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1 Universidade Federal de Viçosa - UFV Departamento de Biologia Geral Genética de Populações Genética Básica - Bio 240 Profa. Karla Yotoko 2 Capítulo 1 Introdução à Genética de Populações Equilíbrio de Hardy-Weinberg Introdução: Até aqui, durante o curso de genética básica, estudamos como as características são passadas de uma geração para a outra em termos de células e indivíduos. Estudamos como Mendel descobriu seus “fatores” e propôs as leis da hereditariedade. Vimos que os geneticistas primeiro localizaram estes fatores ou genes nos cromossomos e depois como descobriram que o DNA era o responsável por guardar a informação genética, já que possuía estrutura e função apropriadas para tanto. Vimos também como os genes funcionam: os mecanismos de transcrição, tradução e mesmo algumas formas de controle da expressão gênica. Além disso, vimos que há genes fora do núcleo, que são transmitidos pela linhagem materna. No entanto, a genética precisa ser estudada em níveis mais altos. É preciso saber, por exemplo, quais as características genéticas de uma determinada população para poder prever a probabilidade de algumas doenças. Por que será que a hemofilia é tão rara na humanidade inteira enquanto a anemia falciforme é tão comum em algumas regiões da África? Agrônomos e Zootecnistas precisam dominar genética de populações para poder selecionar melhor que linhagens cruzar para obter melhores resultados. Ecólogos precisam saber o quão variáveis são as populações das espécies que estudam para poder ter idéia de que estratégias de conservação devem adotar. Bioquímicos precisam conhecer particularidades de populações humanas com respeito às respostas a algumas drogas. Definição de População Informal e intuitivamente, população é um grupo de organismos pertencentes a uma mesma espécie. Em genética de populações é preciso especificar melhor este conceito. A palavra população não se refere à espécie inteira, e sim a um grupo de organismos de uma mesma espécie que vive em uma área geográfica suficientemente restrita para que qualquer membro possa se casalar com qualquer outro do sexo oposto. Como sempre há estrutura geográfica dentro das espécies, devida a padrões não aleatórios de distribuição espacial dos organismos, uma definição precisa de população é muito difícil de obter. Membros de uma mesma espécie raramente estão distribuídos homogeneamente no espaço: quase sempre há agregações, colônias etc. A subdivisão das populações está quase sempre associada à heterogeneidade do ambiente: quase sempre há áreas apropriadas para uma população separadas por áreas não apropriadas. Este tipo de padrão é óbvio em organismos terrestres que vivem em ilhas oceânicas, mas a subdivisão é comum na maior parte dos habitats: lagos de água doce têm áreas profundas e rasas, florestas têm áreas sombreadas e ensolaradas; existem áreas em altas altitudes e em baixas altitudes. A subdivisão populacional também pode ser afetada por comportamento social. Mesmo populações humanas são agregadas, em cidades isoladas por desertos ou montanhas, por exemplo. Diversos fatores afetam a composição genética das populações, dentre eles podemos destacar: 1. O tipo de padrão de reprodução adotado pela população. Este padrão pode ser aleatório, o que chamamos de acasalamentos ao acaso (a.a.a.); é possível que os indivíduos tenham preferência por acasalar-se com indivíduos aparentados, ao que 3 chamamos de endogamia; ou que prefiram acasalar-se com indivíduos de fenótipo parecido (ex. pessoas altas preferem casar-se com pessoas altas), ao que chamamos de acasalamento preferencial. 2. A imigração de indivíduos de outras populações. 3. As taxas de mutação e recombinação gênica. 4. Os efeitos do ambiente sobre a taxa de reprodução de cada genótipo – genótipos mais adaptados geram mais descendentes que os menos adaptados – Seleção Natural. 