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Direitos e Seguridade Social 2/275 Direitos e Seguridade Social Autora: Viviane Masotti Como citar este documento: MASOTTI, Viviane. Direitos e Seguridade Social. Valinhos: 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós- Constituição De 1988 07 Assista a suas aulas 29 Unidade 2: O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais 37 Assista a suas aulas 63 Unidade 3: Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social 70 Assista a suas aulas 99 Unidade 4: Conceito e Proteção de Direitos Humanos 106 Assista a suas aulas 127 Unidade 5: Marco Legal da Seguridade Social 135 Assista a suas aulas 168 2/275 3/2753 Unidade 6: Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 176 Assista a suas aulas 208 Unidade 7: Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência 217 Assista a suas aulas 243 Unidade 8: Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios 251 Assista a suas aulas 268 Sumário Direitos e Seguridade Social Autora: Viviane Masotti Como citar este documento: MASOTTI, Viviane. Direitos e Seguridade Social. Valinhos: 2015. 4/275 Apresentação da Disciplina A disciplina de Direitos e Seguridade Social tem por objetivo proporcionar ao aluno o conhecimento de quais são os direitos sociais fundamentais do cidadão, de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil. E de que forma são ou podem ser protegidos e garantidos estes direitos, de acordo com o marco legal das políticas setoriais e de defesa de direitos. Os desafios contemporâneos têm exigido uma atuação integrada do Estado e da sociedade, através de seus diversos agentes na solução das demandas sociais. As intervenções praticadas por estes agentes devem ser balizadas por um conhecimento técnico-científico do Direito Social. Esta disciplina do MBA em Gestão Social, traz a fundamentação jurídica que introduz ao aluno a importância e a necessidade destas intervenções. O aluno do MBA em Gestão Social poderá, a partir da ampliação do seu conhecimento dos direitos sociais e dos instrumentos disponíveis para sua efetivação, ter uma atuação aperfeiçoada, seja enquanto profissional envolvido na área ou enquanto membro da sociedade civil pertencente à rede ativa de proteção destes direitos. A Constituição Federal de 1988 é conhecida como a “Constituição Cidadã”, porque, ao contrário das Constituições anteriores, parte do ser humano e não do Estado como diretriz filosófica para configurar garantias e direitos individuais condizentes com a proteção aos Direitos Humanos. 5/275 O conjunto de discussões e normas, formado a partir do processo constituinte iniciado em 1987 e pelo texto constitucional final daí originado, representa o maior período democrático vivenciado no Brasil até então. Esse período democrático foi precedido pelo movimento das “Diretas Já”. A reivindicação da população por eleições presidenciais diretas, pela possibilidade de o povo escolher seu representante político, contrariando o regime militar vigente na época. O Brasil vivia desde abril de 1964 uma Ditadura Militar, na qual foram amplamente praticadas, de modo oficial, legalizados por Atos Institucionais: a censura aos meios de comunicação e expressão livre, a repressão aos opositores, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais. Enfim, a total falta de democracia e o desrespeito a muitos dos direitos hoje reconhecidos como fundamentais do cidadão. Como uma reação a esse período e em busca da construção de um Estado Democrático de Direito que permitisse o surgimento de uma sociedade fraterna e solidária, caracterizada pelo desenvolvimento e pelo bem-estar- social, nasce uma Constituição Federal extensa e detalhista. No entender de vários críticos, uma “carta de intenções ampla e genérica”, com garantia de direitos cuja regulamentação demorou ainda alguns anos, e sua efetiva aplicação outros tantos. 6/275 Nesta disciplina buscamos explicitar: quais são estes direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988; em que medida foram influenciados pelas Emendas Constitucionais (as alterações no texto original já passam de 80); quais são as legislações infraconstitucionais regulamentadoras dos direitos sociais; quais as medidas desenvolvidas pelo Estado e pela Sociedade para a concretização e garantia desses direitos e quais as perspectivas para o futuro. 7/275 Unidade 1 Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós- Constituição De 1988 Objetivos 1. Ter um primeiro contato com os direitos sociais garantidos pela Constituição de 1988. 2. Relacionar os direitos individuais fundamentais com os Direitos Humanos 3. Entender os direitos sociais enquanto evolução dos direitos humanos 4. Compreender a necessidade de políticas de defesa de direitos a partir das garantias constitucionais Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 19888/275 Introdução A Constituição Federal de 1988 trouxe grande avanço, principalmente no reconhecimento de Direitos Fundamentais aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Brasil, bem como nos princípios que regem suas relações internacionais. Busca garantir a criação de um Estado Democrático de Direito, para assegurar o respeito, a proteção e a viabilização do exercício dos direitos civis, políticos, sociais e individuais, a Liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores de uma sociedade fraternal, pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social, ainda que isso significasse a ampliação da intervenção estatal na sociedade. A Constituição e, por consequência, todas as normas derivadas a partir daí têm como fundamento maior os valores da dignidade da pessoa humana, o valor social do trabalho e a livre iniciativa. Busca-se garantir a formação de uma sociedade solidária, cujas relações internas e externas devem se pautar pela prevalência dos direitos humanos. Assim como aconteceu com outros países na mesma época, a Constituição de 1988 ampliou o sistema de proteção social a partir do reconhecimento, em seus princípios basilares, dos direitos humanos em sua concepção mais moderna e completa, derivada dos Tratados Internacionais, em especial após a Declaração Universal dos direitos humanos de 1948. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 19889/275 Na maioria das situações, não bastava o reconhecimento constitucional de direitos humanos e a definição dos direitos fundamentais correspondentes, entre os quais os direitos sociais ampliados. Era também necessária a regulamentação desses direitos, com a edição de norma infraconstitucional que possibilitasse a efetivação dessa proteção social. Nesse sentido, enquanto se discutia no legislativo como tais direitos seriam regulamentados, o Estado manteve suas políticas públicas setoriais atreladas à legislação preexistente. Mas à medida que o legislativo incorporava os direitos humanos no ordenamento jurídico nacional, já durante a década de 90, as políticas públicas do Poder Executivo passaram a seguir sua orientação e instituições e programas sociais foram criados para implementar tais direitos.As diretrizes para implementação dos direitos humanos recém reconhecidos e positivados constitucionalmente foram criadas em 1996 através do PNDH I – o primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos, cuja preocupação central era a garantia de direitos civis e políticos, embora a Constituição já tivesse determinado outros direitos fundamentais essenciais à dignidade, em conformidade com a indivisibilidade dos direitos humanos trazida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e suas posteriores reiterações. Estes direitos sociais, econômicos e culturais foram incorporados Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198810/275 ao Programa Nacional de Direitos Humanos apenas em 2002 (PNDH II). A partir de então foram realizadas no Brasil diversas ações de promoção dos direitos humanos através da criação de instrumentos de participação social nas políticas públicas sobre temas sociais; criação de Conselhos Nacionais Setoriais (educação, criança e adolescente, saúde); criação de Secretarias Especiais para formulação de políticas públicas relacionadas a Direitos Humanos; criação de Comissão de Direitos Humanos no Legislativo e Executivo; criação de mecanismos judiciais de controle e procedimentos jurisdicionais visando a acessibilidade e celeridade processuais. Na sequência houve a descentralização destes instrumentos protetivos, com a criação de estruturas estaduais e municipais para a promoção dos direitos humanos, permitindo a criação de programas locais de proteção de direitos a partir das diretrizes estabelecidas pelo PNDH. Já prevista na Constituição Federal de 1988, a participação popular