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SEGURIDADE SOCIAL

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Direitos e Seguridade Social
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Direitos e Seguridade Social
Autora: Viviane Masotti
Como citar este documento: MASOTTI, Viviane. Direitos e Seguridade Social. Valinhos: 2015.
Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no 
Brasil Pós- Constituição De 1988
07
Assista a suas aulas 29
Unidade 2: O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais 37
Assista a suas aulas 63
Unidade 3: Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social 70
Assista a suas aulas 99
Unidade 4: Conceito e Proteção de Direitos Humanos 106
Assista a suas aulas 127
Unidade 5: Marco Legal da Seguridade Social 135
Assista a suas aulas 168
2/275
3/2753
Unidade 6: Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e 
do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas 
Públicas
176
Assista a suas aulas 208
Unidade 7: Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência 217
Assista a suas aulas 243
Unidade 8: Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios 251
Assista a suas aulas 268
Sumário
Direitos e Seguridade Social
Autora: Viviane Masotti
Como citar este documento: MASOTTI, Viviane. Direitos e Seguridade Social. Valinhos: 2015.
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Apresentação da Disciplina
A disciplina de Direitos e Seguridade Social 
tem por objetivo proporcionar ao aluno 
o conhecimento de quais são os direitos 
sociais fundamentais do cidadão, de 
acordo com a Constituição da República 
Federativa do Brasil. E de que forma são ou 
podem ser protegidos e garantidos estes 
direitos, de acordo com o marco legal das 
políticas setoriais e de defesa de direitos. 
Os desafios contemporâneos têm exigido 
uma atuação integrada do Estado e 
da sociedade, através de seus diversos 
agentes na solução das demandas sociais. 
As intervenções praticadas por estes 
agentes devem ser balizadas por um 
conhecimento técnico-científico do Direito 
Social. Esta disciplina do MBA em Gestão 
Social, traz a fundamentação jurídica 
que introduz ao aluno a importância e a 
necessidade destas intervenções. 
O aluno do MBA em Gestão Social poderá, 
a partir da ampliação do seu conhecimento 
dos direitos sociais e dos instrumentos 
disponíveis para sua efetivação, ter uma 
atuação aperfeiçoada, seja enquanto 
profissional envolvido na área ou enquanto 
membro da sociedade civil pertencente à 
rede ativa de proteção destes direitos. 
A Constituição Federal de 1988 é 
conhecida como a “Constituição Cidadã”, 
porque, ao contrário das Constituições 
anteriores, parte do ser humano e não 
do Estado como diretriz filosófica para 
configurar garantias e direitos individuais 
condizentes com a proteção aos Direitos 
Humanos. 
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O conjunto de discussões e normas, 
formado a partir do processo 
constituinte iniciado em 1987 e pelo 
texto constitucional final daí originado, 
representa o maior período democrático 
vivenciado no Brasil até então. 
Esse período democrático foi precedido 
pelo movimento das “Diretas Já”. A 
reivindicação da população por eleições 
presidenciais diretas, pela possibilidade 
de o povo escolher seu representante 
político, contrariando o regime militar 
vigente na época. O Brasil vivia desde 
abril de 1964 uma Ditadura Militar, na qual 
foram amplamente praticadas, de modo 
oficial, legalizados por Atos Institucionais: 
a censura aos meios de comunicação e 
expressão livre, a repressão aos opositores, 
a perseguição política, a supressão de 
direitos constitucionais. Enfim, a total falta 
de democracia e o desrespeito a muitos 
dos direitos hoje reconhecidos como 
fundamentais do cidadão. 
Como uma reação a esse período e em 
busca da construção de um Estado 
Democrático de Direito que permitisse 
o surgimento de uma sociedade 
fraterna e solidária, caracterizada pelo 
desenvolvimento e pelo bem-estar-
social, nasce uma Constituição Federal 
extensa e detalhista. No entender de vários 
críticos, uma “carta de intenções ampla e 
genérica”, com garantia de direitos cuja 
regulamentação demorou ainda alguns 
anos, e sua efetiva aplicação outros tantos. 
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Nesta disciplina buscamos explicitar: quais 
são estes direitos fundamentais garantidos 
pela Constituição Federal de 1988; em 
que medida foram influenciados pelas 
Emendas Constitucionais (as alterações 
no texto original já passam de 80); quais 
são as legislações infraconstitucionais 
regulamentadoras dos direitos sociais; 
quais as medidas desenvolvidas 
pelo Estado e pela Sociedade para a 
concretização e garantia desses direitos e 
quais as perspectivas para o futuro.
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Unidade 1
Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-
Constituição De 1988
Objetivos
1. Ter um primeiro contato com os direitos 
sociais garantidos pela Constituição de 
1988.
2. Relacionar os direitos individuais 
fundamentais com os Direitos Humanos
3. Entender os direitos sociais enquanto 
evolução dos direitos humanos
4. Compreender a necessidade de políticas 
de defesa de direitos a partir das 
garantias constitucionais
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 19888/275
Introdução
A Constituição Federal de 1988 trouxe 
grande avanço, principalmente no 
reconhecimento de Direitos Fundamentais 
aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no Brasil, bem como nos 
princípios que regem suas relações 
internacionais. Busca garantir a criação 
de um Estado Democrático de Direito, 
para assegurar o respeito, a proteção e 
a viabilização do exercício dos direitos 
civis, políticos, sociais e individuais, a 
Liberdade, a segurança, o bem-estar, o 
desenvolvimento, a igualdade e a justiça 
como valores de uma sociedade fraternal, 
pluralista e sem preconceitos fundada na 
harmonia social, ainda que isso significasse 
a ampliação da intervenção estatal na 
sociedade. 
A Constituição e, por consequência, todas 
as normas derivadas a partir daí têm como 
fundamento maior os valores da dignidade 
da pessoa humana, o valor social do 
trabalho e a livre iniciativa. 
Busca-se garantir a formação de uma 
sociedade solidária, cujas relações internas 
e externas devem se pautar pela prevalência 
dos direitos humanos. Assim como 
aconteceu com outros países na mesma 
época, a Constituição de 1988 ampliou 
o sistema de proteção social a partir do 
reconhecimento, em seus princípios 
basilares, dos direitos humanos em sua 
concepção mais moderna e completa, 
derivada dos Tratados Internacionais, em 
especial após a Declaração Universal dos 
direitos humanos de 1948.
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 19889/275
Na maioria das situações, não bastava 
o reconhecimento constitucional de 
direitos humanos e a definição dos direitos 
fundamentais correspondentes, entre os 
quais os direitos sociais ampliados. Era 
também necessária a regulamentação 
desses direitos, com a edição de norma 
infraconstitucional que possibilitasse a 
efetivação dessa proteção social.
Nesse sentido, enquanto se discutia 
no legislativo como tais direitos seriam 
regulamentados, o Estado manteve suas 
políticas públicas setoriais atreladas à 
legislação preexistente. Mas à medida 
que o legislativo incorporava os direitos 
humanos no ordenamento jurídico 
nacional, já durante a década de 90, as 
políticas públicas do Poder Executivo 
passaram a seguir sua orientação e 
instituições e programas sociais foram 
criados para implementar tais direitos.As diretrizes para implementação dos 
direitos humanos recém reconhecidos e 
positivados constitucionalmente foram 
criadas em 1996 através do PNDH I – o 
primeiro Programa Nacional de Direitos 
Humanos, cuja preocupação central era a 
garantia de direitos civis e políticos, embora 
a Constituição já tivesse determinado 
outros direitos fundamentais essenciais 
à dignidade, em conformidade com a 
indivisibilidade dos direitos humanos trazida 
pela Declaração Universal dos Direitos 
Humanos de 1948 e suas posteriores 
reiterações. Estes direitos sociais, 
econômicos e culturais foram incorporados 
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198810/275
ao Programa Nacional de Direitos Humanos 
apenas em 2002 (PNDH II). 
A partir de então foram realizadas no 
Brasil diversas ações de promoção dos 
direitos humanos através da criação de 
instrumentos de participação social nas 
políticas públicas sobre temas sociais; 
criação de Conselhos Nacionais Setoriais 
(educação, criança e adolescente, 
saúde); criação de Secretarias Especiais 
para formulação de políticas públicas 
relacionadas a Direitos Humanos; criação 
de Comissão de Direitos Humanos 
no Legislativo e Executivo; criação de 
mecanismos judiciais de controle e 
procedimentos jurisdicionais visando a 
acessibilidade e celeridade processuais. Na 
sequência houve a descentralização destes 
instrumentos protetivos, com a criação 
de estruturas estaduais e municipais 
para a promoção dos direitos humanos, 
permitindo a criação de programas 
locais de proteção de direitos a partir das 
diretrizes estabelecidas pelo PNDH. 
Já prevista na Constituição Federal de 
1988, a participação popular através dos 
direitos políticos ao plebiscito, referendo e 
iniciativa popular, foram regulamentados 
apenas pela Lei nº 9.709 de 18/11/98. 
Mas em 1990 já se institucionalizava a 
participação nos conselhos setoriais, 
através da Lei nº 8142 que dispunha sobre 
a participação popular na gestão do SUS. 