5. As Flutuações aleatórias. Variação Populacional Quando falamos em composição genética de uma população, e queremos saber como é esta composição e como ela é afetada por diferentes fatores, no fundo o que precisamos é quantificar a variação genética que existe na população. A variação genética só pode ser avaliada a partir da variação genotípica; no entanto, a variação que está disponível é a variação fenotípica, que é a que em geral interessa a agrônomos, zootecnistas, médicos, nutricionistas, ecólogos e outros profissionais das ciências biológicas. Como já vimos durante nosso curso, algumas características fenotípicas estão diretamente relacionadas ao genótipo em um determinado lócus. Nestes casos é possível saber o genótipo do indivíduo pela simples observação de seu fenótipo. Infelizmente isso não é tão simples em todos os casos. Algumas características são determinadas por mais de um gene, às vezes por um complexo conjunto deles, além de serem fortemente influenciadas pelo ambiente. Estas características serão mais bem estudadas quando estudarmos genética quantitativa, outro tema importante na genética. Por hora nos limitaremos às características que são definidas por um único gene. O princípio geral de quantificação da variação genotípica é simplesmente contar quantos indivíduos apresentam cada genótipo em uma determinada população. Só para relembrar, numa espécie diplóide, se temos um gene A com dois alelos, A e A’, os genótipos serão: A/A, A/A’ e A’/A’. As frequências genotípicas são dadas pelo número de indivíduos de cada fenótipo dividido pelo número total de indivíduos. Obviamente, a soma das frequências dos diferentes genótipos deve ser 1. A variação pode ser simplesmente morfológica (cor de flores, por exemplo), e para quantificá- la basta contar quantos indivíduos em cada população possuem um determinado fenótipo. Imagine que uma determinada espécie de planta só apresenta flores vermelhas, cujo genótipo é B/B; rosa, cujo genótipo é B/b; e brancas, cujo genótipo é b/b. Para quantificar a variação genotípica em uma população, basta contar quantas são B/B, quantas são B/b e quantas são b/b. Outro tipo de variação que pode ser observada é a dada pela determinação de grupos sanguíneos. A determinação do grupo sanguíneo MN, por exemplo, fornece o genótipo de cada indivíduo diretamente. A tabela 1 mostra as frequências genotípicas para o grupo M/N em diferentes populações humanas. A determinação dos genótipos do grupo sanguíneo ABO ou do fator Rh pode ser um pouco mais complexa, já que existe relação de dominância entre alguns alelos, e portanto é necessário conhecer genealogias para tentar determinar os genótipos. 4 Tabela 1: frequências genotípicas para os alelos do lócus responsável pelo grupo sanguíneo MN. População M/M M/N N/N Esquimós 0,835 0,156 0,009 Aborígenes Australianos 0,024 0,304 0,672 Egípcios 0,278 0,489 0,233 Alemães 0,297 0,507 0,196 Chineses 0,332 0,486 0,182 Nigerianos 0,301 0,495 0,204 Outra maneira de quantificar a variação genotípica é a quantificação do polimorfismo de proteínas. Na década de 1960 foi inventada a eletroforese de proteínas. A partir deste método, é possível estabelecer quantos alelos diferentes estão presentes em uma determinada população através da determinação dos genótipos dos diferentes indivíduos. Hoje é mais comum determinar o genótipo dos indivíduos, e, portanto, calcular a frequência genotípica de uma população, diretamente através de seqüências de DNA. Um aspecto importante da quantificação da variação populacional é que em geral consideramos a variabilidade como uma condição para que haja evolução. De fato, evolução é tradicionalmente definida como “alteração nas frequências gênicas” não há como evoluir se não houver talvariação. A variação, ou variabilidade, permite que a população se adapte, por exemplo, a modificações ambientais. Com isso, sempre que houver mais de um alelo num mesmo lócus, este lócus pode ser considerado polimórfico. Alguns geneticistas preferem chamar de polimórficos os loci cujo alelo mais freqüente tenha frequência menor que 99% ou 95%. Uma medida de variação genética é a quantidade de heterozigose em um lócus em uma população, dada pela frequência total de heterozigotos neste locus. Se um alelo estiver em frequência muito alta e os demais em frequência muito pequena, teremos poucos heterozigotos e a variação é considerada baixa. Espera-se que a heterozigose seja mais alta quando há muitos alelos em frequências relativamente próximas – quanto mais alelos e quanto mais equilibradas suas frequências, maior a variabilidade neste lócus. Mais tarde, neste mesmo capítulo, você compreenderá esta afirmação. Cálculo