através dos direitos políticos ao plebiscito, referendo e iniciativa popular, foram regulamentados apenas pela Lei nº 9.709 de 18/11/98. Mas em 1990 já se institucionalizava a participação nos conselhos setoriais, através da Lei nº 8142 que dispunha sobre a participação popular na gestão do SUS. Entre 2003 e 2011 foram realizadas mais de 70 Conferências Nacionais Temáticas para debater sobre necessidades Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198811/275 diversidade cultural e social, e as desigualdades econômicas e estruturais, o desafio tem sido coordenar as ações de defesa dos direitos humanos em seus diversos aspectos e garantir a efetividade das garantias constitucionais. da comunidade e possíveis políticas públicas para suprir tais necessidades, com participação direta de cidadãos consolidando a democracia participativa no país. A partir destas conferências com participação da comunidade, e após a 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, surge a terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos, incorporando elementos dos tratados internacionais mais recentes e traçando as diretrizes atualmente vigentes a orientar as políticas públicas setoriais e os instrumentos de defesa dos direitos humanos no Brasil. Diante destas diretrizes, considerada a extensão de nosso território, nossa Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198812/275 1. Direitos Humanos e Direitos Sociais Para Ingo Wolfgang Sarlet1, “hoje se tem como praticamente incontroversa a existência de um liame entre a dignidade da pessoa e os direitos humanos e fundamentais”. A dificuldade tem sido então, estabelecer como se dá essa relação, e principalmente quais os conteúdos e significados desses conceitos para a sociedade regulada pela ordem jurídica daí derivada. 1 SARLET, Ingo Wolfgang – Dignidade (da pessoa) huma- na e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 10.ed.rev.atual e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015. Para saber mais Você sabia que o SUAS – Sistema Único de Assistência Social foi criado por deliberação da Conferência Nacional de Assistência Social em 2003, com modelo similar ao SUS – Sistema Único de Saúde, reafirmando o seu caráter de política pública com participação popular e não como caridade? Acesse o artigo sobre “Participação Popular – A construção da democracia participativa” na revista do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) “Desafios do Desenvolvimento” Edição 65 de 05/05/2011 no link abaixo: <http://www.ipea.gov. br/desafios/index.php?option=com_ content&id=2493:catid=28&Itemid=23> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198813/275 A concepção contemporânea de direitos humanos, considerando-se a evolução filosófica- histórica destes, caracteriza-se pelo significado universalista e indivisível, originário da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. Após as atrocidades praticadas na Segunda Guerra Mundial, sobretudo pelos nazistas, em meio aos esforços de reconstrução das cidades e economias envolvidas nos combates, 50 países (exceto os pertencentes ao Eixo) assinaram a Carta das Nações Unidas, criando a ONU, com o propósito de estimular uma união entre as nações e manter entre elas uma relação sem conflitos, a fim de evitar novas guerras, potencialmente tão devastadoras quanto a última. Ali já surgiam os fundamentos iniciais do que hoje temos por direitos humanos, ainda que pouco detalhados: “NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.” Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198814/275 É com base nesses mesmos princípios que a ONU adota a partir de 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos, detalhando quais seriam esses direitos através dos quais se garantiria a dignidade inerente a qualquer ser humano. “Sob o prisma da reconstrução dos direitos humanos, no Pós-Guerra, há, de um lado, a emergência do “Direito Internacional dos Direitos Humanos”, e, por outro, a nova feição do Direito Constitucional ocidental, aberto a princípios e a valores. ”2 Foi nesse espírito de readequação dos direitos constitucionais que diversas nações incluíram em suas leis 2 PIOVESAN, Flávia – Direitos Humanos: Desafios da ordem internacional contemporânea, in Caderno de Direito Constitucional – 2006. EMAGIS – Escola da Ma- gistratura do TRF4. fundamentais o princípio da dignidade da pessoa humana. Alemanha, Portugal, Espanha, por exemplo, positivaram constitucionalmente o princípio da dignidade humana. O Brasil também o fez na Constituição Federal de 1988, promulgada após período intenso de regime militar (1964 – 1985), em que foi notório o desrespeito à pessoa humana com práticas de perseguição e tortura, entre outros tantos desrespeitos à liberdade. Com a positivação constitucional da dignidade como valor e princípio de nosso ordenamento jurídico, positivaram- se também diversos direitos humanos. Não por acaso, muitos dos direitos fundamentais individuais são coincidentes Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no BrasilPós-Constituição De 198815/275 com aquelas garantias elencadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: a inviolabilidade do direito à vida, à Liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, reconhecidos como direitos de caráter universal, inerentes à condição de ser humano, independente de formas de organização política ou social às quais pertençam. Ao estudar a evolução do direito constitucional, no plano do direito interno dos países, pode-se considerar, com finalidade didática, a teoria das gerações de direitos humanos de Karel Vasak3. Os direitos humanos, enquanto 3 BARROS, Sérgio Resende de. Três Gerações de Direi- tos. Artigo consultado em 26/08/2015, disponível em <http://www.srbarros.com.br/pt/tres-geracoes-de-di- reitos.cont> objetivos ideais ou metas, devem ser considerados em seu duplo caráter de universalidade e indivisibilidade, onde a violação de qualquer de seus aspectos implica na violação do todo, impedindo a efetividade da dignidade humana. Mas com a finalidade de analisar a evolução da positivação constitucional desses direitos e sua relação com o modelo de Estado correspondente é útil recorrer à teoria geracional de direitos humanos. As três dimensões ou gerações de direitos humanos foram relacionadas por Karel Vasak aos princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. A primeira geração estaria relacionada aos Direitos de Liberdade, e corresponderia aos direitos civis e políticos individuais, visando Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198816/275 proteger os indivíduos dos abusos do Estado. Típico do Estado Liberal de Direito, de acordo com Ricardo Lobo Torres, em que “institucionaliza-se a proteção ao mínimo existencial e à pobreza, mas não se nota ainda a preocupação com os direitos sociais. ” A preocupação tinha caráter fiscal, proibindo-se por exemplo a tributação sobre a parcela mínima necessária à existência humana digna e a incidência de taxas remuneratórias de prestações estatais positivas (Constituição brasileira de 1924, por exemplo, garantia os socorros públicos e a instrução primária gratuita a todos os cidadãos). 4 4 TORRES, Ricardo Lobo – A metamorfose dos direitos sociais em mínimo existencial. SARLET, Ingo Wolfgang (organizador). Direitos Fundamentais Sociais: estudos de direito constitucional, internacional e comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. Uma evolução na consideração destes direitos traz a concepção de que esta garantia já não basta. Sendo necessário, de forma complementar, também a atuação do Estado de forma a proporcionar bens e serviços básicos, que garantam o bem- estar social de todos os seus cidadãos, através da garantia dos direitos da Igualdade, típicos da Segunda Geração de direitos humanos, que incluiriam: saúde, educação, moradia, alimentação, enfim, direitos econômico-sociais. Típico do Estado Social de Direito, de acordo com Ricardo Lobo Torres. A terceira geração de direitos humanos, corresponderia aos Direitos de Fraternidade e caracteriza-se pelos direitos coletivos ou direitos dos povos, tais como: direito ao desenvolvimento Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198817/275 e à paz. “O Estado Democrático de Direito passa a garantir o mínimo existencial, em seu contorno máximo, deixando a questão da segurança dos direitos sociais para o sistema securitário e contributivo, baseado no princípio da solidariedade. ”5 A Constituição Federal de 1988 em sua redação original trazia como direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. A Emenda Constitucional nº 26/2000 incluiu o direito à moradia e a Emenda Constitucional nº 63/2010 incluiu o direito à alimentação