Buscar

A Conquista da América; Antropologia estrutural dois; Como pensam os “nativos” e o filme O Homem que queria ser rei.

Prévia do material em texto

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA
Prof. Igor José de Renó Machado.
Simone Braghin
Discussão sobre os trechos lidos dos livros A Conquista da América; 
Antropologia estrutural dois; Como pensam os “nativos” e o filme O Homem que 
queria ser rei.
Numa busca acirrada de pontos comuns nos textos de Todorov, Lévi-Strauss, 
Sahlins e com o filme O homem que queria ser rei, vários itens ao que se refere ao 
Etnocentrismo foram encontrados. Alguns de forma semelhante, em relação ao homem 
europeu etnocêntrico; outros de forma discrepante, referindo-se portanto, que o homem 
ocidental europeu poderia não ser tão etnocêntrico assim.
Para seguir em frente nesta discussão, será necessário lembrar de alguns conceitos. 
Lévi-Strauss, discursa sobre o etnocentrismo abordando pontos como a diversidade de 
culturas, a noção recente de humanidade, o relativismo cultural e, o falso 
evolucionismo.
Discorre Lévi-Strauss que, “a diversidade de culturas (...) é um fenômeno natural, 
resultante das relações diretas ou indiretas entre as sociedades” (p.333). Através deste 
pensamento, ele continua a desenvolver que “recusamos admitir o próprio fato da 
diversidade cultural; preferimos lançar fora da cultura, natureza, tudo o que não se 
2
conforma à norma sob a qual se vive.” (p. 334).
Partindo deste pressuposto, que recusamos a admitir a diversidade cultural, 
podemos lembrar atos ocorridos no filme O homem que queria ser rei quando seus 
dois protagonistas referem a cultura destas populações nativas, sentindo-se superiores, 
subjugando-as em seus costumes e crenças. Deste mesmo modo, como discorre 
Todorov, age Cortez e os seus. Cortez, por ser europeu e cristão, julga-se superior aos 
nativos e, por isso, dentro de total legitimidade para agir da forma que bem lhe couber.
Sahlins discursa de maneira defensiva, abordando criticas feitas contra suas obras 
por Obeyesekere. Através da analise do discurso de Obeyesekere, Sahlins chega a 
duas conclusões que, valem a ser ressaltadas no momento: “Essa antropologia do 
nativo universal (feita por Obeyesekere) é realmente uma noção explicita – e um apelo 
moral.” (19); e, “Vê-lo-emos (Obeyesekere) interpretando conceitos havaianos de 
divindade pelas memórias de infância de um natural do Sri Lanka.” (p. 19)
Estas duas proposições feitas por Sahlins, infere em dois conceitos abordados por 
Lévi-Strauss: a diversidade de culturas que, já foi acima exemplificada e, a um falso 
evolucionismo. No que se refere ao primeiro, faz-se claro tanto em Cortez, Daniel e 
Peachy (protagonistas do filme) e Obeyesekere que esta diversidade de cultura não é 
respeitada, uma vez que, cada cultura é singular; é construída a partir do 
vivenciamento das influências de outras culturas que, pelo contato direto com a 
primeira, resulta numa terceira.
Esta intolerância com a diversidade cultural, apresentada através de preconceitos 
(por parte dos desbravadores) e através da ignorância da diversidade cultural entre 
tribos, por parte de Obeyesekere – isto é claro em “ Obeyesekere tem a possibilidade 
de compreender imediatamente os havaianos, sem levar em consideração quaisquer 
particularidades ou pressupostos culturais.” (Sahlins, p. 20) – demonstra um 
etnocentrismo.
No que refere ao segundo - falso evolucionismo – cabe, portanto, conceituá-lo: 
“trata-se de suprimir a diversidade das culturas, fingindo reconhecê-la plenamente” 
(Lévi-Strauss, p. 335). Ao se designar como natural do Sri Lanka e, portanto, 
3
legitimado a falar pelos havaianos, (ou, quem sabe, por qualquer nativo) Obeyesekere 
assemelha-se a um falso evolucionismo, pois, como decorrência da omissão dos fatores 
que geram uma cultura - seu contato e absorvição de outras culturas, os costumes 
religiosos, clima e geografia – ele finge, porém, não conhece plenamente, pois em 
momento algum da história possui um enfrentamento real e carnal com esta tribo.
Deste modo, Obeyesekere, mais uma vez, cai no paradigma de etnocentrista. Pois 
não reconhece a autonomia de uma cultura independente de influencias do Sri Lanka.
Melhor sobre isto discorre o próprio Sahlins: “ Não há razão a priori para supor 
que as culturas e cosmologias dos sul-asiáticos propiciem um acesso especial às 
crenças e práticas dos polinésios.” (p. 19)
Quanto ao relativismo cultural, Lévi-Strauss discorre que “é na medida mesmo em 
que se pretende estabelecer uma discriminação entre as culturas e os costumes, que nos 
identificamos mais completamente com os que se pretende negar.” (p. 335).
Apesar de discriminar a cultura dos povos nativos, em ambos os casos (Cortez e, 
Peachy e Daniel) Veem semelhanças com estas tribos. Daniel e Peachy, notam 
