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PLANEJAMENTO DA APLICAÇÂO DE DEFENSIVOS PARA MÍNIMA CONTAMINAÇÃO Embora as pulverizações de defensivos sejam efetuadas em grande proximidade do dossel e de forma direcionada às plantas, muitas vezes a calda aplicada pode atingir inúmeros outros destinos, acarretando contaminações ao meio ambiente (Figura 1). Desde o planejamento da operação, que engloba a escolha dos ingredientes ativos, definição do momento da aplicação, preparo da calda, avaliação das condições operacionais, regulagem e calibração dos sistemas mecanizados utilizados neste processo, as tomadas de decisões já indicam possibilidade de minimizar contaminações. Figura 1 – Deriva em pulverização sobre lavoura de algodão, demonstrando que uma parte da calda aplicada está sendo carregada pelo vento para locais que não são desejados (Foto: Marcelo Madalosso). 1 – Escolha do produto e momento de aplicação Diversos ingredientes ativos estão disponíveis no mercado para as mais variadas aplicabilidades no meio agrícola. No Brasil, mais de 365 ingredientes ativos, comercializados na forma de defensivos, possuem registro para uso específico na agricultura (MAPA, 2011). Todos estes pesticidas compreendem uma larga variedade de substâncias químicas de diversos grupos funcionais e, consequentemente, com níveis de toxicidade, modos de ação, pressão de vapor, capacidade de sorção no solo, biotransformação e eliminação do ambiente, extremamente particulares (GALLI et al., 2006). O conhecimento prévio das características dos ativos é de suma importância para que haja adequação do produto escolhido com a situação na qual este será empregado. Herbicidas do grupo das imidazolinonas, por exemplo, devem ser aplicados em situação de solo úmido, pois quando aplicados em solo seco possuem alta capacidade de sorção nos colóides, ficando menos produto disponível a biodegradação ou absorção pelas plantas, implicando maior persistência e possível “carryover” em situações de enxurradas, o que significará que os resíduos, que deveriam ser degradados pela microbiota do solo, poderão atingir mananciais hídricos e, assim, continuar no ambiente (SILVA & SILVA, 2007). No caso dos inseticidas, existem ativos, como aqueles dos grupos químicos organofosforados e organoclorados, que possuem alta toxicidade aos mamíferos podendo ser responsáveis por inúmeros problemas de saúde e ambientais. Sua utilização deve ser barrada sempre que houver risco de atingir moradias ou criações nos arredores. Já no caso dos piretróides não são requeridos tantos cuidados quanto à exposição de pessoas e animais, uma vez que os ativos deste grupo não possuem toxicidade para mamíferos (GALLI et al., 2006; ESTEVE-TURRILLAS et al., 2004). A escolha do ativo também está atrelada ao momento em que a aplicação será realizada. Determinadas ocasiões demandam aplicação de agroquímicos nos estádios iniciais cultura, quando a área a ser coberta é bastante reduzida, o que pode determinar maior quantidade de produto volatilizando, atingindo o solo ou mesmo ficando suspenso no ar. Nessa situação, o ativo, se mal escolhido, também poderá ocasionar intoxicação à própria cultura. Outra questão em que momento e ativo devem ser analisados de forma conjunta é quando há demanda de aplicação nos estádios finais do desenvolvimento das plantas, que é o caso de frutíferas e hortaliças, principalmente, pois, quando não respeitado o período de carência, os produtos consumidos in natura poderão representar importante fonte de contaminação (ARAÚJO et al., 2001) 2 – Importância da Inspeção, regulagem e calibração do sistema Escolher o ativo adequado e aplicá-lo no momento propício pode ser em vão se o sistema de aplicação não estiver em perfeito funcionamento e corretamente regulado para aplicar a dose requerida do produto, encerrando ineficiência das aplicações e contaminação ambiental. Na maioria dos casos, atribui-se muita importância à correta escolha do produto fitossanitário a ser aplicado e pouca ao ajuste da técnica de aplicação. Não basta conhecer o produto a ser aplicado, também é fundamental conhecer a forma de aplicação (CUNHA et al., 2003). No Brasil, pesquisas apontam que a grande maioria dos pulverizadores encontra-se em estado precário de funcionamento. Em inspeções realizadas no estado de Santa Catarina, Palladini & Mondin (2007) verificaram superdosagens de até 25,4% em função de larga utilização de pontas de pulverização desgastadas na aplicação de defensivos, o que culminava em aplicação de volumes acima dos limites toleráveis e extrema contaminação do ambiente. Siqueira (2009) corroborou tal situação ao encontrar que no MT 82,4% das pontas de pulverização encontravam-se inadequadas para o uso, seguido de PR com 72,5%, MS com 62,5% e RS 59,3%, além de erros significativos na taxa de aplicação, que foram de 70,6% para o PR, 60,2% para o RS, 37,5% para o MS e 61,8% para o MT. Neste aspecto, Dornelles et al. (2009) expõem que a adequada inspeção do sistema mecanizado de aplicação, que pode ser realizada por técnicos, instituições oficiais e até mesmo pelo próprio agricultor, consiste em fundamental etapa para obtenção de eficiência nas aplicações e, consequentemente, menor desvio de produtos químicos para o ambiente, minimizando a poluição. As principais partes constituintes de um pulverizador são: tanque, registro, filtros, bomba, comando, mangas, barras