no rol dos direitos sociais. Muito interessante, a partir da inclusão do direito à alimentação no rol dos 5 TORRES, Ricardo Lobo, idem. direitos sociais, é começar a acompanhar o comportamento do judiciário para ver cumprida a determinação constitucional. Acesse a decisão do TRT2 (São Paulo) sobre o direito à alimentação adequada fornecida por empregador, onde o desembargador ressalta que o fornecimento de lanches “revela-se nocivo à saúde, o que, em última análise, malfere a dignidade do trabalhador, que tem direito a se alimentar adequadamente”: Link <http://www.trtsp.jus.br/indice-de- noticias-noticias-juridicas/19637-8-turma- fornecimento-de-lanches-tipo-fast-food- e-nocivo-a-saude-e-fere-a-dignidade-do- trabalhador?device=xhtml> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198818/275 A doutrina diverge sobre a classificação dos direitos sociais como direitos fundamentais ou como mera regra programática constitucional, visto não haver instrumentos processuais claros para sua concretização enquanto obrigações de prestações positivas. Ocorre que tal situação não diverge de outros direitos fundamentais cuja característica em relação ao Estado possuem sempre as duas dimensões, negativa e positiva, onde por um lado limita-se o eventual abuso do Estado na lesão do direito e de outro busca-se a ação do Estado para promover a implantação de tal direito. O Estado aparece não necessariamente como fornecedor ou executor da obrigação prestacional, mas pode ter função ativa como facilitador ao propiciar condições para que o cidadão atinja tais direitos. Como nos ensina Zeno Simm6, “por meio do reconhecimento dos chamados direitos sociais, o que se tem em mira é conseguir-se criar uma situação de igualdade material entre as pessoas, reduzindo os desníveis entre elas e buscando uma situação de equilíbrio, ou, ao menos, eliminar ou suprir as necessidades mínimas do indivíduo, dando- lhes as condições básicas de uma existência digna. Sem se assegurar essas condições vitais mínimas, de nada vale querer-se assegurar outros tipos de direitos, como da liberdade de expressão ou de crença, da liberdade de associação, etc.” 6 SIMM, Zeno. Os direitos fundamentais e a Seguridade Social. São Paulo, LTR Editora, 2005. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198819/275 Vale lembrar do conceito de indivisibilidade dos direitos humanos ao argumentar que, por exemplo, sem a educação básica não se garante sequer o exercício da liberdade plena. Para saber mais Você sabia que o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) que atualmente norteia as políticas públicas de garantia de direitos fundamentais é organizado a partir de 6 Eixos Orientadores? É a partir de cada eixo orientador que são definidas as diretrizes e respectivos Objetivos Estratégicos com suas ações programáticas. Por exemplo: O primeiro eixo orientador do PNDH-3 é a “Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil”, reconhecendo a necessidade de atuação conjunta do Estado e da sociedade civil na promoção e proteção dos Direitos Humanos. A primeira diretriz deste eixo é a “Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da democracia participativa” e o primeiro Objetivo Estratégico é a “Garantia da participação e do controle social das políticas públicas em Direitos Humanos, em diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais”. Para atingir tal objetivo estratégico, uma das ações programáticas deve ser: “apoiar fóruns, redes e ações da sociedade civil que fazem acompanhamento, controle sociale monitoramento das políticas públicas de Direitos Humanos. ” Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198820/275 2. Políticas setoriais e de defesa de direitos no Brasil pós-consti- tuição de 1988 O Brasil possui um extenso território e uma população caracterizada pela diversidade cultural e desigualdades sociais e econômicas significativas. Para a garantia de proteção e promoção dos direitos humanos fundamentais e dos direitos sociais tem se mostrado necessária a atuação tanto do Estado quanto da sociedade, através dos órgãos governamentais, de parcerias público- privadas e de organizações e membros da sociedade civil. Nesse sentido há diversas ações destinadas à promoção e defesa dos direitos humanos, e à garantia dos direitos sociais, seguindo diretrizes criadas a partir de políticas públicas que contam com a participação popular em sua elaboração, implementação e fiscalização. Criam-se espaços de participação cuja importância está em identificar a demanda da sociedade em determinado setor e estabelecer critérios, obter recursos e implantar soluções, que Para saber mais Conheça a íntegra do PNDH-3 no link abaixo: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito- para-todos/programas/pdfs/programa- nacional-de-direitos-humanos-pndh-3> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198821/275 atendam tal demanda. A participação popular representada por grupos de bairro, associações, movimentos de trabalhadores, e outros atores sociais, permite identificar necessidades de minorias que dificilmente chegariam ao conhecimento do Estado com tal agilidade sem tais instrumentos de participação. As políticas públicas podem ser federais, estaduais ou municipais, dependendo de sua abrangência ou da descentralização na execução. As políticas setoriais específicas, como educação, saneamento básico, habitação, saúde, em geral fazem parte de uma política pública mais abrangente e tanto na obtenção de recursos quanto na definição de objetivos deve-se considerar a integração entre os diversos setores e atores sociais. Podemos citar algumas medidas e programas com objetivo de promover e proteger os direitos humanos fundamentais no Brasil: • Adesão à quase totalidade das convenções internacionais sobre o tema. Desde 2004 os Tratados internacionais de Direitos Humanos podem ser recepcionados com status de emenda constitucional no ordenamento jurídico brasileiro. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2009, foi o primeiro a ter força constitucional. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198822/275 • O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) contém as diretrizes, objetivos estratégicos e ações programáticas básicas atualmente consideradas para o estabelecimento de políticas públicas na área de direitos fundamentais e sociais. 7 • Programas de redução da pobreza e promoção da igualdade social. O Plano Brasil sem Miséria, por exemplo, é um programa direcionado a brasileiros que vivem em lares cuja renda familiar per capita é de até R$70,00. De acordo com o censo de 7 <http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito-para-todos/ programas/pdfs/programa-nacional-de-direitos-huma- nos-pndh-3> 2010 estariam nessa situação 16,2 milhões de brasileiros. Este programa pode ser considerado multi setorial, à medida que procura agregar transferência de renda, acesso a serviços públicos, à educação, saúde, assistência social, saneamento e energia elétrica e inclusão produtiva, através do aperfeiçoamento de programas já existentes e criação de novos, em parceria com estados, municípios, empresas públicas e privadas e organizações da sociedade civil, ou seja, com o apoio de todos os atores sociais. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198823/275 Para saber mais Você sabe o que é o programa de BUSCA ATIVA? É uma estratégia do Plano Brasil sem Miséria e tem por objetivo localizar e incluir no Cadastro Único todas as famílias extremamente pobres, além de encaminhá-las para atendimento na rede de proteção social. A ideia é levar o Estado ao cidadão, sem esperar que ele procure a ajuda do poder público. Conheça os detalhes do Plano Brasil Sem Miséria e a estratégia do Busca Ativa no link abaixo: <http://mds.gov.br/assuntos/brasil-sem- miseria/busca-ativa> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198824/275 Glossário Políticas públicas: são conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado direta ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visem assegurar determinado direito garantido ao cidadão e que necessite de estabelecimento de diretrizes e de ações para sua implementação. Democracia participativa: sistema no qual os cidadãos possam participar, diretamente das decisões políticas fundamentais. Tratado internacional: de acordo com a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969, trata- se de um acordo internacional escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, destinado a produzir efeitos jurídicos. Questão reflexão ? para 25/275 O que se entende por rede de proteção social no âmbito do Plano Brasil sem Miséria e quais as medidas efetivas para identificação de beneficiários deste serviço? 