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FILOSOFIA DO DIREITO - Claudia Albagli - CADERNO 3º SEMESTRE

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FILOSOFIA DO DIREITO
Aluno: João Felipe Cabral Fagundes Pereira
FUNÇÃO DA FILOSOFIA DO DIREITO NA SOCIEDADE - A Filosofia do Direito na contemporaneidade tem que estar na frente da atualidade, podendo assim estabelecer um pensamento crítico diante da realidade do Direito, ao analisar casos, situações e conceitos vigentes na sociedade, além de trazer a pessoa humana para o centro da preocupação do Direito.
 A filosofia é um saber universalista porque, em regra, a filosofia trabalha com elementos conceituais que independem do local onde o indivíduo esteja, pois não se estude apenas o ordenamento de certo país, mas sim conceitos e fundamentos de diversas localidades, que podem ser universais e aplicados/interpretados de formas diferenciadas ao redor do mundo. A Dignidade da Pessoa Humana, por exemplo, passa por um contraponto entre universal e particular.
 Tércio Sampaio acredita que a filosofia deve ser tratada e seguida como se fosse uma pergunta infantil, pois, assim como uma criança, devemos questionar com frequência o mundo ao nosso redor, ou seja, um filósofo do direito deve ser um eterno questionador da ciência do Direito.
 A Filosofia do Direito não pode ser considerada um conhecimento histórico, pois certos conceitos e fundamentos filosóficos estabelecidos no Direito transcendem o tempo e a história, tendo como exemplo a sanção, que existe desde que o direito é direito. Já o conhecimento histórico está atrelado a fatos.
 Boaventura usa o termo conhecimento emancipatório para fazer uma proposta de ciência, que juntamente com o conhecimento propicie uma emancipação do sujeito. Ou seja, enquanto o ser humano se submeter a verdades e dogmas, ele não terá capacidade de se libertar, devendo assim buscar um conhecimento em que o mesmo busque sempre o questionamento, formando seu conhecimento de maneira autônoma.
DIREITO COMO JUSTIÇA/JUSNATURALISMO – Conceito do Direito idealizado no período da Grécia Antiga, onde a ideia do Direito estava associada à Justiça, um direito justo como a verdadeira definição do Direito. Consiste na ideia de um Direito natural e justo, que deve e há de ser aplicado à todos os seres humanos, onde antes de se aplicar as normas, deve-se analisar a justiça.
 O termo Direito Natural, nos remete a percepção de algo do qual o homem não participa diretamente com a sua vontade, ou seja, o Direito Natural está condicionado à existência humana, independendo da vontade humana. Podemos concluir que por ser um humano, o indivíduo é detentor de um Direito Natural.
 O jusnaturalismo não nega o direito escrito e muito menos o direito positivado, mas para o jusnaturalismo, o Direito Natural estará sempre acima da lei, ou seja, o julgador sempre deverá se submeter primariamente ao Direito Natural e depois às “leis do homem”/leis escritas, como pode ser notado na fase do Jusnaturalismo Cosmológico e Teológico.
 O Jusnaturalismo perdura até hoje, com algumas nuances e alterações durante o passar dos séculos, entre eles são o Jusnaturalismo Cosmológico, Teológico, Racionalista e Moderno.
CARACTERÍSTICAS DO JUSNATURALISMO
-Universalidade: A ideia de universalidade do jusnaturalismo está ligada ao fato de seu auge ter durado até o Século XIX, onde o pensamento do mundo era homocêntrico, já que os pensadores, por serem todos europeus, analisavam o mundo de acordo com a Europa. O universalismo é uma forma de explicar que o Direito Natural está presente em qualquer ordenamento jurídico ao redor do mundo como sua Lei Superior.
-Imutabilidade: Acredita-se que durante cada fase do jusnaturalismo houve uma definição concreta e perdurante do que era o Direito Natural. A Igreja Católica manteve a imutabilidade do pensamento jusnaturalista teológico por séculos devido ao fato de que a instituição conseguiu dominar os três poderes, como a religião, a economia e a política.
-Leis Superiores: O jusnaturalismo trabalha com a existência de uma lei natural superior à lei do homem que não está acessível ao homem, não podendo controlá-la. O homem tentou ter acesso a lei natural, porém sempre houve algo que o afastou de tal acessibilidade, onde primeiramente foi a mitologia, posteriormente a Igreja Católica e, por fim, a Razão.
-Direito como produto de ideias: O Direito do jusnaturalismo não vem de algo controlável. No âmbito do jusnaturalismo o que não era palpável/materializado era o fator dominante, ou seja, o Direito era o resultado de ideias dominantes na época, enquanto no Direito Positivista, o Direito resulta das leis. 
-Valores como pressupostos: o ponto de partida do jusnaturalismo são os valores, dependendo do período histórico. Um exemplo disso é na antiguidade, onde o principal valor era a ética e a justiça. Já na fase do jusnaturalismo teológico, os valores eram a fé e a esperança.
JUSNATURALISMO COSMOLÓGICO (SÉC. IV A.C – V D.C) – Foi um momento do jusnaturalismo que possuía uma forte relação entre o Estado e a religião vigente na época (mitologia grega), onde a justiça era feita através da interferência dos Deuses na vida das pessoas. O primeiro momento de contribuição da Antiguidade Clássica foi a gênese da filosofia grega, voltada para a filosofia humana (ética, moral, o papel do homem no mundo) sendo um legado fundamental para a sociedade ocidental.
-Conceito de Pólis: A Pólis não é apenas uma unidade política (cidade) ou forma de expressão política, mas sim o local onde houve toda a reflexão sobre o ser humano na sociedade, onde os grandes filósofos desse período viviam na pólis pensavam a respeito da função do ser humano na pólis.
-Conceito de Virtude: Não é o conceito atualmente entendido como virtude. A virtude para a antiguidade clássica é o modo de um indivíduo agir, interagir e exercer sua função na pólis/sociedade, onde caso o indivíduo seja atuante e participativo na sociedade, ele acaba se tornando um ser virtuoso na pólis (sentido politizado de virtude).
-Conceito de Felicidade: A felicidade na Antiguidade Clássica está relacionada a plenitude quanto à existência social, sendo assim um objetivo a ser alcançado/uma realização pelos indivíduos na pólis. Pode-se concluir que ao agir de forma virtuosa, seremos indivíduos felizes. A prática da virtude leva à felicidade.
PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO - O que marca o pensamento dos pré-socráticos é o intercâmbio direto entre natureza, conhecimento e justiça. Os Sofistas, indivíduos que viviam de questionar e descontruir as verdades através do discurso/argumento e usando a verdade como algo alterável e maleável de acordo com seu poder argumentativo, viveram durante o período dos pré-socráticos e na Era de Ouro, sendo chamados de “prostitutos do saber” por Sócrates, por cobrarem suas aulas. Os sofistas foram responsáveis por moldar e influenciar bastante o Direito, afinal, é uma área onde os juristas devem se utilizar do seu poderio argumentativo para questionar a verdade 
TRAGÉDIA DE ANTÍGONA: IMPLICAÇÕES PRÁTICAS - É um texto literário escrito por Sófocles, sendo uma das tragédias grandes que possui enorme representatividade nesse período, onde hoje o Complexo de Édipo se originou com essa obra. A tragédia trata da disputa pelo Reino de Tebas entre os filhos de Édipo, onde ao trair seu irmão, Poliníces foi assassinado e como punição, Creonte, irmão de Édipo que assume o poder resolve não enterrar Poliníces como lição para que nunca mais irmãos brigassem por poder. Mas essa lei entrava em conflito com uma lei divina que determinava que caso um família não enterrasse um de seus entes, eles sofreriam uma grave punição. Antígona, irmã de Poliníces passa pelo dilema de não enterrar o irmão e sofrer a punição divina ou enterrá-lo e ser sancionada com a pena de morte, onde, no final, Antígona acredita que a lei natural (lei dos Deuses) era superior, enterrando o seu irmão e sofrendo a pena de morte.
 Essa tragédia possui um enorme valor memorial, sendo escrita antes do período socrático, sendo a primeira situação onde temos um texto que tratasse da dicotomia entre o Direito Positivo x Direito Natural.Na Antiguidade há uma diferença muito clara entre o que faz parte da vida pública e da vida privada, onde Antígona alega que a decisão de enterrar seu irmão é algo privado, não devendo o Estado ter o direito público de decidir como Poliníces seria enterrado.
 Há nessa tragédia a noção de imperatividade da norma, ou seja, a norma é imposta, dizendo como você deve agir, lhe autorizando ou proibindo-o de fazer algo, aparecendo inicialmente quando Creonte cria a proibição do sepultamento de Poliníces (criando uma norma e uma consequente sanção para a mesma) e uma noção de desobediência civil (descumprir uma norma, que se justifica do indivíduo entender que houve uma arbitrariedade por parte do Estado), onde de maneira muito inicial, Antígona pratica um ato de desobediência civil.
