Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Scheila Maria 2017 LITÍASE URINÁRIA INTRODUÇÃO Prevalência de cerca de 3%; Mais comum em homens de 20-40 anos 12% irão desenvolver em algum momento da vida; 20-30% necessitarão de abordagem terapêutica intervencionista; morbidade e mortalidade É considerado um distúrbio permanente pelo *alto índice de recorrência [10% no 1º ano | 30% em 5 anos | 50% em 10 anos | 75% em 20 anos]. O oxalato de cálcio é o cristal mais comumente encontrado Crianças Ácido Úrico Vesical; Adultos Cálcio TUS; FATORES DE RISCO: História pessoal: nefrolitíase | gota | HAS | bariátrica | ITU crônica ou recorrente; Fatores genéticos: *doenças hereditárias [acidose tubular familiar, nefrocalcinose e cistiúria] Fatores habituais: baixa ingesta hídrica | uso de medicamentos – sulfametoxazol, indinavir, ciprofloxacina, triantereno | questões dietéticas. PATOGÊNESE O processo de formação dos cristais e cálculos renais envolvem as seguintes fases: [matriz nucleação homogênea ou heterogênea crescimento agregação] Obs: primeiro há a supersaturação da urina por da oferta de soluto, por do solvente (água) ou por deficiência nas substâncias inibidoras de agregação. Ocorre então a nucleação dos cristais (que pode ser homogênea, quando há apenas um tipo de cristal e heterogênia quando mais que isso). Após a nucleação há crescimento com agregação e retenção causando a litíase urinária. Está relacionada ao desequilíbrio entre *fatores promotores e inibidores. Fatores promotores: Supersaturação: hipercalciúria, hiperoxalúria, hiperuricosúria, hipocitratúria; ITU: patógenos produtores de urease; *pH urinário > 7,0: favorece a supersaturação do fosfato de cálcio e da estruvita; *pH urinário < 5,0: favorece a supersaturação do ácido úrico e da cistina; Obs: a saturação do oxalato de cálcio não é afetada pelo pH Fatores inibidores: Água: diluição da urina e aumento do fluxo urinário; Fosfato inorgânico, ácido ribonucleico, nefrocalcina e zinco Citrato: liga-se ao cálcio; Magnésio: liga-se ao oxalato; Proteína de Tamm-Horsfall: inibe o crescimento e agregação dos cristais de oxalato de cálcio; COMPOSIÇÃO DOS CÁLCULOS Existe mais de 40 tipos, metade são puros e o restante associado a outros sais. Sais de cálcio: 70-80% [oxalato de cálcio: 40-70% | fosfato de cálcio: 6%] Estruvita: 10-20% dos casos [fosfato de amônio magnesiano | infeccioso] Ácido úrico: 5-10% dos casos [puro ou associado = 1%] Cistina: 2-3% dos casos; CÁLCULOS DE SAIS DE CÁLCIO 1) Oxalato de cálcio 40-70% dos casos; Podem ser puros ou misturados (geralmente com fosfato de cálcio); Na forma monhidratada ou di-hidratada; 2) Fosfato de cálcio 10% dos cálculos; Tipos de fosfato mais comuns: hidroxiapatita e apatita [cristaliza em pH > 6,6] Alcalinização da urina; O tratamento consiste na acidificação urinária (através de Vitamina C em altas doses) e diminuição da hipercalciúria. CÁLCULOS DE ESTRUVITA – CÁLCULOS INFECCIOSOS 15-20% dos cálculos renais e 75% dos cálculos coraliformes Possuem um alto potencial de morbidade e mortalidade devido ao crescimento rápido e alta taxa de recorrência; Relacionados a infecção por bactérias, fungos ou parasitas. Os CI se formam quando o pH da urina é superior a 7,2; Organismos urease + (Proteus mirabilis) – transformam ureia em amônia e CO² [ocorre pH urinário] Amônia liga-se ao H+ formando amônio que em pH alcalino liga-se a fosfato e magnésio = estruvita Tratamento: erradicação da infecção + eliminação do cálculo + acidificação da urina, hidratação e profilaxia antibótica. Eliminação do cálculo: litotripsia extracorpórea OU nefrolitotripsia percutânea. CÁLCULOS DE ÁCIDO ÚRICO 5-10% dos cálculos; Ocorre cristalização em pH ácido. Principais causas: idiopática | hiperuricemia – gota, DM2, obesidade. Baixo volume urinário; Hiperuricosúria decorre de alterações genéticas ou relacionadas à dieta; Tratamento: hidratação | restrição sódica e proteíca | alcalinização da urina – citrato de potássio ou bicarbonato de sódio | alopurinol. CÁLCULOS DE CISTINA 1 a 2% dos cálculos; Condições raras de Cistinúria; Resistentes à LECO Tratamento: alcalinização da urina | medicamentos que promovem a formação de complexos solúveis de cistina - D-penicilamina e a Famercaptopropionilglicina (Thiola). _______________________ PRINCIPAIS DISTÚRBIOS METABÓLICOS *Acidose tubular renal familiar: os rins não extraem corretamente o ácido do sangue, não sendo excretado pela urina. Urina alcalina; *Nefrocalcinose: formação de depósitos de cálcio e oxalato ou fosfato nos túbulos renais e interstícios; Hipercalciúria idiopática: distúrbio metabólico mais comum (30-60% dos pacientes com cálculo). Ocorre excreção urinária aumentada de cálcio, superando a absorção intestinal aumentada, porém os níveis séricos estão normais. Tratamento: ingesta de líquido, reposição de cálcio, restrição salina e diuréticos. Hiperparatireoidismo primário: representa 5% dos pacientes com litíase. Ocorre do PTH levando ao da reabsorção tubular de cálcio, produção de calcitriol e da absorção intestinal causando do Ca+ sérico e do fostato e, portanto favorecendo a formação de cálculos de oxalato e fostato de cálcio. Doenças granulomatosas: ocorre do cálcio sérico em 20-50% dos casos por na produção de calcitriol nos macrófagos dos granulomas. Tratamento: supressão do calcitriol. Hipocitratúria: o citrato se liga ao cálcio urinário, diminuindo a formação de cálculos de cálcio; Tratamento: citrato de postássio. Hiperoxalúria da dieta: aumento na absorção ou produção de oxalato devido à dietas com baixa ingesta de cálcio ou alto teor de proteínas e oxalato; Hiperoxalúria entérica: aumento da absorção intestinal de oxalato por má absorção de gorduras; Hiperoxalúria primária: rara doença autossômica recessiva que interfere na síntese de oxalato, aumentando sua síntese e excreção pela urina; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Assintomático – achado incidental Cólica nefrética: quadro agudo de dor lombar Quadro infeccioso: pielonefrite aguda – febre alta, calafrios e leucocitose com desvio à esquerda, sepse intensa e de rápida instalação – evolução para bacteremia. Quadro obstrutivo: dor lombar intensa (cólica nefrética), náuseas, vômitos, sudorese e taquicardia – evolução para hidronefrose progressiva e perda do parênquima renal; Hematúria: macro ou microscópica – 90%. Às vezes é o único sinal; Obs: a cólica nefrética (ureterolitíase sintomática) ocorre quando o cálculo migra da pelve renal para o ureter e ocorre impactação por isso a dor migra de região. Nefrocalcinose: litíase por fosfatos de cálcio (apatita) – calcificação do parênquima renal. Geralmente é assintomática – múltiplas calcificações no RX simples; Cálculos Coraliformes: assintomáticos e crescem ocupando quase toda a pelve – degeneração parenquimatosa; DIAGNÓSTICO 1) Clínico: história clínica [investigar história familiar, ingesta de líquidos, ITU de repetição, bexiga neurogênica, gota, uso de medicamentos] + exame físico. 2) Testes laboratoriais: hemograma | creatinina: avaliar função renal | dosagem LDH | sumário de urina e urinocultura | análise do cálculo – espectrofotometria e métodos químicos. 3) Exames de imagem: Radiografia simples de abdome: 90% dos cálculos são radiopacos, porém na fase aguda como o paciente não tem preparo abdominal adequado para o exame utiliza-se outras opções. 