Buscar

Nac. e imigração 26 abril com n. pg

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 35 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 35 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 35 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA 
DIREITO CONSTITUCIONAL II
NACIONALIDADE E IMIGRAÇÃO ILEGAL
ELISETE GOMIDES DUTRA
JOSÉ ROBERTO SOARES SILVA
MARCILÉIA ALVES TEIXEIRA
POLIANA CRISTINA GOMES DE OLIVEIRA
THIAGO STARLEY
Belo Horizonte
2015
ELISETE GOMIDES DUTRA
JOSÉ ROBERTO SOARES SILVA
MARCILÉIA ALVES TEIXEIRA
POLIANA CRISTINA GOMES DE OLIVEIRA
THIAGO STARLEY
NACIONALIDADE E IMIGRAÇÃO ILEGAL
Trabalho apresentado à Disciplina Direito Constitucional ll da Universidade Salgado de Oliveira como parte dos requisitos para aprovação na disciplina.
Orientador: Prof. Jamine Bedram
Belo Horizonte
2015
RESUMO
Nacionalidade é um vínculo jurídico e político que liga um individuo a um Estado, fazendo com que esse tenha capacidade de receber a proteção do Estado, adquirir direitos e cumprir obrigações. Cada Estado define, de maneira exclusiva, a sua própria nacionalidade, a quem atribuí-la e de quem cassá-la. A nacionalidade é direito fundamental objeto de previsões na Constituição Federal e em Tratados, Pactos e convenções internacionais. Os eventuais tratados internacionais sobre nacionalidade são aplicáveis apenas aos Estados que consentiram em se lhes submeter, nos termos do direito internacional. A Nacionalidade originaria resulta do nascimento enquanto a nacionalidade secundaria é adquirida por manifestação de vontade. Pessoas migram para um país do qual não é nacional em busca por melhores condições de vida e dignidade ou para escapar de uma guerra civil, tornando-se neste um imigrante ilegal. No Brasil, imigrantes ilegais têm medo de denunciar a exploração a que muitas vezes são submetidos e serem deportados. Como conseqüência da nacionalidade tem-se a proteção diplomática, a assistência consular, e os limites à deportação. Cabe destacar que as normas internacionais visam evitar qualquer tipo de discriminação e que pessoas não possuam nenhuma nacionalidade, ou seja, que sejam apátridas. 
Palavras chaves: direitos fundamentais, direitos humanos, direito á nacionalidade, apatridia, direito internacional
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	4
2 NACIONALIDADE	6
2.1 Espécies de nacionalidade	6
2.1.1 Brasileiro nato	6
2.1.2 Brasileiro naturalizado	8
2.1.3 Quase nacionalidade	10
2.1.4 Polipatria e apatridia	10
2.1.5 Diferenças de tratamento entre brasileiro nato e naturalizado	11
2.1.6 Perda do direito de Nacionalidade	13
3 IMIGRAÇÃO ILEGAL	15
3.1 Imigração ilegal e as relações de trabalho no Brasil	17
3.2 Caso envolvendo empresa brasileiras e imigrantes ilegais	18
3.3 Imigração ilegal e o Tráfico de Pessoas	19
4 DIREITO INTERNACIONAL	21
4.1 Teoria do Duplo Estatuto	21
4.2 Declaração Universal de Direitos Humanos	22
4.3 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos	23
4.4 Convenção Americana sobre Direitos Humanos	24
5 IMPORTANTES CONSEQÜÊNCIAS DA NACIONALIDADE	25
5.1 Proteção Diplomática	25
5.2 Assistência Consular	25
5.3 Limites à deportação	26
6 JURISPRUDÊNCIAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS	29
6.1 CASO Vélez Loor vs. Panamá.	29
6.2 Caso Yean e Bosico VS República Dominicana	30
7 CONCLUSÃO	33
8 BIBLIOGRAFIA	34
1 INTRODUÇÃO 
No direito, nacionalidade pode ser definida como o vínculo jurídico-político entre o Estado e o indivíduo que faz deste um componente do povo (NOVELINO, 1972). A nacionalidade pressupõe que a pessoa tenha determinados direitos frente ao Estado de que é nacional, como o direito de livre ingresso, residência e trabalho no território do Estado, o direito de votar e ser votado (este, conhecido como cidadania), o direito de não ser expulso ou extraditado, dentre outros.
A verificação da nacionalidade de uma pessoa é importante, pois permite distinguir entre nacionais e estrangeiros, que têm, em casos excepcionais, direitos diferentes. Ademais, nos Estados que adotam o critério da nacionalidade (lex patriæ) para reger o estatuto pessoal, a determinação da nacionalidade da pessoa é imprescindível ao direito internacional privado. Por último, na aplicação da proteção diplomática à pessoa no exterior, é essencial conhecer a sua nacionalidade.
A nacionalidade pode também, por outro lado, constituir certos deveres para a pessoa em relação ao Estado (por exemplo, o serviço militar, obrigatório em alguns países). A nacionalidade de uma pessoa jurídica costuma ser a do Estado sob cuja lei foi constituída e registrada.
A nacionalidade é uma relação de direito público interno. Esta definição é o princípio de que as questões relativas à aquisição ou perda de uma nacionalidade específica são, via de regra, reguladas pelas leis do Estado cuja nacionalidade é reivindicada ou contestada. Em outras palavras, cada Estado define, de maneira exclusiva, a sua própria nacionalidade, a quem atribuí-la e de quem cassá-la. Os eventuais tratados internacionais sobre nacionalidade são aplicáveis apenas aos Estados que consentiram em se lhes submeter, nos termos do direito internacional. 
A nacionalidade é direito fundamental objeto de previsões na Constituição (CF, art. 12, I; art. 12, II; art. 12 §1°; art. 12 §3°; art. 222; art. 5°, LI; art. 12 §4°) e em tratados internacionais de direitos humanos (a exemplo do art. XV, 1, da Declaração Universal de Direitos Humanos, do art. 24, 3, do Pacto de Direitos Civis e Políticos, e do art. 20, 1, do Pacto de São Jose da Costa Rica), como será detalhado a seguir.
Importante verificar que o Supremo Tribunal Federal adota, em termos de tratados internacionais de direitos humanos, a Teoria do Duplo Estatuto, de modo que os tratados de direitos humanos, em regra, são internalizados com status de lei ordinária federal. Entretanto, se for aprovado com quorum de Emenda Constitucional terá status de norma constitucional.
A política de imigração no Brasil é ditada, principalmente por dois instrumentos jurídicos: a lei 6.815 de 1980, o Estatuto dos Estrangeiros, e a lei 9.474 de 1997, o Estatuto dos Refugiados. Estes institutos apresentam relevantes previsões infraconstitucionais a respeito da nacionalidade.