das frequências gênicas Quando falamos em calcular frequências gênicas (ou frequências alélicas), queremos saber qual a quantidade de cada um dos alelos de um determinado locus está presente na população. Este procedimento é importante para prever as frequências genotípicas deste locus na próxima geração, o que pode ser de grande interesse na criação de animais, cultivo de plantas, preservação de espécies etc. Para calcular as frequências gênicas, basta conhecer as frequências genotípicas a ela associadas. Se quisermos saber qual a frequência gênica dos alelos M e N da tabela 1, basta contar quantos alelos M e quantos alelos N há em cada população. Tome como exemplo a população de esquimós. Transformemos as frequências em números só para facilitar os cálculos. Imagine que foram medidos 1000 indivíduos, isso significa que 835 deles são M/M, 156 são M/N e 9 são N/N. Nos 835 que são M/M, há 1670 alelos M (835 x 2); nos 156 M/N há 156 alelos M; e nos 9 N/N não há nenhum alelo M. Com isso, temos um total de 1826 alelos M. Como o total de indivíduos contados foi 1000, então o total de alelos contados foi 2000. Assim, a frequência do alelo M é de 1826/2000 = 0,913. Portanto, o alelo M está numa 5 frequência de 91,3% enquanto o alelo N está numa frequência de 8,7% (100% - 91,3%) na população de Esquimós. �1� ����. � 2 �2 � Exercício 1: Calcule agora as frequências gênicas dos alelos M e N nas diferentes populações humanas representadas na tabela 1. Não se esqueça de considerar que em cada população foram amostrados 1000 indivíduos (transforme as frequências dos genótipos em números de indivíduos com cada genótipo, exatamente como fizemos para a população de esquimós). Modelagem Matemática Antes de começar a estudar os mecanismos evolutivos, é preciso compreender que eles são estudados através de modelos matemáticos. Modelos matemáticos são ferramentas bastante úteis para o estudo de qualquer processo. Através deles é possível estabelecer padrões e detectar processos, para um melhor entendimento dos fenômenos naturais, nos quais se encontra a evolução. Conforme já foi dito, evolução é a alteração nas frequências gênicas em uma população. Para compreender um cenário onde as frequências gênicas mudam, é preciso descrever um cenário um pouco mais simples, no qual as frequências gênicas simplesmente não mudam. É preciso ter em mente que todo modelo matemático parte de uma super simplificação da realidade. Isso pode parecer estranho em princípio, como é que um modelo muito simples pode servir para compreender uma realidade complexa? Isso se explica pela própria diferenciação entre modelo e descrição. Se quiséssemos incluir todos os detalhes, faríamos uma descrição detalhada e não um modelo. Numa descrição detalhada é mais difícil visualizar os padrões e detectar processos. A primeira simplificação que temos que levar em conta é a não sobreposição de gerações, onde os indivíduos de uma geração nascem, amadurecem sexualmente e morrem nesta geração antes que os indivíduos da próxima geração amadureçam sexualmente. Esta simplificação só se aplica literalmente a organismos com história de vida muito simples, como certos insetos de vida efêmera ou plantas anuais (objeto de estudos de grande parte dos agrônomos). Este tipo de população hipotética, com esta história de vida muito simples, é utilizado em genética de populações como uma primeira aproximação a populações que tenham histórias de vida mais complexas. Apesar de parecer simples demais, os cálculos de frequência esperada na próxima geração baseados neste modelo são adequados para diversos objetivos, inclusive para espécies muito complexas, como a humana, por exemplo. O pricípio de Hardy-Weinberg Se a população não apresentar sobreposição de gerações e se os acasalamentos ocorrerem ao acaso (aaa), é possível prever as frequências genotípicas da próxima geração simplesmente a partir das frequências gênicas desta geração. Para fazer esta previsão, é preciso primeiro checar certos pré-requisitos: 1- O organismo em estudo deve ser diplóide 2- A reprodução deve ser sexuada 3- Não pode haver sobreposição de gerações 4- O gene em estudo deve ter só dois alelos 5- As frequências dos alelos devem ser idênticas em machos e fêmeas 6- Os acasalamentos devem ocorrer ao acaso 7- A