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navarro 1996 guarani paraguaio

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o SISTEMA DE NOMlNALIZAC;XO DO GUARANI-PARAGUAIO - UMA
ANALISE DIACR6NICA
ABSTRACI': This paper presents the main characteristics of nominalization systems in
both ancient Guarany of 1'j1h and 111h centuries and paraguayan Guarany of
nowadays, in order to display evolution processes occurred from one to another,
according to a diachronic perspective.
KEY WORDS: guarany, nominalization, suffIxes.
o guarani dito "paraguaio" e uma lingua falada pela quase totalidade da
popul~o do Paraguai atual (94%), isto e, por cerca de quatro milhoes de pessoas. E
a segunda lingua nacional do pais.
A seu lado existem outras variantes dialetais, faladas por cinco ou seis etnias
assentadas dentro do territ6rio paraguaio e limitadas geografIcam~nte: os Chiriguano,
Tapiete, Pal Tavyteri, Avakatuete ou Ava Chiripa, Mby'a e Ache Guayaki (estes
Ultimos quase extintos). Os dialetos Chiripil e Mby' a podem ser considerados os ramos
"puros" da lingua, pouco afetados pelos espanholismos. Tais variedades
supramencionadas compOem, em seu conjunto, 0 que se conhece como "guarani
tribal" .
A penetr~ do castelhano no guarani paraguaio tem merecido importantes
estudos (Cadogan, 1958). Eta ocorre no imbito do lexico, da fonologia e tambem da
morfossintaxe. 0 grau dessa penetra~o varia segundo a localiza~o, urbana ou rural,
dos falantes. Nos centros urbanos e principalmente em Assun~o, fala-se 0 "jopara",
que e uma mescla de guarani e castelhano, que Melia (1983) considera como uma
tendencia para uma terceira lfngua.
Em oposi~o a todas essas variantes dialetais do guarani modemo, falado
hodiemamente, existe 0 guarani cldssico ou antigo, gramaticalizado no seculo XVII
por Antonio Roiz de Montoya e no sCculo XVIII por Pablo Restivo. Corresponde as
variedades de lingua guarani faladas nas reducoes jesuiticas nas provincias do Guafra,
Missiones, nas area compreendidas entre os rios Uruguai e Parana e tambem no
noroeste do Rio Grande do Sul. Essa e hoje, com efeito, urna lingua morta, conhecida
somente atraves dos antigos docurnentos escritos legados, principalmente, por
missionarios jesuitas.
A lingua guarani esta, pois, documentada ha cerca de quatrocentos anos, 0 que
nos faculta uma analise de sua evolucao, pois, a diferen~a de muitas outras linguas
americanas, existem elos de sua cadeia evolutiva que remontam a seculos atnis.
o longo tempo que separa 0 guarani de Montoya do guarani moderno implica,
naturalmente, em divergencias lingilisticas mais ou menos acentuadas, mormente em
se tratando de lingua de tradi~ao oral e que Ilio foi escrita nem lida seIlio por urn
reduzido nUmerode pessoas, durante seculos.
Entre tais divergencias lingOfsticasestao as transforma~oes havidas nos sistemas
denominaliz~do, fato de grande relevancia lingiiistica, verificavel tambem no ambito
de outras linguas amerindias da farmlla tupi-guarani.
o guarani antigo apresenta urn sistema de nominaliza~ao bastante desenvolvido.
Em sua Arte de la lengua guarani, Montoya (1640: 30-34) apresenta, em seu
conjunto, os nomes deverbativos ou deverbais que ele chama de particfpios ou
verbales. Tais deverbais desempenham papel nuclear na economia da lingua,
realizando a maior parte dos processos de sUbordinacio no ambito da ora~ao. Os
processos de nominalizacao encontrados no guarani antigo 810:
1.1. Nominalizacao de temas verbais
1.1.1. Nome de agente (deverbal agentivo) - forma-se dos temas transitivos e
intransitivos com 0 sufrxo -bara ou com os alomorfes ~mbara e -ndara, -para, -
bara.
t.-hai(hu - "amar" -+ deverbal agentivo: hai(hupm - "amador": "AbA
hai(hupara, hombre amador" (Montoya, 1640: 31).
t.i(ta - "nadar" -+ deverbal agentivo: i(tahara - "nadador": "Mborebi i(tahara,
ADtanadadora" (Montoya, 1640: 31).
1.1.2. Nome de agente habitual (deverbal de habitualidade) - forma-se de temas
intransitivos com 0 sufrxo -bora ou -bO:
t.-hai(hu - "amar" -+ deverbal de habitualidade: "hai(huoo, el que contiene en si
el amor" (Montoya, 1640: 31) - ou "0 que ama habitualmente".