O Estatuto dos Refugiados reflete uma ideologia centrada no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Do ponto de vista jurídico, é considerado um avanço ao delimitar direitos e deveres que garantem uma sobrevivência digna aos estrangeiros que adquirem a condição de refugiados. 
Já o Estatuto dos Estrangeiros visa garantir, sobretudo, a proteção do trabalhador nacional, conferindo ampla discricionariedade ao poder público para definir as possibilidades de aquisição de visto de residência permanente, geralmente via resoluções normativas. Na verdade, tem-se uma política migratória excludente, com possibilidades restritas para o estrangeiro se estabelecer e trabalhar no Brasil. O resultado é a crescente presença de imigrantes ilegais que se sujeitam a condições de trabalho indignas, muitas vezes análoga a de escravos, vivendo na clandestinidade e sujeitos a privação de direitos fundamentais (WAISBERG, 2013).
Outra questão de sua importância que é também objeto deste trabalho, trata-se do dever de evitar as causas de apatridia, obrigação internacional dos Estados, a qual implica garantia de proteção e Dignidade da Pessoa Humana. 
2 NACIONALIDADE 
Nacionalidade é um vinculo jurídico e político que liga um individuo a um certo e determinado Estado, fazendo com que esse individuo tenha por conseqüência a capacidade de receber a proteção do Estado, adquirindo direitos e cumprindo obrigações (MORAES, 2012).
2.1 Espécies de nacionalidade 
Compete ao Estado legislar sobre a nacionalidade, sendo totalmente impossível a ingerência normativa do direito estrangeiro. Podemos distinguir doutrinariamente duas espécies de nacionalidade (MORAES, 2012):
1º Nacionalidade originaria ou primaria: resulta do nascimento a partir do qual, através dos critérios sanguíneos (jus sanguinis) ou territoriais (jus soli), a nacionalidade será estabelecida. Em geral os países de emigração adotam o critério jus sanguins, a fim de se manter um vínculo com os descendentes,como acorre na maioria dos países europeus, e os países de imigração adotam o critério jus soli, com a finalidade de vincular os imigrantes ao solo.
2º Nacionalidade secundaria ou adquirida: é a nacionalidade que se adquiri pela sua própria vontade, em regra após o nascimento. A esse processo dá-se o nome de naturalização. Poderá ser exigida tanto pelos estrangeiros quanto pelos heimatlos (apátridas) que são as pessoas que não possuem pátria. 
Segundo NOVELINO, 1972, a grande maioria das legislações contemporâneas tem adotado o sistema misto para atribuição da nacionalidade originária, como no caso do Brasil. 
2.1.1 Brasileiro nato 
De acordo com a Constituição Federal da República do Brasil (art. 12, 1, a) “São brasileiros natos os nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país”.
A Constituição Federal de 1988 adotou o critério territorial (jus soli) ao considerar brasileiro nato, todos os indivíduos nascidos em território brasileiro, independentemente da origem dos ascendentes ou de qualquer outro requisito. O espaço territorial compreende rios, mares, ilhas e golfo brasileiro, navios e aeronaves. 
Os nascidos em território brasileiro, mas filhos de pais estrangeiros, a serviço de seu país, tais como cônsules e diplomatas, foram excluídos do critério territorial, sendo-lhes aplicado o critério de filiação pelo país de origem. O texto Constitucional prevê que basta que um dos pais esteja a serviço do seu país de origem. (NOVELINO, 1972)
Quando um diplomata Francês estiver a serviço de seu país no Brasil acompanhado de sua esposa, e nasce o filho do casal, a criança será francesa. Nesse caso é como se a criança tivesse nascido na frança, território de origem de seus pais. 
Se um diplomata Francês não estiver a serviço de seu país e vier a se casar com uma brasileira, o filho poderá optar pela nacionalidade francesa (jus sanguinis) ou pela brasileira (jus soli) ou pela dupla nacionalidade. No caso de um estrangeiro no Brasil a serviço de um país que não o seu de origem, o seu filho nascido no Brasil será brasileiro.
A Constituição Brasileira adota o critério sanguíneo para brasileiros natos nas seguintes situações:
CF, art. 12, 1, b, “os nascidos no estrangeiro, mas com pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da Republica Federativa do Brasil”. 
CF, art. 12, 1, c, “os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maior idade, pela nacionalidade brasileira.”
No primeiro caso (CF, art. 12, I, b) deve-se considerar o serviço público prestado a quaisquer dos entes da federação brasileira (União, Estados, Distrito Federal ou Municípios) e para tal, a aquisição da nacionalidade brasileira seria pelo critério de sangue acrescido do critério funcional. Na hipótese do art. 12, I, c, introduzido pela Emenda Constitucional 54/2007, seria o caso de considerar o critério de sangue acrescido de registro para brasileiros natos. Segundo NOVELINO, 1972, “por ser o registro uma mera formalidade, não parece correto continuar considerando jus soli como regra geral para atribuição de nacionalidade brasileira.” Em CF, art. 12, I, c, tem-se ainda o critério de sangue, mais o critério residencial, mais opção confirmativa para obtenção de nacionalidade originária
2.1.2 Brasileiro naturalizado 
A nacionalidade secundaria é a que se adquiri por um ato voluntário, o indivíduo opta por uma determinada nacionalidade. Este processo pode ocorrer de forma expressa ou tácita.
a) A naturalização tácita, grande naturalização ou naturalização coletiva é normalmente adotada quando o número de nacionais é menor que o desejado. Nesse caso o estrangeiro que estiver residindo no país e não declarar, dentro de determinado período, que quer permanecer com a sua nacionalidade de origem, automaticamente adquirirá a nacionalidade do país onde estiverem residindo. Não se deve confundir a naturalização tácita com a naturalização involuntária que se dá quando um cônjuge adquiri automaticamente a nacionalidade do outro em razão do casamento.
No Brasil a naturalização tácita ocorreu em dois momentos. No primeiro a Constituição Imperial brasileira de 1824, em seu artigo 6°, adotou a naturalização tácita para os portugueses residentes no Brasil na época da proclamação da independência (7/9/1822). No segundo momento, a Constituição Republicana de 1891 consagrou a naturalização tácita para todos os estrangeiros que se encontravam no Brasil na data da proclamação da República (15/11/1889) e para os residentes no Brasil, desde que não se manifestassem pela nacionalidade de origem. 
b) A naturalização Expressa é aquela que depende de requerimento do interessado, demonstrando sua manifestação de vontade em adquirir a nacionalidade brasileira. Conforme consta na Constituição Federal, mediante naturalização expressa, são brasileiros naturalizados:
CF, art. 12, II, a. os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
CF, art. 12, II, b. os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
A naturalização expressa se divide em ordinária e extraordinária:
b.1) Naturalização expressa ordinária 
Esta espécie de naturalização (CF, art. 12, II) é adquirida na forma da lei, sendo que o estatuto do estrangeiro estabelece as seguintes condições gerais: I- capacidade civil, II- registro como permanente, III- residência ininterrupta pelo período de quatro anos, IV- domínio da língua portuguesa, V- condições de se manter e manter sua família, VI- bom comportamento, VII- boa saúde e inexistência de condenação penal . 