SÓCRATES E O IMPÉRIO DO CONHECIMENTO: Sócrates inaugura uma era do pensamento grego, que se relaciona ao estudo das relações humanas, já que os pré-socráticos envolviam aspectos da natureza com questões existenciais. É uma filosofia que volta a discutir quais são os limites, obrigações e o que faz de um ser humano ético ou um ser ativo na política (parte da sociedade e do Estado). 
 Sócrates, através da “Maiêutica” ou parto das ideias (Segunda fase da dialética socrática), fazia com que o indivíduo desconstruísse seu conhecimento prévio sobre determinado assunto e permitia que o mesmo refletisse e buscasse através do questionamento a eterna busca pelo conhecimento, sendo o filósofo, aquele indivíduo que questiona e põe em dúvida tudo que está explicado. Adquirir conhecimento não era o fim do processo, afinal esse estado constante de busca deveria ser mantido. Felicidade, para Sócrates, é a satisfação por adquirir conhecimento.
 Os administradores da Pólis não aprovavam os métodos socráticos, devido ao fato de questionarem a política ateniense e incitar os jovens a questionarem tudo, sendo Sócrates punido através de envenenamento por cicuta. Platão era um dos jovens que seguia Sócrates e foi responsável por anotar tudo o que conhecemos de Sócrates, onde após sua morte, resolveu seguir os passos do seu mentor, criando uma escola para filósofos, a Akademia. 
PLATÃO - Platão, oriundo de influente família na política ateniense, acaba abandonando tudo depois de presenciar a morte de Sócrates e se dedica exclusivamente à filosofia e a preparação de filósofos, acreditando que assim, com o governo de filósofos, teríamos uma sociedade mais justa.
 -Idealismo Platônico: O principal traço de Platão é o idealismo platônico, pois toda sua filosofia é traçada a partir da ideia de um mundo ideal (mundo das ideias/inteligível) e mundo terreno (sensível), onde a filosofia teria como função fazer com que o indivíduo transcendesse das convenções sociais para o mundo inteligível. As formas do mundo terreno são distorcidas, onde a ideia genuína de cada coisa estaria presente no mundo das ideias (a ideia essencial de cada coisa). Isso seria uma “abertura dos olhos da alma”, tendo como principal referência a Alegoria da Caverna, onde a caverna era o mundo terreno, onde se viam apenas sombras e quando saíamos da caverna, chegávamos ao mundo das ideias, vendo as coisas como elas realmente são.
-Concepção de Justiça para Platão: Platão dividia a sociedade ideal em 3 classes: os filósofos (responsáveis por pensar e administrar a Pólis), os guerreiros (pessoas preparadas para a defesa da pólis) e os artesãos (trabalhariam com a parte manual). A concepção de justiça para Platão não é muito bem definido, pois há uma enorme ligação entre ideias diferentes, mas Platão considera que justiça é aquilo que é necessário para o bem estar coletivo, sendo um Estado justo aquele onde todos vivem felizes (felicidade é satisfazer aquilo que é essencial para o bem comum). O Direito estaria a discussão da ação coletiva.
-O Papel da Educação: A educação platônica tem como papel treinar a inteligência das pessoas para que elas sejam capazes de se desvencilhar dos aspectos sensíveis e alcancem os aspectos inteligíveis, através do domínio das paixões (mundo sensível e os sentimentos, consciência, etc). No livro “A República”, Platão diz que a educação deve ser dada apenas aos membros da elite, pois eles teriam tempo para que pudessem praticar e gozar do ócio. 
 A República ideal de Platão tem como ideia a manutenção da unidade política e territorial do Estado, onde os guerreiros surgem como uma classe necessária, não bastando apenas um rei filósofo. O Estado moderno deposita no Estado de Direito toda a responsabilidade pela manutenção desse Estado, já que Platão cria que além das leis normas, os cidadãos eram responsáveis por manter a consciência de unidade do Estado. Há também o estabelecimento de finalidades do Estado e do uso de recursos para melhoria da República. 
-“As Leis”: Sendo um livro mais realista do que o restante da obra platônica, esse texto de conotação mais pragmática viria para complementar alguns aspectos do livro “A República”. Platão define que existem critérios morais absolutos , estando acima de qualquer coisa, inclusive das normas, sendo inquestionáveis. Outro ponto foi a possibilidade de incorporação desses critérios nas próprias normas, havendo obediência absoluta às leis. 
ARISTÓTELES – Aristóteles é um daqueles que vem à Atenas para estudar na Escola de Platão, fundada após a desilusão política que Platão teve, atraindo a juventude da Atenas. Aristóteles é o único dos 3 pensadores que não é ateniense, sendo o mesmo oriundo da Macedônia. Futuramente, Aristóteles foi o mentor do futuro imperador, Alexandre O Grande. O pensamento aristotélico tratou de temas como ética, moral, justiça, matemática, física, e outras áreas de conhecimento, sendo um filósofo quase completo, dentre os 3 grandes filósofos o mais estudado atualmente. Aristóteles foi capaz de separar e classificar bastante as ideias através de sua ampla facilidade de conceituar e categorizar o conhecimento.
-Saber Teorético x Saber Prático: Aristóteles apesar de ser da Escola de Platão, acabou por se distanciar do idealismo platônico (o bom filósofo é aquele que distancia dos aspectos mundanos, nos aproximando das essências das coisas), dizendo que a boa filosofia é aquela que mergulha na ação prática e empírica do indivíduo. 
 Saber Teorético é tudo aquilo que independe da vontade humana para existir, como o dia, a noite, o vento, a chuva, independendo da vontade humana.
 Saber Prático é tudo aquilo que possui sua existência vinculada a vontade humana. Dentro do saber prático, há um subdivisão entre Práxis e a Técnica. (a) Práxis é toda forma de conhecimento que não se distingue do próprio homem, não se separando da pessoa humana, onde o individuo e a finalidade desejada por ele são uma coisa só (o agir honesto não se distingue do individuo honesta, assim como ao agirmos desonestamente, não podemos dizer que somos honestos). (b)Técnica é quando o conhecimento humana se separa e se distingue da própria pessoa, onde esse saber prático nos serve diariamente (quando se constrói um prédio, não é possível associar o agente do objeto, sendo o produto de uma técnica), se separando do agente (o objeto possui finalidades e funções independentes do ser humano que o criou).
 O estudo da Práxis gerou uma separação entre o conceito de ética e política, onde a (I) Política tratava das ações e relações do homem enquanto o mesmo é um membro pertencente de um grupo social (ao fazermos parte da sociedade, somos todos seres políticos); e a (II) Ética trata das ações do homem enquanto um indivíduo, definindo quem é o indivíduo.
OBS: Aristóteles cria que a Práxis era um dos objetos de estudo dos filósofos, sendo a Filosofia Marxista 
-A Experiência em Aristóteles: Aristóteles é um filósofo da experiência/ação, onde pensar as relações humanas só pode ser feito a partir do modo em que o indivíduo age no mundo, se desgarrando do ponto que era essencial da filosofia platônica (dicotomia entre mundo das ideias x mundo das coisas), onde para que se possa estudar o indivíduo, devemos mergulharna experiência. 
 Aristóteles usa a questão da finalidade, dizendo que a existência humana é teleológica (Telos = Finalidade), sendo a ação do homem voltada para fins, ou seja, agimos com um fim, não agindo por agir, havendo um espaço para compreender a própria finalidade do homem, que é a vida em sociedade (O homem é um animal político).
-Dialética da Potencialidade: Se a ação humana é voltada para fins, e a compreensão dos fins é dependente da experiência humana, é também da experiência onde se pode extrair as potencialidades humanas, onde todo ser humano carrega em si uma potencialidade (somos todos capazes), podendo ser desenvolvida (em diferentes graus) ou não de acordo com o ambiente ao redor do indivíduo.
 Aristóteles entende que essa potencialidade depende de um movimento, que é a ação do indivíduo e as experiências ao redor dele para que a potencialidade se desenvolva. Para que a potência se transforme em ato (Potência – Ato) é necessário um movimento.
 A partir da dialética de potencialidade foi possível a definição de três tipos de almas (alma no sentido de essência do indivíduo); Almas Vegetativas são aqueles indivíduos que apenas existem; Almas Sensíveis são aqueles que existem e sentem; e as Almas Racionais existem, sentem e pensam. A sua capacidade de usar da dialética da potencialidade é o que define a alma do indivíduo, sendo as Almas Racionais as que conseguiram transformar a potência em ato. 
