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Código de Urukagina Mesopotâmia

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Cadernos FAPA– n. 2 – 2º sem. 2005 – www.fapa.com.br/cadernosfapa 116 
O SISTEMA TRIBUTÁRIO NA MESOPOTÂMIA E O DECRETO DE URUKAGINA 
 
André Telles 
Josiel Eilers Goulart∗ 
 
 
Resumo 
A Mesopotâmia foi um dos berços da civilização e onde surgiu um dos primeiros sistemas de 
tributação. Foi no terceiro milênio que ocorreu o surgimento do Estado mesopotâmico e se 
estabeleceu o seu sistema tributário. É nele que ocorrem as primeiras e maiores explorações 
do Estado sobre a comunidade camponesa. Toda essa exploração existe indiscriminadamente 
até que o Ensí Urukagina decreta um limite para essas cobranças tributárias, através de um 
decreto, o que transforma a relação entre governo e comunidade. Temos o objetivo de mostrar 
como ocorriam essas explorações, através de uma análise comparativa entre dois autores: Will 
Durant, com o livro “História da Civilização” (1957); e Paul Garelli, com seu livro ”O Oriente 
Próximo Asiático: das origens às invasões dos povos do mar” (1982). Partindo dessa 
comparação, vamos abordar temas como a estruturação da sociedade e a influencia da religião 
sobre o sistema tributário, com fim de tentar as causas que levaram ao decreto e após isso 
apontar as conseqüências do que foi o primeiro passo a ser dado pela humanidade em termos 
de legislação. Nosso trabalho busca responder a seguinte pergunta: como se dava a relação 
tributária entre Estado e camponeses na Mesopotâmia até o Decreto de Urukagina? Para 
respondermos tal questão, baseamos nossos estudos nos livros de Will Durant e de Paul 
Garelli, seguindo alguns passos e subdividindo a pesquisa em alguns poucos objetivos, que 
foram analisar o funcionamento do sistema tributário da mesopotâmia; identificar a influência 
da religião sobre o sistema tributário e conseqüentemente a sua influencia sobre a estruturação 
da sociedade para sabermos quem era Estado e quem eram os camponeses da época; e 
identificar as causas do Decreto do Ensí Urukagina e apontar suas conseqüências. 
Palavras-chave: Sistema tributário. Urukagina. Mesopotâmia. 
 
 
 
1 Introdução 
 
 A Mesopotâmia foi uma das primeiras civilizações a surgir, aproximadamente, em 
3000 a.C.. Compreendia a região situada entre os rios Tigre e Eufrates, no oriente próximo. 
Devido ao controle dessas terras de aluvião que cercam os rios, se ergueu com uma produção 
agrícola de excedentes muito grande, fazendo surgir toda a cultura sumeriana clássica. Teve 
como primeira unidade socio política as cidades-Estado, que, mesmo após 2371 a.C., com as 
inúmeras tentativas de unificação, não deixaram de existir. A economia era baseada no modo 
de produção asiático, no qual as classes camponesas pagavam tributos ao Estado para o 
sustento deste e este revertia os tributos em obras públicas para a população. 
 A região foi um dos berços da civilização e onde surgiu um dos primeiros sistemas de 
tributação. No terceiro milênio ocorreu o surgimento do Estado mesopotâmico e se 
estabeleceu o seu sistema tributário. É nele que ocorrem as primeiras e maiores explorações 
do Estado sobre a comunidade camponesa. Essa exploração existe indiscriminadamente até 
 
∗
 Graduandos do 3° semestre do curso de História da Fapa. Trabalho apresentado para as disciplinas de História 
Antiga II, ministrada pela professora Marise Hoff Failace, e para a disciplina de Introdução a Metodologia 
Científica II, ministrada pela professora Sandra Careli. 
 
 
Cadernos FAPA– n. 2 – 2º sem. 2005 – www.fapa.com.br/cadernosfapa 117 
que o Ensí Urukagina decreta limites para estas cobranças tributárias, o que transforma a 
relação entre governo e comunidade. 
 Diante destes fatos levanta-se a seguinte questão: como se dava a relação tributária 
entre Estado e Camponeses na Mesopotâmia até o Decreto de Urukagina? 
 Por este ser um tema ao qual existem muitas referências bibliográficas, optamos por 
fazer uma análise comparativa, mostrando as diferentes abordagens e pontos de vista, destes 
dois autores: Will Durant no seu livro “A História da Civilização” (1957); e Paul Garelli, com 
seu livro ”O Oriente Próximo Asiático: das origens às invasões dos povos do mar” (1982), 
ambos são autores renomados internacionalmente, e que tem suas obras citadas também em 
obras nacionais. Os aspectos que serão comparados são o sistema tributário da Mesopotâmia 
do terceiro milênio quanto a sua organização e influencia por parte religião e o decreto do 
Ensi Urukagina. 
 Temos como hipótese que ambos os autores concordam que o sistema tributário é 
fortemente influenciado pela religião, e a mesma estar sob domínio do Estado, faz com que 
este tome proveito desta posição superior para explorarem a classe camponesa. 
Com base na análise comparativa, buscamos então analisar o funcionamento do 
sistema tributário da Mesopotâmia; identificar a influência da religião sobre o sistema 
tributário e, conseqüentemente sua, influência sobre a estruturação da sociedade para 
identificarmos quem era Estado e quem eram os camponeses da época; e identificar as causas 
do Decreto do Ensí Urukagina e apontar suas conseqüências. 
Este tema também foi objeto de reflexão de outros autores. Na obra “As Primeiras 
Civilizações” (1988), de Jaime Pinsky, o autor dá uma ênfase à cultura religiosa e a como esta 
se envolve com a política e com o sistema tributário. Na terceira obra utilizada, “História da 
Civilização” (1957), de Will Durant, o autor descreve o Decreto de Urukagina, o que lhe torna 
um referencial necessário para o assunto. Sobre o sistema tributário, todas as obras convergem 
para a existência de templos que seriam o centro recebedor de toda a produção das cidades-
estado, e a redistribuía de acordo com as necessidades de cada tribo ou vila. Entretanto, 
somente na obra de Ciro, Bouzon e Tunes é que são citadas propriedades privadas que seriam 
comercializadas livremente sem a mediação do Estado. 
Apoiamo-nos na teoria marxista por esta defender que as idéias dos homens podem ser 
entendidas a partir de suas condições econômicas e por abranger conceitos de exploração e 
luta de classes que, coincidem com nossa tese. 
O termo “camponeses” é explicado por Witold Kula e Jalek Kochanovick na 
Enciclopédia Einaudi. Os camponeses são a expressão social e cultural da divisão do trabalho 
que remonta à difusão do cultivo como atividade produtiva principal. Os camponeses só se 
definem como tal na presença de não-camponeses. Estes fornecem o excedente do produto 
necessário à subsistência e à atividade das cidades, libertando, assim, a população destinada á 
construir as outras classes. (KOULA; KOCHANOVICK, 1999, p. 353-354). 
Segundo Karl Marx, tributo na Ásia era o imposto fundamental, a renda fundiária paga 
em produtos, e, sendo a renda em produtos a forma dominante e mais avançada da renda 
sobre a terra, ela sempre se acompanha de resquícios da forma anterior, ou seja, da renda a ser 
paga diretamente em trabalho, pouco importando que o proprietário seja uma pessoa privada 
ou o Estado. Para este último, o trabalho seria pago em corvéias, ou seja, com o uso da mão-
de-obra comunitária na construção de obras públicas. (MARX apud CARDOSO, BOUZON; 
TUNES, 1990, p. 5). 
Definimos Estado como a instituição social destinada e equipada para manter a 
organização política de um povo, interna e externamente, exercendo controle coercitivo sobre 
seus próprios membros ou com relação a outras sociedades. Segundo Marx, no Oriente, o 
Estado era o proprietário de todas as terras do reino: a soberania, não passaria, no fundo, da 
 