Ainda existem duas espécies de naturalização expressa ordinária específicas para aquisição de nacionalidade secundária ou derivada:
I- Radicação precoce, quando se vem morar no Brasil com menos de cinco anos de idade e façam o pedido até dois anos após completar a maioridade.
II- Colação de grau em curso superior, para o estrangeiro que resida no país e venha completar a maioridade e tenha concluído curso superior, desde que façam o requerimento até um ano após a sua formatura.
Para os originários de países de língua portuguesa (Açores, Angola, Cabo Verde, Gamão, Guiné Bissau, Goa, Macau, Moçambique, Portugal, Porto Príncipe e Timor Leste) a própria Constituição estabelece os requisitos: residência por um ano e idoneidade moral.
NOVELINO, 1972, chama atenção para o fato que a obtenção de naturalização originária é ato de soberania estatal não se constituindo, portanto, em direito subjetivo. A concessão da naturalização é um ato discricionário.
b.2) Para a Naturalização Expressa Extraordinária além do requerimento do interessado, este não pode ter condenação penal e deve ter quinze anos ininterruptos de residência no pais (CF, art.12, II, b). Aqui surge o direito público subjetivo à naturalização, desde que requeiram e que sejam preenchidos os requisitos constitucionais. 
2.1.3 Quase nacionalidade 
Aos portugueses residentes no Brasil, caso haja reciprocidade de Portugal, serão atribuídos os direitos inerentes aos brasileiros, salvo nos casos previstos na constituição. Neste caso apesar de manter sua nacionalidade o português é equiparado ao brasileiro naturalizado (CF, art. 12 §1).
2.1.4 Polipatria e apatridia
Idealmente, para evitar conflitos jurídicos, cada pessoa deveria ter apenas uma nacionalidade, sendo, portanto, súdito de apenas um Estado. Na prática, porém, podem ocorrer (e frequentemente ocorrem) casos de indivíduos com mais de uma nacionalidade (polipatria). Tais casos surgem quando há uma concorrência positiva dos critérios de jus sanguinis e jus soli. 
Um exemplo hipotéticode polipatria é o caso de nascimento, no Brasil (jus soli, como regra geral), de um filho de pai italiano e mãe alemã (a Alemanha e a Itália adotam o critério do jus sanguinis): o filho será brasileiro (jus soli), italiano (jus sanguinis) e alemão (jus sanguinis). 
Outro exemplo hipotético é o nascimento, no Brasil, do filho de um casal de alemães: o filho será brasileiro, porque nasceu no Brasil, e ao mesmo tempo alemão, porque descende de pais alemães. 
O outro extremo é a apatridia, que é a concorrência negativa dos critérios de jus sanguinis e jus soli. Por exemplo, sejam, por hipótese, as regras atribuidoras de nacionalidade do Uruguai e da Itália apenas o jus soli e o jus sanguinis, respectivamente. O filho de uruguaios nascido em território italiano não teria nem a nacionalidade uruguaia (pois não nasceu no Uruguai) nem a italiana (não é descendente de italianos). Seria, neste caso hipotético, apátrida, ou seja, sem nacionalidade. 
A Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, representa um esforço da comunidade internacional no sentido de evitar ou mitigar a apatridia, ao estipular que os Estados-membros devem conferir aos apátridas os mesmos direitos outorgados aos estrangeiros.
2.1.5 Diferenças de tratamento entre brasileiro nato e naturalizado 
A Constituição Federal de 1988 proíbe que a lei estabeleça distinção entre brasileiros natos e naturalizados (CF, art 12, §2°), entretanto para proteger a soberania nacional, alguns cargos são privativos de brasileiros natos, a saber:
a) Linha sucessória da Presidência da República: (CF, art.80), uma vez que brasileiros naturalizados não podem ocupar esse cargo, assim, são privativos de brasileiros natos os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara e do Senado, e de Ministro do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 12, §3, I a IV).
O cargo de Presidente do Conselho Nacional de Justiça, por ser exercido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal (CF,art.103-b, §1°), necessariamente será ocupado por um brasileiro nato.
Por questão de segurança nacional, os cargos de diplomata, oficial das Forças Armadas e Ministro de Estado da Defesa (CF, art. 12 § 3, V a VII).
De acordo com LENZA, 2014, o art. 12, inciso 3º, da Constituição Federal estabelece que alguns cargos devem ser ocupados somente por brasileiros natos, fazendo expressa diferenciação em relação aos brasileiros naturalizados, fato esse perfeitamente possível, já que introduzido pelo poder constituinte originário. 
b) Conselho da República: são reservados seis assentos aos brasileiros natos com mais d 35 anos (CF, art. 89, VII). O Conselho tem competência para pronunciar sobe intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio, bem como sobre questões relevantes para estabilidades das instituições democráticas (CF, art.90).
c) Propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens: é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 (dez) anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País (CF, art. 222).
Segundo a nova redação conferida ao art. 222, caput, da Constituição Federal pela Emenda Constitucional 36/2002, a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa: de brasileiro natos, de De brasileiros naturalizados há mais de 10 anos ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
d) Extradição: a Constituição não admite a extradição de brasileiro nato em nenhuma hipótese (CF, art. 5º, LI), nem mesmo quando o extraditando é também nacional do Estado requerente A extradição consiste na entrega de um indivíduo a um Estado estrangeiro em razão da prática de um delito praticado neste. 
Entretanto, ainda de acordo com a Constituição (CF, art. 5º, LI), o brasileiro naturalizado poderá ser extraditado em duas situações:
Crime comum: o naturalizado poderá ser extraditado somente se praticou o crime comum antes da naturalização;
Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins: no caso de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei, o brasileiro naturalizado poderá ser extraditado, não importando o momento da prática do fato típico, seja antes, seja depois da naturalização.”
Os dois casos citados referem-se á extradição passiva, ou seja, requerida por um Estado estrangeiro ao Brasil. A extradição é considerada ativa quando é requerida pelo Brasil ao Estado estrangeiro (seria o caso de brasileiro que comete crime no Brasil e sai do território nacional).
De acordo com entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, ao contrário do que ocorre com a expulsão (Súmula 1/STF), “não impede a extradição a circunstancia de ser o extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro (Súmula 421/STF).” A expulsão consiste na retirada à força, do território brasileiro, de um estrangeiro que tenha praticado os atos tipificados no Estatuto dos Estrangeiros, Lei 6.815 de 1980. 
