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Discussão do Texto: A Psicologia Sócio-histórica: Uma perspectiva crítica em Psicologia. In: BOCK, A. M. B., GONÇALVES, M. G. M. & FURTADO, O. Fundamentos teóricos da Psicologia Sócio- histórica. São Paulo: Cortez, 2001. Condições Históricas para o Surgimento da Ciência Moderna e da Psicologia Séc. XIX: Ênfase na razão humana, na liberdade do homem, na possibilidade de transformação do mundo real e a ênfase no próprio homem. Um método rigoroso permitia ao cientista observar o real e construir um conhecimento racional, sem interferência de suas crenças e valores. Busca por entender leis da natureza e construir um conhecimento pela razão. Características da Ciência no Séc. XIX Positivista – baseada no observável Racionalista – ênfase na razão Mecanicista – pautada na ideia do funcionamento regular do mundo, guiado por leis que poderiam ser conhecidas; Associacionista – ideias se organizam na mente permitindo organização do conhecimento Atomista – o todo é o resultado da soma das partes Determinista – o mundo é um conjunto de fenômenos causais Surgimento da Ciência Psicologia A partir das concepções de ciência da época, Wundt em 1875 distingue a Psicologia como ciência: - Objeto de estudo: experiência consciente - Via o pensamento humano como produto da natureza e como criação da vida mental. - Propôs solucionar a contradição com duas Psicologias: - Psicologia Experimental. - Psicologia Social As diversas perspectivas teóricas no campo da Psicologia se dão a partir de questões que evidenciam a incompletude da compreensão do fenômeno psicológico: - interno/externo, psíquico/orgânico, comportamento/vivências subjetivas, natural/social, autonomia/determinação A Psicologia sócio-histórica que tem como base a Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski apresenta-se como possibilidade de superação dessas visões dicotômicas. A Psicologia sócio-histórica carrega consigo a possibilidade de crítica: não só pela intencionalidade de quem a produz, mas por seus fundamentos epistemológicos e teóricos; Concepção de Homem: Ativo, Social e Histórico. Sociedade: Produção histórica do homem, que através do trabalho, produzem sua vida material. Ideias: representações da realidade material. Realidade Material: Fundada nas contradições que se expressam nas ideias. História: movimento contraditório constante do fazer humano, a partir da qual , deve ser compreendida toda a produção de ideias, incluindo a ciência e a Psicologia. ASPECTOS RELEVANTES DA PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA 1) Abandono da visão abstrata do fenômeno psicológico e crítica a ela. - O fenômeno psicológico, seja ele qual for, aparece descolado da realidade na qual o indivíduo se insere e, mais ainda, descolado do próprio indivíduo que o abriga. - Fenômeno psicológico em relação com o meio social e cultural: a noção de eu e a individualização nascem e se desenvolvem com a história do capitalismo. Na Perspectiva Sócio-histórica, o fenômeno psicológico: - não pertence à Natureza Humana; - não preexiste ao homem; - reflete a condição social, econômica e cultural em que vivem os homens. Falar de fenômeno psicológico é falar de Sociedade. Para a Sócio-Histórica, falar do fenômeno psicológico é obrigatoriamente falar da sociedade. Para a Sócio-Histórica, falar da subjetividade humana é falar da objetividade em que vivem os homens. Para a Sócio Histórica, a compreensão do “mundo interno” exige a compreensão do mundo externo. O fenômeno psicológico deve ser entendido como uma construção num nível individual do mundo simbólico, que é Social. Trata-se de uma Subjetividade, que se constitui na relação com o mundo material e social, mundo que só existe pela atividade humana. E por que se criticar as perspectivas abstratas de fenômeno psicológico? Por que elas “descolam” a Psicologia da realidade social e cultural, que é constitutiva do fenômeno psicológico. Essa “descolagem” constitui o processo ideológico na Psicologia. E o que estamos chamando de Ideologia? Ela é entendida como construção ilusória que fazemos do real. Ocultar a produção social dos fenômenos psicológicos, contribui para a permanência das condições de vida constitutivas do fenômeno. As consequências: responsabilizar os sujeitos por seus sucessos e fracassos, classificar e diferenciar os sujeitos por suas características dinâmicas e psicológicas, reforçar padrões de conduta e normalidade dominantes, transformando em anormal o diferente. 2. Rompimento com as tradições - Romper com a tradição classificatória e estigmatizadora da ciência e da profissão (aptos ou não aptos, saudáveis ou doentes, adequados ou inadequados). - A Psicologia tem naturalizado o que é Social, o que implica em não interferir, apenas registrar e diferenciar. Assim as diferenças entre os homens tornam-se fontes de justificativas para as desigualdades sociais. Compreendendo a diferença... O diferente não é anormal, é o menos provável, o menos comum. Por que? - não se deu acesso às condições necessárias para desenvolvimento daquela característica; - deu-se acesso, mas o aproveitamento não pôde ser total, talvez por limitações de “aparelhagem básica” do corpo. - deu-se acesso e,embora houvesse condições, as relações estabelecidas foram carregadas de conflitos e emoções que dificultaram o desenvolvimento esperado. A Psicologia tem contribuído para registrar essas diferenças como individuais e ao naturalizar o desenvolvimento, oculta a origem social das diferenças. 3. Superando a neutralidade na Psicologia Quando negamos a neutralidade de nosso desenvolvimento e de uma forma de ser e as afirmamos como sociais e históricas, passamos a ter em nossas atuações uma exigência indispensável: explicitar a direção de nossas intervenções profissionais. A tarefa do psicólogo interfere em um projeto de vida que não lhe pertence. Daí a necessidade do rigor ético que garanta o respeito e a transparência do profissional, esclarecendo sempre o direcionamento do seu trabalho. 4 – Superando o Positivismo - Ideias principais do positivismo: - Os fenômenos humanos e sociais são regulados por leis naturais que independem da ação do homem; - Se esses fenômenos são regulados por leis naturais, devemos então utilizar métodos naturais; - Orienta-se pelo modelo da objetividade científica - O positivismo com seu ideal de objetividade afasta os elementos sociais e os valores culturais da produção da ciência. Desliga o pensamento de sua base material. Resumindo o modelo sócio-histórico: Concepção materialista: A realidade material tem existência independente em relação à idéia; Concepção Dialética: A contradição é fundamental em tudo; Concepção Histórica: A história deve ser analisada por uma perspectiva materialista e dialética CONCLUSÕES Busca-se, portanto, compreender o fenômeno em sua totalidade concreta, acompanhar o movimento e a transformação contínua dos fenômenos e compreender que a contradição existente em todos os objetos é a força de seu movimento de transformação. A Psicologia Sócio-Histórica produzirá um conhecimento com outros pressupostos abandonando as ideias de neutralidade, objetividade e positividade, criando uma ciência crítica à ideologia até então produzida e uma profissão posicionada a favor das melhores condições de vida, necessárias à saúde psicológica dos homens de nossa sociedade.
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