Cadernos FAPA– n. 2 – 2º sem. 2005 – www.fapa.com.br/cadernosfapa 118 
“concentração da propriedade da terra em escala nacional”. (MARX apud CARDOSO; 
BOUZON; TUNES, 1990, p. 6). 
Utilizamos a metodologia comparativa para verificar as similitudes e explicar as 
divergências entre dois autores, Will Durant e PaulGarelli. 
O artigo estrutura-se em duas partes. Na primeira realizaremos uma abordagem geral 
sobre o sistema tributário da Mesopotâmia e analisaremos como os autores vêm a influência 
da religião sobre a sociedade, e, conseqüentemente, como acontece a divisão da sociedade. 
Na segunda, faremos uma abordagem mais específica sobre o decreto de Urukagina, e 
vendo a opinião dos autores sobre o assunto e analisando as condições que levaram à 
instalação do decreto e como se comportou o sistema tributário após ele. 
 
 
2 O sistema tributário da mesopotâmia antiga 
 
Em qualquer sociedade, algum sistema de lei é necessário para resolver disputas 
dentro da comunidade sobre conceitos ou interpretações acerca de obrigações, proibições e 
restrições. Assim que as sociedades tornam-se mais desenvolvidas, elas exigem códigos mais 
extensos de leis para legislar uma gama crescente de disputas. A cidade é uma comunidade 
com características de sociabilidade e de política avançadas na qual existe uma grande 
interação entre grupos com diferentes interesses. Ocorre nesse caso a necessidade do 
aparecimento de cidades e do imprescindível avanço para um sistema de leis mais avançado. 
Durante séculos, a lei mesopotâmica foi sendo realizada por meras "reformas", o que muitos 
estudiosos consideram ser um sistema de lei formal. A evolução dessa lei foi lenta e 
complementou o desenvolvimento de uma estrutura demográfica urbana crescente. 
Tanto a urbanização como a escrita, fizeram seu aparecimento em cidades 
mesopotâmicas. Os sumérios são o povo creditado por inventar a escrita cuneiforme – um 
sistema de escrita de "cunhas" – que representam palavras ou sílabas. As mais antigas tabuas 
são inventários de bens e registros de transações simples, pois, segundo Pinsky (1998, p. 55), 
a complexidade e a objetividade das relações econômicas que se estabelecem é que vão exigir 
cálculos mais precisos e anotações mais claras, de forma que estas sejam de entendimento 
geral. Tratava-se de uma sociedade na qual transmissões orais não eram mais suficientes. Isso 
mostra que aquela escrita não foi inventada como um método para registrar leis, nem como 
um modo para um rei registrar as suas realizações, mas efetivamente para administração que 
estava ampliando sua extensão de operações. 
Assim como a Mesopotâmia cresceu em complexidade, a escrita se tornou uma parte 
mais integrante da comunidade, e fez seu espaço no setor da lei privada. Por exemplo, durante 
o período da Terceira Dinastia, há muitos registros de troca de propriedade, de divisão de 
pertences e contratos de venda de terras que aparecem em números consideráveis. Nestes 
documentos “aparecem um ou vários cidadãos, provavelmente parentes, vendendo um terreno 
a outro cidadão” (CARDOSO; BOUZON; TUNES, 1990, p. 20). A escrita eventualmente 
penetrou em muitos aspectos da vida e deu origem a uma burocracia sofisticada. A partir de 
então alguém poderia manter uma regra efetiva apoiando suas ordens em precedentes escritos. 
As sociedades da Mesopotâmia tiveram um respeito pelas regras, mas não 
manifestaram códigos de lei formais até a primeira dinastia de Hammurabi, ou talvez depois. 
Não estamos dizendo que a lei não existiu antes do segundo milênio. Na realidade, transações 
de venda de terra existiram como uma função de lei, pois era reconhecido que uma transação 
de propriedade sem registro escrito não era válida, e alterar tal documento era uma ofensa. A 
respeito da estruturação da sociedade, Durant afirma que foi por meio da agricultura e da 
escravidão, da divisão do trabalho e da inerente diversidade dos homens que o comunismo 
primitivo e sua natural igualdade social foi substituído pela desigualdade e divisões de 
 