e bicos. Estas devem ser inspecionadas periodicamente e estar em perfeitas condições de uso (Figura 2) (CHRISTOFOLETTI, 1992; LANGENAKENS & PIETERS, 1997). Figura 2 – Peneira, que é uma importante parte constituinte do bico a ser inspecionada, retendo produtos devido à formação de precipitados (Foto: Marcelo Madalosso). Após a inspeção e eventual correção de algum problema do sistema de aplicação deve-se proceder com a regulagem e calibração do mesmo. Gandolfo & Oliveira (2006) atribuem esta etapa como passo primordial para o sucesso da aplicação de defensivos, visto que tal tarefa determinará as melhores condições operacionais da máquina, o que denota maior eficiência do sistema e menor contaminação ambiental. A maneira mais prática para realizar o acerto da quantidade de calda aplicada por área consiste na prévia determinação do tempo gasto para percorrer determinada distância com o trator acelerado de maneira que a rotação na tomada de potência alcance 540 rpm, conforme a marcha escolhida para a realização da operação, e na posterior determinação, com o sistema parado, do volume aplicado no tempo gasto, considerando que a pressão será fixada conforme espectro de gota desejado e ponta utilizada (MARTINELLI, 2009). 3 – Preparo da calda A última etapa que antecede a realização da aplicação é o preparo da calda no tanque do pulverizador. Em virtude da alta diversidade existente nos procedimentos e maneiras de preparo das diferentes caldas de pulverização, podem ocorrer, em algumas delas, problemas de estabilidade no tanque e alta variação de pH, o que influirá no resultado biológico dos tratamentos (Figura 3). Figura 3 – Transbordamento da calda devido a problemas de instabilidade e ordem de adição dos produtos no tanque (Foto: Marcelo Madalosso). A instabilidade da calda pode influenciar na qualidade da aplicação pela interação entre as características dos líquidos a serem aplicados e os mecanismos de formação da pulverização, como vazão, formação e distribuição das gotas e padrão de distribuição volumétrico, resultando em tratamentos de baixa eficiência, aumentando os riscos de deriva e contaminações ambientais (MILLER & BUTLERELLIS, 2000). 4 – Considerações finais Nas condições atuais da agricultura, o emprego de defensivos agrícolas é imprescindível para garantia tanto da sustentabilidade da atividade agrícola, como da produção de alimentos em quantidades que supram a demanda mundial. Contudo, tais produtos devem ser utilizados de maneira racional, com a tomada dos devidos cuidados e, sobretudo, mediante planejamento prévio, uma vez que podem ocasionar sérios danos ao meio ambiente e comprometer a viabilidade de importantes recursos naturais essenciais à vida, como, por exemplo, a água e o ar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, S. M. M. et al. Uso de inseticidas organofosforados nos pólos de produção na ilha de são Luís (MA): condições de trabalho e contaminação de hortaliças. Revista Ecotoxicologia e Meio Ambiente, v.11, p159-179, 2001. CHRISTOFOLETTI, J. C. Manual Shell de máquinas e técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. São Paulo: Shell Brasil, 1992. 122p. CUNHA, J. P. A. R. et al. Avaliação de estratégias para redução de deriva ede agrotóxicos em pulverizações hidráulicas. Planta Daninha, v.21, n.2, p. 325- 332, 2003. DORNELLES, M. E. et al. Inspeção técnica de pulverizadores agrícolas: histórico e importância. Ciência Rural, v.39, n.5, p.1600-1605, 2009. ESTEVE-TURRILLAS, F. A. et al Microwave-assisted extraction of pyrethroid insecticides from soil. Analytica Chimica Acta, v.522, n.1, p.73-78, 2004. GALLI, A. et al. Utilização de técnicas eletroanalíticas na determinação de resíduos de pesticidas em alimentos. Química Nova, v. 29, n. 1, p.105-112, 2006. GANDOLFO, M. A.; OLIVEIRA, A. B. Aplicação de sucesso. Cultivar Máquinas. Pelotas, n.53, p.06-09, 2006. LANGENAKENS, J.; PIETERS, M. The organization and first results of the mandatory inspection of crop sprayers in Belgium. In: ASPECTS OF APPLIED BIOLOGY - Optimizing pesticide application. Belgium: Agricultural Research Centre Ghent, 1997. p.233-240. MARTINELLI, P. R. P. Regulagem de pulverizadores agrícolas de barra. Uberaba - MG, 2011. (Comunicado Técnico 09). MILLER, P. C. H.; BUTLER ELLIS, M. C. Effects of formulation on spray nozzle performance for applications from ground-based boom sprayers. Crop Protection, v.19, p.609-615, 2000. PALLADINI, L. A.; MONDIN, L. R. Sistema de inspeção de pulverizadores: funcionamento e primeiros resultados. Capturado em 22 out. 2007. Online. Disponível em: www.ufpel.tche.br/sbfruti/anais_xvii_cbf/fitopatologia/628.htm. RAMOS, H. H.; PIO, L. C. Tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. In: ZAMBOLIM, L.; CONCEIÇÃO, M. Z. SANTIAGO, T. (eds). O que os engenheiros agrônomos devem saber para orientar o uso de produtos fitossanitários. 2. ed. Viçosa: UFV, 2003. p.133-201. SILVA, A. A. da; SILVA, J. F. da Tópicos em manejo de plantas daninhas. Viçosa: Ed. UFV, 2007. 367p. SIQUEIRA, J. L. de Inspeção periódica de pulverizadores: análise dos erros de calibração e impacto econômico. Botucatu, 2009. 116p. Tese (Doutorado em Agronomia, área de concentração em Energia na Agricultura) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu, 2009. Autor Heraldo Skrebsky Cezar, M.Sc. em Engenharia Agrícola
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