população deve ser muito grande (infinita) 6 8- A migração deve ser insignificante 9- A mutação deve ser insignificante 10- A seleção natural não deve afetar os alelos em estudo. Coletivamente estes pressupostos sumarizam o modelo de Hardy-Weinberg, nomeado em homenagem aos seus formuladores: G. H. Hardy (um matemático) e W. Weinberg (um físico), que, independentemente, em 1908, formularam o modelo e deduziram suas predições teóricas para as frequências genotípicas. Conforme o pressuposto número 6, uma população obedece ao princípio de H-W quando os acasalamentos se dão ao acaso, ou seja, a probabilidade de um indivíduo X se acasalar com o indivíduo Y na população é rigorosamente igual à probabilidade dele se acasalar com qualquer outro, desde que seja do sexo oposto. Para entender exatamente como isso funciona, imagine um balde contendo uma “sopa de gametas”, composta de milhares de óvulos e milhares de espermatozóides. Estes gametas se unirão sem qualquer critério de escolha, estritamente ao acaso. Como a população em estudo deve ser sexuada (pressuposto número 2), sempre temos que unir dois gametas para formar um zigoto. Imagine então que metade dos óvulos, bem como metade dos espermatozóides, carrega o alelo A e a outra metade carrega o alelo a. Então podemos dizer que a frequência do alelo A, que de agora em diante chamamos de p, é 0,5. De forma análoga, podemos dizer que a frequência do alelo a, por sua vez, é q = 0,5. Assim, a probabilidade de formar um zigoto A/A depende unicamente da frequência de A na população de óvulos e de espermatozóides. Como esta frequência é de 0,5 em ambos os casos, a frequência de A/A pode ser dada por p2 = 0,25 (0,5 x 0,5). Seguindo o mesmo raciocínio, a frequência de a/a também será de 0,25, q2 = 0,25. É preciso também calcular a frequência de A/a. Como não se trata da junção aleatória de qualquer gameta com qualquer outro e sim de qualquer óvulo com qualquer espermatozóide, é preciso considerar uma situação na qual o óvulo contém A e o espermatozóide a, e outra, na qual o óvulo contém a e o espermatozóide A. Com isso, a probabilidade de termos um heterozigoto A/a é igual a 2pq = 0,5. Este raciocínio obedece à distribuição binomial. Só para relembrar: �2� �� ��� � �� 2�� �� Tendo isso em vista, é possível saber se uma determinada geração de uma população foi formada por acasalamentos ao acaso. Em outras palavras, é possível verificar se uma determinada população encontra-se em Equilíbrio de Hardy-Weinberg. Volte agoraà tabela 1. Ela mostra as frequências dos genótipos para o lócus MN. Será que as populações humanas estão no EHW para este lócus? Será que populações humanas podem ser estudadas como se a reprodução fosse aleatória como a que ocorre em um “balde de gametas”? Para responder a esta questão é preciso testar. Para testar, precisamos saber qual a frequência dos alelos M e N em cada população. Entre os esquimós, calculamos que a frequência do alelo M é de 0,913, que chamaremos de p; enquanto que a frequência do alelo N é de 0,087, que chamaremos de q (não importa qual dos alelos é chamado de p ou q). Sabendo disso, é possível calcular as frequências esperadas de M/M, M/N e N/N, que serão p2, 2pq e q2 ,respectivamente, se a população estiver em EHW (equilíbrio de Hardy-Weinberg). Tendo o valor esperado, basta fazer um teste de χ2 de aderência. 7 O número de graus de liberdade é dado pelo número de classes observadas menos 1 (como normalmente se faz no χ2), menos o número de parâmetros estimados para calcular o esperado. Neste caso, foi estimada a frequência de M (p), e a frequência de N é dada simplesmente por (1 - p). Não esqueça que para fazer o teste de χ2 precisamos utilizar números e não frequências. Portanto utilizaremos uma população de 1000 pessoas para facilitar os cálculos. Genótipo Observado Esperado �� � ��� ���� M/M 835 p2 X 1000 = (0,913)2 x 1000 = 833,6 0,002 M/N 156 2pq x 1000 = (2 x 0,913 x 0.087) x 1000= 158,9 0,05 N/N 9 q2 x 1000 = (0,087)2 x 1000 = 7,5 0,3 Total : 0,352 g.l. = 3 classes – 1 -1 = 1 grau de liberdade Como com um grau de liberdade o valor crítico do χ2=3,8, podemos aceitar a hipótese de que a população esquimó encontra-se no equilíbrio de Hardy-Weinberg no lócus MN. Você deve estar se perguntando como é possível que um lócus esteja no EHW