Entre 2003 e 2011 foram realizadas mais 
de 70 Conferências Nacionais Temáticas 
para debater sobre necessidades 
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198811/275
diversidade cultural e social, e as 
desigualdades econômicas e estruturais, 
o desafio tem sido coordenar as ações 
de defesa dos direitos humanos em seus 
diversos aspectos e garantir a efetividade 
das garantias constitucionais. 
da comunidade e possíveis políticas 
públicas para suprir tais necessidades, 
com participação direta de cidadãos 
consolidando a democracia participativa 
no país. 
A partir destas conferências com 
participação da comunidade, e após a 
11ª Conferência Nacional dos Direitos 
Humanos, surge a terceira edição do 
Programa Nacional de Direitos Humanos, 
incorporando elementos dos tratados 
internacionais mais recentes e traçando 
as diretrizes atualmente vigentes a 
orientar as políticas públicas setoriais e 
os instrumentos de defesa dos direitos 
humanos no Brasil. 
Diante destas diretrizes, considerada 
a extensão de nosso território, nossa 
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198812/275
1. Direitos Humanos e Direitos 
Sociais
Para Ingo Wolfgang Sarlet1, “hoje se 
tem como praticamente incontroversa a 
existência de um liame entre a dignidade 
da pessoa e os direitos humanos e 
fundamentais”. 
A dificuldade tem sido então, estabelecer 
como se dá essa relação, e principalmente 
quais os conteúdos e significados desses 
conceitos para a sociedade regulada pela 
ordem jurídica daí derivada. 
1 SARLET, Ingo Wolfgang – Dignidade (da pessoa) huma-
na e direitos fundamentais na Constituição Federal de 
1988. 10.ed.rev.atual e ampl. – Porto Alegre: Livraria do 
Advogado Editora, 2015.
Para saber mais
Você sabia que o SUAS – Sistema Único de 
Assistência Social foi criado por deliberação 
da Conferência Nacional de Assistência Social 
em 2003, com modelo similar ao SUS – Sistema 
Único de Saúde, reafirmando o seu caráter de 
política pública com participação popular e não 
como caridade? 
Acesse o artigo sobre “Participação 
Popular – A construção da democracia 
participativa” na revista do IPEA (Instituto de 
Pesquisa Econômica Aplicada) “Desafios do 
Desenvolvimento” Edição 65 de 05/05/2011 
no link abaixo: <http://www.ipea.gov.
br/desafios/index.php?option=com_
content&id=2493:catid=28&Itemid=23>
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198813/275
A concepção contemporânea de direitos humanos, considerando-se a evolução filosófica-
histórica destes, caracteriza-se pelo significado universalista e indivisível, originário da 
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. Após as atrocidades praticadas na 
Segunda Guerra Mundial, sobretudo pelos nazistas, em meio aos esforços de reconstrução 
das cidades e economias envolvidas nos combates, 50 países (exceto os pertencentes ao Eixo) 
assinaram a Carta das Nações Unidas, criando a ONU, com o propósito de estimular uma união 
entre as nações e manter entre elas uma relação sem conflitos, a fim de evitar novas guerras, 
potencialmente tão devastadoras quanto a última. Ali já surgiam os fundamentos iniciais do 
que hoje temos por direitos humanos, ainda que pouco detalhados:
“NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as 
gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço 
da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a 
fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser 
humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como 
das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a 
justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes 
do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso 
social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.”
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198814/275
É com base nesses mesmos princípios 
que a ONU adota a partir de 1948 
a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, detalhando quais seriam esses 
direitos através dos quais se garantiria a 
dignidade inerente a qualquer ser humano. 
“Sob o prisma da reconstrução dos direitos 
humanos, no Pós-Guerra, há, de um lado, 
a emergência do “Direito Internacional dos 
Direitos Humanos”, e, por outro, a nova feição 
do Direito Constitucional ocidental, aberto a 
princípios e a valores. ”2
Foi nesse espírito de readequação 
dos direitos constitucionais que 
diversas nações incluíram em suas leis 
2 PIOVESAN, Flávia – Direitos Humanos: Desafios da 
ordem internacional contemporânea, in Caderno de 
Direito Constitucional – 2006. EMAGIS – Escola da Ma-
gistratura do TRF4.
fundamentais o princípio da dignidade 
da pessoa humana. Alemanha, Portugal, 
Espanha, por exemplo, positivaram 
constitucionalmente o princípio da 
dignidade humana. 
O Brasil também o fez na Constituição 
Federal de 1988, promulgada após período 
intenso de regime militar (1964 – 1985), 
em que foi notório o desrespeito à pessoa 
humana com práticas de perseguição e 
tortura, entre outros tantos desrespeitos à 
liberdade. 
Com a positivação constitucional da 
dignidade como valor e princípio de nosso 
ordenamento jurídico, positivaram-
se também diversos direitos humanos. 
Não por acaso, muitos dos direitos 
fundamentais individuais são coincidentes 
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no BrasilPós-Constituição De 198815/275
com aquelas garantias elencadas pela 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 
de 1948: a inviolabilidade do direito à vida, 
à Liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, reconhecidos como direitos 
de caráter universal, inerentes à condição 
de ser humano, independente de formas 
de organização política ou social às quais 
pertençam.
Ao estudar a evolução do direito 
constitucional, no plano do direito 
interno dos países, pode-se considerar, 
com finalidade didática, a teoria das 
gerações de direitos humanos de Karel 
Vasak3. Os direitos humanos, enquanto 
3 BARROS, Sérgio Resende de. Três Gerações de Direi-
tos. Artigo consultado em 26/08/2015, disponível em 
<http://www.srbarros.com.br/pt/tres-geracoes-de-di-
reitos.cont>
objetivos ideais ou metas, devem ser 
considerados em seu duplo caráter de 
universalidade e indivisibilidade, onde a 
violação de qualquer de seus aspectos 
implica na violação do todo, impedindo 
a efetividade da dignidade humana. Mas 
com a finalidade de analisar a evolução 
da positivação constitucional desses 
direitos e sua relação com o modelo de 
Estado correspondente é útil recorrer à 
teoria geracional de direitos humanos. As 
três dimensões ou gerações de direitos 
humanos foram relacionadas por Karel 
Vasak aos princípios da Revolução 
Francesa: Liberdade, Igualdade e 
Fraternidade. 
A primeira geração estaria relacionada aos 
Direitos de Liberdade, e corresponderia aos 
direitos civis e políticos individuais, visando 
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198816/275
proteger os indivíduos dos abusos do 
Estado. Típico do Estado Liberal de Direito, 
de acordo com Ricardo Lobo Torres, em que 
“institucionaliza-se a proteção ao mínimo 
existencial e à pobreza, mas não se nota 
ainda a preocupação com os direitos sociais. 
” A preocupação tinha caráter fiscal, 
proibindo-se por exemplo a tributação 
sobre a parcela mínima necessária à 
existência humana digna e a incidência 
de taxas remuneratórias de prestações 
estatais positivas (Constituição brasileira 
de 1924, por exemplo, garantia os socorros 
públicos e a instrução primária gratuita a 
todos os cidadãos). 4 
4 TORRES, Ricardo Lobo – A metamorfose dos direitos 
sociais em mínimo existencial. SARLET, Ingo Wolfgang 
(organizador). Direitos Fundamentais Sociais: estudos de 
direito constitucional, internacional e comparado. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2003.
Uma evolução na consideração destes 
direitos traz a concepção de que esta 
garantia já não basta. Sendo necessário, de 
forma complementar, também a atuação 
do Estado de forma a proporcionar bens 
e serviços básicos, que garantam o bem-
estar social de todos os seus cidadãos, 
através da garantia dos direitos da 
Igualdade, típicos da Segunda Geração de 
direitos humanos, que incluiriam: saúde, 
educação, moradia, alimentação, enfim, 
direitos econômico-sociais. Típico do 
Estado Social de Direito, de acordo com 
Ricardo Lobo Torres.
A terceira geração de direitos humanos, 
corresponderia aos Direitos de 
Fraternidade e caracteriza-se pelos 
direitos coletivos ou direitos dos povos, 
tais como: direito ao desenvolvimento 
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198817/275
e à paz. “O Estado Democrático de Direito 
passa a garantir o mínimo existencial, em 
seu contorno máximo, deixando a questão 
da segurança dos direitos sociais para o 
sistema securitário e contributivo, baseado 
no princípio da solidariedade. ”5
A Constituição Federal de 1988 em sua 
redação original trazia como direitos 
sociais: a educação, a saúde, o trabalho, 
o lazer, a segurança, a previdência social, 
a proteção à maternidade e à infância, a 
assistência aos desamparados. A Emenda 
Constitucional nº 26/2000 incluiu o direito 
à moradia e a Emenda Constitucional nº 
63/2010 incluiu o direito à alimentação no 
rol dos direitos sociais. 
Muito interessante, a partir da inclusão 
do direito à alimentação no rol dos 
5 TORRES, Ricardo Lobo, idem. 
direitos sociais, é começar a acompanhar 
o comportamento do judiciário para ver 
cumprida a determinação constitucional. 
