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favela, morro do estado de Niterói

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Universidade Federal Fluminense 
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
Departamento de História
Professor: Mario Sérgio Brum
Disciplina: Favela como Construção Histórica
MORRO DO ESTADO
NITERÓI, RJ
BRUNO FERREIRA
CRISTIANE REIS
 DAVID GORALSKI
GUILHERME MARINS
NATHÁLIA TOPINI
PAULO TOWESEND
Trabalho apresentado à Universidade Federal Fluminense, referente à avaliação da disciplina de Favela como Construção Histórica. 
.
Professor: Mario Sérgio Brum
Niterói
2009
 Introdução
A favela que iremos tratar neste trabalho é o Morro do Estado, esta é a maior e mais importante favela do Município de Niterói, abrange em sua localização geográfica os bairros do Ingá, Centro e Icaraí, regiões economicamente importantes. Quando nos deparamos com a idéia de pesquisar sobre a cidade de Niterói, imediatamente optamos por pesquisar e levantar questões (não necessariamente respondidas) sobre o Morro do Estado. Devido a essa importância em 1986, o Morro do Estado se transformou em bairro.
Esse trabalho objetiva entender os motivos do crescimento do Morro do Estado, para que possamos compreender sua complexa dinâmica interna (associação de moradores - uma das mais antigas, bloco de carnaval, projetos sociais, renda média e infra-estrutura). Além disso, nossa pesquisa procura compreender melhor as migrações para Niterói, em especial as ocorridas em direção ao bairro a ser estudado.
O Morro do Estado
O crescimento do Morro do Estado acompanhou o crescimento econômico da cidade de Niterói, sobretudo a partir dos anos 70, como pudemos pesquisar em manuais da prefeitura do município. Esta informação visa apenas contextualizar o leitor na dinâmica econômico-social em que o crescimento do Morro do Estado se inseriu. Ou seja, procurar evidências entre o crescimento da cidade e a favela, processos simultâneos, sem que, fatalmente, desviássemos o foco do objeto.					Sendo assim, em conjunto com os dados disponibilizados pela prefeitura, buscamos, ainda, a opinião dos moradores, para que fossem confrontadas as fontes oficiais com a memória pessoal das pessoas que moram no local há mais tempo.		O Morro do Estado é um prolongamento natural do Centro. Tornou-se bairro pela lei 4.895 de 08/11/86. Essa região localiza-se estrategicamente entre o Ingá, Icaraí e o Centro (áreas nobres, que proporcionam maior número de empregos, prestação de serviços, além de possuir maior e melhor infra-estrutura, o que foi verificado em entrevistas com os moradores). É uma das maiores favelas da cidade em número de habitantes e em densidade demográfica. É um bairro que possui características que o distingue dos demais: a sua ocupação caracteriza-se pela forte segregação espacial em relação aos dos bairros vizinhos.									O Morro do Estado apresenta-se hoje com um casario típico de favela apesar da substituição da madeira pela alvenaria. O acesso principal está pavimentado até o alto do morro onde funciona uma praça de esportes, ponto de encontro da comunidade. A comunidade local dispõe de uma unidade de saúde e de duas escolas, sendo uma para crianças do pré-escolar e a outra que atende até a 4ª série. Já o comércio é bastante incipiente, resumindo-se a "biroscas". A Associação de Moradores é uma das mais antigas do município, integra a FAMNIT desde 1983 e tem atravessado períodos de maior mobilização ou refluxo — dependendo da conduta de seus líderes em relação aos governos. A possibilidade de expansão demográfica é pequena devido à falta de espaço territorial e dificuldade de realizar obras nas moradias já existentes. Apesar do avanço dos últimos anos na direção da garantia dos direitos de cidadania dos moradores do Morro do Estado, ainda persistem problemas como o dos transportes coletivos. Outra questão apontada é o recrudescimento da violência urbana. O que está apontado para o futuro é a melhoria das condições locais, tanto pela decisão da Prefeitura de aperfeiçoar os serviços de limpeza urbana associando-os à educação ambiental, quanto pela presença de organismos internacionais alocando recursos financeiros para acelerar a urbanização da área.