numa população humana, já que nossa experiência mostra que as pessoas definitivamente não se casam aleatoriamente. O que acontece é que as pessoas de fato escolhem seus cônjuges por diversos caracteres fenotípicos, com altura, peso, cor da pele etc. No entanto, temos que lembrar que ninguém pergunta ao futuro parceiro se ele é M/M, M/N ou N/N (aliás, poucas pessoas conhecem seu próprio genótipo). Com isso, pelo menos para o lócus MN os acasalamentos são de fato aleatórios na população esquimó. Seguindo este mesmo raciocínio, isso deveria ser verdade para as outras populações representadas na tabela 1. � Exercício2 : Faça o teste e determine se cada uma das populações representadas está de fato em EHW. Implicações do Princípio de Hardy-Weinberg: Por se tratar de uma super simplificação da realidade, o Princípio de Hardy-Weinberg pode ser considerado como um modelo de referência no qual não há forças evolutivas em ação além das impostas pela própria reprodução. Neste sentido, o modelo é similar ao pressuposto da física de que não há atrito no deslocamento de um corpo. O modelo serve como base para a comparação com modelos mais realistas, nos quais as forças evolutivas modificam as frequências gênicas. Talvez mais importante que isso, o modelo separa a história de vida em dois intervalos: i. gametas → zigoto e ii. zigoto → adulto. Um modelo um pouco mais complexo pode incluir, por exemplo, a entrada de imigrantes entre os adultos, alterando as frequências gênicas, ou a viabilidade diferencial de zigotos, de modo que alguns não cheguem à fase adulta. Um aspecto interessantíssimo do EHW é que se os imigrantes entrarem na população dos adultos e se reproduzirem com os adultos desta população, então a próxima geração de zigotos estará em equilíbrio de H-W, porém com uma frequência gênica diferente. A comparação das frequências gênicas em diferentes gerações da mesma população permite a detecção de evolução (modificação nas frequências gênicas). A implicação mais importante do EHW é a manutenção das frequências gênicas e genotípicas em uma população. A constância das frequências alélicas implica que, na ausência de forças evolutivas as alterem, o mecanismo da herança mendeliana, por si só, mantém as frequências 8 constantes e preserva a variação genética. A segunda implicação mais importante é que em uma única geração de acasalamentos ao acaso, a população volta ao estado de equilíbrio (se as frequências alélicas em fêmeas e machos forem iguais e se não houver sobreposição de gerações – em populações de estrutura mais complexa, a população volta gradualmente ao estado de equilíbrio). Um dos aspectos interessantes do EHW é que se uma população estiver sob este equilíbrio em um determinado lócus, é possível prever qual serão as frequências genotípicas nas próximas gerações. Isso, no entanto, só é verdade se a população for grande, se não houver imigração, se não houver mutações e se não houver seleção natural. Em outras palavras, sob todos estes pressupostos, não há alteração nas frequências gênicas em uma população, ou seja, ela não evolui. � Exercício3 : Considere uma população hipotética na qual há 500 indivíduos, dos quais 250 apresentaram o genótipo A/A, 215 o genótipo A/A’ e 35 apresentaram o genótipo A’/A’. A partir destes dados, (a) calcule as frequências dos alelos A e A’ nesta população. (b) Faça um teste de χ2 e diga se esta população está ou não em equilíbrio de Hardy-Weinberg. � Exercício 4: Considere a mesma população do exercício 3 depois que ocorreu uma catástrofe que matou 10 indivíduos com o genótipo A/A, 20 indivíduos com o genótipo A/A’ e 20 indivíduos com o genótipo A’/A’. (a) Quantos indivíduos de cada genótipo restaram na população? (b) calcule as frequências de A e A’ nesta população. (c) Teste se a população está em equilíbrio de Hardy-Weinberg. � Exercício 5: Suponha agora que todos os indivíduos que sobreviveram á catástrofe da questão 4 sobreviveram e foram capazes de se reproduzir. Suponha ainda que os acasalamentos se deram ao acaso. (a) Quais serão as frequências esperadas de A/A, A/A’ e A’/A’ na próxima geração (geração 2)? (b) A geração 2 está em Equilíbrio de Hardy-Weinberg? (c) Por quê? Complicações da Dominância Em caracteres onde há dominância, o fenótipo do homozigoto dominante é