26/275 Considerações Finais (1/2) A dignidade da pessoa humana foi alçada a um dos fundamentos basilares da Constituição Federal de 1988, junto ao valor social do trabalho e à livre iniciativa. Muitos dos direitos fundamentais individuais garantidos em nossa Constituição coincidem com as garantias elencadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, como a inviolabilidade do direito à vida, à Liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Com a participação do Brasil em mais de uma organização internacional direcionada à proteção dos direitos humanos, e incorporando elementos dos tratados internacionais mais recentes, a Constituição reflete o respeito e garantia dos direitos humanos em sua concepção mais moderna e completa. Atualmente as diretrizes vigentes a orientar as políticas públicas setoriais e os instrumentos de defesa dos direitos humanos no Brasil estão na terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH III). 27/275 Considerações Finais (2/2) Os direitos sociais atualmente garantidos na Constituição Federal são: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, o direito à moradia e o direito à alimentação. Para efetivar a garantia e promoção destes direitos é que são elaboradas as políticas setoriais específicas, como as de educação, saneamento básico, habitação, saúde, que em geral fazem parte de uma política pública mais abrangente e implementada através da integração entre os diversos setores e atores sociais. Um exemplo dos programas executados a partir destas políticas públicas é o Plano Brasil Sem Miséria. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198828/275 Referências SARLET, Ingo Wolfgang – Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 10.ed.rev.atual e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015. PIOVESAN, Flávia – Direitos Humanos:Desafios da ordem internacional contemporânea, in Caderno de Direito Constitucional – 2006. EMAGIS – Escola da Magistratura do TRF4. TORRES, Ricardo Lobo – A metamorfose dos direitos sociais em mínimo existencial. SARLET, Ingo Wolfgang (organizador). Direitos Fundamentais Sociais: estudos de direito constitucional, internacional e comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. SIMM, Zeno. Os direitos fundamentais e a Seguridade Social. São Paulo, LTR Editora, 2005. 29/275 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição de 1988 Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 5fa182c9f9d6908c998293e3245ad80d>. Aula 1 - Tema: Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição de 1988 Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/0c- cb837a88d7a4234c1bedb8b691ff33>. 30/275 1. Assinale a alternativa errada. Após a Segunda Guerra Mundial, a Declaração dos Direitos Humanos era baseada nos seguintes princípios: a) paz e igualdade entre as nações, independentemente de seus tamanhos b) levar energia elétrica e saneamento aos necessitados c) igualdade de direito dos homens e das mulheres d) promoção do progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla e) estabelecer condições de respeito às obrigações decorrentes de tratados Questão 1 31/275 2. A necessidade de atuação do Estado de forma complementar, para garan- tir o bem-estar social dos seus cidadãos, sob o aspecto dos direitos huma- nos, está ligado a qual direito da Revolução Francesa? a) igualdade b) liberdade c) soberania d) cidadania e) fraternidade Questão 2 32/275 3. Não só bastava o reconhecimento constitucional dos direitos, era ne- cessária sua efetivação. A partir da frase exposta, qual foi a medida ado- tada. a) criação de normas infraconstitucionais b) prática cotidiana de civilidade e boa convivência c) trabalho dos agentes públicos d) medidas de iniciativa privada e) fomento às instituições de caridade Questão 3 33/275 4. A Constituição de 1988, também conhecida como “Constituição Cida- dã” tem ênfase na liberdade de expressão, pois foi resultado de qual mo- mento histórico? a) A Era Vargas b) O fim da ditadura militar c) A queda do império d) A República da Espada e) A Guerra Fria Questão 4 34/275 5. Qual destes itens é um dos eixos orientadores do PNDH-3? a) Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil b) a democracia, a soberania, a liberdade e a justiça c) a relação de respeito mútuo entre as nações d) a divisão dos poderes do Estado e) a necessidade de encanamento em todas as casas Questão 5 35/275 Gabarito 1. Resposta: B. Embora seja uma necessidade a ser suprida pela ação governamental, o fornecimento de energia elétrica e saneamento não são mencionados especificamente como fundamento na Declaração de Direitos Humanos. 2. Resposta: A. A necessidade de atuação ou participação ativa do Estado seria típica do Estado Social de Direito, e relacionada à segunda geração de direitos humanos na divisão defendida por Karel Vasak. 3. Resposta: A. Muitos dos direitos garantidos pela Constituição de 1988 foram considerados não autoaplicáveis, e para que tais direitos fossem efetivados foi necessária a edição de normas infraconstitucionais, que em alguns casos demoraram mais de 5 anos para serem aprovadas e sancionadas. 4. Resposta: B. Durante o período militar que vigorou no Brasil antes de 1988, tivemos três fases com existência da censura, mas o período mais rígido contra a liberdade de expressão no país ocorreu com a publicação do AI- 5, durando de 13/12/1968 até o início do governo Geisel em 1975. 36/275 5. Resposta: A. O PNDH-3 ou Programa Nacional de Direitos Humanos, em sua 3ª edição é organizado a partir de Eixos orientadores, e dentro deles serão alocadas as políticas sociais específicas. São 6 os eixos orientadores: Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil; Desenvolvimento e Direitos Humanos; Universalizar Direitos em um Contexto de desigualdades; Segurança Pública, acesso à justiça e combate à violência; Educação e Cultura em Direitos Humanos; Direito à Memória e à Verdade. Gabarito 37/275 Unidade 2 O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais Objetivos 1. Ter um contato inicial com o conceito e formação do Sistema Jurídico Brasileiro 2. Aprender sobre a Constituição Federal de 1988 e seus princípios básicos 3. Conhecer as normas infraconstitucionais relacionadas aos direitos humanos fundamentais Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais38/275 Introdução O Brasil é um país cujo Direito é apresentado tradicionalmente na forma escrita. Possui uma Constituição rígida que prevê o processo de formulação do direito, das normas que irão regular as relações jurídicas, como competência exclusiva do legislador. A República Federativa do Brasil, organizada na forma de Estado Democrático de Direito, é estruturada por três poderes independentes e harmônicos entre si: Legislativo, Executivo e o Judiciário. O poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara de Deputados e o Senado Federal, cujas atribuições envolvem o processo legislativo no qual são elaboradas: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. O processo legislativo pode ser considerado a fonte formal de direito, cujo resultado é a lei em suas diversas categorias previstas pela Constituição Federal. Esse processo começa pela fase de apresentação de um projeto de lei que apresente um direito novo ou uma modificação em um direito vigente. O projeto poderá ser apresentado pelo Legislativo, pelo Executivo, pelos Tribunais Federais ou pela iniciativa popular, dependendo da matéria a que se refira a norma proposta, de acordo com a Constituição Federal.1 Em seguida inicia- 1 A Constituição Federal dispõe sobre a competência legis- lativa nos seguintes dispositivos: art. 27, §4º; art. 29, XIII; art. 61, §1º e §2º; art. 84, III e XXIII; art. 96, II, a, b, c e d. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais39/275 se o processo de discussão do projeto pelos membros dos corpos legislativos, em alguns casos com a formação de Comissões Especializadas na matéria proposta. A esse projeto podem ser propostas emendas modificativas ou substitutivas antes de nova discussão e aprovação para enfim ser elaborado um texto que será direcionado à fase de Deliberação ou votação. A fase de votação acontece na Câmara e no Senado, e caso o projeto seja aprovado será remetido para a sanção ou veto do Executivo. O Executivo, representado neste ato pelo Presidente da República, também exerce uma parte da função legislativa, pois deve apreciar cada projeto aprovado pelo Legislativo e resolver pela sua aceitação sancionando-o para que seja convertido em Lei, ou pelo veto, rejeitando a proposta. O veto do Executivo ao projeto de lei aprovado pelo Legislativo pode ser total ou parcial e irá ocorrer em duas situações: a) por entender que a norma proposta é inconstitucional; b) por entender que a aprovação da norma é inconveniente de acordo com os critérios de governabilidade que estiver seguindo. Todo esse processo legislativo demonstraa busca pelo equilíbrio entre os Poderes de Estado, a fim de regular as relações jurídicas mantendo a governabilidade do país, de acordo com os preceitos constitucionais. Se o processo legislativo se encerrasse no ato do veto do Executivo ao projeto de lei haveria o perigo de Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais40/275 desequilíbrio de forças. No entanto, o projeto com o veto presidencial volta ao Legislativo para reapreciação e tal ato pode ser rejeitado por maioria qualificada. Se o Legislativo aceitar o veto então encerra- se o processo legislativo. Mas se o veto for rejeitado o projeto será enviado novamente ao Executivo para sanção e promulgação no prazo de 48 horas. Após a promulgação vem a publicação no Diário Oficial, o ato final do processo legislativo, a partir do qual a Lei torna-se pública para a comunidade que será por ela regulada. Vimos acima que um dos motivos do veto presidencial a um projeto de lei pode ser a sua inconstitucionalidade. A Constituição Federal é lei maior de um Estado, e contém os valores, princípios e regras que fundamentam e devem ser seguidos por todo o ordenamento jurídico complementar. O sistema jurídico nacional é formado pela sua Constituição e as normas infraconstitucionais em todas as categorias permitidas em nosso ordenamento. Mas é importante destacar que também podemos considerar a jurisprudência como fonte de direito, inclusive como forma de controle de constitucionalidade. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais41/275 Assim, confirmando a possibilidade e a busca do equilíbrio entre os poderes do Estado, temos a ação do Poder Judiciário exercendo a função de controle de constitucionalidade das normas oriundas do processo legislativo e também decidindo sobre a correta interpretação ou aplicação dessas normas nas relações jurídicas concretizadas. A jurisprudência, através da uniformização das decisões judiciais, forma normas gerais de aplicação de determinadas leis a casos concretos iguais ou semelhantes. Essas decisões se incorporam ao sistema jurídico de tal forma que passam a integrar o direito vigente, e chegam a provocar alterações para readequação da legislação ao posicionamento jurisprudencial. O uso normativo da Jurisprudência no sistema jurídico brasileiro é essencial, à medida que auxilia na aplicação correta da legislação aos casos concretos, como parte dos instrumentos de proteção aos direitos fundamentais dispostos na Constituição. Em alguns casos supre inclusive a lacuna legislativa, quando decide sobre situações que não se enquadram nas hipóteses regulamentadas pelas leis vigentes, mas que podem ser solucionadas pela aplicação de normas análogas, desde que respeitados os princípios constitucionais. 1. Constituição Federal de 1988 A Constituição da República Federativa do Brasil, vigente desde 05/10/1988, e modificada por diversas emendas Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais42/275 constitucionais nos últimos anos, é a Lei Maior do país. Estabelece os direitos fundamentais e todos os princípios que norteiam nosso sistema Jurídico, a estruturação do Estado e o funcionamento dos Poderes, os direitos políticos, sociais, etc. A Constituição Federal traz algumas cláusulas pétreas: dispositivos constitucionais que não podem ser alterados mesmo por Emenda Constitucional (mecanismo previsto para permitir mudanças no texto original). Entre estas cláusulas estão: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais. O preâmbulo da Constituição Federal de 1988 traz a declaração da missão da Assembleia Nacional Constituinte formada em 1987: instituir um Estado Democrático que a partir daquele momento histórico destinava-se a: assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, de modo a garantir a existência de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, socialmente harmoniosa e comprometida com a paz. Os fundamentos elencados como valores principais do Estado Democrático de Direito criado com a Constituição Federal de 1988 são: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais43/275 sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político e a democracia onde todo o poder emana do povo exercido por meio de representantes por ele eleitos. Dentre os objetivos da República e os princípios que regem suas relações internacionais encontram-se como base vários dos Direitos Humanos considerados em sua concepção moderna. São objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Regem as relações internacionais os princípios de: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não- intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político. Conhecida como Constituição Cidadã, pois, nas palavras de Ulisses Guimarães, pronunciadas em sua manifestação enquanto presidente da Assembleia Constituinte em sessão ocorrida em 27 de julho de 1988: “essa será a Constituição cidadã, porque irá recuperar como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações: a miséria. ” Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais44/275 BERWANGER2 aponta que diversas críticas foram feitas à Constituição após sua promulgação em 1988, que variam desde exageros saudosistas anti-democracia até observações pertinentes cujo estudo 2 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Constituição: um olhar sobre minorias vinculadas à seguridade social./ Jane Lucia Wilhelm Berwanger, Osmar Veronese./Curiti- ba: Juruá, 2014. podem nos levar ao aperfeiçoamento da norma constitucional vigente. Assim, o texto constitucional teria erros de grafia ou terminologia mas não é ilógico ou incompreensível; é extensa e detalhista, contém dispositivos que não tratam de matérias tipicamente constitucionais, mas isso não chega a prejudicar a garantia dos direitos, ao contrário, representa bem o contexto histórico em que foi gerada e ainda reproduz o fenômeno ao ampliar garantias contra abusos em Emendas constitucionais recentes; seria utópica, uma carta programática com excesso de direitos previstos, mas “se com uma Constituição muito avançada, “utópica”, com excesso de direitos alegado pelos que a combatem, consegue-se manter milhões em Link Acesse a íntegra deste pronunciamento no link abaixo: <http://www2.camara.leg.br/ atividade-legislativa/plenario/discursos/ escrevendohistoria/discursos-em- destaque/serie-brasileira> Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais45/275 pobreza extrema, imaginem se esses direitos não fossem constitucionalizados?!”3 É evidente que existem problemas sérios relacionados à nossa Lei Maior, como por exemplo a inércia e demora na regulamentação dos dispositivosque necessitavam de lei infraconstitucional para serem aplicáveis. E pouco tempo depois de alguns dispositivos serem regulamentados já ocorria a reforma do texto constitucional através de emendas constitucionais, a primeira ainda em 1992 alterando dispositivo referente a remuneração de Deputados estaduais e vereadores! 3 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. idem Considerado o cenário de falta de consenso político nos últimos anos, esse excesso de mudanças no texto constitucional é temerário, causando insegurança jurídica na comunidade. Principalmente no tema da Seguridade Social, as alterações legislativas ocorridas nos últimos 20 anos, constitucionais e infraconstitucionais, representaram de modo significativo uma restrição de direitos anteriormente garantidos, com a justificativa de necessidade de ajustes em prol do equilíbrio econômico-financeiro do Sistema de Seguridade Social. Há muitos temas pendentes de julgamento no STF relacionados a estas mudanças legislativas, que aguardam uma análise sob o aspecto do princípio da proibição Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais46/275 do retrocesso social e da salvaguarda dos direitos sociais vinculados à garantia do mínimo existencial. Pois a lesão ao mínimo existencial caracterizada pelo retrocesso de um direito anteriormente garantido, pela insuficiência de proteção, significará sempre uma violação desproporcional à dignidade humana. E a questão aqui será ao mesmo tempo o reconhecimento de um princípio implícito no texto constitucional, e a definição da amplitude e limites do que seja o mínimo existencial, ou a que e quanto corresponderiam as prestações materiais indispensáveis para uma vida com dignidade para todas as pessoas, considerando-se que “ o conteúdo do mínimo existencial para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstâncias históricas, geográficas, sociais, econômicas e culturais em cada lugar e momento em que estiver em causa, mas varia também conforme a natureza do direito social em particular (moradia, saúde, assistência social...)”4. 