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1 A distância entre o dizer e a intenção Aldo Bizzocchi Por trás de toda palavra, frase ou texto, há sempre um significado oculto – ou muitos. Muitas vezes, o que queremos dizer é muito diferente – quando não o oposto – do que nossa fala diz. A riqueza da linguagem está em sua capacidade de “dizer” muito mais do que é efetivamente dito. Além do discurso literal, denotativo, temos as quase infinitas possibilidades da conotação, com suas figuras retóricas (daí falarmos em linguagem figurada). Além disso, a escolha, nem sempre consciente, que nossos antepassados fizeram para denominar certos conceitos ou dar conta de certas situações revela muito do que eles pensavam, de como viam o mundo. Por exemplo, quando queremos nos referir à desmesurada concentração populacional de uma megalópole como São Paulo, dizemos que essa cidade é um “verdadeiro” formigueiro humano. Ora, precisamente nessa frase, o formigueiro não é “verdadeiro”. É apenas uma metáfora. E quando aquele conhecido a quem você deve inúmeros favores pergunta se você não poderia lhe emprestar algum dinheiro? É possível que você, constrangido, responda “Lógico!” ou “Naturalmente!”. Mas o que há de lógico ou natural em fazer algo que você não quer? Diante de um pedido que você não gostaria de atender, o lógico e natural não seria responder “não”? E se perguntamos por alguém e recebemos como resposta que essa pessoa, “com certeza”, saiu, é porque quem responde não tem realmente certeza de seu paradeiro. Pois é, entre o que dizemos e o que queremos dizer, quase sempre, há uma grande distância... Fonte REVISTA Língua Portuguesa. Blog do Aldo Bizzocchi. Publicação: mar. 2013. Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/blog-abizzocchi/a-distancia-entre-o-dizer-e-a-intencao-279274- 1.asp>. Acesso em: 11 ago. 2015.
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