-Virtude Como Meio Justo: Aristóteles dizia que toda ação é voltada a fins, onde tais finalidades que são responsáveis por tornar possíveis a potencialidade, tem como função alcançar o fim essencial do homem, que é a felicidade. O homem alcança a felicidade através da prática de virtudes, sendo a virtude uma prática, o modo como você age no mundo, que lhe torna virtuoso (diferentemente da visão platônica, que cria que virtuoso era o indivíduo capaz de alcançar do mundo das ideias. 
OBS: Aristóteles acreditava que a prudência/fronesis é uma espécie de mantra para o modo de agir do homem, pois agir de forma prudente, razoável e racional é uma virtude, sendo algo bastante revisitado do pensamento aristotélico.
 O agir virtuoso é o agir equilibrado, não cedendo aos extremos (corajoso x medroso, passivo x agressivo, excesso x ausência), onde a justiça para Aristóteles é a maior de todas as virtudes, sendo a perfeita expressão do equilíbrio. A busca pelo justo nem sempre está dentro da legalidade, ou seja, nem tudo que é justo é lícito.
-Concepção de Justiça para Aristóteles: No Livro V de Ética à Nicômaco, Aristóteles, além de equacionar a justiça (justiça = equidade/equilíbrio + alteridade, sendo a equidade o equilíbrio/consenso e alteridade o olhar sobre o outro, o convívio entre os diferentes), subdividiu a mesma em: 
 Justo Total (Político ou Geral), que é toda a justiça e a concepção da mesma entre o indivíduo e a sociedade, sendo a observância da lei pela sociedade (uma sociedade justa para Aristóteles é aquela que observa e cumpre as normas vigentes), se há uma harmonia entre as leis e os indivíduos; e o Justo Particular, que busca a relação de justiça entre os indivíduos.
 Já o Justo Distributivo, que é o que chamamos hoje de proporcionalidade (distribuição na medida da igualdade material), onde o indivíduo só receberá na proporção que contribuiu (visão meritocrática). E o Justo Corretivo, que é a justiça no sentido de recompensação e correção, subdividindo-o em (a) ações involuntárias (quando um dos sujeitos está de forma indesejada na situação, como na prática de um crime) e (b)ações voluntárias que é quando as partes desejam estar na situação, como em um contrato.
EPICURISMO – O termo epicurismo vem do filósofo Epicuro, que cria que o agir humano era condicionado a busca do prazer (não é necessariamente o prazer carnal, mas sim o prazer espiritual), sendo o homem cercado de sentimentos e emoções, que movimentam a própria política (Epicuro tinha descrença na política, já que esse momento foi o de decadência da sociedade ateniense, crendo que os políticos não pensavam no prazer como justo, mas no prazer egoísta). Na concepção de justiça de Epicuro, a ação humana, por se reunir em prazer tem como inverso a sua dor, ou seja, justo seria a ação que propõe o prazer (que completa e satisfaz o indivíduo). 
ESTOICISMO - No Estoicismo houve uma sequência de pensadores (Espinoza, Sêneca, Marco Túlio Cícero) que ofereceram uma gama de reflexões que nos permitem entender como a linha de pensamento filosófico progrediu do fim da Antiguidade Clássica até a fase do Jusnaturalismo Teológico (foi um movimento que se perpetuou em torno de cinco séculos). É um movimento que não possui uma característica.
-Estoicismo Antigo/Ético: É o período do Estoicismo mais próximo da Antiguidade Clássica, ainda possuindo muita influência dos pensadores clássicos, questionando o homem, a ética e a moral.
-Estoicismo Médio/Eclético: São uma série de filósofos e movimentos filosóficos com raízes diferentes. Durante esse período é chamada a atenção dos jurisconsultos, especialmente por duas razões, já que no Império Romano houve uma preocupação com a prática do Direito, onde a filosofia além de instrumento reflexivo se tornou um instrumento prático do Direito (técnica, defesa escrita), tendo como principal expoente Marco Túlio Cícero, que conceituou a Reta-Razão, que é a percepção de que o individuo carrega em si uma racionalidade capaz de leva-lo ao acerto, o que é correto. 
 Cícero conceitua o Direito Natural (além do ser humano, Lex Naturale) e o Direito da Gente (direito elaborado pelos humanos, havendo o início da atividade dos advogados, do Direito Civil, da República).
 Justiniano I, Imperador de Constantinopla, também foi responsável pela elaboração do Corpus Juris Civilis, que foi um conjunto dos textos do antigo Direito Romano elaborado pelos melhores jurisconsultos de Constantinopla.
-Estoicismo Novo/Religioso: Já alcança a fase em que a Igreja começa a se apresentar como uma força política. 
JUSNATURALISMO TEOLÓGICO(SÉC. V D.C – XVII D.C) – Vem do prefixo “Teo” (Deus), que indica o domínio na igreja durante a Idade Média, sendo uma instituição que exerceu poder além da religião e adentrando no campo político/jurídico, onde o pensamento jurídico foi fortemente influenciado pela Igreja Católica e a “moral cristã”. O discurso da ideia do justo como algo que vem de uma fonte inalcançável muda para o conceito de que o justo é a vontade de Deus espalhada e proferida pelos seus representantes na Terra. 
 A Igreja exerceu uma força e possuiu um legado que transcendeu o mundo ocidental (a moral cristã influencia diretamente grande parte dos indivíduos ocidentais, independentemente de sua religião), pois o mundo passou a ser pensado pelo viés cristão, se tornando o poder econômico, político e religioso. A ideia de direito hereditário, celibato, procriação apenas no casamento foram ideais implantados pela Igreja. 
A VERTICALIZAÇÃO DO CONCEITO DE JUSTIÇA - Hans Kelsen acredita que o conceito de justiça no Jusnaturalismo Teológico variou com o passar do tempo para poder angariar fiéis, onde o Direito se baseava em uma concepção de justiça altamente mutável. A grande mudança que houve foi o modo em como passa a se tratar a concepção de justo (na Antiguidade era uma relação de justiça horizontal, baseada na interação entre os indivíduos) de acordo com aquilo que está de acordo com a Lei de Deus, havendo assim a ideia de verticalização da justiça. 
 Um lado negativo é a impossibilidade de questionar a Lei de Deus (brecha para a Igreja exercer um poder quase absoluto), mas, podemos dizer que, o lado positivo, é o fato de o conceito de justiça estar de acordo com a Lei de Deus independe de aspectos econômicos e sociais, dependendo apenas da vontade e consciência do indivíduo, já que na Antiguidade, justos eram aqueles que eram os cidadãos livres. 
CONCEITOS LEGADOS DO JUSNATURALISMO TEOLÓGICO
-Virtude: A virtude, que na Antiguidade estava associada ao comportamento e modode agir na sociedade, passa a ser pensado e definido a partir do modo como o homem age diante das leis de Deus, onde virtuoso agora era ser um indivíduo que age de acordo com a Bíblia. Até hoje vemos que o conceito de virtuoso definido pela Igreja é o mais conhecido e usado, onde uma pessoa virtuosa é o indivíduo bondoso, caridoso e que ama Deus.
-Livre-Arbítrio: A ideia de livre-arbítrio quebra um paradigma onde o conceito de liberdade era condicionado exclusivamente à política. Com o Cristianismo, a ideia de liberdade passa a ser subjetiva, onde o indivíduo passa a possuir o livre-arbítrio de viver de acordo ou não conforme a Lei de Deus. É a ideia de que liberdade é conceituado pela vontade mas não pela política, onde através das escolhas será definido se o indivíduo é capaz de ser protegido pelas leis divinas.
-Dever: Está ligado ao conceito de virtude, onde dever é o cumprimento da lei de Deus pelos cristãos, sendo exemplos de deveres ter fé, ser bondoso, caridoso, benevolente e frequentar a Igreja. Alguns autores creem que o conceito de dever já existia (o cidadão deveria cumprir um dever diante de uma ordem acima dele).
-Intenção: O conceito de intenção atual não é o mesmo que a Igreja criou, mas, se não fosse a Igreja, não teríamos esse conceito. A intenção do Jusnaturalismo Teológico era a intenção que entendemos hoje, só que no plano do intelecto (o indivíduo desejar algo, mesmo que o indivíduo não cometa um crime, Deus estará ciente dos seus pensamentos), diferentemente de hoje em dia, que intenção (dolo, por exemplo) é o indivíduo executar/planejar com vontade o ato.
OBS: Há uma imprecisão sobre em que século houve o término do Jusnaturalismo Teológico, onde enquanto alguns creem que seu fim foi no Século XVII, outros creem que sua decadência teve início no Século XV, devido a publicação da obra “Doutora Ignorância”.
PONTOS NEGATIVOS E POSITIVOS DO JUSNATURALISMO TEOLÓGICO - O Jusnaturalismo Teológico contribuiu para o desenvolvimento do estudo da ética, da Dignidade da Pessoa Humana, a ideia de igualdade, sendo conceitos formulados dentro da filosofia teológica, que, apesar de usados inicialmente pela Igreja, são existentes até hoje. 
 Já os pontos negativos foram o monopólio da Igreja (a recusa de ser apenas um poder religioso, almejando o domínio da política e da economia) e a questão da “demonização” em relação a todo individuo que fosse contra os ideais da Igreja Católica, usando da violência para manter-se no topo (Tribunal da Santa Inquisição, a perseguição à Galileu).
PATRÍSTICA – É o período onde há uma relação mais forte entre o Estado e a Igreja, onde a Igreja chancelava e era um fator significante para a escolha dos Reis, coincidindo na fase da Idade Média Alta, onde a Igreja dominava o pensamento e, consequentemente, o discurso. O principal pensador da Patrística foi Santo Agostinho.
-Santo Agostinho: Viveu num período onde, em regra, as pessoas entravam na vida religiosa desde a infância, porém, Santo Agostinho viveu uma vida “pecadora” até os 32 anos, oriundo de Hipona (Atual Annaba, Argélia), onde o mesmo escreve “Confissões”, livro onde o mesmo expurga e relata seus pecados e “A Cidade de Deus”, já que pelo fato de Santo Agostinho ter vivido tardiamente a vida religiosa, ele acaba por criar uma visão maniqueísta (bem x mal), renegando seu passado e assumindo de forma assídua sua religiosidade. 
 O mesmo pensava de forma dicotômica, onde o bem seria o que é tratado pela Igreja, e o mal o que fosse contra a Igreja. Essa divisão dicotômica já é entendido como um resgate da filosofia platônica (neoplatonismo), sendo esse resgate mais acentuado com a obra “Cidade de Deus”, onde a Cidade de Deus seria o mundo das ideias (aquele lugar para onde vão as pessoas capazes de se distanciar da vida pecadora, seguindo as leis de Deus, onde a paz seria o fim absoluto) e a Cidade dos Homens seria o mundo sensível (os habitantes dessa cidade teriam apenas a visão de formas distorcidas e imprecisas dos ideais divinos). 
 Para Santo Agostinho, o homem deveria se libertar dos pecados (Cidade dos Homens era suscetível aos pecados), agindo conforme a Lei de Deus, alcançando a Cidade de Deus. Santo Agostinho também faz uma diferenciação entre:
(i) Lei Eterna, que é a expressão da razão divina do homem. É uma Lei Eterna, pois não está suscetível ao tempo ou ao controle de nenhum indivíduo.
(ii) Lei Natural, que é aquela que nasce com indivíduo, sendo algo próprio da consciência humana, onde nascemos como detentores dessas leis naturais, sendo esse o Direito Natural na visão agostiniana. A nossa existência é uma expressão da existência de Deus. A ideia de Lei Natural é a reafirmação do livre-arbítrio, já que você é detentor da liberdade, porém, ao agir de forma pecadora, o indivíduo estará passível a punição da Igreja. 
OBS: O amor seria a força motriz da humanidade, onde da ideia de amor é possível a extração da ideia de igualdade.
ESCOLÁSTICA – Diferentemente da Patrística, a Escolástica surge num momento (Século XI) onde a Igreja passa a ter cisões (separação entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa, ‘Cisão do Oriente”), perca de fiéis, questionamento de seus dogmas, havendo então uma necessidade de rever/reformular seus dogmas (os textos católicos eram dotados de caráter metafórico e fantasioso) e modos de atuação. A Escolástica propõe um estudo da fé aliado à razão. 
OBS: Portugal e Espanha, por não viverem as revoluções liberais, continuaram sendo países monárquicos e fortemente influenciadas pela Igreja, perdurando por mais tempo a submissão do Estado com a Igreja.
-São Tomás de Aquino: Foi o principal filósofo, além de ter sido o principal pensador do Jusnaturalismo Teológico, já que seu pensamento teve capacidade de transcender o Jusnaturalismo Teológico, onde a Suma Teológica, sua principal obra, é revisitada com frequência atualmente e após a 2ª Guerra.
 Desde criança, São Tomás teve uma vida voltada à religião, diferentemente de Santo Agostinho, e após ser retirado do seminário para seguir sua vida comum, ele abdica de suas posses para seguir a vida religiosa, fazendo parte da Ordem Dominicana no seminário de Monte Casino.
 São Tomás de Aquino faz uma reinterpretação de Aristóteles, seguindo o neo-aristotelismo, adequando a filosofia aristotélica aos padrões cristãos, onde a ação humana é a forma de compreensão do pensamento e da racionalidade do homem. 
 A virtude para Aristóteles se constrói através do modo equilibrado de ação (virtuoso é quem age sem excessos), onde São Tomás acredita que a virtude se dá através do hábito, declarando que o indivíduo virtuoso é aquele que age de forma, caridosa, bondosa e seguindo os preceitos divinos com as suas ações e não apenas dentro da Igreja, entrando o componente razão. Além disso, São Tomás classifica as leis em quatro tipos diferentes
(i) Lei Eterna é a lei que rege o universo e que não está acessível aos homens, como o dia e a noite, o tempo, os fatos da natureza, sendo aquilo que Deus criou, onde não podemos controlar e desvendar esses fenômenos.
(ii) Lei Divina é a lei eterna revelada aos homens, que são as Sagradas Escrituras, sendo, no caso o Novo e o Velho Testamento.
(iii) Lei Natural é o reflexo da Lei Eterna na existência humana, onde nossa própria existência é a Lei Natural, a manifestação de Deus.
(iv) Lei Humana são as leis criadas pelos homens, estando submetidas à Lei Natural, sendo a Tese Fundamental do Jusnaturalismo, pois essa ideia de que existe um direito natural imanente, inato e universal hierarquicamente superior ao direito estabelecido pelos humanos, guiou o restante da vertente filosófica do Jusnaturalismo.
JUSNATURALISMO RACIONALISTA – É uma virada, havendo agora um predomínio da razão, onde o homem de instrumento de Deus vira um ser racional/dotado de razão, determinando sua forma de agir no mundo. Há divergências diante da origem e estabelecimento da vertente racionalista do jusnaturalismo, onde enquanto uns acreditam em seu estabelecimento no SéculoXV (obras que questionavam a Igreja) e outros no Século XVIII (“Crítica da Razão Pura” de Kant).
-Secularização do Direito: Há uma ruptura entre as doutrinas eclesiásticas e filosóficas, havendo a secularização entre Igreja e Estado, Religião e Direito, Política e Religião. O final da Santa Inquisição marca o processo da secularização, já que a Igreja perdeu um mecanismo de coação para adequar a sociedade a seus dogmas. 
-Antropocentrismo e Desenvolvimento das Ciências Humanas: As ciências humanas começam a sentir uma necessidade de aprimoração do seu campo científico, dando às ciências uma racionalidade que antes não existia, onde a solução foi tirar Deus do centro do pensamento e substituí-lo pelo homem como o foco do pensamento e estudo das ciências humanas (Virada Antropocêntrica). 
 Os movimentos racionalistas aconteceram nessa época, com Rene Descartes e Francis Bacon, representando o racionalismo aplicado nas ciências humanas. É nesse período onde surge a psiquiatria como especialidade da medicina, havendo na medicina uma linha que crê em patologias da razão, consequentemente, afirmando a razão.
-Reta Razão = Direito Natural: Para afirmar que há um direito natural universal, o jusnaturalista trás de volta o conceito de Reta Razão (capacidade de dirigir o homem a poder escolher e discernir entre o certo e errado, sendo a própria racionalidade), inicialmente conceituado por Marco Túlio Cícero, devido a redescoberta do Corpus Juris Civilis. A ideia do ser humano como ser racional é universal, onde a reta razão é utilizada para mostrar que o direito natural universal é a razão humana.
-Heranças para o Direito Moderno: A primeira contribuição foi a queda do Tribunal da Santa Inquisição, a separação definitiva entre Igreja e Estado e que, a partir do ponto do Jusnaturalismo Racionalista, há a tentativa inicial de estabelecer um objeto de estudo para a ciência do direito, mais tarde aprofundada por Hans Kelsen. O jusnaturalismo racionalista é muito mais um ponto de transição para o Positivismo Jurídico.
CONTRATUALISMO SOCIAL - Durante o Jusnaturalismo Racionalista, ocorrem as duas grandes revoluções liberais, que são a Revolução Francesa e a Independência dos EUA, fortemente inspiradas no contratualismo. A ideia fundamental do contrato social é de que para a formação do estado, deve haver rum pacto original entre os indivíduos que concordam viver em sociedade e aceitar se submeterem a certo Estado, legitimando-o, sendo, atualmente, um conceito fictício da Ciência Política. 
 Outro ponto central da teoria do contrato social é de que o mesmo é uma necessidade, pois caso não haja esse pacto não será possível a formação de uma sociedade civil, onde os indivíduos viveriam em um Estado de Natureza sem normas ou organização (homem é o lobo do homem). O Contrato Social é responsável por promover a transição de Estado de Natureza para a Sociedade Civil.
OBS: A CF/88 seria um exemplo de Contrato Social, pois é uma lei máxima que estrutura e organiza todo esse Estado.
-Os Contratualistas: Os contratualistas se subdividem em dois grupos: (i) os que creem que a natureza humana é essencialmente social, sendo a interatividade parte inerente a natureza humana, como Locke, Pufendorf e Hugo Grócio, tendo forte influência aristotélica (homem como animal social e político); e (ii) os que creem que a natureza humana é egoísta, onde os humanos seriam selvagens que não viveriam de forma tão harmoniosa, onde Hobbes e Rousseau acreditam que o homem precise do Estado para que o mesmo não guerreie com o seu semelhante (contrato social é uma necessidade, não uma consequência).
-Hugo Grócio (1583-1645): É um holandês que residiu na Espanha por conta de conflitos que aconteciam na Holanda e o levaram a fugir de seu país natal. Grócio ingressou na Espanha justamente no período das viagens ultramarinas, já que esse processo de colonização implicou em diversos conflitos entre os povos.
 Sua principal obra foi “Sobre o Direito da Guerra e da Paz”, onde Grócio trata do papel do direito nos conflitos e em Estados pacificados. Grócio é considerado por alguns como o pai do direito internacional, exatamente porque foi a primeira vez em que houve uma obra de cunho filosófico que refletia sobre o papel do direito nesse encontro e conflito de povos.
(i) Jus Inter Gentes é o que Grócio diz como o Direito Natural, independendo da norma e sendo próprio dos povos e das pessoas, se refletindo na Reta-Razão. 
(ii) Jus Gentium é o que ele chama de direito entre os povos, criados pelo homem para regular as relações entre diferentes povos, tendo como exemplo os tratados.
-Samuel Pufendorf (1632-1694): Pufendorf, alemão influenciado pelo pensamento de Grócio, não deu tanto destaque ao aspecto conflitivo/da guerra (Grócio tratou da guerra devido as guerras holandesas). Pufendorf está na gênese da Escola Racionalista Alemã, que foi a escola responsável por iniciar a questão da cientificização do Direito (conceituar e estruturar o Direito). Apesar de exercer uma filosofia jusnaturalista, houve a abertura para o caminho de sistematização do Direito.
-John Locke: Considerado uma das matrizes do pensamento liberal, sendo um autor identificado com uma das classes dominantes da época, justamente no período de emergência dos burgueses, é o autor dos burgueses. Locke crê que na natureza social do homem ( o homem é naturalmente sociável), e, através do contrato social, imporia um limite ao poder estatal, ou seja, o contrato social acaba por limitar as relações de poder entre Estado e sociedade. 
 Estes limites não podem ser desrespeitados, pois o Contrato Social é uma forma de chancelar a condição de cidadão proprietário, no sentido de que o indivíduo detém direitos individuais como a vida, liberdade e propriedade. De acordo com Locke, caso haja o abuso do poder por parte do Estado (anulação do poder), o indivíduo poderá desrespeitar as normas estatais (conceito primordial de desobediência civil).
 Locke é o primeiro autor a defender a ideia de que a propriedade se adquire com o trabalho, ou seja, a propriedade não é resultado de herança familiar (propriedade por origem), mas sim um produto do trabalho.
OBS: O Estado pode limitar o direito do indivíduo mas nunca deve anulá-lo.
-Thomas Hobbes: Hobbes foi o que rompeu de forma mais evidente coma tradição aristotélica, pois, ao sustentar que o homem não é um animal social, ele está mudando o curso de toda uma tradição oriunda desde Aristóteles, ou seja, o Estado de Natureza é um Estado de Guerra (o homem é o lobo do próprio homem). O homem é egoísta por natureza, pensamos coletivamente porque existem regras nos obrigando a pensar na coletividade. 
 O Estado Leviatã seria o resultado do contrato social, que na visão de Hobbes, faz com que possamos perceber a sua ligação com a tradição absolutista, pois o Estado seria centralizador e absoluto.
 A ideia de justiça em Hobbes aparece como a ideia de que justiça é a fidelidade ao Estado do Leviatã, ao dizer que é melhor a ditadura de um do que a ditadura de todos, pois a ditadura de todos geraria o Estado de Natureza inicial. Com isso Hobbes entendia que há sim limites ao poder do Leviatã, porém não trata de como seria feita a deposição do Leviatã por ultrapassar e abusar do seu poder, ou seja, caso o Leviatã seja arbitrário, o mesmo será deposto.
 Hobbes é considerado como o pai do positivismo devido a esse destaque que ele dá diante da imperatividade da norma estatal, possibilitando a verticalização do Estado.
-Rousseau: Diferentemente de Hobbes, Rousseau crê que o Estado de Natureza não é um Estado de Guerra, já que os humanos irão agir por paixões e impulsos (bom selvagem), que acabaria em produzir conflitos, daí a necessidade do contrato social, que é a entrega de Direitos Naturais para a sua transformação em Direitos Civis. O indivíduo entrega sua liberdade natural ao Estado, para que o mesmo garante e estabeleça sua liberdade civil. 
 A vontade geral não é literalmente a vontade de todos, mas sim a maioria, ouseja, a vontade geral é a forma de assegurar o Contrato Social.
IMMANUEL KANT (1724-1804) – É um autor do jusnaturalismo racionalista que está aparte dos outros filósofos, porque Kant é tão relevante para a filosofia, que não é possível colocá-lo no grupo dos contratualistas, sendo um arcabouço da filosofia moderna (juntamente com Hegel), fundando as bases para uma linha de pensamento filosófico totalmente nova. Kant foi muito importante para o estudo nos campos da Ética e do Direito (foi uma grande influência para Hans Kelsen).
 Em termos da biografia de Kant, o mesmo é reconhecido como um racionalista e formalista, inclusive na vida pessoal, sendo um indivíduo extremamente metódico. Kant é responsável por colocar a razão como ponto de partida da condição humana, estabelecendo o “Império da Razão”, definitivamente pondo fim a qualquer possiblidade de que o indivíduo não é dotado de racionalidade.
 A moral humana parte da ideia de que somos seres racionais e capazes de discernir o que é agir de forma certa e errada (somos éticos de acordo como guiamos e usamos nossa racionalidade). A filosofia kantiana era revolucionária pois Kant coloca no sujeito de conhecimento toda a importância do seu estudo, sendo o indivíduo o objeto da filosofia kantiana.
-Criticismo Alemão: Kant divide o seu criticismo ao: 
(i) Dogmatismo de Wolf, onde Kant acredita na não existência de dogmas e verdades inatingíveis , pois tudo é fruto da racionalidade humana;
(ii) A linha filosófica Ceticista de David Hume também é alvo de críticas por Kant, pois Hume possui descrença na filosofia ao dizer que a mesma caminha em círculos, sendo a razão para Kant escrever sua principal obra, a “Crítica da Razão Pura”.
-Império da Razão: Kant sustenta que somos dotados de racionalidade, onde a mesma pode guiar nossa vontade, ou seja, o que determina a conduta humana é a razão na sua essência/Razão a Priori, sem que seja necessário recorrer a sensibilidade ou a experiência, pois as mesmas são falhas e desnecessárias. 
 (i) Juizo a Priori é o juízo que antecede a experiência, onde a sua moral é autodeterminada pela razão. A razão que antecede o ato é capaz de definir se um indivíduo é honesto ou não, como ao encontrarmos dinheiro no chão e devolvermos ao seu dono, a honestidade é detectada ao raciocinarmos o que é o certo, sem a influência de nenhuma força externa, sendo o ato de devolução apenas uma consequência. 
(ii) Razão Pura Prática é a consequência do juízo a priori, sendo a ação “pura” do indivíduo autodeterminada pela razão (o ato de devolver o dinheiro é a razão pura prática). A ética humana se encontra em uma lei anterior e pertencente ao indivíduo, tendo como objetivo a criação de um critério igualitário, equiparando à todos com a razão, relevando os conceitos externos e sensíveis.
-Conceito de Liberdade: O conceito de liberdade de Kant estará ligado à ideia da vontade livre. Um indivíduo que está sendo coagido não pode entrar nessa análise kantiana, visto que este deixa bem claro que o sujeito deve estar totalmente livre para fazer suas escolhas, agindo de maneira autônoma e de acordo com o imperativo categórico. O ser humano faz suas escolhas devido à sua capacidade racional. A liberdade seria a autonomia da vontade. 
OBS: Para se falar em moral humana, deve-se analisar o indivíduo fora de influências externas. 
 Kant coloca no indivíduo a responsabilidade de tratar o outro com dignidade e respeito como ele quer ser tratado, tirando as referências teológicas de que o agir humano estaria ligado à coisas divinas. Ele será a principal referência filosófica no pós-guerra, porque, para ele, o homem deve ser visto como um fim, e não como um meio, que foi o que aconteceu na 2ª Guerra. O homem tem que ser a preocupação central do direito, não devendo ser usado como instrumento para algo. 
-Direito x Moral: Kant diz que a moral é sempre autônoma, ou seja, resultado da vontade e da escolha do indivíduo, não estando sujeita a causalidades externas. O direito para ele é heterônomo (diferente) porque atua de fora para dentro (Estado -> indivíduo). Essa ideologia será fundamental para o positivismo jurídico, visto que para este o direito e a moral estão em círculos distintos (TCE Separados). 
 O direito é necessário para que as liberdades coexistam, deve haver uma regra jurídica que limite essas liberdades. Os indivíduos “doam” sua liberdade pura para receber liberdade jurídica e possam conviver de forma harmoniosa. Continua sendo liberdade para Kant, porém sofrendo influências. 
 (i) Direito Natural é a própria razão humana, onde reside a obrigatoriedade à priori, que independe de fatores externos. É a própria razão que faz o direito natural humano. Já o (ii)Direito Positivo é aquele que resulta da vontade do legislador. 
 Kant, como a maioria dos filósofos de seu período, trata do papel do direito também na Ordem Internacional. Além de que deve se pensar uma lei superior aos estados, Kant também vai falar da necessidade de se criar um Estado Cosmopolita, que seria uma forma de direito internacional voltado para os indivíduos (costumes, idiomas, cultura de maneira geral), e não para os Estados. 
HEGEL (1770 – 1831) – Alemão que veio de uma família de classe média e, como Kant, dedicou toda sua vida à academia, morrendo inclusive como reitor da Academia de Berlim. Hegel rompe com uma tradição que vinha desde a antiguidade clássica, que era a separação entre o pensamento e a existência. Para ele, pensamento e existência formam um conjunto, visto que não é possível um se desvencilhar do outro. 
-Dialética Hegeliana: Foi o rompimento da tradição de que pensamento e existência deviam ser analisados separadamente. “Tudo que é real é racional, e tudo que é racional é real”. Tudo que a racionalidade é capaz de captar seria real e tudo aquilo que a mente é capaz de captar será capaz de traduzir em realidade.
 A sua dialética trabalha sempre com a questão da consciência e da experiência por existência, sendo um ciclo entre esses elementos. Tudo é conhecimento, visto que a todo momento estamos vivendo experiências, que nos levarão a novos conhecimentos, e assim sucessivamente. 
 Por exemplo, se lermos um mesmo texto diversas vezes, teremos diferentes interpretações, porque estaremos sempre criando novos conhecimentos e novas percepções sobre as coisas. Em Hegel, o indivíduo só é indivíduo pelas experiências que ele vive, o indivíduo é produto das experiências. 
 É considerado um filósofo esquerdista, pois quando ele vem com a dialética abre um espaço para a discussão do externo como determinante. 
-Espírito: Hegel quis dizer que o movimento entre consciência e experiência (dialética hegeliana) é algo que busca a essência/espírito das coisas, onde tal espírito se subdivide em:
(i) Espírito Subjetivo é a alma, razão e consciência, ou seja, tudo aquilo que pertence ao indivíduo e é único e próprio do mesmo indivíduo, tudo aquilo que é essencialmente individual;
(ii) Espírito Absoluto é aquilo que é consciente e conhecedor de si, o que domina seu próprio conhecimento, tendo como exemplos de espíritos absolutos a religião, filosofia e a arte;
(iii) Espírito Objetivo são as formas de expressão da liberdade, compartilhadas entre a sociedade e os sujeitos, sendo composto pela (a) moral (expressão da liverdade consigo mesmo), (b) costumes (expressão da liberdade no contexto social) e o (c) Direito, que é a “expressão máxima da liberdade”, pois garante e maximiza a liberdade ao impor limites a mesma para que todos possam exercê-las. O direito cria restrições para que haja a liberdade plena. 
-Liberdade Subjetiva x Objetiva: A filosofia hegeliana tenta distinguir a liberdade exercida através do direito, que é a (i) liberdade objetiva, a liberdade com restrições e a (ii) liberdade subjetiva, exercida pelo arbítrio, que é o livre exercício da liberdade sem limites. A liberdade objetiva e o Direito serviriam para evitar que houvesse um abuso de liberdade/poder de certas liberdades subjetivas.
-Convergências eDivergências entre Kant e Hegel: Como convergências, ambos criam que a nossa vida em sociedade depende de uma autoridade que exerce um poder sobre nós, criando direitos e deveres. Hegel e Kant creem que a liberdade é limitada para assegurar o seu exercício.
 Nas divergências entre ambos, Kant vê o início da liberdade no fato do indivíduo assumir o Imperativo Categórico, enquanto para Hegel, a liberdade é fruto do movimento entre consciência e experiência.
FILOSOFIA DO DIREITO HEGELIANA
-Crítica ao Jusnaturalismo e Historicismo: Hegel acredita que há uma abstratividade no jusnaturalismo que não é mais necessária na sociedade moderna. Já o Historicismo é alvo de críticas pois o mesmo não faz a leitura do fenômeno histórico de forma cumulativa, mas uma análise apenas de fatos históricos, sendo uma “história recortada”, não havendo uma dialética de acordo com a história. Hegel é visto por alguns estudiosos como um filósofo de transição, defendendo tanto elementos do Jusnaturalismo Racionalista como do movimento Positivista.
-Lei = Concreção do Direito: Hegel passa a discutir o papel da lei e o reconhecimento da capacidade humana de, através de uma autoridade maior, criar regulamentos e diplomas normativos escritos que ajudam a concretizar o Direito e organizar a sociedade. A vontade jurídica do Estado se manifesta através de leis.
-Crime como manifestação contrária a Ordem: Hegel vê o crime como uma forma de contrariedade a ordem, ou seja, todo comportamento confrontante a essa ordem assegura o controle estatal. O crime permite o controle estatal da maneira mais rigorosa e violenta possível, que é o cerceamento da liberdade com o intuito de preservar a continuidade do todo (modelo de funcionamento e interação entre Estado e sociedade).
-Personalidade Humana e suas manifestações: Hegel diz que a personalidade humana se dilata e manifesta-se de outras formas. Na sua visão, a invasão da propriedade não é, de fato, a invasão da propriedade, mas o direito de propriedade adquirido por um indivíduo. Podemos concluir que a norma jurídica não protege o patrimônio, mas sim a personalidade que se expressa através desses direitos.
-Estado: Manifestações internas e externas: Hegel define o Estado como o resultado de um processo e trajetória histórica, trazendo a questão da dialética para a própria definição do que é Estado para ele, onde o Estado se forma por um processo contínuo de experiência e consciência, sendo resultado da dialética. Não há como entender o Estado sem que haja o conhecimento de sua trajetória histórica que condiciona o momento atual. 
 O papel do Estado na ordem internacional é compatibilizar a ordem e liberdade e assegurar esse Estado em frente a comunidade internacional através do diálogo entre os Estados (pluralidade de espíritos). Caso haja um conflito entre interesses internos e externos, deve-se priorizar o bem estar interno/ de sua população.
JUSNATURALISMO MODERNO – Foi um resgate do pensamento jusnaturalista (direito como justiça) para compreender e analisar o mundo pós-guerra e questionar o que houve durante a Guerra, concluindo que houve legalidade mas não justiça.
DIREITO COMO NORMA/POSITIVISMO – É a forma mais habitual de analisar o Direito, vendo-o como um imperativo para com que o indivíduo faça ou deixe de fazer uma conduta, surgindo como uma forma de racionalizar o Direito, possibilitando que o mesmo fosse conhecido através da codificação das normas existentes, fortalecendo assim o papel do Estado na sociedade.
 Com a tripartição dos poderes e a formação do Poder Judiciário e Legislativo, haveria uma esfera do Estado capaz de produzir normas legítimas e outra capaz de aplicar a lei, ou seja, a formação do Estado Moderno resultou na mudança da filosofia do direito de uma visão jusnaturalista para uma visão positivista, criando a ideia de que Direito é algo criado pelo Estado (monismo jurídico), nascendo com o Estado, havendo a negação de qualquer direito natural. 
OBS: O binômio Estado-Sociedade é uma consequência do Positivismo.
-Positivismo como modo de abordagem:O Positivismo não pratica o juízo de valor, ou seja, a existência do Direito está atrelada a existência de uma norma jurídica. Não há direito justo/injusto, mas sim, direito válido ou inválido, levando em conta apenas a validade, vigência e eficácia.
-Positivismo como Teoria: Como teoria, o Direito positivista se revela através das concepções do direito (imperatividade da norma, atributos da norma jurídica, etc), ou seja, seriam as várias linhas de estudo do positivismo.
-Positivismo como Ideologia: Como ideologia, Bobbio abre espaço para as diferentes formas de manifestação do positivismo, havendo linhas do positivismo que trabalham com uma visão normativa que congrega com outros elementos (ideologia moderada, o que é estudado hoje) e outra linha extremada, que são regimes jurídicos positivistas que propagaram a ideia de obediência absoluta/cega a lei, não admitindo qualquer ponto de contrariedade (visão adotada pelos regimes totalitaristas).
ESCOLA DE EXEGESE – É o primeiro movimento teórico definido que é claramente positivista, surgindo com o Código Civil Napoleônico de 1804, sendo desenvolvida, majoritariamente, por pensadores franceses, após a ascensão de Napoleão como Imperador. 
 Além de ter sido impulsionada pelo Código Civil, há também um culto ao texto da lei, ou seja, não é apenas aplicar e respeitar a norma, havendo uma “adoração” (o CC/1804 era a própria representação do poder de Napoleão) ao Código Civil Napoleônico. Houve uma inversão do positivismo em relação ao jusnaturalismo, havendo importância apenas a lei escrita, tendo como característica a interpretação exclusiva à literalidade da lei, porque a mesma representa a vontade do legislador (juiz como boca da lei).
PANDECTISMO – Também chamado de Jurisprudência dos Conceitos, é uma escola alemã que surge no mesmo período da Escola de Exegese, sendo caracterizada pela preocupação de dar um tratamento teórico ao Direito, com a criação de conceitos, classificações e sistematizar a ciência do Direito, facilitando o estudo da ciência. É uma escola positivista, que não há uma figura protagonista (nomes como Savigny), tendo como destaque o papel que ela cumpre na história do direito com a busca pela racionalização do direito.
 O método sistemático é uma forma de interpretação das normas jurídicas implantado por Savigny, que prega a interpretação do ordenamento jurídico para a interpretação da norma, não devemos interpretar a norma isoladamente. É um dos métodos de interpretação implantados por Savigny, além do método histórico, teleológico e gramatical.
TEORIA PURA DO DIREITO – É uma teoria que marca o positivismo jurídico, que se constitui num compromisso de Kelsen com ele mesmo (Kelsen era um indivíduo ético e que dedicou sua vida ao estudo do direito). Kelsen, nessa obra, teve a capacidade de organizar e sistematizar tudo que havia sido produzido, tendo como principal objetivo provar que o direito era uma ciência cujo objeto é a norma jurídica. Kelsen, ao falar sobre a Norma Fundamental Hipotética , diz que é uma norma que está acima do restante, que reza dizendo que devemos respeitar as normas. 
 Outro traço de Kelsen é o fato de que ele estudou profundamente o período do Jusnaturalismo Teológico e a Teologia para que pudesse fundamentar suas críticas e desconstruir o jusnaturalismo, crendo que o Direito é uma criação do homem (monismo jurídico, oriundo apenas do Estado), ligado por laços verticais de validade.
 Ele também conceitua o direito como dever-ser, alegando que o direito é responsável por prescrever e dizer ao indivíduo como agir e se portar em sociedade. 
 Kelsen era um judeu oriundo da Áustria, criando o texto da Constituição Austríaca de 1920 (mais tarde extinta pelo nazista), estabelecendo o Controle de Constitucionalidade Concentrado Principal (somente algumas autoridades de natureza política devem ser os autores das ações de controle específica, que serão julgadas pelo tribunal de controleconstitucional, valendo para todos/“erga omnes”). Após morar nos EUA e ter contato com a escola do realismo americano, ele acaba desenvolvendo também os conceitos de eficácia, presentes na segunda edição da Teoria Pura do Direito.
DIREITO COMO CULTURA/CULTURALISMO JURÍDICO – Surge a partir dos anos 40 e pensa no Direito como um produto da cultura de uma sociedade, sendo um reflexo de certos valores, culturas, ideais e crenças de determinada sociedade, ou seja, o Direito, para o Culturalismo, é um objeto cultural. Foi uma linha que foi idealizada durante um momento onde o Pensamento Kelseniano era quase inquestionável, onde o culturalismo não negava o Direito como norma mas cria que o direito tinha como fonte a sociedade e não o Estado/Código, causando uma aproximação do Direito. 
 O Culturalismo acredita que existem (i) coisas dadas (existem independente da participação humana) e (ii) coisas construídas, que são fruto da atividade humana, sendo o Direito um produto da inteligência humana, fazendo parte da cultura, que é fruto da atividade humana, negando o jusnaturalismo ao afirmar que o Direito é criado pelo homem.
 O Culturalismo Jurídico teve forte influência na América Latina, tendo como principais nomes Carlos Cossio, Miguel Reale e Machado Neto.
CULTURALISMO OBJETIVISTA – São as correntes culturalistas e teóricos que definem o direito como vida humana objetivada, porque são autores que vão dizer que a norma objetiva a vida humana, não temos como regrar cada situação, mas podemos trazer a vida humana à uma norma. 
TEORIA EGOLÓGICA – É uma teoria que define o direito como uma conduta humana, sendo a conduta humana algo de indivíduo para indivíduo, sendo parte do Culturalismo Subjetivista. Idealizada por Carlos Cóssio, além de trazer uma nova linha filosófica, foi responsável por responder algumas das respostas para certos pontos vacantes da Teoria Pura do Direito. Tem como inspiração:
-Teoria Dos Objetos De Husserl: É a busca pelo direito como objeto cultural, que faz uma classificação entre os objetos, alegando que os objetos culturais tem existência no mundo e são valorados.
-Existencialismo de Heidegger: A crença de que o direito é a continuidade do nosso modo de existência, buscando no existencialismo a ideia de que o direito é um modo de compreensão da vida.
 Cóssio diz que Direito = conduta humana, que é substrato + sentido, ou seja, é a conduta + valor atribuída à essa conduta (no momento em que o direito atribui um valor a tal conduta, haverá o estímulo ou desestímulo de determinada conduta). O direito só se preocupa com as condutas humanas que interferem na realidade do outro sujeito, ou seja, o direito sempre é vida humana, porém nem toda vida humana é direito.
-Diferenças entre Cóssio e Hans Kelsen: Cóssio diz que ninguém tirará de Kelsen a capacidade de definir o direito como dever ser, onde a forma de pensar sobre o direito funciona a partir do momento em que há o descumprimento de uma norma, que é quando há a aplicação da sanção. Porém, Cóssio alega que a norma também alcança o indivíduo que cumpre a norma, quando, por exemplo, um indivíduo paga seus impostos em dia, seguindo a norma, que se aplica, pois o direito trabalha com a liberdade, devendo contemplar os que cumprem e descumprem a norma. O Direito sempre abrirá uma margem de liberdade ao indivíduo.
-Lógica Jurídica Formal: Dado fato temporal deve ser a prestação pelo sujeito obrigado frente ao titular do direito; ou dada a não prestação, deve ser a sanção a cargo do funcionário obrigado frente a comunidade pretensora. Ou seja caso A empreste dinheiro a B, B deverá tem a obrigação de ressarcir A no prazo estabelecido (Prestação = endonorma) e, caso não cumpra o acordo, haverá a aplicação de uma sanção (sanção = perinorma). Isto é uma contemplação da liberdade, pois o sujeito tem a liberdade de pagar ou não pagar, havendo em ambas as possibilidades a manifestação do direito na relação jurídica.
-Interpretação Jurídica: A principal diferença da interpretação jurídica de Cóssio é o modo em que o mesmo trablha o papel do julgador, já que enquanto a concepção positivista vê o intérprete como um indivíduo sem função/posição criativa, cabendo ao indivíduo apenas aplicar a literalidade da norma (Exegese) ou a interpretação exclusiva da norma (Kelsen), Cóssio analisa a função do julgador na interpretação e o que ele vivencie enquanto intérprete do direito, se utilizando da vivencia de contradição e
(i) Vivência de Contradição é o momento em que o julgador se encontra com o caso concreto e com a aplicação da norma, gera um momento de contradição, ou seja, é próprio da condição que o julgador viverá uma contradição entre uma hipótese ou outra, se a situação fática se encaixa ou não, se houve homicídio ou legítima defesa. 
 É a consideração de questões subjetivas (convicções pessoais x a norma), concluindo então que há uma margem de subjetividade na decisão judicial, negando a ideia de juiz como “boca da lei”, completamente imparcial.
 Cóssio quer possibilitar através da vivÊncia da contradição o afastamento da parcialidade nas decisões judiciais, para que haja uma melhor resolução no caso concreto. A interpretação necessariamente transcende o espaço normativo.
(ii) Força de Convicção é, quando passada a vivência de contradição, é a possibilidade do julgador de colocar força de convicção, ou seja, a força da decisão de convencer, quanto mais o julgador se permitir superar suas decisões, maior será sua força de convicção, possuindo maior legitimidade, pois o julgador estará certo de que aquele é o caminho.
-Axiologia Jurídica: A existência de valores é algo reconhecido e tratado pela ciência jurídica, discutindo constantemente a questão dos valores jurídicos. Cóssio mostra que a cada valor de usufruto individual há um valor de usufruto coletivo, ou seja, um indivíduo não tem como viver valores sem que haja um correspondente coletivo. 
 Para que o indivíduo seja livre, o mesmo deverá se submeter a um valor coletivo de ordem e segurança e a justiça seria uma espécie de sombra para todos os valores, estando em qualquer valor jurídico, ou seja, a realização de valores como a paz, solidariedade, ordem, segurança implicam na realização da justiça.
TEORIA TRIDIMENSIONAL DE MIGUEL REALE – Foi uma teoria idealizada (não foi criada) por Miguel Reale, marcando uma geração de pensadores brasileiros. O tridimensionalismo entende o direito como um fenômeno tridimensional, se dividindo em norma, valor e fato. 
 Reale, além disso, define que esses elementos estão numa posição não de igualdade, mas de dinâmica equivalente, ou seja, perspectiva realiana, não há o entendimento de que a norma é mais importante do que o fato e do valor (diferentemente de Hans Kelsen). Cada um dos elementos implica nos demais e, busca na física, o conceito de polaridade, sendo a dialética da complementaridade e implicação na polaridade, que é a dinâmica permanente entre esses elementos, ou seja, a norma permanece como norma porque entra e recebe contato do fato e do valor.
-Os 3 Campos da Teoria Tridimensional: Reale define, assim como Kelsen, que o (i) objeto da ciência do direito é a norma, se apegando ao conceito da validade e vigência, além de complementar que o fenômeno jurídico não se restringe à ciência jurídica. 
 Já a (ii) sociologia jurídica tem como objeto principal de estudo os fatos, o modo como o direito vem e chega da sociedade, adicionando a eficácia (avaliação se houve ou não produção de efeitos da norma na sociedade). 
 O terceiro campo seria a (iii) filosofia do direito, que tinha o valor como objeto principal, procurando entender o ideal do justo. Fundamento da Norma é o que nós chamamos de legitimidade, que é a forma de como a sociedade recepciona a norma jurídica. 
OBS: Ciência do Direito – Norma – Validade e Vigência
Sociologia Jurídica – Fato – Eficácia
Filosofia do Direito – Valor – Fundamento 
 Reale ainda irá explicar que o direito é experiência, desagregando o direito da leitura meramente positivistaque colocava o direito como um ordenamento piramidal.
TEORIA DA JUSTIÇA DE RAWLS - Em regra, Rawls é considerado um positivista, porém, a principal questão de Rawls é o debate sobre a justiça, sendo um dos autores que resgata a discussão da justiça (desapareceu a partir de Kant e Hegel) fixadas em bases positivistas. Entre outras coisas, o modo como Rawls traz a discussão (Rawls é um liberal, que não costumam discutir o que é justo) é diferenciado para o padrão dos liberais políticos. 
 Em relação a Rawls, ele escreve a Teoria da Justiça em 1971 e acaba falecendo em 2002, tendo tempo suficiente para maturar o que respondeu e defender críticas que chegou a receber. Além de ser um liberal que fala sobre o justo, Rawls foi um autor lido pela filosofia do direito e também pela ciência política.
 Rawls busca na teoria do contrato social a base para elaborar a Teoria da Justiça, reinterpretando-a à luz de novos elementos, inexistentes na época dos contratualistas. Ao invés de trabalhar o contrato social como um momento em que a sociedade agrega-se em torno de um pacto social, Rawls trata o Contrato Social como um processo, sendo uma sequência de atos que constituirão o Contrato Social. 
 Um liberal político e Neokantiano, Rawls têm suas raízes no liberalismo político, fazendo uma revisitação ao utilitarismo jurídico ( Stuart Mill e a maximização da felicidade com a maior garantia das liberdades) , e o resgate da supremacia do justo, com Rawls voltando a discutir sobre como tornar a Justiça uma prioridade do Estado, devido ao fato de que as pessoas deixaram de discutir o que era justo.
-Posição Original e o Véu da Ignorância: Rawls pede para que o indivíduo se coloque em uma posição na qual o mesmo não conhece nada sobre si e sobre os outros ao seu redor, coberto pelo véu da ignorância, e pede para que o indivíduo escolha os valores/princípios ideais para que se crie uma sociedade justa, sem interesses alheios e “egoístas”, num absoluto estado de ignorância. Rawls crê que é fundamental que haja (i) consciência de que você está participando disso, (ii) equidade (deve haver condições iguais para todos) e (iii) liberdade, pois ninguém deve estar sob coação. 
-Escolha dos Dois Princípios de Justiça: A próxima etapa seria a escolha de dois princípios de justiça para a realização o Estado Justo, que seriam o Princípio da Igualdade e Princípio da Diferença. 
(i) Princípio da Igualdade seria a garantia de liberdades básicas, pois, para ele, o primeiro ponto fundamental de um Estado Justo seria que o mesmo garantisse ao seu cidadão as liberdades necessárias. Nesse ponto está uma das razões de Rawls ser considerado um utilitarista. Tais liberdades seriam a liberdade de expressão, locomoção, consciência, informação, etc.
(ii) Princípio da Diferença é o que chamamos de igualdade material, porque é a concretização da ideia de igualdade, ou seja, não basta ofertar liberdades iguais à todos, tendo que equiparar as diferenças através das políticas de Estado, tendo como expectativa do Estado oferecer políticas públicas que forneçam igualdade de oportunidades e maior assistência aos menos favorecidos.
-Formação Procedimental do Contrato Social: A Teoria do Contrato Social de Rawls é neocontratualista, pois não podemos mais crer, no Século XX, que a formação do Estado não se dê sem a formulação de uma Constituição Federal. Para ele, antes da Constituição, há a escolha dos princípios para a formação de um Estado Justo. 
 Há também uma 3ª etapa que viria a definir os direitos e leis, sendo a Constituição um espaço principiológico, sem espaço para direitos e deveres. Ou seja, para Rawls, o processo é uma série de etapas que tem como objetivo descobrir a sociedade do véu da ignorância.
OBS: A sua obra foi feita num período de conquista dos Direitos Civis para os negros, com o fim da segregação racial americana, fazendo com que a Teoria da Justiça caísse perfeitamente na situação da época, já que, apesar da igualdade formal e garantia de liberdades, não haviam as mesmas oportunidades para negros e brancos, servindo como motivação para as políticas de ações afirmativas. Perto dos anos 70, um grande número de brasileiros foram estudar nos EUA e retornaram ao Brasil com o intuito de introduzir tal política pública no nosso país.
-Justiça como Equidade x Bem como Racionalidade e sua congruência: A autonomia do indivíduo pode ser associada a uma objetividade ao sentido de justiça, ou seja, a autonomia assegurada ao indivíduo não dá à ele liberdade total, devendo respeitar as normas e limites estabelecidos pelo Estado, sendo possível aliar equidade com racionalidade.
 A sociedade bem organizada permite que as pessoas tenham autonomia e objetividade em seus juízos a respeito da justiça, sendo que a justiça combina com ideal de união social, priorizando a liberdade. As justificações justas por parte do Estado possibilitam a unidade do eu e permitem que os seres humanos expressem a sua natureza de pessoas morais e livres.
-Estudo das Instituições: Rawls crê que quem efetivamente realiza os Estados são as instituições (os órgãos, as regras e leis, a secretaria, Câmara, etc), responsáveis por assegurar a continuidade do Estado Justo. Além dessa função fundamental para uma ordem democrática justa, as instituições serão responsáveis por fazer com que a sociedade continue a participar do processo de manutenção e colaboração com o Estado Justo. 
 Através dessa linha de pensamento, Rawls estabelece o senso de operância, que consiste na ideia de que todos devem cooperar para o andamento das instituições e, consequentemente do Estado.

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