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III Aborto

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PENAL II – PARTE ESPECIAL 
 
VALDINEI CORDEIRO COIMBRA 
Advogado (OAB/DF) 
Mestre em Direito Penal Internacional pela Universidade de Granada (Esp) 
Especialista em Direito Penal e Processual Penal pelo ICAT/UNIDF 
Especialista em Gestão Policial Judiciária – APC/Fortium 
Coordenador do www.conteudojuridico.com.br 
Delegado de Polícia PCDF (aposentado) 
Ex-analista judiciário do TJDF 
Ex-agente de polícia civil do DF 
Ex-agente penitenciário do DF 
 Ex-policial militar do DF 
vcoimbr@gmail.com 
 
 
CÓDIGO PENAL - TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
 
Capítulo I – Dos crimes contra a vida – Do Aborto (Arts. 124 ao 
128 do CP) 
 
4.ABORTO: Conceito. Entendimento acerca do início 
da vida. Formas de aborto. Objeto jurídico. 
Classificação. Elemento subjetivo. Sujeito ativo. 
Sujeito passivo. Espécies: autoaborto, consentimento 
para aborto pela gestante, aborto provocado por 
terceiro sem o consentimento da gestante, aborto 
provocado por terceiro com o consentimento da 
gestante. Crime qualificado pelo resultado. Aborto 
necessário e aborto resultante de crimes contra os 
costumes 
 
 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem 
lho provoque: (Vide ADPF 54) 
Pena - detenção, de um a três anos. 
Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide 
ADPF 54) 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior (reclusão, de 
três a dez anos), se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é 
alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante 
fraude, grave ameaça ou violência 
Forma qualificada 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são 
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos 
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal 
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas 
causas, lhe sobrevém a morte. 
Aborto necessário 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 
54) 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de 
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu 
representante legal. 
 Considerações gerais: Aborto ou abortamento é a 
interrupção da gravidez, da qual resulta a morte do produto da 
concepção. É com a fecundação que se inicia a gravidez – a 
partir de então já existe uma nova vida em desenvolvimento, 
merecedora da tutela do Direito Penal. Há aborto qualquer que 
seja o momento da evolução fetal – a proteção penal ocorre 
desde a constituição do ovo ou zigoto até a fase em que se 
inicia o processo de parto, pois a partir de então o crime será 
de homicídio ou infanticídio. 
 Classificação doutrinária: a) aborto natural: é a interrupção 
da gravidez oriunda de causas patológicas, que ocorre de 
maneira espontânea (não há crime); b) aborto acidental: é a 
cessação da gravidez por conta de causas exteriores e 
traumáticas, como quedas e choques (não há crime); c) aborto 
criminoso: é a interrupção forçada e voluntária da gravidez, 
provocando a morte do feto; d) aborto permitido ou legal: é a 
cessação da gestação, com a morte do feto, admitida por lei. 
Esta forma divide-se em: d.1) aborto terapêutico ou 
necessário: é a interrupção da gravidez realizada por 
recomendação médica, a fim de salvar a vida da gestante. 
Trata-se de uma hipótese específica de estado de 
necessidade; d.2) aborto sentimental ou humanitário: é a 
autorização legal para interromper a gravidez quando a mulher 
foi vítima de estupro. Dentro da proteção à dignidade da pessoa 
humana em confronto com o direito à vida (nesse caso, do 
feto), optou o legislador por proteger a dignidade da mãe, que, 
vítima de um crime hediondo, não quer manter o produto da 
concepção em seu ventre, o que lhe poderá trazer sérios 
entraves de ordem psicológica e na sua qualidade de vida 
futura; e) aborto eugênico ou eugenésico: é a interrupção da 
gravidez, causando a morte do feto, para evitar que a criança 
nasça com graves defeitos genéticos.; f) aborto econômico-
social: é a cessação da gestação, causando a morte do feto, 
por razões econômicas ou sociais, quando a mãe não tem 
condições de cuidar do seu filho, seja porque não recebe 
assistência do Estado, seja porque possui família numerosa, ou 
até por política estatal. No Brasil, é crime. 
 Objeto jurídico: A vida do feto ou embrião. No aborto 
provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante (art. 
125), protege-se também a integridade física e psíquica da 
gestante. Alguns ainda acrescentam a tutela do interesse 
demográfico do Estado1. 
 Início da vida: a vida humana tem início a partir da 
fecundação. O cientista Jerome Lejeune, professor da 
universidade de René Descartes, em Paris, que dedicou toda a 
sua vida ao estudo da genética fundamental, descobridor da 
Síndrome de Down (mongolismo), afirma que “quando os 23 
cromossomos masculinos se encontram com os 23 
cromossomos da mulher, todos os dados genéticos que 
definem o novo ser humano estão presentes. A fecundação é 
                                                            