Acesse a decisão do TRT2 (São Paulo) sobre 
o direito à alimentação adequada fornecida 
por empregador, onde o desembargador 
ressalta que o fornecimento de lanches 
“revela-se nocivo à saúde, o que, em 
última análise, malfere a dignidade do 
trabalhador, que tem direito a se alimentar 
adequadamente”: 
Link
<http://www.trtsp.jus.br/indice-de-
noticias-noticias-juridicas/19637-8-turma-
fornecimento-de-lanches-tipo-fast-food-
e-nocivo-a-saude-e-fere-a-dignidade-do-
trabalhador?device=xhtml> 
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198818/275
A doutrina diverge sobre a classificação 
dos direitos sociais como direitos 
fundamentais ou como mera regra 
programática constitucional, visto não 
haver instrumentos processuais claros para 
sua concretização enquanto obrigações 
de prestações positivas. Ocorre que tal 
situação não diverge de outros direitos 
fundamentais cuja característica em 
relação ao Estado possuem sempre as 
duas dimensões, negativa e positiva, 
onde por um lado limita-se o eventual 
abuso do Estado na lesão do direito e de 
outro busca-se a ação do Estado para 
promover a implantação de tal direito. 
O Estado aparece não necessariamente 
como fornecedor ou executor da obrigação 
prestacional, mas pode ter função ativa 
como facilitador ao propiciar condições 
para que o cidadão atinja tais direitos. 
Como nos ensina Zeno Simm6, “por meio 
do reconhecimento dos chamados direitos 
sociais, o que se tem em mira é conseguir-se 
criar uma situação de igualdade material 
entre as pessoas, reduzindo os desníveis 
entre elas e buscando uma situação de 
equilíbrio, ou, ao menos, eliminar ou suprir as 
necessidades mínimas do indivíduo, dando-
lhes as condições básicas de uma existência 
digna. Sem se assegurar essas condições 
vitais mínimas, de nada vale querer-se 
assegurar outros tipos de direitos, como 
da liberdade de expressão ou de crença, da 
liberdade de associação, etc.” 
6 SIMM, Zeno. Os direitos fundamentais e a Seguridade 
Social. São Paulo, LTR Editora, 2005.
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198819/275
Vale lembrar do conceito de indivisibilidade dos direitos humanos ao argumentar que, por 
exemplo, sem a educação básica não se garante sequer o exercício da liberdade plena.
Para saber mais
Você sabia que o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) que atualmente norteia as políticas 
públicas de garantia de direitos fundamentais é organizado a partir de 6 Eixos Orientadores? É a partir de 
cada eixo orientador que são definidas as diretrizes e respectivos Objetivos Estratégicos com suas ações 
programáticas. 
Por exemplo: O primeiro eixo orientador do PNDH-3 é a “Interação Democrática entre Estado e 
Sociedade Civil”, reconhecendo a necessidade de atuação conjunta do Estado e da sociedade civil na 
promoção e proteção dos Direitos Humanos. A primeira diretriz deste eixo é a “Interação democrática 
entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da democracia participativa” e o 
primeiro Objetivo Estratégico é a “Garantia da participação e do controle social das políticas públicas em 
Direitos Humanos, em diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais”. Para atingir tal objetivo 
estratégico, uma das ações programáticas deve ser: “apoiar fóruns, redes e ações da sociedade civil que 
fazem acompanhamento, controle sociale monitoramento das políticas públicas de Direitos Humanos. ”
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198820/275
2. Políticas setoriais e de defesa 
de direitos no Brasil pós-consti-
tuição de 1988
O Brasil possui um extenso território 
e uma população caracterizada pela 
diversidade cultural e desigualdades 
sociais e econômicas significativas. 
Para a garantia de proteção e promoção 
dos direitos humanos fundamentais e 
dos direitos sociais tem se mostrado 
necessária a atuação tanto do Estado 
quanto da sociedade, através dos órgãos 
governamentais, de parcerias público-
privadas e de organizações e membros da 
sociedade civil. 
Nesse sentido há diversas ações destinadas 
à promoção e defesa dos direitos 
humanos, e à garantia dos direitos sociais, 
seguindo diretrizes criadas a partir de 
políticas públicas que contam com a 
participação popular em sua elaboração, 
implementação e fiscalização. 
Criam-se espaços de participação 
cuja importância está em identificar a 
demanda da sociedade em determinado 
setor e estabelecer critérios, obter 
recursos e implantar soluções, que 
Para saber mais
Conheça a íntegra do PNDH-3 no link abaixo: 
<http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito-
para-todos/programas/pdfs/programa-
nacional-de-direitos-humanos-pndh-3>
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198821/275
atendam tal demanda. A participação 
popular representada por grupos de 
bairro, associações, movimentos de 
trabalhadores, e outros atores sociais, 
permite identificar necessidades de 
minorias que dificilmente chegariam ao 
conhecimento do Estado com tal agilidade 
sem tais instrumentos de participação. 
As políticas públicas podem ser federais, 
estaduais ou municipais, dependendo de 
sua abrangência ou da descentralização na 
execução. 
As políticas setoriais específicas, como 
educação, saneamento básico, habitação, 
saúde, em geral fazem parte de uma 
política pública mais abrangente e tanto 
na obtenção de recursos quanto na 
definição de objetivos deve-se considerar 
a integração entre os diversos setores e 
atores sociais. 
Podemos citar algumas medidas e 
programas com objetivo de promover 
e proteger os direitos humanos 
fundamentais no Brasil:
• Adesão à quase totalidade das 
convenções internacionais sobre 
o tema. Desde 2004 os Tratados 
internacionais de Direitos Humanos 
podem ser recepcionados com 
status de emenda constitucional 
no ordenamento jurídico brasileiro. 
A Convenção sobre os Direitos das 
Pessoas com Deficiência, de 2009, foi 
o primeiro a ter força constitucional.
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198822/275
• O Programa Nacional de Direitos 
Humanos (PNDH-3) contém as 
diretrizes, objetivos estratégicos 
e ações programáticas básicas 
atualmente consideradas para o 
estabelecimento de políticas públicas 
na área de direitos fundamentais e 
sociais. 7
• Programas de redução da pobreza e 
promoção da igualdade social. 
O Plano Brasil sem Miséria, por 
exemplo, é um programa direcionado 
a brasileiros que vivem em lares cuja 
renda familiar per capita é de até 
R$70,00. De acordo com o censo de 
7 <http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito-para-todos/
programas/pdfs/programa-nacional-de-direitos-huma-
nos-pndh-3>
2010 estariam nessa situação 16,2 
milhões de brasileiros. Este programa 
pode ser considerado multi setorial, 
à medida que procura agregar 
transferência de renda, acesso a 
serviços públicos, à educação, saúde, 
assistência social, saneamento e 
energia elétrica e inclusão produtiva, 
através do aperfeiçoamento de 
programas já existentes e criação 
de novos, em parceria com estados, 
municípios, empresas públicas e 
privadas e organizações da sociedade 
civil, ou seja, com o apoio de todos os 
atores sociais.
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198823/275
Para saber mais
Você sabe o que é o programa de BUSCA ATIVA? 
É uma estratégia do Plano Brasil sem Miséria e 
tem por objetivo localizar e incluir no Cadastro 
Único todas as famílias extremamente pobres, 
além de encaminhá-las para atendimento na 
rede de proteção social. A ideia é levar o Estado 
ao cidadão, sem esperar que ele procure a ajuda 
do poder público. 
Conheça os detalhes do Plano Brasil Sem Miséria 
e a estratégia do Busca Ativa no link abaixo: 
<http://mds.gov.br/assuntos/brasil-sem-
miseria/busca-ativa>
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198824/275
Glossário
Políticas públicas: são conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado direta ou 
indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visem assegurar determinado direito 
garantido ao cidadão e que necessite de estabelecimento de diretrizes e de ações para sua implementação.
Democracia participativa: sistema no qual os cidadãos possam participar, diretamente das decisões 
políticas fundamentais.
Tratado internacional: de acordo com a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969, trata-
se de um acordo internacional escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, destinado a produzir 
efeitos jurídicos.
Questão
reflexão
?
para
25/275
O que se entende por rede de proteção social no 
âmbito do Plano Brasil sem Miséria e quais as medidas 
efetivas para identificação de beneficiários deste 
serviço?
26/275
Considerações Finais (1/2)
A dignidade da pessoa humana foi alçada a um dos fundamentos basilares 
da Constituição Federal de 1988, junto ao valor social do trabalho e à livre 
iniciativa. Muitos dos direitos fundamentais individuais garantidos em nossa 
Constituição coincidem com as garantias elencadas pela Declaração Universal 
dos Direitos Humanos de 1948, como a inviolabilidade do direito à vida, à 
Liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Com a participação do Brasil em mais de uma organização internacional 
direcionada à proteção dos direitos humanos, e incorporando elementos 
dos tratados internacionais mais recentes, a Constituição reflete o respeito e 
garantia dos direitos humanos em sua concepção mais moderna e completa. 