O Morro do Estado cresceu principalmente, no pós-guerra dentro do processo de urbanização e metropolização da cidade, conseqüência também do caráter excludente do modelo econômico concentrador de renda acentuado no país a partir dos anos 70 e razões como o da crise habitacional; o alto custo de vida; as deficiências do transporte coletivo; o desemprego e as migrações intra-regionais e de outras regiões, sobretudo do Nordeste brasileiro. 											A história da ocupação da área relatada por moradores mais antigos nos remete às permissões de uso da terra concedidas pelo poder público ou por proprietários privados (uma das questões levantadas por nós e que será tratada mais adiante). À medida que essa forma de assentamento alternativo foi se cristalizando, os "barracos" de madeira foram substituídos por casas de alvenaria com arquitetura própria (tendo a laje como cobertura e sem revestimento) e espacialmente desordenada. Seu crescimento se manifestou da parte baixa para a parte alta e das bordas para o interior do morro. Atualmente, já encontramos alguns domicílios sob a forma de apartamentos, distinguindo-se do aglomerado subnormal�.				 	Segundo os estudos feitos pela Prefeitura de Niterói, os anos setenta foi o período de maior incremento, principalmente em virtude da entrada de novos imigrantes que procediam do próprio Estado do Rio de Janeiro (além dos nordestinos, citados anteriormente). Hoje existe uma divisão social do espaço: os moradores mais antigos, geralmente de procedência nordestina, se concentram principalmente na parte voltada para a Rua Padre Anchieta e arredores – locais de povoamento inicial - onde os domicílios possuem melhor estrutura, enquanto os mais recentes ocupam as demais áreas – as ocupadas mais recentemente.							Existe complexa teia de organização e normas no Morro do Estado responsável pela criação do bloco carnavalesco (entrevistas confirmaram que existe apenas um bloco, chamado de “bafo da onça” que desfila no carnaval, não necessariamente uma escola de samba como pensávamos), da associação de moradores, a AMME, uma das mais antigas e de outras formas de agrupamentos sociais, como o Correio Comunitário.�		Segundo a tese de doutorado (USP – “O movimento associativo de bairro de Niterói”) de Satie Mizubuti:					
	“À medida que essa forma de assentamento alternativo vai se cristalizando, normas sociais internas do grupo vão sendo estabelecidas e uma verdadeira ‘civilização de favela’ se estruturam com uma complexa teia de organização. Muitas favelas possuem escola de samba, blocos carnavalescos, associações de moradores e outras formas de agrupamentos sociais, culturais de defesa do crime organizado.” �
    	Conforme os resultados dos últimos censos, a população entre 1970 e 1980 duplicou, com uma taxa média de crescimento anual de 7,47%, sendo o bairro de maior crescimento do município. Já no período posterior a 1980 a 1991, o bairro passou por um processo de desaceleração e veio a apresentar taxa negativa, sendo o penúltimo em crescimento demográfico no contexto municipal. O censo de 1991 indica que 0,81% da população de Niterói é moradora do Morro do Estado.
- Aspectos sociais no contexto do morro do Estado
Quanto às Favelas
	O desenvolvimento da Região das Praias da Baía - 78,64% da população do município - bem como sua ocupação ocorreu de forma desigual. Lado a lado convivem bairros nobres altamente urbanizadas contrastando com favelas desprovidas de infra-estrutura básica e serviços. Enfim, materializando a segregação espacial inerente às grandes cidades.
Um estudo feito por Satie Mizubuti� indicou que em 1971 havia no município 44 favelas e 6.196 habitantes. Em 1975, esse número aumentou para 26.890 habitantes distribuídas em 50 favelas.E, após dois anos, esse número chegou a 132.087 moradores divididos em 55 favelas. 								Enquanto isso, no livro de dados “Niterói, Perfil de uma cidade” �, o número de favelas era correspondente a 26 em 1980, representando 8,7% da população total. De acordo com os dados do censo entre 1991 e 1996, esse número cai pra 25. Apesar de tentarmos encontrar as razões para a diminuição no número de favelas, não conseguimos encontrar respostas.	