1.1.3. Nome de circunstincia (deverbal circunstancial) - forma-se com os temas
transitivos ou intransitivos com 0 SuflXO-haba. Exprime as circunstancias de lugar,
tempo, causa, instrumento, companhia, modo, etc:
t.-caru - "comer" --+ deverbal circunstaneial: carubiba - "Iugar do comer",
"tempo do comer", "companhia do comer" , etc.
o sentido exato do deverbal depende de seu anteeedente:
"Abar~ che caruhaba" - "0 sacerdote com quem eu como" (lit. "0 sacerdote
companhia do meu comer").
"Ara che caruhaba" - "0 dia em que eu como" (lit. "0 dia, tempo do meu
comer").
1.1.4. Nome de paciente - forma-se dos temas verbais transitivos com 0 SUflXO -pi(ra.
Indica 0 paciente da ~o, independentemente do agente. E sempre precedido pelo
prefixo da ~rie inativa:
"AJDbgt - yo ensefio" --+ deverbal paciente: "YmbOOpi(rache, doctus sum, yo
soy enseDado"(Montoya, 1640: 13 e 31).
hai£hu - "amar" --+ deverbal paciente: yha(i(hupi(ra - "0 amado", "0 que ~
amado".
1.1.5. Nome de objeto (nominalizador de objeto) - forma-se dostemas transitivos
com 0 prefixo Temi). Designa 0 objeto da ~o em rela~o ao agente:
"Amhgt - yo ensefio" (Montoya, 1640: 13)--+ nomioaJizador de objeto:
Cheremi(mMe, mi discfpulo" (Montoya, 1640: 32), literalmente, "0 que eu ensino" ,
"0 ensinado de mim".
hai£hu - "smar" --+ nomioalizador de objeto: "tembiai(Jm, 10 amado" (Montoya,
1640:32).
1.2. Nominalizadores de frases
1.2.1. Nome relativo (nominalizador de predicados) - acrescentando-se 0 SUflXO -hae
a terceira pessoa do Indicativo primeiro dos verbos da primeira ou da segunda classes
(0- ou i-) forma-se urn nome relativo que equivale a uma ora~o relativa:
"ombOObae,el que enseila" (0 que ensina)
ymarangambae che, '" el que es bueno soy yo" (0 que e bom sou eu) (Montoya,
1640: 31).
hai£hu - "amar" --+ nominalizador de predicado: ohailbUbae- 0 que ama.
1.2.2. NomjoaJizador de complementos circunstanciais - forma-se com a su~o de
..gua a complementos circunstaneiais:
Tataendi( echo rehepa - "Vela que e de scbo".
Kurumi) cheretAy(pa - "MeDino que ~ de minha terra" (Restivo, 1893: 217 e
455).
Assim, como vimos, os afixos -hara, -bora, -haba, pi(ra, temi-, -bae e -gua
sao os morfemas nominalizadores do guarani antigo. Formando-se nomes, tais nomes
podem receher os SUflXOS de tempo nominal que existem naquela lingua, conforme nos
diz Montoya (1640: 29):
"Todo nombre tiene tres tiempos, Cue, preterito, RaIna, futuro, Rangue,
preterito y futuro misto". Assim:
Aba - "homem"
Aba cue- "homem que foi"
Aba ri(ma) - "homem que ha de ser"
Aba rangue - "homem que seria"
Desse modo, com os SuflXOS nominalizadores temos as formas -baecue,
-baerama, -baerangue, -hague, bagui, etc., sofrendo, algumas delas,
transformacOesfoneticas.
2. Principals transforma~oes do sistema de nominaliza~o no guarani paraguaio
em rela~o ao guarani antigo
o sistema de nominalizacao do guarani paraguaio apresenta grandes divergencias
com relacao ao quadro que anteriormente expusemos:
2.1. Muitos SuflXOS nominalizadores do guarani antigo passaram a ser morfemas
verbais, sendo usados para a expressao de seus tempos ou aspectos:
Ajapo - faco -. Ajap6va'ekue - havia feito.
-va'ekue ( do guarani antigo -baecue) passou a expressar 0 preterito-mais-que-
perfeito dos verbos. Note-se, alem disso, que ele foi empregado no exemplo acima,
com urn marcador de primeira pessoa do singular (a-), 0 que Ilio aconteeia no guarani
antigo, em que 0 sufixo -bae s6 se empregava com os marcadores da terceira pessoa
0- ou i ("omboebae" - 0 que ensina). De nominalizador de predicados, passou a ser
uma mera desinencia temporal.
Pepytu'uva'erii - "devereis descansar"
Ao verbo pepytu acrescentou-se 0 morfema vaeri (do guarani antigo -baeri),
que passou a expressar a acao que se devera realizar indefectivelmente. Note-se que,
novamente, no exemplo acima, usou-se 0 sufixo vaeri sem 0 marcador de terceirapessoa (PE- e marcador de segunda pessoa do plural).
2.2. Certos SuflXOS nominalizadores do guarani antigo evolucionaram para meras
posposiCOesno guarani paraguaio:
Eremi cheve nulvapa pe tape aha haguii Lukepe - "Dize-me qual 0 caminho para
eu ir a Luque" .