Por sua vez, o Estatuto do Estrangeiro veda a expulsão em duas hipóteses: a primeira se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; a segunda quando o estrangeiro tiver: a) cônjuge brasileiro há mais de 5 anos e do qual não esteja divorciado ou separado, b) filho brasileiro sob sua guarda e que dele dependa economicamente. (Lei 6815 de 1980, art. 75).
2.1.6 Perda do direito de Nacionalidade 
As hipóteses de perda de direito de nacionalidade são enumeradas taxativamente pela Constituição Federal de 1988:
CF, art. 12, § 4°. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I- tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional
II- que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: 
 De reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
De imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
Ás hipóteses previstas no art. 12º §4º da Constituição Federal não são admitidos acréscimos ou supressões por lei infraconstitucional, tampouco renúncia á nacionalidade brasileira. 
Qualquer inovação sobre perda do direito de nacionalidade deve ser veiculada por emenda constitucional (CF, art. 60), ou por tratado internacional de direitos humanos, aprovado por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados) e em 2 turnos de votação (CF, art 5°, §3°). 
A primeira hipótese de perda de nacionalidade é em virtude de atividade nociva ao interesse nacional (CF, art. 12, §4°, I). Por ter natureza sancionatória, esta hipótese é conhecida como perdão-punição. A ação de cancelamento de naturalização pode ser deflagrada por representante do Ministério da Justiça, por solicitação de qualquer pessoa ou por provocação do Ministério Público Federal. A competência para processar e julgar as causas referentes á nacionalidade é da Justiça Federal (CF, art. 109, X). 
A decretação da perda de nacionalidade em virtude de atividade nociva ao interesse nacional produz efeito ex nunc e somente pode ocorrer por sentença judicial transitada em julgado. Uma vez cancelada a nacionalidade brasileira não poderá ser readquirida, salvo por ação rescisória (NOVELINO, 1972).
Não há nenhuma referência legislativa ao que seja uma atividade nociva ao interesse nacional. No entanto, não pode ser obstáculo á aplicação deste dispositivo. Por ser a nacionalidade um direito fundamental (CF, Título II), poderá ser considerado nocivo ao interesse nacional um ato que, além de tipificado na legislação penal como crime, seja de alguma forma, contrário as interesses do Estado Brasileiro. 
A segunda hipótese, no caso da naturalização voluntária (CF, art. 12, § 4°, II), a aquisição de outra nacionalidade não é suficiente para excluir a nacionalidade brasileira, para tal é necessário a instauração prévia de processo administrativo, a fim de verificara existência das causas determinantes e assegurar a ampla defesa. O ato se dá mediante publicação no Diário Oficial da União de Decreto expedido pelo Presidente da República (NOVELINO, 1972).
No caso de aquisição voluntária de outra nacionalidade, em regra, será declarada a perda de nacionalidade brasileira. No entanto, a Constituição considera duas exceções expressas: 
1- Se houver o reconhecimento da nacionalidade originária pela lei estrangeira, ou seja, se o Estado estrangeiro admitir a dupla nacionalidade, o brasileiro nato não perderá a nacionalidade brasileira (CF, art. 12, §4° II, a).
2- No caso de imposição de naturalização ao brasileiro nato ou naturalizado residente em Estado estrangeiro como condição de permanência em seu território ou para exercício de direitos civis. Por se tratar de imposição e não de vontade não ocorrerá a perda de nacionalidade brasileira (CF art. 12, §4° II, b).
De acordo com NOVELINO, 1972, no caso de perda de direito à nacionalidade por naturalização voluntária em outro Estado, diferentemente da hipótese de perda-sanção, é admitida a reaquisição da nacionalidade brasileira. Para tal, o pedido de reaquisição deve ser dirigido ao Presidente da República (Lei 818/1949, art. 36, §1°). Assim, o brasileiro nato que voluntariamente adquiriu outra nacionalidade, somente poderá readquirir a nacionalidade brasileira sob a forma derivada, ou seja, como brasileiro naturalizado.
3 IMIGRAÇÃO ILEGAL 
Imigração ilegal ou imigração clandestina refere-se à imigração para além das fronteiras nacionais com a violação de leis de imigração do país de destino. Segundo esta definição, um imigrante em situação ilegal é tanto um estrangeiro que atravessou ilegalmente uma fronteira política internacional, seja por terra, água ou ar, quanto um estrangeiro que tenha entrado legalmente no país e nele permaneceu após o vencimento do visto. 
As razoes que leva um indivíduo a imigrar ilegalmente é a busca por melhores condições de vida e dignidade ou para escapar de uma guerra civil, de repressão de natureza religiosa, sexual ou étnica. A foto da Figura 1 mostra essa dura realidade.
Figura 1: Africanos no mar Mediterrâneo em direção á Europa.
Fonte: Blog GUSTL ROSENKRANZ- pensamento livre/ Site Caminhos
A imigração ilegal é objeto do Estatuto do Estrangeiro, Lei 6.815 de 1980, do artigo 57 ao 64. Nos casos de entrada irregular de estrangeiro, se este for flagrado e não se retirar voluntariamente, do território nacional, no prazo fixado em regulamento, será promovida sua deportação, conforme artigos 57 e 58:
Lei 6815/1980. Art. 57. Nos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado em Regulamento, será promovida sua deportação. 
Lei 6815/1980. Art. 58. A deportação consistirá na saída compulsória do estrangeiro.
A deportação é a devolução compulsória ao país de origem, de procedência ou mesmo para qualquer outro que consinta em recebê-lo, do estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma irregular no território nacional. Conforme o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815 de 1980, art. 62), caso a deportação seja impossível ou se houver sérios indícios de periculosidade ou indesejabilidade, o estrangeiro pode ser expulso (NOVELINO, 1972).
A imigração ilegal é uma ação altamente perigosa em enumeras situações. As pessoas morreram por desidratação, na tentativa de atravessar o deserto a pé; por asfixia, ou esmagadas pelo peso da carga ou por causa de acidentes escondidos em caminhões. Em campos minados, afogadas ou congeladas quando atravessavam rios fronteiriços. 
Também ocorrem mortes de pessoas que caiem nas vias do túnel do Canal da Mancha ou fulminadas quando saltam a rede elétrica da terminal francesa. Pessoas morrem ainda por disparos dos militares nas fronteiras. Há de se lembrar ainda das pessoas que morrem congeladas viajando escondidas na brecha do trem de pouso de aviões. A Figura 2 mostra foto tirada na fronteira entre Estados Unidos e México. Interessante observar que só são vistas patrulhas do lado americano.