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classes. O autor aponta para os grupos primitivos, nos quais não se encontram nenhuma 
distinção entre os chefes e seus seguidores, para exemplificar esse fato. Culpa o aumento da 
complexidade dos instrumentos e das atividades como fator decisivo para a submissão dos 
mais fracos e inábeis aos mais hábeis e fortes, sendo que cada invenção constituía uma nova 
arma nas mãos do forte que lhe aumentava o poder de dominação sobre o mais fraco. Durant 
apontou o regime de herança como estratificador das sociedades em classes e castas. A guerra 
de classes começou a fluir, e o Estado surge com um instrumento indispensável para a 
regularização das classes, para a proteção da propriedade, a condução da guerra para 
organização da paz (DURANT, 1957, p. 24). 
Garelli concorda que a difusão de novas técnicas e a divisão do trabalho fez o florescer 
econômico trazer consigo uma diferenciação social. Com relação a herança, também se detém 
nela como um grande fator de manutenção da classe clerical e monárquica no poder. 
(GARELLI, 1982, p. 60). Ele cita inúmeras sucessões do trono de Lagash através de laços 
parentais, como no trecho a seguir: “[...] seu sucessor Enetarzi, que talvez tivesse parentesco 
com ele (Entemena), conseguiu subir ao trono de Lagash, ocupado a seguir por seu filho 
Lugalanda”. (GARELLI, 1982, p. 72). Este último foi destronado por Urukagina em suas 
reformas. 
Durant vê a religião como um instrumento moralizador da sociedade do qual decorrem 
sanções para normas de condutas socialmente desejáveis. Segundo ele o homem não é de 
natureza obediente, nem dócil, e apenas o medo dos deuses o refrearia antes da formação da 
sua consciência. O próprio governo, que é o mais antinatural e necessário de todos os 
mecanismos sociais, requer o apoio da piedade e do sacerdote como instrumentos para 
enquadrar os hereges. Daí surgiria a tendência para a teocracia de todas a constituições, em 
que o poder dos chefes primitivos era aumentado com os recursos da mágica e da feitiçaria. 
As proibições sancionadas pela religião acabavam por se tornar leis (DURANT, 1957, p. 74-
75). 
As conclusões de Garelli (1982, p. 60-61) convergem com Durant ao afirmar que as 
funções reais e sacerdotais estavam intimamente unidas. Ele vê os templos como as únicas 
construções oficiais, com funções palacianas, e que as cidades constituíam outras tantas 
senhorias eclesiásticas, como os anciões – estes, imbuídos de significativa importância 
religiosa, também teriam poder político (GARELLI, 1982, p. 60-61). 
Garelli (1982, p. 75) cita também o processo de repartição de terras dos templos nos 
quais uma quarta parte da terra cultivável era de propriedade do “senhor” (En) e atendia às 
necessidades do culto e do templo. Segundo essa repartição, existiam campos de subsistência, 
destinados a manter a comunidade, e campos de cultivo, que eram arrendados em troca de 
uma taxa que chegava a um sétimo ou um oitavo da colheita, e todo esse valor seria destinado 
ao templo em forma de tributo. Não há dúvida de que os templos gozaram de recursos 
consideráveis. 
Tendo em vista que a forma de governo era altamente influenciada pela religião, 
concluímos que a religião exercia forte influência também sobre a cobrança de impostos, uma 
vez que estes eram destinados a suprirem necessidades dos templos e serem utilizados em 
rituais. É também através dessa importância religiosa que a classe monárquica recebe o direito 
de posse sobre tudo o que é produzido sobre suas terras, de onde surgira a exploração do povo 
e apareceriam as primeiras formas de injustiça social. 
 