1 GÓMEZ, Alfonso Serrano. Derecho penal – parte especial, p. 69. 
o marco inicial da vida. Daí para frente, qualquer método 
artificial para destruí-la é um assassinato”. 2 
 Objeto material: É o feto, em todas as modalidades de aborto 
criminoso. Deve haver prova da gravidez3 – se a mulher não 
estava grávida, ou se o feto já havia morrido por outro motivo, 
estará configurado crime impossível por absoluta 
impropriedade do objeto (CP, art. 17). O feto deve estar alojado 
no útero materno e não se exige que tenha viabilidade. Não há 
proteção do Direito Penal na gravidez molar (em que ocorre 
desenvolvimento anormal do ovo ou “mola”), nem na gravidez 
extrauterina, que representa uma situação patológica. 
 Descarte ou destruição de óvulo fecundado in vitro: a 
manipulação genética que permite a reprodução assistida é 
pela Lei n. 11.105/2005, que estabelece normas de segurança 
e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam 
organismos geneticamente modificados. Referida Lei não 
prevê incriminação para o descarte ou destruição de embriões 
criados e preservados em laboratórios. Os tipos penais 
incriminadores do aborto previstos no Código Penal se referem 
à interrupção da gravidez natural, com vida intrauterina. O 
embriocídio não é punido no Brasil. 
 Sujeito ativo: A gestante, nas modalidades tipificadas pelo art. 
124 do Código Penal (crimes próprios), e qualquer pessoa, nos 
demais casos (crimes comuns). Os crimes previstos no art. 124 
do Código Penal são de mão própria (somente a gestante 
pode cometê-los). Admitem apenas participação (induzimento, 
instigação, auxílio material), e são incompatíveis com a 
coautoria. Quem realiza atos abortivos na gestante com o seu 
consentimento, responde pelo art. 126. 
 Sujeito passivo: O feto. No aborto provocado por terceiro sem 
o consentimento da gestante (CP, art. 125), há duas vítimas: o 
feto e a gestante. 
                                                            
