo de internacionalização dos direitos humanos. Criada após a Primeira 
Guerra Mundial, a Organização Internacional do Trabalho tinha por finalidade promover 
padrões internacionais de condições de trabalho e bem-estar. Sessenta anos após a sua 
criação, a Organização já contava com mais de uma centena de Convenções 
internacionais promulgadas, às quais Estados-partes passavam a aderir, 
comprometendo-se a assegurar um padrão justo e digno nas condições de trabalho. 
 
Contribuição das Três Instituições para os Direitos Humanos 
 
A Organização Internacional do Trabalho, a liga das nações e o Direito Humanitário, cada 
qual ao seu modo, contribuíram para o processo de internacionalização dos direitos humanos: 
 Seja ao assegurar parâmetros globais para as condições de trabalho no plano mundial, seja ao 
fixar normas internacionais para a manutenção da paz e segurança internacional, seja ao 
proteger direitos fundamentais em situações de conflito armado. 
 
tais institutos se assemelham na medida em que projetam o tema dos Direitos humanos na 
ordem internacional. Vale dizer, o advento da Organização Internacional do Trabalho, da 
Liga das Nações e do Direito Humanitário registra o fim de uma época em que o Direito 
Internacional era, salvo raras exceções, confinado a regular relações entre Estados, no 
âmbito estritamente governamental. Por meio desses institutos, não mais se visava 
proteger arranjos e concessões recíprocas entre os Estados; visava-se, sim, o alcance 
de obrigações internacionais a serem garantidas ou implementadas coletivamente, que, por 
sua natureza, transcendiam os interesses exclusivos dos Estados contratantes . Essas obri-
gações internacionais voltavam-se à salvaguarda dos direitos do ser humano e não das 
prerrogativas dos Estados. Tais institutos rompem, assim, com o conceito tradicional que 
situava o Direito Internacional apenas como a lei da comunidade internacional dos Estados e 
que sustentava ser o Estado o único sujeito de Direito Internacional. Rompem ainda com a 
noção de soberania nacional absoluta, na medida em que admitem intervenções no plano 
nacional, em prol da proteção dos direitos humanos. 
 
Fontes 
 
BENEVIDES, Maria Victória. Cidadania e Justiça. In revista da FDE. São 
Paulo, 1994; 
 
FARIAS, Edilsom. Liberdade de Expressão e Comunicação: teoria e proteção 
constitucional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 27. 
 
PEREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos Humanos, estado de derecho y 
Constitución. 3ª ed. Madri: Teccnos, 1990. p. 48. 
 
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. São 
Paulo: Saraiva, 2010.

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