 
3 O decreto de urukagina 
 
As cidades da Mesopotâmia desenvolveram-se de povoados menores bastante 
primitivos; faltavam-lhe delimitações territoriais, mas anteciparam o uso de cerâmica. A partir 
 
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de então as cidades começam a emergir. Uma cidade no contexto da Mesopotâmia antiga está 
definida como um povoado que serve como um centro para povoados menores. Um povoado 
que possui um ou mais santuários de umaou mais divindades, tem silos extensos, e, 
finalmente, mostra uma fase avançada de especialização nas artes. A tendência para a 
urbanização se acelerou por todo o terceiro milênio. Eventualmente, esses "povoados 
urbanos" aumentaram em tamanho e densidade, de forma que, antes de 2500 a.C., a maioria 
da população da Mesopotâmia residira em cidades maiores. A próxima grande realização da 
sociedade mesopotâmica envolveu a centralização e a unificação dessas cidades rivais e 
depois em cidades-estados soberanas. 
O primeiro passo em direção a um sistema de lei foi dado por Urukagina, rei de 
Lagash, por volta de 2400 a.C.. Urukagina promoveu uma série de reformas, que visavam a 
abater a exploração dos pobres pelos ricos e de todo o mundo pelos sacerdotes (DURANT, 
1957, p. 129). 
Esses códigos dificilmente se tratam de um tipo de constituição, mas eles podem ser 
considerados os precursores a códigos posteriores. Urukagina, rei de Lagash, assumiu o trono 
durante um período de prosperidade lucrativa – uma prosperidade apoiada por tributação 
pesada e demanda de tributo da Suméria, e a maioria de Akkad. Os funcionários do governo e 
sacerdotes do estado eram bastante corruptos e mantiveram uma porção grande da renda de 
tributo para os próprios negócios deles, tirando vantagem assim do cidadão. 
De acordo com Durant, Urukagina foi um iluminado reformador, cheio de bondade, 
que eliminou as altas cobranças tributárias. Dando liberdade ao povo, Urukagina se gabava de 
seus feitos. Algumas de suas medidas foram as reduções da cobrança sobre enterros para um 
quinto do valor antes cobrado, a proibição de taxas sobre itens de necessidade básica para a 
subsistência e a proibição da divisão das oferendas aos deuses entre o clero e os altos 
funcionários do governo (DURANT, 1957, p. 129-130). 
De grande importância em termos de evolução legal, essas reformas refletem o 
primeiro exemplo do que ia se tornar o papel padrão para um rei – o justiceiro social e 
defensor do fraco. As reformas sociais dele prometeram proteger o fraco do forte. Urukagina 
solenemente prometeu o deus Ningirsu que ele nunca sujeitaria o órfão e a viúva para o 
poderoso. Também ele preveniu a venda forçada de casa ou de animais de fazenda. Urukagina 
também iniciou reformas sociais. Por exemplo, aboliu os impostos sobre o matrimônio, e 
impostos extras que beneficiavam-no e aos sacerdotes. Os textos também repreenderam a 
desapropriação de terras de templo para os usos do palácio. 
Segundo Garelli (1982, p. 78-79), Urukagina tomou o poder através de um golpe de 
estado no qual se apoderou do trono e aboliu costumes abusivos tolerados por seus 
predecessores, mesmo assim o autor acha difícil julgar os objetivos de Urukagina, pois se, de 
um lado, suprimiu os privilégios à casta sacerdotal – que os tinha às custas do povo –, de 
outro, restaurou os direitos que a monarquia lhe usurpara. Demitiu os inspetores fiscais que 
haviam adquirido uma má reputação. Garelli resume como sendo a própria realeza a mais 
atingida por tais medidas. Chega a cogitar uma volta a antiga teocracia, mas admite ser um 
exagero, pois os sacerdotes não adquirem autoridade política para tal façanha. 
As regras mesopotâmicas atribuíam a origem da lei a deuses, e Urukagina não era 
nenhuma exceção; portanto, jurou ao deus Ningirsu reformar a sociedade dele. As reformas de 
Urukagina não se assemelham de forma alguma a um corpo de leis obrigatórias, mas são 
precursoras de uma longa série de desenvolvimento legal. De curta duração, seu reinado não 
nos deixou grandes conseqüências. Oito anos após seu início, o reinado de Urukagina foi 
invadido por Lugal-zagesi, que tomou Lagash, Uruk, Ur e Kish. Por esses motivos não 
conseguimos ver uma eficácia maior de suas medidas, que, mesmo nesse curto espaço de 
tempo, foram vitais para o alicerce de leis tributárias mais justas vigentes até os dias de hoje. 
 