exatamente igual ao fenótipo do heterozigoto, que se diferenciam do fenótipo homozigoto recessivo. Com isso, se quisermos fazer uma análise populacional, teremos duas classes observadas: o fenótipo dominante e o fenótipo recessivo. Pelo princípio de Hardy-Weinberg, as frequências de A/A, A/a e a/a são, respectivamente, p2, 2pq e q2. Suponha que estejamos interessados nas frequências dos alelos que determinam os grupos sanguíneos Rh+ e Rh- em uma população. Suponha ainda que 84% da população sejam Rh+, sendo o resto da população Rh-. O fenótipo Rh+ pode ser dado pelos genótipos D/D e D/d, enquanto o Rh- é dado por d/d. Com isso, D/D e D/d estão juntos na mesma classe fenotípica. Para calcular as frequências gênicas é, portanto, necessário assumir que este gene esteja em EHW. Assim: 9 ��� � �� (3) � � ���� � �0,16 � 0,4 Se p + q = 1, então p = 0,6. Assim, p2=0,36; 2pq=0,48 e q2=0,16. Para testar se estas frequências estão em equilíbrio de Hardy-Weinberg, teríamos que comparar com as frequências esperadas. Você já deve ter percebido que as frequências esperadas são exatamente iguais às observadas. Além disso, o número de graus de liberdade é dado por número de classes observadas (2) -1 -1 = 0. Sem graus de liberdade não é possível fazer o teste. Com isso, se houver dominância (e isso é bastante freqüente nos caracteres em geral, inclusive em alguns marcadores moleculares), não é possível testar se a população está ou não em EHW, fazendo com que o equilíbrio tenha que ser inferido para que as outras análises sejam feitas. Conforme veremos mais adiante, se tivermos mais conhecimento sobre a populaçãoem estudo, este pode se tornar um problema menor e não prejudicar os resultados. � Exercício 6 (resolvido): Imagine que uma doença monogênica autossômica recessiva atinja 1 em cada 2500 pessoas no Brasil. Supondo que os acasalamentos se dêem ao acaso para o lócus responsável por esta doença, calcule as frequências dos alelos R e r. Resposta: Se a doença é monogênica, autossômica e recessiva, então ela é determinada por um único gene, que se encontra nos cromossomos não sexuais, e os indivíduos doentes apresentam genótipo r/r. Partindo do princípio que os acasalamentos se dão ao acaso, e que a frequência de R é igual a p, enquanto a frequência de r é igual a q, temos que: � � ��2 � � 12500 � 150 Então, a frequência de r = 1/50, portanto, a frequência de R = 49/50 Neste caso não faz sentido calcular se as frequências genotípicas estão em Hardy- Weinberg, já que não dispomos de graus de liberdade (duas classes observadas, doentes e não doentes), menos 1 (normal do χ2), menos um parâmetro estimado (r). (g.l.= 2-1-1 = 0 graus de liberdade). Não entendeu? Volte ao texto explicativo! 10 Frequência de Heterozigotos O princípio de Hardy-Weinberg também tem importantes implicações para a frequência de heterozigotos que carregam alelos recessivos raros. Se a frequência de heterozigotos pelo EHW é 2pq, então o valor máximo de heterozigozidade ocorre quando as frequências dos dois alelos é 0,5. (2pq = 0.5). Quanto maiores as diferenças entre as frequências dos dois alelos, menor a heterozigozidade. Além disso, quanto menor a frequência do alelo recessivo, maior a razão entre indivíduos heterozigotos e os homozigotos recessivos, em outras palavras, o excesso de heterozigotos sobre os homozigotos recessivos se torna progressivamente maior à medida que o alelo recessivo se torna mais raro. Como exemplo real, considere a fibrose cística, que atinge 1 em cada 1700 caucasianos nascidos. Com isso, a frequência do alelo recessivo é dada por � � � !"" � 0,024. Se q = 0,024, e se � � 1 � �, então � � 0,976. Assumindo acasalamentos ao acaso, a frequência de heterozigotos deve ser estimada em 2�� � 2 �0,024��0,976� � 0,047, cerca de 1 em 21. Em outras palavras, apesar de apenas 1 em 1700 pessoas serem afetadas, 1 em cada 21 caucasianos é portador do alelo recessivo para a fibrose cística. Veja o que acontece com a razão heterozigotos/homozigotos recessivos com diferentes valores de p e q: p q 2pq q2 2pq/q2 0,5 0,5 0,5 0,25 2 0,6 0,4 0,48 0,16 3 0,7 0,3 0,42 0,09 4,67 0,8 0,2 0,32 0,04 8 0,9 0,1 0,18 0,01 18 0,95 0,05 0,095 0,0025 38 0,99 0,01 0,0198 0,0001 198 0,999 0,001 0,001998 0,000001 1998
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