Atualmente as diretrizes vigentes a orientar as políticas públicas setoriais e 
os instrumentos de defesa dos direitos humanos no Brasil estão na terceira 
edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH III).
27/275
Considerações Finais (2/2)
Os direitos sociais atualmente garantidos na Constituição Federal são: a 
educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, 
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, o 
direito à moradia e o direito à alimentação. 
Para efetivar a garantia e promoção destes direitos é que são elaboradas as 
políticas setoriais específicas, como as de educação, saneamento básico, 
habitação, saúde, que em geral fazem parte de uma política pública mais 
abrangente e implementada através da integração entre os diversos setores e 
atores sociais. Um exemplo dos programas executados a partir destas políticas 
públicas é o Plano Brasil Sem Miséria.
Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198828/275
Referências
SARLET, Ingo Wolfgang – Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. 10.ed.rev.atual e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado 
Editora, 2015.
PIOVESAN, Flávia – Direitos Humanos:Desafios da ordem internacional contemporânea, in 
Caderno de Direito Constitucional – 2006. EMAGIS – Escola da Magistratura do TRF4.
TORRES, Ricardo Lobo – A metamorfose dos direitos sociais em mínimo existencial. SARLET, 
Ingo Wolfgang (organizador). Direitos Fundamentais Sociais: estudos de direito constitucional, 
internacional e comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
SIMM, Zeno. Os direitos fundamentais e a Seguridade Social. São Paulo, LTR Editora, 2005.
29/275
Assista a suas aulas
Aula 1 - Tema: Direitos Humanos, Direitos 
Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de 
Direitos no Brasil Pós-Constituição de 1988
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
5fa182c9f9d6908c998293e3245ad80d>.
Aula 1 - Tema: Direitos Humanos, Direitos Sociais 
e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no 
Brasil Pós-Constituição de 1988
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA-
piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/0c-
cb837a88d7a4234c1bedb8b691ff33>. 
30/275
1. Assinale a alternativa errada. Após a Segunda Guerra Mundial, a 
Declaração dos Direitos Humanos era baseada nos seguintes princípios:
a) paz e igualdade entre as nações, independentemente de seus tamanhos
b) levar energia elétrica e saneamento aos necessitados
c) igualdade de direito dos homens e das mulheres
d) promoção do progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade 
ampla
e) estabelecer condições de respeito às obrigações decorrentes de tratados
Questão 1
31/275
2. A necessidade de atuação do Estado de forma complementar, para garan-
tir o bem-estar social dos seus cidadãos, sob o aspecto dos direitos huma-
nos, está ligado a qual direito da Revolução Francesa?
a) igualdade
b) liberdade
c) soberania
d) cidadania
e) fraternidade
Questão 2
32/275
3. Não só bastava o reconhecimento constitucional dos direitos, era ne-
cessária sua efetivação. A partir da frase exposta, qual foi a medida ado-
tada.
a) criação de normas infraconstitucionais
b) prática cotidiana de civilidade e boa convivência
c) trabalho dos agentes públicos
d) medidas de iniciativa privada
e) fomento às instituições de caridade
Questão 3
33/275
4. A Constituição de 1988, também conhecida como “Constituição Cida-
dã” tem ênfase na liberdade de expressão, pois foi resultado de qual mo-
mento histórico?
a) A Era Vargas
b) O fim da ditadura militar
c) A queda do império
d) A República da Espada
e) A Guerra Fria
Questão 4
34/275
5. Qual destes itens é um dos eixos orientadores do PNDH-3?
a) Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil
b) a democracia, a soberania, a liberdade e a justiça
c) a relação de respeito mútuo entre as nações
d) a divisão dos poderes do Estado
e) a necessidade de encanamento em todas as casas
Questão 5
35/275
Gabarito
1. Resposta: B.
Embora seja uma necessidade a ser suprida 
pela ação governamental, o fornecimento 
de energia elétrica e saneamento não 
são mencionados especificamente como 
fundamento na Declaração de Direitos 
Humanos. 
2. Resposta: A.
A necessidade de atuação ou participação 
ativa do Estado seria típica do Estado 
Social de Direito, e relacionada à segunda 
geração de direitos humanos na divisão 
defendida por Karel Vasak.
3. Resposta: A.
Muitos dos direitos garantidos pela 
Constituição de 1988 foram considerados 
não autoaplicáveis, e para que tais direitos 
fossem efetivados foi necessária a edição 
de normas infraconstitucionais, que em 
alguns casos demoraram mais de 5 anos 
para serem aprovadas e sancionadas.
4. Resposta: B.
Durante o período militar que vigorou no 
Brasil antes de 1988, tivemos três fases 
com existência da censura, mas o período 
mais rígido contra a liberdade de expressão 
no país ocorreu com a publicação do AI-
5, durando de 13/12/1968 até o início do 
governo Geisel em 1975.
36/275
5. Resposta: A.
O PNDH-3 ou Programa Nacional de 
Direitos Humanos, em sua 3ª edição é 
organizado a partir de Eixos orientadores, 
e dentro deles serão alocadas as políticas 
sociais específicas. São 6 os eixos 
orientadores: Interação Democrática entre 
Estado e Sociedade Civil; Desenvolvimento 
e Direitos Humanos; Universalizar Direitos 
em um Contexto de desigualdades; 
Segurança Pública, acesso à justiça e 
combate à violência; Educação e Cultura 
em Direitos Humanos; Direito à Memória e 
à Verdade.
Gabarito
37/275
Unidade 2
O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais
Objetivos
1. Ter um contato inicial com o conceito 
e formação do Sistema Jurídico 
Brasileiro
2. Aprender sobre a Constituição 
Federal de 1988 e seus princípios 
básicos
3. Conhecer as normas 
infraconstitucionais relacionadas aos 
direitos humanos fundamentais
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais38/275
Introdução
O Brasil é um país cujo Direito é 
apresentado tradicionalmente na forma 
escrita. Possui uma Constituição rígida que 
prevê o processo de formulação do direito, 
das normas que irão regular as relações 
jurídicas, como competência exclusiva do 
legislador. 
A República Federativa do Brasil, 
organizada na forma de Estado 
Democrático de Direito, é estruturada 
por três poderes independentes e 
harmônicos entre si: Legislativo, Executivo 
e o Judiciário. O poder Legislativo é 
exercido pelo Congresso Nacional, 
composto pela Câmara de Deputados 
e o Senado Federal, cujas atribuições 
envolvem o processo legislativo no qual 
são elaboradas: emendas à Constituição, 
leis complementares, leis ordinárias, leis 
delegadas, medidas provisórias, decretos 
legislativos e resoluções. 
O processo legislativo pode ser considerado 
a fonte formal de direito, cujo resultado é 
a lei em suas diversas categorias previstas 
pela Constituição Federal. 
Esse processo começa pela fase de 
apresentação de um projeto de lei que 
apresente um direito novo ou uma 
modificação em um direito vigente. O 
projeto poderá ser apresentado pelo 
Legislativo, pelo Executivo, pelos Tribunais 
Federais ou pela iniciativa popular, 
dependendo da matéria a que se refira 
a norma proposta, de acordo com a 
Constituição Federal.1 Em seguida inicia-
1 A Constituição Federal dispõe sobre a competência legis-
lativa nos seguintes dispositivos: art. 27, §4º; art. 29, XIII; 
art. 61, §1º e §2º; art. 84, III e XXIII; art. 96, II, a, b, c e d. 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais39/275
se o processo de discussão do projeto 
pelos membros dos corpos legislativos, 
em alguns casos com a formação de 
Comissões Especializadas na matéria 
proposta. A esse projeto podem ser 
propostas emendas modificativas ou 
substitutivas antes de nova discussão 
e aprovação para enfim ser elaborado 
um texto que será direcionado à fase de 
Deliberação ou votação. A fase de votação 
acontece na Câmara e no Senado, e caso o 
projeto seja aprovado será remetido para a 
sanção ou veto do Executivo. 
O Executivo, representado neste ato pelo 
Presidente da República, também exerce 
uma parte da função legislativa, pois 
deve apreciar cada projeto aprovado pelo 
Legislativo e resolver pela sua aceitação 
sancionando-o para que seja convertido 
em Lei, ou pelo veto, rejeitando a proposta. 
O veto do Executivo ao projeto de lei 
aprovado pelo Legislativo pode ser total 
ou parcial e irá ocorrer em duas situações: 
a) por entender que a norma proposta é 
inconstitucional; b) por entender que a 
aprovação da norma é inconveniente de 
acordo com os critérios de governabilidade 
que estiver seguindo.
Todo esse processo legislativo demonstraa busca pelo equilíbrio entre os Poderes 
de Estado, a fim de regular as relações 
jurídicas mantendo a governabilidade 
do país, de acordo com os preceitos 
constitucionais. Se o processo legislativo 
se encerrasse no ato do veto do Executivo 
ao projeto de lei haveria o perigo de 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais40/275
desequilíbrio de forças. No entanto, o 
projeto com o veto presidencial volta ao 
Legislativo para reapreciação e tal ato pode 
ser rejeitado por maioria qualificada. Se o 
Legislativo aceitar o veto então encerra-
se o processo legislativo. Mas se o veto for 
rejeitado o projeto será enviado novamente 
ao Executivo para sanção e promulgação 
no prazo de 48 horas. 