4 SARLET, Ingo Wolfgang. A assim designada proibição de retrocesso social e a construção de um direito constitucio- nal comum latino-americano. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte, ano 3, n. 11, jul./ set. 2009. Consultado em 17/08/2015. Disponível em <http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/hand-le/1939/13602/007_sarlet.pdf?sequence=4> Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais47/275 2. Normas infraconstitucionais Os instrumentos legais infraconstitucionais do ordenamento jurídico brasileiro: as leis complementares e leis ordinárias cuja iniciativa cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos na Constituição; as medidas provisórias, cuja iniciativa cabe ao Presidente da República em caso de relevância e urgência, e têm natureza temporária e força de lei, com processo legislativo específico de submissão ao Congresso Nacional; as leis delegadas; os decretos legislativos; as resoluções; ainda, de competência dos Ministros de Estado com a finalidade de expedir instruções para a execução das leis, há os Decretos regulamentares. Para saber mais Você sabia que já são mais de 85 emendas constitucionais aprovadas desde a promulgação da Constitucional Federal de 1988? Acesse o link abaixo para ter acesso ao quadro das Emendas Constitucionais e seus textos integrais. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Emendas/Emc/quadro_emc. htm> Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais48/275 No contexto da administração pública há ainda a emissão de Instruções normativas, ordens de serviço, e orientações internas, sempre com o objetivo de uniformizar entendimentos e interpretações sobre a melhor forma de aplicação da legislação, em conformidade com os decretos regulamentares e a legislação. Deve-se tomar muito cuidado ao estudar qualquer tema através das Instruções normativas emitidas pela administração pública para consulta e orientação de seus servidores, pois não possuem caráter normativo oficial, não podendo ser considerados fonte formal de direito, e em muitos casos possuem falhas interpretativas que podem levar à lesão de direitos do cidadão. Para saber mais Você sabia que é vedada a edição de Medida Provisória: sobre matéria relativa a nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos, direito eleitoral, direito penal, processual penal e processual civil, organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares; que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; de matéria reservada a lei complementar (aprovada por maioria absoluta); de matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto presidencial. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais49/275 Na regulamentação dos direitos sociais relacionados à Seguridade Social, que serão objeto de nosso estudo nas próximas aulas desta disciplina, podemos relacionar as seguintes normas infraconstitucionais. 2.1 – Direito à Previdência Social Na Constituição Federal estão previstos: nos arts. 6º e 7º os direitos à previdência social, à aposentadoria e ao seguro contra acidentes do trabalho dos trabalhadores urbanos e rurais e domésticos, ao salário mínimo e ao décimo terceiro salário, ao salário-família pago ao trabalhador de baixa renda; no art. 40 as regras do Regime de Previdência dos servidores Para saber mais Após serem examinadas pelo Congresso Nacional, as medidas provisórias deverão ser convertidas em lei ordinária, se aprovadas, num prazo de 60 dias prorrogáveis por mais 60. Se rejeitadas, tacitamente ou expressamente, perdem a eficácia desde sua edição, e o Congresso Nacional deverá regular as relações jurídicas que surgiram a partir de sua vigência através de decreto legislativo no prazo de 60 dias a partir da perda de eficácia. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais50/275 públicos; no art. 201 a previsão do Regime Geral de Previdência Social e no art. 202 o Regime de Previdência Complementar. A legislação infraconstitucional que regulamenta os Regimes de Previdência Social é representada principalmente pelos instrumentos abaixo relacionados: • Lei nº 8213/91 – Lei de benefícios da Previdência Social; • Lei nº 8212/91 – Lei de custeio de Previdência Social; • Lei nº 9876/99 – Lei que altera o cálculo da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários; • Lei nº 10.666/2003 – Lei que despreza a perda da qualidade de segurado para as aposentadorias por idade; • Lei complementar nº 142/2013 – Aposentadoria especial da pessoa com deficiência no RGPS; • Decreto nº 8.145/2013 – Regulamenta a aposentadoria da pessoa com deficiência; • Lei nº 13.135/2015 – Altera as regras do benefício de pensão por morte, o cálculo da renda mensal do auxílio- doença; • Decreto nº 3048/99 – Regulamento de Previdência Social; • Instrução Normativa nº 77/2015 Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais51/275 • LC nº 108/2001 – Dispõe sobre entidadesfechadas de Previdência Complementar; • LC nº 109/2001 – Dispõe sobre o Regime de Previdência Complementar; • Lei nº 12.618/2012 – Institui o Regime de Previdência Complementar dos servidores públicos federais; • Decreto nº 7.808/2012 – Cria a Funpresp-Exe, Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo. • Lei nº 9.717/98 – Dispõe sobre os Regimes Próprios de Previdência 2.2 – Direito à Assistência So- cial A Constituição Federal prevê o sistema de Assistência Social como uma das dimensões ou subsistemas da Seguridade Social no art. 203. A assistência social será prestada independente de contribuição a quem dela necessitar com os objetivos de proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, o amparo às crianças e adolescentes carentes, a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação, reabilitação e promoção da integração à vida comunitária das pessoas com deficiência. Ainda garante de forma não contributiva o direito ao benefício Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais52/275 de prestação continuada assistencial equivalente ao valor de um salário mínimo à pessoa com deficiência ou ao idoso que comprovem não possuir meios de subsistência ou de tê-la provida por sua família. A Assistência Social é financiada pelo orçamento da Seguridade Social, além de outras fontes. E é organizada de forma descentralizada a fim de atingir quem dela necessitar de forma mais eficaz. A coordenação e as normas gerais cabem à esfera federal da organização político- administrativa da Assistência Social, mas sua execução cabe às esferas estadual e municipal, às entidades beneficentes e de assistência social, sendo incentivada a participação da população através de organizações representativas em todos os níveis, permitindo assim a ampliação da rede de proteção necessária. A legislação infraconstitucional que podemos destacar no tema de Assistência Social, embora algumas leis não tratem exclusivamente de direitos assistenciais, segue abaixo relacionada: • Lei nº 8742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social; • Lei nº 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência; • Decreto nº 6.214/2007 – Regulamento do Benefício de Prestação Continuada (Loas); • Lei nº 8.842/94 – Lei da Política Nacional do Idoso; Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais53/275 • Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso; • Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente; • Instrução normativa nº 2/2014 – orienta procedimentos para a aposentadoria do servidor com deficiência, por analogia com a Lei do RGPS; • Portaria Interministerial nº 1/2014 – aprova o instrumento de avaliação dos graus de deficiência para fins de benefício (índice de funcionalidade); • Lei nº 10.836/2004 – Bolsa Família; • Lei nº 12.513/2011 – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); • Lei nº 11.346/2006 - Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN. 2.3 – Direito à saúde Um dos direitos sociais previstos no art. 6º, a garantia à saúde também está prevista no art. 196 e seguintes da Constituição Federal, que define o subsistema Saúde no âmbito da Seguridade Social. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais54/275 Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único: SUS. A legislação infraconstitucional relacionada à Saúde compreende a Lei nº 8080/1990 – a Lei Orgânica da Saúde, regulamentada pelo Decreto nº 7.508/2011. O SUS está regulamentado através da Portaria nº 2.048/2009. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais55/275 Glossário Sistema jurídico: é um conjunto dinâmico de normas que regulam as relações jurídicas de um determinado grupo, por exemplo o Sistema Jurídico Brasileiro. Jurisprudência: é um conjunto de decisões uniformes e constantes, emitidas pelos Tribunais em sua atividade jurisdicional, sobre situações de aplicação da norma a casos semelhantes, tratando da mesma matéria. Constituição Rígida: classificação das Constituições quanto à estabilidade. É rígida a “constituição somente alterável mediante processos, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação de leis ordinárias ou complementares”, conforme José Afonso da Silva15. 5 SILVA, José Afonso da. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO. 23ª edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2004. Questão reflexão ? para 56/275 Considerando os direitos humanos aqui estudados e a estrutura de seguridade social criada pela Constituição Federal de 1988, você entende que a garantia destes direitos humanos (no todo ou em parte deles) em relação a estrangeiros residentes no Brasil, dependeria da existência de acordos de reciprocidade entre as nações? Pesquise um pouco sobre a garantia destes direitos no Brasil. E considere a notícia16 reproduzida abaixo em suas pesquisas: 6 Acessado em 02/09/2015 e disponível para consulta no link: <http:// www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=noticia_visualizar&id_ noticia=11214> Questão reflexão ? para 57/275 Nacionalidade estrangeira não impede que idoso tenha acesso a benefício assistencial Um italiano morador de Porto Alegre tem direito a benefício assistencial ao idoso garantido. A decisão é do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que manteve, na última semana, sentença que confirmou que a nacionalidade estrangeira não impede o acesso à ajuda assistencial. O homem alegou não ter condições econômicas de se manter, e recorreu à Justiça depois de ter o pedido de amparo negado pelo INSS sob o argumento de que esse auxílio é destinado apenas aos brasileiros. A defesa alegou que, de acordo com a Lei n° 8.742/93, a nacionalidade estrangeira, único motivo citado pelo órgão para rejeitar o benefício, não impede a concessão, sendo sua situação no país regular. Questão reflexão ? para 58/275 O juízo de primeira instância aceitou o pedido e o INSS recorreu ao tribunal alegando que a legislação fala em “cidadão”, o que se refere a nato ou naturalizado. A 5ª Turma negou o recurso. Conforme a relatora do processo, juíza federal convocada Taís Schilling Ferraz, “a condição de estrangeiro, ainda que não naturalizado, não impede a concessão de benefício assistencial ao idoso, porque a Constituição Federal, em seu artigo 5º, garante ao estrangeiro residente no país o gozo dos direitos e garantias individuais em igualdade de condições com o nacional”. Questão reflexão ? para 59/275 Benefício assistencial ao idoso Visando ao cumprimento do art. 6º da Constituição, que assegura a assistência aos desamparados, a Lei n° 8.742, de 1993, garantiu uma série de auxílios, entre eles o benefício assistencial ao idoso, no valor de um salário mínimo. Para solicitá-lo, é necessário ter 60 anosou mais e comprovar a condição de carência. 60/275 Considerações Finais (1/2) A Constituição Federal é a Lei Maior do país e define os fundamentos que devem ser seguidos por todas as demais leis. A Constituição Federal de 1988 é considerada o marco legal de início de garantia ou proteção de diversos direitos sociais, cuja abrangência ou amplitude ali adotada significaram grandes avanços. Por isso foi muito criticada, sendo considerada utópica ou meramente programática. Para a implementação de parte dos direitos sociais garantidos, foi criado constitucionalmente o Sistema da Seguridade Social, estrutura composta por três subsistemas relacionados a direitos fundamentais do cidadão: Saúde, Previdência Social e Assistência Social. A legislação infraconstitucional regulamentando os direitos sociais garantidos na Constituição Federal de 1988 tardou a surgir, e em alguns casos já foi severamente reformada, chegando a provocar polêmicos retrocessos sociais. 61/275 Considerações Finais (2/2) Nos últimos anos o embate tem sido entre as tentativas do governo para atingir o equilíbrio fiscal e a reforma da legislação de direitos sociais, considerada por muitos como uma das causas de déficit público. Em alguns casos havendo o retrocesso, mas em outros implantando-se novos direitos conquistados, como por exemplo nos casos da legislação definidora de direitos de pessoas com deficiência. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais62/275 Referências BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Constituição: um olhar sobre minorias vinculadas à seguridade social./ Jane Lucia Wilhelm Berwanger, Osmar Veronese./Curitiba: Juruá, 2014. SILVA, José Afonso da. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO. 23ª edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2004. SARLET, Ingo Wolfgang. A assim designada proibição de retrocesso social e a construção de um direito constitucional comum latino-americano. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte, ano 3, n. 11, jul./set. 2009. Consultado em 17/08/2015. Disponível em <http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/13602/007_sarlet.pdf?sequence=4> 63/275 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ dfd1d69166fe0396234989eeb4f1ea7a>. Aula 2 - Tema: O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 6430703f2b62c440cd4dbf5f137f8934>. 64/275 1. O processo legislativo começa pela fase: a) do veto b) da apresentação de projeto c) da discussão de emendas d) de sanção e) de votação Questão 1 65/275 2. A decisão de veto ou sanção de um projeto de lei é competência do: a) presidente do Supremo Tribunal Federal b) presidente da Câmara dos Deputados c) presidente do Senado d) deputado federal mais votado e) presidente da República Questão 2 66/275 3. Para Ulisses Guimarães qual era a pior das discriminações? a) a soberba b) o racismo c) a miséria d) a doença e) a tirania Questão 3 67/275 4. Assinale a alternativa correta: a) Os benefícios e prestações da previdência social não dependem de contribuição prévia. b) O benefício de prestação continuada assistencial é devido ao idoso maior de 60 anos de idade que comprovar não ter renda própria. c) A Saúde é direito de todos e dever do Estado, com acesso universal e igualitário. d) É proibida a participação popular na implementação de políticas públicas de Assistência Social. e) A Saúde só pode ser atendida por empresas privadas Questão 4 68/275 5. Assinale qual lei não se refere ao Sistema de Seguridade Social: a) Lei nº 8213/91 – Lei de benefícios da Previdência Social b) Lei complementar nº 142/2013 – Aposentadoria especial da pessoa com deficiência no RGPS c) Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente d) Lei nº 8742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social e) Lei nº 6697/79 – Código de Menores Questão 5 69/275 Gabarito 1. Resposta: B. O processo legislativo obedece uma estrutura formal que se inicia sempre pela apresentação de um projeto ou proposta de lei. 2. Resposta: E. Após a aprovação do Senado, o projeto de lei segue para exame do titular na Presidência da República que poderá vetar ou sancionar o mesmo. 3. Resposta: C. Ulisses Guimarães considerava a Constituição de 1988 como “cidadã” porque esta recuperaria milhares de brasileiros como cidadãos ao tirá-los da miséria. 4. Resposta: C. A Saúde é um dos subsistemas da Seguridade Social caracterizada pela universalidade de acesso, pela qual não se exigem contribuições prévias. 5. Resposta: E. O Código de Menores é legislação anterior aos direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988 e restringia-se à disciplinar as regras de vigilância do menor infrator (ou delinquente) e a amparar as crianças abandonadas. 70/275 Unidade 3 Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social Objetivos 1. Conceituar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade social 2. Relacionar os princípios da dignidade e da solidariedade social aos direitos sociais 3. Analisar a seguridade social no contexto dos princípios da dignidade e solidariedade Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social71/275 Introdução Os princípios constitucionais são normas que servem de diretrizes, vinculam a interpretação de todo o texto legal construído sobre si. Eles têm como fundamento os valores, que prescindem o ordenamento jurídico. Os valores são inerentes ao homem, fazem parte do ser. Desta forma os princípios, fundamentados nos valores, são o “dever-ser”. Para Roque Carraza1 “princípio jurídico é um enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes do direito e, por isso mesmo, vincula, de modo inexorável, o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que com ele se conectam.” 