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Comparação entre filme e o texto de Tzvetan Todorov.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA
Comparação entre o filme “O homem que queria ser rei” e o texto “A Conquista da 
América” de Tzvetan Todorov.
Simone Braghin
Pretendo, nesta comparação, seguir certa linearidade dos fatos ocorridos no filme O homem que 
queria ser rei sendo resgatados do texto de Todorov, A conquista da América, sempre que 
necessário, frases e comentários a efeito de comparação. 
Peachy Carnehan e Daniel Dravot, dois ingleses ex-combatentes têm o sonho de tornarem-se 
reis. Palavras do próprio Dravot: “(...) Lutaremos por ele, faremos dele rei, daí tomaremos o trono e 
saquearemos o país”. Este pensamento pode ser encontrado no texto de Todorov: “Cortez procura 
algum modo de construir para si uma legitimidade não mais diante do Rei da Espanha, (...) 
assumindo a continuidade do reino de Montezuma”. (TODOROV, p. 72).
O que tornou possível a comunicação, em ambos os casos, foi a presença de intérpretes. Billy 
Fish, no caso do filme, fez a ponte de compreensão para nossos dois personagens, entretanto, 
podemos notar que, assim como Cortez (que possuía uma intérprete), estes não se integram com a 
população nativa, sendo moralmente aversivos aos costumes desta. 
Os colonizadores (entendamos por Carnehan e Dravot) assim que encontraram uma tribo (Er 
Heb) sendo perseguida por uma segunda (Bashkai), resolvem por ajudá-la e, desta forma, utilizam 
de preceitos de guerra para conquistarem a tribo Bashkai. Para convencer o chefe da tribo Er Heb a 
permitir esta empreitada, utilizam também de argumentos e formas de auto exaltação, dizendo terem 
vindo dos céus e fazendo uso de seus rifles para ressaltar esta superioridade divina. 
Atentemo-nos em três pontos do parágrafo anterior: Guerra, argumentos e formas de exaltação. 
Sucessivas conquistas de outras tribos da região de Karifistan e, ao invés de aniquilá-las, tornando-
as aliadas (com a lealdade das tribos voltada a estes personagens), fizeram com que fosse 
fortalecida a submissão das tribos, além de outros fatores que ocorreram durante a guerra (como a 
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flecha barrada pelo colete de Dravot) que auxiliaram na manutenção da suposta divindade. Mas, não 
nos voltemos ainda às formas de exaltação (divindade). Tanto Dravot e Peachy, utilizam desta 
ferramenta (Guerra) para alcançar seus objetivos, quanto Cortez: “Ao saber da existência do 
império asteca, inicia uma lenta progressão em direção ao interior, tentando conseguir a adesão das 
populações cujas terras atravessam, com promessas ou com guerra. ’’ (TODOROV, p. 65)
Quanto às formas de exaltação por parte dos nossos colonizadores fictícios, podemos citar seus 
rifles, porém desta vez, cabe a tarefa de explanar o porquê desta comparação com Cortez 
(subentende-se não somente o personagem real, mas também tudo o que ele representa - homem 
europeu, pensamento colonizador e não tão medieval como de seus antecessores – Colombo – 
porém, ainda um pensamento religioso). Dravot e Peachy mistificam seus rifles (uma arma 
desconhecida naquela região) Os tratam como armas divinas e, fazem uso da ignorância dos nativos 
para se beneficiar. Não longe disto encontramos Cortez que, utiliza de canhões e pólvora para sua 
exaltação. 
Como argumentos de exaltação, podemos citar também, argumentos palpáveis, através de 
simbolismo por parte de ambos os personagens (fictício e histórico), utilizados de modo consciente 
e, por vezes, nada consciente. De maneira sucinta, podemos lembrar de símbolos maçônicos no 
filme, correlacionando os personagens como descendentes de Alexandre; e, símbolos como 
vestimentas e a utilização de um cavalo para a entrada de Cortez na cidade dos astecas, 
correlacionando-o como descendente dos toltecas. Todorov faz uma interessante indagação: “Este 
complexo de culpa nacional teria feito com que ele imaginasse que os espanhóis eram descendentes 
diretos dos antigos toltecas, que teriam vindo recuperar seus bens?” (TODOROV, p.66)
Esta indagação nos permite partir para outro pressuposto: a busca por riquezas. Como já 
demonstrado nas primeiras linhas, Dravot e Peachy tinham interesse em saquear as riquezas do 
novo reino. Isso fica mais que evidente quando Dravot é nomeado filho de Alexandre e, por causa 
deste fato, tem acesso aos tesouros do reinado. Não distante deste interesse encontra-se Cortez: “O 
ouro e as pedras preciosas, que atraem os espanhóis (...)” (TODOROV, p. 70)
Enquanto os ingleses comparam a civilização karifistanesa com sua própria civilização (inglesa) 
no intuito de tomá-la, governá-la e – podemos dizer – saqueá-la; Cortez compara a civilização 
mexicana com o fim de tomá-la, governá-la (ver segunda citação) e destruí-la. 
Os ingleses notaram semelhança no jogo realizado pelas tribos da região do Karifistan com seu 
Pólo. Enquanto Cortez, nota semelhança (e também superioridade) na arquitetura das cidades 
astecas quando comparadas com as cidades espanholas.
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Nem por isso, os ingleses e também os espanhóis deixaram de menosprezar a cultura destas 
populações, sentindo-se superiores a estas tribos (tanto no filme quanto na história). Podemos notar, 
em várias passagens do filme, os protagonistas se referirem a cultura e gestos dos nativos com 
aspereza e semblante de superioridade. Não obstante, notamos (segundo o texto de Todorov) o 
mesmo no comportamento de Cortez:
Cortez, já não tem o mesmo ponto de vista, mas nem por isso os índios tornam-se sujeitos 
no sentido pleno, isto é, sujeitos comparáveis ao eu que os concebe. (...) Não é de se 
estranhar que Cortez, que assim pensa, seja espanhol e cristão. (...) de maneira alguma se 
atribuirá uma superioridade aos índios. (TODOROV, p. 156)
Como sugere Todorov, e, também através de uma análise axiológica, pode-se inferir sobre o 
comportamento dos personagens Dravot e Peachy que, além de ingleses (europeus), possuíam uma 
moralidade religiosa.
Resta-nos a seguinte indagação: Seria a América de Cortez a terra prometida como era 
Karifistan para Dravot e Peachy; e, seria Karifistan de Dravot e Peachy o novo mundo como era a 
América para Cortez? Esta indagação pode, a principio parecer confusa, mas se analisarmos 
intrinsecamente nos liames da história, pode-se notar que Cortez encontrou as promessas que 
buscava na América, e, Dravot e Peachy que buscavam a terra prometida, encontraram um novo 
mundo.
	UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
	DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
	INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA
	Cortez, já não tem o mesmo ponto de vista, mas nem por isso os índios tornam-se sujeitos no sentido pleno, isto é, sujeitos comparáveis ao eu que os concebe. (...) Não é de se estranhar que Cortez, que assim pensa, seja espanhol e cristão. (...) de maneira alguma se atribuirá uma superioridade aos índios. (TODOROV, p. 156)

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