Figura 2- Foto tirada na fronteira entre México e Estados Unidos
3.1 Imigração ilegal e as relações de trabalho no Brasil
Imigração laboral (em busca de trabalho) vem, no século 21, se destacando como um dos assuntos principais na agenda política de muitos países - países de origem, trânsito e destino. A maioria dos 150 milhões de migrantes estimados no mundo são pessoas procurando por melhora econômica e oportunidades fora do seu país de origem. Três fatores principais influenciam e continuarão a influenciar a imigração:
O "evento" das mudanças demográficas e das necessidades do mercado de trabalho em muitos países industrializados;
A "pressão" da população, desemprego e crises nos países menos desenvolvidos; 
A formação de redes entre países baseadas na família, cultura e história.
Uma proporção alarmante de migração laboral ocorre ilegalmente, muitas vezes auxiliada e encoberta por uma indústria criminosa. Atualmente no Brasil tem-se muitas imigrações ilegais vindas em especial de países como o Haiti, Gana, Senegal e Angola. As condições de trabalham que encontram envolvem, muitas vezes, trabalho escravo e atividades ilícitas como tráfico de drogas e prostituição, além do tráfico de pessoas. 
O Brasil tem a lei 9474 de 1997 que regula a entrada de estrangeiro no país em condição de refugiado que garante algumas proteções:
Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:
I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; 
II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior;
III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.
Após a autorização do Comitê Nacional de Refugiados - CONARE para permanência deste estrangeiro ele poderá retirar carteira de trabalho e ter os mesmos direitos trabalhistas do Brasileiro nato.
Porém essa relação de emprego entre as empresas brasileiras e os estrangeiros tem sido preocupante ao Governo Brasileiro, uma vez que essa relação estrangeiro ilegal e o trabalho se transforma em trabalho escravo. Estima-se que 300 mil bolivianos, 70 mil paraguaios e 45 mil peruanos estejam vivendo na região metropolitana de São Paulo, a maioria sujeita a condições de trabalho análoga a de escravo. 
Além dos imigrantes sul-americanos ainda são encontrados chineses submetidos a trabalho escravo. Os Bolivianos são aliciados em seu próprio país com promessas de emprego. Eles já chegam a cidade de destino, na maioria das vezes São Paulo, endividados com os custos da viagem e "acabam escravizados, com a liberdade cerceada por meio de dívidas e ameaças".
Alojamentos improvisados são instalados no próprio local de trabalho. Como entram no Brasil ilegalmente, eles têm medo de denunciar a exploração a que são submetidos e enfrentar a deportação, sem saber que a Resolução Normativa 93 do 
Diante desse processo violento de imigrações e trabalho escravo surge a necessidade de regulação para que esses trabalhadores tenham seus direitos trabalhistas e previdenciários garantidos, uma vez que, caso estes estrangeiros venham a permanecer no Brasil, possam ter assegurados seus direitos mais necessários e humanos, lembrando que nossa Constituição garante tanto ao brasileiro quanto ao estrangeiro os princípios da dignidade humana. O Conselho Nacional de Imigração prevê a concessão de vistos de permanência para estrangeiros que estejam no país em situação de vulnerabilidade.
3.2 Caso envolvendo empresa brasileiras e imigrantes ilegais
A Justiça do Trabalho tem julgado ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público doTrabalho contra a exploração dessa mão de obra. Um exemplo emblemático foi a ação ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho de São Paulo, em fevereiro, contra as Casas Pernambucanas pela exploração de trabalhadores - a maioria bolivianos - na cadeia produtiva das marcas Argonaut e Vanguard.
Essa foi a primeira ação civil pública sobre trabalho escravo urbano envolvendo estrangeiros no Brasil. O Ministério Público do Trabalho de São Paulo solicitou, na Justiça do Trabalho de São Paulo a antecipação de tutela (suspensão imediata dessa prática), além de indenização por danos morais à coletividade de trabalhadores no valor de R$ 5milhões, a serem revertidos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Até o momento a ação civil pública não foi julgada.
No caso relatado, conclui-se que abrange em especial a proteção a dignidade da pessoa humana como previsto no artigo 5º da Constituição Federal que diz: que “Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se ao brasileiro e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e a propriedade”. Assim, o trabalhador estrangeiro, mesmo ilegal, deverá ter os mesmos direitos individuais e coletivos e, portanto, trabalhistas, uma vez que o trabalho licito é objeto de proteção do Estado.
O juiz ao ter contato com uma reclamação trabalhista que envolva imigrantes ilegais deve expedir ofício imediato ao Ministério Público Federal, bem como ao Ministério do Trabalho e Emprego, para que tomem as providências cabíveis para abertura de processo na Justiça do Trabalho.
Casos onde se identificam estrangeiros em situação migratória irregular para fins de exploração de trabalho e em condição análoga à de escravos, deverão os mesmos ser encaminhados para concessão do visto permanente ou abertura de processo para permanência no Brasil, de acordo com o que determina a Resolução Normativa nº 93, de 21 de Dezembro de 2010, do Conselho Nacional de Imigração – CNIg. 
3.3 Imigração ilegal e o Tráfico de Pessoas
O tráfico de pessoas se configura na exploração, seja ela para prostituição, trabalho, ou serviços forçados, servidão ou remoção de órgãos, estando a cargo do Ministério da Justiça a elucidação de cada caso.
A fim de identificar esse crime precisa-se ater à luz da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, aprovado pelo Decreto nº 5.948, de 26 de outubro de 2006 para assim identificar se o estrangeiro se enquadra como vitima do trafico irregular de pessoas.
Será necessário parecer técnico que poderá ser encaminhado pelos órgãos citados na Resolução Normativa nº 93 de 21 de Dezembro de 2010 sendo eles:
I – Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça;
II – Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
III – Postos Avançados de serviços de recepção a brasileiros deportados e não admitidos nos principais pontos de entrada e saída do País;
IV- Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; e
V – Serviços que prestem atendimento a vítimas de violência e de tráfico de pessoas.
Após identificar a condição de vítima do estrangeiro, o pedido de permanência ou visto de permanência será solicitado ao Conselho Nacional de Imigração, que decidirá pela sua permanência ou não.
Será considerado irrelevante para fins de responsabilidade no crime, a vontade da vítima ou seu consentimento, desde que haja intencionalidade de obter, direta ou indiretamente, benefício financeiro por parte de quem facilita ou recruta as vítimas. Concorrendo como agravante se as infrações estabelecidas às circunstancias ponham em perigo ou ameaça à vida e à segurança dos imigrantes, sendo enquadrado ainda ,como tratamento desumano e degradante.
Outra hipótese é a saída de pessoas do território brasileiro que configura crime contra a Organização do Trabalho e está prevista art. 207 do Código Penal. É o “Aliciamento” de pessoas para emigração, que consiste em “recrutar trabalhadores, mediante fraude. É punido com a pena privativa de liberdade, de 1(um) a 3 (três) anos, passível de ser substituída por pena restritiva de direitos. 