2 ADI n. 3510‐DF, proposta em face do art. 5º, seus incisos e parágrafos da Lei n. 11.105, de 24 de março 
de 2005, que permitem a realização de pesquisas científicas com células‐tronco embrionárias. Em 29 de 
maio de 2008, por 6 votos a 5, a ação foi julgada improcedente. 
3  •Exame  pericial  indireto:  “A  jurisprudência  do  Supremo  Tribunal  Federal  é  firme  no  sentido  da 
possibilidade de exame de corpo de delito  indireto no crime de aborto” (STF: HC 97.479/PA, Rel. Min. 
Ellen Gracie, 2ªTurma, j. 12.06.2009). 
 Comportamento proibido: provocar significa dar causa ou 
determinar; consentir quer dizer dar aprovação, admitir, 
tolerar. O objeto das condutas é a cessação da gravidez, 
provocando a morte do feto ou embrião. 
 Meios de execução: Crime de forma livre, admitindo qualquer 
meio de execução, comissivo ou omissivo, físico ou psíquico. A 
omissão, para ser penalmente relevante, depende da 
existência do dever de agir (CP, art. 13, § 2º). 
 Elemento subjetivo: É o dolo, direto ou eventual. Não existe 
aborto culposo como crime contra a vida – quem provoca 
aborto por culpa responde por lesão corporal culposa contra a 
gestante, pois os ferimentos nela provocados são 
consequência natural da manobra abortiva. Se a própria 
gestante agir culposamente e ensejar o aborto, o fato será 
atípico (princípio da alteridade). 
 Aborto resultante de agressões: Se o sujeito agride uma 
mulher, que sabe estar grávida, com a exclusiva intenção de 
lesioná-la, mas produz culposamente o aborto, responde por 
lesão corporal gravíssima (CP, art. 129, § 2º, V). 
 Consumação: Dá-se com a morte do feto, no útero materno ou 
depois da prematura expulsão provocada pelo agente. É 
desnecessária a expulsão do produto da concepção. 
 Tentativa: É possível, em todas as modalidades de aborto 
criminoso. Se a intenção do agente era ferir a gestante o crime 
será de lesão corporal grave em face da aceleração do parto 
(CP, art. 129, § 1º, IV). 
 Manobras abortiva + expulsão do feto com vida + nova 
agressão e morte: Se o procedimento abortivo acarretar na 
expulsão do feto com vida e, em seguida, o agente realizar 
nova conduta contra o recém-nascido, para matá-lo, haverá 
concurso material entre tentativa de aborto e homicídio (ou 
infanticídio, se presentes os elementares do art. 123 do CP). 
 Manobras abortiva + expulsão do feto vivo + morte: Se o 
agente praticar a conduta abortiva e o feto for expulso com vida, 
morrendo posteriormente em decorrência da manobra 
realizada, o crime será de aborto consumado. 
 Ação Penal: É pública incondicionada, em todas as 
modalidades do crime de aborto. 
 Competência: É do Tribunal do Júri (CF, art. 5º, XXXVIII, d). 
No caso do autoaborto e ao consentimento para o aborto (art. 
124), cabe suspensão condicional do processo, desde que 
presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 
9.099/1995, tendo em vista a pena mínima de 1 ano. 
 Anúncio de substâncias, objeto ou processo para 
manobras abortivas: Constitui contravenção penal a conduta 
de anunciar processo, substância ou objeto destinado a 
provocar aborto (art. 20 do Decreto-lei 3.688/1941, LCP). No 
Projeto do novo CP (PLS 236) prevê no seu art. 127 § a punição 
por prisão de seis meses a um ano. 
 Concurso com o delito de associação criminosa: Se três ou 
mais pessoas se associarem para o fim específico de cometer 
abortos (exemplo: clínica ilegal para abortamentos), 
responderão pelo art. 288 do CP em concurso material com os 
abortos eventualmente cometidos. 
 Aborto provocado pela gestante ou com seu 
consentimento: O art. 124 do Código Penal contém duas 
figuras típicas: a) Provocar aborto em si mesma – 
autoaborto (1.ª parte) e b) Consentir para que terceiro lhe 
provoque o aborto (2.ª parte). Na primeira hipótese 
(autoaborto), a gestante efetua contra si própria o 
procedimento abortivo. Não há tentativa de aborto quando a 
mulher busca suicidar-se, mas permanece viva, pois não se 
pune a autolesão (princípio da alteridade). Se da tentativa de 
suicídio resultar o aborto, à mulher deve ser imputado o 
autoaborto (dolo eventual) – há quem entenda não existir crime, 
pois o aborto seria consequência lógica da autolesão. Admite a 
participação. O partícipe do autoaborto pratica homicídio 