	Segundo o mesmo manual emitido pela prefeitura de Niterói, dentre as 25 favelas destacam-se, quanto ao “adensamento populacional, as favelas do Morro do Estado (centro), Preventório (Charitas) e Vila Ipiranga (Fonseca).” �
Quanto à infra-estrutura básica, a região é bem servida, com quase 100% dos seus domicílios ligados à rede geral de abastecimento de água.					Quanto ao esgotamento sanitário, aproximadamente 86% dos domicílios estão ligados à rede geral de esgotos.									Em relação ao rendimento médio mensal dos chefes de domicílio, a região apresenta os seguintes dados: 18% ganham até dois salários mínimos mensais; 22% ganham de dois a cinco salários mensais; 24% ganham de cinco a 10 salários; 22% ganham de 10 a 20 salários mínimos mensais; e 13% ganham mais de 20 mínimos mensais.											No Morro do Estado, assim como as favelas da Viradouro, Charitas e Jurujuba, mais de 50% dos chefes de domicílio têm rendimento médio mensal de até dois salários. Esse número contrasta com outros bairros de classes média e alta, que se encontram próximas a essas regiões, como São Francisco, Boa Viagem, Icaraí, Ingá e Vital Brazil, onde mais de 15% dos chefes de domicílio ganham, em média, mais de 20 salários mínimos mensais. 	
Quanto às migrações 
	Estudos levantados pela tese de doutorado de Satie Mizubuti afirmam que, durante os anos 70, os nordestinos eram os migrantes que mais se favelizavam. Atualmente esse quadro não é mais o mesmo e o saldo migratório encontra-se negativo, ou seja, o número de pessoas que deixam o município é maior do que os que entram.
Amparados também nos estudos feitos pela prefeitura e IBGE, durante a década de 70 e 80, a migração, sobretudo de famílias nordestinas - atualmente na terceira geração - aumentou consideravelmente a densidade demográfica de Niterói. A origem de nascimento dos habitantes de Niterói é diversificada, 84% são fluminenses, 6,3% são nordestinos, 3% são mineiros, 1,4% paulistas e 5,2% são de origem de outros estados e países.
Dessa forma procuramos, através desse tópico, enumerar ou somar mais uma de nossas questões; averiguar o crescimento/povoamento do Morro. 					No que diz respeito ao povoamento da região, encontramos uma entrevista feita pelo site da SINSPREV (Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social) aponta que o Morro do Estado inicia sua ocupação desde o período colonial, onde abrigou um quilombo, bem como diz a matéria do dia 14/11/2006:
	“Pesquisa recente investiga indícios de que havia, no período colonial, um quilombo no Morro do Estado. Pois é ali, no campinho no alto deste morro de altura modesta, mas concentrador da maior favela de Niterói” �
Nessa mesma reportagem, o site aponta um dos mais antigos moradores de 83 anos, Afonso Machado, oriundo do Espírito Santo que chegou à região em 1955. Segundo seu relato, naquela época era necessária uma autorização para se instalar no local.												Com essa informação, fomos buscar o porquê dessa autorização. Encontramos respostas mais uma vez na tese de Satie Mizubuti, corroborando com o relato do capixaba;	
“as histórias de ocupação relatadas por moradores mais antigos, reportam a permissões de uso concedidas por alguns órgãos públicos ou por proprietários privados ‘caridosos’, e remontam aos anos 40-50.” �
	Descobrimos que a maior parte das favelas de Niterói estão localizadas em propriedades particulares e do Estado. 								A prefeitura também cobrava pelo uso da terra, onde os moradores estavam na situação de arrendatários. Estes somavam 72,4%, enquanto que os classificados como “invasores”, somavam 18,1% dessa população e os com permissão de uso compreendiam 9,5% do número total de ocupantes. 						 Finalmente, tudo que diz respeito à dinâmica do crescimento desta favela, até chegarmos ao entendimento do por que da lei que o transformou em bairro. 
O trabalho a que nos propomos tem como objetivo, em primeiro lugar, contribuir com a história de um local que faz parte do enredo de Niterói que, infelizmente, pouco é estudado. A história do crescimento do Morro está ligada ao crescimento da cidade, que sofreu um grande impacto nos anos 70 com a conclusão da Ponte Presidente Costa e Silva (Rio - Niterói) em 1974, realizando a ligação viária com a cidade do Rio de Janeiro. Houve um redirecionamento dos investimentos públicos na cidade, objetivando, logicamente, a expansão urbana regional e local em conjunto com a adequação e ampliação da infra-estrutura básica existente, visando o crescimento do mercado imobiliário. 										Levando em consideração a dificuldade de encontrar dados sobre o crescimento do Morro, o trabalho objetiva e tem como fonte, a história oral que nos ajudaria a compreender melhor esse processo, assim como as razões que levaram seus habitantes a se instalarem em um local inicialmente carente de infra-estrutura�. 
Quanto à parte oral, incluímos a associação de moradores e nela levantamos mais questões; procuramos saber como foi constituída e em que ano, contexto, bem como suas razões, qual a sua participação (se houver) no processo que o transformou em bairro ou no processo de aquisição de terras, já que as terras eram de propriedade particular ou da prefeitura�, assim como saber o porquê do foco de povoamento (inicial) na Rua Padre Anchieta, no Centro (que se estendeu para todo o Morro, transformando-o no maior de Niterói) � e o porquê de sua localização entre importantes bairros de Niterói; Ingá, Icaraí e Centro, regiões dinâmicas, economicamente importantes, nobres e com alta infra-estrutura.
Quanto à legislação, o trabalho objetiva conhecer mais sobre a lei ou decreto (outra questão, pois as informações que obtivemos ora nos falava de lei, ora de decreto). 	Segundo o site da prefeitura: 
“O decreto n.º 4895 de 1986, delimitou 48 bairros, sendo estes citados abaixo. A criação desse projeto foi o resultado de um convênio celebrado em 1984 entre a Secretaria de Estado para Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (SECDREM), Fundação para o Desenvolvimento para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, (FUNDREM) e a Prefeitura de Niterói, procurando levar em consideração, sempre que fosse possível, a compatibilização dos bairros propostos com os setores censitários do IBGE” �
Com esta informação, não sabemos qual o critério utilizado pela prefeitura para delimitar os 48 bairros, assim como saber qual a participação do IBGE nessa lei, que “compatibilização” é esta e finalmente, entender as razões pelas quais a prefeitura transformou o Morro do Estado em bairro, Por fim, compreender finalmente sua importância para que o convertesse em uma divisão de uma cidade.
- Estatísticas
	
Algumas estatísticas que aqui serão apresentadas nos ajudaram a observar de forma quantitativa, e também de forma qualitativa, a ação do Estado no Morro do Estado.
 
 
- Entrevista com os moradores
As entrevistas aqui analisadas foram produzidas pelo grupo. Foram feitas com moradores que estão há mais de 30 anos no morro. Esse período, pois é um período com intensa migração, principalmente nordestina, ao município de Niterói, provocando uma ocupação desordenada da cidade e seus morros.
Migrações
Grupo – “Como é que era a ocupação? Como as pessoas vinham para cá há 30 anos? Tinham menos casas? O governo não olhava pra cá? As terras eram compradas da prefeitura? A ocupação como é que se dava?”
Josias – “Não, a ocupação não era comprada. Por exemplo, na época que minha mãe veio pra cá, ela disse pra mim que ela comprou de um senhor. Entãoum senhor vendeu um pedaço que não tinha dono, nunca teve dono, porque aqui praticamente ninguém tem posse, ninguém tem um lote, não é a documentação que diz que você é dono, agora é que estão querendo implantar a documentação.”
Grupo – “Ainda não foi feito, então?”
Josias – “Isso ai até foi falado, dessa possibilidade num seminário, que isso ai não é só aqui. Isso ai está sendo em todas as comunidades. A gente quer botar tipo um favela-bairro.”
						
								(Josias, Niterói-RJ, 38 anos)
Grupo – “A senhora disse que quando chegou aqui, tinha bem menos pessoas do que tem hoje, certo...?”
Dona Diva – “Ah! Tinha os moradores né? E já morreu um bocado. Tem esses novos, agora, mas os antigos mesmo, tudo morreu.”
Grupo – “Mas eram menos pessoas que é hoje?”
Dona Diva – “Ah! Os moradores antigos, mesmo, eram menos, mas eles tiveram muitos filhos né? Eu ganhei oito, minha vizinha que era crente, depois que fizeram uma igreja crente do lado de lá, lá na escadinha né? Ela tinha quatro filhos: esse Oswaldo Grande, a mãe dele tinha filho, Dona Tereza, Dona Esmeralda, o resto morreu tudinho.”
Grupo – “E essas pessoas novas vieram de onde?”
Dona Diva – “São filhos dos moradores antigos e neto, né? Tudo é morador antigo.”
Grupo – “A senhora acha que hoje não vem gente de fora?”