34% não são detectados. USG de trato urinário: visualização do cálculo e dilatação da via excretora Tomografia computadorizada: padrão-ouro, especificidade e sensibilidade elevadas (o grande problema é a carga de radiação pois há grande recorrência) Urografia excretora: avaliação anatômica e funcional. Não é muito utilizada TRATAMENTO O tratamento é definido de acordo com o tamanho do cálculo avaliado na TC. 80% dos cálculos <5mm e 25-70% - 7mm eliminam espontaneamente Cálculo renal < 4mm – não necessita tratamento Cálculo ureteral < 4mm (semfebre e obstrução) – tratamento clínico e seguimento Cálculo ureteral 6-20mm – tratamento invasivo [LECO | cirurgia endoscópica] Cálculo ureteral ou renal > 20 mm – tratamento invasivo [cirurgia endoscópica] CONDUTAS NO TRATAMENTO Analgesia: AINES – 1ª linha | opioides – 2ª linha; Bloqueadores -adrenérgicos - Tamsulosin (Secotex) na dose de 0,4 mg/dia; Hidratação: analgesia parenteral, desidratação importante. Dissolução Química do Cálculo – cálculo de ácido úrico: Alcalinização da urina – bicarbonato VO; chá de quebra pedra – antilitiásico, antiespasmódico, antiinflamatório, diurético Seguimento Geralmente, manejo de forma conservadora; Cálculos, na maioria das vezes são pequenos e passíveis de serem expelidos; Terapia médica expulsiva deve ser tentada sempre em cálculos ≤ 10mm; Se não houver expulsão dentro de 4 a 6 semanas, a terapia intervencionista deve ser programada; Hospitalização: necessidade de utilização de analgésicos parenterais frequentes, vômitos persistentes, pielonefrite e disfunção renal; OU SEJA: Conduta expectante: cálculos < 5mm | não impactados | sintomas controlados | ausência de obstrução significativa | ausência de infecção. Conduta intervencionista: cálculos > 10mm | infecção urinária associada | refratários ao tto clínico | obstrução persistente ou progressiva | IRA (obstrução completa). Modalidades de intervenção urológica para a retirada de cálculos urinários: LECO [Litotripsia extracorpórea com ondas de choque]: cálculos renais 4-20 mm | cálculos ureterais não impactados < 10mm | contra-indicações: gestação, coaguloparia, infecção. Ureterolitotripsia: cálculos impactados ou obstrutivos | cálculos > 10mm | falha na LECO | acesso transuretral até o cálculo e fragmentação por via direta Nefrolitotomia percutânea: cálculos renais > 20mm | cálculos coraliformes | falha na LECO | acesso percutâneo renal com fragmentação por via direta Nefrolitotomia Aberta (“anatrófica”): Refratariedade aos métodos não invasivos (LOCE) ou minimamente invasivos (Ureterorrenoscopia e NLPC) e Cálculos anatomicamente complexos e extensos, em geral coraliformes; TRATAMENTO DA LITÍASE COMPLICADA (Litíase + pielonefrite ou IRA pós-renal): 1º Desobstruir a via urinária – evitar perda do parênquima e sepse; Procedimentos Emergenciais: nefrostomia percutânea – catéter único J | Stent ureteral – catéter duplo J. TRATAMENTO CRÔNICO Aumentar a ingesta Hídrica: 2-3L/dia; Controle da desordem metabólica: por meio de dietas, retirada de alguns fármacos. As mais frequentes são: hipercalciúria | hiperuricosúria | cistinúria | hipocitratúria | hiperoxalúria. LITÍASE URETERAL Responsável por 56% dos casos de cólica renal Manifestações: dor lombar intensa | sintomas urinários baixos | hematúria Localização: Inferior: 45% são eliminados espontaneamente; Médio: 22% são eliminados espontaneamente; Superior: 12% são eliminados espontaneamente; Abordagem: controlar crise dolorosa | TC de abdome e pelve | - adrenérgicos e bloqueadores dos canais de Ca (TTo clínico) | litotripsia extracorporea com ondas de choque (LECO) | ureter inferior – ureteroscopia ou LECO. Complicações: infecção, dilatação, urosepse. LITÍASE VESICAL Endêmica: indonésia, áfrica, ásia ( ingestão de leite materno, proteínas e minerais) Primária: decorrente da estase urinária Secundária: decorrente da migração de cálculos ou corpos estranhos Os distúrbios metabólicos são um grande fator de risco. Investigar: divertículos, HPB, disfunção vesical, estenose de uretra. Manifestações: dor suprapúbica | disúria | hematúria terminal dolorosa | dor peniana | retenção urinaria – impactação Diagnóstico: RX de pelve | urografia excretora | cistoscopia Abordagem: LECO | ressecção transuretral da próstata;
Compartilhar