Antes de 1993, o tipo penal só exigia a iniciativa do agente para atrair, seduzir ou angariar trabalhadores (no mínimo três, irrelevantes a qualificação ou habilidade técnica de cada um) para fim de emigração. Hoje, a lei exige “que haja fraude, ou seja, que o agente o induza e mantenha em erro os trabalhadores, com falsas informações, promessas etc,.convencendo-os a levá-los para território estrangeiro” (Mirabete, 2000).
4 DIREITO INTERNACIONAL
Direito Internacional consiste em um conjunto de normas jurídicas que regem a relação de Estados, organizações internacionais e, subsidiariamente, indivíduos e outros entes, no seio da sociedade internacional.
Como Direito Humano a nacionalidade é objeto de proteção em diversos tratados internacionais, como a Declaração Universal de Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Direitos Civil e Políticos e a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).
Cabe destacar que as normas internacionais visam evitar que pessoas não possuam nenhuma nacionalidade, e proteger aqueles que se encontrem nessa situação, ou seja, os apátridas.
4.1 Teoria do Duplo Estatuto
A rigor, a própria organização política e jurídica de um Estado, dotado de soberania, lhe confere um sistema normativo próprio que lhe assegura uma regulação particular, fruto das conquistas e da história de cada nação. Ocorre que, a cada dia que passa, observamos gradativamente uma interferência maior da regulação do direito internacional no plano do direito interno.
Sabemos que a Emenda Constitucional n. 45/2004 alterou a hierarquia das normas no plano interno, ao inserir o parágrafo 3° no art. 5° da Carta Magna: 
CF, art. 5°, §3°. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Assim, a tradicional pirâmide kelsiana existente no direito brasileiro foi modificada para incluir dentre suas camadas, as normas supralegais, além de certos tratados que ganham status de norma constitucional. Com isso, temos, então, dois níveis acima das leis: norma constitucional e norma supralegal (Ferreira, 2013). 
Uma vez incorporada, a norma internacional passará a integrar o ordenamento nacional e terá eficácia também no plano interno. É o que ocorre no direito brasileiro, que adota o dualismo, onde o direito nacional e o direito internacional constituem-se em dois ordenamentos jurídicos distintos, por isso, enquanto a norma internacional não é incorporada, não há possibilidade de conflito. 
Por outro lado, depois de incorporada no plano interno, a norma internacional passa a ter verdadeira força de norma de direito interno. Por isso se faz necessário conhecer com que força normativa o tratado internacional ingressa no ordenamento brasileiro. Isto porque, em todo ordenamento jurídico é possível existirem conflitos entre normas internas, logo, igualmente poderá haver conflitos em que uma das normas internas envolvidas seja decorrente de um tratado internacional submetido ao processo de incorporação. Daí resulta a necessidade de saber como o ordenamento pátrio recepciona os tratados. 
Tem-se, por regra geral, que os tratados incorporados no direito interno passam a ser lei ordinária federal, contudo, se tratarem de direitos humanos e forem aprovados na forma de emenda constitucional, passará a ser considerada norma constitucional (Ferreira, 2013).
4.2 Declaração Universal de Direitos Humanos 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948. 
A incorporação dos Direitos Humanos na legislação brasileira se deu com a inclusão de artigos específicos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Tamanha a vontade constitucionalde priorizar os direitos e as garantias fundamentais que a Constituição, em seu artigo 60, §4o, os declara Cláusulas Pétreas, compondo, assim, o seu núcleo intocável. A Constituição institui ainda o princípio da aplicabilidade imediata dessas normas, nos termos do artigo 5o, §1o. A filosofia dos Direitos Humanos está bastante presente na Constituição adotada por nosso país (Rêgo, 2015)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos considera ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão. Em seu Artigo 15, 1, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reforça que:
Artigo 15. 1. “Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade”. 
Importante ressaltar também:
Artigo 8°. Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. 
Artigo 9°. Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. 
Artigo 10. Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
4.3 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi adotado pela XXI Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966. No Brasil, entrou em vigor a partir da promulgação pelo Decreto N°592 de 6 de julho 1992. 
O Congresso Nacional aprovou o texto do referido diploma internacional por meio do Decreto Legislativo n° 226, de 12 de dezembro de 1991 e a Carta de Adesão ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi depositada em 24 de janeiro de 1992.
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis considera que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, e reconhece que esses direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana, conforme pode ser visto nos artigos:
Art. 2, 1: “Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar e garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo. língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer condição.”
Art. 24, 3: “Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade”.
4.4 Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, foi promulgada pelo Decreto N° 678, de 6 de novembro de 1992, tendo o governo Brasileiro depositado a carta de adesão a essa convenção em 25 de setembro de 1992. O Decreto 678, em seu art. 1°, institui que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), deverá ser cumprida tão inteiramente como nela se contém. 
O Pacto de São José da Costa Rica reafirma o propósito dos Estados americanos signatários da presente Convenção de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direitos essenciais do homem; 
Reconhece que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ser ele nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos. Cabe aqui ressaltar o item 1 do art. 20 do Pacto de São José da Costa Rica.
Art. 20, 1: “Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade”.
5 IMPORTANTES CONSEQÜÊNCIAS DA NACIONALIDADE
5.1 Proteção Diplomática
De acordo com o art. 3°, 1, b da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, é função da proteção diplomática “Proteger no Estado acreditador os interesses do Estado acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites estabelecidos pelo direito internacional”.
Assim, o Estado deve oferecer assistência diplomática ao nacional no exterior, inclusive quando o mesmo sofrer restrição no seu direito de locomoção em virtude de imigração ilegal naquele pais, dentre outras causas. 
5.2 Assistência Consular
Segundo MARESCA, 1974, a assistência consular é o “conjunto de funções, de natureza e alcance bastante distintos, que o cônsul desenvolve em favor de seus nacionais para facilitar sua permanência no território do Estado receptor, dirigindo-se para este fim, se necessário, às autoridades locais”. 
A Convenção sobre Relações Consulares, concluída em Viena em 24 de Abril de 1963, descreve em seu artigo 5° as funções consulares das quais pode-se destacar os itens:
a) Proteger no Estado receptor os interesses do Estado que envia e dos seus nacionais, pessoas singulares ou coletivas, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional; 
e) Prestar socorro e assistência aos nacionais, pessoas físicas ou jurídicas, do Estado que envia; 
g) Salvaguardar os interesses dos nacionais, pessoas físicas ou jurídicas, do Estado que envia, nos casos de sucessão verificados no território do Estado receptor, de acordo com as leis e os regulamentos do Estado receptor; 
h) Salvaguardar, dentro dos limites fixados pelas leis e regulamentos do Estado receptor, os interesses dos menores e dos incapazes nacionais do Estado que envia, particularmente quando para eles for requerida a instituição da tutela ou curatela; 
5.3 Limites à deportação 
O nacional daquele país jamais será dele expulso, conforme consta expressamente do art. 22, 5, do Pacto de São José da Costa Rica. Logo, até por não ser imigrante em seu próprio país, o brasileiro não pode dele ser deportado e a extradição é excepcional, conforme CF, art. 5, LI.