Dona Diva – “Agora que está entrando um pessoal novo, que veio do Norte que o pessoal fala. Estão morando aí, compraram casa, estão fazendo casa aí, estão morando, mas o resto é daí de dentro mesmo.”
(D. Diva, Niterói-Rj, 75 anos)
Grupo – “Na época em que o senhor se mudou pra cá, quem costumava se mudar pra cá? As pessoas que vinham por quê? O quê que o senhor viu na sua infância? 
Josias – “Vinham muitas pessoas do Nordeste, a trabalho. Eu admiro muito o trabalho das pessoas que são nordestinas, cearenses, porque eles vêm e plantam uma casa, têm disposição e estão sempre buscando serviço né? E não tem nada melhor para se habitar do que o morro né? Porque no morro você paga até aluguel, mas não tem aquele negócio de ficar pagando saneamento básico, muitas vezes luz, água, essas coisas não tinham na hora de conta. Então, as pessoas vinham com a intenção de conseguir dinheiro, não?”
								(Josias, Niterói-RJ, 38 anos)
Mudanças trazidas pela transformação do Morro em bairro
Grupo – “O Morro do Estado pode ser considerado um bairro?”
Josias – “Não. Ele não parecia, mas agora ele já é considerado um bairro desde mil... 1983? A cabeça voou, mas já tem um bom tempo que é Bairro do Estado. Mas agente continua ainda com ‘morro’, porque eles botaram ‘bairro’ lá pra sociedade, mas se você olhar direitinho tem muitas coisas que ainda é morro. Se fosse para ser um bairro tem que botar o que? Saneamento básico. Você ainda não conseguiu ver as barreiras que nós tivemos aqui. Graças a Deus que está alumiando aqui, porque essa chuvarada que deu em São Paulo, se der essa chuva aqui, eu estaria com essa associação cheia de gente ou muito morto. Você subiu por onde?”
Grupo – “Pelo Ingá.”
Josias – “Se você ver, muitos lugares ainda tem barreira. Se você olhar aqui atrás você vai ver. Então, porque meu nome ainda é Josias e eu ainda não consegui ser o Josias do Santos Soledade? Tem que ter alguma coisa! Você vem visitar meu bairro e diz ‘caramba! Que bairro bonito hein?! ’ Não é? Para a gente ter um bairro, a gente tem que ter o que? Tem que ter urbanização, tem que saber a história dos nomes do bairro.”
								(Josias, Niterói-RJ, 38 anos)
Todos os entrevistados foram perguntados sobre as pessoas que se mudavam para o Morro e os motivos dessa mudança, assim como os motivos de eles próprios estarem morando lá e por que suas famílias se instalaram naquela região. Seu Gilson afirmou que o lugar é bem posicionado e facilita a busca por emprego, enquanto Josias afirma que sua mãe se mudou devido a problemas familiares. Já Dona Diva, mudou-se para acompanhar o marido, que trabalhava no exercito e terminou por abandoná-la por lá.
	Comparando-se os três depoimentos, pudemos encontrar coincidências narrativas, que se referem à temporalidade e que marcam as histórias no morro em três períodos, aproximadamente. Num primeiro momento, quando não havia água nem esgoto, as casas eram de pau-a-pique e a comunidade era mais unida, a paz era maior e os maiores perigos eram lobisomens e cachorros estranhos, que saiam das sombras (símbolos comuns entre as comunidades rurais). 
	O segundo momento é marcado pela urbanização, atrelado ao descaso das autoridades públicas e força de vontade dos moradores da comunidade, que urbanizaram, com seus próprios braços, o lugar onde vivem. Esse momento é o momento da chegada da luz, da água, do fim das casas de pau-a-pique e o começo da violência, da guerra de gangues e do recrudescimento do tráfico. É o fim do universo rural, do jongo e dos lobisomens e o início do caos urbano. Com o tempo da urbanização vem o tempo dos aparelhos domésticos, das maiores comodidades que o dinheiro, agora em maior quantidade, pode comprar.
	O terceiro momento é o atual. O que marca esse momento é a relativa paz que o morro está vivendo devido à construção de uma DPO no morro, que forçou a diminuição dos conflitos armados na região. Esse momento também vem acompanhado de melhores condições de vida, de ampliação da urbanização e do acesso à água e ao saneamento básico.