semelhanças entre os jogos ingleses e os jogos realizados pelos nativos. Cortez analisa 
e compreende os costumes dos mexicanos e, apesar de admirar e, muitas vezes exaltar, 
as construções astecas, os meios de irrigação, organização social e outros atributos, 
motivado pelo seu etnocentrismo, ou melhor dizendo, eurocentrismo; e, por sua 
condição de cristão, nega qualquer paridade com esta população. Faz-se esta última 
também presente nos protagonistas do filme: na qualidade de britânicos e cristãos, 
estão acima de qualquer tribo.
Sahlins, sobre isto, discursa sobre Obeyesekere: 
“Em nome do anti etnocentrismo, dotam-se os havaianos da forma mais alta de 
mentalidade ocidental, ao passo que os estudiosos ocidentais, submissos, representem 
crenças irracionais dos seus ancestrais.” (p. 23)
Desta forma, infere-se por Sahlins que, Obeyesekere, tenta negar qualquer paridade 
4
deste, com o povo europeu.
 “(...) o anti etnocentrismo de Obeyesekere vira um etnocentrismo 
simétrico e inverso, com os havaianos consistentemente praticando uma 
racionalidade burguesa e os europeus incapazes, por mais de duzentos 
anos, de fazer qualquer coisa além de reproduzir o mito de que os nativos 
os consideravam deuses.” (p. 23)
Sobre a noção de humanidade, Lévi-Strauss afirma ser um atributo recente (século 
XIX, XX [?]) e que: 
“a humanidade cessa nas fronteiras da tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo 
da aldeia; a tal ponto, que um grande número de populações ditas primitivas se auto 
designam com um nome que significa os homens (…), implicando assim que as 
outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo da natureza 
humana, mas são, quando muito, compostos maus, de malvados, de macacos da 
terra ou de ovos de piolho. Assim se realizam situações curiosas, onde dois 
interlocutores se replicam cruelmente.” (p. 334)
Desta forma, podemos concluir que, o etnocentrismo não é uma invenção europeia 
ou cingalesa, talvez seja uma invenção humana, uma proteção contra os 
conquistadores em potencial. Se buscarmos na história, encontraremos diversos casos 
de etnocentrismo: Grécia antiga, todos os povos, que não dominavam a língua grega, 
eram considerados bárbaros que, etimologicamente nada mais significava além de 
estrangeiro. 
Esta palavra – bárbaro – percorreu o mundo e teve sua significação desvirtuada, 
passando então, a ser utilizada como sinônimo de diferença não só linguística, como 
também cultural, religiosa e outros que, visto de uma maneira antropológica, não 
deixam de ser uma verdade, afinal, cada povo tem suacultura, religião, língua... 
Esta diferença abrangente provocou o distanciamento das tribos e mais, a reclusão 
delas e formas de xenofobia. Tudo isso é justificado pela busca de identidade e de 
preservação da cultura de povos, pois uma vez incorporado na cultura grega, por 
exemplo, aspectos da cultura macedônica, se a primeira não estabelecesse normas ante 
a cultura (ressaltando aspectos filosóficos, linguísticos) é bem provável que este povo, 
sendo dominado, com o passar de décadas, talvez, perderia a sua essência, ou melhor, 
difundiria de modo mais intrínseco à cultura macedônica. 
5
Tendo este exemplo em vista e mais, todo o trajeto humano, presenciado por nós, 
podemos crer que, apesar dos conflitos entre tribos, nações e vizinhos, o etnocentrismo 
nada mais é do que se não a supervalorização da cultura de indivíduo e a repulsa pela 
cultura do outro, respectivamente.
Referências:
KIPLING, Rudyard. O homem que queria ser rei. 1975. 1 livro, filme.
LÉVI-STRAUSS, C. “Raça e história”. In: Antropologia Estrutural II. 4ª. ed. Rio 
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. 
SAHLINS, Marshall. Como pensam os “nativos”. São Paulo: Edusp, [19-?].
TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
	UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
	DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
	INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA
	 “(...) o anti etnocentrismo de Obeyesekere vira um etnocentrismo simétrico e inverso, com os havaianos consistentemente praticando uma racionalidade burguesa e os europeus incapazes, por mais de duzentos anos, de fazer qualquer coisa além de reproduzir o mito de que os nativos os consideravam deuses.” (p. 23)
	“a humanidade cessa nas fronteiras da tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo da aldeia; a tal ponto, que um grande número de populações ditas primitivas se auto designam com um nome que significa os homens (…), implicando assim que as outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo da natureza humana, mas são, quando muito, compostos maus, de malvados, de macacos da terra ou de ovos de piolho. Assim se realizam situações curiosas, onde dois interlocutores se replicam cruelmente.” (p. 334)

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes