Buscar

METODOLOGIA DO TRABALHO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 241 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 241 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 241 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Metodologias de Trabalho 
Integrado e Protagonismo Popular
2/241
Metodologias de Trabalho Integrado e Protagonismo Popular
Autora: Therese Abdel Messih Araujo
Como citar este documento: ARAUJO, Therese. Metodologias de Trabalho Integrado e Protagonismo 
Popular. Valinhos: 2015.
Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Gestão Social e a execução de Políticas Sociais 05
Assista a suas aulas 31
Unidade 2: Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional 39
Assista a suas aulas 61
Unidade 3: Fundamentos da prática profissional 69
Assista a suas aulas 96
Unidade 4: A atuação profissional interdisciplinar 104
Assista a suas aulas 121
Unidade 5: Metodologia de trabalho integrado 129
Assista a suas aulas 144
2/241
3/241
Unidade 6: Trabalho em rede: conceito, organização, classificação e requisitos 152
Assista a suas aulas 172
Unidade 7: Protagonismo popular 180
Assista a suas aulas 199
Unidade 8: Perspectiva da Territorialização 207
Assista a suas aulas 233
Sumário
3/241
4/241
Apresentação da Disciplina
A gestão social tem nos apresentado vários desafios, entre eles o desenvolvimento e a 
instrumentalização de metodologias de trabalho na perspectiva da integralidade e da 
intersetorialidade. 
O conceito de gestão nos remete imediatamente à ideia de gerência, de administração, 
de equacionamento de problemas através de procedimentos que garantam o alcance dos 
objetivos e de metas propostas. No entanto, pensar na gestão social obriga-nos a introduzir 
outra perspectiva para além de modelos matemáticos e processos “controláveis”, uma vez que 
se refere à gestão de demandas e necessidades dos cidadãos, portanto de humanas.
Partiremos do conceito de gestão social enquanto gestão de ações públicas que, no âmbito 
das políticas sociais, são desenvolvidas como resposta às necessidades sociais de uma 
sociedade. Não é possível abordar metodologias de trabalho no âmbito da gestão social, sem 
contextualizar o cenário político e econômico em que as políticas públicas são debatidas, 
definidas e desenvolvidas.
Nesse sentido, a presente disciplina se propõe a trabalhar conceitos fundamentais da gestão 
social, como esfera pública, governança, democracia, práxis profissional e participação popular, 
entre outros, na perspectiva da intersetorialidade e territorialidade enquanto eixos norteadores 
das ações sociais.
5/241
Unidade 1
Gestão Social e a execução de Políticas Sociais
Objetivos
1. Compreender o cenário político-econômico em que 
emergem as políticas sociais
2. Apreender o conteúdo de políticas de proteção social
3. Analisar o conceito de gestão social à luz do processo 
histórico
4. Contextualizar a gestão social no Brasil
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais6/241
Introdução
Toda política social tem o seu surgimento na relação e na conjugação de interesses entre 
Estado, mercado e sociedade civil. Nos países centrais do capitalismo, as políticas sociais têm 
sua emergência no cenário pós 2ª Guerra Mundial, no qual o Estado interveio diretamente 
na recuperação da economia dos países afetados pela guerra e na provisão das necessidades 
sociais através da garantia de direitos sociais para todos os cidadãos. 
No entanto, a crise do capitalismo na década de 1970 e o avanço do ideário neoliberal de 
redução do papel do Estado fizeram com que esse modelo conhecido como Estado de Bem 
Estar Social perdesse força e ganhasse novos contornos. 
Sob a ideia de que a intervenção do Estado deve ser limitada e que a sociedade civil pode e deve 
dar respostas às necessidades sociais é que emerge o conceito de gestão social, atribuindo a 
ele um papel relevante no contexto de reforma do Estado, que desloca a gestão das demandas 
sociais da esfera pública para a esfera privada. 
No Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, o Estado é responsável pela organização e 
gestão das políticas sociais, introduzindo a participação de novos sujeitos (sociedade civil) na 
formulação e controle social da execução das ações. No bojo da redemocratização do país, após 
20 anos de ditadura militar, a nova Carta Magna traz explícita uma dimensão ético-política, 
na qual se destacam ações sociais voltadas a todos os cidadãos na qualidade de direitos 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais7/241
sociais, e uma dimensão instrumental 
através do novo arranjo político-
administrativo estabelecido no país, com 
o reconhecimento dos entes federativos 
(municípios) e a participação popular.
A descentralização político-administrativa 
desencadeou processos de reorganização 
tanto na elaboração e oferta de serviços 
públicos, em especial das políticas sociais 
como saúde, educação, habitação e 
assistência social, bem como na relação 
entre os entes federativos no que diz 
respeito à definição de diretrizes e provisão 
de financiamento.
A municipalização das políticas sociais 
trouxe a necessidade de incorporar novos 
fundamentos para o poder público local, 
exigindo uma qualificação cada vez 
maior dos gestores e da administração 
pública. Não se trata mais de administrar 
recursos públicos federais e estaduais 
de acordo com programas estabelecidos 
nessas outras esferas, mas de identificar, 
diagnosticar e elaborar a oferta de serviços, 
programas e projetos de acordo com sua 
realidade local. Inaugura-se a perspectiva 
territorial e intersetorial na execução de 
políticas sociais.
Ocorre que, o avanço do ideário neoliberal 
se configura como cenário político no 
início da década de 1990 e desencadeia 
uma maior institucionalização da 
sociedade civil organizada, que é chamada 
a participar na qualidade de executora 
das políticas sociais, deslocando então a 
responsabilidade da esfera estatal para 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais8/241
esfera privada. É nesse contexto que no 
Brasil é introduzida a ideia da gestão social, 
também denominada de governança 
social. 
1. Políticas sociais e gestão 
social
Desde os anos 1990, o desenvolvimento 
das políticas sociais brasileiras tem sido 
tensionado pela contradição que coloca 
de um lado os avanços do processo de 
democratização do Estado e da sociedade 
com a institucionalização dos direitos 
sociais; e, de outro, o rebatimento das 
transformações societárias decorrentes 
da globalização da economia, que 
fragiliza a objetivação das políticas sociais 
em direção à mudança do cenário de 
desigualdades e iniquidades sociais.
A insegurança social é uma experiência 
que atravessou a história (CASTEL, 
2005), constituindo par com a ideia de 
proteção social, cuja equação configurou 
mecanismos e estratégias para prover 
necessidades vitais aos indivíduos frente 
às situações nas quais não pudessem 
provê-las por si mesmos, dando origem 
a um conjunto de políticas sociais ao que 
denominamos sistema de proteção social. 
Embora a Seguridade Social brasileira, 
de acordo com a Constituição Federal de 
1988, seja composta pelas políticas de 
Saúde, Previdência Social e Assistência 
Social, para essa disciplina, tomaremos 
por base o que se denomina de sistema 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais9/241
de proteção social e abrange as políticas de saúde, educação, assistência social e previdência 
social, podendo a ele agregarem-se outras políticas sociais que objetivem a provisão de 
necessidades sociais.
Link
DI GIOVANNI, G. Sistema de proteção social. 2008. Disponível em: <http://geradigiovanni.
blogspot.com.br/2008/08/sistema-de-proteo-social.html>. Acesso em: 10 set. 2015
1.1. Políticas sociais e o contexto histórico
Na sociedade moderna, a origem e organização dos sistemas de proteção social estiveram 
ancoradas à cobertura de riscos relativos à perda temporária ou permanente da capacidadedo indivíduo para o trabalho. Sob a matriz deste, num cenário de crescimento econômico e 
pleno emprego na Europa pós 2ª Guerra até os anos 1970, a aquisição de proteções era feita 
a partir da inscrição dos indivíduos enquanto trabalhadores em instâncias de organização 
coletiva, protagonizando importantes lutas pela garantia de direitos sociais. Com substantiva 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais10/241
regulação estatal no âmbito econômico e político - seja de acesso à renda através do trabalho, 
seja de acesso a serviços sociais a todos os cidadãos através das políticas sociais - os sistemas 
de proteção social na Europa, decorrentes dos Estados de Bem Estar Social (EBES), estavam 
sustentados na premissa do equilíbrio econômico em direção ao restabelecimento da 
acumulação capitalista.
Embora se constate a existência de vários regimes, conforme a orientação político-ideológica 
de cada país e a correlação de forças em torno do processo de acumulação, todos apontam 
para a proteção social como uma política social voltada para a reprodução social da totalidade 
da classe trabalhadora.
Os anos 1970 são marcados, contudo, pela ocorrência de mudanças nas condições sociais, 
políticas e econômicas em que a proposta de Estado de Bem Estar Social foi gestada e 
desenvolvida. O capitalismo enfrenta nova desestabilização com a ocorrência das crises 
do petróleo, de aumento da inflação e diminuição das taxas de consumo e de acumulação, 
possibilitando o avanço do neoliberalismo e a defesa da desregulamentação da economia em 
favor da autorregulação do mercado. Vincula-se a isso a crítica neoliberal que atribui como 
determinante da crise o próprio Estado de Bem Estar Social, considerado excessivamente 
generoso em benefícios e direitos e, portanto, na estrutura institucional necessária para 
processá-los. 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais11/241
Segundo Silva:
[...] na Europa e nos Estados Unidos, o Estado de Bem Estar Social foi 
a forma mais expressiva pela qual a sociedade capitalista buscou a 
regulação de conflitos sociais em torno do acesso à riqueza [...], ou seja, 
foi solução para a crise capitalista. Depois o mesmo Estado de Bem Estar 
Social passou a ser apontado como causa da crise. (SILVA, 2004: 82)
As mudanças no cenário macroeconômico – que provocaram transformações no mundo do 
trabalho e na garantia de renda - e a transnacionalização da economia comprometeram a 
manutenção de um estado nacional fundante para o projeto de Estado de Bem Estar Social. 
(COUTO, 2008:67-68). Nos países centrais do capitalismo, que apresentavam um sistema 
de proteção social forte, a introdução do ajuste neoliberal enfrentou resistência para sua 
implantação. Já nos países periféricos, nos quais a proteção social não estava consolidada nem 
universalizada, observou-se um enfraquecimento dos direitos sociais e um deslocamento do 
atendimento das demandas sociais para a iniciativa privada, delineada pela caridade e pelo 
mérito. 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais12/241
Como analisa Castel (2005:69), as 
transformações no mundo do trabalho 
no final do século XX decorrentes da 
globalização da economia, da flexibilização 
das relações de trabalho e do aumento do 
desemprego conduzem a uma mudança 
do paradigma da proteção social, como 
conjunto de dispositivos vinculados à 
matriz do trabalho, de proteção das 
relações de trabalho e das trajetórias 
profissionais, para um conjunto de 
dispositivos sob a matriz da cidadania, que 
afiance seguranças relativas ao acesso a 
bens materiais, mas também de acesso a 
um patamar básico de condições de vida. 
Torna-se necessário encontrar outros 
mecanismos de atenção e oferta de 
proteção que não só pela via do trabalho, 
exigindo um deslocamento da discussão 
e aprofundamento da reflexão quanto à 
causalidade da desproteção social, sua 
multidimensionalidade e a configuração do 
conjunto de direitos de cidadania.
 
Para saber mais
SILVA, Ademir Alves da. A gestão da 
Seguridade Social brasileira. São Paulo: 
Cortez, 2004.
No Brasil, o sistema de proteção social 
também teve seu desenvolvimento 
vinculado à matriz do trabalho, embora 
em um contexto sócio-político-econômico 
diverso daquele vivido nos países 
capitalistas centrais. O colonialismo, 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais13/241
característica da evolução sócio-histórica brasileira, cunhou a relação de subordinação e de 
dependência ao capital estrangeiro, circunscrevendo o Brasil à periferia do capitalismo, cujos 
rebatimentos são percebidos na formação social brasileira, na estruturação do Estado e na 
evolução das políticas sociais.
A configuração do sistema de proteção social brasileiro e dos direitos sociais foi marcada por 
um conceito de cidadania diverso daquele que constituiu o Estado de Bem Estar Social europeu, 
em que a defesa por melhores condições de vida para toda a sociedade esteve na pauta dos 
movimentos revolucionários do final do século XIX até os movimentos sindicais, tendo sido 
relativamente incorporada na constituição dos EBES. No Brasil, essa luta foi mediada pela 
inscrição dos trabalhadores no processo de industrialização do país a partir da década de 
30, que de saída fragmentou a sociedade em “cidadãos” porque trabalhadores, e “os outros” 
porque pobres. 
Conforme esclarece Raichelis:
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais14/241
[...] ao contrário do que aconteceu historicamente com o capitalismo 
nos países centrais, o Estado nos países periféricos, e o brasileiro em 
particular, não criou condições para a reprodução da totalidade da força 
de trabalho, nem estendeu direitos de cidadania ao conjunto da classe 
trabalhadora, excluindo imensas parcelas da população do acesso às 
condições mínimas de sobrevivência. (RAICHELIS, 2005:69)
O reconhecimento da condição de cidadão ocorreu somente àqueles cujas profissões 
estivessem regulamentadas por lei e, portanto, participassem do processo de acumulação, 
configurando a cultura de cidadania impressa no país. O acesso aos direitos sociais 
vinculava-se desde a sua origem à posição que o trabalhador ocupava no processo de 
produção, devidamente regulada por lei, tendo sido ampliado também através dessa matriz 
– reconhecimento legal e manutenção do processo de acumulação – reiterando a ideia de 
cidadania vinculada ao trabalho.
Santos (1979, p.74) analisa que o conceito de cidadania no Brasil tem sua origem “não em um 
código de valores políticos, mas em um sistema de estratificação ocupacional”, o que denomina 
cidadania regulada.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais15/241
Como aponta Santos, essa associação 
“proporcionará as condições institucionais 
para que se inflem, posteriormente, os 
conceitos de marginalidade e de mercado 
informal de trabalho” (1979, p. 74), 
abrangendo trabalhadores que, embora 
desenvolvessem atividades em condições 
estáveis, não obtiveram sua ocupação 
regulamentada por lei, desempregados, 
subempregados, além dos trabalhadores 
rurais. 
Fleury (1995:44), ao elaborar o conceito de 
cidadania invertida, ilumina a análise sobre 
essa parcela de trabalhadores não cidadãos, 
que ao serem excluídos dos mecanismos 
oficiais de garantia de direitos sociais, 
passam a compor o universo de políticas 
assistenciais instáveis, com base na 
caridade e no voluntariado, mesmo quando 
desenvolvidas por instituições estatais.
 
Para saber mais
a cidadania invertida refere-se ao que Sposati 
(1995) denomina “invisíveis” ao capital, ou 
seja, trabalhadores do mercado informal, 
crianças, idosos e pessoas com deficiência.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais16/241
2. Proteção social – direito ou mérito?Importante fixar que a perspectiva de cidadania e de direitos sociais no Brasil, ao dar 
centralidade à manutenção das condições de acumulação do capital, restringiu o usufruto 
de direitos para o conjunto da classe trabalhadora, repercutindo na direção assumida pelas 
políticas sociais. O caráter da intervenção do Estado na objetivação da proteção social 
subordinou-se, assim, mais aos interesses do capital do que aos interesses do trabalho, o 
que não impediu, contudo, que segmentos organizados da classe trabalhadora obtivessem 
importantes conquistas em suas lutas.
Por outro lado, o “modelo fordista-keynesiano” possibilitou que o Estado, nos países 
Link
FLEURY, S. Políticas sociais. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M. C.; VIEIRA, L. M. F. Dicionário: trabalho, 
profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. CDROM. 
Disponível em: <http://www.gestrado.net.br/pdf/390.pdf>. Acesso em: 10 set. 2015.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais17/241
centrais do capitalismo - embora com o objetivo precípuo de manutenção das condições de 
acumulação do capital - se tornasse o regulador das relações econômicas e sociais, viabilizando 
a configuração de uma esfera pública de negociação e de disputa das forças sociais, de 
mediação de conflitos, fortalecendo a democracia. 
No Brasil, dadas as características sócio-históricas de conformação do Estado em defesa de 
interesses privados, aliadas à sucessão de governos autoritários e repressores, pouco contribuiu 
para a consolidação de instituições democráticas e a configuração da cidadania e dos direitos 
sociais como um bem público. 
No caso brasileiro, a própria conformação das classes sociais e todos 
os conflitos básicos foram permanentemente mediados pelo Estado 
capturado pelos interesses da burguesia, que a esta se associa para a 
reprodução das condições de acumulação e apropriação privada do 
capital. Do ponto de vista ideológico-cultural, o Estado foi figura de proa 
na organização da hegemonia das classes burguesas, o que contribuiu 
para a manutenção do consentimento das classes dominadas a respeito 
de sua própria dominação. (RAICHELIS, 2005:71)
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais18/241
Embora adotando a mesma matriz para implementação dos direitos sociais, o Brasil, mesmo no 
período de expansão da economia nos anos 1970, o chamado “milagre econômico”, sustentou 
o seu desenvolvimento na produção e acumulação de capital em detrimento das condições de 
trabalho e de vida dos trabalhadores. A política econômica caracterizava-se pela geração de 
alta concentração de renda, pelo aprofundamento da exploração do trabalho, num cenário de 
forte repressão política e restrição de direitos sociais e políticos. 
No que se refere às políticas sociais, observa-se, de um lado, a ampliação de programas 
assistenciais, definidos de forma centralizadora e autoritária; e, de outro, a transformação 
das políticas sociais - como saúde, educação, habitação - em campo de investimento e 
lucratividade do capital privado. A ampliação das políticas sociais observada nesse período 
ocorre, assim, em um contexto de modernização conservadora, assentada, segundo Raichelis: 
[...] sobre a lógica permanente de privatização dos ganhos e socialização 
das perdas, favorecendo a simbiose entre interesses estatais e privados 
em detrimento dos interesses públicos. Agora, a questão social passa a 
ser tratada por meio da articulação assistência/repressão. (RAICHELIS, 
2005: 92)
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais19/241
Não é difícil compreender como o Brasil 
atingiu índices tão preocupantes de 
desigualdade social, quando se constata 
que historicamente a intervenção do 
Estado priorizou a defesa de interesses 
privados, incorporando de modo 
subordinado interesses das classes 
trabalhadoras. 
Oportuno ressaltar que, enquanto na 
Europa o Estado de Bem Estar Social, 
em suas diversas formas de realização, 
desenvolveu-se a partir de um pacto 
político, quando os movimentos sindicais 
protagonizaram a luta por direitos sociais, 
no Brasil foram os movimentos sociais que 
impulsionaram a construção de um modelo 
de regulação social que buscou vincular 
democracia e cidadania, configurando 
o processo de redemocratização do país 
nos anos 80, objetivado na Constituição 
Federal de 1988.
De inspiração no modelo social-democrata 
de proteção social, delineava-se a 
construção de direitos sociais garantidos 
pelo Estado com base nos princípios de 
universalidade e igualdade, possibilitando 
a consolidação da democracia, da 
participação da sociedade e por 
consequência a efetivação da cidadania. 1 
Se, por um lado, ocorria um novo 
ordenamento sociopolítico em direção 
à consolidação da democracia e de 
um Estado Social – que garante as 
condições de reprodução social através 
1 Cabe esclarecer que no Brasil o sistema de proteção social, 
também denominado Seguridade Social, abrange as políticas de saúde, 
previdência social e assistência social.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais20/241
de um conjunto de ações estatais de proteção social na condição de direito social (BEHRING; 
BOSCHETTI, 2006) - por outro, com o rebatimento das mudanças no cenário político-
econômico internacional, ocorria um contramovimento que dificultava a efetivação do 
ordenamento recém-instituído pela Constituição Federal brasileira. 
Importante lembrar a elaboração em 1989, do “receituário” dos organismos internacionais 
(Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e Fundo Monetário Internacional) 
para a crise das economias periféricas, conhecido como Consenso de Washington. Adotado 
no Brasil, as orientações prescritas a partir da doutrina neoliberal, previam estabilização 
da economia, reforma do Estado para redução dos gastos sociais e privatização de serviços 
estatais, aumento da competitividade da economia através da abertura comercial, inclusive 
com reforma tributária, introduzindo o Brasil em novo ciclo do processo de globalização e 
desregulamentação das políticas sociais.
No caso brasileiro, o quadro do final do século XX, das transformações societárias, das relações 
de trabalho e de globalização da economia é agravado pelo aprofundamento da desigualdade 
social e pelo crescimento da pobreza – produzidos e herdados do “modelo” de desenvolvimento 
adotado no país - sem que a recém-inaugurada Seguridade Social estivesse institucionalmente 
consolidada. 
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais21/241
3. Políticas sociais e gestão social
É nesse contexto que emerge o conceito de gestão social como a gestão das ações sociais 
púbicas, o que supõe o reconhecimento de demandas sociais presentes na sociedade, 
atendidas através das políticas sociais, programas e projetos. 
Carvalho afirma que: 
 
Para saber mais
 BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social - fundamentos e história. 
São Paulo: Cortez, 2006.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais22/241
Quando falamos em gestão social, estamos nos referindo à gestão das 
ações sociais públicas. A gestão social é, em realidade, a gestão das 
demandas e necessidades dos cidadãos. A política social, os programas 
sociais, os projetos são canais e respostas a estas necessidades e 
demandas. (CARVALHO, 1999:19)
O conceito de gestão social porta um fundamento ético e político que, sob valores 
democráticos como equidade, universalidade e justiça social, é objetivado nas ações públicas 
voltadas aos cidadãos, em direção à ampliação do acesso à riqueza social na qualidade de 
direito social.
O processo da gestão social só se efetiva com a participação do Estado, mercado e sociedade 
civil e é permeado pelo confronto de interesses contraditóriosem torno do acesso à riqueza 
socialmente produzida. 
Como Nogueira2 destaca:
2 NOGUEIRA, Marco Aurélio. Um Estado para a sociedade civil: temas éticos e políticos da gestão democrática. São Paulo: Cortez, 2004.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais23/241
Por se dispor a dirigir, coordenar e impulsionar a formação ampliada de 
decisões, a gestão democrática opera em um terreno que não se esgota 
no administrativo, no manuseio de sistemas e recursos, mas se abre para 
o universo organizacional como um todo. Ela é essencialmente dialógica, 
e transcorre em ambiente ético e político povoado de pessoas, desejos e 
interesses que não podem ser simplesmente ‘gerenciados’. (NOGUEIRA, 
2004:11-12) 
Assim, não se trata de adotar medidas administrativas que garantam a realização das ações 
e que corresponderiam à função de gerência. A gestão social é propriamente a gestão 
democrática de necessidades sociais em direção a mudanças que promovam a igualdade e a 
justiça social.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais24/241
Link
DOWBOR, l. Gestão social e transformação da sociedade. 2013. 17p. (versão atualizada e 
revisada do texto de 1999). Disponível em: <http://dowbor.org/2013/05/gestao-social-e-
transformacao-da-sociedade.html/>. Acesso em: 10 set. 2015.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais25/241
Glossário
Oralidade: toda situação de comunicação que ocorre por meio da fala. A linguagem oral 
é, em geral, mais espontânea e informal e se caracteriza pela proximidade física entre 
emissor e receptor. Ainda assim, há práticas orais bastante formais, como os discursos, 
palestras e conferências.
Semântica: é o estudo sincrônico ou diacrônico da significação como parte dos sistemas 
das línguas naturais, o componente do sentido das palavras e da interpretação das 
sentenças e dos enunciados no processo de comunicação.
Hiperônimo: é o vocábulo relativo a um sentido mais genérico de determinada palavra, 
em que há a relação de continente/conteúdo. Por exemplo:
“Avistei uma vaca amarelada. A linha do horizonte estava repleta de ruminantes”. 
Em que “ruminante” retoma o termo “vaca”. Assim, as “vacas” estão contidas no grupo de 
“ruminantes”.
Léxico: repertório de palavras existentes numa determinada língua e que pode ser 
agrupado por campos semânticos, ou seja, por grandes conjuntos de sentido.
Glossário
Ideário: Reunião das ideias mais importantes que compõem o pensamento político, social, 
filosófico, econômico etc.: o ideário do capitalismo. Reunião dos desejos, das aspirações, 
metas, objetivos e programas que fazem parte de uma ação, organização ou agremiação.
Cidadania: Característica ou estado de quem é cidadão ou de quem recebeu o título 
de cidadão; quem possui todos os direitos e deveres garantidos pelo Estado. Estado do 
indivíduo que possui direitos civis, políticos e sociais que lhe garantem a participação na 
vida política. 
Neoliberalismo: Forma moderna do liberalismo, que permite uma intervenção limitada do 
Estado, no plano jurídico e econômico.
Democracia: Política. Governo em que o poder é exercido pelo povo. 
Política. Sistema governamental e político em que os dirigentes são escolhidos através de 
eleições populares. Regime que se baseia na ideia de liberdade e de soberania popular; 
regime em que não existem desigualdades e/ou privilégios de classes. 
Hierarquia: Ordem que existe de forma a priorizar um membro, poderes, categorias, 
patentes e/ou dignidades de suas organizações: a hierarquia eclesiástica. Qualquer 
classificação que tenha como base as relações entre superiores e dependentes.
Questão
reflexão
?
para
26/241
Com base na sua experiência e analisando o cenário 
político-econômico atual, quais são as bases para a 
realização da gestão social?
27/241
Considerações Finais 
 » Sistema de proteção social abrange as políticas de saúde, educação, 
assistência social e previdência social, podendo a ele agregarem-se 
outras políticas sociais que objetivem a provisão de necessidades 
sociais.
 » O conceito de gestão social porta um fundamento ético e político que, 
sob valores democráticos como equidade, universalidade e justiça 
social, é objetivado nas ações públicas voltadas aos cidadãos, em 
direção à ampliação do acesso à riqueza social na qualidade de direito 
social.
 » Gestão Social não corresponde à adoção de medidas administrativas 
que garantam a realização das ações e que corresponderiam à função 
de gerência. A gestão social é propriamente a gestão democrática 
de necessidades sociais em direção a mudanças que promovam a 
igualdade e justiça social.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais28/241
Referências
BACELAR, T. Desenvolvimento regional: a descentralização valorizaria a diversidade. In: FLEURY, 
S. (Org.). Democracia, descentralização e desenvolvimento: Brasil & Espanha. Rio de Janeiro: 
Editora FGV, 2006.
GUARÁ, Isa. Família e território, eixos centrais do trabalho social. In: GUARÁ, Isa Maria F. R. 
(Coord.). Redes de proteção social. 1. ed. São Paulo: Associação Fazendo História: NECA 
- Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o 
Adolescente, 2010.
KOGA, Dirce. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. São Paulo: 
Editora Cortez, 2003. 
Demais Referências
BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social - fundamentos e história. São 
Paulo: Cortez, 2006.
CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Gestão Social: alguns apontamentos para o debate. In: 
RICO, Elizabeth de M.; RAICHELIS, Raquel (Org.). Gestão social: uma questão em Debate. São 
Paulo: EDUC; IEE, 1999, p. 19-29.
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais29/241
CASTEL, Robert. A insegurança social: O que é estar protegido. Rio de Janeiro: Vozes. 2005
COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma 
equação possível? 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
GUARÁ, Isa M. Ferreira da Rosa et al. Gestão Municipal dos serviços de atenção à criança e ao 
adolescente. São Paulo: IEE/PUC - SP; Brasília: SAS/MPAS, 1998. 
JACCOUD, Luciana. Garantia de renda na perspectiva dos direitos socioassistenciais. 
In: Caderno de Textos - VI Conferência Nacional de Assistência Social. Ministério de 
Desenvolvimento e Combate à Fome/Conselho Nacional de Assistência Social. Brasília, 2007.
JUNQUEIRA, L. A.; INOJOSA, R. M.; KOMATSU, S. Descentralização e intersetorialidade na 
gestão pública municipal no Brasil: a experiência de Fortaleza. Caracas: UNESCO/CLAD, 
1997. Série Concurso de Ensayos CLAD. Disponível em: <http://nute.ufsc.br/bibliotecas/upload/
junqueira_inojosa_komatsu_1997.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2015. 
JUNQUEIRA, L. A.; INOJOSA, R. M.; KOMATSU, S. Proteção Social: Debates e Desafios. In: Curso de 
Formação de Multiplicadores - 1ª etapa. Ministério de Desenvolvimento e Combate à Fome/
Escola Nacional de Administração Pública. Brasília, 2007.
KOGA, Dirce; GANEV, E.; FAVERO, E. Cidades e questões sociais medidas de cidades: entre 
Referências
Unidade 1 • Gestão Social e a execução de Políticas Sociais30/241
territórios de vida e territórios vividos. São Paulo: Terra Costa, 2009.
RAICHELIS, Raquel. Esfera Pública e Conselhos de Assistência Social - caminhos da 
construção democrática. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
SANTOS, Wanderley Guilherme. Cidadania e Justiça - A política social na ordem brasileira. Rio 
de Janeiro: Campus Ltda., 1979.
SILVA, Ademir Alves da. A gestão da Seguridade Social brasileira. São Paulo: Cortez, 2004.
SILVEIRA, Jucimeri Isolda. Sistema Único de Assistência Social: institucionalidade e práticas. 
In: BATTINI, Odaria (Org.). SUAS - Sistema Único de Assistência Social em debate. São Paulo: 
Véras, 2007.
WANDERLEY,L. E.; RAICHELIS, R. D. Gestão pública democrática no contexto do Mercosul. In: 
Los rostros del Mercosur. El difícil camino de lo comercial a lo societal. Argentina, 2001. 
Referências
31/241
Aula 1 - Tema: Gestão Social e a 
Execução de Políticas Sociais – Bloco I 
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
07347cb3f3b1fc1213d19a5eb486a101>.
Aula 1 - Tema: Gestão Social e a 
Execução de Políticas Sociais – Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
e02d1c6137d69aa88828f6af7f9d01de>. 
Assista a suas aulas
32/241
1. Gestão social é:
a) conjunto de políticas na área social
b) gerência de processos das políticas públicas
c) gestão de ações públicas no âmbito das políticas sociais executadas na perspectiva da 
participação popular
d) administração de recursos públicos
e) gerência de equipe que atua na área social
Questão 1
33/241
2. A gestão social assume papel relevante quando:
a) A Constituição Federal de 1988 é aprovada
b) O Estado de Bem Estar Social atinge seu ápice
c) Se encerra o período de ditadura militar no Brasil
d) O pensamento neoliberal torna-se dominante
e) Na crise do petróleo
Questão 2
34/241
3. Sistema de proteção social significa:
a) conjunto de estratégias para prover necessidades vitais aos indivíduos
b) medidas administrativas adotadas em situações de emergência
c) contribuição previdenciária para garantir a aposentadoria
d) garantia de acesso à escola
e) oferta de serviços gratuitos de saúde
Questão 3
35/241
4. A Seguridade Social brasileira abrange:
a) Saúde, Educação e Habitação
b) Saúde e Educação
c) Previdência Social e Saúde
d) Saúde, Previdência Social e Educação
e) Saúde, Previdência Social e Assistência Social
Questão 4
36/241
5. A gestão social tem como pressupostos:
a) excelência administrativa
b) participação democrática e justiça social
c) a necessidade de contrapartida 
d) financiamento privado
e) sensibilidade às mazelas sociais
Questão 5
37/241
Gabarito
1. Resposta: C.
Gestão Social supõe um processo de 
participação democrática, com vistas a 
equacionar as necessidades socialmente 
produzidas. Assim, tem como prerrogativa 
a existência de espaços institucionais de 
participação popular.
2. Resposta: D.
O avanço do ideário neoliberal se 
configura como cenário político no início 
da década de 1990 e desencadeia uma 
maior institucionalização da sociedade 
civil organizada que é chamada a 
participar na qualidade de executora 
das políticas sociais, deslocando então a 
responsabilidade da esfera estatal para 
esfera privada. É nesse contexto que no 
Brasil é introduzida a ideia da gestão social, 
também denominada de governança 
social.
3. Resposta: A.
A insegurança social é uma experiência 
que atravessou a história (CASTEL, 
2005), constituindo par com a ideia de 
proteção social, cuja equação configurou 
mecanismos e estratégias para prover 
necessidades vitais aos indivíduos frente 
às situações nas quais não pudessem 
provê-las por si mesmos, dando origem 
a um conjunto de políticas sociais ao que 
denominamos sistema de proteção social.
38/241
Gabarito
4. Resposta: E.
A seguridade social brasileira, também 
compreendida como sistema de proteção 
social, foi instituída em 1988 pela 
Constituição Federal e abrange as políticas 
de Saúde, Previdência Social e Assistência 
Social. Em outros países, se agregam à 
proteção social as políticas de educação e 
habitação.
5. Resposta: B.
A gestão social pressupõe a gestão 
democrática de necessidades sociais em 
direção a mudanças que promovam a 
igualdade e a justiça social.
39/241
Unidade 2
Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional
Objetivos
1. Compreender a configuração da esfera pública
2. Incorporar a territorialidade e intersetorialidade como 
eixos organizativos da gestão social
3. Identificar aspectos fundantes da práxis profissional na 
gestão social
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional40/241
Introdução
Falar em gestão social nos remete a um diálogo com o conceito de gestão pública, entendida 
como o conjunto de ações públicas realizadas na perspectiva de dar respostas às necessidades 
sociais que têm origem na sociedade e são incorporadas e processadas pelo Estado em suas 
diferentes esferas de poder (federal, estadual e municipal).
Embora as políticas públicas sejam de competência do Estado, não são 
decisões impositivas e injunções do governo para a sociedade, mas 
envolvem relações de reciprocidade e antagonismo entre essas duas 
esferas. (WANDERLEY; RAICHELIS, 2001, p. 156)
Mas, no que consiste a esfera pública?
1. ESFERA PÚBLICA – Compreendendo o campo da gestão social
Para Grau1 (1988), a noção de público tem um significado normativo, relativo ao 
reconhecimento do direito de todos em participar das decisões relacionadas ao bem comum 
1 Nuria Cunill Grau – cientista social chilena. Seus estudos são voltados para a democratização da relação Estado e sociedade, 
gestão e políticas públicas.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional41/241
e afirma que “isso interpela a sociedade e 
não apenas o Estado”, mas também tem 
um significado topográfico vinculado 
aos espaços onde essa participação da 
sociedade pode se realizar e nos interpela 
“onde são adotadas as decisões que 
interessam a todos? A quem cabe produzir e 
proteger os bens públicos?”.
De acordo com Wanderley e Raichelis 
(2001), o público, aqui tratado como 
esfera pública, não se reduz à esfera 
estatal, nem o privado à esfera mercantil. 
A esfera pública se constrói a partir do 
reconhecimento da determinação sócio-
histórica das necessidades sociais que no 
decorrer do tempo exigem dos diversos 
sujeitos ações adequadas às situações 
apresentadas na realidade social. 
A esfera pública precisa 
ser construída e tecida 
nas relações entre Estado 
e sociedade civil, e no 
interior dessas duas 
instâncias de poder, no 
sentido de ultrapassar a 
dicotomia estatal-privado 
com a instauração de uma 
esfera capaz de introduzir 
transformações, nos âmbitos 
estatizados e privados da 
vida social, resultando 
daí um novo processo de 
interlocução e decisão 
públicas. (WANDERLEY; 
RAICHELIS, 2001, p. 157) 
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional42/241
É nesse cenário que a gestão social encontra suas bases de ação, ou seja, a convocação da 
participação da sociedade civil nos processos de decisão sobre a oferta de serviços compõe a 
construção da esfera pública. 
1.1 Esfera pública e proteção social
Herbert de Souza, popularmente conhecido como Betinho, nos ajuda a compreender o conceito 
de esfera pública e nos esclarece de maneira muito objetiva:
O público é o que nos permite hoje escapar desse dilema entre privado e estatal, 
entre mercado e Estado, entre o direito de uns poucos e o de todos. Nesse 
sentido, o público é o espaço da solidariedade, da igualdade, da participação, da 
diversidade, da liberdade. Enfim, o público é a expressão da democracia aplicada 
ao conceito do que deve e pode ser universal. Mas é também um modo de pensar 
a reorganização da nossa sociedade marcada por esta dicotomia entre o privado 
e o estatal. Não estamos propondo que não haja espaços privados, onde cada 
pessoa possa exercitar sua privacidade e defender seus direitos. Essa seria uma 
forma de totalitarismo do social sobre o pessoal, ou individual. Também não 
estamos propondo a eliminação do estatal, naquilo que só o Estado pode e deve 
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional43/241se responsabilizar, como as 
questões de segurança, 
a garantia dos direitos, a 
proteção contra o abuso 
do privado sobre o público. 
Estamos propondo que o 
democrático seja abrangente, 
que o público seja a forma 
democrática de existir e 
equacionar os problemas de 
todos, em que a cidadania 
se realiza em toda sua 
universalidade. (SOUZA, 1995)2
Indiscutivelmente, as situações sociais 
às quais as políticas sociais se propõem 
a enfrentar são fruto da própria 
2 SOUZA, H. Em nome do bem público. In: Folha S. 
Paulo. São Paulo, 1995. 
sociedade e do modo de produção 
capitalista. Os sistemas de proteção 
social se originam a partir do exercício da 
solidariedade, elevada institucionalmente 
a uma solidariedade social. As primeiras 
iniciativas de proteção ao trabalho se 
deram a partir da implantação de “caixas”, 
que nada mais eram que a contribuição 
de cada trabalhador que, solidariamente, 
garantiria proteção a outro trabalhador 
na ocorrência de privação temporária ou 
permanente da capacidade laborativa. 
Como apresenta Jaccoud (2007:3), 
a proteção social “está identificada 
à solidariedade da sociedade com o 
indivíduo nas situações em que este se 
encontra em dificuldades de prover o seu 
sustento, ou de provê-lo adequadamente”, 
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional44/241
cujo enfrentamento objetiva-se através de “um conjunto de iniciativas públicas ou 
estatalmente reguladas para a provisão de serviços e benefícios sociais” (idem, 2007, p.2), 
sublinhando o direcionamento para o reconhecimento público das inseguranças sociais, ou 
seja, das condições que comprometem a reprodução social dos trabalhadores e de suas famílias 
e do seu enfrentamento com ações organizadas e articuladas entre Estado e sociedade civil 
(estatal e privado = esfera pública).
 
Para saber mais
RAICHELIS, Raquel. Esfera Pública e Conselhos de Assistência Social - caminhos da 
construção democrática. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005 .
Link
Gestão pública e participação. Fundação Luís Eduardo Magalhães. Salvador: FLEM, 
2005. Disponível em: <http://www.flem.org.br/paginas/cadernosflem/pdfs/
CadernosFlem8-VersaoCompleta.pdf>. Acesso em: 10 set. 2015.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional45/241
1.2. Descentralização e perspectivas ideológicas do papel do estado
A descentralização político-administrativa, inaugurada com a Constituição de 1988, consiste 
na transferência do poder central (esfera federal) para outras esferas de poder (estadual e 
municipal), exigindo, como já foi dito, um reordenamento do aparato estatal com rebatimentos 
na organização administrativa do poder local/municipal, formas e fontes de financiamento e, 
sobretudo, na responsabilidade do poder público de conhecer, propor e intervir de acordo com 
as características e necessidades locais.
No entanto, a centralidade dada ao Estado na elaboração e na implementação de políticas 
públicas acessadas pela via do direito de cidad(ania, está eivada de tensões de acordo com 
a perspectiva político-ideológica no decorrer do processo histórico. A Constituição Federal 
de 1988 foi discutida e aprovada em decorrência de amplo debate entre os vários sujeitos, 
num contexto de superação da ditadura militar e, portanto, de valorização da vocalização 
de interesses e necessidades dos diversos segmentos da sociedade brasileira. Podemos 
afirmar que foi um período em que a perspectiva mais progressista foi hegemônica em um 
momento político internacional em que ocorria seu refluxo, ou seja, o debate e a crítica sobre o 
“tamanho” do Estado ocorria na perspectiva neoliberal. 
Como nos esclarece Junqueira, Inojosa e Komatsu (1998): 
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional46/241
Enquanto os neoliberais preconizam o Estado mínimo e o mercado como 
regulador das relações sociais, os progressistas não retiram o caráter 
de intervenção do Estado, mas concebem uma nova relação Estado e 
sociedade. (JUNQUEIRA; INOJOSA; KOMATSU, 1998)
O pensamento neoliberal, ao criticar o padrão de acumulação capitalista e a relação Estado e 
sociedade, também critica a intervenção pública na economia e propõe que o mercado seja o 
mediador para que a economia possa ser mais competitiva. A perspectiva neoliberal, portanto, 
defende que competências públicas sejam transferidas para o setor privado, considerado mais 
eficiente, e que a ação do Estado na área social seja limitada a programas de auxílio à pobreza. 
Dessa forma, para o pensamento neoliberal, a descentralização possibilita que o aparato 
organizacional do Estado torne-se mais ágil e destine-se a atenuar “as desigualdades mais 
aparentes” (JUNQUEIRA; INOJOSA; KOMATSU, 1998).
Já o pensamento progressista, que inspirou a implantação do denominado Estado de Bem 
Estar Social (suficientemente abordado no subitem anterior), não ignora a interferência da 
crise e a necessidade de medidas de recuperação da economia, mas defende que aquele 
modelo, pautado na igualdade de acessos e da justiça social, seja mantido para a garantia dos 
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional47/241
direitos sociais dos cidadãos. Para o pensamento progressista, a descentralização significa a 
democratização da administração pública, a possibilidade de desenvolvimento da economia 
de acordo com vocações e características locais que objetivem o desenvolvimento social e 
humano.
O deslocamento do poder de decisão é um meio para democratizar 
a gestão através da participação, o que aponta para a redefinição da 
relação Estado e sociedade. Esse movimento deve ter como horizonte 
a implementação de políticas que promovam a universalização dos 
benefícios sociais, de modo eficiente e equânime. (JUNQUEIRA; 
INOJOSA; KOMATSU, 1998).
 
Para saber mais
SANTOS, Wanderley Guilherme. Cidadania e Justiça - A política social na ordem 
brasileira. Rio de Janeiro: Campus Ltda., 1979.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional48/241
2. A intersetorialidade como eixo organizativo da gestão social
 A segmentação da administração pública no Brasil, nas três esferas de governo, por áreas 
de intervenção correspondem a uma estrutura organizacional verticalizada e setorializada 
reproduzida na oferta de serviços públicos fragmentados.
Essa lógica setorial de operação do Estado trata o cidadão e os problemas a serem enfrentados 
de forma fragmentada, com serviços ofertados isoladamente, sem considerar que sua execução 
incidirá no mesmo espaço territorial e junto aos mesmos cidadãos. Essa ação desarticulada 
dificulta uma perspectiva mais integral de atendimento das demandas sociais, pois não 
considera a inter-relação e multidimensão da vida social.
Link
CARDOSO JR., José Celso; COUTINHO, Ronaldo (Orgs.). Planejamento estratégico em contexto 
democrático: lições da América Latina. Brasília: ENAP, 2014. Disponível em: <www.enap.gov.br>. 
Acesso em: 10 set. 2015.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional49/241
Assim, com o objetivo de considerar a inter-relação de aspectos e fatores particulares de 
cada localidade, a intersetorialidade, aliada à territorialidade se propõe à mudança da lógica 
de organização do Estado e a execução de políticas públicas. Contrapondo-se à lógica da 
setorialidade, as prioridades são definidas a partir da leitura multidimensional da realidade, 
sobre a qual serão desenvolvidas ações integradas dos vários setores, ou seja, através do 
olhar específico de cada setor é construído um diagnóstico que abrange a integralidade das 
necessidades sobre as quais ocorrerão intervenções na perspectiva de complementariedade.
Intersetorialidade é aqui entendida como a articulação de saberes e 
experiências no planejamento, realização e avaliação de ações, com 
o objetivo de alcançar resultadosintegrados em situações complexas, 
visando um efeito sinérgico no desenvolvimento social. Visa promover 
um impacto positivo nas condições de vida da população, num 
movimento de reversão da exclusão social. (JUNQUEIRA; INOJOSA; 
KUMATSU, 1997).
Cabe sublinhar que a conexão entre territorialidade e intersetorialidade consiste em desafio 
no processo de gestão de políticas sociais, pois exige a criação de mecanismos de articulação 
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional50/241
entre organizações e sujeitos políticos no território que, para além da otimização de recursos 
humanos, materiais, físicos e financeiros, possam construir consensos que resultem em 
mudanças nas concepções e práticas desenvolvidas junto à população.
 
Para saber mais
PEREIRA, Potyara Amazoneida Pereira. Como conjugar especificidade e intersetorialidade 
na concepção e implementação da política de assistência social. In: Revista Serviço 
Social & Sociedade, n. 77, p. 54-62. São Paulo: Cortez, 2004.
Link
 BELLINI, M. I. e Faler, C (0rgs) Intersetorialidade e Politicas Sociais: interfaces e 
dialogos.EDIPUCRS. 2014 disponível em 
http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/Ebooks/Pdf/978-85-397-0573-3.pdf acessado 
em 01/08/2015
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional51/241
3. A práxis profissional
Na gestão social, intersetorialidade e descentralização são conceitos que se aproximam, 
pois enquanto a descentralização supõe a transferência do poder de decisão para esfera 
mais próxima dos cidadãos, a intersetorialidade refere-se à perspectiva da integralidade do 
atendimento de necessidades de grupos populacionais. Sua objetivação deve considerar as 
particularidades do território, aspectos ambientais, características de urbanização e a dinâmica 
e organização social local. 
Fique atento!
Assim como descentralização não é sinônimo de democratização, 
mas um meio de viabilizá-la, a intersetorialidade não é um fim e nem 
irá, por si, promover o desenvolvimento e a inclusão social, mas é um 
fator de sua viabilização enquanto ação do Estado. A articulação de 
ambos - descentralização e intersetorialidade, referidos ao processo de 
desenvolvimento social, constituem um novo paradigma orientador da 
modelagem de gestão pública. (JUNQUEIRA; INOJOSA; KUMATSU, 1997).
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional52/241
A Gestão Social tem se apresentado como um desafio aos profissionais por tratar-se de 
um processo complexo a ser desenvolvido de forma organizada e sistemática. No entanto, 
o direcionamento ético-político da intervenção profissional deve estar alinhado com a 
perspectiva de superação das situações que afetam grupos populacionais. 
Compreender que as características e particularidades de cada território são definidas a partir 
da própria dinâmica em que as relações nele se estabelecem é ponto de partida para definição 
da ação profissional.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional53/241
Para interferir, respeitando e atendendo as suas peculiaridades, é preciso 
estabelecer critérios para comparar grupos populacionais entre si e 
em relação a padrões de qualidade e permitir o estabelecimento de 
objetivos e metas que promovam a qualidade de vida, através do acesso 
a bens materiais e imateriais disponíveis na sociedade contemporânea. 
Essa nova lógica deve viabilizar a identificação dos problemas e 
potencialidades dos grupos populacionais em relação a padrões de 
qualidade de vida, considerados a partir dos direitos de cidadania, 
e promover a interferência, transdisciplinar, holística, intencional e 
monitorada, nas questões que estão no espaço de governabilidade do 
poder público. (JUNQUEIRA; INOJOSA; KUMATSU, 1997).
Knopp3 esclarece que a gestão social exige compromisso com:
3 KNOPP, Glauco. Governança Social, Território e Desenvolvimento. In: Perspectivas em Políticas Públicas, Belo Horizonte, v. IV, n. 
8, p. 53-74, jul./dez. 2011.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional54/241
[...] a discussão sobre as modificações da relação Estado-Sociedade: 
seja numa perspectiva gerencial, mais focada na descentralização e 
compartilhamento de responsabilidades pela prestação de serviços e 
produção de bens públicos, visando maior eficiência e eficácia na gestão 
pública; seja numa perspectiva democrático-participativa ou social, que 
enseja maior participação e controle social nos diversos estágios do ciclo 
de política pública; tendo, como principal fim, a ampliação da cidadania 
ativa e a obtenção de resultados democráticos. (KNOPP, 2011)
Nessa direção, os conceitos aqui trabalhados demonstram que você, enquanto profissional, 
deve integrar várias formas de racionalidade: 1) crítica: sustentada em um arcabouço teórico-
metodológico; 2) técnico-instrumental: ancorada em instrumentos técnico-operativos e 3) 
política: relacionada aos processos democráticos de debate e construção.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional55/241
 
Para saber mais
GARAJAU, N. Reflexões sobre a intersetorialidade como estratégia de gestão 
social. Disponível em: <http://www.cress-mg.org.br/arquivos/simposio/
REFLEX%C3%95ES%20SOBRE%20A%20INTERSETORIALIDADE%20COMO%20
ESTRAT%C3%89GIA%20DE%20GEST%C3%83O%20SOCIAL.pdf>. Acesso em: 10 
set. 2015.
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional56/241
Glossário
Público: adj. Que se refere ao povo em geral: interesse público. 
Relativo ao governo de um país: negócios públicos. 
A que todas as pessoas podem comparecer: reunião pública.
Práxis: s.f. Na filosofia marxista, conjunto de atividades que visam a transformar o mundo 
e, particularmente, os meios e as realizações de produção, sobre a qual repousam as 
estruturas sociais. 
No existencialismo sartriano, aquilo pelo qual o ser se revela na História.
Descentralizar: Afastar; separar do centro. Implantar a descentralização administrativa 
de: o serviço público foi descentralizado.
Questão
reflexão
?
para
57/241
Quais as estratégias, em sua opinião, devem ser 
adotadas para que a gestão social seja efetivamente 
uma gestão democrática de serviços?
58/241
Considerações Finais
 » A adoção da perspectiva territorial responde à necessidade de considerar a 
diversidade, os conflitos e particularidades das realidades regionais e locais, no 
desvelamento da realidade social enquanto totalidade dinâmica e contraditória, 
a partir dos múltiplos condicionantes sócio-político-econômico-culturais que a 
configuram. 
 » A esfera pública se constrói a partir do reconhecimento da determinação sócio-
histórica das necessidades sociais que no decorrer do tempo exigem dos diversos 
sujeitos ações adequadas às situações apresentadas na realidade social. 
 » O direcionamento ético-político da intervenção profissional deve estar alinhado 
com a perspectiva de superação das situações que afetam grupos populacionais
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional59/241
Referências 
BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social - fundamentos e história. São 
Paulo: Cortez, 2006.
CASTEL, Robert. A insegurança social: O que é estar protegido. Rio de Janeiro: Vozes. 2005
COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma 
equação possível? 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
JACCOUD, Luciana. Garantia de renda na perspectiva dos direitos socioassistenciais. 
In: Caderno de Textos - VI Conferência Nacional de Assistência Social. Ministério de 
Desenvolvimento e Combate à Fome. Conselho Nacional de Assistência Social. Brasília, 2007. 
JACCOUD, Luciana. Proteção Social: Debates e Desafios. In: Curso de Formação de 
Multiplicadores - 1ª etapa. Ministério deDesenvolvimento e Combate à Fome. Escola Nacional 
de Administração Pública. Brasília, 2007.
RAICHELIS, Raquel. Esfera Pública e Conselhos de Assistência Social - caminhos da 
construção democrática. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005 .
SANTOS, Wanderley Guilherme. Cidadania e Justiça - A política social na ordem brasileira. 
Rio de Janeiro: Campus Ltda., 1979.
WANDERLEY, L. E.; RAICHELIS, R. D. Gestão pública democrática no contexto do Mercosul. In: 
Unidade 2 • Esfera Pública, Gestão Social e Práxis Profissional60/241
Los rostros del Mercosur. El difícil camino de lo comercial a lo societal. Argentina, 2001. 
SILVA, Ademir Alves da. A gestão da Seguridade Social brasileira. São Paulo: Cortez, 2004.
SILVEIRA, Jucimeri Isolda. Sistema Único de Assistência Social: institucionalidade e práticas. 
In: BATTINI, Odaria (Org.). SUAS - Sistema Único de Assistência Social em debate. São Paulo: 
Véras, 2007.
Referências
61/241
Aula 2 - Tema: Esfera Pública, Gestão Social 
e Praxis Profissional – Bloco I 
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
1d/314c25981c66db2a0e2143d4e9dff310>.
Aula 2 - Tema: Esfera Pública, Gestão Social 
e Praxis Profissionall – Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA-
piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e9e-
0bafa0b443d8ba3205a4a8ab17e73>. 
Assista a suas aulas
62/241
1. O que é esfera pública?
a) relativo ao poder público
b) o que diz respeito à população
c) administração pública com eficiência
d) relativo ao bem público
e) reconhecimento do direito de todos em participar das decisões relacionadas ao bem 
comum
Questão 1
63/241
2. O reordenamento do aparato estatal estabelecido na Constituição 
Federal de 1988 é denominado:
a) Entes federados
b) Descentralização politico-administrativa
c) Democracia
d) Municipalismo
e) Territorialidade
Questão 2
64/241
3. Entende-se por território:
a) A delimitação geográfica de acordo com características do município.
b) Municípios regionalizados conforme atividade econômica.
c) É um sistema de relações e estruturas decorrentes da combinação entre fatores políticos, 
sociais, econômicos e culturais.
d) Local onde devem ser implantados equipamentos de saúde.
e) A delimitação geográfica de áreas com incidência de problemas sociais.
Questão 3
65/241
4. Intersetorialidade reflete:
a) leitura multidimensional da realidade
b) existência de vários serviços 
c) fluxo administrativo de encaminhamento entre setores
d) sistema que interliga todos os serviços públicos
e) estratégia ultrapassada de governar
Questão 4
66/241
5. A práxis profissional consiste em:
a) Prática profissional com competência 
b) Saber trabalhar em equipe
c) Sobrepor a pratica à teoria
d) Intervir na perspectiva da mudança
e) Respeitar a hierarquia organizacional
Questão 5
67/241
Gabarito
1. Resposta: E.
A esfera pública não se reduz à esfera 
estatal nem o privado à esfera mercantil. 
A esfera pública se constrói a partir do 
reconhecimento da determinação sócio-
histórica das necessidades sociais que no 
decorrer do tempo exigem dos diversos 
sujeitos ações adequadas às situações 
apresentadas na realidade social.
2. Resposta: B.
A descentralização político-administrativa, 
inaugurada com a Constituição de 1988, 
consiste na transferência do poder central 
(esfera federal) para outras esferas de 
poder (estadual e municipal), exigindo, 
como já foi dito, um reordenamento 
do aparato estatal com rebatimentos 
na organização administrativa do 
poder local/municipal, formas e fontes 
de financiamento e, sobretudo, na 
responsabilidade do poder público de 
conhecer, propor e intervir de acordo com 
as características e necessidades locais.
3. Resposta: C.
A adoção da perspectiva territorial 
responde à necessidade de considerar a 
diversidade, os conflitos e particularidades 
das realidades regionais e locais, no 
desvelamento da realidade social enquanto 
totalidade dinâmica e contraditória, 
a partir dos múltiplos condicionantes 
68/241
sócio-político-econômico-culturais que a 
configuram.
4. Resposta: A.
Contrapõe-se a lógica da setorialidade 
uma vez que as prioridades são definidas 
a partir da leitura multidimensional da 
realidade sobre a qual serão desenvolvidas 
ações integradas dos vários setores, ou 
seja, através do olhar específico de cada 
setor é construído um diagnóstico que 
abrange a integralidade das necessidades 
sobre as quais ocorrerão intervenções na 
perspectiva de complementariedade.
Gabarito
5. Resposta: D.
A práxis profissional refere-se ao 
direcionamento ético-político da 
intervenção profissional alinhado com a 
perspectiva de superação das situações 
que afetam grupos populacionais.
69/241
Unidade 3
Fundamentos da prática profissional
Objetivos
a. Reconhecer direcionamento ético-politico profissional
b. Analisar os fundamentos teórico-metodológicos
c. Identificar a instrumentalidade profissional no cotidiano
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional70/241
Introdução
Toda prática profissional carrega uma 
teleologia, uma intenção. Na área social, 
por incidir na dinâmica social junto a 
grupos populacionais, deve em cada 
intervenção reproduzir o compromisso 
ético-político com a mudança.
Isso coloca para você imensos desafios, 
uma vez que intervir na realidade 
significa intervir nas relações sociais e 
no modo como as condições de vida e 
de sobrevivência se estabelecem em 
determinado território.
Você já viu anteriormente a importância 
de adotar a territorialidade e a 
intersetorialidade como eixos organizativos 
do trabalho social. Viu, também, que a 
participação popular é colocada como 
constitutiva da gestão social.
Ao abordar o tema referente aos 
fundamentos da prática profissional, 
reiteraremos o direcionamento ético-
político dos profissionais inseridos 
nos processos de gestão social, que 
ancorados na perspectiva de mudança, 
devem construir e reconstruir os seus 
instrumentos técnico- operativos.
1. Construindo caminhos
Quando discutimos as políticas sociais, 
falamos em um processo complexo, 
racional, ético e cívico, que sustenta o 
referencial que introduziu no campo dos 
direitos sociais as políticas públicas de 
Seguridade Social a partir da Constituição 
Federal de 1988. Processo racional, 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional71/241
pois toda política deve resultar em um 
conjunto de decisões coletivas a partir de 
indicadores científicos que sustentarão 
planos, metas, prioridades para 
atendimento de necessidades socialmente 
determinadas. Ético, porque constitui 
responsabilidade moral do Estado suprir, 
dar condições de vida ao conjunto da 
sociedade. Cívico, dada sua vinculação com 
os direitos de cidadania, onde é dever do 
Estado oferecer um conjunto de benefícios 
e serviços à população. Enquanto política 
no campo dos direitos sociais, regidos 
pelos princípios de igualdade e justiça 
social, pressupõe postura ativa do Estado 
na sua garantia.
A centralidade do Estado, a 
descentralização político-administrativa, 
o controle social, a territorialidade e 
a intersetorialidade desencadeiam 
mudanças na gestão municipal no que 
diz respeito às condições estruturais, 
políticas, técnicas e administrativas, que 
possibilitem assumir a gestão das políticas 
sociais na perspectiva de um sistema 
integrado. 
Isso não é tarefa fácil. Supõe uma 
desconstrução de referenciais e de práticas 
dos gestores e agentes municipais, 
o enfrentamento de conflitos e a 
reconstrução da identidade das políticas 
sociais em direção a uma nova legitimidade 
enquanto políticas públicas de direitos de 
cidadania.
Podemosafirmar que as mudanças 
desencadeadas desde a CF/88 apresentam 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional72/241
dimensões conceituais e organizativas. 
Conceituais no sentido de que exigem 
um esforço de elaboração para situar as 
políticas sociais no âmbito das políticas 
públicas, de proteção social, delimitar seu 
campo de atuação, formular estratégias e 
metodologias de intervenção, que possam 
sustentar a passagem do paradigma da 
tutela para o de direitos de cidadania. 
Não se trata, pois, de perpetuar ações 
para atendimento de necessidades 
emergenciais, comumente paternalistas 
e clientelistas, mas do reconhecimento 
dos direitos sociais que essas políticas 
garantem e os correspondentes serviços 
públicos abrangidos. 
A dimensão organizativa reside no 
estabelecimento de uma nova lógica de 
gestão nacional, capaz de impulsionar 
e ampliar direitos da população, 
especialmente daqueles segmentos sociais 
excluídos do acesso a bens e serviços. 
Tome por base o SUS e o SUAS, modelos 
únicos, orgânicos e sistematizados, 
definem estruturas, normas de gestão, 
competências e atribuições de cada ente 
federado, colocando em movimento 
princípios e diretrizes na perspectiva 
da construção de políticas públicas 
universalizantes. O processo de sua 
institucionalização deve ser analisado 
sob os aspectos teórico-metodológicos, 
formal-organizativo, técnico-operativo, 
nos quais estão imbricadas as dimensões 
conceitual e organizativa, que condicionam 
a direção política da execução. 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional73/241
A definição da Assistência Social, Saúde 
e Previdência Social como políticas 
públicas no campo da Seguridade 
Social institucionalizou um sistema de 
proteção social para todos os cidadãos, 
reconhecendo a existência de um conjunto 
de necessidades sociais decorrentes das 
condições objetivas de sobrevivência e 
configurando como direito o acesso a 
programas, projetos, serviços e benefícios 
de iniciativa pública que garantam o 
atendimento às suas necessidades básicas 
(art. 1º LOAS/1993). 
Dessa forma, circunscritos os campos 
específicos de cada política na perspectiva 
de sua abrangência e completude, sem 
qualquer subordinação, cada uma delas 
e o seu conjunto devem atuar para a 
garantia das condições de vida digna a 
todos os cidadãos brasileiros, na direção 
da universalização do acesso aos direitos 
humanos e sociais. 
A ideia de proteção está atrelada à de 
prevenção, que porta uma dinamicidade. 
Prevenir significa dar condições para o 
enfrentamento de uma situação que pode 
prejudicar algo ou alguém, antes que ela 
se instale, demonstrando a possibilidade 
de deslocamento da condição mais frágil, 
vulnerável, para a condição mais forte, 
protegida.
Como esclarece Sposati:
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional74/241
Estar protegido significa ter forças próprias ou de terceiros, que 
impeçam que alguma agressão/precarização/privação venha a ocorrer 
deteriorando uma dada condição. Porém, estar protegido não é uma 
condição inata, ela é adquirida não como mera mercadoria, mas pelo 
desenvolvimento de capacidades e possibilidades. No caso, ter proteção 
e/ou estar protegido não significa meramente portar algo, mas ter uma 
capacidade de enfrentamento e resistência. (SPOSATI, 2007:17)
Para identificar essa dinamicidade, essa potencialidade de mudança, é necessário reconhecer 
as situações que demandam atenção/atendimento, mas também um conjunto de situações 
que vulnerabilizam a população que podem ser transmutadas, fortalecendo a sua capacidade 
de enfrentamento em face de ocorrência de riscos sociais. 
Devemos estar atentos a algumas “armadilhas” conceituais relacionadas. Em primeiro lugar, à 
própria concepção de família nos moldes tradicionais, que de saída pode imprimir uma leitura 
preconceituosa com relação aos novos arranjos familiares. A adoção de um modelo idealizado 
de família pode reeditar práticas adaptadoras e higienistas que pouco contribuirão para o 
seu fortalecimento enquanto lócus básico de proteção. Em segundo lugar, a centralidade da 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional75/241
ausência ou insuficiência de renda como determinante da necessidade social, pode valorizar 
ações voltadas ao fornecimento de recursos materiais isoladas do conjunto de serviços que 
devem ser ofertados no âmbito da assistência social, desqualificando-os, minimizando sua 
importância na configuração da proteção social. Para isso, a orientação político-ideológica das 
ações merece atenção, pois podem reiterar práticas focalizadas e emergenciais, potencializar a 
segregação e permanecer distantes da perspectiva protetiva que devem objetivar. 
Link
SPOSATI, A. Os desafios da proteção social. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=6xXbp12-i1c>. Acesso em: 30 jul. 2015.
Viana e Fausto (2005), analisando a atenção básica na área da saúde, apresentam que essa 
discussão nas políticas de proteção social é tensionada, por um lado, pela perspectiva focalista, 
configurando a atenção básica como uma estratégia de combate à pobreza e, por outro, pela 
perspectiva universalista, enquanto “componente estratégico da estruturação, operação, 
coordenação e instrumento de equidade”. 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional76/241
A adoção da perspectiva focalista 
transforma problemas estruturais em 
faltas morais, cujo enfrentamento 
sustenta-se na comprovação da 
necessidade, vinculando-a a uma 
“deficiência” individual a ser compensada 
através do cumprimento de condições. 
Pereira (2003) analisa que ocorre uma 
perversa inversão no campo das políticas 
sociais, na qual “os pobres, que são 
credores de uma dívida social acumulada, 
têm de oferecer contrapartida aos seus 
credores, quando estes se dispõem a saldar 
parcelas dessa dívida”, caracterizando-as 
como residuais e distanciando-as da ideia 
de cidadania e de direitos sociais. 
A focalização provoca também alteração 
no conceito de política social, que 
enquanto mediadora da relação Estado-
sociedade-mercado, configura-se 
como a objetivação de um pacto social, 
assegurando proteções nas várias 
dimensões relativas às necessidades 
humanas e sociais. A política social fica 
reduzida a um conjunto de programas 
fragmentados, voltados ao combate à 
pobreza monetária, caracterizados por 
critérios de elegibilidade e cumprimento de 
condicionalidades.
Ao princípio da universalidade - que 
emergiu com a democracia em defesa do 
acesso indiscriminado a bens e serviços 
públicos a todos os cidadãos – vincula-se 
a ideia de investimento social, ou seja, a 
garantia de condições para a reprodução 
social do conjunto da sociedade através 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional77/241
de políticas sociais. Difundido com o 
desenvolvimento do Estado de Bem Estar 
Social, e materializado através dos direitos 
sociais, reforça o papel do Estado enquanto 
regulador das relações sociais em direção à 
manutenção da igualdade de condições de 
vida da população.
No entanto, com a mudança do contexto 
sócio-político-econômico nacional e 
internacional, esse princípio tem sido 
sobreposto pelo princípio da seletividade 
como estratégia de racionalidade da 
alocação de recursos, sob a alegação 
de que são os grupos mais vulneráveis 
aqueles que demandam intervenção 
estatal via políticas sociais. Como 
apresenta Pereira (2003), o princípio da 
seletividade, que poderia guardar alguma 
preocupação com o atendimento das 
necessidades sociais, foi adotado devido 
às limitações operacionais para efetivar 
a universalidade em uma sociedade de 
classes. No entanto, por orientação dos 
organismos internacionais, foi substituído 
pelo conceito de focalização, deslocando 
também a conexão das necessidades 
sociais à questão social edesfigurando o 
conceito de direito social. 
Essa discussão, eivada de posições 
ideológicas, está na pauta das políticas 
sociais em geral.
1.1 Direito social e a garantia 
das necessidades sociais 
Até aqui, temos falado que as políticas 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional78/241
sociais voltam-se para o atendimento 
das necessidades básicas dos cidadãos, 
mínimos sociais, cuja interpretação geral 
tem dado ênfase aos mínimos sem a 
necessária clareza ao que se referem, 
nem tampouco ao que seria entendido 
como básico. Analisando o artigo 1º da 
LOAS (lei Orgânica da Assistência Social), 
observa-se que ao estabelecer o mínimo 
de provisão e o básico de atendimento, 
imbrica dois conceitos diversos e de certa 
forma paradoxais, cuja leitura acrítica pode 
permitir que sejam considerados como 
equivalentes. 
Por mínimo, segundo Pereira, entende-
se o menor dentro de uma escala de 
valores, não necessariamente vinculado 
ao fundamental, principal, primordial. Em 
relação ao atendimento de necessidades, 
a equivalência é ao menor patamar sem 
relacioná-lo com um padrão básico. 
O básico, as necessidades básicas 
“constituem o pré-requisito ou as 
condições prévias suficientes para o 
exercício da cidadania em sua acepção 
mais larga” (PEREIRA, 2008) e reúnem 
um conjunto de requisições relativas às 
condições concretas em que se objetiva 
a reprodução social e que devem ser 
protegidas.
A sobrevivência na sociedade brasileira, 
sob forte influência do pensamento liberal, 
tem sido considerada uma questão que diz 
respeito ao âmbito privado e não público, 
obtendo historicamente “respostas” pela 
via da caridade e pelo favor, portanto, 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional79/241
relacionada ao “quando possível” e “o 
que for possível”. Por ser “assunto” da 
assistência social, a natureza discricionária 
atribuída a essa prática (como não 
política), deixou marcas de difícil superação 
e tem se configurado como uma tensão na 
objetivação da atenção às necessidades 
sociais pela via do direito de cidadania. 
O conceito de necessidades básicas, 
cuja dimensão material tem relativa 
centralidade, tem sido considerado 
sinônimo de necessidades de 
sobrevivência, sem o balizamento 
necessário para diferenciar os seres 
humanos dos animais, ou em outros 
termos, a passagem da natureza para a 
cultura (TELLES, 2008). 
Pereira (2008), ao referir-se à construção 
social das necessidades humanas 
mediadas pelo trabalho, caracteriza-
as como um conjunto de necessidades 
que correspondem à sobrevivência, mas, 
ao mesmo tempo, também se referem 
à sociabilidade, a universalidade, a 
autoconsciência e a liberdade inerentes ao 
processo de humanização. Nesse sentido, 
as necessidades humanas, determinadas 
por aspectos históricos, filosóficos e 
culturais, não podem ser reduzidas ao 
plano econômico, considerando que no 
capitalismo a necessidade imperativa é a 
da valorização do capital1.
1 Para aprofundar essa análise, consultar BARROCO, 
(2007) e NETTO e BRAZ, (2006)
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional80/241
Em que pese a inexistência de definição 
clara do que sejam necessidades 
humanas básicas, como afirma Pereira 
(2008), a dimensão humana tem sido 
valorizada como indicador do estágio 
de desenvolvimento das sociedades 
e sua análise utilizada como subsídio 
para a formulação de políticas sociais e 
econômicas no mundo inteiro. Presente 
nos documentos oficiais de diversas 
agências internacionais desde os anos 
1990, a concepção de desenvolvimento 
abrange aspectos relativos à renda, 
longevidade, escolaridade, conhecimento, 
direitos humanos, segurança, liberdade 
política, econômica e social.
 
Para saber mais
BARROCO, M. L. Ética e Serviço Social: Fundamentos Ontológicos. 3. ed. São Paulo: 
Cortez Editora, 2007.
Braz, M e Netto, J.P. Economia Política - Uma Introdução Crítica. Col. Biblioteca Básica 
de Serviço Social. Vol. 1. São Paulo: Cortez Editora, 2006. Disponível em: <https://
pt.scribd.com/doc/218121893/Economia-Politica-uma-introducao-critica-
completo>. Acesso em 10 set. 2015.
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional81/241
Nessa direção, o resultado do esforço da pesquisa e da produção de conhecimento no âmbito 
da academia em demarcar a dimensão objetiva e universal das necessidades sociais para 
reprodução social, coloca como parâmetro aquelas condições cuja ausência “impedem ou 
põem em risco a possibilidade objetiva dos seres humanos de viver física e socialmente 
em condições de poder expressar a sua participação ativa e crítica” (PEREIRA, 2008 p. 67), 
configurando dois conjuntos que devem concomitantemente ser satisfeitos: a saúde física e a 
autonomia.
 
Para saber mais
PEREIRA, Potyara Amazoneida Pereira. Necessidades Humanas - subsídios à crítica dos 
mínimos sociais. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
Sendo assim, podemos entender que as necessidades humanas básicas se referem às 
necessidades de sobrevivência e de autonomia, enquanto dimensões indissociáveis que devem 
estimular a “capacidade do indivíduo de eleger objetivos e crenças, de valorá-los com discernimento 
e de pô-los em prática sem opressões” (PEREIRA, 2008). Isto significa, em primeiro lugar, que a 
autonomia não está reduzida ao autossustento, mas que se realiza social e dialeticamente a 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional82/241
partir da possibilidade do indivíduo poder 
fazer escolhas e contar com condições 
objetivas para sua concretização.
Como você viu, “os sistemas de proteção 
social têm origem na necessidade 
imperativa de neutralizar ou reduzir o 
impacto de determinados riscos sobre 
o individuo e a sociedade” (VIANA; 
LEVCOVITZ, 2005). 
O sistema de proteção social brasileiro, 
fundado no trabalho formal, tem como 
marco paradigmático a Constituição 
Federal de 1988, que sustentada nos 
princípios de direito e justiça social, 
introduz a ideia de seguridade social, 
incorporando benefícios não contributivos 
para os segmentos excluídos ou que sequer 
foram incorporados pelo mercado formal 
de trabalho e aos direitos daí decorrentes, 
o que não significa que não sejam ou não 
tenham sido trabalhadores ao longo de sua 
vida. 
Considerando o cenário de profundas 
desigualdades sociais, a proteção social 
brasileira cumpre (ou deverá cumprir) um 
duplo papel: garantir cobertura através 
da provisão monetária temporária ou 
permanentemente aos indivíduos e suas 
famílias que não o garantam por seus 
próprios meios em virtude dos riscos 
“clássicos” como a doença, a velhice, a 
invalidez, o desemprego e a exclusão; 
e organizar-se “para a equalização de 
oportunidades, o enfrentamento das 
situações de destituição e pobreza, o 
combate às desigualdades sociais e 
Unidade 3 • Fundamentos da prática profissional83/241
a melhoria das condições sociais da 
população.” (JACCOUD, 2007, p. 3) 
Aos riscos “clássicos” agregam-se 
aqueles decorrentes de processos 
sociais excludentes e discriminatórios 
relativos à etnia, à raça, à orientação 
sexual, além daqueles que decorrem 
do desenvolvimento do capitalismo 
globalizado e excludente, que aprofunda 
“distâncias sociais” na realidade nacional 
e mundial, assolada pela violência, pela 
quimiodependência e pela destruição do 
meio ambiente, entre outros na esteira das 
manifestações atuais da questão social. 
Como afirma Sposati (2007), é a 
“seguridade-cidadã” que, com base 
em parâmetros éticos, humanistas e 
científicos, deve assegurar a todos os 
cidadãos instrumentos que garantam a 
sustentabilidade em padrões dignos de 
vida e a sobrevivência.
A apreensão da realidade social a partir 
dessas reflexões constitui o arcabouço 
teórico metodológico que subsidiará toda 
a sua intervenção profissional ancorada no 
reconhecimento

Outros materiais