	Todos os três tempos conhecem fluxos de migração. Os nordestinos são constantes nos três. Somente no segundo momento que há o reconhecimento de uma diminuição da migração, devido à violência e até mesmo o abandono do lugar pelos moradores.
	Com os depoimentos, pudemos, também, perceber que há diferenças entre os dados fornecidos pela prefeitura e o que vivem os moradores. Entre as muitas discrepâncias, o que mais chamou a atenção do grupo é o que se refere à questão da terra (cedida pela prefeitura ou tomada por posseiros?) e do saneamento básico da região (a urbanização é suficiente ou o que foi feito não atende às demandas da população do morro?).
- Galeria de Fotos
Verticalização das Favelas - Favela no Morro do Estado
 
 Vista do morro do Estado
 
O morro visto de cima
 
O morro visto de cima
- Bibliografia e Fontes
Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia: “Niterói: perfil de uma cidade” (org.). Niterói, RJ, 1999.
Secretaria municipal de Ciência e Tecnologia da Prefeitura de Niterói - SECITEC. “Niterói Bairros”, Niterói, RJ, 1994.
MIZUBUTI, Satie, “O movimento associativo de bairro em Niterói”. Tese de doutorado, USP, São Paulo, 1986.
http://www.urbanismo.niteroi.rj.gov.br/historia.html
http://www.urbanismo.niteroi.rj.gov.br/bairros/morro_do_estado.html 
http://www.sindsprevrj.org.br/lernoticias.asp?id=1902
http://www.urbanismo.niteroi.rj.gov.br/bairros/
Dados estatísticos do IBGE, fornecidos pela da prefeitura de Niterói.
Entrevista realizada com moradores do Morro do Estado.
Recortes de Jornais, do Centro de Memória Fluminense.
 - Quadros tirados do trabalho: “Relatório do Censo Morro do Estado realizado pelo Observatório de Favelas em parceria com a Caixa Econômica Federal, SESC Rio de Janeiro e Prefeitura Municipal de Niterói. dez de 2006”
																	
 
� Segundo o IBGE e o glossário do Manual elaborado pela Prefeitura, p. “Niterói Perfil de uma cidade”, aglomerado subnormal significa conjunto constituído por casas, ocupando ou tendo ocupado, até o período recente, terreno de propriedade alheia, disposta em geral de forma desordenada, densa e carente de serviços.
� são projetos feitos entre as comunidades e ONG´s, órgãos públicos e entre moradores a sua respectiva associação. Essas instituições utilizamesse recurso para conhecer melhor os problemas como saúde, violência na família, acesso ao mercado de trabalho, nível de escolaridade e assim agir de acordo com o objetivo de cada organização. Intermediadas pelos moradores, o Correio Comunitário funciona por meio de entrega de cartas e informações sobre os temas a serem discutidos, além de desenvolver um ciclo de produções culturais, coordenado, em alguns casos, pelos jovens, valorizando as diversas expressões - teatro, capoeira, danças juninas, grafite e caminhadas comunitárias.
� MIZUBUTI, Satie, O movimento associativo de bairro em Niterói. Tese de doutorado, USP, São Paulo, 1986, cap. 2, p. 84.
� MIZUBUTI, Satie, O movimento associativo de bairro em Niterói. Tese de doutorado, USP, São Paulo, 1986.
� Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia: Niterói: perfil de uma cidade (org.). Niterói, RJ, 1999.
� Idem.
� Matéria feita por Hélcio Duarte Filho, para o Jornal on line do SINDSPREV.
� MIZUBUTI, Satie, O movimento associativo de bairro em Niterói. Tese de doutorado, USP, São Paulo, 1986, cap. 2, p. 83.
� O site da Prefeitura de Niterói nos informa a respeito da infra-estrutura do bairro, mas segundo os moradores, em entrevistas feitas pelo grupo, essa assistência – que não se estende a todo o bairro – é recente e o saneamento, precário.
� Na tese de Satie Mazibuti intitulada “O movimento associativo de bairro em Niterói”, há uma informação de que uma as bandeiras de luta da associação era adquirir e legalizar as terras ocupadas e que faziam parte da associação. Assim saberíamos se essa era ou não uma reivindicação da AMME – Associação de Moradores do Moradores do Morro do Estado.
� Fornecido pela Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia: Niterói: perfil de uma cidade (org.). Niterói, RJ, 1999.
� www.urbanismo.niteroi.rj.gov.br/historia

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