Pacto de São José da Costa Rica, art. 22, 5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional, nem ser privado do direito de nele entrar.
CF, art. 5, LI. Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na formada lei.
O Estatuto dos Estrangeiros, lei 6.815/1980, em seus artigos 21 e 49 também tratam de limites á deportação 
Lei 6.815/1980, art 21. Ao natural de país limítrofe, domiciliado em cidade contígua ao território brasileiro, respeitados os interesses da segurança nacional, poder-se-á permitir a entrada nos municípios fronteiriços a seu respectivo país, desde que apresente prova de identidade. 
§ 1 º Ao estrangeiro, referido neste artigo, que pretenda exercer atividade remunerada ou freqüentar estabelecimento de ensino naqueles municípios, será fornecido documento especial que o identifique e caracterize a sua condição, e, ainda, carteira de trabalho e previdência social, quando for o caso. 
§ 2 º Os documentos referidos no parágrafo anterior não conferem o direito de residência no Brasil, nem autorizam o afastamento dos limites territoriais daqueles municípios.
Lei 6.815/1980, art 49. Não se exigirá visto de saída do estrangeiro que pretender sair do território brasileiro. 
§ 1 º O Ministro da Justiça poderá, a qualquer tempo, estabelecer a exigência de visto de saída, quando razões de segurança interna aconselharem a medida. 
§ 2 º Na hipótese do parágrafo anterior, o ato que estabelecer a exigência disporá sobre o prazo de validade do visto e as condições para a sua concessão. 
§ 3 º O asilado deverá observar o disposto no artigo 29.
O direito de Residência, instituto conhecido como Non Refoulement, ou não devolução é objeto do artigo 22, 8, do Pacto de São José da Costa Rica.Art. 22. 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou liberdade pessoal esteja em risco de violação por causa da sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões políticas. 
O artigo 7° da lei 9.474 em seu Título II também trata do ingresso no Território Nacional e do pedido de refúgio e da proibição de remeter o indivíduo a país em que ele corra risco de perseguição:
Lei 9.474, art. 7º O estrangeiro que chegar ao território nacional poderá expressar sua vontade de solicitar reconhecimento como refugiado a qualquer autoridade migratória que se encontre na fronteira, a qual lhe proporcionará as informações necessárias quanto ao procedimento cabível. 
§ 1º Em hipótese alguma será efetuada sua deportação para fronteira de território em que sua vida ou liberdade esteja ameaçada, em virtude de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política. 
§ 2º O benefício previsto neste artigo não poderá ser invocado por refugiado considerado perigoso para a segurança do Brasil.
6 JURISPRUDÊNCIAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
6.1 CASO Vélez Loor vs. Panamá. 
No dia 11 de novembro de 2002, o Sr. Vélez Loor, nacional do Equador, foi detido no Posto Policial Tupiza, na província de Darein, no Panamá, em virtude de não portar todos os documentos necessários para permanecer no Estado panamenho.
 Após o ocorrido, o Diretor Nacional do serviço de imigração emitiu uma ordem de detenção e transferência para o presídio de La Palma e, após descobrir que o mesmo era reincidente lhe impôs uma pena de dois anos de prisão no Centro Penitenciário La Joyita. Meses depois, em 08 de setembro de 2003, o mesmo Diretor revogou a sentença e após dois dias, o Sr. Vélez Loor foi deportado para a República do Equador. 
Durante o tempo em que esteve recluso no presídio de La Palma e no Centro Penitenciário La Joyita, o Sr. Vélez Loor não dispôs de defesa técnica e nem pode constituir um advogado. O equatoriano não contou com qualquer possibilidade de exercer sua ampla defesa e contraditório, diante das sucessivas ordens do Estado panamenho contra sua liberdade de locomoção. Do mesmo modo, tampouco pôde recorrer da condenação imposta. 
Ao chegar ao Equador, o Sr. Vélez Loor reportou o ocorrido ao governo de seu país e, ainda, que fora submetido a tortura e maus tratos. Consultado o Estado do Panamá não apresentou informações sobre as recomendações feitas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o que motivou esta última a submeter o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
No dia 23 de novembro de 2013, a Corte Interamericana de Direitos Humanos prolatou seu acórdão responsabilizando o Estado do Panamá por exercer uma política de imigração discriminatória e violar as normas de proteção de direitos humanos; por impedir a publicidade da prisão; pela ilegalidade da ordem de prisão emitida pela autoridade do serviço de imigração do Panamá sem fundamentação concreta; por não possibilitar um recurso efetivo, tão pouco oportunizar assistência judiciária gratuita; por desrespeitar o direito à assistência consular, por detenção em centros penitenciários que não separavam as pessoas acusadas das que já haviam sido condenadas; e, finalmente, a Corte concluiu que não foi assegurado o direito à integridade física do Sr. Vélez Loor. 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou que a sentença constitui uma forma de reparação e determinou ao Estado do Panamá: 
Pagar as despesas do Sr. Vélez Loor a título de tratamento médico e psicológico, incluindo os medicamentos necessários, em virtude do acontecimento;
Conduzir de maneira eficaz a investigação sobre os fatos denunciados para encontrar e responsabilizar os autores das violações denunciadas; 
Tomar as medidas necessárias para que o Estado do Panamá ofereça acomodações dignas para os imigrantes detidos em razão de problemas que os impedirem de ingressar no país; 
Treinar e capacitar o pessoal que integra o Serviço Nacional de Imigração e Naturalização do Estado do Panamá.
6.2 Caso Yean e Bosico VS República Dominicana 
Filhas de mães dominicanas e pais haitianos, Dilcia Yean e Violeta Bosico foram privadas do direito à nacionalidade e permaneceram apátridas por mais de 4 anos, graças a sucessivas exigências de documentação feitas pela República Dominicana para o registro tardio das meninas. 
Em 1995, o advogado do Movimento das Mulheres Dominico-Haitianas (MUDHA) dirigiu-se ao Cartório de Registro Civil de Sabana Grande Boyá, província da República Dominicana, para registrar tardiamente 18 crianças além das meninas Violeta Bosico (na época com 12 anos), e Dylcia (com 10 meses na época). 
A documentação apresentada constou das cédulas de identidade, bem como das cédulas eleitorais das genitoras, além do certificado do hospital onde nasceram as crianças, como prova do nascimento das mesmas em território dominicano.