Após a promulgação vem a publicação 
no Diário Oficial, o ato final do processo 
legislativo, a partir do qual a Lei torna-se 
pública para a comunidade que será por ela 
regulada. 
Vimos acima que um dos motivos do 
veto presidencial a um projeto de lei 
pode ser a sua inconstitucionalidade. A 
Constituição Federal é lei maior de um 
Estado, e contém os valores, princípios 
e regras que fundamentam e devem 
ser seguidos por todo o ordenamento 
jurídico complementar. O sistema jurídico 
nacional é formado pela sua Constituição 
e as normas infraconstitucionais em 
todas as categorias permitidas em nosso 
ordenamento. Mas é importante destacar 
que também podemos considerar a 
jurisprudência como fonte de direito, 
inclusive como forma de controle de 
constitucionalidade. 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais41/275
Assim, confirmando a possibilidade e a 
busca do equilíbrio entre os poderes do 
Estado, temos a ação do Poder Judiciário 
exercendo a função de controle de 
constitucionalidade das normas oriundas 
do processo legislativo e também 
decidindo sobre a correta interpretação 
ou aplicação dessas normas nas relações 
jurídicas concretizadas. A jurisprudência, 
através da uniformização das decisões 
judiciais, forma normas gerais de aplicação 
de determinadas leis a casos concretos 
iguais ou semelhantes. Essas decisões 
se incorporam ao sistema jurídico de tal 
forma que passam a integrar o direito 
vigente, e chegam a provocar alterações 
para readequação da legislação ao 
posicionamento jurisprudencial. 
O uso normativo da Jurisprudência no 
sistema jurídico brasileiro é essencial, à 
medida que auxilia na aplicação correta da 
legislação aos casos concretos, como parte 
dos instrumentos de proteção aos direitos 
fundamentais dispostos na Constituição. 
Em alguns casos supre inclusive a lacuna 
legislativa, quando decide sobre situações 
que não se enquadram nas hipóteses 
regulamentadas pelas leis vigentes, 
mas que podem ser solucionadas pela 
aplicação de normas análogas, desde que 
respeitados os princípios constitucionais. 
1. Constituição Federal de 1988
A Constituição da República Federativa 
do Brasil, vigente desde 05/10/1988, 
e modificada por diversas emendas 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais42/275
constitucionais nos últimos anos, 
é a Lei Maior do país. Estabelece os 
direitos fundamentais e todos os 
princípios que norteiam nosso sistema 
Jurídico, a estruturação do Estado e o 
funcionamento dos Poderes, os direitos 
políticos, sociais, etc.
A Constituição Federal traz algumas 
cláusulas pétreas: dispositivos 
constitucionais que não podem 
ser alterados mesmo por Emenda 
Constitucional (mecanismo previsto para 
permitir mudanças no texto original).
Entre estas cláusulas estão: a forma 
federativa de Estado; o voto direto, 
secreto, universal e periódico; a separação 
dos Poderes; e os direitos e garantias 
individuais.
O preâmbulo da Constituição Federal 
de 1988 traz a declaração da missão da 
Assembleia Nacional Constituinte formada 
em 1987: instituir um Estado Democrático 
que a partir daquele momento histórico 
destinava-se a: assegurar o exercício 
dos direitos sociais e individuais, a 
liberdade, a segurança, o bem-estar, o 
desenvolvimento, a igualdade e a justiça, 
de modo a garantir a existência de uma 
sociedade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos, socialmente harmoniosa e 
comprometida com a paz. 
Os fundamentos elencados como valores 
principais do Estado Democrático de 
Direito criado com a Constituição Federal 
de 1988 são: a soberania, a cidadania, a 
dignidade da pessoa humana, os valores 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais43/275
sociais do trabalho e da livre iniciativa, o 
pluralismo político e a democracia onde 
todo o poder emana do povo exercido por 
meio de representantes por ele eleitos. 
Dentre os objetivos da República e os 
princípios que regem suas relações 
internacionais encontram-se como base 
vários dos Direitos Humanos considerados 
em sua concepção moderna. 
São objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil: construir uma 
sociedade livre, justa e solidária; garantir 
o desenvolvimento nacional; erradicar a 
pobreza e a marginalização e reduzir as 
desigualdades sociais e regionais; promover 
o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação.
Regem as relações internacionais os 
princípios de: independência nacional, 
prevalência dos direitos humanos, 
autodeterminação dos povos, não-
intervenção, igualdade entre os Estados, 
defesa da paz, solução pacífica dos 
conflitos, repúdio ao terrorismo e ao 
racismo, cooperação entre os povos para o 
progresso da humanidade e concessão de 
asilo político.
Conhecida como Constituição Cidadã, 
pois, nas palavras de Ulisses Guimarães, 
pronunciadas em sua manifestação 
enquanto presidente da Assembleia 
Constituinte em sessão ocorrida em 27 
de julho de 1988: “essa será a Constituição 
cidadã, porque irá recuperar como cidadãos 
milhões de brasileiros, vítimas da pior das 
discriminações: a miséria. ”
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais44/275
BERWANGER2 aponta que diversas críticas 
foram feitas à Constituição após sua 
promulgação em 1988, que variam desde 
exageros saudosistas anti-democracia 
até observações pertinentes cujo estudo 
2 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Constituição: um 
olhar sobre minorias vinculadas à seguridade social./ 
Jane Lucia Wilhelm Berwanger, Osmar Veronese./Curiti-
ba: Juruá, 2014. 
podem nos levar ao aperfeiçoamento da 
norma constitucional vigente. Assim, o 
texto constitucional teria erros de grafia 
ou terminologia mas não é ilógico ou 
incompreensível; é extensa e detalhista, 
contém dispositivos que não tratam de 
matérias tipicamente constitucionais, mas 
isso não chega a prejudicar a garantia dos 
direitos, ao contrário, representa bem o 
contexto histórico em que foi gerada e 
ainda reproduz o fenômeno ao ampliar 
garantias contra abusos em Emendas 
constitucionais recentes; seria utópica, 
uma carta programática com excesso 
de direitos previstos, mas “se com uma 
Constituição muito avançada, “utópica”, 
com excesso de direitos alegado pelos que a 
combatem, consegue-se manter milhões em 
Link
Acesse a íntegra deste pronunciamento no 
link abaixo: <http://www2.camara.leg.br/
atividade-legislativa/plenario/discursos/
escrevendohistoria/discursos-em-
destaque/serie-brasileira>
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais45/275
pobreza extrema, imaginem se esses direitos 
não fossem constitucionalizados?!”3
É evidente que existem problemas 
sérios relacionados à nossa Lei Maior, 
como por exemplo a inércia e demora 
na regulamentação dos dispositivosque 
necessitavam de lei infraconstitucional 
para serem aplicáveis. E pouco tempo 
depois de alguns dispositivos serem 
regulamentados já ocorria a reforma do 
texto constitucional através de emendas 
constitucionais, a primeira ainda em 
1992 alterando dispositivo referente a 
remuneração de Deputados estaduais e 
vereadores! 
3 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. idem
Considerado o cenário de falta de 
consenso político nos últimos anos, 
esse excesso de mudanças no texto 
constitucional é temerário, causando 
insegurança jurídica na comunidade. 
Principalmente no tema da Seguridade 
Social, as alterações legislativas ocorridas 
nos últimos 20 anos, constitucionais 
e infraconstitucionais, representaram 
de modo significativo uma restrição de 
direitos anteriormente garantidos, com a 
justificativa de necessidade de ajustes em 
prol do equilíbrio econômico-financeiro do 
Sistema de Seguridade Social. 
Há muitos temas pendentes de julgamento 
no STF relacionados a estas mudanças 
legislativas, que aguardam uma análise 
sob o aspecto do princípio da proibição 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais46/275
do retrocesso social e da salvaguarda dos 
direitos sociais vinculados à garantia do 
mínimo existencial. Pois a lesão ao mínimo 
existencial caracterizada pelo retrocesso 
de um direito anteriormente garantido, 
pela insuficiência de proteção, significará 
sempre uma violação desproporcional 
à dignidade humana. E a questão aqui 
será ao mesmo tempo o reconhecimento 
de um princípio implícito no texto 
constitucional, e a definição da amplitude 
e limites do que seja o mínimo existencial, 
ou a que e quanto corresponderiam as 
prestações materiais indispensáveis 
para uma vida com dignidade para todas 
as pessoas, considerando-se que “ o 
conteúdo do mínimo existencial para uma 
vida digna encontra-se condicionado pelas 
circunstâncias históricas, geográficas, 
sociais, econômicas e culturais em cada 
lugar e momento em que estiver em causa, 
mas varia também conforme a natureza do 
direito social em particular (moradia, saúde, 
assistência social...)”4.