Pedro oju opytd 1uIgu4 - "Pedro veio para ficar" .
Nos exemplos acima temos 0 emprego de bagui, derivado de -baguama (suf'lXo
nominaUzador de circunstincias do guarani antigo, na sua forma futura) com 0 valor
de uma posposi~o a significar para.
2.3. Certos sufixos nominalizadores do guarani antigo apresentam, em guarani
paraguaio, um uso mais amplo, tendo assimilado, em parte, a fun~o de outros:
Ha'eminte ehe aIlandtna - "S6 digo 0 que sinto". 0 sufixo -va (bae, em guarani
antigo) passou a ser usado, agora, como temi- para nominalizar 0 objeto, enquanto
que; em guarani antigo 56 nominalizava predicados. Dir-se-ia, assim, em guarani
antigo, ehe remiflandu.
o sufixo -va tambem conserva, contudo, 0 valor do -bae do guarani antigo:
OguerUva eheve manti; '0, hasyko hina - "0 que me traz mandioca esm doente"
(Em guarani antigo dir-se-ia "oguerubae").
Tahfji ipepova ojapIJ takuru kud - "A formiga que tem asa faz um formigueiro"
(Em guarani antigo dir-se-ia "ipepobae").
2.4. No guarani paraguaio os sufixos -hara (agentivo) e -haba (circunstaneial) do
guarani antigo neutralizaram-se pela queda das sflabas finais, tornando-se um Unico
sufixo -ha:
bebehara ~ veveha - "voador"
bebehoba ~ veveha - "lugar de voar", "instrumento de voar" .
Assim, 0 sufixo neutralizado -ha do guarani paraguaio pode significar agente ou
circUDSW1cia(de lugar ou de instrumento). Empobreceu-se 0 conteUdocircunstancial
de -ha (de -haba, do guarani antigo) que, exceto em casas determinados (e.g., com a
posposi~o -pe), somente expressa as circunsW1ciasde lugar ou instrumento, ao passo
que -haba, do guarani antigo inclui tambem as circunstAnciasde modo, tempo, tim,
causa, companbia.
2.5. Desapareceu, no guarani paraguaio, 0 sufixo -bora (nominalizador de agente
habitual). .
2.6. Os SUflXOS-pi(ra (nominalizador de paciente), -temi) (nominalizador de objeto) e
-gua (nominalizador de complementos circunstanciais) mantiveram-se (0 -pi(ra em
formas evolucionadas e sem 0 marcador de pessoa i) no guarani paraguaio de hoje:
Heta areko pe hi'upy - "Tenho muitos alimentos" (lit. - "Tenho muito 0 que e
comido").
Mita ko'agagua ndovalei mba'evera - "As crianeas de agora nao valem para
Dada" (lit. - "As crianeas, as que (sao) de agora ... to).
o guarani paraguaio desenvolveu-se do guarani antigo atraves de varlas
mudaneas. Entre essas mudancas inclui-se a reorganizacao do seu sistema de
nominalizaeao. Deslocamentos semanticos, neutralizaeao, ampliacao de usos,
desaparecimentos de certos SUflXOS foram as modalidades de transformaeoes
verificadas no processo de desenvolvimento do guarani paraguaio no que tange a seu
sistema de nominalizaeao.
Em alguns casos (os dos SUflXOS -vaeri, -vaekue e -hagui) e sensivel a
influencia do castelhano que penetrou nas estruturas sintaticas do guarani paraguaio,
simplificando-as e distanciando esta lingua do guarani antigo. Nesse aspecto, 0 fato
mais notavel e 0 uso dos sufixos nominalizadores com 0 valor de desinencias
temporais do verbo, que originalmente nao conhecem senao expressao aspectual.
Comparaeoes com outras linguas da familia tupi-guarani poderiam fomecer subsidios
para conclusoes mais seguras acerca da influencia de linguas europ6ias no guarani
paraguaio.
RESUMO: Este trabalho deseja mostrar como 0 sistema de nominalizac;aodo guarani
antigo evoluiu no guarani paraguaio, atraves de diversas mudan{:as: deslocamentos
semlinticos, ampliac;lio de usos, neutralizac:lio, desaparecimento de cenos sufixos,
etc., e apresentar as principais caracteristicas daqueles sistemas e suas diferenc;as
jundamentais.
PALAVRAS-CHAVE: guarani, nominalizacao, SUflXOS.
CADOGAN. L. (19S8) En torno al bilingiiismo en el Paraguay. Revisla de Antropologia, 6(1). Sio Paulo:
Universidade de Sio Paulo.
MELIA. B. d aI. (1992) El gUilTtllli a su aIcance. Asunci6n: CEPAG.
MONTOYA. A.R. (1640) Arte y bocabulario de la lengua gUilTtllli. Madrid: Juan Sanches.
RESTIVO. P. (1893) Vocabulario de la lengua guarani. Stuttgart: Guglielmi Koblhammer.

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