O oficial do Registro Civil se negou a aceitar os documentos e registrar as crianças, alegando que filhos de imigrantes haitianos ilegais não podem ser declarados nacionais dominicanos mesmo que sejam nascidos em território dominicano.
Ante a recusa do órgão, o advogado do MUDHA recorreu ao procurador fiscal da província, a fim de que o mesmo recebesse a documentação e promovesse o registro das crianças; pedido que também foi negado.
Não havendo mais recursos no âmbito judicial interno da República Dominicana o MUDHA, em conjunto com outros organismos, decidiu recorrer, por meio da denúncia nº.12.189, á Comissão Interamericano de Direitos humanos.
A Comissão responsabilizou a República Dominicana pela violação ao Diireito ao Reconhecimento da Personalidade Jurídica; Garantias Judiciais; Direitos da Criança; Direito à Nacionalidade; 
A Comissão declarou que a República Dominicana negou às crianças a emissão de suas certidões de nascimento, mesmo tendo as crianças nascido em território dominicano onde o critério constitucional para atribuição de nacionalidade é o Jus soli.
Declarou ainda que as meninas permaneceram em continua ilegalidade e vulnerabilidade social sendo mantidas como apátridas. A menina Violeta Bosico foi impedida de freqüentar a escola por 1 ano e quando o fez foi no período noturno juntamente com alunos maiores de 18 anos.
A Corte reafirmou que a não discriminação é direito que independe de status migratório. Entendeu que o país tinha práticas administrativas e medidas legislativas em matéria de nacionalidade que eram discriminatórias e que, por isso, agravaram a situação de vulnerabilidade das meninas, refletindo no gozo de outros direitos previstos na Convenção Interamericana, como o direito ao nome. 
A Corte determinou por unanimidade que o Estado Dominicano violou os direitos à nacionalidade das crianças e que também foi responsável pela violação dos direitos ao nome e ao reconhecimento da personalidade jurídica das crianças, e, por fim, reconheceu que houve violação ao direito à Integridade pessoal das crianças, violação que foi estendida às mães e irmã das vítimas.
Determinou a Corte, por unanimidade:
1. Publicação da sentença no Diário Oficial do Estado Dominicano;
2.Realização de ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional pelas violações, com pedido de desculpas às vítimas e a seus familiares. Tal ato deve ser divulgado nos meios de comunicação, para garantir satisfação às vítimas e não repetição futura.
3. Dentro de um prazo razoável, o Estado Dominicano deve adotar medidas legislativas, administrativas ou equivalentes que sejam necessárias e razoáveis para regulamentar os requisitos para aquisição de declaração tardia de nascimento. Sendo o processo simples, eficiente e razoável.
4. O Estado deve pagar, a título de indenização por danos morais, a quantia de $8.000,00 (oito mil dólares dos EUA) ou o equivalente em moeda nacional à Dylcia Yean e igual quantia à Violeta Bosico.
5. A República Dominicana deve pagar, a título de custas e gastos geradostanto no âmbito interno como internacional, a quantia de $6.000,00 (seis mil dólares dos EUA) ou o equivalente em moeda nacional às senhoras Leonidas Oliven Yean e Tiramen Bosico Cofi – que efetuarão o pagamento ao Movimento das Mulheres Dominico- Haitianas, ao Centro de Justiça e Direito Internacional (CEJIL), à Clínica de Direito Internacional e Direitos Humanos, para compensar os gastos realizados com o feito.
6. Por fim, a Corte se comprometeu a supervisionar o cumprimento integral da sentença. E somente dar por concluído o caso, uma vez que o Estado haja dado cabal cumprimento ao disposto na mesma. Dentro do prazo de um ano, contado a partir da notificação da sentença, o Estado Dominicano ficou obrigado a apresentar à Corte um informe sobre as medidas adotadas para cumprimento da decisão.
7 CONCLUSÃO
A nacionalidade é direito fundamental objeto de previsões na Constituição Federal e no Direito Internacional.
Somente a Constituição da República Federativa do Brasil pode diferenciar brasileiros natos e naturalizados em direitos e obrigações. 
Nenhum brasileiro nato ou naturalizado será deportado do Brasil, direito que decorre da Nacionalidade que é o de livre ingresso no próprio país.
Os Estados podem fixar políticas migratórias, mas são arbitrárias as detenções obrigatórias dos migrantes irregulares, sem que seja verificada a possibilidade de medidas menos restritivas aptas a alcançar os fins almejados. 
As políticas migratórias dos Estados não podem ser discriminatórias e não podem violar as normas internacionais de proteção dos Direitos Humanos.
Interessante observar que a Resolução Normativa 93 do Conselho Nacional de Imigração prevê a concessão de vistos de permanência para estrangeiros que estejam no Brasil em situação de vulnerabilidade.
A apatridia e a violação dos direitos dos apátridas ocorrem em boa parte dos países que não adotam um critério misto para atribuição de nacionalidade.
O dever de evitar a apatridia é obrigação internacional dos Estados que implica diretamente um compromisso com a proteção dos direitos humanos e garantia de proteção à dignidade da pessoa humana.
8 BIBLIOGRAFIA 
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Las Niñas Yean y Bosico vs República Dominicana . Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_130_por.doc>. Acesso em 18/04/2015
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Vélez Loor vs Panamá. Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_218_esp2.pdf>. Acesso em 18/04/2015
FERREIRA, F. G. B. C. Do disciplinamento dos tratados internacionais no direito brasileiro e o surgimento do controle de convencionalidade. Publicado em 2013. http://jus.com.br/artigos/26224/do-disciplinamento-dos-tratados-internacionais-no-direito-brasileiro-e-o-surgimento-do-controle-de-convencionalidade#ixzz3XJiVBaTi, consulta em 16 de abril de 2015
Lenza, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 18ª Ed. Ver., atual. E ampl., São Paulo: Saraiva, 2014.
MARESCA, Adolfo. Las relaciones consulares. Madrid: Tolle, Lege Aguilar, 1974.
MIRABETE, J. Fabbrini. Manual de direito penal: parte especial – arts. 121 a 234 do CP. 15. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
MORAES, Alexandre. Direito constitucional 2. 3ª. ed. - São Paulo: Atlas, 2003. 
NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional,¨6ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2012.
RÊGO, Patrícia G.. A incorporação dos Direitos Humanos no Direito Constitucional Brasileiro. http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/dh/br/pb/dhparaiba/4/constituicao.html. Consulta em 16 de abril de 2015.
WAISBERG, Tatiana. O Estatuto dos Refugiados e o tráfico internacional de pessoas. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n.113, jun 2013. Disponível em: http://www.ambito-jurídico.com.br/site/?n-link=revista_artigos_leitura artigo_id=13285. Consulta em abr 2015.

Outros materiais