4 SARLET, Ingo Wolfgang. A assim designada proibição de 
retrocesso social e a construção de um direito constitucio-
nal comum latino-americano. Revista Brasileira de Estudos 
Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte, ano 3, n. 11, jul./
set. 2009. Consultado em 17/08/2015. Disponível em 
<http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/hand-le/1939/13602/007_sarlet.pdf?sequence=4>
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais47/275
2. Normas infraconstitucionais
Os instrumentos legais infraconstitucionais 
do ordenamento jurídico brasileiro: as 
leis complementares e leis ordinárias cuja 
iniciativa cabe a qualquer membro ou 
Comissão da Câmara dos Deputados, do 
Senado Federal ou do Congresso Nacional, 
ao Presidente da República, ao Supremo 
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, 
ao Procurador-Geral da República e aos 
cidadãos, na forma e nos casos previstos na 
Constituição; as medidas provisórias, cuja 
iniciativa cabe ao Presidente da República 
em caso de relevância e urgência, e 
têm natureza temporária e força de lei, 
com processo legislativo específico de 
submissão ao Congresso Nacional; as leis 
delegadas; os decretos legislativos; as 
resoluções; ainda, de competência dos 
Ministros de Estado com a finalidade de 
expedir instruções para a execução das leis, 
há os Decretos regulamentares.
Para saber mais
Você sabia que já são mais de 85 emendas 
constitucionais aprovadas desde a promulgação 
da Constitucional Federal de 1988? Acesse o link 
abaixo para ter acesso ao quadro das Emendas 
Constitucionais e seus textos integrais. 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Emendas/Emc/quadro_emc.
htm>
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais48/275
No contexto da administração pública há ainda a emissão de Instruções normativas, ordens 
de serviço, e orientações internas, sempre com o objetivo de uniformizar entendimentos e 
interpretações sobre a melhor forma de aplicação da legislação, em conformidade com os 
decretos regulamentares e a legislação. Deve-se tomar muito cuidado ao estudar qualquer 
tema através das Instruções normativas emitidas pela administração pública para consulta e 
orientação de seus servidores, pois não possuem caráter normativo oficial, não podendo ser 
considerados fonte formal de direito, e em muitos casos possuem falhas interpretativas que 
podem levar à lesão de direitos do cidadão. 
Para saber mais
Você sabia que é vedada a edição de Medida Provisória: sobre matéria relativa a nacionalidade, cidadania, 
direitos políticos, partidos políticos, direito eleitoral, direito penal, processual penal e processual civil, 
organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, 
orçamento e créditos adicionais e suplementares; que vise a detenção ou sequestro de bens, de 
poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; de matéria reservada a lei complementar (aprovada 
por maioria absoluta); de matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e 
pendente de sanção ou veto presidencial.
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais49/275
Na regulamentação dos direitos sociais relacionados à Seguridade Social, que serão objeto de 
nosso estudo nas próximas aulas desta disciplina, podemos relacionar as seguintes normas 
infraconstitucionais.
2.1 – Direito à Previdência Social 
Na Constituição Federal estão previstos: nos arts. 6º e 7º os direitos à previdência social, à 
aposentadoria e ao seguro contra acidentes do trabalho dos trabalhadores urbanos e rurais 
e domésticos, ao salário mínimo e ao décimo terceiro salário, ao salário-família pago ao 
trabalhador de baixa renda; no art. 40 as regras do Regime de Previdência dos servidores 
Para saber mais
Após serem examinadas pelo Congresso Nacional, as medidas provisórias deverão ser convertidas em 
lei ordinária, se aprovadas, num prazo de 60 dias prorrogáveis por mais 60. Se rejeitadas, tacitamente ou 
expressamente, perdem a eficácia desde sua edição, e o Congresso Nacional deverá regular as relações 
jurídicas que surgiram a partir de sua vigência através de decreto legislativo no prazo de 60 dias a partir 
da perda de eficácia.
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais50/275
públicos; no art. 201 a previsão do Regime 
Geral de Previdência Social e no art. 202 o 
Regime de Previdência Complementar. 
A legislação infraconstitucional que 
regulamenta os Regimes de Previdência 
Social é representada principalmente pelos 
instrumentos abaixo relacionados:
• Lei nº 8213/91 – Lei de benefícios da 
Previdência Social;
• Lei nº 8212/91 – Lei de custeio de 
Previdência Social; 
• Lei nº 9876/99 – Lei que altera o 
cálculo da renda mensal inicial dos 
benefícios previdenciários;
• Lei nº 10.666/2003 – Lei que 
despreza a perda da qualidade de 
segurado para as aposentadorias por 
idade;
• Lei complementar nº 142/2013 – 
Aposentadoria especial da pessoa 
com deficiência no RGPS;
• Decreto nº 8.145/2013 – 
Regulamenta a aposentadoria da 
pessoa com deficiência;
• Lei nº 13.135/2015 – Altera as regras 
do benefício de pensão por morte, o 
cálculo da renda mensal do auxílio-
doença;
• Decreto nº 3048/99 – Regulamento 
de Previdência Social; 
• Instrução Normativa nº 77/2015
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais51/275
• LC nº 108/2001 – Dispõe sobre 
entidadesfechadas de Previdência 
Complementar;
• LC nº 109/2001 – Dispõe 
sobre o Regime de Previdência 
Complementar;
• Lei nº 12.618/2012 – Institui 
o Regime de Previdência 
Complementar dos servidores 
públicos federais;
• Decreto nº 7.808/2012 – Cria 
a Funpresp-Exe, Fundação de 
Previdência Complementar do 
Servidor Público Federal do Poder 
Executivo. 
• Lei nº 9.717/98 – Dispõe sobre os 
Regimes Próprios de Previdência
2.2 – Direito à Assistência So-
cial
A Constituição Federal prevê o sistema 
de Assistência Social como uma das 
dimensões ou subsistemas da Seguridade 
Social no art. 203. A assistência social será 
prestada independente de contribuição 
a quem dela necessitar com os objetivos 
de proteção à família, à maternidade, 
à infância, à adolescência e à velhice, 
o amparo às crianças e adolescentes 
carentes, a promoção da integração 
ao mercado de trabalho; a habilitação, 
reabilitação e promoção da integração 
à vida comunitária das pessoas com 
deficiência. Ainda garante de forma 
não contributiva o direito ao benefício 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais52/275
de prestação continuada assistencial 
equivalente ao valor de um salário mínimo 
à pessoa com deficiência ou ao idoso 
que comprovem não possuir meios de 
subsistência ou de tê-la provida por sua 
família. 
A Assistência Social é financiada pelo 
orçamento da Seguridade Social, além de 
outras fontes. E é organizada de forma 
descentralizada a fim de atingir quem 
dela necessitar de forma mais eficaz. A 
coordenação e as normas gerais cabem 
à esfera federal da organização político-
administrativa da Assistência Social, mas 
sua execução cabe às esferas estadual e 
municipal, às entidades beneficentes e 
de assistência social, sendo incentivada 
a participação da população através de 
organizações representativas em todos os 
níveis, permitindo assim a ampliação da 
rede de proteção necessária. 
A legislação infraconstitucional que 
podemos destacar no tema de Assistência 
Social, embora algumas leis não tratem 
exclusivamente de direitos assistenciais, 
segue abaixo relacionada:
• Lei nº 8742/93 – Lei Orgânica da 
Assistência Social;
• Lei nº 13.146/2015 – Estatuto da 
Pessoa com Deficiência;
• Decreto nº 6.214/2007 – 
Regulamento do Benefício de 
Prestação Continuada (Loas); 
• Lei nº 8.842/94 – Lei da Política 
Nacional do Idoso;
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais53/275
• Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do 
Idoso;
• Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança 
e do Adolescente;
• Instrução normativa nº 2/2014 
– orienta procedimentos para a 
aposentadoria do servidor com 
deficiência, por analogia com a Lei do 
RGPS;
• Portaria Interministerial nº 1/2014 
– aprova o instrumento de avaliação 
dos graus de deficiência para fins de 
benefício (índice de funcionalidade);
• Lei nº 10.836/2004 – Bolsa Família;
• Lei nº 12.513/2011 – Programa 
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico 
e Emprego (Pronatec);
• Lei nº 11.346/2006 - Lei Orgânica de 
Segurança Alimentar e Nutricional – 
LOSAN.
2.3 – Direito à saúde
Um dos direitos sociais previstos no art. 6º, 
a garantia à saúde também está prevista 
no art. 196 e seguintes da Constituição 
Federal, que define o subsistema Saúde 
no âmbito da Seguridade Social. A saúde 
é direito de todos e dever do Estado, 
garantido mediante políticas sociais 
e econômicas que visem à redução do 
risco de doença e de outros agravos e ao 
acesso universal e igualitário às ações e 
serviços para sua promoção, proteção e 
recuperação. São de relevância pública 
as ações e serviços de saúde, cabendo ao 
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais54/275
Poder Público dispor, nos termos da lei, 
sobre sua regulamentação, fiscalização 
e controle, devendo sua execução ser 
feita diretamente ou através de terceiros 
e, também, por pessoa física ou jurídica 
de direito privado. As ações e serviços 
públicos de saúde integram uma rede 
regionalizada e hierarquizada e constituem 
um sistema único: SUS. 
A legislação infraconstitucional 
relacionada à Saúde compreende a 
Lei nº 8080/1990 – a Lei Orgânica da 
Saúde, regulamentada pelo Decreto nº 
7.508/2011. O SUS está regulamentado 
através da Portaria nº 2.048/2009.
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais55/275
Glossário
Sistema jurídico: é um conjunto dinâmico de normas que regulam as relações jurídicas de um 
determinado grupo, por exemplo o Sistema Jurídico Brasileiro. 
Jurisprudência: é um conjunto de decisões uniformes e constantes, emitidas pelos Tribunais em sua 
atividade jurisdicional, sobre situações de aplicação da norma a casos semelhantes, tratando da mesma 
matéria. 
Constituição Rígida: classificação das Constituições quanto à estabilidade. É rígida a “constituição 
somente alterável mediante processos, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os 
de formação de leis ordinárias ou complementares”, conforme José Afonso da Silva15.
5 SILVA, José Afonso da. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO. 23ª edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2004.
Questão
reflexão
?
para
56/275
Considerando os direitos humanos aqui estudados e a estrutura 
de seguridade social criada pela Constituição Federal de 1988, 
você entende que a garantia destes direitos humanos (no todo 
ou em parte deles) em relação a estrangeiros residentes no Brasil, 
dependeria da existência de acordos de reciprocidade entre as 
nações? Pesquise um pouco sobre a garantia destes direitos 
no Brasil. E considere a notícia16 reproduzida abaixo em suas 
pesquisas:
6 Acessado em 02/09/2015 e disponível para consulta no link: <http://
www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=noticia_visualizar&id_
noticia=11214> 
Questão
reflexão
?
para
57/275
Nacionalidade estrangeira não impede que idoso tenha acesso a 
benefício assistencial
Um italiano morador de Porto Alegre tem direito a benefício assistencial 
ao idoso garantido. A decisão é do Tribunal Regional Federal da 4ª Região 
(TRF4), que manteve, na última semana, sentença que confirmou que a 
nacionalidade estrangeira não impede o acesso à ajuda assistencial. O 
homem alegou não ter condições econômicas de se manter, e recorreu 
à Justiça depois de ter o pedido de amparo negado pelo INSS sob o 
argumento de que esse auxílio é destinado apenas aos brasileiros. 
A defesa alegou que, de acordo com a Lei n° 8.742/93, a nacionalidade 
estrangeira, único motivo citado pelo órgão para rejeitar o benefício, não 
impede a concessão, sendo sua situação no país regular. 
Questão
reflexão
?
para
58/275
O juízo de primeira instância aceitou o pedido e o INSS recorreu ao 
tribunal alegando que a legislação fala em “cidadão”, o que se refere a 
nato ou naturalizado. 
A 5ª Turma negou o recurso. Conforme a relatora do processo, juíza 
federal convocada Taís Schilling Ferraz, “a condição de estrangeiro, ainda 
que não naturalizado, não impede a concessão de benefício assistencial 
ao idoso, porque a Constituição Federal, em seu artigo 5º, garante ao 
estrangeiro residente no país o gozo dos direitos e garantias individuais 
em igualdade de condições com o nacional”. 
Questão
reflexão
?
para
59/275
Benefício assistencial ao idoso 
Visando ao cumprimento do art. 6º da Constituição, que assegura a 
assistência aos desamparados, a Lei n° 8.742, de 1993, garantiu uma 
série de auxílios, entre eles o benefício assistencial ao idoso, no valor de 
um salário mínimo. Para solicitá-lo, é necessário ter 60 anosou mais e 
comprovar a condição de carência.
60/275
Considerações Finais (1/2)
A Constituição Federal é a Lei Maior do país e define os fundamentos 
que devem ser seguidos por todas as demais leis.
A Constituição Federal de 1988 é considerada o marco legal de início 
de garantia ou proteção de diversos direitos sociais, cuja abrangência 
ou amplitude ali adotada significaram grandes avanços. Por isso 
foi muito criticada, sendo considerada utópica ou meramente 
programática. 
Para a implementação de parte dos direitos sociais garantidos, foi 
criado constitucionalmente o Sistema da Seguridade Social, estrutura 
composta por três subsistemas relacionados a direitos fundamentais 
do cidadão: Saúde, Previdência Social e Assistência Social. 
A legislação infraconstitucional regulamentando os direitos sociais 
garantidos na Constituição Federal de 1988 tardou a surgir, e em 
alguns casos já foi severamente reformada, chegando a provocar 
polêmicos retrocessos sociais. 
61/275
Considerações Finais (2/2)
Nos últimos anos o embate tem sido entre as tentativas do governo 
para atingir o equilíbrio fiscal e a reforma da legislação de direitos 
sociais, considerada por muitos como uma das causas de déficit 
público. Em alguns casos havendo o retrocesso, mas em outros 
implantando-se novos direitos conquistados, como por exemplo nos 
casos da legislação definidora de direitos de pessoas com deficiência.
Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais62/275
Referências 
BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Constituição: um olhar sobre minorias vinculadas à 
seguridade social./ Jane Lucia Wilhelm Berwanger, Osmar Veronese./Curitiba: Juruá, 2014.
SILVA, José Afonso da. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO. 23ª edição. São Paulo. 
Malheiros Editores. 2004.
SARLET, Ingo Wolfgang. A assim designada proibição de retrocesso social e a construção de um 
direito constitucional comum latino-americano. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais 
– RBEC. Belo Horizonte, ano 3, n. 11, jul./set. 2009. Consultado em 17/08/2015. Disponível em 
<http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/13602/007_sarlet.pdf?sequence=4>
63/275
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Aula 2 - Tema: O Sistema Jurídico Brasileiro: 
Constituição Federal de 1988 e Normas 
Infraconstitucionais
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dfd1d69166fe0396234989eeb4f1ea7a>.
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Constituição Federal de 1988 e Normas 
Infraconstitucionais
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6430703f2b62c440cd4dbf5f137f8934>.
64/275
1. O processo legislativo começa pela fase:
a) do veto
b) da apresentação de projeto
c) da discussão de emendas
d) de sanção 
e) de votação
Questão 1
65/275
2. A decisão de veto ou sanção de um projeto de lei é competência do:
a) presidente do Supremo Tribunal Federal
b) presidente da Câmara dos Deputados
c) presidente do Senado
d) deputado federal mais votado
e) presidente da República
Questão 2
66/275
3. Para Ulisses Guimarães qual era a pior das discriminações?
a) a soberba
b) o racismo
c) a miséria
d) a doença
e) a tirania
Questão 3
67/275
4. Assinale a alternativa correta:
a) Os benefícios e prestações da previdência social não dependem de contribuição prévia.
b) O benefício de prestação continuada assistencial é devido ao idoso maior de 60 anos de 
idade que comprovar não ter renda própria. 
c) A Saúde é direito de todos e dever do Estado, com acesso universal e igualitário. 
d) É proibida a participação popular na implementação de políticas públicas de Assistência 
Social. 
e) A Saúde só pode ser atendida por empresas privadas
Questão 4
68/275
5. Assinale qual lei não se refere ao Sistema de Seguridade Social:
a) Lei nº 8213/91 – Lei de benefícios da Previdência Social
b) Lei complementar nº 142/2013 – Aposentadoria especial da pessoa com deficiência no 
RGPS
c) Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente
d) Lei nº 8742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social
e) Lei nº 6697/79 – Código de Menores
Questão 5
69/275
Gabarito
1. Resposta: B.
O processo legislativo obedece uma 
estrutura formal que se inicia sempre pela 
apresentação de um projeto ou proposta 
de lei.
2. Resposta: E.
Após a aprovação do Senado, o projeto 
de lei segue para exame do titular na 
Presidência da República que poderá vetar 
ou sancionar o mesmo.
3. Resposta: C.
Ulisses Guimarães considerava a 
Constituição de 1988 como “cidadã” 
porque esta recuperaria milhares de 
brasileiros como cidadãos ao tirá-los da 
miséria.
4. Resposta: C.
A Saúde é um dos subsistemas da 
Seguridade Social caracterizada pela 
universalidade de acesso, pela qual não se 
exigem contribuições prévias.
5. Resposta: E.
O Código de Menores é legislação anterior 
aos direitos garantidos pela Constituição 
Federal de 1988 e restringia-se à disciplinar 
as regras de vigilância do menor infrator 
(ou delinquente) e a amparar as crianças 
abandonadas.
70/275
Unidade 3
Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social
Objetivos
1. Conceituar os princípios 
constitucionais da dignidade da 
pessoa humana e da solidariedade 
social 
2. Relacionar os princípios da dignidade 
e da solidariedade social aos direitos 
sociais 
3. Analisar a seguridade social no 
contexto dos princípios da dignidade 
e solidariedade
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social71/275
Introdução
Os princípios constitucionais são normas 
que servem de diretrizes, vinculam a 
interpretação de todo o texto legal 
construído sobre si. Eles têm como 
fundamento os valores, que prescindem 
o ordenamento jurídico. Os valores são 
inerentes ao homem, fazem parte do ser. 