 
Cadernos FAPA– n. 2 – 2º sem. 2005 – www.fapa.com.br/cadernosfapa 121 
4 Conclusão 
 
Tínhamos inicialmente a hipótese de que haveria muita concordância entre os autores 
sobre o assunto e que com isso comprovaríamos que o sistema tributário era fortemente 
influenciado pela religião o que, devido à religião, estar sob domínio do Estado, faz com que 
estes tomem proveito dessa posição superior para explorarem a classe camponesa. 
Percebemos na primeira parte que Durant não é tão claro quanto Garelli no que se diz 
respeito à valores cobrados na tributação, mas, mesmo assim, afirma que a população achava 
necessário, alguma forma de governo superior, mesmo que este fizesse tais cobranças a fim de 
manter a ordem. Por meio disso se constitui um sistema onde há um governo central que 
manteria essa ordem. Uma gama da população é destinada a essa tarefa, que logo constituiria 
a classe Estado, dividindo a sociedade em duas classes principais. Mas logo esta classe se 
distancia da dos camponeses através de uma importância religiosa adquirida com o passar do 
tempo. 
Tendo em vista que a forma de governo era altamente influenciada pela religião, 
concluímos que a religião exercia forte influência também sobre a cobrança de impostos uma 
vez que esses impostos, eram destinados a suprirem necessidades dos templos e serem 
utilizados em rituais. E é também através dessa importância religiosa que a classe monárquica 
recebe o direito de posse sobre tudo o que é produzido sobre suas terras, de onde surgira a 
exploração do povo e apareceriam as primeiras formas de injustiça social. 
No segundo momento do trabalho, vimos uma análise bem mais profunda por parte de 
Garelli que verificou as possíveis intenções de Urukagina em suas ações, fugindo de uma 
visão mística de bondade por parte do referido rei, ao qual Durant ficou preso. Mesmo assim 
ambos defendem as reformas de Urukagina como um grande feito para a humanidade, as 
quais não se assemelhariam de forma alguma a um corpo de leis obrigatórias, mas seriam 
precursoras de uma longa série de desenvolvimento legal e serviriam de alicerce a leis 
tributárias mais justas vigentes até os dias de hoje. E que mesmo sendo de curta duração, o 
reinado de Urukagina foi muito importante para o desenvolvimento de uma política social e 
para o combate das injustiças sociais que ocorriam, como a exploração do trabalho camponês, 
e que desencadearam tais movimentos na história da Mesopotâmia. 
 
 
 
Referências 
 
CARDOSO, Ciro Flamarion S., BOUZON, Emanuel, TUNES, Cássio Marcelo de Melo. 
Modo de Produção Asiático, Rio de Janeiro, Editora Campus, 1990. 
 
DURANT, Will. História da Civilização, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1957. 
 
GARELLI, Paul. O Oriente Próximo Asiático, Editora Pioneira, São Paulo, 1982. 
 
KULA, Witold, KOCHANOWICK, Jalek. Camponeses in Enciclopédia Einaudi, Volume 39. 
 
LEVEQUE, Pierre. As Primeiras Civilizações: a Mesopotâmia, os Hititas, Lisboa, Edições 70, 
1987. 
 
MICAULIN, A. V. A História da Antiguidade, Rio de Janeiro, Editora Vitória, 2ª edição, 
1960. 
 
 
Cadernos FAPA– n. 2 – 2º sem. 2005 – www.fapa.com.br/cadernosfapa 122 
PINSKY, Jaime. As Primeiras Civilizações, São Paulo, Atual Editora,1988.

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