culposo ou lesão corporal de natureza culposa, se ocorrer 
morte ou lesão corporal de natureza grave em relação à 
gestante, sendo inaplicável o art. 127 do Código Penal. Quando 
a gestante provoca em si mesma o aborto legal ou permitido, 
duas situações podem ocorrer: 1ª) tratando-se de aborto 
necessário ou terapêutico (CP, art. 128, I), não há crime, em 
face da exclusão da ilicitude pelo estado de necessidade; e 2ª) 
na hipótese de aborto sentimental ou humanitário, o fato é 
típico e ilícito, pois nessa modalidade somente é autorizado o 
aborto praticado por médico. É de se reconhecer, contudo, a 
incidência de uma dirimente, em face da inexigibilidade de 
conduta diversa (causa supralegal de exclusão da 
culpabilidade). Na segunda hipótese (consentimento para o 
aborto), a grávida autoriza um terceiro, que não precisa ser 
médico, a fazê-lo. O Código Penal abre uma exceção à teoria 
monista ou unitária no concurso de pessoas (art. 29, caput), 
sendo a gestante autora do crime tipificado pelo art. 124, 2.ª 
parte, e o terceiro, autor do crime definido pelo art. 126. É crime 
de mão própria – somente a gestante pode consentir e deve 
ter capacidade e discernimento para tanto, o que se evidencia 
por sua integridade mental e por sua idade (14 anos ou mais). 
O consentimento deve ser válido. Admite participação, 
respondendo o partícipe pelo art. 124 do CP (conduta vinculada 
ao consentimento da gestante) ou pelo art. 126 (conduta 
vinculada à do terceiro que provoca o aborto). 
 Aborto provocado por terceiro com o consentimento da 
gestante (art. 126): Também se trata de exceção à teoria 
monista ou unitária no concurso de pessoas (art. 29, caput), 
respondendo a gestante pelo crime definido no art. 124, 2ª 
parte (consentimento para o aborto), e o terceiro pelo delito 
contido no art. 126 (aborto consentido ou consensual), ambos 
do Código Penal. O consentimento da gestante deve subsistir 
até a consumação do aborto – se, durante o procedimento, ela 
solicitar ao terceiro a interrupção das manobras letais, mas não 
for obedecida, para ela o fato será atípico, e o terceiro 
responderá pelo crime delineado pelo art. 125 do Código Penal. 
Se o terceiro cometer o fato por incidir em erro sobre o 
consentimento da gestante, plenamente justificado pelas 
circunstâncias, a conduta deverá reputar-se praticada com o 
seu consentimento. Admite participação, respondendo o 
partícipe pelo art. 124 (conduta vinculada ao consentimento da 
gestante) ou pelo art. 126 (conduta vinculada à do terceiro 
provocador do aborto). 
 Aborto qualificado pelo resultado: as hipóteses elencadas 
caracterizam causas de aumento de pena e são aplicáveis ao 
aborto praticado por terceiro, com ou sem o consentimento 
da gestante (arts. 125 e 126), por expressa disposição legal. 
São hipóteses de crimes qualificados pelo resultado, de 
natureza preterdolosa (aborto doloso e lesão corporal ou 
morte culposas). Aplica-se o art. 19 do Código Penal: “Pelo 
resultado que agrava especialmente a pena, só responde o 
agente que o houver causado ao menos culposamente”. 
 Casuísticas entre aborto, lesão e morte da gestante: a) se 
em consequência do aborto ou dos meios empregados para 
provocá-lo a gestante sofre lesão corporal de natureza leve, o 
terceiro responde somente pelo aborto simples, sem ou com o 
seu consentimento, restando absorvida a lesão corporal. b) se 
resulta lesão grave ou gravíssima, culposos, responde pelo 
aborto, com a causa de aumento de pena de um terço; c) Se 
do aborto resulta morte culposa, a pena do aborto é duplicada; 
d) se, no entanto, o terceiro tinha dolo (direto ou eventual) no 
tocante a ambos os crimes, responde por aborto e por lesão 
corporal de natureza grave ou homicídio, em concurso (material 
ou formal imperfeito). Aquele que mata dolosamente uma 
mulher, ciente da sua gravidez, e assim provoca a morte do 
feto, responde por homicídio doloso e também por aborto, 
ainda que ausente a intenção de provocar a morte do feto 
(quando se mata uma mulher grávida há pelo menos dolo 
eventual quanto ao aborto).Se o terceiro ignorava a gravidez 
será responsabilizado por homicídio doloso, sob risco de 
caracterização da responsabilidade penal objetiva. 
 Aborto legal ou permitido: O dispositivo arrola duas causas 
especiais de exclusão da ilicitude – o aborto necessário e 
o aborto no caso de gravidez resultante de estupro. Em 
ambas, o aborto há de ser praticado por médico. 
 O aborto necessário ou terapêutico: depende de dois 
requisitos: (1) que a vida da gestante corra perigo em razão da 
gravidez; e (2) que não exista outro meio de salvá-la. O risco 
para a vida da gestante não precisa ser atual. Se o médico 
supõe erroneamente o perigo em razão das circunstâncias do 
caso concreto, não responde pelo crime em face da 
descriminante putativa prevista no art. 20, § 1º, do Código 
Penal. Como a vida constitui-se em bem jurídico indisponível, 
não se exige o consentimento da gestante para o aborto. Não 
há crime quando a gestante se recusa a fazê-lo e o médico 
provoca o aborto necessário. E não são puníveis as lesões 
corporais resultantes do procedimento cirúrgico. É 
desnecessária a autorização judicial para o aborto. Se o aborto 
necessário for realizado por enfermeira, ou por pessoa diversa 
do médico, havendo perigo atual para a gestante, o fato será 
lícito, como corolário do estado de necessidade (CP, art. 24); 
ausente este perigo subsistirá o crime de aborto, com ou sem 
o consentimento da gestante. 
 O aborto em caso de gravidez resultante de estupro (aborto 
sentimental, humanitário, ético ou piedoso): deve ser 
praticado por médico e exige-se o consentimento válido da 
gestante ou de seu responsável legal, se incapaz. Todavia, se 
for realizado pela gestante ou por outra pessoa, que não um 
profissional da medicina, o fato será típico e ilícito, mas é de se 
reconhecer a incidência de uma dirimente, em face da 
inexigibilidade de conduta diversa (causa supralegal de 
exclusão da culpabilidade). Pouco importa o meio de 
execução do delito: violência à pessoa ou grave ameaça. Será 
possível o aborto ainda que a gravidez resulte da prática do 
sexo anal ou de qualquer outro ato libidinoso diverso da 
conjunção carnal. Da mesma forma, por analogia in bonam 
partem, é permitido o aborto quando a gravidez resultar de 
estupro de vulnerável (CP, art. 217-A). É prescindível a 
condenação e até mesmo a ação penal pelo crime de estupro, 
bastando a existência de provas seguras acerca da existência 
do crime. 
 Aborto de feto anencéfalo: Anencefalia é a malformação rara 
do tubo neural acontecida entre o 16.º e o 26.º dia de gestação, 
caracterizada pela ausência total ou parcial do encéfalo e da 
calota craniana, proveniente de defeito de fechamento do tubo 
neural durante a formação embrionária. O Conselho Federal de 
Medicina (CFM) considera o anencéfalo um natimorto cerebral, 
por não possuir os hemisférios cerebrais e o córtex cerebral, 
mas somente o tronco.1 Consequentemente, sua eliminação 
em intervenção cirúrgica constitui-se em fato atípico, pois o 
anencéfalo não possui vida humana que legitima a intervenção 
do Direito Penal. No julgamento da ADPF 54/DF, ajuizada pela 
CNTS – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, 
o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a 
inconstitucionalidade da interpretação segundo a qual a 
interrupção da gravidez de feto anencéfalo seria conduta 
tipificada nos arts. 124, 126 e 128, incs. I e II, do Código Penal. 
Desta forma, a Corte reconheceu o direito da gestante de 
submeter-se à antecipação terapêutica de parto na hipótese 
de anencefalia, previamente diagnosticada por profissional 
habilitado, sem estar compelida a apresentar autorização 
judicial ou qualquer outra forma de permissão do Estado. Se a 
gestante ou um terceiro praticar manobras abortivas no sentido 
de eliminar o feto anencéfalo, estará caracterizado crime 
impossível, em razão da impropriedade absoluta do objeto 
material, nos termos do art. 17 do Código Penal. No projeto do 
novo Código Penal em tramitação no Congresso (PLS 236), o 
aborto de feto anencéfalo vem catalogado no art. 127, III como 
conduta não punível, desde que atestado por dois médicos e 
precedido do consentimento da gestante, ou seu representante 
legal. 
 Interrupção de gravidez de feto anencéfalo: No julgamento 
da ADPF 54/DF, ajuizada pela CNTS – Confederação Nacional 
dos Trabalhadores na Saúde, o Plenário do Supremo Tribunal 
Federal declarou a inconstitucionalidade da interpretação 
segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo 
seria conduta tipificada nos arts. 124, 126 e 128, incs. I e II, do 
Código Penal. Desta forma, a Corte reconheceu o direito da 
gestante de submeter-se à antecipação terapêutica de parto na 
hipótese de anencefalia, previamente diagnosticada por 
profissional habilitado, sem estar compelida a apresentar 
autorização judicial ou qualquer outra forma de permissão do 
Estado. Os fundamentos invocados pelo Excelso Pretório 
foram a laicidade do Estado brasileiro, a dignidade 
humana, o usufruto da vida, a liberdade, a 
autodeterminação, a saúde e o pleno reconhecimento dos 
direitos individuais, especialmente os direitos sexuais e 
reprodutivos das mulheres. Anencefalia é a malformação do 
tubo neural, a caracterizar-se pela ausência parcial do encéfalo 
e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural 
durante o desenvolvimento embrionário. O diagnóstico desta 
anomalia reclama a ausência dos hemisférios cerebrais, do 
cerebelo e de um tronco cerebral rudimentar ou a inexistência 
total ou parcial do crânio. Pode ser diagnosticada clinicamente 
na 12ª semana de gestação, mediante o exame de 
ultrassonografia. Os anencéfalos são natimortos cerebrais, e 
jamais podem se tornar pessoas. Não há vida em potencial, e 
sim a certeza da morte (incompatibilidade com a vida 
extrauterina), razão pela qual não se pode falar em aborto. Em 
síntese, os fetos com anencefalia não gozam do direito à vida, 
posição em sintonia com as disposições elencadas pela Lei 
9.434/1997, a qual versa sobre a remoção de órgãos, tecidos e 
partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. 
A obrigatoriedade de preservar a gestação produz danos à 
gestante, muitas vezes levando-as a uma situação psíquica 
devastadora, pois na maioria das vezes predominam quadros 
mórbidos de dor, angústia, luto, impotência e desespero, em 
face da certeza do óbito. 
 Diagnóstico da anencefalia e antecipação terapêutica: No 
dia 14 de maio de 2012, atendendo à decisão proferida pelo 
Supremo Tribunal Federal na ADPF 54/DF, o Conselho Federal 
de Medicina editou a Resolução CFM nº 1.989/2012, 
disciplinando a atuação prática dos médicos no tocante à 
interrupção da gravidez baseada na anencefalia do feto, 
independentemente de autorização do Estado. 
 Crime impossível: Se a gestante ou um terceiro praticar 
manobras abortivas no sentido de eliminar o feto anencéfalo, 
estará caracterizado crime impossível, em razão da 
impropriedade absoluta do objeto material, nos termos do art. 
17 do CP. 
 Classificação sintética doutrinária: trata-se de crime próprio 
(só a gestante pode cometer); instantâneo (cuja consumação 
não se prolonga no tempo); comissivo ou omissivo (provocar 
= ação; consentir = omissão); material (exige resultado 
naturalístico para sua configuração); de dano (deve haver 
efetiva lesão ao bem jurídico protegido, no caso, a vida do feto 
ou embrião); unissubjetivo (admite a existência de um só 
agente), mas na última modalidade (com seu consentimento) é 
plurissubjetivo, mesmo que existam dois tipos penais 
autônomos – um para punir a gestante, que é este, e outro para 
punir o terceiro, que é o do art. 126; plurissubsistente 
(configura-se por vários atos); de forma livre (a lei não exige 
conduta específica para o cometimento do aborto); admite 
tentativa. Pune-se somente a forma dolosa.1. BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, vol. 2, parte 
especial, 14ª ed., 2014, Saraiva. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal, 10ª ed., 2014, 
Forense. 
 
PRADO, Luiz Regis Prado. Curso de Direito Penal, vol. único, 13ª 
ed., 2014, RT. 
 
2. BLIBIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- vol.2, parte especial, 13ª 
Ed, 2013, São Paulo: Saraiva. 
 
DELMANTO, Roberto. Código Penal Comentado, 5. ed., atual. e 
ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. 
 
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GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, parte especial, vol. 2, 10 
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MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, vol. II, 25. ed., 
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