1 CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito Constitu- cional tributário. 11 Ed. rev. atua. amp. São Paulo: Ma- lheiros Editores, 1998. Há vários conceitos definidos pelos doutrinadores em busca de um significado para os princípios, em especial na busca de diferenciá-los das regras, e na busca de estudar sua eficácia jurídica, ou seja, o que se pode exigir judicialmente com fundamento em tais normas. No entanto há um consenso no que se refere à função dos princípios: enquanto fundamento da ordem jurídica, orientadora ou determinante na interpretação da norma e fonte em caso de lacuna da lei. A violação a um princípio constitucional seria assim a violação à ordem jurídica como um todo. Dentre os princípios consagrados na Constituição Federal de 1988 podemos destacar o princípio da dignidade Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social72/275 da pessoa humana e o princípio da solidariedade social. Já no preâmbulo da Constitucional, que contém uma declaração dos valores que norteiam todas as normas ali engendradas, as intenções da Assembleia Constituinte incluem a dignidade e a solidariedade, embora não com estes exatos termos. Ao incluir como objetivos e valores supremos do Estado Democrático de Direito a garantia de diversos direitos humanos fundamentais, entre os quais a liberdade, a igualdade,a segurança e a justiça, o constituinte estabelecia ainda que implicitamente a preponderância do princípio (ou super valor) da dignidade humana. Já o princípio da solidariedade pode ser identificado na descrição da sociedade que será normatizada pelo Estado Democrático de Direito assim criado: uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida com a solução pacífica das controvérsias. Em seguida, o texto constitucional traz a previsão expressa do princípio da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Ela está relacionada no art. 1º, III, ao lado do valor social do trabalho e da livre iniciativa e da cidadania. Esclarecer o significado ou conceito da expressão “dignidade da pessoa humana” tem sido um desafio. Certamente é mais simples apreender o que seria lesivo à dignidade do ser humano do que necessariamente Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social73/275 compreender o que a compõe. Afinal, não seriam o exercício da cidadania e a capacidade e oportunidade de trabalhar essenciais para garantir a dignidade humana? Pode-se interpretar, por exemplo, considerada a indivisibilidade dos direitos humanos fundamentais, que a violação a qualquer destes princípios seria a violação à dignidade. Tomemos como exemplo a decisão da Ministra Rosa Weber em julgamento de 29-03-2012 no Inquérito nº 3.412, em que os princípios acima relacionam-se diretamente: A ‘escravidão moderna’ é mais sutil do que a do século XIX e o cerceamento à liberdade pode decorrer de diversos constrangimentos econômicos e não necessariamente físicos. Priva-se alguém de sua liberdade e de sua dignidade tratando-o como coisa, e não como pessoa humana, o que pode ser feito não só mediante coação, mas também pela violação intensa e persistente de seus direitos básicos, inclusive do direito ao trabalho digno. A violação do direito ao trabalho digno impacta a capacidade da vítima de realizar escolhas segundo a sua livre determinação. Isso também significa ‘reduzir alguém a condição análoga à de escravo’.” (Inq 3.412, rel. p/ o ac. min. Rosa Weber, julgamento em 29- 3-2012, Plenário, DJE de 12-11-2012.) Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social74/275 O princípio da solidariedade também aparece expresso no texto constitucional, no art. 3º, I, que estabelece como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Esta sociedade solidária aparece posteriormente em diversos dispositivos, ainda que de forma implícita, em alguns casos de forma obrigatória, outras como possibilidade de participação em alguma questão social. Nesse sentido podemos tomar como exemplo, novamente através de uma jurisprudência do STF – Supremo Tribunal Federal, tema relacionado à Seguridade Social, que será objeto de nossos estudos. O Ministro Eros Grau destaca a relação entre o princípio da solidariedade no custeio da Previdência Social com o princípio da isonomia. O sistema público de previdência social é fundamentado no princípio da solidariedade (art. 3º, I, da CB/1988), contribuindo os ativos para financiar os benefícios pagos aos inativos. Se todos, inclusive inativos e pensionistas, estão sujeitos ao pagamento das contribuições, bem como aos aumentos de suas alíquotas, seria flagrante a afronta ao princípio da isonomia se o legislador distinguisse, entre os beneficiários, alguns mais e outros menos privilegiados, eis que todos contribuem, conforme as mesmas regras, para financiar o sistema. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social75/275 Se as alterações na legislação sobre custeio atingem a todos, indiscriminadamente, já que as contribuições previdenciárias têm natureza tributária, não há que se estabelecer discriminação entre os beneficiários, sob pena de violação do princípio constitucional da isonomia.” (RE 450.855-AgR, rel. min. Eros Grau, julgamento em 23-8- 2005, Primeira Turma, DJ de 9-12-2005.) Vamos examinar estes princípios e seus significados com mais detalhe, ao longo do texto constitucional. 1. Dignidade da Pessoa Humana A Assembleia Constituinte, que gerou a Constituição Federal de 1988, tinha como contexto político social o regime militar e todo o tipo de desrespeito à pessoa humana praticado na ocasião, como a tortura física e psicológica. Daí a inclusão da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito disposto em nossa Constituição. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social76/275 A dignidade da pessoa humana, como bem afirma José Afonso da Silva2, não é uma criação constitucional, mas um conceito preexistente por esta reconhecido e transformado em valor supremo da ordem jurídica, alçado a um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. E assim deve ser considerado um princípio da ordem jurídica, política, social, econômica e cultural. Assim, a proteção constitucional não se resume à proteção dos direitos 2 SILVA, José Afonso da. Interpretação da Constituição – em I Seminário de Direito Administrativo de 30 de maio a 03 de junho de 2005. Consultado em 18/08/2015, disponível em <http://www.tcm.sp.gov.br/legislacao/ doutrina/30a03_06_05/jose_afonso1.htm> e em R. Dir. Adm., Rio de Janeiro, 212: 89-94, abr./jun. 1998 disponí- vel em <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/ article/download/47169/45637> individuais tradicionais, mas de assegurar a existência digna em todos os aspectos, reconhecidos aqui os direitos humanos em sua concepção contemporânea, que além do caráter universal integra um conceito ambiental, expandindo o que seria o mínimo existencial necessário para uma vida digna para além dos recursos básicos de alimentação e saúde. Além de estabelecer um norte para todo o texto constitucional, tendo sido colocado como um dos principais fundamentos do Estado Democrático de Direito, o princípio da dignidade humana ainda aparece expressamente em outros dispositivos. Vejamos alguns exemplos. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social77/275 O valor social do trabalho e a livre iniciativa são reafirmados como condição para a existência de uma vida digna no capítulo que trata dos princípios que regem a Ordem Econômica e Financeira do Estado brasileiro. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios(...) Em relação aos princípios do valor social do trabalho e da dignidade humana, os “princípios gerais da atividade econômica” relacionados no art. 170 da CF, podem ser considerados subprincípios. Uma análise destes princípios relacionados no texto constitucional nos leva ao questionamento sobre a natureza do direito ali declarado, se positivo ou negativo. Ou seja, o significado de “a ordem econômica assegurar a existência digna observado o princípio da busca da livre concorrência” seria não apenas “permitir ou não impedir a livre concorrência” (obrigação negativa) como também “agir de forma a promover, a dar condições para que exista a livre concorrência” (obrigação positiva). O mesmo raciocínio pode ser feito com os princípios da defesa do consumidor, da busca do pleno emprego, da defesa do meio ambiente, da redução das desigualdades regionais e sociais. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social78/275 Neste sentido podemos entender a responsabilidade e a necessidade das
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