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Filho. No final de 1963, o empresário Octavio Miranda compra o jornal e, a partir do dia primeiro de fevereiro de 1964, o jornal passa a circular diariamente. Octavio Melo modernizou o jornal com a instalação das modernas prensas offset, assim, a diagramação do jornal melhorou e a impressão ficou mais moderna e inovadora. As novas técnicas de artes gráficas eram exclusividade do jornal na capital piauiense, pois “O Dia” foi o pioneiro na utilização das técnicas offset. Com a modernização vieram com novos cadernos e colunas especiais. Depois da modernização gráfica, é a vez do jornal passar por uma modernização um pouco mais profunda. Nos anos 60 o jornal ganhou duas colunas femininas, “Elas e Elas” e “Para Elas”, onde se falava de curiosidades do universo feminino e traçava-se um perfil de moças influentes da capital, respectivamente. Na década de 70, a organização “d’O Dia” é modificada, as editorias ficam mais visíveis, apesar de esporádicos. Além disso, o jornal ganha uma diagramação mais limpa, com nomes específicos para as editorias. Assim, na edição dos dias 4 - 5 outubro de 1970, nasce a editoria feminina “Só prá Elas”. Ocupando uma página inteira, a editoria vinha no segundo caderno do domingo, “Hoje é Domingo”. Os assuntos mais variados eram abordados, como: dicas de beleza, dicas de saúde, sociedade teresinense e receitas eram os usuais. As colunas fixas dessa editoria eram “Sirva-se”, com receitas e “Saúde”, sempre assinada por Lester L. Coleman. As notícias não se resumiam à capital piauiense, o jornal publicava, também, notícias nacionais, como de São Paulo e do Rio de Janeiro, e internacionais, como de Tóquio e Londres. A publicidade, claro, era totalmente voltada para o universo feminino, fato que se repetia quase sempre em todo o jornal. Porém, a coluna “Só prá Elas”, logo após a sua terceira publicação, desaparece das edições do jornal até a edição dos dias 15 - 16 de setembro de 1970, onde o jornalista responsável pelo segundo caderno, Sidney Soares, informa que a não estava publicando a coluna porque estava viajando com sua equipe por 113 municípios do Piauí, mais a capital, com a finalidade de fazer um levantamento autêntico e objetivo das administrações que estão completando seus mandatos. O “Só prá Elas” volta a ser publicado normalmente na semana seguinte, desaparecendo no final do mesmo ano. Figura 1 – Jornal O Dia, 1970, p. 7. Fonte: Acervo O Dia O 2º Caderno é comandado pelo jornalista de 27 anos, Sidney Soares. A sua equipe era composta de 5 mulheres. Maria de Lourdes da Costa Ferreira, 21 anos, Carmem Lúcia Ribeiro da Costa, 19 anos, Almiracy Matos de Castro, 21 anos, Maria Luiza Rodrigues Melo, 18 anos e Neusina Ferreira da Silva, 21 anos. Já em 1972, o jornal lançou outra editoria voltada para as mulheres, a “Feminina”, que era publicada aos domingos na “Revista de Domingo”, caderno especial do jornal. Aos moldes das editorias precedentes, a editoria dessa época também vinha com dicas de moda, curiosidades, saúde e dicas para cuidar da casa. No ano seguinte, mais uma vez o público feminino é desfavorecido, pois a “Revista de Domingo” passa a se chamar “Caderno de Domingo” e o jornal para de publicar editorias femininas. Porém, em 1974, o jornal inaugura uma nova diagramação, junto dela “O Dia Feminino” é lançada. Ensinando a fazer roupas, a publicação vem com modeletes exibindo roupas modernas, vestidos com decotes, biquínis, roupas infantis e chapéus. A editoria era publicada aos domingos e não utilizava fotografias, os modelos eram desenhados e assinados por Rodin. Logo abaixo, ensinava-se como fazer as roupas, todos os procedimentos para costurá-las. Figura 2 - Jornal O Dia, 1974, p. 7 Fonte: Acervo O Dia Já quase no final da década, em 1977, o jornal lançou uma editoria fixa e diária, “Mulher”. Nessa editoria, além da periodicidade, os assuntos abordados foram modificados, agora o cinema, a literatura, música, novelas e etiqueta eram assuntos freqüentes, além de moda, receitas e dicas para cuidar bem da casa, que eram usuais. Notadamente, a jornalista Elvira Raulino contribuiu para garantir a participação ativa da mulher na redação do jornal “O Dia”, onde possuía um espaço diário de colunismo social. Sua coluna eram uma das poucas publicações fixas no jornal, que independente do caderno ou espaço que ocupava sempre se fazia presente. A partir da análise de conteúdo das colunas direcionadas ao público feminino, percebe-se que o que é direcionado a elas, é sempre relacionado ao se cuidar, cuidar do marido e filhos e à manutenção do lar. Mesmo assim, a participação de mulheres no campo jornalístico, evidencia a concretização de um espaço conquistado dentro de uma sociedade patriarcal, mostrando opinião, principalmente, no campo da modelagem. O exercício da opinião propiciado pela moda e pelo espaço por ela conquistado nos periódicos poderia levar as mulheres à autonomia, sendo eventualmente competente de ameaçar a tradicional divisão sexual do trabalho em detrimento do modelo jornalístico direcionado a elas no início da “criação” desse público leitor. As mulheres saíram do status de “rainhas do lar” para levar as discussões acerca da moda e da criação de uma identidade fora do lar. Mesmo tirando um pouco o foco dessa visão patriarcal do que a mulher deve ler e escrever, o modismo ainda é visto como um mal que ameaça toda a sociedade, não agredindo apenas as mulheres, mas também o público masculino. Entretanto, avalia-se que a “febre” da moda implica da futilidade da mulher ou de seu anseio natural de querer agradar o homem a partir da aparência. Daí, esses desígnios mais habituais sobre a mulher (agradar o homem pela aparência) achados no jornal, explicaria sua obrigação de dar valor a beleza e os atributos físicos. O que era visto como fútil, acabou sendo usado como uma forma de expressar o avanço da mulher dentro da sociedade. O jornal, da época, ainda era visto como “coisa de homem”. As principais publicações, que às vezes, tomavam uma edição quase toda era as de assuntos políticos, também influenciados pela efervescência do tema na época, devido ao período da ditadura militar. Enquanto que para os homens, o jornal era um meio de se informar, a sociedade em geral, via a mulher como público para o entretenimento e assuntos alheios aos acontecimentos políticos e econômicos do Brasil. Considerações Finais A década de 1970 foi marcada pela libertação feminina, tanto em aspectos sexuais como culturais. A moda refletia toda essa mudança, se tornando um dos meios mais usados, pelas mulheres, para se expressar. Em Teresina, o jornalismo teve um papel crucial na libertação da mulher teresinense. Enquanto a mulher da capital mudava e despontava socialmente, com mais liberdade, as editorias femininas do jornal “O Dia” acompanhavam essa mudança. No começo, o espaço era reduzido, o conteúdo tímido e restrito à cuidados do lar e beleza. No fim da década de 70, a editoria feminina ocupava uma página inteira e tratava de assuntos mais culturais, como música, cinema e literatura. Essa análise exibe uma espécie de linha evolucionária do papel feminino na sociedade teresinense da época. Isso mostra que a mulher foi ganhando respeito e espaço do jornal como público leitor. Os conteúdos, antes limitados a família e ao lar, agora também abrangem a cultura. O assunto moda que foi visto, inicialmente,