Desta forma os princípios, fundamentados 
nos valores, são o “dever-ser”. 
Para Roque Carraza1 “princípio jurídico é um 
enunciado lógico, implícito ou explícito, que, 
por sua grande generalidade, ocupa posição 
de preeminência nos vastos quadrantes do 
direito e, por isso mesmo, vincula, de modo 
inexorável, o entendimento e a aplicação das 
normas jurídicas que com ele se conectam.”
1 CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito Constitu-
cional tributário. 11 Ed. rev. atua. amp. São Paulo: Ma-
lheiros Editores, 1998.
Há vários conceitos definidos pelos 
doutrinadores em busca de um significado 
para os princípios, em especial na busca 
de diferenciá-los das regras, e na busca 
de estudar sua eficácia jurídica, ou seja, 
o que se pode exigir judicialmente com 
fundamento em tais normas. 
No entanto há um consenso no que se 
refere à função dos princípios: enquanto 
fundamento da ordem jurídica, orientadora 
ou determinante na interpretação da 
norma e fonte em caso de lacuna da lei. A 
violação a um princípio constitucional seria 
assim a violação à ordem jurídica como um 
todo. 
Dentre os princípios consagrados na 
Constituição Federal de 1988 podemos 
destacar o princípio da dignidade 
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social72/275
da pessoa humana e o princípio da 
solidariedade social. 
Já no preâmbulo da Constitucional, que 
contém uma declaração dos valores que 
norteiam todas as normas ali engendradas, 
as intenções da Assembleia Constituinte 
incluem a dignidade e a solidariedade, 
embora não com estes exatos termos. 
Ao incluir como objetivos e valores 
supremos do Estado Democrático de 
Direito a garantia de diversos direitos 
humanos fundamentais, entre os quais 
a liberdade, a igualdade,a segurança e a 
justiça, o constituinte estabelecia ainda 
que implicitamente a preponderância do 
princípio (ou super valor) da dignidade 
humana. Já o princípio da solidariedade 
pode ser identificado na descrição da 
sociedade que será normatizada pelo 
Estado Democrático de Direito assim 
criado: uma sociedade fraterna, pluralista 
e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida com a solução 
pacífica das controvérsias. 
Em seguida, o texto constitucional traz 
a previsão expressa do princípio da 
dignidade da pessoa humana como um 
dos fundamentos do Estado Democrático 
de Direito. Ela está relacionada no art. 1º, 
III, ao lado do valor social do trabalho e da 
livre iniciativa e da cidadania. Esclarecer 
o significado ou conceito da expressão 
“dignidade da pessoa humana” tem sido 
um desafio. Certamente é mais simples 
apreender o que seria lesivo à dignidade 
do ser humano do que necessariamente 
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social73/275
compreender o que a compõe. Afinal, não seriam o exercício da cidadania e a capacidade e 
oportunidade de trabalhar essenciais para garantir a dignidade humana? Pode-se interpretar, 
por exemplo, considerada a indivisibilidade dos direitos humanos fundamentais, que a violação 
a qualquer destes princípios seria a violação à dignidade. 
Tomemos como exemplo a decisão da Ministra Rosa Weber em julgamento de 29-03-2012 no 
Inquérito nº 3.412, em que os princípios acima relacionam-se diretamente: 
A ‘escravidão moderna’ é mais sutil do que a do século XIX e o 
cerceamento à liberdade pode decorrer de diversos constrangimentos 
econômicos e não necessariamente físicos. Priva-se alguém de sua 
liberdade e de sua dignidade tratando-o como coisa, e não como pessoa 
humana, o que pode ser feito não só mediante coação, mas também 
pela violação intensa e persistente de seus direitos básicos, inclusive 
do direito ao trabalho digno. A violação do direito ao trabalho digno 
impacta a capacidade da vítima de realizar escolhas segundo a sua livre 
determinação. Isso também significa ‘reduzir alguém a condição análoga 
à de escravo’.” (Inq 3.412, rel. p/ o ac. min. Rosa Weber, julgamento em 29-
3-2012, Plenário, DJE de 12-11-2012.)
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social74/275
O princípio da solidariedade também aparece expresso no texto constitucional, no art. 3º, I, que 
estabelece como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil a construção de uma 
sociedade livre, justa e solidária. 
Esta sociedade solidária aparece posteriormente em diversos dispositivos, ainda que de forma 
implícita, em alguns casos de forma obrigatória, outras como possibilidade de participação em 
alguma questão social. 
Nesse sentido podemos tomar como exemplo, novamente através de uma jurisprudência do 
STF – Supremo Tribunal Federal, tema relacionado à Seguridade Social, que será objeto de 
nossos estudos. O Ministro Eros Grau destaca a relação entre o princípio da solidariedade no 
custeio da Previdência Social com o princípio da isonomia. 
O sistema público de previdência social é fundamentado no princípio 
da solidariedade (art. 3º, I, da CB/1988), contribuindo os ativos para 
financiar os benefícios pagos aos inativos. Se todos, inclusive inativos e 
pensionistas, estão sujeitos ao pagamento das contribuições, bem como 
aos aumentos de suas alíquotas, seria flagrante a afronta ao princípio da 
isonomia se o legislador distinguisse, entre os beneficiários, alguns mais 
e outros menos privilegiados, eis que todos contribuem, conforme as 
mesmas regras, para financiar o sistema.
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social75/275
Se as alterações na legislação sobre custeio atingem a todos, 
indiscriminadamente, já que as contribuições previdenciárias têm 
natureza tributária, não há que se estabelecer discriminação entre 
os beneficiários, sob pena de violação do princípio constitucional da 
isonomia.” (RE 450.855-AgR, rel. min. Eros Grau, julgamento em 23-8-
2005, Primeira Turma, DJ de 9-12-2005.)
Vamos examinar estes princípios e seus significados com mais detalhe, ao longo do texto 
constitucional. 
1. Dignidade da Pessoa Humana
A Assembleia Constituinte, que gerou a Constituição Federal de 1988, tinha como contexto 
político social o regime militar e todo o tipo de desrespeito à pessoa humana praticado na 
ocasião, como a tortura física e psicológica. Daí a inclusão da dignidade da pessoa humana 
como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito disposto em nossa Constituição.
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social76/275
A dignidade da pessoa humana, como bem 
afirma José Afonso da Silva2, não é uma 
criação constitucional, mas um conceito 
preexistente por esta reconhecido e 
transformado em valor supremo da ordem 
jurídica, alçado a um dos fundamentos 
da República Federativa do Brasil. E assim 
deve ser considerado um princípio da 
ordem jurídica, política, social, econômica e 
cultural. 
Assim, a proteção constitucional não 
se resume à proteção dos direitos 
2 SILVA, José Afonso da. Interpretação da Constituição – 
em I Seminário de Direito Administrativo de 30 de maio 
a 03 de junho de 2005. Consultado em 18/08/2015, 
disponível em <http://www.tcm.sp.gov.br/legislacao/
doutrina/30a03_06_05/jose_afonso1.htm> e em R. Dir. 
Adm., Rio de Janeiro, 212: 89-94, abr./jun. 1998 disponí-
vel em <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/
article/download/47169/45637>
individuais tradicionais, mas de assegurar 
a existência digna em todos os aspectos, 
reconhecidos aqui os direitos humanos em 
sua concepção contemporânea, que além 
do caráter universal integra um conceito 
ambiental, expandindo o que seria o 
mínimo existencial necessário para uma 
vida digna para além dos recursos básicos 
de alimentação e saúde. 
Além de estabelecer um norte para todo o 
texto constitucional, tendo sido colocado 
como um dos principais fundamentos do 
Estado Democrático de Direito, o princípio 
da dignidade humana ainda aparece 
expressamente em outros dispositivos. 
Vejamos alguns exemplos.
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social77/275
O valor social do trabalho e a livre iniciativa são reafirmados como condição para a existência 
de uma vida digna no capítulo que trata dos princípios que regem a Ordem Econômica e 
Financeira do Estado brasileiro. 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios(...)
Em relação aos princípios do valor social do trabalho e da dignidade humana, os “princípios 
gerais da atividade econômica” relacionados no art. 170 da CF, podem ser considerados 
subprincípios. Uma análise destes princípios relacionados no texto constitucional nos leva ao 
questionamento sobre a natureza do direito ali declarado, se positivo ou negativo. Ou seja, 
o significado de “a ordem econômica assegurar a existência digna observado o princípio da 
busca da livre concorrência” seria não apenas “permitir ou não impedir a livre concorrência” 
(obrigação negativa) como também “agir de forma a promover, a dar condições para que exista 
a livre concorrência” (obrigação positiva). O mesmo raciocínio pode ser feito com os princípios 
da defesa do consumidor, da busca do pleno emprego, da defesa do meio ambiente, da redução 
das desigualdades regionais e sociais.
Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social78/275
Neste sentido podemos entender a responsabilidade e a necessidade das

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